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Sumário

Apresentação 4

Saúde do Idoso: Caso Senhor Nicolau 5

Saúde Mental: Caso Maria Andrade 17

Vigilância em Saúde: Caso da Priscila Ferreira 27

Saúde da Criança: Caso do Bebê André 38

Saúde da Mulher: Caso Juliana 52

Saúde do Adulto: Caso Judite 62

Violência contra a mulher: Caso da Antônia 76

Cuidados Paliativos: Caso do Norberto 90

Saúde Pré-Natal: Caso da Letícia 103


Apresentação

Agora que você já conhece o Processo de Enfermagem, suas 5 fases e também algumas das referências e
taxonomias que serão ferramentas ao longo desse processo, convidamos você a realizar, junto à Thelma, o
atendimento de alguns dos casos que chegaram à UBS.

Escolha ao menos dois casos e se desafie! Procure, ao longo da leitura de cada caso, identificar:

• Quando ocorre cada uma das fases do Processo de Enfermagem;

• Como as necessidades do usuário se relacionam aos diagnósticos identificados;

• Como essas necessidades e diagnósticos se tornam metas de enfermagem;

• Como essas metas de enfermagem são traduzidas em intervenções a serem executadas pelos diversos
agentes envolvidos no caso: enfermeiro, equipe multiprofissional, usuário e família.

Lembre-se: os casos são um complemento importante da sua jornada de aprendizagem e irão te ajudar
a compreender melhor o Processo de Enfermagem, bem como seu fluxo ao longo do atendimento
desses que são os tipos mais comuns no APS. Assim, quanto mais casos você acompanhar, melhor!

Vamos lá?
Saúde do Idoso: Caso Senhor Nicolau

Saúde do Idoso: Caso Senhor


Nicolau
Após conversar durante algum tempo com o casal e de realizar o exame físico no usuário, cujos resultados
Thelma havia anotado em um caderno, ela e Helena se retiraram do quarto e deixaram Seu Nicolau descansar
– afinal, os últimos dias haviam sido bastante difíceis para ele.

Elas se encaminharam para a cozinha da casa, que era pequena, mas muito charmosa, com cortinas e panos
de prato bordados – que Thelma imaginou que tivessem saído das mãos da própria dona Helena, pois ela havia
visto alguns novelos de linha e outros materiais de bordado na sala da casa.

Enquanto Helena, gentilmente, passava um café, Thelma sentou-se na mesa da cozinha para completar as
anotações a respeito da visita. Essas anotações seriam passadas, mais tarde, para o prontuário do usuário e
por isso eram muito importantes.

Situação: Segundo a contrarreferência, o usuário teve um diagnóstico rápido do agravo, realizou trombólise
dentro da janela de tempo e está com sequelas leves.

Identificação do usuário: Nicolau Santos, 75 anos de idade (10 de janeiro de 1946), aposentado do trabalho
em indústria metalúrgica, católico, pardo. É casado há 50 anos com Helena Santos, de 70 anos, do lar.

Renda mensal do casal: 3.000 reais. Não possuem plano de saúde privado. Casa própria de alvenaria, com
05 cômodos, arejada, limpa com presença de tapetes.

O casal tem dois filhos, S. (41) e L. (38). L. casou-se e mora no Mato Grosso, é engenheiro agrônomo. S. é
professora, casada e tem dois filhos.
História de vida: Sr. Nicolau nasceu de parto normal em Marília-SP, brincou muito com os vizinhos de perto
de sua casa. Veio para São Paulo ainda criança. Ficou doente na infância com caxumba, nunca fez cirurgias.
Foi tabagista e parou há 10 anos, nega consumo de bebidas alcóolicas. Tem Hipertensão Arterial Sistêmica
há 05 anos, desde o falecimento de sua mãe e Diabetes Mellitus. Antes da internação fazia uso contínuo das
seguintes medicações: Losartana 50 mg (1- 0 - 1) e Glifage 500 mcg (0 - 2 - 2), mas refere que, como estava se
sentido bem, tinha dias que não tomava os medicamentos. Em relação ao estado vacinal, neste ano tomou
duas doses de vacina da CoronaVac em março de 2021 e vacina para H1N1 em maio de 2021. Relata estar com
medo de tomar a terceira dose de reforço. Sr. Nicolau refere gostar de assistir vídeos pelo celular.

Estado mental: Consciente, orientado em tempo e espaço, calmo, com memória recente e remota preservadas,
com postura e vestuário adequado para o local, pensamento lógico, afeto coerente com o humor, apresentando
dificuldade na linguagem, leve dispraxia e leve disfagia, apresentando engasgos com alimentos sólidos.
Acuidade visual e auditiva sem alterações. Sono alterado, tem ficado acordado durante a noite e dormindo
durante o dia. Tem permanecido deitado em decúbito dorsal a maior parte do dia, deambula com auxílio da
esposa, com prejuízo de movimento e hemiparesia da paralisia do lado direito do corpo.

Sinais vitais: PA= 120/90 mmhg, P=FC=80 bpm, FR= 20 irpm T: 36,2 graus C.

Estado Nutricional: Dados antropométricos: dados aferidos/referidos de peso: 88 kg e altura: 1,72 m. IMC:
25,58- cintura abdominal: 115 cm.

Exame físico geral: Mucosas oculares e oral hidratadas. Mucosa oral íntegra, corada e com higienização
satisfatória com uso de prótese dentária, lábios sem lesões. Região cervical com pele íntegra, linfonodos
normopalpáveis. Pele: hidratada, íntegra e sem lesões. Tela subcutânea com bom turgor. Sistema Respiratório:
Tórax simétrico com expansibilidade normal, Som claro pulmonar, presença de Frêmito, Murmúrios Vesiculares
Distribuídos Uniformemente Presentes. Sistema Cardiovascular: ictus palpável, 2 Bulhas Rítmicas Normofonéticas,
sem sopro. Pulsos periféricos palpáveis com enchimento e amplitude sem alterações. Abdome arredondado,
com ruídos hidroaéreos presentes, indolor a palpação superficial e profunda.

Membros superiores com pouca força e mobilidade do MSE. Membros inferiores sem presença de edemas e
feridas, com pouca força e mobilidade do MIE.

Eliminações vesicais e intestinais presentes, usuário tem ido ao banheiro com auxílio da esposa.

Antes de a gente acompanhar o raciocínio clínico da Thelma, que tal você mesmo pensar quais poderiam
ser algumas das necessidades do usuário? Anote e depois compare com as observações da Thelma!

Com o prontuário completo em mãos e conhecendo muito melhor o usuário e sua situação, Thelma usou seu
raciocínio clínico e consultou a taxonomia CIPESC pelo celular para traduzir as necessidades identificadas para
o caso do senhor Nicolau em Diagnósticos de Enfermagem (DE).
Saiba mais sobre a CIPESC nestes dois links:
Integralidade do Cuidado em Saúde I:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4188228/mod_resource/content/1/CIPESC.pdf

Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva:


https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/files/ssaude/pdf/cipesc.pdf

Após servir o café para Thelma, e percebendo que ela estava bastante focada no trabalho, dona Helena pediu
licença para regar seu canteiro.

Thelma se sentiu feliz ao ver que dona Helena parecia estar saudável e ter uma rotina ativa entre os bordados
e o carinho com seu canteiro. Afinal, ela seria uma parte chave nos cuidados do marido já que o filho morava
no Mato Grosso e a filha do outro lado da cidade.

Ainda consultando a CIPESC, e a partir dos diagnósticos identificados, Thelma estabeleceu metas para o
usuário e, em seguida, determinou intervenções que visavam alcançar tais metas.
A partir das metas identificadas, Thelma estabeleceu as intervenções adequadas. Muitas dessas intervenções
cabiam a ela mesma, outras cabiam à família do usuário – principalmente à Dona Helena – e outras, ainda, ao
próprio usuário.

Conheça, abaixo, a lista de intervenções necessárias para o caso. Note que algumas estão faltando.
Você seria capaz de identificar a quem compete cada uma das intervenções que faltam nessas listas?

O caso do Sr. Nicolau foi elaborado por Juliana Ribeiro da Silva Vernasque.

Pronto! Com isso, Thelma tinha toda a informação que precisava para falar com o usuário e passar a
prescrição. Veja abaixo!
Saúde Mental: Caso Maria Andrade

Saúde Mental: Caso Maria


Andrade

Você vai conhecer agora o caso de Maria, atendida por Thelma na UBS.

Ao longo do caso, note como Thelma transita entre as fases do Processo de Enfermagem e, na sequência, escute
um podcast onde as especialistas e desenvolvedoras do caso Profa. Dra. Leticia Yamawaka de Almeida e a
Enfermeira mestrando Ana Alice Freire de Sousa comentam seus pontos principais.

Você conhece a Teoria do Relacionamento Interpessoal proposta por Hildegard


Peplau?

Sob a perspectiva proposta nessa teoria, a enfermagem pode ser percebida como
um processo interpessoal, que envolve a interação entre duas (ou mais) pessoas que
compartilham metas em comum. Essas metas são o que proporcionarão o estímulo para
o desenvolvimento do processo terapêutico e, de modo geral, podem ser alcançadas
a partir do desenvolvimento de quatro fases, no qual o enfermeiro pode exercer
diferentes papéis.

Essas fases são organizadas em:

- Orientação (fase de definição do problema);

- Identificação (seleção da assistência profissional apropriada);

- Exploração (uso da assistência profissional para as alternativas de solução dos


problemas);
- Resolução (término do relacionamento interpessoal).

Destaca-se que, no estabelecimento da relação enfermeiro-paciente, estas fases


podem se sobrepor, se inter-relacionar, além de não possuir um período de tempo
delimitado. Além disso, vale mencionar que, neste processo, tanto o paciente quanto
o enfermeiro atravessam experiências de crescimento como resultado dessa interação
terapêutica (1-2).

O Quadro abaixo, extraído do livro “Teorias de Enfermagem: os fundamentos para a


prática profissional” (2), apresenta uma comparação entre o processo de enfermagem
e as fases propostas na Teoria do Relacionamento Interpessoal.
Identificação do paciente: Maria Andrade, 46 anos de idade (25 de julho de 1975), dona de casa, católica,
negra. É casada há 20 anos com C. de 51 anos. Atualmente a renda é composta pelo bolsa família, pois o
marido encontra-se desempregado há nove meses. Recebe 70 reais. Não possuem plano de saúde privado.
Casa cedida pela sogra, com 03 cômodos, arejada e limpa. Encontra-se no quintal da sogra.

O casal tem dois filhos, S. (20) e L. (15). S. mora no Rio de Janeiro e é pedreiro. Foi trabalhar com um tio que é
mestre de obras em uma construção. M. refere ter um vínculo forte com o filho. L. ainda mora com eles, cursa
o ensino médio, mas a adolescente não quer ir para a escola e, por isso, a senhora M. A. sente-se culpada. O
marido começou a fazer uso abusivo de álcool após a demissão no emprego. Trabalhava como motorista em
uma empresa de ônibus e após pegar COVID e ficar afastado, foi demitido.

Hábitos de vida: M. nega consumo de bebidas alcóolicas. Refere ter dor na lombar há anos, mas que nunca
tratou. Neste ano, tomou duas doses de vacina da CoronaVac e está aguardando o período para a terceira dose.
Relata gostar de atividades artesanais e costumava participar do grupo de artesanato da UBS, mas que não
tem sentido vontade de ir. Refere estar muito cansada, desanimada, sem saber como resolver os problemas
de casa e que queria ter o filho por perto. Relatou também que deixou de ir à igreja com a sogra. Diz que tem
uma boa amizade com a sogra e que ambas estão preocupadas com o uso do álcool do marido, mas ela refere
não saber o que fazer.

Estado mental: Consciente, orientado em tempo e espaço, nervosa, com memória recente e remota prejudicada,
apresenta-se cabisbaixa, não mantém contato visual mesmo quando solicitada, entonação da voz baixa com
postura e vestuário adequado para o local, pensamento lógico, afeto coerente com o humor. Sono alterado,
tem ficado acordada durante a noite e refere sonolência durante o dia.

Sinais vitais: PA= 110/70 mmhg, P=FC=68 bpm, FR= 20 irpm T: 36,0 graus C.

Estado Nutricional: Dados antropométricos: dados aferidos/referidos de peso: 46 kg e altura 1,62 m. IMC:
17,5 (abaixo do recomendado). Refere não sentir fome e perda de seis quilos nos últimos meses.

Exame físico geral: Sem alterações ao exame físico.

Agora que conhece melhor a história e a situação da usuária e tem em mãos um prontuário completo, Thelma
pode utilizar a taxonomia NANDA (NANDA-I 2021-2023) para nomear suas necessidades em diagnósticos de
enfermagem.

Veja abaixo a tabela que relaciona necessidades, diagnósticos e metas para o caso:
Veja como Thelma implementou o planejamento do cuidado, incluindo a entrega da sua prescrição de
cuidado para a usuária.

Estabeleço comunicação terapêutica com a usuária, para formação de vínculo e estimulo que ela expresse
seus sentimentos;

• Ofereço suporte emocional;


• Realizo feedback sobre a situação que foi relatada e começo a estabelecer com ela definições de problema;
• Oriento técnicas de relaxamento e meditação;
• Explico a importância das PICs e como isso pode auxiliá-la. Ofereço a grade de horário das atividades de
PICs na unidade;
• Construo genograma e ecomapa para melhor compreensão da dinâmica familiar e da rede de apoio;
• Encorajo a usuária a conversar com os familiares;
• Oriento sobre estratégias de comunicação para utilizar na conversa com filha e marido;
• Oriento sobre a importância e como realizar o diário alimentar;
• Oriento sobre bons hábitos alimentares, a partir da realidade da usuária;
• Pactuo com a usuária metas para a ingestão alimentar durante as refeições e sobre o ganho de peso (1 kg
até a próxima consulta);
• Estimulo ações de autocuidado em sua rotina, pactuo retomada de práticas que ela gostava de fazer;
• Oriento sobre estratégias de higiene do sono;
• Compartilho com equipe multiprofissional os achados da consulta para apoio dos outros profissionais;
• Entrego prescrição de enfermagem.
Trinta dias após a consulta inicial, Maria retorna a USF e, mais uma vez, é atendida por Thelma.

Conforme combinado, a usuária entrega por escrito seu diário alimentar. E, ao realizar as medidas antropométricas,
Thelma verifica que ela ganhou 500 g no último mês, mostrando que a intervenção proposta trouxe resultados
positivos.
A usuária entregou também uma lista de seus principais problemas e quais estratégias poderiam usar para
enfrentá-los, conforme tinha combinado com Thelma. Maria diz que colocar seus problemas no papel foi muito
bom para ela, pois o exercício trouxe maior clareza sobre os próprios pensamentos e dificuldades.

Thelma perguntou a respeito das conversas com o marido e com a filha, e Maria lhe contou que ainda não
conseguiu avançar nesse aspecto, pois não se sentiu segura para abordar sua filha. Relata que conversou
pontualmente com o marido e que, embora ele assuma que seu consumo de álcool aumentou nos últimos
tempos, ele não percebe nenhum problema em seu comportamento.

Diz, também, que conseguiu ir à igreja – mas que só foi por insistência da sogra – e que ainda não retomou as
atividades no grupo de artesanato.

Ao ser questionada sobre seu sono e a aplicação das técnicas de meditação, contou que ainda não consegue
dormir, pois continua remoendo os problemas.

Feliz pelos resultados atingidos, mas sabendo que ainda há um caminho a ser percorrido, Thelma e Maria
buscam os próximos passos. Elas combinam que, na próxima consulta, Maria irá convidar o marido para
acompanhá-la e que ela continue aplicando as técnicas de meditação e de diário alimentar.

Ouça agora os comentários das desenvolvedoras do caso Profa. Dra. Leticia Yamawaka de Almeida e a Enfermeira
mestrando Ana Alice Freire de Sousa.
Vigilância em Saúde: Caso da Priscila
Ferreira

Vigilância em Saúde: Caso da


Priscila Ferreira

Conheça o Caso de Priscila e entenda como Thelma lidou com sua situação de saúde da usuária e também da
comunidade local como um todo.

Durante mais uma manhã de trabalho na UBS, Thelma foi chamada para uma consulta de enfermagem.

A usuária em questão era Priscila Ferreira – que era o nome social da mulher trans, cujo nome de batismo era
Paulo Ferreira. Ela havia sido recebida e tido seus sinais vitais aferidos pelo auxiliar de enfermagem que, então,
informou Thelma de que a febre da usuária estava alta: 38°C.

Após receber as informações do auxiliar de enfermagem, Thelma se encaminhou para a sala onde estava a
usuária para realizar a consulta.
Situação: Paciente nega antecedentes pessoais como doenças crônicas (asma, DM, HAS, coagulopatias ou
outras) ou uso de medicações contínuas. Nega dor abdominal, vômitos persistentes, hipotensão postural e/ou
lipotimia, sonolência e/ou irritabilidade ou diminuição da diurese. Nega história de dengue anterior. Apresenta
cartão de vacinação atualizado de acordo com o calendário de vacinação do adulto do Ministério da Saúde.
Nega viagem nos últimos 15 dias.
Glasgow 15, sem sinais de irritação meníngea, reflexos tendíneos preservados. Apresenta discreta palidez
cutânea 1+/ 4+, mucosas úmidas, ausência de exantema, petéquias ou equimoses, preenchimento capilar
<2 segundos, pulso cheio e rítmico, sem edema. Apresenta fácies de dor e refere intensidade 07 (0 a 10) da
mialgia; pulmões com MV+ sem RA; coração com BRNF sem sopros; abdome plano, flácido, RHA+, indolor à
palpação, sem sinais de ascite.

Referiu uso de ibuprofeno para amenizar a dor no corpo.

Referiu outro caso na vizinhança.

Identificação do usuário: Priscila Ferreira, 32 anos, chega na UBS com febre de 38°C, dores no corpo, prostração
e dor retro orbicular, referindo sintomas há 04 dias. Foi acolhida pelo auxiliar de enfermagem, que aferiu seus
sinais vitais, sendo a PA em duas posições e realizou a prova do laço.

Sinais vitais: PA: 110x70 mmHg ; P: 90 bpm; R: 17 rpm, saturação: 96%; prova do laço negativa; peso 60 kg
Saiba mais sobre a prova do laço e conheça outros exames físicos específicos para
casos de suspeita de dengue!

Fonte: Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo. Centro de Vigilância Epidemiológica Alexandre Vranjac. Dengue:
treinamento rápido em serviços de saúde (Enfermagem). 2015
Exames físicos específicos:

- Aparelho cardiopulmonar: pesquisar sinais clínicos de desconforto respiratório


(taquipneia, dispneia, tiragens subcostais, intercostais, supraclaviculares, de fúrcula
esternal, batimentos de asa de nariz, gemidos, estridor e sibilos); sinais de derrame
cavitários (pleural e pericárdico); estertores crepitantes; frequência respiratória (deve
ser de 12 a 20 rpm em adultos);

- Pesquisar sinais de ICC (taquicardia, dispneia, ortopneia, turgência jugular,


estertoração e hepatomegalia e edema de membros inferiores); derrame pericárdico;
sinais de tamponamento cardíaco (abafamento de bulhas, turgência jugular e síndrome
de baixo débito cardíaco);

- Abdômen: pesquisar presença de dor abdominal, hepatomegalia dolorosa e sinais


de ascite;

- Sistema nervoso: verificar sinais de irritação meníngea, nível de consciência,


sensibilidade, força muscular e reflexos osteotendíneos.

Classificar paciente quanto o risco de acordo com a Figura 2.

Enquanto Priscila passava pela consulta médica, Thelma continuou seus atendimentos da manhã e, não por
mera coincidência, atendeu mais um usuário com suspeita de dengue.

Fim de ano era difícil, pensou. Muito calor e chuva resultavam em muitos mosquitos. Ela imaginou quais novas
iniciativas de conscientização e cuidado a equipe multiprofissional da UBS poderia conduzir para dar apoio
àquela população e mitigar os casos de dengue da temporada.

Após alguns minutos, Thelma foi informada de que a usuária já havia saído da consulta médica. A suspeita de
dengue havia sido mantida e fora solicitada, pelo médico, a realização do teste rápido de dengue.

Thelma realizou o teste na usuária que apresentou resultado positivo. Com esse resultado em mãos, e frente a
todos os dados que haviam sido coletados, Thelma classificou Priscila como grupo A de riscos* e prosseguiu o
atendimento identificando as metas de cuidado que visavam atender cada uma das necessidades identificadas
no caso.
Conheça as classificações de risco para casos de suspeita de dengue!

Fonte: Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Dengue: diagnóstico e manejo clínico (adulto e criança),
2013.
Thelma já conhecia Priscila. Ela e sua mãe, Dona Lúcia, eram usuárias da UBS já há algum tempo. Aproveitando
a visita de Priscila, Thelma olhou o prontuário da usuária com atenção, buscando informações sobre o status
de seu acompanhamento pela equipe da UBS. Thelma entendia que Priscila fazia parte de um grupo social
de alta vulnerabilidade devido aos preconceitos que circundam sua condição de gênero e sexualidade, como
violência, preconceito, inserção precária no mercado de trabalho, entre outras coisas.

Ela ficou satisfeita em perceber que toda a equipe mantinha acompanhamento adequado à Priscila, mas
conhecendo os riscos e alta vulnerabilidade que pessoas trans estão expostas na sociedade brasileira, Thelma
reconhece que deve fortalecer seus vínculos com Priscila para melhor reconhecimento de suas necessidades
e ofertas de cuidado ampliados.

Thelma pode, a partir dos diagnósticos de enfermagem, desenvolver a prescrição de enfermagem e compartilhar
com a usuária as metas do cuidado e a sua prescrição.
Além da prescrição entregue para a usuária, Thelma criou uma prescrição voltada à equipe multidisciplinar
da UBS. Essa prescrição ficou registrada no prontuário para que ficasse acessível e junto do restante das
informações da usuária.

Quanto às ações de vigilância e coletivas, temos que:

• Realizar a notificação no sistema de vigilância epidemiológica;


• Orientar ao ACS a visita ao local de moradia da paciente para checagem de possíveis pontos de acúmulo
de água;
• Eliminar focos de mosquito durante a visita, se possível;
• Trabalhar em conjunto com as equipes da vigilância sanitária/zoonoses para eliminação de focos múltiplos
e/ou de difícil acesso;
• Avaliação das casas na microárea de abrangência, identificando locais de água parada e/ou focos de mosquito;
• Questionar pessoas da vizinhança da paciente, buscando possíveis sintomáticos;
• Orientar a comunidade sobre eliminação de água parada, prevenção da dengue, identificação de possíveis
sintomas e busca do serviço de saúde;
• Promover ações educativas sobre a dengue.

Quanto ao seguimento do cuidado de Priscila:

• Oferecer cartão da dengue para anotação da avaliação diária;


• Agendar retorno após alta do episódio com a equipe, para continuidade do cuidado e avaliação de possíveis
situações de vulnerabilidade.
Agora você pode ouvir o podcast onde a especialista e desenvolvedora do caso, Enfermeira Jessica Domingues,
comenta os principais pontos de atenção que você deve ter ao acompanhar um Processo de Enfermagem
como esse.
Saúde da Criança: Caso do Bebê André

Saúde da Criança: Caso do Bebê


André

Conheça, a seguir, o caso do bebê André e de sua família. Veja as soluções e recursos utilizados
por Thelma frente a esse caso de saúde da criança.
Situação: Agente Comunitária de Saúde (ACS) em visita domiciliar observou que a criança AML (1 ano e 4
meses) passava muito tempo no “chiqueirinho “de frente para a TV, sem brinquedos disponíveis e ainda não
tinha começado a andar; estava com vacinas atrasadas. Era cuidada pela avó, a principal responsável pelo
maior tempo do cuidado, refere que AML tem dificuldade de alimentação. Mãe de AML trabalha como diarista
e o único dia de descanso são aos domingos, perdeu recentemente o marido, pai de AML, para COVID-19. ACS
leva para discussão na equipe e família é convocada para consulta. Criança não frequenta a escola.

Em consulta de puericultura com enfermeira, AML veio acompanhada da mãe que apresentou como queixa
preocupação pela criança não estar caminhando, seletividade alimentar, não aceitando alimento de sal,
optando sempre pela mamadeira com leite e engrossante de milho de o que a leva a oferecer como uma
forma suplementar. A avó oferece pão, queijo, bala, bolacha e iogurte. Dorme tarde por volta das 11 da noite,
pois acompanha a rotina da mãe. Mãe e AML dividem a mesma cama.

Urina sem alteração, apresentando caso de obstipação. Na consulta, a mãe estava com expressão de tristeza
e pouco interagia com a criança, diz sentir muita saudade do marido e que está muito difícil assumir a
responsabilidade da casa.

Vacinas de 1 ano e três meses em atraso. Cansada e irritabilidade presente.

Desenvolvimento neuro psicomotor (DNPM): Não interage muito durante a consulta; não se interessa
pelos objetos no ambiente; deambula apenas com apoio ou andador.

Peso: Acima do esperado

Altura: adequada para idade.


Faça download da Caderneta da Criança disponibilizada pelo Ministério da Saúde:

Menina - https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menina_2ed.pdf

Menino - https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menino_2ed.pdf
Notas: Corada, hidratada, afebril; MV presentes; BCRNF 2T sem sopro; abdômen globoso; RHA presente;
MMSS e MMII sem alteração; genital íntegra.

Após conhecer a família e conversar um pouco mais com Carolina, Thelma se pergunta quais são
as necessidades daquela criança e quais são, dentre os dados coletados através da entrevista e do
exame físico, aqueles que necessitam do cuidado de enfermagem.

Fazendo uso da teoria de Enfermagem de Wanda Aguiar Horta, Thelma monta um quadro no prontuário
da usuária para ajudá-la a organizar seu raciocínio clínico e identificar as necessidades de André e
de sua mãe.
Obs.: Neste primeiro encontro, Thelma não conseguiu identificar necessidades Psicoespirituais de André.

Através dessas necessidades identificadas, Thelma utiliza a taxonomia NANDA para nomear diagnósticos de
enfermagem estabelecendo metas de cuidado para André e para a família. Vamos ajudar Thelma com isso?
Um mês se passou desde a primeira consulta de André. Ele e sua mãe, Carolina, retornaram para avaliação
dos cuidados.

Carolina contou que estava conseguindo passar mais tempo com André conversando e brincando com ele,
sem a presença de celular ou TV. Apesar de se sentir cansada ao chegar em casa, desde a primeira consulta
ela entendia melhor o quão importante essas interações eram para o desenvolvimento de seu filho e, por isso,
estava fazendo delas sua prioridade.

Ela também contou para Thelma que, quanto ao sono de André, algumas questões ainda não tinham sido
resolvidas. André continuava dormindo com a mãe pois não tinha sido possível arrumar uma cama para a
criança, já que móveis eram caros e o orçamento da família era apertado.

Thelma se lembrou de uma igreja no bairro ao lado que realizava um bazar de móveis e roupas usados todo
mês. Ela recomendou que Carolina visitasse o lugar e torceu para que pudesse encontrar uma boa cama para
André!

Além disso, Thelma indagou a respeito do calendário vacinal da criança e descobriu, com satisfação, que o
mesmo havia sido atualizado.

Carolina ainda trouxe outras boas novas! Contou que André havia dado seus primeiros passos sem andador
logo após começar a frequentar a creche.

Uma das angústias apresentadas na lista de problemas que Carolina desenvolveu, conforme orientada por
Thelma, era a alimentação de André. Infelizmente, a questão financeira também estava sendo um desafio
nessa área, já que frutas e legumes eram caros e, assim, a mãe mantinha a mamadeira com engrossante milho.

Juntas, Thelma, Carolina e a equipe da UBS continuaram o plano de cuidados de enfermagem, reavaliando
os diagnósticos e prescrições de enfermagem a partir deste novo encontro.

Agora que você conheceu o caso, ouça as especialistas e desenvolvedoras do caso, a Enfermeira Mestre e
Doutoranda Talita Rewa e a Enfermeira Mestre Cecilia Felipe Abreu da Silva apontando os pontos mais
importantes do mesmo.
Saúde da Mulher: Caso Juliana

Saúde da Mulher: Caso Juliana

Juliana acabou de ter um bebê. Veja como Thelma vai ajudá-la a passar por esse momento de
forma saudável e segura.
Situação: Juliana, 25 anos, recebe em sua casa a enfermeira da UBS de referência para a consulta domiciliar
de puerpério, está no 7º dia pós-parto. Gestação e parto vaginal sem intercorrências. Atualmente Juliana mora
com seu noivo há 1 ano, a gestação não foi planejada, pois programava engravidar somente após finalizar a
graduação. Refere que está com dificuldade para amamentar, o bebê chora muito, as mamadas tem como
média de intervalo menos de 2 horas. Está se sentindo muito angustiada por não conseguir alimentar seu
filho, pois gostaria muito de manter o aleitamento materno exclusivo. Se sente muito cansada e não está
conseguindo se alimentar corretamente. Após o retorno de seu companheiro ao trabalho tem como suporte
a sua mãe, que mora próximo a sua casa.

Dados do parto: Parto vaginal, IG: 39 semanas e 5 dias, com laceração grau II com sutura e sem intercorrências.
Teste rápido para HIV e Sífilis não reagente.

RN - Sexo: Feminino / peso: 3,200kg / estatura: 48 cm / Apgar: 8 e 9 em aleitamento materno exclusivo.

Exame físico: Hidratada, corada e aparência de cansada. Mamas ingurgitadas e escoriação em mamilo D.
PA: 120X80 mmHg / Temperatura: 36,8ºC / pulso: 65 bpm / FR: 14 mpm. Ausculta pulmonar: murmúrios
vesiculares presentes, sem ruídos adventícios / Ausculta cardíaca: bulhas cardíacas rítmicas, normofonéticas
em dois tempos e sem sopros. Altura uterina: entre a cicatriz umbilical e sínfise púbica. Lóquios escuros, sem
odor fétido. Membros inferiores sem edema.

Observação de mamada: Mãe parece ansiosa e desconfortável e refere mamas doloridas. RN não está bem
apoiado, sugando apenas o mamilo com sucções rápidas e superficiais

Veja abaixo as prescrições de enfermagem estabelecidas por Thelma que são voltadas para sua própria
atuação:
Thelma explicou para a usuária a forma correta de realizar a pega do recém-nascido
durante a amamentação e também como realizar a ordenha manual para alívio das
mamas. Você quer conhecer mais sobre esse assunto?
Ordenha:
https://unasus2.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/15338/mod_resource/content/3/
un05/top02p01.html

Avaliação da pega:
https://unasus2.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/15338/mod_resource/content/3/
un05/top01p03.html
Após uma semana, Thelma retorna à casa de Juliana para fazer a avaliação do caso. Nesse dia, ela conhece
Paulo, o pai de Renata, e no momento da evolução avalia o quanto a implementação das prescrições de
enfermagem atendeu as necessidades identificadas desde sua última visita!
Gostou de conhecer mais sobre o puerpério e a saúde da mulher? Ouça o podcast a seguir no qual a Enfermeira
Verônica Elisabete Nascimento, Especialista em Saúde Coletiva e Atenção Primária a Saúde pelo Programa
de Residência Multiprofissional do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, fala um pouco mais sobre o caso.
Saúde do Adulto: Caso Judite

Saúde do Adulto: Caso Judite

O caso que você vai ver a seguir, fala da senhora Judite e foi adaptado do material Processo de Enfermagem
na APS, desenvolvido pelo grupo de trabalho Processo de Enfermagem da Secretaria Municipal de Saúde
de São Paulo. Leia e reflita sobre o caso!

Era um raro dia calmo na UBS. Thelma estava aproveitando o silêncio momentâneo para estudar um pouco.
Estava tão atenta a seu livro, que tomou um susto quando a auxiliar de enfermagem a chamou para dizer que
havia uma usuária aguardando ser atendida. Thelma guardou seu livro na mochila e foi recebê-la.

A usuária se chamava Judite e estava acompanhada da filha, Caroline. Ela já era usuária antiga da UBS e seu
prontuário apontava que, já há 8 anos, tinha sido diagnosticada com Hipertensão Arterial Sistêmica.

Judite tinha ido à UBS para uma consulta de rotina. Apesar da usuária ter declarado que tudo estava bem, ao
realizar os exames físicos, Thelma observou que a pressão de Judite estava alta.
Thelma continuou a conversar com a usuária e a coletar outras informações importantes para compreender,
de fato, as necessidades de Judite, a partir do “óculos” da teorista de enfermagem Wanda Aguiar Horta. Veja,
a seguir, como ficou o prontuário do atendimento, preenchido após a coleta de dados.
Situação: Judite dos Santos, 50 anos, dona de casa, chega na UBS acompanhada de sua filha, Caroline, de 32
anos. Diagnosticada com HAS há 10 anos, utiliza Enalapril 20 mg/2x dia dia e Hidroclorotiazida 25 mg/dia. Não
tem outras doenças, é tabagista há 2 anos e não consome bebidas alcoólicas. Refere que o pai também tinha
HAS, mas faleceu aos 82 anos por outro motivo. Assim, ela acredita que, mesmo que a pressão fique alta de
vez em quando, nada ocorrerá, pois ela toma os medicamentos corretamente e faz caminhada uma vez por
semana, assim como seu pai. Tem ensino médio incompleto, é casada, tem três filhos e mora em casa própria
com o marido, a filha Caroline e o genro. Tem rede de esgoto, energia elétrica e água encanada.

Refere tomar todos os medicamentos no horário certo desde que a filha veio morar com ela há um ano e
consegue os medicamentos na UBS. Realiza caminhadas com a filha, 1 vez por semana. Refere se alimentar
com frutas (laranja diariamente), legumes (somente tomate e alface) e carnes , mas não gosta de feijão. Em
relação ao sal, diz que não deixa saleiro na mesa, mas gosta muito de usar vários temperos industrializados
para cozinhar, pois todos elogiam sua comida, sua mãe sempre cozinhou com Sazon, e o marido passou a
"tomar mais gosto pela comida" quando ela passou a utilizar esses temperos em todas as refeições, pois a
família não gosta de comida sem gosto. Refere não se sentir capaz de cozinhar com outros temperos.

Não tem dificuldade em comparecer às consultas. Relata que gosta de se cuidar para poder frequentar a igreja
e ver os amigos. Não apresenta estratificação de risco para doenças crônicas não transmissíveis registrada
em prontuário.

Ao exame físico, verifica-se: peso: 80 Kg , altura: 1,62 m, IMC: 30,5 Kg/m2, pressão Arterial: 152x88mmhg ,
pulso: 78 bpm, FR: 14 rpm, T: 36,5, circunferência abdominal: 102 cm. Utiliza óculos para miopia. Ausência
de lesões em mucosa oral, dentição incompleta, em uso de prótese bem ajustada. Ausculta pulmonar: sons
respiratórios. Ausculta cardíaca: bulhas rítmicas, normofonéticas, em dois tempos, sem sopros. Abdômen
plano, normotenso, RHA normoativos. Medida da circunferência abdominal: 87cm. Pele íntegra em membros
inferiores e superiores. Extremidades aquecidas, sem edemas. Carteira de vacinação atualizada.
Vacinas de 1 ano e três meses em atraso. Cansada e irritabilidade presente.

Exames Laboratoriais:
Dia 19/10/2020:
Creatinina: 1,0 mg/dL
Sódio: 135 mEq/L
Potássio: 4,1mEq/lL
Colesterol total: 210 mg/dL
HDL: 50 mg/dL
LDL: 120 mg/dL
Triglicerídeos: 160 mg/dL
URINA 1: sem alterações
Glicemia: 98 mg/dL
ECG: Hipertrofia ventricular
ITB: Obstrução leve

Introdução
Depois da coleta de dados e da identificação das necessidades da usuária, Thelma tinha que identificar seus
diagnósticos de enfermagem. Veja, passo a passo, como ela fez isso.

Passo 1:
Thelma identificou quais eram, dentre os dados coletados, aqueles que seriam prioridades para serem
trabalhados com Judite neste encontro, e elencou:

• PA: 152x88mmHg - (pista do problema);

• Utiliza vários temperos industrializados para cozinhar - (causa ou fatores que contribuem para o problema);

• Não se sente capaz de utilizar outros temperos além dos industrializados (causa ou fatores que contribuem
para o problema);

• baixo consumo de alimentos ricos em potássio (causa ou fatores que contribuem para o problema);

• tabagismo (causa ou fatores que contribuem para o problema);

• Baixa frequência da Prática de atividade física (causa ou fatores que contribuem para o problema);

• Sobrepeso e aumento de circunferência abdominal (causa ou fatores que contribuem para o problema);

• Hipertrofia ventricular e obstrução arterial leve (causa ou fatores que contribuem para o problema).
Passo 2:
Então, Thelma buscou o diagnóstico na taxonomia NANDA-I.

No caso de Judite, as necessidades apresentadas estavam relacionadas a:

• Domínio: Promoção da Saúde

• Classe: Controle da Saúde

• Diagnóstico: Controle ineficaz da saúde


Passo 3:

Figura 10. Diagnóstico de enfermagem identificados Fonte: Modificado de Herdman & Kamitsuru (2018).
Thelma verificou na NANDA-I a definição e título diagnóstico e concordância em relação aos elementos
diagnósticos identificados na coleta de dados.
Passo 4:
Por último, Thelma documentou o diagnóstico e lembrou-se que este pode ser documentado de duas formas:

Controle ineficaz da saúde* relacionada ao uso de temperos industrializados em todas as refeições,


tabagismo, alimentação pobre em potássio, baixa frequência da prática de exercício físico, evidenciado por PA
152x88mmHg, sentimento de insegurança para cozinhar com outro tempero, percepção inadequada quanto
à gravidade da HAS e sobrepeso.

*Definição: Padrão de regulação e integração à vida diária de um regime terapêutico para tratamento de
doenças e suas sequelas que é insatisfatório para alcançar metas específicas de saúde (NANDA 2018-2020)
Ou

Controle ineficaz da saúde (conforme tabela abaixo)

Conclusão
Assim, estava concluída a Etapa de Diagnóstico de Enfermagem e Thelma podia prosseguir para a Etapa de
Planejamento.

Com o diagnóstico de enfermagem em mãos, Thelma pode estabelecer metas em conjunto com a usuária:
• Redução do uso de temperos industrializados;

• Manutenção de níveis pressóricos controlados;

• Adequação da percepção em relação à gravidade da HAS;

• Adequação do conhecimento em relação aos tratamentos não medicamentosos;

• Manutenção do uso de medicamentos de acordo com prescrição;

• Realização de atividade física três vezes na semana;

• Introdução de alimentos ricos em potássio;

• Manifestação de interesse pelos grupos na UBS para parar de fumar;

• Redução do número de cigarros que consome por dia;


A partir dessas metas, Thelma desenvolveu e listou prescrições de enfermagem voltadas para os diversos
agentes envolvidos no cuidado de Judite:
Para o auxiliar de enfermagem:

• Realizar visita domiciliar e identificar na casa os temperos que possam ser substituídos a partir da prescrição
da enfermeira;

• Realizar a medida de Pressão arterial em visita domiciliar;

• Realizar a medida de pressão arterial do esposo e dos familiares que vivem com a Sra. Judite em visita
domiciliar.
Para o próprio enfermeiro:

• Pactuar plano de autocuidado com a usuária;

• Abordar a família sobre a compreensão da HAS, os impactos na saúde e os cuidados necessários;

• Incluir a filha e marido na mudança do preparo da alimentação;

• Monitorar parâmetros dos exames clínicos e a adesão ao plano de autocuidado pactuado;

• Verificar com o ACS e APA os locais no bairro onde há horta, possibilidade de temperos frescos;

• Verificar disponibilidade de atividades sobre preparo de alimentos saudáveis realizadas pela equipe
multidisciplinar/NASF na unidade ou no território;

• Agendar consulta de enfermagem para o acompanhamento e avaliação do marido da Judite;

• Estratificar o risco cardiovascular e incluir na planilha de gestão de caso.


E, claro, entregou as prescrições de enfermagem para a usuária e família:
Pronto! Agora que a prescrição está entregue e todas as ações de implementação foram executadas,
basta aguardarmos o retorno do paciente para avaliação!

Situação: Judite retornou para consulta de rotina e, na avaliação dos resultados alcançados, apresenta:

• Meta: Redução do uso de temperos industrializados.


• Resultado: Redução do uso de temperos industrializados.

Conta que conseguiu aprender a fazer novos temperos com a auxiliar de enfermagem e que a ACS apresentou
a horta comunitária do bairro. Agora só utiliza Sazón, às vezes, aos finais de semana.

• Meta: Manutenção dos níveis pressóricos controlados.


• Resultado: Manutenção dos níveis pressóricos controlados.

A PA no momento está 142x80 mmHg e relata não ter apresentado sinais/sintomas que possam estar
relacionados a oscilação da PA.

• Meta: Adequação da percepção em relação à gravidade da HAS.


• Resultado: Entende algumas consequências da HAS quando esta não está controlada.

Sobre a gravidade da HAS, conta que, após a conversa na última consulta e, após conhecer um caso de derrame
no último grupo, conversou muito com a filha, o marido e o genro sobre o risco de ter derrame e infarto. Ela não
quer ficar doente, porque adora sair de casa para ver os amigos, por isso está cuidando mais da alimentação.
• Meta: Adequação do conhecimento em relação ao tratamento não medicamentosos.
• Resultado: Relata que notou a pressão bem mais controlada após ajustar os temperos no preparo dos
alimentos e realmente acredita que a alimentação tem ajudado no seu tratamento.

• Meta: Manutenção do uso de medicamentos de acordo com prescrição.


• Resultado: Mantém o uso da medicação de acordo com prescrição médica, com suporte da filha.
Escute o podcast a seguir no qual a especialista Daiana Bonfim, que faz parte do Grupo de trabalho que
desenvolveu o caso que adaptamos em conjunto com a SMS de São Paulo e, vai comentar os principais
pontos a serem observados e as reflexões mais importantes a serem tiradas do caso.
Violência contra a mulher: Caso da Antônia

Violência contra a mulher: Caso


da Antônia

Conheça a seguir Antônia, usuária atendida por Thelma na UBS.

A primeira usuária a ser atendida por Thelma na UBS naquela manhã se chamava Antônia Morais. De acordo
com a agenda da unidade, a usuária teria vindo realizar o exame papanicolau de rotina.

A Coleta de Papanicolau não é somente um procedimento, mas uma consulta de enfermagem na qual Thelma
tem a oportunidade de levantar as necessidades de saúde de Antônia. Sendo assim, Thelma chamou a usuária
para iniciar a consulta de enfermagem. No consultório , sentaram-se uma ao lado da outra.

A usuária era pernambucana e tinha 36 anos. Contou para Thelma que havia se mudado para São Paulo 15 anos
antes, quando casara com seu marido Josivaldo. Questionada por Thelma, ela contou também que tinha dois
filhos: uma menina chamada Juliana, de 12 anos, e um menino de 7 anos chamado Henrique – ambos nascidos
de parto normal e sem intercorrências durante os partos ou as gestações. Fora os dois filhos, ela nunca havia
tido outra gravidez, tampouco um aborto.

Antônia explicou que já não realizava a coleta do papanicolau havia 3 anos. Fora essa questão, Thelma pôde
averiguar que não havia histórico de problemas como câncer de mama na família, nem outras doenças ou
queixas.
Situação: Antônia, 36 anos, proveniente do estado de Pernambuco, vem à UBS para realizar a coleta de
papanicolau, pois sua última coleta foi há três anos. Não possui nenhuma queixa inicialmente. Não possui
nenhuma doença e não tem histórico de câncer de mama na família. Antônia é casada há 15 anos com Josivaldo
de 45 anos e trabalha como doméstica. Tem dois filhos, Juliana de 12 anos e Henrique de 7 anos, nasceram
de parto vaginal sem intercorrências durante o parto e gestação. Não teve outras gestações e/ou abortos.
Atualmente utiliza como método contraceptivo anticoncepcional oral, refere que tem dias que com a rotina
intensa, esquece de tomar a pílula. Não deseja engravidar novamente, tenta fazer uso de preservativo, mas o
companheiro não gosta de usar durante as relações sexuais. Data da última menstruação (DUM):18/10/2021,
ciclo regular com fluxo moderado e cólicas menstruais esporádicas.

Ao ser questionada sobre dispareunia, refere sentir dor nas relações sexuais, no início da atividade sexual.
Verbaliza que no início do relacionamento não sentia dores. Visto essa queixa enfermeira questiona se Antônia
tem relações sexuais sem ter vontade ou desejo. Então ela relata que no casamento mulheres não podem
negar relações sexuais, se não o marido vai procurar outra mulher fora do casamento, além disso refere que
Josivaldo fica muito nervoso quando ela se nega a ter relações sexuais. Sempre acaba brigando com ela, dizendo
que provavelmente ela tem algum amante, que ele terá que procurar outra mulher e ela vai ficar sozinha,
pois nenhum outro homem iria querer ter um relacionamento sério com ela. Então para evitar conflitos ela
quase nunca diz não ao marido. Questionada como se sente, chora e refere que se sente intimidada e com
a autoestima baixa. Apesar de ter aprendido que isso é uma situação rotineira da vida de casada, se sente
desconfortável e uma tristeza em relação a situação que vivencia. Verbaliza sentir que seu relacionamento
está ruim, porém apesar do desejo de romper a relação, tem receio pois não é casada no “papel” então tem
dúvidas quanto aos seus direitos relacionados a pensão alimentícia e a guarda dos filhos.
Ao exame físico e coleta: Vulva e canal vaginal sem alterações, colo do útero visualizado, retrovertido e
sem alterações. Realizada coleta de amostra de ectocérvice e endocérvice sem intercorrências. Presença de
leucorréia fisiológica.

Thelma acaba de escutar o relato de uma das milhões de vítimas da violência doméstica
no Brasil. As situações de violência contra a mulher dentro de seus lares foi agravada na
pandemia do COVID-19.

Entenda mais sobre o agravamento da violência doméstica durante a pandemia e sobre


o papel da enfermagem frente à violência doméstica no(s) conteúdo(s) a seguir.
Podcast:
https://www.youtube.com/watch?v=ZVjAbxjAVow
ONU Mulheres:
http://www.onumulheres.org.br/covid-19/
Pesquisa Datafolha 2021:
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/06/07/1-em-cada-4-mulheres-foi-
vitima-de-algum-tipo-de-violencia-na-pandemia-no-brasil-diz-datafolha.ghtml

Thelma utilizou a Teoria de Wanda Horta para guiar a coleta de dados e identificar as necessidades da usuária.
As necessidades de Antônia foram traduzidas em diagnósticos de enfermagem por meio da Taxonomia CIPE/
CIPESC - Necessidades CIPESC
Depois de determinar os diagnósticos e as metas, Thelma prescreve as intervenções de enfermagem adequadas
a cada um dos diagnósticos de Antônia.
Para, de fato, conseguir atender Antônia, estava claro para Thelma que seria necessário
o suporte de uma série de serviços da rede de saúde e intersetorial, dentre os quais,
os CRMs. Você já ouviu falar deles?

As Casas da Mulher Brasileira são unidades que oferecem às mulheres em situação de


violência atendimento psicológico, social e jurídico, visando reduzir a violência contra
a mulher.
Nesses locais, as mulheres também são incentivadas a participar de cursos para alcançar
a autonomia financeira, uma ferramenta de apoio para dar independência econômica
às mulheres, já que muitas dependem financeiramente do agressor.
Além desses centros, outras opções ao acolhimento de mulheres em situação de
violência estão disponíveis.
Quer saber mais sobre as Casas da Mulher Brasileira:
https://www.gov.br/pt-br/noticias/assistencia-social/2021/02/enfrentamento-
a-violencia-contra-a-mulher-sera-reforcado-com-mais-unidades-da-casa-da-
mulher-brasileira
Quando chegou a hora de implementar as ações determinadas na prescrição, Thelma conversou com a usuária.

Ela explicou para Antônia quais eram seus direitos frente aquela situação de violência doméstica. Elas
conversaram tanto sobre seus filhos quanto sobre questões ligadas a bens materiais e também sobre as
construções embasadas nas relações de gênero ligadas ao casamento e seus direitos sobre sua sexualidade
– iniciando um processo de vínculo para a desconstrução daquela velha ideia de que uma esposa é obrigada
a ter relações com o marido.

Thelma também informou, que como profissional da saúde, ela iria realizar a notificação compulsória de
violência doméstica. Explicou para Antônia que ela poderia ficar tranquila, pois essa notificação não possui
qualquer tipo de finalidade jurídica ou policial, pois se trata apenas de uma importante ferramenta para a
produção de dados e estatísticas que podem subsidiar a formulação de políticas públicas para o enfrentamento
da violência doméstica.

Ficha de Notificação Compulsória de Violência Doméstica:


https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/ficha_notificacao_violencia_domestica.pdf

Ela explicou também o que eram e quais eram as atividades dos Centros de Referência para a Mulher,
além de como acessá-los e quais os horários de funcionamento, deixando clara a atuação dos centros
em casos parecidos com o de Antônia.

Thelma orientou a usuária quanto aos métodos contraceptivos disponíveis e seus objetivos que estavam
ligados não apenas a possibilidade de gravidez, mas, também, a prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis (DSTs).

Juntas, tentaram buscar opções mais seguras. Uma das possibilidades levantadas – que servia muito bem
tanto para prevenção de doenças quanto de gravidez –, foi a do preservativo feminino e Thelma explicou
para Antônia a maneira correta de usá-lo.

Também foi referida a possibilidade do DIU de cobre como uma opção acessível e segura contra a gravidez,
mas que, no entanto, deveria estar associada a outro método que colaborasse na prevenção de doenças
– como camisinhas masculina ou feminina!

Por fim, ela reforçou que o resultado do papanicolau de Antônia ficaria pronto em 15 dias e frisou a necessidade
de uma nova consulta na data, com o resultado do exame em mãos.

No fim daquele dia, Thelma se certificou de dividir o caso com a equipe multidisciplinar da UBS para que,
juntos, pudessem fortalecer os cuidados àquela e a outras usuárias em situações parecidas.
Ouça, agora, Verônica Elizabeth do Nascimento, enfermeira desenvolvedora deste caso, comentando seus
principais pontos de atenção e as principais discussões erguidas nesse caso.
Cuidaos os:alitvP Caso do Norbet

Cuidados Paliativos: Caso do


Norberto

Junto com Thelma e a equipe multiprofissional da unidade de atenção primária à saúde, você vai conhecer
agora o senhor Norberto e sua família.

Você gostaria de saber mais sobre o que diz a doutora Ana Cláudia Quintana Arantes, que foi
referência para Thelma em suas ações de cuidados paliativos?

Assista a palestra oferecida pela doutora e conheça seu livro “A morte é um dia que vale a pena
viver”.
Palestra:
https://www.youtube.com/watch?v=ep354ZXKBEs

Livro:
https://www.humanavida.com.br/clipping/especiais/resenha-a-morte-
e-um-dia-que-vale-a-pena-viver/

Situação: Norberto Junqueira, 73 anos, masculino, 1 filha (47 anos), casado há 50 anos, ex-comerciante, mora
com esposa no interior de SP.

Diagnosticado com carcinoma espinocelular em lábio inferior no ano de 2017, para o qual foi operado na mesma
data. Em 2018, mediante seguimento pós-cirúrgico foi avaliada recidiva local, além de recidiva perineural ao
longo do trajeto do nervo alveolar inferior.

Foi submetido a novo procedimento cirúrgico local, além de múltiplas sessões de radioterapia, interrompidas
em meados de agosto de 2018, quando passou a ser acompanhado com mais frequência pela equipe de
estratégia em saúde da família para seguimento conjunto com o serviço de oncologia.

Em avaliação da equipe, paciente teve alguns de seus sintomas avaliados, referindo:


• Dor localizada em face em pontada, de caráter contínuo, exacerbando-se mediante movimentação
brusca/deambulação ou ao deitar-se e de melhora parcial após repouso; fadiga; sentia-se deprimido; algo
sonolento; negava inapetência, apesar de importante disfagia por conta de lesão em face; sensação de
mal-estar; negando sintomas ansiosos, de tosse ou prurido.

• Úlcera maligna profunda de comunicação com cavidade oral, estendendo-se de comissura labial até
meato acústico externo homolateral, de bordos hiperemiados e de secreção purulenta, além de odor
desagradável. Apresenta KPS (Escala de Avaliação Funcional de Karnofsky) de 40.

Em uso de:
- Tramadol 100mg 6/6h

Durante visita domiciliar, paciente demonstrava relacionamento dificultoso com sua esposa (possível cuidadora),
pois não a considerava capaz de gerir seus cuidados, permitindo apenas a intervenção por sua filha ou pela
equipe de saúde que prestavam assistência em seu domicílio majoritariamente para a troca de curativos.

Negava sugestões prévias de troca de medicação ou introdução de novos medicamentos (antidepressivo) e


mantinha postura agressiva/defensiva.

Trazia consigo queixas de abandono pelos seus amigos e familiares, além de por seu médico de família, com
quem tinha um excelente relacionamento há muitos anos. Sentia-se esquecido, atribuindo ao fato de “estar
desfigurado”.

Esposa relatava precarização de autocuidado, atribuída a redução da frequência de banhos para um banho
a cada duas semanas.

Apresentava sentimentos de menos-valia por não poder cuidar de suas roseiras (expostas em faixada da casa,
nitidamente cultivadas com muito zelo), além de não poder ver os caracóis que “frequentavam” seu terreno.

Por vezes, durante a visita, quando se sentia em momento mais protegido com algum profissional, pedia para
o deixarem morrer, após relatava se sentir mal por não poder oferecer nada para ninguém (“a vida não vale
de nada se eu não posso ajudar as outras pessoas”).

Sua filha trazia constantes solicitações à equipe (por telefone) para que fosse realizada a internação de seu
pai por motivo de sobrecarga da cuidadora (mãe). O paciente expressamente refutava a possibilidade de
internação e sua esposa negava tal sobrecarga, mantendo-se sempre atenta e disposta durante as consultas.

Momento atual da doença: É importante destacar que o paciente Norberto Junqueira apresenta doença
oncológica avançada e interrupção do tratamento modificador da doença. O KPS de 40, aponta declínio
funcional, sugerindo maior proximidade com a possibilidade de morte.

Considerando o momento da doença de Norberto Junqueira, é necessário que haja um planejamento


antecipado de seus cuidados – já que há acentuado declínio de sua condição clínica com possibilidade de
morte.

Sendo assim, é importante que os elementos de sua biografia sejam considerados, pois é precisamente essa
consideração que permite a construção do cuidado centrado na pessoa.

O Planejamento Antecipado de Cuidados (PAC) - do inglês Advance Care Planning - é o processo que auxilia
a pessoa a compreender e compartilhar seus valores pessoais, objetivos de vida e preferências em relação aos
cuidados de saúde futuros, com o intuito de garantir que venha a receber cuidados alinhados à sua história e
a suas características singulares. (SILVEIRA, 2020)

A chamada Escala de Desempenho de Karnofsky é uma escala classificatória que permite


a identificação dos pacientes de acordo com o grau de suas inaptidões ou deficiências
funcionais. Através dessa escala, mensuramos o comprometimento funcional de um
paciente – independentemente da patologia – e, assim, é possível indicar os cuidados
paliativos adequados de acordo com as necessidades funcionais.
• Essa escala permite conhecer a capacidade do paciente de realizar suas atividades
cotidianas.
• Nela, são elencados preditores independentes de mortalidade, em patologias
oncológicas e não oncológicas.
• Essa ferramenta é muito útil na tomada de decisões clínicas e na avaliação do
impacto de um tratamento e do estado de progressão da doença.
• Um valor de 50 ou inferior nessa escala indica elevado risco de morte durante os
6 meses seguintes.
Veja abaixo:
Ao conversar com o usuário e sua esposa, Thelma buscou, através da Teoria de Enfermagem de Wanda
Horta, conhecer as necessidades psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais de Norberto e anotá-las
detalhadamente. Ela sabia que suas anotações seriam importantes para planejar o seu cuidado e compartilhar
com a equipe multidisciplinar.

Necessidades psicobiológicas
- Dor intensa localizada em face e região occipital, em pontada, de caráter contínuo, exacerbando-se
mediante movimentação brusca/deambulação ou ao deitar-se e de melhora parcial após repouso;

- Fadiga, atribuída a continuidade de sua dor física;

- Disfagia de transição por conta de lesão em face, principalmente para alimentos sólidos conseguindo
apenas realizar alimentação líquida/pastosa;

- Úlcera maligna profunda de comunicação com cavidade oral à esquerda, estendendo-se de comissura
labial até meato acústico externo homolateral, de bordos hiperemiados e de secreção purulenta, além
de odor desagradável;

- KPS = 40;

- Sintomas depressivos caracterizados por discreta sonolência, sensação de desesperança, precário


autocuidado (1 banho a cada duas semanas), sensação de menos-valia;

- Prejuízo de autoimagem: “sente-se desfigurado”.

Necessidades Psicossociais
- Sensação de abandono por amigos, familiares;

- Afastamento de seu médico de família;

- Sente-se incapaz de cuidar de seu jardim, além de não achar possível voltar a ver seus queridos caracóis;

- Demonstra relação conturbada, com esposa;

- O paciente, a filha e a esposa não parecem estar em concordância com a condução do caso.

Necessidades Psicoespirituais
- “A vida não vale de nada se eu não posso ajudar as outras pessoas”.

Em seguida, Thelma buscou relacionar essas necessidades que havia reconhecido no caso, com diagnósticos
de enfermagem segundo a taxonomia NANDA-I 2018-2020

Para cada necessidade encontrada, Thelma relacionou os diagnósticos de enfermagem da taxonomia NANDA-I
2018-2020
- Dor intensa localizada em face - Disfagia de transição por conta - Úlcera maligna profunda de
e região em de caráter contínuo, de lesão em face, principalmente comunicação com cavidade
exacerbando-se mediante para alimentos sólidos, oral à esquerda, estendendo-se
movimentação brusca/ conseguindo apenas realizar de comissura labial até meato
deambulação ou ao deitar- alimentação líquida/pastosa. acústico externo homolateral,
se e de melhora parcial após de bordos hiperemiados e de
repouso. secreção purulenta, com odor
desagradável.
- Fadiga, atribuída a
continuidade de sua dor física. - Prejuízo de autoimagem:
“sente-se desfigurado”.

- Sente-se incapaz de cuidar de seu jardim, além de não achar possível


voltar a ver seus queridos caracóis;

- Sensação de abandono por amigos, familiares;

- Afastamento de seu médico de família;

- Sintomas depressivos caracterizados por discreta sonolência sensação


de menos-valia;

- Relata desejo de morte perante a perda de capacidade funcional “A vida não vale de nada se eu não
posso ajudar as outras pessoas”;

- Demonstra relação conturbada, por vezes violenta com esposa, a julgando incapaz de cuidar dele e do
resto dos afazeres do domicílio.
A partir dos diagnósticos, Thelma elencou metas e, enfim, prescrições de enfermagem.
Enquanto Thelma estabelecia os diagnósticos de enfermagem e compreendia quais seriam as intervenções
a serem propostas para Norberto, ele e a esposa ficaram na sala em silêncio.

Era nítida a tensão que havia se estabelecido na família e, da mesma forma, estava clara a necessidade de
acessar e tratar essa tensão – e isso estava incluso no plano de cuidado proposto por Thelma.
Tendo conhecido as necessidades de Norberto e acordado com o usuário e sua esposa as intervenções para
o cuidado, bem como agendado uma reunião familiar para aquela mesma semana, Thelma já estava pronta
para retornar à UBS.

Naquele mesmo dia, durante a reunião de equipe, Thelma relatou tudo que havia se passado ao longo da
consulta, detalhando as metas para o cuidado, as intervenções propostas e, também, as dificuldades e recursos
com os quais poderiam trabalhar dali para frente.

Agora que você conhece as metas e intervenções a serem aplicadas, também é importante conhecer os
desafios e os recursos que existirão ao longo do processo de cuidado.

Depois desta consulta Thelma foi informada pela ACS do falecimento do senhor Norberto e prepara uma
visita para a família.

Ouça o podcast a seguir em que a Enfermeira Samara Ercolin vai comentar os principais pontos de atenção
no atendimento de usuários de cuidados paliativos.
Saúde Pré-Natal: Caso da Letícia

Saúde Pré-Natal: Caso da Letícia

Situação: Razão para Encontro (RPE): consulta pré-natal terceiro trimestre.

Subjetivo(S): Leticia comparece, hoje, à consulta de enfermagem. Refere dificuldade para evacuar (2 vezes
por semana) e corrimento vaginal. Nega prurido vaginal, dispareunia ou outra queixa ginecológica. Fala que
não compareceu às duas últimas consultas porque não teve liberação do trabalho. Parece preocupada com o
papel materno, assim como com a condição de desemprego do namorado e com todas as mudanças que irão
ocorrer com a chegada do bebê. Informa que vem tomando paracetamol devido a dor na região lombar (2x ao
dia na última semana). Namorado ainda está procurando emprego e compareceu somente a duas consultas
de PN. Sem mais queixas no momento.

Objetivo(O):
P0, A0, G1

Data da última menstruação(DUM):


24/02/2021

Idade Gestacional:
36 semanas (consulta realizada em 03/11/2021)
Data provável do parto (DPP):
03/12/21
Em uso de Sulfato Ferroso conforme prescrição de enfermagem.

Exame físico geral e específico (gineco-obstétrico):


03/12/21
Em uso de Sulfato Ferroso conforme prescrição de enfermagem.

PA: 120x70 mmHG

Peso: 72 kg (ganho de 2 quilos desde a última consulta. Ganho total desde o início da gestação de 4,5 kg)

Altura: 1,65 m

IMC: Adequado para idade gestacional - 26,44 Kg/m2

IMC - Peso (Kg) / [Altura (m)]2 = 72 / 2,72 = 26,44Kg/m2

Diagnóstico = Adequado

Cabeça e Pescoço:
• Sinal de Halban positivo; Mucosas oculares coradas;
• Nariz sem edema;
• Gengivas íntegras e sem sinais de sangramento;
• Dentição com presença de tártaro;
• Pescoço sem alterações.

Ausculta Cardíaca: BRNF 2TSS (Bulhas rítmicas normofonéticas em 2 tempos sem sopros).

FC: 64 bpm. Pulso radial cheio e sem alterações

Ausculta Pulmonar: Murmúrios Vesiculares presentes sem ruídos adventícios.

FR: 12 irpm

Mamas:

• Mamilos protusos;
• Sinal de Hunter (aumento da pigmentação e tamanho da aréola) presente;
• Rede de Haller (veias visíveis através da pele em forma de rede) visível;
• Presença de Tubérculos de Montgomery (glândulas sebáceas no mamilo);
• Sem presença de colostro após expressão papilar;
• Pele integra e sem lesões e estrias.

Abdômen: Pele íntegra, hidrata com presença de estrias.

Altura Uterina: 34cm (Adequado para idade gestacional).

Palpação Obstétrica: Dorso fetal localizado a direita, com apresentação cefálica e polo cefálico móvel em
escava ocupada.

Ausculta Fetal: 132 BCF por minuto, rítmicos e regulares.

Dinâmica Uterina: Observado contrações de Braxton Hicks após palpação obstétrica.

Região Lombar: Sem queixas de dor a mobilização do quadril. Nega história de trauma, sem a presença de
sinais flogísticos.

MMSS: Sem alterações ou edemas.

MMII: Edema de pés 1+/4+, sem presença de varizes ou outras alterações. Trabalha sentada e fica de tênis a
maior parte do dia.

Avaliação Pélvica: Genitália externa sem alterações. Ao exame especular presença de leucorreia branca em
pouca quantidade, ausência de grumos ou tampão mucoso. Região anal sem alterações.

No link a seguir, você poderá conhecer mais sobre o método SOAP no processo de
enfermagem. Já ouviu falar?
SOAP:
https://portal.coren-sp.gov.br/wp-content/uploads/2013/09/parecer_
coren_sp_2013_056.pdf
Você sabia que o cuidado a gestante pode ser organizado na rede de atenção à saúde,
e especialmente na APS, de diversas formas?

Conheça no link a seguir o programa Mãe Paulistana, que atua na cidade de São Paulo
como suporte a gestantes e mães de crianças de até 2 anos, este é um exemplo da
forma como o cuidado a gestante pode ser organizado em um município!
Mãe Paulistana:
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/
programas/mae_paulistana/index.php?p=5657

Depois de conversar com a usuária, realizar os exames físicos e se certificar de que todas as informações
estavam corretas no prontuário, a coleta de dados estava completa.

Com os diagnósticos de enfermagem da usuária em mãos, Thelma pode encontrar as metas de cuidado
apropriadas ao caso. Veja nos cards abaixo:

Redução da necessidade de esforço Ausência de odor fétido, • Adequação do sistema de apoio;


e desconforto durante evacuação espessamento e/ou coloração • Relato de diminuição do
e/ou normalização da frequência alterada do corrimento vaginal, sofrimento;
individual. prurido e/ou ardência vaginal. • Comparecimento às consultas
do pré-natal.
Dentição Adequada. Alívio da dor em região lombar. • Alívio das preocupações;
• Suporte social sobre
possibilidades de emprego para
o namorado.

Agora que conhecemos as necessidades, diagnósticos e metas, vamos pensar em intervenções e prescrições
para a usuária?

As outras duas necessidades identificadas têm implicações familiares e sociais mais complexas, de forma que
a equipe multidisciplinar será de extrema importância à usuária para que os próximos passos sejam possíveis!

Veja abaixo quais são as intervenções propostas para essas duas necessidades:
Com o plano de intervenções completo, Thelma pode orientar a usuária e entregar-lhe a prescrição de
enfermagem e os pedidos de exame apropriados, que permitirão que a usuária avalie sua condição física e
tenha um parto seguro.

PEDIDO DE EXAMES:
• Solicito os seguintes exames do terceiro trimestre gestacional de acordo com protocolo de enfermagem
(municipal/institucional):

• Hemograma; Urina 1;

• Urocultura + antibiograma;

• Anti-HIV (ou teste rápido se disponível no serviço);

• VDRL (ou teste rápido se disponível no serviço);

• HBSAg (ou teste rápido se disponível no serviço);

• Streptococcus do grupo B.
PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM:
• Paracetamol 500mg (Tomar 1 comprimido de 6/6 horas se tiver dor);

• Utilizar travesseiros entre as pernas para alinhamento da coluna quando estiver deitada;

• Realizar atividades de alongamento, relaxamento e orientação postural conforme orientado na consulta;

• Aplicar calor em região lombar para alívio de dores;


• Realizar higiene bucal após cada refeição;

• Aumentar ingesta hídrica e consumo de alimentos rico em fibras e laxativos para alívio da constipação.
Agora que você conhece o caso, escute no podcast abaixo o que o desenvolvedor do mesmo, o Prof Dr Manoel
Vieira de Miranda Neto tem a dizer sobre seus pontos principais!

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