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Como se organizam símbolos fonéticos ?

1. Descrição e leitura

A tabela do IPA foi projectada tendo em conta todos os sons de fala fisicamente possíveis de se
produzirem na cavidade de tracto oral e tendo em conta aos processo aerodinâmicos nessa
cavidade. A maior parte dessas línguas produz os sons de fala com os movimentos de ar dos
pulmões para fora da cavidade oral e nasal. Mas há línguas que produzem os sons com o ar
movendo-se de fora para dentro dos pulmões. Além destas características, a tabela de símbolos
fonéticos está organizada tendo ainda em conta os seguintes parâmetros:

1. O ponto de articulação do som - começando dos lábios (frente da boca) à região glotal.
Esses diferentes pontos de produção do som foram rotulados com diferentes nomes que
dão origem ao nome do som descrito.

2. O comportamento do ar - a passagem do ar na produção de um som ou é totalmente


impedida devido à obstrução do articulador ou ocorre uma fricção quando o ar escapa de
uma pequena abertura (como acontece com uma câmara de bicicleta atrevessada por um
prego) ou a corrente de ar escapa através da cavidade nasal;

3. Comportamento da glote – A glote está constituida de duas membranas (as cordas


vocais) que podem ficar mais próximas uma da outra obrigando a passagem de corrente
de ar com uma certa vibração dando origem a sons vozeados (sonoros). Quando as duas
membranas distam o suficiente uma da outra para o ar passar sem nenhuma vibração,
então, os sons produzidos são descritos como sendo não-vozeados (surdos).

Com o avanço da tecnologia, é possível dispor de sistemas digitais, tais como o Speech Analyser
e outros que permitem estudar os sons de fala e sua relação com a tabela de símbolos fonéticos.
A TABELA DO ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL1 (revisto em 1993)

Pos-
  Bilabial Labiodental Dental Alveolar Alveolar Retroflexo Palatal Velar Uvular Faringal Glotal
t d
Oclusivo p b    ʈ ɖ  c Ɉ  k g  q G   ʔ 
  n
Nasal m  ɱ  ɳ  ɲ  ŋ  N    
Vibrante r
múltipla B          R    
Vibrante ɾ
Simples      ɽ          
Fricativo ɸ β  f v  θ ð  s z  ʃ ʒ  ʂ ʐ  ç ʝ  x ɣ  X ʁ  ħ ʕ  h ɦ
Fricativo  
Lateral     ɬ ɮ            
 
Aproximante    ʋ  ɹ  ɻ j  ɰ      
Aproximante  
Lateral     l  ɭ  ʎ  L      

2. Articulação e descrição de Consoantes e Vogais

Como fizemos alusão acima, a produção de sons de fala, na maioria de línguas, é feita através de
conversão da corrente de ar pulmonar em onda sonora que atravessa as cavidades oral e nasal ou
ambas. Este mecanismo de produção de sons de fala é designado de mecanismo egressivo de
corrente de ar pulmonar. Existem outros mecanismos de produção de sons – mecanismos
ingressivos (não abordaremos aqui).

Contrariamente as vogais, as consoantes são sons de fala produzidos com estreitamento em


algum ponto no tracto vocal, facto que impede que as consoantes funcionem como núcleos
silábicos (o núcleo de sílaba é a parte central desta, contendo a proeminência, o barulho e,
geralmente, é constituido de vogal). A descrição de consoantes passa necessariamente pela
consideração de três aspectos, nomeadamente:

i. O som é vozeado ou não-vozeado (estado da glote);

ii. Onde a corrente de ar é obstruida (ponto de articulação);

iii. Como a corrente de ar é obstruida (modo de articulação).


1
Adaptado de Ladefoged 1993
Antes que avancemos para cada um desses aspectos, vamos considerar as componentes de
produção de fala humana (anatomia do aparelho fonador)

2.1. Componontes de produção da fala humana

Existem três componentes básicas da fisiologia humana na produção de fala. Em primeiro lugar,
existe a laringe que contém as cordas vocais e a glote. Acima da laringe localiza-se a cavidade
vocal que integra a cavidade oral e a cavidade nasal. A terceira componente é o sistema sub-
glotal que constitui a componente respiratória localizada abaixo da laringe (cavidade pulmonar).
O ar que passa pela laringe e pela glote é a principal fonte de ondas sonoras. As características
específicas de uma onda sonora resultam das diferentes configurações do tracto vocal à medida
que o ar vai passando através das cavidades oral e/ou nasal.

Abaixo, observe com atenção os componentes do aparelho fonador humano (anatomia), para em
seguida descrevermos o percurso que o ar toma na produção de sons de fala.

Anatomia Aparelho Fonador


1.Traqueia

2. Laringe

3. Glote (Cordas vocais)

4. Faringe

5. Cavidade bucal

6. Cavidade nasal

7. Véu palatino ou Palato


mole

8. Maxilares (dentes)

9. Língua

10. Lábios

11. Palato duro (céu da


boca)

Ao expirar, os pulmões libertam ar que passa pelos brônquios para entrar na traqueia (1) e
chegar à laringe (2). Na laringe o ar encontra o seu primeiro obstáculo: a glote (3) (mais ao
menos ao nível da maçã-de-adão), conhecida como cordas vocais. Semelhantes a duas pregas
musculares, as cordas vocais podem estar fechadas ou abertas: se estiverem abertas, o ar passa
sem real obstáculo, dando origem a um som não-vozeado (surdo); se estiverem fechadas, o ar
força a passagem fazendo as pregas muscular vibrar, o que dá origem a um som vozeado
(sonoro).

Para se perceber melhor a diferença, experimente-se dizer "k" e "g" (não "kê" ou "kapa", nem
"gê" ou "jê"; só os sons "k" e "g") mantendo os dedos na maçã-de-adão. No primeiro caso não se
sentirá vibração, mas com o "g" sentir-se-á uma ligeira vibração - cuidado apenas para não se
dizerem vogais, pois são todas sonoras.

Depois de sair da laringe (2), o ar entra na faringe (4) onde encontra uma encruzilhada: primeiro
a entrada para a boca (5) e depois para as fossas nasais (6). No meio está o véu palatino (7) que
permite que o ar passe livremente pelas duas cavidades, originando um som nasal; ou que
impede a passagem pela cavidade nasal, obrigando o ar a passar apenas pela cavidade bucal -
resultando num som oral.

A diferença é óbvia: compare-se o primeiro "a" em "Antónia" com o de "manga". A primeira


vogal é oral e a segunda é nasal.

Por fim, o ar está na cavidade bucal (a boca) que funciona como uma caixa de ressonância onde,
usando os maxilares (8), as bochechas e, especialmente, a língua (9) e os lábios (10), podem
modular-se uma infinidade de sons utilizando o palato, o véu palatino, a úvula e os alvéolos (o
pequeno alto por trás dos dentes, ao qual se segue o palato).

2.2. Descrição de consoantes envolve fundamentalmente três parâmetros

i. Estado da Glote

A passagem de ar pela laringe (por vezes chamada de caixa de som) acima da traqueia – tubo
de ar – obriga que as cordas vocais estejam juntas ou afastadas uma da outra. Quando as
cordas vocais estão juntas, ocorre a vibração e quando estão separadas não há vibração. Os
sons produzidos com a vibração das cordas vocais são chamados de vozeados e sons
produzidos sem vibração das cordas vocais são sons não-vozeados. Assim, os sons em
itálico que formam pares de palavras indicadas em (1) diferem apenas no traço vozeamento,
sendo que o primeiro é [-voz] e o segundo é [+voz].

(1) fala cala pala chá nata [f, c, p, c, t] [-voz]

vala gala bala já nada [v, g, b, j, d] [+voz]

ii. Ponto de articulação

Refere ao ponto onde ocorre o estreitamento do tracto vocal para produzir um determinado
som. Geralmente, distinguem-se sete pontos fundamentais de articulação de sons
consonânticos, mas por vezes, estudos particulares subdividem certos pontos em pequenas
secções dando origem a outros pontos de articulação. Contudo, os principais pontos de
articulação são:

1. Bilabial – descreve sons produzidos com a intervenção dos dois lábios [p], [b], [m], [w],
[B], [Φ], [β], [n]

2. Labiodental – indica os sons produzidos com o lábio inferior contra os dentes incisivos:
[f], [v], [ɱ]

3. Interdental – inclui sons articulados com a ponta da língua entre os dedos incisivos: [θ],
[ð]

4. Alveolar – é a classe de sons produzidos nos alvéolos com a ponta da língua colocada
nesta região: [t], [d], [s], [z], [n], [l], [r]

5. Palatal – descreve sons produzidos no palato (alvéolo-palatal): [∫], [ʒ], [ʧ], [ʤ], [c], [ʎ]...

6. Velar – refere-se a sons produzidos no velum: [v], [g], [ŋ], [N], [Ɣ], [x], [ɰ]

7. Glotal – descreve consoantes produzidas no espaço entre as cordas vocais: [h], [ɦ]

iii. Modo de Articulação

A caracterização de modificação da corrente de ar no tracto vocal, também chamada de modo de


articulação, é fundamental, porque define os sons em termos da sua ou não oclusão, devido à
constrição relativamente grande ou pequena de articuladores envolvidos na produção do som. A
fricção produzida através de passagem de ar por uma abertura estreita dentro da cavidade oral
caracteriza todos os sons produzidos com essa propriedade fisiológica.

As outras propriedades tais como africado, nasal, líquidas (lateral, aproximante, vibrante,
retroflexos) e glides referem igualmente à modificação de corrente de ar no tracto vocal.
Geralmente, a presença de uma propriedade em um elemento é indicada através de um sinal
positivo, enquanto a ausência da propriedade é indicada com o sinal negativo.
Assim, tendo em conta os três parâmetros na descrição das consoantes, os sons [b,β, f, v, d, θ, ð,
Ɣ] podem ser descritos da seguinte forma:

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