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Limitações às doações em

período eleitoral, enquanto


doador ou donatário
Uma pesquisa AJL baseada em doutrina, jurisprudência, TCDF, TCU, TSE e STF.

o Direito eleitoral - José Jairo Gomes – 16ª Edição;


(Link: https://drive.google.com/drive/folders/1LC0TaOZ0ys86gshAdVaB05QeAhAJXkVX)

21.7.2.9: Distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios pela Administração Pública ou


por entidade vinculada a candidato – art. 73, §§ 10 e 11

O artigo 73, § 10, da LE (acrescido pela Lei n o 11.300/2006)


estabelece que:

“No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição


gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração
Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de
emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em
execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o
Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua
execução financeira e administrativa.” Claro está que a regra é a
proibição de distribuição. Segundo se tem entendido, para a
configuração da presente conduta vedada “não é preciso demonstrar
caráter eleitoreiro ou promoção pessoal do agente público, bastando
a prática do ato ilícito. [...]” (TSE – AgR-REspe n o 36026/BA – DJe, t.
84, 5-5-2011, p. 47).

Note-se, porém, que o fato deve ser considerado à luz do princípio da proporcionalidade. Em
ano eleitoral, a Administração Pública só pode distribuir gratuitamente bens, valores ou
benefícios se ocorrer alguma das hipóteses legais especificadas, a saber: calamidade pública,
estado de emergência ou existência de programas sociais autorizados em lei e já em execução
orçamentária no exercício anterior. Ainda assim, o artigo 73, IV, da Lei n o 9.504/97 veda o uso
político--promocional dessa distribuição, que deve ocorrer da maneira normal e costumeira,
sem que o ato seja desvirtuado de sua finalidade estritamente assistencial. A última das
hipóteses permissivas pressupõe a existência de política pública específica, prevista em lei e
em execução desde o exercício anterior, ou seja, já antes do ano eleitoral. Quer-se evitar a
manipulação dos eleitores pelo uso de programas oportunistas, que, apenas para atender
circunstâncias políticas do momento, lançam mão do infortúnio alheio como tática deplorável
para obtenção de sucesso nas urnas. A esse respeito, tem-se pronunciado a Corte Superior no
seguinte sentido:

“[...] 4. A doação de manilhas a famílias carentes, sem previsão do


respectivo programa social em lei prévia, configura a conduta vedada
do art. 73, § 10, da Lei 9.504/97, sendo irrelevante o fato de as
doações supostamente atenderem ao comando do art. 23, II e IX, da
CF/88. Manutenção da multa imposta ao recorrente. [...]” (TSE –
REspe n o 54588/MG – DJe 4-11-2015, p. 15).

“Conduta vedada. Distribuição gratuita de bens, valores ou


benefícios. 1. À falta de previsão em lei específica e de execução
orçamentária no ano anterior, a distribuição gratuita de bens, valores
ou benefícios, em ano eleitoral, consistente em programa de
empréstimo de animais, para fins de utilização e reprodução,
caracteriza a conduta vedada do art. 73, § 10, da Lei n o 9.504/97. 2.
A pena de cassação de registro ou diploma só deve ser imposta em
caso de gravidade da conduta. Recurso ordinário provido, em parte,
para aplicar a pena de multa ao responsável e aos beneficiários” (TSE
– RO n o 149655/AL – DJe, t. 37, 24-2-2012, p. 42-43).

“1. A instituição de programa social mediante decreto não atende à


ressalva prevista no art. 73, § 10, da Lei n o 9.504/97. 2. A mera
previsão na lei orçamentária anual dos recursos destinados a esses
programas não tem o condão de legitimar sua criação. 3. Agravo
regimental não provido. Decisão: O Tribunal, por unanimidade,
desproveu o agravo regimental, nos termos do voto da Relatora” (TSE
– AgR-AI n o 116967/RJ – DJe 17-8- 2011, p. 75).

“1. A instituição de programa social mediante decreto, ou por meio


de lei, mas sem execução orçamentária no ano anterior ao ano
eleitoral não atende à ressalva prevista no art. 73, § 10, da Lei n o
9.504/97. [...]” (TSE – AgRREspe n o 36026/BA – DJe, t. 84, 5-5-2011,
p. 47).

Não há clareza no texto legal quanto ao alcance da vedação. A proibição de distribuição atinge
simultaneamente a Administração Pública federal, estadual e municipal, ou somente a da
circunscrição do pleito? Ao que parece, a restrição só incide na circunscrição do pleito. Não
fosse assim, de dois em dois anos as ações estatais concernentes à assistência social, em todo
o País, ficariam parcialmente paralisadas durante todo o ano eleitoral, o que não é razoável.
Não se olvide que a distribuição de bens e benefícios não poderá ser usada politicamente, em
prol de candidatos, partidos ou coligações, sob pena de incidir o artigo 73, IV, da Lei Eleitoral.

Outro aspecto a ser considerado refere-se à sanção para as condutas vedadas no enfocado §
10. O descumprimento deste rende ensejo às sanções de cassação de registro, de diploma e
multa, bem como à inelegibilidade (LC n o 64/90, art. 1 o , I, j)

JURISPRUDÊNCIA:

0001000-80.2010.6.00.0000
PET - Petição nº 100080 - BRASÍLIA - DF
Acórdão de 20/09/2011
Relator(a) Min. Marco Aurélio
Publicação:
DJE - Diário da justiça eletrônico, Tomo 214, Data 11/11/2011, Página 54

EMENTA:
DOAÇÃO DE BENS - PODER PÚBLICO. A teor do § 10 do artigo 73 da Lei nº 9.504/1997, é
proibida a doação de bens em época de eleições, não cabendo distinção quando envolvidos
perecíveis.
Decisão:
O Tribunal, por unanimidade, indeferiu o pedido de reconsideração, nos termos do voto do
Relator.
Partes:
REQUERENTE: IBAMA - INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS
NATURAIS RENOVÁVEIS
Advogado(a): PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
Indexação
(E), Caracterização, (IJ), conduta vedada, agente público, (F), instituição federal, meio
ambiente, doação, bens perecíveis, apreensão, efeito, poder de polícia, ano eleitoral, (A),
ausência, previsão legal, exceção, Lei das Eleições (1997). (DSV)
Catálogo
El0001 - CAMPANHA ELEITORAL - AGENTE PÚBLICO
Referência Legislativa:
LEG.: Federal LEI ORDINÁRIA Nº.: 9504 Ano: 1997 (LEL - Lei Eleitoral - Normas para as Eleições)
Art.: 73 Par.: 10
Observação:
(05 fls.)

0001000-80.2010.6.00.0000
PET - Petição nº 100080 - BRASÍLIA - DF
Resolução nº 23291 de 01/07/2010
Relator(a) Min. Marco Aurélio
Publicação:
DJE - Diário da justiça eletrônico, Data 24/08/2010, Página 110
EMENTA:
DOAÇÃO DE BENS - ANO ELEITORAL. A teor do disposto no artigo 73, § 10, da Lei n°
9.504/1997, é proibida a doação de bens no ano em que se realizarem as eleições.
Decisão:
O Tribunal, por unanimidade, assentou que incide na espécie a proibição legal, nos termos do
voto do Relator.
Indexação
(E), Caracterização, (IJ), conduta vedada, (F), Administração Pública, doação, bens,
período eleitoral, (A), existência, proibição legal, aplicação, artigo, Lei das Eleições (1997).
(RRA)
Catálogo
El0001 - CAMPANHA ELEITORAL - AGENTE PÚBLICO
Referência Legislativa:
LEG.: Federal LEI ORDINÁRIA Nº.: 9504 Ano: 1997 (LEL - Lei Eleitoral - Normas para as Eleições)
Art.: 73 Par.: 10
Ver Também:
Vide: PET Nº: 100080 (Pet) - DF, Ac. DE 20/09/2011, Relator(a) Min. Marco Aurélio - Pedido de
reconsideração. Inteiro Teor
Observação:
(04 fls.)

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