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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE TEATRO
SALVADOR
2022
ANNE CATARINE ARAUJO ALVES
SALVADOR
2022
TERREIRO - MEDIAÇÃO TEATRAL NA CONTEMPORANEIDADE:FESTIVAIS
DE TEATRO NO INTERIOR BAIANO EM ESPAÇOS NÃO CONVENCIONAIS.
RESUMO: Esse texto apresenta o resultado da atividade expositiva com o tema: Mediação
teatral em festivais de teatro no interior baiano em espaços não convencionais – Dificuldades e
oportunidades. O trabalho foi desenvolvido com a parceria do Programa de Pós-graduação da
Universidade Federal da Bahia (PPGAC) e o Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia
(FIAC) - Diálogos-Terreiros: Mediação Teatral na Contemporaneidade - Seminário
Internacional de Curadoria e Mediação em Artes Cênicas 2022. O texto desenvolve reflexões
acerca da mediação teatral no âmbito dos festivais de teatro no interior do estado da Bahia, com
intuito de compartilhar estas vivências, estabelecendo diálogos com os participantes para
estabelecer relações com as práticas e técnicas de trabalho desenvolvidas nos festivais de teatro
do interior do estado em municípios que não possuem espaços convencionais para atividades
teatrais.
1 INTRODUÇÃO
O desafio de quem trabalha no universo teatral é encontrar estratégias efetivas para mediar e
potencializar a relação da obra com o espectador, identificando o público potencial e
estabelecendo esse elo sinérgico. Constatando que o público do interior não se constitui
necessariamente uma plateia habitual do teatro, é necessário observar atentamente, pois,
estamos também desenvolvendo ações de democratização da cultura e acesso à arte através da
mediação.
O grande desafio é repensar o trabalho desenvolvido na mediação percebendo o perfil
sociocultural da plateia potencial para cada atividade a ser trabalhada com um público diverso
e heterogêneo. Nessa perspectiva, esse trabalho apresenta ainda a seguinte reflexão: quais
estratégias adotar para trabalhar a mediação teatral, em cidades onde não dispomos de teatros,
nem de centros culturais convencionais? Como estreitar os diferentes contextos sociais e
territoriais presentes nesse cenário exposto? “O acesso físico constitui-se na viabilização da ida
do público ao teatro. Ou vice-versa, da ida do teatro até o público, ou seja, na difusão de
espetáculos por regiões social e economicamente desfavorecidas” (DESGRANGES 2018).
É partindo dessa provocação e transitando pelo universo simbólico do interior da Bahia e da
memória afetiva dos participantes que busquei apoiar minha metodologia de trabalho.
Discutindo a mediação teatral como o espaço plural e transversal de conhecimento, as
possibilidades e potencialidades que podemos trabalhar dentro do contexto afetivo, com a
memória pessoal, buscando a identificação, o pertencimento do público com a experiencia do
trabalho. “Memória que é a de um espaço e de um tempo, memória no interior da qual vivemos,
como uma ilha entre dois mares: um que dizemos passado, outro que dizemos futuro”.
(SARAMAGO, 2008). Para Saramago a memória transita sobre o passado e a ação do futuro.
De um modo geral a memória nos indica experiências singulares na vida de cada indivíduo,
mas não determina o seu futuro. Propomos uma experiência de trabalho voltada para a memória
dos participantes com suas lembranças, registros pessoais e vivências, para que correlacionando
com o território do interior, pudessem servir de ponto de partida para importantes contribuições
no trabalho de mediação teatral.
As respostas foram diversas, e envolveram desde memórias felizes como: “bolo quentinho da
tia” até memórias tristes como: “não volta mais porque a avó que morava no interior morreu de
covid-19”. Depois disso, solicitei que cada um deles enchesse uma bexiga e registrasse por
escrito suas memórias afetivas ou as sensações que o território do interior lhe evocava. Quando
todos compartiram verbalmente suas memórias, eu as uni, formando um cacho de bolas e
utilizando de uma narrativa metafórica expliquei que como os balões assim é a plateia de um
espetáculo, cada espectador possui sua vivência, sua memória, sua história e, deste modo,
precisamos conhecê-las para identificar o elo em que as possibilidades de gerar conhecimento
sejam eficientes e as vivências culturais possam ser efetivadas.
Depois desse momento, foram entregues algumas fotos de público em espaços não
convencionais como: quadras de esportes, praças, auditórios escolares. As fotos eram do
Festival de Teatro da Caatinga que acontece em Irecê, cidade do interior baiano, entretanto, não
possuíam identificação e nem expliquei do que se tratavam. Houve um intervalo para que eles
pudessem analisar as fotos e quando questionados sobre: “qual evento você acredita que estava
acontecendo nestes locais?”, cerca de 80% dos participantes relacionavam a quantidade de
público nas fotos a shows musicais e/ou reunião escolar. Apenas duas pessoas que conheciam
minha pesquisa sugeriram que se trataria de um evento teatral. Então foi revelado que se tratava
de registo de público de ações do Festival de Teatro da Caatinga, evento que acontece
anualmente em Irecê e está na sexta edição, com um público fidelizado. Na etapa de finalização
eu solicitei que eles dessem sugestões de como poderíamos trabalhar mediação teatral nesses
festivais realizados no interior onde não há espaços culturais formais. As contribuições foram
diversas, mas a grande predominância foi voltada para o trabalho com as escolas. Quando o
participante volta seu olhar para si, em suas memórias como ponto de partida, é possível trilhar
e desenvolver um pensamento mais condizente com a realidade trabalhada no caso do interior
e não a que ele vive, por exemplo, hoje na capital.
3 CONCLUSÃO
O desafio de quem trabalha no interior, quando não dispõe de espaços culturais é ter que
desenvolver meios de tornar a experiência do espectador o mais sensorial possível
democratizando o acesso físico com o intuito da formação de novos espectadores. Os diálogos
foram importantes e diversos, o compromisso de nesta atividade conectar os participantes com
a experiência de mediação cultural nos Festivais do interior da Bahia foi um importante elo
despertado.
Donde se conclui que a mediação é uma importante ferramenta para a mobilização, estimulando
a autonomia, democratizando a vivência cultural, pois, esta integrará o público à obra artística
em sua transversalidade.
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA