Você está na página 1de 2

A Ciência da Lógica de Hegel apresenta o uno como a relação pura e simples dele

consigo próprio, ou seja, a imediatidade do ser-para-si como negação que relaciona. O


vazio, por sua vez, é a qualidade dessa imediatidade, a negação indeterminada.
Enquanto relação consigo mesmo, o uno não se relaciona com um outro que não seja
um outro de si. Assim, o outro da relação não é uma negação indeterminada, como
vazio, mas o próprio uno, que na imediatidade da relação consigo é “mais” do mesmo
de si. Em outras palavras, podemos afirmar que o uno é a relação simples que se
relaciona imediatamente consigo próprio, assim, possui o negativo também nele
próprio. Portanto, tem o mesmo em si e por si mesmo.
Na medida em que a relação negativa é consigo mesmo (imanente) e o uno é
sempre ele mesmo, então, o que há é uma repulsão de si. Isso equivale a dizer que
“a relação negativa do uno consigo é repulsão”. Essa repulsão é a relação do uno
consigo mesmo em sua igualdade e simplicidade; é o suprassumir do ser-outro,
sendo este ser-outro o próprio uno como negação que se relaciona. Ou seja, é “o
pôr dos múltiplos unos”, o seu movimento para fora que gera apenas unos. Hegel
identifica tal repulsão como aquela que em si, ou segundo o conceito. O segundo modo
de repulsão já é externo, ou seja, é o afastar-se entre si dos unos, pois, postos um face ao
outro, são entes que se relacionam consigo. Se uns frente aos outros relacionam-se
apenas consigo mesmos, então, a pluralidade não é um ser-outro, mas uma
determinação exterior ao uno, isto é, decorrente daquela segunda repulsão que é externa
e que nada concerne aos unos mesmos, pois estes permanecem o que são.
Em uma breve digressão acerca da monadologia leibniziana, compreendemos a mônada
de Leibniz enquanto uma substância sem partes e sem extensão, assim, indivisível e
espiritual. Por ser uma estrutura una e espiritual, só pode ser eterna e um todo em si e
por si. É obra da criação de Deus, cabendo somente a Ele, substância espiritual
originante, criá-la ou anulá-la. Como na natureza não existem dois entes perfeitamente
iguais entre si, então, as mônadas, constituintes fundamentais de tudo, são sempre
diferentes entre si e idênticas apenas consigo mesmas. Uma mônada, por independer da
outra e ser ela mesma um todo do real, é todo o mundo sob determinada perspectiva.
Em seus infinitos graus de clareza e distinção, são a percepção e a apetição as suas
atividades fundamentais. A infinitude de suas diferenças é que possibilita a diversidade
entre os seres, por exemplo: as que são providas de memória constituem a alma dos
animais, e as que são dotadas de razão constituem os seres humanos. Por fim, a
totalidade das mônadas consiste no universo e é a divindade, substância primordial, que
as origina por “fulguração contínua”, ou seja, elas dimanam de Deus continuamente,
perpetuando a criação.
Hegel, em sua observação à mônada de Leibniz, afirma que o mesmo progrediu até a
relação do uno consigo mesmo e a pluralidade como infinitude externa a eles. Desse
modo, a mônada é todo um mundo fechado, inclusive, já pressupostas as múltiplas
representações internas desse mundo, mesmo que a “sua determinação de ser para si”
em nada seja por isso afetada. Leibniz aceita a pluralidade como uma pura dimanação
de Deus ao modo de uma “fulguração contínua, de momento em momento”, ou seja,
não a compreende como repulsão de si devido a sua negação que a si somente se
relaciona. Portanto, Hegel afirma que, para Leibniz, a pluralidade já é dada
arbitrariamente, não havendo a explicitação de um movimento em si que a explique,
mas é meramente compreendia em sua “exterioridade abstrata”; ainda mais, a
pluralidade, assim, é uma determinação rígida que se relaciona unicamente com “a
mônada das mônadas”, a divindade suprema, ou apenas com as ideias do filósofo que as
pensa.

Você também pode gostar