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A biotina, também conhecida como vitamina H, vitamina B7 ou vitamina B8, é

uma molécula da classe das vitaminas que funciona como cofator enzimático, e em
sua forma livre, é uma substância cristalina incolor, bastante estável ao calor, à luz e
ao ar, entretanto, lábil à radiação ultravioleta e aos agentes álcalis e oxidantes.
A biotina apresenta fórmula empírica C10H16N2O3S e massa molar de
244,31 g/mol. Como consequência da presença de três carbonos assimétricos na
estrutura da biotina, é possível a existência de oito estereoisômeros. Possui uma
combinação de dois anéis cíclicos em sua estrutura: um anel é composto por uma
substância derivada da ureia, o ureído, enquanto o outro, conhecido como anel
tetrahidrotiofeno, possui uma cadeia lateral de ácido valérico ligado a ele e é
composto por um átomo de enxofre.
Participa em reações de carboxilação que afetam a síntese dos ácidos
graxos, a gliconeogênese e o catabolismo de aminoácidos. Tem como principal
função neutralizar o colesterol, logo, está diretamente ligada à obesidade, e,
funciona como grupo prostético de 4 famílias de carboxilases em mamíferos.
A deficiência de biotina não ocorre naturalmente, porque a vitamina está
amplamente distribuída nos alimentos, sendo absorvida, após sofrer ação de
peptidases, e armazenada em diversos locais, principalmente no fígado. Além disso,
uma grande porcentagem de biotina necessária para os humanos é suprida por
bactérias intestinais (uma vez que ela, além de estar presente nos alimentos é
também produzida endogenamente pela flora bacteriana do cólon intestinal). A
síntese da biotina é feita utilizando-se dois precursores a alanina e a pimeloil-CoA
sob ação de três enzimas pelas bactérias residentes no intestino, mas ainda não se
tem estudos estabelecidos sobre as quantidades que esta microbiota é capaz de
produzir.
A entrada dessa vitamina nas células é realizada através de um transportador
de vitaminas múltiplos dependente de sódio (SMVT) que reconhece principalmente
a porção de ácido manobólico da biotina. SMVT é uma proteína transmembrana que
funciona como um simportador de elétrons, introduzindo biotina e ácido pantotênico
junto com o sódio, em favor de um gradiente de concentração. Tal proteína ainda
pode realizar reabsorção renal dessa vitamina, bem como sua absorção hepática e
nos tecidos periféricos. (VILCHES-FLORES, Alonso; FERNANDEZ-MEJIA, Cristina.)
Uma rota alternativa à excreção ou à incorporação às carboxilases
dependentes de biotina seria o catabolismo, separadamente ou em combinação, de
dois componentes da biotina. Na primeira via, a cadeia lateral de ácido valérico
pode ser oxidada na beta oxidação, gerando os compostos bisno-biotina e
tetranorbiotina. Essa via parece ocorrer por meio da ativação metabólica da
conjugação da coenzima A. Na segunda via, o enxofre do anel tetrahidrotiofeno da
biotina sofre oxidação, dando origem aos compostos D‑sulfóxido de biotina,
L‑sulfóxido de biotina e biotina sulfona. A combinação da beta oxidação e da
oxidação do enxofre pode resultar na formação de compostos como a
tetranorbiotina‑1‑sulfóxido. Logo, os catabólitos da biotina são importantes nos
fluidos corporais e nas células, e sua concentração é aproximadamente igual à
concentração de biotina intacta.
Dentre as reações específicas que dependem da biotina está: carboxilação
do piruvato a oxalacetato (gliconeogênese), conversão do malato em piruvato,
interconversão do succinato para propionato, conversão do oxalasuccinato para
α-cetoglutarato.
A biotina é essencial para a atividade de diversas enzimas que catalisam
reações de carboxilação, descarboxilação ou transcarboxilação, atuando como um
cofator transportador do grupo carboxila. As enzimas carboxilases estão presentes
no metabolismo de mamíferos e catalisam a incorporação de bicarbonato (HCO3‑)
em um receptor sob a forma de um grupo carboxila. As carboxilases são
sintetizadas como apocarboxilases, assim, haverá a adição de biotina ocorre a partir
da ligação covalente de seu grupo carboxila com um grupamento épsilon‑amino das
apocarboxilases, originando, assim, a forma ativa, holocarboxilase. A biotinilação
das apocarboxilases ocorre em duas etapas. Inicialmente, o grupo carboxila da
cadeia valérica da biotina é ativado pela adenosina trifosfato (ATP) em uma reação
dependente de magnésio (Mg2+), resultando na formação do composto
intermediário biotinil‑5´‑AMP e na liberação de pirofosfato. Na segunda etapa, a
biotina é transferida do composto biotinil‑5´‑AMP para o grupamento épsilon‑amino
de um resíduo de lisina das apocarboxilases, com a liberação de AMP. As duas
reações são catalisadas pela proteína holocarboxilase sintetase, também conhecida
como proteína ligase de biotina, que está presente tanto no citosol como na
mitocôndria.
A biotina é o cofator da enzima piruvato carboxilase por ser uma molécula
especializada no transporte de dióxido de carbono (CO2). Na reação catalisada pela
piruvato carboxilase, a biotina capta uma molécula de CO2 e transfere-a para uma
molécula de piruvato, formando oxaloacetato, no processo de gliconeogênese. Esta
transferência é possível graças à flexibilidade da porção linear da estrutura da
biotina, que permite o movimento da parte da molécula envolvida no transporte do
CO2. Na lipogênese, a piruvato carboxilase está envolvida na síntese de novo de
ácidos graxos, que ocorre principalmente no fígado e no tecido adiposo. Nos
adipócitos, essa mesma enzima está envolvida na síntese de glicerol, que formará
triacilgliceróis a partir de sua esterificação com ácidos graxos livres.
A biotina livre é necessária para que as carboxilases funcionem
perfeitamente, já que estas são importantes no metabolismo de algumas gorduras,
carboidratos e proteínas. Para que a carboxilases inativa se torne ativa, a biotina
livre deve estar anexada ao aminoácido lisina. Eventualmente as carboxilases são
degradadas, mas a biotina fica anexada na lisina. Este complexo biotina-lisina é
conhecido como biocitina, podendo ser degradada pela biotinidase em biotina livre e
lisina. Deste modo, a biotina é reciclada e pode ser reutilizada pela carboxilases.
Quando a atividade da biotinidase é deficiente, a biotina que está contida nos
alimentos não pode ser utilizada pela carboxilases, assim, as carboxilases são
incapazes de exercer suas funções normais. Sem a atividade adequada da
biotinidase, o organismo precisa de grandes quantidades de biotina livre, mais do
que o consumido em uma dieta normal. Quando não há biotina disponível no
organismo começam a surgir problemas de saúde.
No metabolismo de proteína a biotina é importante na síntese de proteína,
desaminação de aminoácidos, síntese de purina e no metabolismo do ácido
nucléico. A biotina é necessária para a transcarboxilação na degradação de vários
aminoácidos. Ela atua também, juntamente com a acetil-CoA carboxilase, na adição
do CO2 ao acetil-CoA para formar o malonil-CoA, além de ser um substrato
essencial na síntese de ácidos graxos e sistemas de alongamento da cadeia e que
também atua na inibição da oxidação lipídica.
A biotina é intensamente metabolizada no fígado, já que este órgão é a
principal fonte de biotinidase, a enzima que não só é importante no
reaproveitamento da biotina endógena, como também atua na biotina ligada à
proteína. Seus metabólitos principais são a bisnorbiotina e o sulfóxido de biotina que
são considerados inativos. A deficiência dessa vitamina resulta em retardo na
conversão da leucina para acetil-CoA, sendo que a falta de biotina no fígado resulta
na redução da atividade da metilcrotonil-CoA carboxilase, que é necessária para a
degradação da leucina. Essa degradação é importante uma vez que o catabolismo
da leucina fornece energia para as células musculares, estimula a secreção de
insulina pelas células pancreáticas e fornece, ainda, nitrogênio para a produção de
alanina e glutamina, que servirão de substrato para a gliconeogênese hepática.
A enzima do ciclo da ureia, ornitina transcarbamilase, foi significantemente
menor em fígado de ratos deficientes em biotina, segundo pesquisas
(VILCHES-FLORES, Alonso; FERNANDEZ-MEJIA, Cristina.)
A deficiência de biotina afeta a expressão do gene, tanto no nível de
transcrição quanto na tradução, através da reação que ocorre quando há ligação
covalente com as histonas nos núcleos das células. Em pesquisas feitas com ratos
deficientes em biotinas, os mesmos apresentaram curvas de tolerância
significativamente maiores do que os animais de controle, e o teor hepático de
glicogênio e a fosforilação da glicose foram menores em animais deficientes de
biotina. Além disso, estudos subsequentes mostraram que anormalidades no
metabolismo de carboidratos em ratos deficientes de vitaminas foram devido a uma
diminuição na atividade de glicoquinase hepática (VILCHES-FLORES, Alonso;
FERNANDEZ-MEJIA, Cristina.)
A biotina está envolvida em processos biológicos como manutenção dos
níveis de glicose no sangue e na composição de cabelos e unhas e fortemente
ligada à cromatina. Além disso, o consumo de ovos crus pode causar deficiência de
biotina, uma vez que a proteína da clara do ovo (avidina), se liga à biotina,
impedindo sua absorção. Curiosamente, certas deficiências hereditárias isoladas ou
múltiplas das enzimas carboxilases podem também levar à síndrome de deficiência
de biotina aparente. Os sintomas da deficiência de biotina incluem depressão,
alucinações, dor muscular e dermatite. Crianças com múltiplas deficiências das
enzimas descarboxilases também exibem imunodeficiência.

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