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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO


DEPARTAMENTO DE LETRAS

BRUNA FREIRE DE AZEVEDO

RELATÓRIO: EXPERIMENTOS DE PIAGET

RECIFE
2022
Em seus estudos sobre o desenvolvimento humano na área da psicologia
genética, Jean Piaget dedicou-se a compreender como ocorre a Aquisição de
conhecimento e a evolução cognitiva nas crianças durante a infância e a
adolescência. Para haver um melhor entendimento da progressão que os indivíduos
passam, Piaget dividiu esse desenvolvimento em Estágios ou Fases e classificou
quais características e limitações estão presentes em cada um deles. Com o intuito
de exemplificar essas restrições que a idade e a questão cognitiva causam, o
psicólogo criou experimentos que são realizados com as crianças e que demonstram
como, dependendo do estágio evolutivo em que elas se encontram, certas noções e
fenômenos são incapazes de serem compreendidos e explicados. Escolhi os
experimentos “Conservação de Quantidades” e “Inclusão de classes”, que a
princípio devem ser realizados com crianças dentro do Estágio Pré-Operatório, a fim
de verificar como as crianças se comportam frente a situações que desafiam a sua
capacidade cognitiva e assim conseguir identificar em qual estágio de
desenvolvimento elas se encontram.
As crianças escolhidas foram um casal de irmãos, em que a menina
chamada Laís tem cinco anos e dois meses e o menino chamado Pedro tem sete
anos e oito meses. Laís é uma criança bastante tímida e introvertida que não gosta
de falar muito e que, na minha percepção, sentiu-se intimidada e estressada durante
a realização dos experimentos, principalmente quando as suas respostas eram
contestadas. Já Pedro, seu irmão, é um pouco mais falante e extrovertido e notei
que se divertiu enquanto passava pela entrevista, porém ainda assim é uma criança
que pouco se comunica, por isso precisei persistir nas perguntas para que os dois
me respondessem.
Para iniciar, irei transcrever o experimento “Conservação de Quantidades”,
que avalia a capacidade de reversibilidade e raciocínio transdutivo para identificar
em qual estágio a criança se encontra. Realizei da seguinte maneira: dois copos de
tamanhos iguais com quantidades de líquido visivelmente iguais foram colocados
frente às crianças e essas foram questionadas se o volume de líquido era o mesmo
nos dois recipientes. Depois, na frente delas, transferi o conteúdo dos copos para
dois novos recipientes, sendo um deles bem mais fino e alto e o outro largo e baixo
e repeti o questionamento. Vejamos agora como elas responderam e reagiram:
Conservação de Quantidades
1. Laís, cinco anos e dois meses
● Entrevistador: (mostra os copos com os líquidos) Você acha que os dois
copos têm a mesma quantidade de suco, ou algum tem mais ou menos que o
outro?
● Laís: tá igual
● Entrevistador: Por que?
● Laís: porque tá do mesmo tamanho e é igual
● Entrevistador: (transfere o líquido para os dois novos copos na frente da
criança) Agora, você acha que os dois copos têm a mesma quantidade, ou
algum tem mais ou menos que o outro?
● Laís: (pensa por um tempo) esse tem mais (aponta para o copo mais alto)
● Entrevistador: Por que?
● Laís: Porque tá mais alto
● Entrevistador: Mas e antes, quando estava nos outros copos?
● Laís: não sei
● Entrevistador: Por que agora esse tem mais?
● Laís: Porque esse tá mais alto do que esse
● Entrevistador: E por isso ele tem mais suco?
● Laís: sim
● Entrevistador: seu irmão Pedro disse que os dois continuam iguais
● Laís: (pensa e não responde nada)
● Entrevistador: Você tem certeza que esse tem mais suco do que esse?
● Laís: tenho

2. Pedro, sete anos e oito meses


● Entrevistador: (mostra os copos com os líquidos) Você acha que os dois
copos têm a mesma quantidade de suco, ou algum tem mais ou menos que o
outro?
● Pedro: os dois tão iguais
● Entrevistador: Por que?
● Pedro: porque dá pra ver que tem a mesma quantidade de suco nos dois
copos
● Entrevistador: (transfere o líquido para os dois novos copos na frente da
criança) Agora, você acha que os dois copos têm a mesma quantidade, ou
algum tem mais ou menos que o outro?
● Pedro: (pensa por bastante tempo e hesita) Eu acho que esse tem mais
(aponta para o copo mais alto)
● Entrevistador: Por que você só acha? não tem certeza?
● Pedro: (pensa por mais um tempo) não…os dois são iguais
● Entrevistador: Por que?
● Pedro: por que eles têm o mesmo tanto de suco
● Entrevistador: Mas esse está mais alto do que esse
● Pedro: mas não é assim que vê, ficou mais alto porque esse é mais fino, mas
tem a mesma quantidade de suco
● Entrevistador: como assim?
● Pedro: quando coloca o suco nesse copo que é mais fino, aí parece que tem
mais mas não tem, tá igual, se colocar de volta nesses dois copos vai ficar
igual de novo
● Entrevistador: Sua irmã falou que o mais fino tem mais suco
● Pedro: (pensa) mas não tem, os dois têm a mesma quantidade de suco
porque antes tinha também
● Entrevistador: você pode me explicar melhor?
● Pedro: só porque esse copo é mais fino e alto, não quer dizer que vai ter mais
suco, entendeu. Parece que tem mais mas não tem, tá igual a antes.

A partir da análise das respostas e reações das duas crianças, conclui-se


que, em relação ao experimento de conservação de quantidades, Laís ainda se
encontra no Estágio Pré-operatório, visto que ainda não tem capacidade cognitiva
para responder corretamente aos questionamentos. Porém, como Piaget propôs que
esse estágio contém crianças de quatro a sete anos, é considerado normal que Laís
ainda tenha essas limitações. Já Pedro, por ter sete anos e oito meses, já está na
“fase de passagem” do Estágio Pré operatório para o Estágio das operações
concretas e por isso consegue, mesmo que com um pouco de hesitação, responder
corretamente às perguntas, utilizando-se das conquistas da reversibilidade e
descentralização e do abandono do raciocínio transdutivo e por meio dos processos
de assimilação e acomodação.
Em segundo lugar, apliquei o experimento da Inclusão de Classes nas
mesmas duas crianças. Para fazê-lo, coloquei sete bolas vermelhas e três bolas
azuis em uma caixa, apresentei-a para as crianças e iniciei os questionamentos.
Segue a descrição da entrevista.
Inclusão de Classes
1. Laís, cinco anos e dois meses
● Entrevistador: O que você vê dentro da caixa?
● Laís: bolas
● Entrevistador: elas são iguais?
● Laís: não, elas são coloridas
● Entrevistador: que cores elas têm?
● Laís: vermelha e azul
● Entrevistador: quantas bolas vermelhas tem?
● Laís: sete
● Entrevistador: E quantas bolas azuis tem?
● Laís: três
● Entrevistador: As bolas azuis e vermelhas são bolas, não é?
● Laís: sim
● Entrevistador: então na caixa tem mais bolas vermelhas ou mais bolas?
● Laís: (pensa um pouco) tem mais vermelha
● Entrevistador: Por que?
● Laís: porque vermelha tem sete, e azul tem três
● Entrevistador: mas não é tudo bola?
● Laís: sim
● Entrevistador: Então, tem mais bolas vermelhas ou mais bolas?
● Laís: vermelha (um pouco irritada)
● Entrevistador: Mas por que? o seu irmão falou que tem mais bola
● Laís: porque vermelha tem sete e azul tem só três, e sete é maior do que três
● Entrevistador: se eu juntasse todas as bolas do mundo, teriam mais bolas
vermelhas ou mais bolas?
● Laís: (pensa bastante) acho que mais bolas
● Entrevistador: Por que?
● Laís: porque o mundo tem muitas bolas
● Entrevistador: E aqui, tenho mais bolas vermelhas ou mais bolas?
● Laís: mais vermelhas

2. Pedro, sete anos e oito meses


● Entrevistador: O que você vê dentro da caixa?
● Pedro: tem bolas. Dez bolas
● Entrevistador: elas são iguais?
● Pedro: não, elas têm cores diferentes. Tem sete vermelhas e três azuis
● Entrevistador: As bolas azuis e vermelhas são todas bolas, não é?
● Pedro: sim
● Entrevistador: então na caixa tem mais bolas vermelhas ou mais bolas?
● Pedro: hum…tem mais vermelhas porque tem sete
● Entrevistador: Se juntar as vermelhas e azuis, tem quantas?
● Pedro: tem dez
● Entrevistador: Então, tem mais bolas vermelhas ou mais bolas?
● Pedro: acho que mais bolas
● Entrevistador: Por que?
● Pedro: quando você fala só bolas, você não tá falando de cor não é?
● Entrevistador: falo de bolas como um todo
● Pedro: então tem mais bolas
● Entrevistador: por que?
● Pedro: Porque bolas são todas as bolas na caixa, que são dez. E as
vermelhas são sete, e dez é maior do que sete
● Entrevistador: Tem certeza? Sua irmã falou que tem mais vermelhas
● Pedro: tenho, porque agora entendi que bolas são todas as bolas, sem contar
a cor

No que concerne ao experimento de Inclusão de classes, percebe-se


também que há um certo avanço cognitivo de Pedro em relação a Laís, o que se dá
pelo fator idade. Devido a Pedro já estar quase na Fase operacional concreta, ele
consegue criar algumas soluções lógicas e separar classes (a parte de um todo), e
assim assimilar e compreender qual o verdadeiro intuito dos questionamentos e
responder de maneira correta o que é perguntado. Enquanto isso, Laís ainda não
tem essas habilidades devido ao estágio cognitivo em que se encontra.

REFERÊNCIAS

MONTEIRO, Carlos Eduardo; CHIARO, Sylvia de. Reflexões sobre a Epistemologia


Genética e suas implicações para a educação. In: MONTEIRO, Carlos Eduardo;
CHIARO, Sylvia de. Fundamentos Psicológicos do Ensino e da Aprendizagem.
Recife: Editora Universitária UFPE, 2012. cap.4, p. 55-70

CUNHA, Marcus Vinicius da. Piaget - Psicologia Genética e educação. In: CUNHA,
Marcus Vinicius da. Psicologia da Educação. 4 ed. Rio de Janeiro: Lamparina,
2008. cap. 3.

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