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Prof. Marcus Lima
Índice
Apresentação 02
APRESENTAÇÃO
Neste ebook, dividido em 2 partes, apresentamos um compilado de artigos com a
finalidade de demonstrar os princípios e conceitos relacionados ao DNS – Dynamic
Neuromuscular Stabilization, um modo de se pensar a reabilitação e exercício que vem
da República Checa.
Além dos conceitos e premissas nos quais se apoia o DNS, são demonstrados na parte 2
do ebook, muitos testes e exercícios que podem ajudar o profissional que lida com o
movimento na sua prática diária, seja ela clínica ou mais diretamente ligada ao
treinamento físico.
Este ebook apresenta uma distinção clara na linguagem, os 2 primeiros artigos foram
escritos de forma mais direta e simples, oferecendo aos leitores a minha interpretação e
aplicação do DNS.
Boa leitura.
O QUE É O DNS | PARTE 1
MARCUS LIMA
A abordagem foi criada pelo checo Pavel Kolář, descendente de uma longa linhagem de
neurologistas da República Checa que marcaram época na reabilitação do século XX, o
mais proeminente de todos foi Vladimír Janda, e deram início ao que ficou mundialmente
conhecido como “Escola de Reabilitação de Praga”.
Antes de mais nada, vejamos 2 princípios fundamentais sobre os quais se assenta o DNS.
Cinesiologia Desenvolvimental
A sequência de desenvolvimento motor pela qual todos nós passamos, ou
deveríamos passar, nos primeiros e fundamentais meses de vida.
Elaborando um pouco mais, se parte do princípio que, de modo ideal, deveríamos passar
por uma sequência de fases (posturas espontâneas) consideradas, cada uma delas,
marcos do nosso processo de amadurecimento motor.
No DNS, se usam estas posições/posturas para avaliar, tratar e no meu caso, como
professor de educação física, para avaliar e propor exercícios que auxiliem os alunos a
corrigirem problemas que podem estar relacionados às dores e dificuldades que
enfrentam.
Como o diabo está nos detalhes, vejamos com mais calma algumas dessas fases chave.
Imaturidade do sistema nervoso central, reflexos primitivos presentes (movimentos que
não estão sob o comando voluntário, sendo controlados pela medula espinhal e o tronco
cerebral), imaturidade morfológica em virtude da imaturidade do sistema nervoso
central e de não ter sido exposto às cargas da gravidade como a conhecemos.
Movimenta-se em bloco, ainda não existe a dissociação entre o tronco e os membros.
Posições:
→ Coluna cervical reclinada (extensão das vértebras cervicais superiores) e em leve
flexão lateral.
→ Existe cifose na coluna lombar, toda coluna está em uma posição cifótica, devido ao
posicionamento do feto no útero materno (encolhido em forma de bola).
3 meses: Estabilização Sagital
Posições:
→ Dissociação entre o movimento da cabeça e movimento dos olhos. Existe movimento
livre da cabeça, o bebê já é capaz de sustentá-la quando está em base pronada (de
barriga para baixo).
→ Coluna cervical não está mais em uma posição reclinada (extensão dos segmentos
cervicais superiores), existe um equilíbrio entre os flexores profundos do pescoço e os
extensores cervicais (flexores se inserem até T3 e extensores até T6).
→ Desenvolve a coativação entre os músculos abdominais, diafragma, assoalho pélvico e
extensores da coluna. Todos trabalhando de maneira eficiente para fornecer estabilidade
no plano sagital. Essa sinergia é crucial na estabilização do tronco e será vista em mais
detalhes mais adiante.
→ Usa os cotovelos como base de suporte em posição pronada, especificamente os
epicôndilos mediais do úmero (estabelece uma base simétrica de suporte: Os 2
epicôndilos mediais do úmero e a sínfise púbica).
→ Pelve já alcança uma posição neutra e consegue sustentar as pernas fora do solo.
Posições:
→ Inicia movimentos no plano frontal, já é capaz de agarrar objetos lateralmente, ou
seja, objetos posicionados ao lado do corpo.
→ Pelve em posição neutra no plano sagital e oblíqua no plano frontal, inclinação lateral
da pelve, em virtude de estar usando o joelho como base de suporte.
→ Quando o bebê está em base pronada consegue levantar objetos até 30° acima da
superfície. A articulação glenoumeral já flexiona entre 90-120° (em comparação, o
mínimo de flexão na glenoumeral do adulto é de 120°, a flexão até quase 180° é
acompanhada por uma rotação superior da articulação escapulotorácica, Neumann,
2011) e abduz 60° (em comparação com aproximadamente 120° do adulto, Neumann,
2011).
Posições:
→ Suporte quadrangular, sobre as palmas das mãos e os joelhos, mas ainda sem
locomoção para frente.
Oblíquo interno do abdome e grupo adutor do lado direito; Oblíquo externo do abdome e peitorais do
lado esquerdo.
Centramento Articular
O conceito de centramento articular assume que as estruturas estão posicionadas no
lugar certo e deslizam de maneira coordenada.
Se ocorrer dessa forma, ao nos movimentarmos as articulações terão o máximo contato
ósseo possível, ficando muito mais fácil e eficiente dissipar as cargas que sofremos, da
gravidade (todo o tempo, desde o nascimento até à morte) ou de objetos externos, se for
o caso.
Outras palavras usadas para descrever o mesmo conceito seriam "Articulação em
posição Neutra". Essa posição só irá ocorrer quando os músculos que suportam a
articulação trabalham de forma que ela tenha a melhor congruência (deslizamento), isso
possibilita a maior vantagem mecânica através de toda amplitude de movimento, assim,
podemos produzir força muscular em variadas intensidades, dependendo da tarefa.
Ainda, se tudo isso ocorre, o estresse mecânico é menor em estruturas passivas, como:
ligamentos, cartilagem articular, tendões, etc. e, em tese, o risco de lesões por
sobrecarga é reduzido.
Podemos ver pelas duas figuras na página anterior (adaptadas de Ulm et. al, 2016) que
no primeiro exemplo as forças musculares que controlam o movimento articular estão
equilibradas (representadas pelas setas azuis), já no segundo exemplo, há um
desequilíbrio (representado por uma seta maior do que a outra) fazendo com que um
lado "puxe" mais do que o outro, tirando a articulação de seu centramento (ou de sua
posição neutra).
A estabilização articular necessita de uma coordenação muscular perfeita. Isso só é
possível se o SNC funcionar normalmente. Em uma posição centrada, cargas estáticas
são melhor toleradas, dependendo das estruturas anatômicas que estão envolvidas. Os
princípios que controlam a postura determinam a formação de estruturas anatômicas e
são a expressão de programas motores controlados centralmente.
A figura abaixo ilustra como o amadurecimento do sistema nervoso central, o sistema
miofascial e o sistema articular operam em conjunto e de como são interdependentes.
Portanto, o comportamento motor tem uma forte influência sobre o amadurecimento das
estruturas osteoarticulares, ex.: Diferenças no formato da caixa torácica (imagem
acima), ângulos posteriores das costelas (mais voltados para frente no recém-nascido,
para gradualmente se deslocarem para trás), o platô tibial é oblíquo no recém-nascido e
à medida que vai recebendo a carga da gravidade vai se tornando mais horizontal e
assim por diante.
A maturação do sistema nervoso central faz com que se desenvolvam os programas
motores, esses irão comandar os músculos (as sinergias entre eles), que por sua vez irão
comandar as estruturas articulares, ajudando assim a moldá-las, não esquecendo que as
forças a que estamos submetidos (gravidade, atrito) têm um papel dominante no formato
de nosso sistema esquelético.
Imagem radiográfica do platô tibial (indicado pelas setas amarelas) em um bebê de 6 meses (à
esquerda) e de um adulto (à direita).
Cada posição articular depende da coordenação e da função de estabilização dos
músculos e, como já vimos, a coordenação e função são reguladas pelo sistema nervoso
central, a qualidade desta coordenação e função irá influenciar não apenas no local, mas
de maneira global, um exemplo retirado de Sahrmann, 2001 mostra como isso interfere
na função do adulto:
A mudança na ação do esternocleidomastóideo é um exemplo, de flexor da coluna
cervical (quando os flexores profundos fazem seu trabalho) para extensor da coluna
cervical (quando estes flexores intrínsecos não estão funcionando adequadamente), essa
é uma amostra de como mudanças no alinhamento afetam a função muscular.
Conclusão
Portanto, o DNS tem como princípio guia a Cinesiologia Desenvolvimental, ou em outras
palavras, a sequência de posturas espontâneas pelas quais vamos passando ao longo dos
primeiros 13 ou 14 meses de desenvolvimento motor (principalmente). Essa sequência
está sob o controle subcortical, não é consciente e está programada para ocorrer, desde
que seja em condições normais. Essas posturas espontâneas são usadas para avaliar e
tratar, propor exercícios, etc.
Vimos que o conceito de centramento articular nos diz que as articulações devem estar
no seu posicionamento ideal, para que possam se movimentar com o máximo contato
ósseo possível e dessa forma dissipar as cargas que sofremos da maneira mais eficiente,
a fim de proteger as estruturas passivas (tendões, ligamentos, cartilagem articular).
Dentro do conceito do DNS, o centramento articular é dependente da mecânica de
estabilização do tronco e do papel desempenhado pelo diafragma nesse processo.
Referências Bibliográficas
Frank, C., Kobesova, A., Kolář, P. Dynamic Neuromuscular Stabilization & Sports
Rehabilitation. T he International Journal of Sports Physical Therapy, Volume 8, Number
1, 2013.
Kobesova, A., Dzvonik, J., Kolář, P., Sardina, A., Andel, R. Effects of shoulder girdle
dynamic stabilization exercise on hand muscle strength. Isokinetics and Exercise
Science 23, 2015.
Liebenson, C. Functional Training Handbook. Wolters Kluwer Health, 2014.