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14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD

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DOR CRÔNICA NO ESPORTE


FELIPE REIS
ANNA CAROLINA CHAVES
PAMELA BANDEIRA

■ INTRODUÇÃO

Atualmente, a dor pode ser definida como “uma experiência sensorial e emocional
desagradável associada a um dano real ou potencial dos tecidos ou descrita em termos
de tais lesões”.1,2

Considera-se que as dores, incluindo as musculoesqueléticas (p. ex., dor lombar e dor
cervical), estejam entre as principais causas de anos vividos com incapacidade.3,4

A dor no esporte é uma apresentação clínica recorrente para os profissionais que lidam
com atletas. Apesar de ser frequente, uma busca no PubMed pelos termos pain e
athletes permite verificar que a literatura sobre o assunto ainda foi pouco explorada. A
pesquisa pelos termos chronic pain e athletes traz dados ainda mais escassos em
comparação a toda a literatura sobre dor publicada até o momento.

Um fato muito comum na literatura pertinente ao esporte é a relação direta entre dor,
presença de lesão e alterações biológicas/biomecânicas. Na área da fisioterapia, não
se pode negar que os avanços na compreensão do gesto esportivo e dos diferentes
mecanismos de lesão contribuíram para melhorar o desempenho, assim como para
identificar fatores de risco para as lesões.5–8 No entanto, os métodos relacionados aos
estudos sobre biomecânica não promoveram avanços para a compreensão da dor,
especialmente crônica, em atletas.

O conhecimento sobre dor vem sendo modificado ao longo dos anos, em virtude de
novas teorias e novos métodos de pesquisa envolvendo o sistema nervoso,
principalmente.

Por muito tempo, a dor foi compreendida como uma resposta proveniente de um
estímulo (lesão tecidual ou estímulo acima dos limiares dos nociceptores) aplicada em
alguma região do corpo. Esse pensamento cartesiano de causa e efeito ainda perdura
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entre os profissionais de saúde. No entanto, no final da década de 1940, logo após a
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Segunda Guerra Mundial, Henry Beecher, um médico
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anestesista da Harvard
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University, publicou um artigo contestando essa relação entre dor e dano tecidual.
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O Dr. Beecher havia servido durante a Segunda Guerra Mundial, prestando
atendimento a tropas americanas. Ele observou que muitos soldados que chegavam
gravemente feridos não se queixavam de uma dor proporcional à extensão do dano
tecidual. Em seu artigo intitulado Pain in men wounded in battle, o Dr. Beecher
destacou:9

Existe uma crença comum de que os ferimentos estão


inevitavelmente associadas à dor e, além disso, que quanto
mais extenso o ferimento, pior a dor. A observação de
homens recém-feridos na Zona de Combate mostrou que
essa generalização é equivocada.

É importante destacar a necessidade de modificar a maneira de entender os conceitos


envolvidos na experiência da dor, passando para um olhar mais amplo das pessoas que
se queixam dela. A literatura atual recomenda que outros fatores sejam considerados,
além dos biológicos e biomecânicos, como:
 
cognitivos;
emocionais;
comportamentais;
ambientais;
sociais.

Obviamente, adotar um pensamento mais amplo acerca da dor não significa


ignorar fatores físicos nem dar um maior peso para um ou outro fator na
composição dessa experiência. É preciso entender a dor reportada pela pessoa
como verdadeira e o sofrimento gerado como uma queixa real.

É importante reconhecer que a experiência de dor envolve a percepção da pessoa


sobre a situação em seus diferentes aspectos. Em outras palavras, é necessário
distinguir entre a experiência da dor e o significado que a pessoa atribui a ela.

■ OBJETIVOS

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de:


 
identificar os principais mecanismos neurofisiológicos relacionados à dor;
apresentar uma proposta de avaliação fisioterapêutica do atleta com dor que
considere o modelo biopsicossocial e os instrumentos disponíveis para auxiliar a
prática clínica;
reconhecer as evidências atuais sobre o manejo da dor musculoesquelética crônica.
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󰍜■ ESQUEMA CONCEITUAL 󰐍 󰂜 󰘥 EO

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■ PAPEL DO CÉREBRO NA DOR

Até o final da década de 1980 não se conhecia o papel do cérebro na dor Com base
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Até o final da década de 1980, não se conhecia o papel do cérebro na dor. Com base
no modelo de Descartes para a dor, acreditou-se, por muito tempo, que o cérebro
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tinha uma função passiva de receber o estímulo proveniente dos nociceptores da
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periferia e codificá-lo em uma região específica do cérebro.


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Em 1641, o francês René Descartes publicou o livro Meditationes de prima
philosophia. Esse trabalho apresentou uma ilustração que se tornou a imagem seminal
da dor pelos trezentos anos seguintes. A imagem mostra um garoto ajoelhado com um
pé perigosamente próximo de uma pequena fogueira. O calor da chama envia um sinal
(um"espírito animal"), através de um canal, para a glândula pituitária do garoto, que, na
época, Descartes calculou ser a sede da consciência (Figura 1).

Figura 1 — Modelo de Descartes para a dor.


Fonte: Adaptada de Mitkowski (2017).10

Por muito tempo, os nociceptores foram considerados como receptores


específicos para a dor. Entretanto, atualmente se reconhece que suas
propriedades básicas lhes permitem monitorar constantemente a composição
dos tecidos e as forças mecânicas e térmicas às quais estão sujeitos. Assim, a
principal tarefa dos nociceptores parece ser a de detectar e sinalizar
modificações homeostáticas.11

Somente quando existe a percepção de ameaça (seja ela consciente ou não) é que se
sente dor. Os nociceptores também são estimulados por muitas atividades diárias que
12
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não são dolorosas, como:12
 
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sentir o toque das roupas na pele;
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abrir um pote;
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sentir a temperatura de uma superfície.

No final da década de 1980, a teoria da neuromatriz veio propor uma interação entre
diversas áreas do cérebro no processamento da dor.13,14 No entanto, a visão
reducionista dessa teoria fez com que muitos interpretassem que o cérebro tem áreas
específicas para o processamento da dor, interligadas por meio de uma rede neural.15
Com o avanço dos estudos de neuroimagem, foi possível identificar que essas áreas
não são específicas para a dor, mas participam do processamento de outras funções,
como, entre outras:16,17
 
cognição;
emoção;
memória;
movimento.

LEMBRAR
Sabe-se que a dor é processada por diversas regiões do cérebro, mas ainda não
foi possível identificar o padrão de conexão nem a existência de uma rede
específica para a dor.18

Os Quadros 1 e 2 apresentam a evolução dos conhecimentos sobre a dor ao longo da


história.
Quadro 1

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ANTIGOS CONCEITOS DE DOR: SÉCULO VIII A.C. A 1727

Aa Período 󰍉 Autor ou Proposições


pesquisador

Século Homero Telêmaco, filho de Ulisses e Penélope (Ilíada e Odisseia),


VIII a.C. usa ópio para aliviar a dor e expulsar a tristeza.

460– Hipócrates A dor vem dos fluidos corporais.


370 a.C. O coração é o principal órgão da percepção da dor.

437– Platão A dor, assim como o prazer, é uma paixão pela alma.
347 a.C.

384– Aristóteles Espíritos malignos penetram no corpo através de vários


322 a.C. ferimentos.
O coração é o centro dos sentidos.
A dor não é um sentido especial, mas uma emoção.

130– Galeno O cérebro é o órgão dos sentidos.


201 d.C. A dor foi colocada na esfera das sensações.

Idade — Há uma relação entre dor e pecado.


das Somente a oração (ou o fogo) pode aliviar a dor.
Trevas Dor e sofrimento constituem um teste divino.

1596– René Um receptor específico capta uma informação que é


1650 Descartes levada ao centro da consciência.

1642– Isaac Mensagens neurais são a vibração da substância


1727 Newton presente nos nervos.

Fonte: Adaptado de Bursmitr (2018).19


Quadro 2

ANTIGOS CONCEITOS DE DOR: 1811 A 2011

Ano ou Pesquisadores Descobertas ou proposições


período

1811 Bell As vias dorsal e ventral mediais da medula têm funções


diferentes.

1848– du Bois- Identificou o potencial de ação no nervo.


1849 Reymond Os impulsos nervosos transmitem ao cérebro algumas
informações sobre a natureza do estímulo.

1860 Brown Demonstrou a dissociação entre sensação dolorosa e


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1860 Brown- Demonstrou a dissociação entre sensação dolorosa e
Séquard sensibilidade tátil em lesões experimentais da coluna
󰍜 vertebral. 󰐍 󰂜 󰘥 EO

1874 Erb Elaborou a teoria da intensidade para a dor.


Aa 󰍉 A forte estimulação de outras formas sensoriais é
dolorosa.

1884 Blix e Descreveram os diferentes receptores nociceptivos e


Goldscheider sensoriais (mecânico, calor, frio).

1896 Von Frey Realizou a demonstração definitiva de que a dor é uma


forma sensorial independente.

1906 Sherrington Descreveu os nociceptores como estruturas


especializadas para a dor.

1906– Dejerine, Descreveram o papel do tálamo na dor.


1911 Roussy, Head e
Holmes

1924– Erlanger, Fibras nervosas com diferentes velocidades de


1928 Gasser e condução estão envolvidas na dor.
Bishop

1926 Adrian e Registraram os potenciais de ação em fibras nervosas


Zotterman únicas.
Diferentes estímulos produzem descargas seletivas em
fibras nervosas distintas.

1933 Heinbecker, A dor em humanos é produzida pela ativação de fibras


Bishop e nervosas finas.
O’Leary

1936– Zotterman O estímulo das fibras nervosas do tipo C provoca dor.


1939

1942– Lewis, Hardy, Descreveram a hiperalgesia primária e secundária.


1952 Woolf e
Goodell

1965 Melzack e Wall Elaboraram a teoria das comportas.

1967 Burgess e Perl Descreveram as fibras nervosas mielinizadas livres


como nociceptores.

1969 Bessu e Perl Descreveram os nociceptores polimodais das fibras C e


o fenômeno da sensibilização.

1973 Pert e Snyder Identificaram os receptores opioides.


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1973– Price e Mayer Descreveram os neurônios WDR no trato


󰍜 1977 espinotalâmico.
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1983 Woolf Demonstrou a sensibilização central nas vias


nociceptivas da coluna vertebral.
Aa 󰍉
1990 Melzack Elaborou a teoria da Neuromatriz (participação ativa
do cérebro na dor).

2011 Iannetti e A dor pode ser considerada como um estímulo saliente


Mouraux pelo cérebro.

WDR: wide dynamic range.


Fonte: Adaptado de Bursmitr (2018).19

■ FISIOLOGIA DA DOR

Apesar de nem sempre haver a necessidade de um estímulo periférico, é muito


comum, em situações esportivas, que a dor esteja associada a dano tecidual. Isso
ocorre com frequência na rotina dos profissionais que lidam com o esporte.

LEMBRAR
Não se pode confundir o processo fisiológico envolvido em uma lesão tecidual
com a experiência de dor relatada pela pessoa.

Mesmo em uma lesão tecidual aguda, além dos fatores biológicos, todos os fatores
psicossociais e ambientais estarão presentes. Para que isso fique mais claro, será
apresentado um exemplo a seguir.

Duas atletas de vôlei de mesma idade, mesma composição corporal e mesma


habilidade apresentaram tendinopatia patelar no mesmo dia, no mesmo horário, com o
mesmo mecanismo e a mesma extensão de dano tecidual. Porém, os contextos
psicossocial e ambiental das atletas eram diferentes. A primeira atleta estava
motivada, pois acabara de chegar ao clube. Ela ainda não precisava se preocupar com
questões financeiras, pois sua família a estimulava e lhe dava todo o suporte
necessário. A segunda atleta já havia sofrido uma lesão parecida no outro joelho 2
anos antes, que a deixara fora de toda uma temporada, levando à perda de seu
rendimento e seu contrato com o clube anterior. Ela estava muito preocupada, pois se
encontrava fora de sua cidade e precisava pagar todas as contas de casa.

Possivelmente, as experiências de dor dessas duas atletas seriam diferentes.

TRANSDUÇÃO DE ESTÍMULOS FÍSICO-QUÍMICOS EM SINAIS NEURAIS

Entender a fisiologia da dor é compreender os conceitos de transdução de


estímulos físico-químicos em sinais neurais, que são transmitidos (sujeitos a
influências modulatórias) da periferia para a medula e finalmente chegam ao
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influências modulatórias) da periferia para a medula e, finalmente, chegam ao
cérebro por vias medulares corticotalâmicas. Esses sinais são distribuídos por
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uma rede de conexões para outras áreas do cérebro, permitindo a percepção
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consciente como um estímulo que ameaça a integridade do corpo. A dor,


Aa 󰍉
portanto, surge de um processo neurofisiológico altamente necessário para a
existência humana.

LEMBRAR
A dor aguda pode servir a um propósito protetor imediato e produzir
comportamentos aprendidos subsequentes para evitar traumas e lesões futuras.

A transdução envolve a conversão de estímulos, que podem ser mecânicos, químicos


ou térmicos, em sinais neurais eletrofisiológicos codificados em forma de potenciais de
ação. Eles são propagados pelas fibras Aδ e C em direção ao sistema nervoso central
(SNC). Esses potenciais de ação seguem até o corno dorsal da medula. Lá, podem
penetrar diretamente na substância cinzenta ou formar ramos colaterais, que
ascendem ou descem um ou dois segmentos espinhais e, daí, por múltiplas vias
ascendentes, seguem até as regiões supramedulares.

O corno dorsal possui uma citoarquitetura laminar. Desta maneira, as fibras Aδ entram
no corno posterior da medula e fazem sinapse com as lâminas I, V e X. Já as fibras C
fazem sinapse nas lâminas II e III (substância gelatinosa) do corno posterior da medula.

Os tratos espinotalâmico e espinorreticulotalâmico se projetam para o núcleo talâmico


e o tronco cerebral contralaterais. A maioria dos neurônios espinotalâmicos
ascendentes faz sinapse no núcleo talâmico ventral posterolateral (VPL) e fornece uma
via neotalâmica oligossináptica rápida, mediando aspectos discriminatórios sensoriais.
Por sua vez, os neurônios espinorreticulotalâmicos se projetam por uma via
polissináptica predominantemente cruzada, com organização somatotópica menos
precisa.

No tronco encefálico, os neurônios espinorreticulotalâmicos fazem sinapse com


centros autonômicos e com regiões envolvidas na modulação descendente da dor
antes de se projetar para núcleos talâmicos mediais.

A Figura 2 apresenta um desenho esquemático das vias de transmissão dos estímulos


periféricos.

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Aa 󰍉

PAG: substância cinzenta periaquedutal (em inglês, periaqueductal


gray).
Figura 2 — Transmissão nociceptiva pelas fibras Aδ e C até a medula e
até o cérebro.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Após a chegada do input nociceptivo no tálamo, diversas áreas sensoriais e cognitivo-


emocionais participam de seu processo, destacando-se:18,20
 
córtices somatossensoriais (primário e secundário);
ínsula;
córtex cingulado anterior;
córtex pré-frontal.

LEMBRAR
Estruturas subcorticais, como a amígdala e os núcleos da base, participam do
processamento da dor.18,20

O feedback das áreas supracitadas pode se projetar a partir de centros localizados no


tronco cerebral até o corno posterior da medula espinhal, onde ocorre a modulação
(inibição ou facilitação) da informação nociceptiva. O estudo dessas vias facilitatórias e
inibitórias permite a compreensão sobre como determinados estímulos do ambiente
podem ter um efeito inibidor ou facilitador da dor. Um exemplo é a resposta aguda ao
estresse em situações de risco, como nos casos observados pelo Dr. Beecher e
relatados no início deste capítulo que tem uma função inibitória
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relatados no início deste capítulo, que tem uma função inibitória.

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Para saber mais:


 
󰍉
Aa Apesar de se considerar importante para o estudo da fisiologia da dor o papel dos
canais iônicos, assim como dos neurotransmissores, esse assunto está além do
escopo deste capítulo. Fica a recomendação de leitura dos livros dos professores
Roberto Lent (Cem bilhões de neurônios) e Eric Kandel e colaboradores (Princípios
da neurociência).

SENSIBILIZAÇÃO PERIFÉRICA E SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL

É importante entender que nem todos os sinais nociceptivos são percebidos como dor
e nem toda sensação de dor se origina da nocicepção. No entanto, em situações em
que houve lesão tecidual, a dor se origina de nociceptores.21

Quando os nociceptores continuam disparando impulsos nociceptivos, os neurônios


do corno dorsal podem se tornar hipersensíveis. Esse aumento na resposta neuronal
(hipersensibilidade), promovido por neurotransmissores como glutamato, aspartato e
substância P, modula as descargas elétricas pós-sinápticas. Os neurotransmissores
iniciam respostas pós-sinápticas aumentadas, desencadeando a hiperexcitabilidade
dos receptores de N-metil D-aspartato (NMDA) de neurônios de segunda ordem no
corno dorsal da medula. Esse mecanismo está relacionado ao fenômeno de wind-up.21

Wind-up é um fenômeno que se refere ao aumento progressivo de descargas


elétricas do neurônio de segunda ordem na medula espinhal em resposta à
estimulação repetitiva da fibra C; ele integra o processo conhecido como
sensibilização central.21

A sensibilização central é um aumento da sensibilidade dos neurônios. Embora a


sensibilização periférica seja um fenômeno local, a sensibilização central significa que
as vias centrais de processamento da dor localizadas na medula espinhal e no cérebro
estão hipersensíveis.21

O processo de sensibilização central não se limita ao corno dorsal nem à amplificação


da dor de impulsos aferentes; ele abrange o processamento sensorial alterado no
cérebro e a disfunção dos mecanismos centrais inibitórios da dor.21
 

ATIVIDADES

1. Com relação aos nociceptores, assinale a alternativa correta.


A) Aparentemente, sua principal função é detectar e sinalizar modificações
homeostáticas.
B) São receptores específicos para a dor, ou seja, são afetados apenas por
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estímulos dolorosos.
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C) São estruturas capazes de detectar unicamente as forças mecânicas, de
EO

modo que os estímulos dolorosos detectados por elas são apenas os de


Aa 󰍉 origem mecânica.
D) De acordo com as últimas pesquisas na área, eles apenas transmitem a
sensação de dor quando há uma percepção consciente de ameaça.
Confira aqui a resposta
 
2. Com relação à evolução histórica das concepções acerca da dor, assinale a
alternativa correta.
A) A descoberta de que as vias dorsal e ventral mediais da medula têm funções
diferentes ocorreu no século XX.
B) Em 1896, foi demonstrado definitivamente que a dor é uma forma sensorial
independente.
C) A teoria segundo a qual a forte estimulação de outras formas sensoriais é
dolorosa foi elaborada por Erb, em 1922.
D) A descrição dos nociceptores como estruturas especializadas para a dor foi
feita por Bell, em 1811.
Confira aqui a resposta
 
3. A via responsável pela condução da informação nociceptiva na medula é a
A) corticoespinhal.
B) espinocerebelar.
C) espinotalâmica.
D) espinobulbar.
Confira aqui a resposta
 
4. Com relação à transdução de estímulos físico-químicos em sinais neurais,
assinale a alternativa correta.
A) Os impulsos nervosos responsáveis pela dor passam do corno posterior da
medula diretamente para o cérebro, onde são interpretados.
B) As fibras Aδ terminam mais profundamente na lâmina II do corno dorsal da
medula.
C) A maioria dos neurônios espinorreticulotalâmicos encarregados da condução
dos estímulos dolorosos faz sinapse no núcleo talâmico VPL, sendo
responsável por estímulos dolorosos mais rápidos e precisos.
D) Os estímulos dolorosos mecânicos, químicos ou térmicos são convertidos
em sinais eletrofisiológicos, codificados em potenciais de ação e propagados
pelas fibras Aδ e C em direção ao SNC.
Confira aqui a resposta
 
5. São áreas do cérebro envolvidas no processamento da dor e no
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processamento cognitivo emocional:


A) córtex somatossensorial e amígdala.
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B) córtex pré-frontal e amígdala.
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C) córtex pré-frontal e giro parietotemporal.


Aa 󰍉 D) córtex cingulado posterior e córtex occipital.
Confira aqui a resposta
 
6. Com relação à sensibilização central, assinale a alternativa correta.
A) Está relacionada unicamente à disfunção dos mecanismos centrais inibitórios
da dor, sendo que o processamento sensorial no cérebro permanece
inalterado.
B) O fenômeno de wind-up, relacionado a tal sensibilização, diz respeito à
diminuição abrupta das descargas elétricas do neurônio de segunda ordem
na medula espinhal em resposta à estimulação repetitiva da fibra C.
C) Significa que as vias centrais de processamento da dor, localizadas na medula
espinhal e no cérebro, estão hipersensíveis.
D) O fenômeno de wind-up, relacionado a tal sensibilização, ocorre quando os
neurônios do corno dorsal perdem sensibilidade, em razão dos constantes
impulsos nociceptivos disparados pelos nociceptores.
Confira aqui a resposta
 

■ DOR PERSISTENTE OU CRÔNICA

É possível considerar como dor persistente ou crônica aquela que está presente na
maior parte dos dias por mais de três meses. O comportamento e a abordagem
terapêutica desse tipo de dor são diferentes em relação à dor aguda.

A dor aguda tem um papel filogenético importante, pois funciona como um


alarme para a manutenção da integridade do corpo. Na dor crônica, esse alarme
perde a função na medida em que não é mais necessário proteger a região.

Quando a dor se torna crônica sem uma entrada nociceptiva contínua, é possível que
mudanças sinápticas generalizadas tenham ocorrido, como o mecanismo de
potenciação de longa duração. Além de modificações específicas na fisiologia, é
possível que mecanismos de aprendizagem estejam envolvidos no processo de
proteção do indivíduo.22

Em situações naturais, grande parte da aprendizagem é condicionada e não envolve


uma resposta direta a uma entrada nociceptiva.22 Por exemplo, em uma situação que
exija o movimento de uma parte do corpo lesionada recentemente, o alarme pode soar
antes mesmo do início do movimento e desencadear comportamentos de evitação 23–
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antes mesmo do início do movimento e desencadear comportamentos de evitação.
25

󰍜 󰐍 󰂜 󰘥
Na fase em que ainda existe lesão tecidual, o comportamento de defesa permite dar
EO

repouso à estrutura e, assim, facilita a cicatrização. Em situações de generalização do


󰍉
Aa comportamento de evitação, a pessoa aprende a evitar tudo o que ela considere que
irá provocar dor.23–25 Assim, traços de memória são consolidados toda vez que a dor é
temporalmente associada à intenção de se mover.

Para a pessoa, a dor (ou apenas a expectativa de dor) significa que a parte do corpo
ainda está em risco; ela passa a adotar um comportamento de evitação e ter
manifestações relacionadas ao medo.23,25 Esse pode ser um dos mecanismos
presentes no medo relacionado à dor, no medo relacionado ao movimento e, em casos
mais extremos de generalização, na cinesiofobia.

ACHADOS DA LITERATURA

Os fatores cognitivos, emocionais e comportamentais parecem ter grande


importância após uma lesão esportiva, mesmo em casos em que a dor não está
mais presente.26

Um estudo incluiu 40 participantes após, pelo menos, 1 ano de lesão no ligamento


cruzado anterior (LCA). Foi observado que 62% deles não retornaram ao esporte e
72% não obtiveram a média de 10 mil passos por dia. Além disso, os participantes com
níveis elevados de cinesiofobia apresentaram 17% menos chances de retornar ao
esporte.26

Em uma revisão sistemática de 11 estudos, foram avaliados 983 atletas e 15 fatores


psicológicos. Os autores identificaram que respostas psicológicas positivas, incluindo
motivação, confiança e baixo medo, foram associadas à maior probabilidade de
retornar ao nível de participação pré-lesão e ao esporte mais rapidamente. O medo foi
uma resposta emocional mais limitadora na hora de retornar ao esporte, apesar de as
emoções gerais se tornarem mais positivas à medida que a recuperação e a
reabilitação progrediam.27

Importância do sono

LEMBRAR
Fatores comportamentais relacionados à rotina do atleta parecem ser
importantes para a lesão e a dor, destacando-se o sono, que inclui a quantidade
de horas dormidas e a qualidade do sono.28

A prevalência de queixas relacionadas à má qualidade do sono entre os atletas


profissionais é considerada alta, girando em torno de 22 a 56%. Os fatores de risco
que mais contribuem para distúrbios do sono incluem:28
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treinamento;
󰍜
viagens;
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competições.
Aa 󰍉
O impacto e a importância do sono para o desempenho de um atleta podem ser
demonstrados por meio de estudos. Em um trabalho, os atletas que experimentaram
sono não reparador exibiram aumento da sensação de fadiga, diminuição do humor e
prejuízo de funções cognitivas, como tempo de reação e capacidade de tomada de
decisão.29 Além disso, os distúrbios do sono aumentaram em 64% as chances de
atletas juvenis sofrerem lesão.30 Ter menos de 8 horas de sono elevou o risco de
sofrer uma lesão em 1,7 vezes.31

O entendimento atual da neuroimunologia relacionada ao sono fornece possíveis


ligações entre distúrbios do sono e dor. Enquanto o sono saudável facilita as funções
imunológicas, a qualidade ou quantidade prejudicada do sono pode resultar em uma
resposta inflamatória de baixo grau. Essa resposta como consequência da privação do
sono inclui níveis aumentados de interleucina 6 (IL-6), prostaglandina E2 (PGE2) e
óxido nítrico (NO), possivelmente mediada pelas células da microglia cerebral.32

É sabido que mesmo níveis baixos de citocinas inflamatórias afetam


potencialmente a função cerebral. Essas citocinas interferem na fadiga mediada
pelo SNC e se correlacionam com observações de aumento da sensibilidade a
estímulos dolorosos após a restrição do sono.32

A privação do sono transmite uma resposta inflamatória de baixo grau mediada pelas
células da glia, levando ao aumento da sensibilidade à dor, conforme observado em
pessoas com dor crônica.32

■ AVALIAÇÃO DO ATLETA COM DOR

Como já abordado neste capítulo, é necessário entender que a dor crônica geralmente
não está associada à lesão tecidual. Inicialmente, é preciso caracterizar as diferentes
definições sobre lesões esportivas.33

DEFINIÇÕES

Atualmente, o consenso do Comitê Olímpico Internacional (COI) define lesão e


doença das seguintes maneiras:33
 
lesão — é um dano tecidual ou outro distúrbio da função física normal devido à
participação em esportes, resultante de rápida energia cinética ou da transferência
repetitiva de energia cinética;
doença — é uma queixa ou distúrbio experimentado por um atleta, não relacionado
à lesão.

Segundo o COI as doenças incluem problemas relacionados à saúde no que tange aos
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14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD
Segundo o COI, as doenças incluem problemas relacionados à saúde no que tange aos
seguintes aspectos:33
󰍜
 
󰐍 󰂜 󰘥 EO

bem-estar físico (p. ex., influenza);


Aa 󰍉
bem-estar mental (p. ex., depressão);
bem-estar social;
remoção ou perda de elementos vitais (p. ex., ar, água, calor).

Entre os tipos de lesão, é possível destacar as lesões traumáticas agudas, por uso
excessivo e recorrentes (Quadro 3).
Quadro 3

TIPOS DE LESÃO

Traumática Refere-se a um evento único, ocasionado por um macrotrauma


aguda singular em um tecido previamente saudável.
No atleta, pode ser acompanhada de medo, ansiedade e maior foco
cognitivo na lesão.

Por uso Decorre de cargas submáximas repetidas do sistema


excessivo musculoesquelético.
É o resultado da diferença entre o volume e a intensidade do
estresse ou da força aplicada ao corpo e a capacidade do corpo de
dissipar esse estresse.

Recorrente É um incidente do mesmo tipo e no mesmo local que ocorre após o


retorno de um atleta à plena função e à participação esportiva.

Fonte: Adaptado de Hainline e colaboradores (2017).34

As lesões recorrentes subagudas e condições degenerativas crônicas podem formar


um continuum com as lesões por uso excessivo.34

ADOÇÃO DO MODELO BIOPSICOSSOCIAL

O conhecimento de que nem sempre um atleta com dor apresenta lesão tecidual é
fundamental para todo fisioterapeuta que lida com atletas, sejam eles de alto
rendimento, amadores ou recreacionais. Assim, o profissional deve estar preparado
para avaliar as queixas de dor nessa população considerando todos os aspectos
apresentados até o momento.35

Considerar que a dor é uma experiência individual, subjetiva, que pode estar
associada a experiências e fatores biológicos, psicossociais ou, até mesmo,
genéticos é o primeiro passo do processo de avaliação da dor.35

É muito importante realizar uma avaliação adequada, proveniente de uma escuta


https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/dor-cronica-no-esporte 16/52
14/09/2022 13:50
p ç q , p
DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD

qualificada e centrada no paciente, para identificar o tipo de dor (considerando a


󰍜 󰐍 󰂜 󰘥
classificação quanto ao tempo e ao mecanismo neurofisiológico) e os fatores que
EO

possam estar associados para a manutenção ou a cronificação da dor.35,36 Assim, para


󰍉
Aa a avaliação do atleta com dor, não basta se concentrar somente em fatores biológicos,
como exames (radiografias, ressonância magnética [RM], etc.), ou identificar
disfunções anatômicas e biomecânicas.37–39

Apesar de se reconhecer a necessidade de implementar o modelo biopsicossocial,


ainda existe uma grande distância entre a teoria e a prática. Algumas barreiras podem
dificultar a implementação da avaliação no modelo biopsicossocial, como:40
 
conhecimento limitado sobre o que significam os fatores psicossociais;
precária formação profissional dentro desse modelo;
ausência de treinamento formal e de ferramentas adicionais.

USO DO MÉTODO SCEBS

O grupo dos autores deste capítulo validou um instrumento que pode orientar o
clínico durante a anamnese. Trata-se do SCEBS, um acrônimo dos seguintes termos:40
 
S — somáticos;
C — cognitivos;
E — emocionais;
B — behavioral (comportamentais);
S — sociais.

Esse instrumento pode favorecer a adoção de um modelo de avaliação mais amplo


pelos clínicos, além de ser de uma ferramenta de fácil aplicabilidade e compreensão.40

Recomenda-se que as dimensões do método SCEBS sejam utilizadas como


parâmetros para o acompanhamento dos indivíduos com dor crônica.

O Quadro 4 faz uma breve descrição dos domínios do método SCEBS.


Quadro 4

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14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD

󰍜 󰐍 󰂜 󰘥 EO

DESCRIÇÃO DOS CONTEÚDOS PRESENTES NO MÉTODO SCEBS

Aa Domínio 󰍉 Fatores

Somáticos Arco de movimento


Força muscular
Tônus muscular
Sensibilidade profunda e superficial
Coordenação
Padrões de movimentos
Gestual esportivo
Alterações neurodinâmicas
Hipersensibilidade mecânica (limiar de dor a pressão)

Cognitivos Pensamentos negativos


Expectativas relacionadas ao tratamento e ao futuro
Crenças sobre o quadro

Emocionais Sentimentos frequentes


Raiva
Medo
Tristeza
Ansiedade
Estresse pós-traumático
Sentimentos depressivos
Modificações no humor provocadas pela dor

B ehavioral Estratégias de enfrentamento da dor (evitação ou


(comportamentais) provocação)

Sociais Qual foi o impacto da dor (na família, no trabalho, nas


atividades esportivas, nas relações com as pessoas)
O que as pessoas próximas falam e pensam sobre a dor

Fonte: Elaborado pelos autores.

DESCARTE DE BANDEIRAS VERMELHAS

Durante a avaliação da pessoa com dor, é imprescindível que se descarte a


presença de bandeiras vermelhas, que são sinais e sintomas que necessitam de
uma investigação médica mais profunda. Para que se possa suspeitar da
presença de uma bandeira vermelha, é importante obter uma história completa
do paciente, seguida de um exame físico detalhado.41,42

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14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD

As bandeiras vermelhas envolvem as seguintes condições, entre outras:41,42

󰍜  
infecções;
󰂜 󰐍 󰘥 EO

doenças neurológicas com quadros progressivos;


Aa 󰍉
síndrome da cauda equina;
lesões traumáticas;
câncer;
doenças reumáticas.

CLASSIFICAÇÃO DA DOR

Após o descarte de bandeiras vermelhas, deve-se classificar a dor, de acordo com o


tempo, em aguda (permanece por até 3 meses) ou crônica (está presente na maior
parte dos dias por mais de 3 meses). O próximo passo é identificar o tipo de dor
predominante, de acordo com o mecanismo neurofisiológico, classificando-a em
nociceptiva, neuropática ou nociplástica.43

Nociceptiva

A dor nociceptiva pode acontecer quando há um dano real ao tecido ou mesmo


quando não existe mais esse dano, sendo proveniente da ativação dos nociceptores.
Em geral, a pessoa consegue definir bem o local da dor e os mecanismos de melhora e
piora. Pode haver sinais inflamatórios.43,44

Neuropática

A dor neuropática tem como condição primária a presença de uma lesão no sistema
somatossensorial, incluindo, entre outras:43,44
 
lesões nervosas periféricas;
síndromes compressivas;
neuropatias;
lesões raquimedulares.

Tal lesão é evidenciada por um exame complementar (eletroneuromiografia, RM). Ela


pode se manifestar por alterações observadas no exame físico correspondentes à
distribuição neuroanatômica do nervo ou do nível medular acometido.43,44

Nociplástica

A dor nociplástica tem como mecanismo a sensibilização central, que se refere à


hiperexcitabilidade do sistema nervoso.

LEMBRAR
Atualmente, acredita-se que o mecanismo envolvido na sensibilização central se
baseie na liberação de substâncias pró-inflamatórias pelas células da glia, tanto
no corno posterior da medula quanto em áreas supramedulares.45
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14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD
no corno posterior da medula quanto em áreas supramedulares.

󰍜 󰐍 󰂜 󰘥
A identificação da sensibilização central na prática clínica se caracteriza pela presença
EO

dos seguintes sinais:45


Aa   󰍉
hipersensibilidades a estímulos sensoriais (som, odor, paladar, audição e toque);
dor disseminada;
experiência de dor desproporcional ao quadro clínico.

Além disso, os seguintes aspectos podem ser encontrados:


 
dor à palpação em pontos distantes da queixa original;
déficit da resposta de modulação condicionada da dor (em inglês, conditioned pain
modulation [CPM]);
aumento da somação temporal.

A dor nociplástica é mais frequente em algumas condições clínicas, como:35,43,44


 
fibromialgia;
lesão em chicote cervical;
dor lombar;
dor cervical;
osteoartrite do joelho;
migrânea;
síndrome da dor miofascial.

Resumo

O Quadro 5 sumariza as características dos tipos de dor de acordo com o mecanismo


neurofisiológico.
Quadro 5

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󰍜 󰐍 󰂜 󰘥 EO

CARACTERÍSTICAS E MECANISMOS DOS DIFERENTES TIPOS DE DOR

Aa Tipo de dor󰍉 Mecanismo Características

Nociceptiva Aumento da atividade dos nociceptores, Dor local


(entorse do podendo ou não estar associado à Dor provocada por
tornozelo) presença de lesão estímulos mecânicos
Sinais inflamatorios

Neuropática Presença de lesão ou doença que afete o Dor e sinais com


(lesão do sistema somatossensorial distribuição
plexo neuroanatômica
braquial) plausível

Nociplástica Aumento da atividade dos neurônios do Hipersensibilidades


(fibromialgia) corno posterior da medula e do cérebro Alteração do sono
Fadiga
Dor disseminada
Experiência exagerada
de dor

Fonte: Adaptado de Wijma e colaboradores (2016).46

IDENTIFICAÇÃO DE BANDEIRAS AMARELAS E LARANJA

O profissional deve ser capaz de identificar as bandeiras amarelas por meio da


história exposta pela pessoa com dor. Tais bandeiras se referem a relatos que são
identificados na avaliação e podem gerar incapacidade em longo prazo.41,42

O profissional precisa estar atento a relatos suspeitos de sintomas depressivos, como,


entre outros:41,42
 
isolamento social;
baixa expectativa quanto ao tratamento;
pensamentos catastróficos;
crenças negativas sobre sua condição;
ansiedade;
humor negativo.

Pessoas com transtornos psicológicos graves, como distúrbios de personalidade


e síndromes de ansiedade, se enquadram nas chamadas bandeiras laranja. Elas
devem ser recomendadas para o serviço de saúde mental.

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󰍜 󰐍 󰂜 󰘥 EO

ATIVIDADES

Aa 󰍉
7. Com relação à dor crônica, assinale a alternativa correta.
A) Para ser classificada dessa forma, deve estar presente na maior parte dos
dias por mais de 1 semana.
B) Quando não há uma entrada nociceptiva contínua, é possível que tenham
ocorrido mudanças sinápticas generalizadas, as quais possivelmente não
envolvem apenas a fisiologia, mas também mecanismos de aprendizagem.
C) Assim como a dor aguda, tem um papel filogenético importante, funcionando
como um alarme para a manutenção da integridade do corpo.
D) Sua abordagem terapêutica deve ser a mesma da dor aguda.
Confira aqui a resposta
 
8. De acordo com a literatura, um dos principais fatores limitantes para o retorno
de um atleta à atividade esportiva é
A) o medo do movimento.
B) o controle motor.
C) a duração da dor.
D) a intensidade da dor.
Confira aqui a resposta
 
9. Quanto à relação entre sono e dor, é correto afirmar que
A) a privação do sono só afeta os níveis de dor quando ocorre por muito tempo,
o que ocasiona o aumento demasiado dos níveis de citocinas inflamatórias,
afetando as funções cerebrais.
B) o aumento dos níveis de IL-6, PGE2 e NO, decorrente de alterações no sono,
acarreta a diminuição da resposta a estímulos dolorosos.
C) o aumento da sensibilidade à dor pode ocorrer tanto em pacientes com
quantidade reduzida de sono quanto naqueles que dormem excessivamente,
pois os dois casos geram alterações na imunidade.
D) prejuízos na quantidade ou na qualidade do sono podem resultar em
respostas inflamatórias de baixo grau e, consequentemente, no aumento da
sensibilidade à dor.
Confira aqui a resposta
 
10. Com relação aos tipos de lesão, assinale a alternativa correta.
A) Lesões recorrentes decorrem de cargas submáximas repetidas no sistema
musculoesquelético.
B) Lesões por uso excessivo são lesões do mesmo tipo e no mesmo local
ocorridas após o retorno de um atleta à plena função e à participação
esportiva.
)
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14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD
C) Lesões traumáticas agudas em atletas podem ser acompanhadas de medo,
ansiedade e maior foco cognitivo na lesão.
󰍜 󰐍 󰂜 󰘥
D) Lesões por uso excessivo resultam unicamente da frequência da ocorrência
EO

de um estresse em alguma parte do corpo, não sendo influenciadas pela


Aa 󰍉 capacidade do corpo de suportar ou dissipar esse estresse.
Confira aqui a resposta
 
11. Com relação aos conteúdos presentes no método SCEBS, assinale a
alternativa correta.
A) Os fatores somáticos incluem arco de movimento, força muscular, tônus
muscular, sensibilidade profunda e superficial, coordenação, padrões de
movimentos, gestual esportivo, alterações neurodinâmicas e
hipersensibilidade mecânica.
B) Os fatores cognitivos envolvem sentimentos de raiva, medo, ansiedade e
estresse pós-traumático.
C) Os fatores comportamentais abrangem o impacto da dor nas relações
familiares e profissionais do paciente.
D) Os fatores emocionais se referem a estratégias de enfrentamento da dor, de
evitação ou de provocação.
Confira aqui a resposta
 
12. Com relação à avaliação da pessoa com dor, assinale a alternativa correta.
A) Antes de classificar a dor como aguda ou crônica, deve-se identificar o tipo
de dor predominante, de acordo com o mecanismo neurofisiológico,
classificando-a em nociceptiva, neuropática ou nociplástica.
B) Os passos são, nesta ordem: classificar a dor como aguda ou crônica;
descartar possíveis bandeiras vermelhas e amarelas; identificar o tipo de dor
predominante, de acordo com o mecanismo neurofisiológico.
C) É importante avaliar as chamadas bandeiras amarelas, que se referem a
sintomas de dor que podem ser incapacitantes em curto prazo.
D) É necessário descartar as chamadas bandeiras vermelhas, que são sinais e
sintomas que tornam necessária uma investigação médica mais profunda.
Confira aqui a resposta
 
13. Quanto às características dos tipos de dor, de acordo com o mecanismo
neurofisiológico, é correto afirmar que
A) a dor nociceptiva pode acontecer quando há um dano real ao tecido ou
quando esse dano não existe mais, mas há ativação dos nociceptores.
B) em geral, o paciente não consegue definir bem o local nem os mecanismos
de melhora e piora da dor nociceptiva.
C) a dor neuropática é aquela que tem como mecanismo a sensibilização
central.
D) o mecanismo responsável pela dor nociplástica envolve a presença de uma
l ã i
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14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD
lesão no sistema somatossensorial.
Confira aqui a resposta
󰍜
 
󰐍 󰂜 󰘥 EO

14. Quanto às características da dor neuropática, assinale a alternativa.


Aa 󰍉
A) Dor disseminada e experiência exagerada de dor.
B) Dor provocada por estímulos mecânicos e presença de sinais inflamatórios.
C) Dor e sinais com distribuição neuroanatômica plausível.
D) Hipersensibilidades, alterações do sono e dor local.
Confira aqui a resposta
 

INSTRUMENTOS COMPLEMENTARES

Para complementar a avaliação subjetiva e quantificar as suspeitas levantadas a partir


da anamnese, é importante utilizar alguns instrumentos, como questionários e escalas.

O profissional deve ficar atento para evitar a sobrecarga da pessoa por meio da
aplicação de muitos instrumentos. Ele precisa saber quais ferramentas servirão
como medida do efeito de suas intervenções terapêuticas. Não faz sentido
utilizar um instrumento sem que essa informação seja usada para encaminhar o
indivíduo a outro profissional ou seja alvo de uma intervenção terapêutica
específica.

Gravidade da dor e impacto da dor nas atividades

As informações sobre as características da dor incluem duração (tempo em meses) e


frequência (vezes por semana). Para a caracterização da intensidade e da localização
da dor, recomenda-se o uso do Inventário Breve de Dor (em inglês, Brief Pain
Inventory [BPI]). Trata-se de um instrumento multidimensional que mensura a
intensidade (gravidade) da dor e seu impacto na vida. Possui 15 itens, que se
subdividem em duas partes: oito deles avaliam a dor, e sete, a interferência da dor nas
atividades da vida diária. Tanto a gravidade da dor quanto sua interferência nos
aspectos da vida são avaliadas em uma escala de 0 a 10.47

Sensibilização central

A sensibilização central pode ser avaliada pelo Inventário de Sensibilização Central


(em inglês, Central Sensitization Inventory [CSI]). Esse instrumento consiste em um
questionário com 25 itens, tendo 40 pontos como ponto de corte.48,49

Ainda não existe consenso sobre a validade do CSI para discriminar pacientes
que apresentam sensibilização central daqueles que não a apresentam. Assim, o
https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/dor-cronica-no-esporte 24/52
14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD
escore deve ser interpretado com cautela, de acordo com os sintomas do
paciente.48,49
󰍜
Catastrofização da dor
󰐍 󰂜 󰘥 EO

Para a avaliação dos pensamentos catastróficos, sugere-se o uso da Escala de


Aa 󰍉
Catastrofização da Dor (em inglês, Pain Catastrophizing Scale [PCS]). Esse
instrumento é composto por 13 itens que avaliam a ruminação, a magnificação dos
sintomas e a percepção de desamparo em relação à dor.50 A pontuação da escala é
obtida a partir da soma das respostas a todos os itens e varia de 0 a 4 em uma escala
Likert:51
 
0 — nunca;
1 — poucas vezes;
2 — algumas vezes;
3 — muitas vezes;
4 — sempre.

O paciente deve responder às questões de acordo com o grau em que ele apresenta
os pensamentos e sentimentos no momento da dor. Considera-se que há níveis
elevados de pensamentos catastróficos quando a pontuação é maior ou igual a 30.51

Cinesiofobia

A cinesiofobia pode ser avaliada pela Escala Tampa de Cinesiofobia (em inglês, Tampa
Scale for Kinesiophobia [TSK]). Esse instrumento é composto por 17 questões
relacionadas à dor e à intensidade dos sintomas, com a finalidade de mostrar o grau de
cinesiofobia. A TSK avalia a crença e a evitação da dor relacionadas ao movimento ou
ao exercício. A pontuação pode variar de 1 a 4, dependendo das respostas do
paciente:52
 
1 — discordo totalmente;
2 — discordo parcialmente;
3 — concordo parcialmente;
4 — concordo totalmente.

O escore final varia de 17 a 68 pontos. Quanto maior a pontuação, maior o grau de


cinesiofobia.52

Medo-evitação e crenças

Um instrumento que pode ser utilizado para avaliar o medo, as crenças e os


comportamentos de evitação em relação à atividade física e ao trabalho é o Fear
Avoidance Beliefs Questionnaire (FABQ).53

O FABQ foi desenvolvido para ser aplicado em casos de dor lombar.53

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O FABQ é composto por 16 itens, divididos em duas subescalas: uma que aborda os

󰍜medos e as crenças em relação ao trabalho (FABQ-Work) e outra


󰐍que avalia
󰂜 os󰘥 medos EO
e as crenças em relação às atividades físicas (FABQ-Phys). Cada item é graduado em
uma escala Likert de 7 pontos, que varia de 0 (discordo completamente) a 6 (concordo
Aa completamente).53
󰍉
Ansiedade e depressão

Para a avaliação dos sintomas de ansiedade e depressão, existem diversos


instrumentos, como:54
 
Inventário de Depressão de Beck.
Patient Health Questionnaire 9-item (PHQ-9).
Generalized Anxiety Disorder 7-item (GAD-7).
Hospital Anxiety and Depression Scale (Hads).

O Inventário de Depressão de Beck possui 21 itens, com um escore que varia de 0 a 3


afirmativas de resposta, entre as quais o sujeito escolhe a mais aplicável a si para
descrever como se sentiu nas duas últimas semanas. O escore total é o resultado da
soma dos itens individuais, podendo alcançar o máximo de 63 pontos. A pontuação
final indica a intensidade dos sintomas de depressão, classificada nos seguintes
níveis:55
 
mínimo;
leve;
moderado;
grave.

O PHQ-9 é composto por nove itens, dispostos em uma escala de quatro pontos, que
varia de 0 (nenhuma vez) a 3 (quase todos os dias). A pontuação varia de 0 a 27. Esse
instrumento avalia a frequência de sinais e sintomas de depressão nas últimas 2
semanas. Estima-se, como indicador positivo de depressão maior, um valor maior ou
igual a 10.56

O GAD-7 é composto por sete itens, dispostos em uma escala de 4 pontos, que varia
de 0 (nenhuma vez) a 3 (quase todos os dias). A pontuação varia de 0 a 21. O
instrumento mede a frequência de sinais e sintomas de ansiedade nas últimas 2
semanas. O valor de 10 pontos é considerado como o ponto de corte para identificar a
presença de ansiedade.57

A Hads é constituída por 14 itens, sete para a avaliação da ansiedade (Hads-A) e sete
para a avaliação da depressão (Hads-D). Cada item pode ser pontuado de 0 a 3,
atingindo-se o máximo de 21 pontos em cada subescala. Considera-se como
indicativo de ansiedade um escore igual ou maior do que 8, e de depressão, igual ou
superior a 9.58

Avaliação específica de atletas


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Avaliação específica de atletas

󰍜 󰐍 󰂜 󰘥
Alguns instrumentos foram desenvolvidos especificamente para atletas, como os
EO

apresentados a seguir.
Aa 󰍉
O Revised Competitive State Anxiety Inventory 2 (CSAI-2R) avalia o estado de
ansiedade em atletas durante competições esportivas. O instrumento é composto por
17 itens, distribuídos em três subescalas:59
 
ansiedade somática;
ansiedade cognitiva;
autoconfiança.

Os itens são pontuados em uma escala Likert de quatro pontos, que varia de 1 (nada) a
4 (muito). A pontuação de cada subescala é calculada somando-se os respectivos itens
divididos pelo número de itens, variando de 1 a 4.59

O Anterior Cruciate Ligament — Return to Sports after Injury (ACL-RSI) é um


instrumento desenvolvido para pessoas que sofreram lesões do LCA.

O ACL-RSI é um instrumento de autorrelato que avalia as respostas psicológicas dos


atletas em relação ao reinício do esporte após lesão e/ou cirurgia do LCA. O
instrumento contém 12 itens, subdivididos em três domínios:60
 
emoções;
desempenho;
avaliação de risco.

LEMBRAR
O ACL-RSI foi traduzido para vários idiomas, incluindo o português do Brasil, e é
considerado válido e confiável.60

O Injury — Psychological Readiness to Return to Sport (I-PRRS) foi desenvolvido para


avaliar o status psicológico dos atletas que sofreram alguma lesão para retornar à
participação esportiva, independentemente do tipo de lesão.61

Enfrentamento

Para avaliar o comportamento de enfrentamento da pessoa com dor crônica, pode-se


utilizar o Chronic Pain Coping Inventory (CPCI). Esse instrumento é composto por
nove subescalas, distribuídas em dois domínios de estratégias de enfrentamento: um
focado na doença e outro no bem-estar (Quadro 6). A pessoa deve indicar o número
de dias durante a semana passada em que usou cada uma das 70 estratégias de
enfrentamento para lidar com a dor.62
Quadro 6
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14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD
Quadro 6

󰍜 󰐍 󰂜 󰘥 EO

DOMÍNIOS DE ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DA CHRONIC PAIN COPING


INVENTORY
Aa 󰍉
Focado na doença Proteção
Descanso
Solicitação de assistência

Focado no bem-estar Exercício/alongamento


Relaxamento
Persistência de tarefas
Autoafirmações de enfrentamento
Graduação das atividades
Busca de apoio social

Fonte: Adaptado de Sehn e colaboradores (2012).62

Um ponto negativo do CPCI é seu tamanho (70 itens), o que pode dificultar sua
implementação para uso de rotina. Versões reduzidas, com 42, 16 e 8 itens, já
foram descritas na literatura.62

Resumo

A maioria dos instrumentos apresentados não é específica para atletas. Destaca-se a


necessidade de desenvolvimento/validação de instrumentos para esse público,
considerando as especificidades de sua prática.

O Quadro 7 resume os instrumentos que podem ser utilizados na avaliação do atleta


com dor.
Quadro 7

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󰍜 󰐍 󰂜 󰘥 EO

VARIÁVEIS RELACIONADAS À DOR E RESPECTIVOS INSTRUMENTOS DE


AVALIAÇÃO
Aa 󰍉
Variáveis Instrumentos

Gravidade da dor BPI

Impacto da dor nas atividades

Localização da dor Mapa corporal

Catastrofização da dor PCS

Cinesiofobia TSK

Medo-evitação e crenças FABQ

Sensibilização central CSI

Ansiedade e depressão Inventário de Depressão de Beck


PHQ-9
GAD-7
Hads
CSAI-2R

Enfrentamento CPCI

Fonte: Elaborado pelos autores.

EXAME FÍSICO

O exame físico do atleta deve começar com uma inspeção geral, seguida da inspeção
do local da queixa, incluindo a avaliação da marcha e do movimento geral. É
importante observar qualquer evidência dos seguintes aspectos:63
 
deformidade;
assimetria;
hematomas;
edemas;
alterações cutâneas;
alterações de trofismo.

As orientações gerais quanto ao exame físico do atleta são apresentadas a seguir:63


 
testar a amplitude de movimento ativa e passivamente, verificando qualquer
alteração anormal de padrões de movimento ou agravamento/alívio da dor;
avaliar os movimentos acessórios articulares;
https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/dor-cronica-no-esporte 29/52
14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD

à palpação, abordar a resistência e a sensibilidade superficial e dolorosa dos tecidos

󰍜 moles em áreas proximais e distais à queixa inicial;


󰐍
no teste conjunto, incluir movimentos fisiológicos e acessórios;
󰂜 󰘥 EO

considerar as propriedades diagnósticas (sensibilidade, especificidade, razão de


Aa 󰍉
verossimilhança positiva e negativa) de cada teste especial para verificar até que
ponto determinado teste contribui para o diagnóstico;
incluir uma avaliação da técnica do esporte em questão, abrangendo a avaliação do
equipamento e do gestual esportivo.

Avaliação da sensibilização central e do sistema de modulação descendente

Durante o exame físico, o fisioterapeuta pode usar o algômetro com o objetivo


de avaliar a presença da sensibilização central e do sistema de modulação
descendente.

A sensibilização central pode ser avaliada pela quantidade de pressão necessária para
reproduzir a dor no local da queixa original e em pontos distantes, por exemplo:64
 
trapézio;
epicôndilos laterais do cotovelo;
regiões tenares;
músculos tibiais anteriores.

Ainda é possível avaliar o sistema de modulação descendente da dor por meio da


avaliação da CPM.64

A CPM é uma medida experimental psicofísica da via inibidora da dor endógena


em humanos que tem como princípio o fenômeno “dor inibe dor”.64

Acredita-se que a CPM represente o correlato comportamental humano do controle


inibitório nocivo difuso.

Os paradigmas de CPM consistem na avaliação de um estímulo de teste


doloroso (em geral, imersão de um segmento distal, como uma das mãos em um
balde com água e gelo), seguida de uma segunda avaliação simultânea de um
estímulo de condicionamento doloroso distante (paradigma paralelo) ou em série
após a retirada do estímulo de condicionamento doloroso (paradigma
sequencial).64 O avaliador mede o limiar de dor à pressão com o algômetro em
uma região de escolha, submete o paciente ao estímulo doloroso e mede o limiar
de dor à pressão novamente.

É esperado que o limiar de dor à pressão aumente com o estímulo doloroso. A inibição
da dor não é universal (em alguns indivíduos, é observado um aumento na
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14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD

classificação da intensidade da dor). Apesar disso, na maioria dos indivíduos, a


󰍜 󰐍 󰂜 󰘥
intensidade da dor experimentada com o estímulo de teste é reduzida durante ou
EO

imediatamente após a exposição ao estímulo de condicionamento.


Aa 󰍉
O fisioterapeuta deve estar atento a sua avaliação e evitar atribuir uma relação
de causa e efeito, por mais lógico que tenha sido o achado, independentemente
de esse achado estar relacionado a um fator físico, psicológico ou social. É
necessário modificar a maneira de pensar tanto a avaliação quanto a
intervenção, deixando de lado um modelo determinístico que busque atribuir
uma relação de causa e efeito e adotando um modelo que avalie a complexa
interação entre os diversos fatores internos e externos, conhecidos ou
desconhecidos.65

Para saber mais:


 
Para saber mais sobre complexidade, sugere-se consulta ao artigo Complex
systems approach for sports injuries: moving from risk factor identification to injury
pattern recognition — narrative review and new concept, de Bittencourt e
colaboradores.65

ATIVIDADES

15. Com relação aos instrumentos complementares para a avaliação de pessoas


com dor, assinale a alternativa correta.
A) O melhor instrumento para a avaliação da cinesiofobia é o PHQ-9.
B) O GAD-7 é constituído por 14 itens, sete para a avaliação da ansiedade e
sete para a avaliação da depressão.
C) A PCS é composta por 10 itens que avaliam exclusivamente a percepção de
desamparo diante da dor.
D) O BPI é um instrumento multidimensional, que mensura a intensidade da
dor e seu impacto na vida.
Confira aqui a resposta
 
16. Com relação ao exame físico do atleta, assinale a alternativa correta.
A) Deve sempre começar pela inspeção do local da queixa.
B) É importante avaliar a marcha e o movimento geral, testando a amplitude de
movimento somente de maneira passiva, para evitar qualquer dano à parte
que sofreu a lesão.
C) O fisioterapeuta pode utilizar o algômetro para avaliar a presença de
sensibilização central e do sistema de modulação descendente.
D) A palpação deve abordar apenas a sensibilidade superficial e dolorosa dos
tecidos moles em áreas proximais à queixa inicial
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tecidos moles em áreas proximais à queixa inicial.
Confira aqui a resposta
󰍜
 
󰐍 󰂜 󰘥 EO

17. Com relação à CPM, assinale a alternativa correta.


Aa 󰍉
A) Após submeter o paciente ao estímulo doloroso, ao medir novamente o
limiar de dor à pressão, espera-se que esse limiar aumente.
B) Na maioria dos indivíduos, a intensidade da dor experimentada com o
estímulo de teste é amplificada durante a exposição ao estímulo de
condicionamento, diminuindo algum tempo após a exposição.
C) É realizada por meio de uma avaliação da dor simultânea a um estímulo de
condicionamento doloroso distante, seguida de uma nova avaliação de um
estímulo de teste doloroso.
D) Tem como princípio o fenômeno “dor amplifica dor”.
Confira aqui a resposta
 

■ INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS NA DOR

Atualmente, sabe-se que existe a necessidade de melhorar os seguintes aspectos:66


 
acesso aos serviços de manejo da dor;
qualidade dos cuidados para as dores musculoesqueléticas, que constituem a
principal causa de incapacidade;
manejo da dor nos atletas.

O manejo adequado da dor envolve a consideração das interações complexas entre


fatores neurobiológicos, cognitivos, afetivos, contextuais e ambientais. Para tal, muitas
vezes é necessária a presença de uma equipe multiprofissional.63

As intervenções fisioterapêuticas, além de visar à recuperação da força, do arco


de movimento e do controle motor adequado, devem incluir o manejo da dor por
meio de intervenções físicas e ajustes comportamentais, considerando as
influências psicossociais e contextuais.63

A guideline do COI para o manejo da dor em atletas destaca que muitas técnicas
utilizadas por fisioterapeutas não têm benefício claro além dos efeitos não específicos
e da história natural, com algumas exceções.63

A laserterapia de baixa intensidade pode ser benéfica no tratamento da


tendinopatia.63

A crioterapia é largamente utilizada no meio esportivo, apesar de haver poucas


https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/dor-cronica-no-esporte 32/52
14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD
A crioterapia é largamente utilizada no meio esportivo, apesar de haver poucas
evidências de ensaios clínicos que avaliem o benefício dessa intervenção. Segundo a
󰍜 󰐍 󰂜 󰘥
guideline do COI, as seguintes técnicas não demonstraram eficácia consistente no
EO

alívio da dor resultante de lesão musculoesquelética:63


Aa   󰍉
estimulação elétrica;
massagem terapêutica;
inibição de pontos-gatilho miofasciais;
acupuntura.

Embora os dados de estudos de intervenções fisioterapêuticas para a dor em atletas


ainda careçam de evidências robustas, há evidências em outras populações com dor
(principalmente crônica) de que as abordagens que incluem os seguintes aspectos
podem melhorar a autoeficácia, reduzir o medo do movimento e da reincidência de
lesão e diminuir a intensidade da dor:
 
educação com base na neurofisiologia da dor;
estratégias psicocomportamentais;
terapia manual;
prática de exercícios.

Entre as intervenções psicocomportamentais, o fisioterapeuta pode utilizar a


fisioterapia psicologicamente informada, que incorpora princípios e estratégias
cognitivas e comportamentais (p. ex., técnicas para a redução do medo,
atividades graduadas e técnicas de exposição), bem como a educação em dor
durante o tratamento.

Destaca-se a importância da avaliação de um especialista da saúde mental


presente na equipe esportiva. Além disso, é fundamental que o atleta
compreenda a interação entre os fatores psicológicos e a dor para que as
intervenções psicocomportamentais sejam implementadas quando necessário e
sem estigma.

O objetivo desta seção não é apresentar um protocolo para o tratamento de dor em


atletas, mas abordar o raciocínio clínico com base em estudos em outras populações
com dor crônica. Entende-se que haja a necessidade de ensaios clínicos para
comprovar os benefícios em atletas de muitas das intervenções citadas.

ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA COM BASE NA CLASSIFICAÇÃO DA DOR


SEGUNDO OS MECANISMOS NEUROFISIOLÓGICOS

A seguir, será apresentada a abordagem fisioterapêutica com base na classificação da


dor segundo os mecanismos neurofisiológicos. Essa abordagem segue o modelo
biopsicossocial, unindo o conhecimento fisiopatológico, os fatores psicológicos e a
disfunção do movimento envolvidos na dor 37
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14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD
disfunção do movimento envolvidos na dor.

󰍜 󰐍 󰂜 󰘥
É preciso que o profissional tenha habilidade para compreender e identificar os
EO

mecanismos de dor durante a avaliação.67–69 Muitas vezes, eles não se manifestam de


󰍉
Aa forma padronizada. Assim, uma pessoa pode apresentar mais de um mecanismo (p. ex.,
dor neuropática mais nociplástica), e pessoas com a mesma disfunção ou lesão podem
apresentar mecanismos diferentes.37 O fisioterapeuta deve buscar identificar o
mecanismo neurofisiológico predominante em cada pessoa.

LEMBRAR
A dor crônica pode estar associada a vários fatores e se apresentar por meio de
múltiplos mecanismos, requerendo uma intervenção multimodal e
interdisciplinar.

Com base no modelo de mecanismos neurofisiológicos, as intervenções são realizadas


de modo específico e direcionado, com o objetivo de otimizar os resultados.37

Dores crônicas com predomínio nociceptivo

As evidências mostram que a prática de exercício físico é capaz de reduzir a


atividade nociceptiva, aumentando a inibição periférica.

Exercícios de fortalecimento podem ser úteis no gerenciamento da dor em condições


crônicas, como osteoartrite, fibromialgia e dor musculoesquelética crônica.

Os mecanismos neurobiológicos envolvem a ativação do sistema modulador


descendente pelos sistemas opioides endógenos e canabinoides.

Técnicas de terapia manual, como manipulação articular, têm resultados no alívio da


dor por contribuírem para a restauração do movimento.37 Os mecanismos envolvidos
não estão relacionados ao reposicionamento de estruturas articulares ou de tecido
mole, mas a uma cascata de eventos neurofisiológicos que ocorrem desde a periferia
até regiões do cérebro.70

A estimulação elétrica nervosa transcutânea (em inglês, transcutaneous electrical


nerve stimulation [Tens]) pode ser usada para a analgesia, alterando a atividade
simpática e reduzindo a dor via receptores noradrenérgicos locais e pela liberação de
opioides endógenos.71

A educação em dor deve abordar a neurofisiologia da dor, incluindo os seguintes


tópicos:72
 
relação entre dor e lesão tecidual;
sensibilização periférica;
vias medulares;
processamento da dor no cérebro;
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14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD
processamento da dor no cérebro;
influência de fatores cognitivos, emocionais e comportamentais na dor.
󰍜
Dores crônicas com predomínio neuropático
󰐍 󰂜 󰘥 EO

Aa 󰍉
Até o presente momento, as evidências mais consistentes acerca da abordagem
da dor neuropática envolvem terapias medicamentosas.73

As evidências relacionadas a intervenções com base em exercícios para a dor


neuropática ainda são escassas. Há a necessidade de realização de ensaios clínicos
para medir a efetividade e os riscos desse tipo de intervenção.74

Um ensaio clínico sobre a prática de exercício físico por pessoas com lesão medular
observou uma redução da intensidade da dor nos participantes.74 Entretanto, a
amostra do estudo foi pequena, dificultando a generalização dos resultados. Estudos
com animais mostraram que intervenções com exercícios podem modificar a
nocicepção mecânica, a nocicepção térmica e a dor espontânea.75 Entretanto, esses
resultados também não podem ser generalizados para prática clínica.

As revisões sistemáticas atuais sobre a abordagem das dores crônicas com predomínio
neuropático mostram resultados inconsistentes para diversas intervenções
fisioterapêuticas, como acupuntura e Tens, assim como para intervenções
comportamentais.76–78

Dores crônicas com predomínio nociplástico

Há evidências de que intervenções como educação em dor, prática de exercício


físico e técnicas de terapia manual auxiliam na melhora da dor nociplástica.

A educação em dor visa modificar as crenças relacionadas à dor, de modo que a


pessoa passe a entendê-la como um mecanismo de proteção e segurança dos tecidos,
por exemplo.79 O objetivo é levar o paciente a entender os mecanismos relacionados
à dor e fazer mudanças comportamentais e cognitivas, com a finalidade de alterar o
processamento da dor.80

Para as dores musculoesqueléticas crônicas, há evidências de que uma estratégia


educativa que aborde a neurofisiologia e a neurobiologia da dor pode ter um efeito
positivo na dor e na incapacidade quando associada ao exercício.80 A educação
individualizada do paciente, com base nos mecanismos de dor, pode modificar crenças
mal-adaptativas, contribuindo para a redução do medo relacionado à atividade e dos
pensamentos negativos.

Para saber mais:


 
No Brasil, o grupo Pesquisa em Dor disponibiliza, em seu site, diversas ferramentas
para a educação em dor, incluindo o Caminho da Recuperação, jogos de tabuleiro,
tilh íd O i é di idid
https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/dor-cronica-no-esporte á d ti d fi i i i 35/52
14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD
cartilhas e vídeos. O site é dividido em áreas destinadas a profissionais e pacientes
e pode ser acessado em www.pesquisaemdor.com.br.
󰍜 󰐍 󰂜 󰘥 EO

A Figura 3 apresenta alguns recursos disponíveis para a educação em dor no site do


grupo de Pesquisa em Dor.
Aa 󰍉
+

Figura 3 — Recursos disponíveis para a educação em dor no site Pesquisa em Dor.


Fonte: Adaptada de Zoe Group (2020).81

A prática de exercício físico tem sido utilizada como um recurso para melhorar a dor e
a incapacidade. As evidências mostram que o exercício aeróbico e o exercício resistido
são eficazes na melhora da incapacidade e da dor de indivíduos com fibromialgia e
osteoartrite do joelho, por exemplo.82–85 Para aqueles com dor lombar crônica
inespecífica, a prescrição de exercício físico deve ser considerada, pois esse recurso
leva a uma redução significativa na dor e na incapacidade quando comparado a
terapias passivas (terapia manual, medicamentos, cirurgia).79,86,87

Pessoas com dor nociplástica podem se beneficiar de um programa de


exercícios. No entanto, geralmente essas pessoas têm medo de realizar certos
movimentos. Uma estratégia útil é a exposição gradual ao exercício, com a
progressão ao longo do tratamento.88

Há evidências de que técnicas de terapia manual, como massagem e manipulação


articular, modulem os mecanismos centrais da dor, podendo ativar as vias inibitórias
https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/dor-cronica-no-esporte 36/52
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articular, modulem os mecanismos centrais da dor, podendo ativar as vias inibitórias
descendentes. Assim, essas técnicas geram a ativação dos mecanismos inibitórios
󰍜
centrais que reduzem a excitabilidade central e
󰐍 󰂜 󰘥
contribuem para a redução da
EO

intensidade da dor.37
Aa 󰍉
A literatura recomenda que as técnicas passivas de terapia manual não sejam
utilizadas de maneira contínua e em longo prazo.69

ATIVIDADES

18. Com relação às intervenções fisioterapêuticas na dor, é correto afirmar que


A) há muitas evidências de benefícios da aplicação da crioterapia em atletas.
B) de acordo com a guideline do COI, a estimulação elétrica e a inibição de
pontos-gatilho miofasciais apresentaram eficácia consistente no alívio da
dor resultante de lesão musculoesquelética.
C) dentre as intervenções psicocomportamentais à disposição do fisioterapeuta,
a fisioterapia psicologicamente informada não é recomendada, pois não há
evidências de sua eficácia em atletas nem em outras populações.
D) o fisioterapeuta deve ter habilidade para compreender e identificar os
mecanismos de dor durante a avaliação, reconhecendo o mecanismo
neurofisiológico predominante em cada pessoa.
Confira aqui a resposta
 
19. Com relação à abordagem fisioterapêutica das dores crônicas com
predomínio nociceptivo, assinale a alternativa correta.
A) A eficácia de técnicas de terapia manual, como manipulação articular, se
deve ao reposicionamento de estruturas articulares ou de tecido mole.
B) A Tens pode ser usada para a analgesia, alterando a atividade simpática e
reduzindo a dor via receptores noradrenérgicos locais e pela liberação de
opioides endógenos.
C) Exercícios de fortalecimento, embora sejam eficazes para o gerenciamento
da dor aguda, não parecem ter o mesmo efeito na dor crônica.
D) Os mecanismos neurobiológicos relacionados aos exercícios de
fortalecimento envolvem a ativação do sistema modulador ascendente pelos
sistemas canabinoides.
Confira aqui a resposta
 
20. Com relação à abordagem fisioterapêutica das dores crônicas com
predomínio nociplástico, assinale a alternativa correta.
A) A intervenção medicamentosa é o único tipo de abordagem capaz de
controlar esse tipo de dor.
B) Em indivíduos com dor lombar crônica inespecífica, as terapias passivas
l d
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14/09/2022 13:50 DOR CRÔNICA NO ESPORTE - SECAD
mostraram resultados muito melhores na redução na dor e na incapacidade
quando comparadas com o exercício aeróbico e o exercício resistido.
󰍜
C) Recomenda-se que técnicas de terapia
󰐍 󰂜 󰘥
manual, como massagem
e
EO

manipulação articular, sejam utilizadas de maneira contínua e em longo


Aa 󰍉 prazo.
D) Técnicas de terapia manual podem ativar as vias inibitórias descendentes,
gerando a ativação dos mecanismos inibitórios centrais que reduzem a
excitabilidade central e contribuem para a redução da intensidade da dor.
Confira aqui a resposta
 

■ CASO CLÍNICO

N., sexo feminino, 29 anos de idade, compareceu ao serviço de fisioterapia com


história de 10 anos de dor recorrente, de origem não traumática, em ambos os
joelhos, com maior intensidade no joelho esquerdo. A paciente relatou que jogou
voleibol por, pelo menos, 15 anos, treinando, em média, de 20 a 30 horas por
semana, até os 20 anos de idade. Há 4 meses, estava jogando tênis e fazendo
corrida de 3 a 4 vezes por semana. N. trabalha com atividades relacionadas a
eventos, como recepção em feiras e congressos, com uma rotina que pode
chegar a 12 horas diárias.

Em uma consulta com o médico ortopedista, após realizar exames de imagem


(radiografia e RM), o profissional recomendou o uso de anti-inflamatórios, o
afastamento das atividades e a realização de tratamento fisioterapêutico. No
momento, N. está sedentária, pois acredita que deva evitar as atividades
esportivas.

Os piores sintomas da paciente ocorrem ao subir escadas, com aumento da dor


após 1 a 2 lances, até uma intensidade de 5/10 na Numeric Rating Scale (NRS; 0
= sem dor, 10 = pior dor imaginável). Nos 7 dias anteriores à consulta com o
fisioterapeuta, N. classificou sua pior dor como 8/10, depois de trabalhar mais de
8 horas.

Os sintomas de N. também são agravados ao ficar sentada por mais de 60


minutos (4/10). Ela sente um pequeno desconforto ao dirigir por mais de 30
minutos. O clima mais frio provoca aumento nos sintomas do joelho, assim como
a rápida mudança na temperatura ambiente (p. ex., ao entrar/sair de ambientes
frios).

Com receio de estar sobrecarregando a articulação, N. está usando um suporte


elástico no joelho, pois percebe uma crepitação audível no joelho esquerdo.
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󰍜 󰐍 󰂜 󰘥 EO

ATIVIDADES

Aa 󰍉
21. Com base na entrevista da paciente do caso clínico, considerando a
cronicidade dos sintomas, qual é a hipótese sobre o tipo de dor mais provável,
de acordo com a classificação neurofisiológica (nociceptiva, neuropática ou
nociplástica)? Explique o processo de raciocínio.
Confira aqui a resposta
 
22. Quais crenças e comportamentos da paciente descrita no caso clínico podem
contribuir para a limitação de suas atividades? Como o fisioterapeuta deve lidar
com essas crenças?
Confira aqui a resposta
 
23. Qual instrumento pode ser aplicado para avaliar o medo do movimento da
paciente descrita no caso clínico?
Confira aqui a resposta
 

■ CONCLUSÃO

A avaliação da dor em atletas deve considerar um modelo baseado em aspectos


multifatoriais e a complexidade da interação entre os seguintes fatores:
 
físicos;
cognitivos;
emocionais;
comportamentais;
sociais;
ambientais.

Sugere-se que o fisioterapeuta esportivo utilize instrumentos de medida, como


questionários, escalas e medidas comportamentais, para a avaliação do atleta, de
acordo com os desfechos mais importantes para o processo de reabilitação. Até o
presente momento, as intervenções fisioterapêuticas carecem de estudos clínicos para
essa população específica. A maior parte dos tratamentos apresenta evidências
provenientes de estudos em outras populações, o que pode dificultar a generalização
e o conhecimento real dos benefícios e do tamanho do efeito dessas intervenções.

■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS

Ati id d 1
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