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3 A COZINHA CONTEMPORÂNEA
Apresentação
Neste bloco, estudaremos a Cozinha Contemporânea, o que a diferencia da Cozinha
Moderna e quais as transformações que ela trouxe à Gastronomia.
Vamos perceber um marco bastante claro que começa a distinguir a cozinha praticada
até o começo dos anos 2000 para a cozinha que se desenvolve a partir da revolução
promovida pelos espanhóis e também pelo surgimento de novas interpretações, novos
movimentos que se inserem na chamada “cozinha tecnoemocional”.
como espumas, esferas que explodem na boca, cozimento a vácuo sob baixa
temperatura, novos espessantes, geleias que se solidificam quentes, “plásticos” e
“tecidos” comestíveis, entre inúmeras outras ideias aparentemente insanas.
No início dos anos 2000, a Gastronomia Molecular foi ganhando um espaço e destaque
cada vez maiores, tendo suas técnicas se espalhando aos poucos, bem como alguns de
seus equipamentos que facilitaram muitos dos procedimentos existentes.
Três chefs então se destacaram mais proeminentemente. Heston Blumenthal, Homaru
Cantu e, o maior deles, Ferran Adrià, responsável por colocar a Espanha na vanguarda
da Gastronomia Contemporânea.
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reorganizar muitas vezes esse mesmo ingrediente, mas numa apresentação inovadora,
provocativa.
Algumas das brincadeiras sensoriais que surgiram nesse movimento vanguardista foi o
da confusão sensorial. Imagine que você recebe um prato com uma cenoura, mas ao
colocá-la na boca sente o sabor de peixe com trufas brancas… Essa desconstrução e
reconstrução dos alimentos permitiu que os chefs extrapolassem os limites da ideia de
que havia até então de “alimento”. Um trabalho bastante provocativo e que causou
muitas discussões acaloradas, em especial com o chef Santi Santamaria se
contrapondo ferozmente ao que seus colegas estavam fazendo.
Santamaria defendia o resgate da relação do indivíduo com o alimento e o terroir, a
preservação da cultura alimentar familiar, as receitas tradicionais. Era, em suma, um
entusiasta da modernização da cozinha preservando suas origens.
A chamada cozinha tecnoemocional acabou gerando, assim, uma cisão inicial na
Gastronomia. De um lado, os que viam nessa vanguarda novas possibilidades de
exploração técnica para provocar novas sensações e emoções nas pessoas. De outro,
os que diziam que a cozinha molecular não passava de uma cozinha fria e sem
sentimentos, sendo uma exploração da técnica pela técnica apenas e que estava
transformando o alimento e a nossa relação com ele em algo sem sentido, quebrando
a conexão do indivíduo com o alimento e do alimento com ele mesmo.
Aqui não estamos tentando tomar partido de uma ou outra corrente de pensamento,
apenas apresentando a discussão. Cabe a você, aluno, chegar às próprias opiniões de
acordo com seu interesse em pesquisar mais sobre o tema e ver o que faz mais sentido
em sua visão profissional.
O fato concreto é que todo esse movimento foi irreversível, suas transformações
acabaram influenciando mesmo aqueles que não são adeptos diretamente da cozinha
molecular ou da cozinha tecnoemocional. Seja porque algumas técnicas e
equipamentos ocuparam lugares centrais nas cozinhas, ou então, porque a ideia de
oferecer uma experiência multissensorial e provocativa seja interessante.
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que haja uma equação tempo X temperatura ideal para cada alimento. Para se fazer o
Ovo Perfeito, por exemplo, é necessário que se mantenha o ovo por 1h35min a 63 °C.
Dessa forma, se obtém um ovo cuja clara está totalmente coagulada e firme, mas não
dura, e a gema cremosa como uma manteiga.
Mais do que a Cozinha Molecular em si, propagada por Adrià, apelidado de Alquimista
da Cozinha, o movimento da vanguarda espanhola trouxe uma renovação na linha de
frente da Gastronomia mundial, dando espaço e oportunidade para grandes chefs de
diversos outros países ganharem destaque e prestígio, incluindo chefs brasileiros.
Ferran Adrià viajou muitas vezes mundo afora com suas pesquisas e um dos lugares
pelo qual ficou mais encantado foi justamente o Brasil por cauda de tantos e tantos
alimentos desconhecidos por ele, tanto assim que se encantou pela tapioca e
desenvolveu diversos pratos com esse insumo tão típico de nossa culinária.
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Modo de preparo:
Ferver a água com o parmesão ralado.
Manter em simmering por 1 hora.
Coar, preservar o líquido e descartar os sólidos.
Levar à geladeira até resfriar completamente.
Aquecer novamente o líquido junto com o agar agar.
Levantar fervura e desligar.
Com a utilização de uma seringa com bico de alimentação acoplado a uma cânula
hospitalar de PVC, sugar o líquido ainda quente e imergir em água bem gelada para
solidificar o espaguete.
Extrair o espaguete fora da água, em um recipiente, empurrando o êmbolo da seringa.
Esferas de ervilha
Etapa 1:
Ervilha congelada ̶ 300 g
Água ̶ 375 g
Processar as ervilhas com água fervente até obter uma mistura lisa.
Coar, reservar o líquido concentrado e descartar os sólidos.
Resfriar.
Etapa 2:
Concentrado de ervilha da etapa anterior ̶ 500 g
Alginato de sódio ̶ 2,5 g
Etapa 3:
Cloreto de cálcio ̶ 6,5 g
Água ̶ 1 L
Conclusão
Até este ponto da disciplina, pudemos conhecer a transformação da Gastronomia nos
últimos 20 anos em um processo que na verdade se iniciou entre as décadas de 1970 e
1990 da renovação da Gastronomia, seja pela Nouvelle Cuisine, seja pela Cozinha
Molecular.
Apesar de parecer já algo consolidado, um processo de 20 anos ainda é bastante
recente, ainda que a força da vanguarda espanhola tenha sido realmente poderosa e
influente. Dentro de uma perspectiva histórica, até mesmo a Nouvelle Cuisine é
recente, pois 50 anos de sua aplicação é pouco tempo perto de três séculos de
desenvolvimento da Gastronomia Clássica.
Referências
BARCELOS, G. Banquete da psiquê, imaginação, cultura e psicologia da alimentação.
Petrópolis: Vozes, 2017.
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