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Licenciatura em Filosofia
Universidade Licungo
Quelimane
2019
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Universidade Licungo
Quelimane
2019
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Índice
Introdução..........................................................................................................................3
Objectivos..........................................................................................................................3
Geral:.................................................................................................................................3
Específicos.........................................................................................................................3
Metodologia.......................................................................................................................3
1.Os Limites da Comunicação: Ceptismo e Diferendo.....................................................4
2.Diferendo e Comunicação em Lyotard...........................................................................7
2.1.Breves Conceitos sobre Diferendo..............................................................................7
2.2.Abordagem Geral sobre Diferendo e Comunicação em Lyotard...............................8
Conclusão........................................................................................................................15
Bibliografia......................................................................................................................16
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Introdução
Jean-François Lyotard desenvolve, na sua obra Le différend, uma teoria sobre a
pluralidade de diferentes discursos que se manifestam num diferendo“. Nesta obra,
marcada pela viragem do paradigma da filosofia da consciência para a filosofia da
linguagem, ele pressupõe a existência de vários géneros de discurso, radicalmente
heterogéneos uns em relação aos outros, entre os quais, por ausência de um
metadiscurso avalizador, se desenvolve um diferendo indissolúvel. Portanto, neste
trabalho pretede-se abordar a questão do “Diferendo e comunicação em LYOTARD”.
Por outro lado, iremos abordar também a questão de cepticismo. O cepticismo e o
pensamento crítico são sempre importantes para alguém que se preocupe em saber a
verdade, isto é, a verdade tal como é entendida na ciência – a melhor verdade que é
possível tendo em conta o conhecimento existente e que, por definição, é sempre
provisória e aberta à mudança.
Objectivos
Geral:
Compreender o diferendo e o cepticismo em Lyotard
Específicos
Descrever o diferendo em Lyotard
Identificar as diferentes abordagens feitas por Lyotard em relação a cepticismo e
diferendo;
Destacar os principais pensamentos de Lyotard em relação ao diferendo.
Metodologia
Para o desenvolvimento do presente trabalho recorreu-se ao método bibliográfico, que
consistiu na leitura e diversas obras e artigos referente ao tema em estudo.
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directamente articu lado com propósitos éticos, ao passo que neste, isto é, no cepticismo
moderno pós-cartesiano, constitui ele um ancoramento sobre o qual a filosofia se
constrói, ao replicar-lhe e pretender ultrapassá-lo.
Mas a polarização entre o cepticismo pré-cartesiano e o cartesiano (e póscartesiano) não
se cinge a essa dicotomia de um cepticismo prático e relevante na reflexão moral e
política, por um lado, e de, por outro lado, um cepticismo teórico, abordável
essencialmente pela via gnoseológica e sem directamente possuir nenhum interesse
prático.
O novo contraste que temos de considerar é este: de um lado, se acha um cepticismo, o
antigo, cuja determinação filosófica integra essencialmente uma forte dimensão de
oposição a filosofias constituídas, do outro lado, está uma hipotética posição filosófica,
à qual se procura responder e contra a qual se edifica a filosofia, (SANTOS; ALVES &
SERRA, 2011:306).
Para o dizermos noutros termos, trata-se o primeiro de um cepticismo argumentado e
desenvolvido contra filosofias rivais, anteriores ou coevas, que ele rejeita e de que se
demarca, adoptando delas elementos que contra elas brande, chamemo-lhes dogmáticas
se assim o quisermos. Quanto ao outro cepticismo, o moderno (cartesiano e pós-
cartesiano), funciona ele próprio como ponto de repulsa e posição rejeitável, ou seja, a
tarefa da refutação incumbe sobretudo às filosofias que se determinam em lhe
replicando. Não é o cepticismo que se contrapõe a filosofias organizadas e
desenvolvidas, é ele que é apresentado por forma a que se lhe contraponham as
filosofias que o recusam desde o início.
No primeiro caso, o cepticismo é uma filosofia hipercrítica, controversa, bastante
polémica e polemizadora, e de certo modo “parasitária” das doutrinas de que se
demarca, a que se contrapõe e que refuta, muitas vezes utilizando-as em seu benefício.
No segundo caso, o cepticismo não passa de uma abstracção filosófica, de um
expediente técnico, de uma filosofia virtual que talvez só exista e seja postulada para ser
superada, ao ser respondida e em se lhe contra-argumentando, isto é, para que se
desenvolva na sua especificidade a resposta anticéptica.
Na perspectiva de SANTOS; ALVES & SERRA (2011:309) o cepticismo para Cavell
não se trata de um mero desafio teórico, mas de uma verdadeira ameaça permanente e
constante a pesar sobre as nossas vidas, a qual urge ser reflectida seriamente pela
filosofia, com ela tendo de se lidar comummente e no quotidiano. O confronto com essa
ameaça é de ordem essencialmente trágica. A figura do céptico deixa de ser um
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Em certo sentido, pode-se dizer que para Cavell o cepticismo tende a ser entendido, pelo
menos numa das suas variantes, como morte do mundo, morte dos outros, morte para o
sujeito, razão pela qual a luta contra ele pode também ser encarada como uma forma de
restauração do mundo.
escrita descontínua. É este diferendo que se nos revela através da questão da vítima
e logo em toda a experiência de perda dos meios de prova da injustiça, de que são
dadas várias definições, a impossibilidade de provar, a impossibilidade de argumentar, e
uma outra, a impossibilidade de apresentar, (SANTOS; ALVES & SERRA, 2011:320).
Nestas definições encontra-se a incapacidade de manter o discurso articulado ou a
unidade das frases, reuni-las numa valência comunicativa, com o referente, o
significado, o destinatário e o destinador. Lyotard distingue a frase do discurso
cognitivo, de prova, argumentação e apresentação, da frase da vítima, porque esta
esbarra em paradoxos, frase que atesta um estado de antes da palavra bem formada, isto
é, um sentimento.
Nesta abordagem, a distinção opõe o litígio ao diferendo. A frase de litígio poderá ser
entendida relativamente às regras do idioma dominante e inscrever-se numa transacção,
não a frase do diferendo, porque só significa numa ordem de signos não-negociável no
contexto das regras do idioma dominante – é incomunicável. Existe um exemplo: a
força de trabalho seria mais que uma mercadoria se esta se fizesse entender como força
de frase, não ficasse presa nos termos do julgamento do idioma e do direito da
economia. A frase que recepta a força de trabalho é mais alguma coisa do que uma
cedência temporária de uma propriedade, é uma outra inscrição. E é próprio desta
outra inscrição descobrir um outro direito mais conveniente de a apresentar do que a
economia. A frase continua-se numa outra frase, figura-se sobre uma ideia de
emancipação dos trabalhadores. É como se a inscrição litigiosa não fosse emancipatória
e o diferendo escapasse à articulação argumentativa: a inscrição do diferendo não é uma
inscrição litigiosa. Tal como SANTOS; ALVES & SERRA, (2011:324) afirmam:
Mas diremos que, paradoxalmente, o diferendo aparece porque recorre
ao idioma do litígio. Uma queixa exprime este diferendo, de acordo
com uma correlação das duas inscrições: o diferendo percebe-se através
do litígio, mesmo se uma incomensurabilidade pertence ao diferendo.
Por isto, este diferendo parece dependente de um grau de
reconhecimento. Reenvio do diferendo ao litígio, a que pertence o seu
jogo de signo, mas, relacionado com o signo, este signo equivale a uma
expressão de sentimento.
Por sua vez, DOMINGOS (2008:5) avança que este sentimento joga um papel
importante nos litígios, constituindo a sua parte sempre escondida: é o diferendo, pois,
que governa o litígio. Auschwitz é o exemplo do diferendo sem litígio, veredictos e
frases, onde a realidade da injustiça sofrida pela vítima é objecto de apagamento, o
modo de realidade que o silêncio manifesta. Desligado, mesmo, no que se refere ao
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Este acontecimento é um conflito, já que faz com que a frase encadeie diversamente em
cada género de discurso diferente. É, assim, num quadro de conflito de géneros, dado na
vitória de um encadeamento sobre os outros, estes outros esquecidos, reprimidos, que a
frase é encadeada.
Que uma frase vem fazer parte de um encadeamento de um universo de frases. Joga o
jogo de outra frase. Não tanto pela via da metáfora como por uma maneira de afectar
um regime de signos a uma ideia nova. A ser assim, uma frase não se diz a ela mesma,
encontra-se restituída nos termos do diferendo – no idioma de uma outra frase por
desapropriação, (LYOTARD, 1993).
Não jogamos com a linguagem e neste sentido não existe sequer jogo de linguagem,
fala-se simplesmente de articulações dos géneros de discurso. E as articulações não
podem ser resolvidas por uma linguagem, comunicacional, agitada tão só pelas
vontades, paixões, intenções, que os humanos lhe apropriam, instrumentalizando-a.
Mas é reconhecido: “Cada frase é em princípio o jogo de um diferendo entre os géneros
de discurso, qualquer que seja o seu regime. Este diferendo procede da questão: Como
encadear? Que acompanha uma frase. E esta questão procede do nada que ‘separa’ esta
frase da ‘seguinte” (SANTOS; ALVES & SERRA, 2011:328).
É portanto o nada que abre a finalidade de cada frase ao humano. Diz Lyotard: “No
diferendo, algo solicita ser metido em frases”. Então os humanos que crêem pois ter
onde frasear em benefício da comunicação de informações aprendem que, mais do que
se servirem da linguagem, como de um médium que permitisse a instituição de idiomas
que não existissem ainda, eles são usados pela linguagem, na medida em que sempre o
que pode ser fraseado no presente excede aquilo que é por eles fraseado. Este estado da
linguagem comporta o silêncio, (LYOTARD, 1993:46).
Aqui é o sentimento de falta de uma nova frase que domina a força de frase de encadear
a outra frase e assim ininterruptamente. Por aqui vê-se que a linguagem não será a
comunicação de informação, no âmbito de uma frase que recorre a uma outra frase e
que prolonga o diferendo. A partir desta atitude do frasear institui-se o diferendo, que
consiste em, como diz Lyotard: “instituir novos destinatários, novos destinadores,
novas significações, novos referentes para que o dano possa exprimir-se e o queixoso
deixe de ser vítima”. Isso exige uma linguagem instável, frásica, do instante, e outras
regras de formação e encadeamento de frases.
Segundo DOMINGOS (2008) o diferendo é escrito nos modos de escrita da filosofia e
da política que tem que ver com uma necessidade de um encadeamento das frases e uma
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Conclusão
Em jeito de conclusão, pode se dizer que ao contrário de um litígio, um diferendo seria
um caso de conflito entre duas partes (no mínimo) que não poderia ser decidido
equitativamente por falta de uma regra de julgamento aplicável às duas argumentações.“
Quando um diferendo é considerado e tratado como um litígio, quando, portanto, com o
objectivo de conseguir uma arbitragem do diferendo, a regra de julgamento de um modo
de discurso seja aplicada a outros modos de discurso, comete-se uma injustiça em
relação aos mesmos.
Por sua vez, percebeu-se também que o cepticismo é a arte de questionar e duvidar de
afirmações e reivindicações extraordinárias, tendo como alicerce fundamental a
evidência científica acumulada. O cepticismo na verdade faz parte do método científico,
que requer a infatigável experimentação e revisão de factos e teorias.
A atitude do céptico é a de questionar o mundo que o rodeia, procurando provas
científicas e racionais antes de aceitar alegações extraordinárias como verdade e,
esforçar-se por encontrar explicações alternativas simples e naturais para fenómenos
que à partida, com uma análise superficial, parecem ser de origem sobrenatural. A
ciência está na base do movimento céptico e o cepticismo é uma parte fulcral desta, caso
contrário não haveria forma de eliminar ideias erradas.
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Bibliografia
CAVELL, Stanley, In Quest of the Ordinary, Lines of Skepticism and Romanticism,
Chicago, Chicago University Press, 1988.
CAVELL, Stanley, Philosophical Passages: Wittgenstein, Emerson, Austin, Derrida,
Oxford, Basil Blackwell, 1995.
LYOTARD, J.-F. Apostila às narrativas. In Lyotard, J.-F.: O pós-moderno explicado às
crianças. Correspondência 1982-1985. (2.ª ed.) Lisboa: Dom Quixote. 1993.
SANTOS, J. M.; ALVES, P. M.S. & SERRA, J. P. (Orgs.).Filosofias da Comunicação.
Portugal, Covilhã, UBI, LabCom, Livros LabCom, 2011.
DOMINGOS, José António. Diferendo e Comunicação em Lyotard. www.lusofonia.net.
Lisboa. 2008.