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UNIDADE CURRICULAR DE

Cálculo Comercial e Financeiro


CAPÍTULO 6
Fontes de financiamento de
longo prazo
LICENCIATURAS EM
Contabilidade e Auditoria
Contabilidade e Gestão Pública

ANO LETIVO DE 2022/2023


 ANA PAULA QUELHAS
CONTEÚDOS

▪ Noção e caraterísticas dos empréstimos clássicos


▪ Sistemas de amortização de empréstimos (amortização única e
reembolsos periódicos)
▪ Construção de quadros de amortização
▪ Confronto entre os sistemas de amortização com reembolsos
periódicos

Nota: recomenda-se a leitura das páginas 319-412 (Capítulo 6) do Manual de


Matemática Financeira, bem como dos Exercícios Resolvidos correspondentes. 2
QUESTÕES PRÉVIAS

▪ Entre
as fontes de financiamento de médio e longo prazo,
vamos dedicar a nossa atenção aos empréstimos financeiros,
pela função que desempenham no contexto do tecido
empresarial português.

▪ Existem vários critérios segundo os quais os empréstimos


podem ser classificados; ao Cálculo Financeiro interessa
conhecer, de modo particular, qual o processo de amortização
adotado.
EMPRÉSTIMOS FINANCEIROS
▪ São uma entre as várias fontes de financiamento das empresas.
▪ Um empréstimo financeiro é o contrato de mútuo oneroso, em
que a coisa mutuada é o dinheiro. Neste caso, o mutuário fica
obrigado a:
 pagar juros;
 reembolsar o capital inicial (de notar que não existe a
obrigação de reembolsar o capital no caso dos empréstimos
perpétuos, que, devido às suas caraterísticas, apenas são
emitidos pelo Estado).
PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA
AMORTIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS
No momento em que se contrata o empréstimo, deve haver
igualdade entre:

➢ o valor atual das obrigações do mutuante;

➢ e o valor atual das obrigações do mutuário.

Este princípio deve observar-se independentemente do processo de


amortização adotado
PROCESSOS DE AMORTIZAÇÃO

 Amortização única com pagamento periódico de juro


simples
 Amortização única com pagamento antecipado de juro
composto
 Amortização única com acumulação de juro composto
 Amortização com reembolsos periódicos

 a) Sistema de amortização progressiva


 b) Sistema de amortização constante
 AMORTIZAÇÃO ÚNICA COM
PAGAMENTO PERIÓDICO DE
JURO SIMPLES
▪ O juro é pago período a período, no montante de Jk = C0  i;

▪ No momento do vencimento o encargo do mutuário é de C0 +


C0  i;

▪ Atendendo à periodicidade constante com que ocorre o


pagamento de juros, estamos perante uma renda, que
designaremos por renda de remuneração.
 AMORTIZAÇÃO ÚNICA COM
PAGAMENTO ANTECIPADO DE JURO
COMPOSTO
▪ No momento atual, o mutuário pagará, a título de juros, o
montante de juro composto atualizado, donde se obtém
J0 = C0 [1 - (1 + i )-n]
▪ No momento do vencimento liquidará o montante de
capital mutuado, isto é, C0.
▪ Por sua vez, o montante líquido do financiamento
corresponderá a C0 – J0.
▪ Esta modalidade é conhecida na gíria bancária como
havendo um pagamento de juros “à cabeça”.
 AMORTIZAÇÃO ÚNICA COM
ACUMULAÇÃO DE JURO COMPOSTO
▪ Novencimento, o mutuário terá que entregar ao mutuante
o capital inicial acrescido dos juros compostos, de acordo
com a fórmula
Cn = C0 ( 1 + i )n

▪ Atendendo a que o montante total a satisfazer pode


ascender a valores muito elevados, o devedor poderá
constituir um fundo de amortização.
 FUNDO DE AMORTIZAÇÃO
(Sinking Fund) (1)
▪ Trata-sede um fundo de poupança constituído pelo
mutuário com o objetivo de satisfazer os encargos
decorrentes de um empréstimo;
▪ Tendo um carácter meramente facultativo, este sistema
não permite garantir que na data do vencimento o valor do
fundo corresponda efetivamente ao valor em dívida;
▪A existência de um fundo de amortização é, muitas vezes,
designada por sistema americano, uma vez que se
encontra fortemente vulgarizada nos EUA;
 FUNDO DE AMORTIZAÇÃO
(Sinking Fund) (2)
▪ Muitasvezes, a existência de outras prioridades faz com
que os excedentes financeiros de uma determinada
entidade sejam desviados, em vez de encaminhados para o
fundo;
▪ Embora a possibilidade de constituição de um fundo de
amortização tenha sido apreciada em , tal revela-se
plausível no âmbito de qualquer empréstimo, bem como
em todas as situações em que o objetivo seja o da
acumulação de um determinado montante num momento
futuro.
 QUADROS DOS FUNDOS DE
AMORTIZAÇÃO (1)
▪ Osquadros relativos aos fundos de amortização permitem
apreciar o modo como se forma a quantia subjacente ao
fundo.
▪ Na versão mais simplificada, comportam as seguintes
colunas:
 indicação quanto ao tempo;
 montante da prestação a colocar no fundo em cada
período;
 juro produzido em cada período;
 valor acumulado no final de cada período.
 QUADROS DOS FUNDOS DE
AMORTIZAÇÃO (2)
▪ Emfunção dos dados do problema, para além destas, os
quadros podem comportar outras colunas, tais como:

 indicaçãoquanto à taxa de juro praticada;


 montante de eventuais transferências (tanto a débito,
como a crédito);
 montante do saldo final.
 SISTEMAS DE AMORTIZAÇÃO
COM REEMBOLSOS PERIÓDICOS (1)

▪ Nestes sistemas de amortização, ao invés do que sucedia


nos anteriores, há sempre lugar à constituição de uma
renda – renda de amortização, de termos constantes ou
variáveis – uma vez que os termos são efetivamente
entregues ao mutuante, reduzindo o valor em dívida.
 SISTEMAS DE AMORTIZAÇÃO
COM REEMBOLSOS PERIÓDICOS (2)
▪ Cada termo da renda é constituído por duas parcelas:
 parcela de juro (quota de juro), calculada sobre o valor
do capital em dívida no início de cada período,
designada por Jk;

 parcelade reembolso (quota de capital), que amortiza


parte do capital em dívida, que notaremos por Mk.
 TERMOS DA RENDA DE
AMORTIZAÇÃO (1)
▪ O termo genérico da renda de amortização relativo a um dado
período k é dado por:

Ck = Jk + Mk

▪ Calculamos Jk tendo por base o capital em dívida no início do


período.

▪ Deste modo, Jk será sempre decrescente, em todos os sistemas de


amortização periódica considerados, uma vez que o montante do
 TERMOS DA RENDA DE
AMORTIZAÇÃO (2)
▪ Os sistemas de amortização que iremos aprofundar resultam do
estabelecimento de hipóteses quanto à evolução de Ck e Mk.

▪ Se o termo da renda de amortização for constante ( C )  SISTEMA


DE PRESTAÇÕES CONSTANTES ou SISTEMA FRANCÊS

▪ Se a quota de capital for constante ( M )  SISTEMA DE


AMORTIZAÇÕES CONSTANTES ou MÉTODO ITALIANO.
 OUTROS SISTEMAS DE
AMORTIZAÇÃO COM REEMBOLSOS
PERIÓDICOS
▪ Entre os sistemas de amortização com reembolsos
periódicos, para além das duas modalidades apontadas,
destacamos, ainda, os sistemas de amortização com
prestações variáveis (em progressão aritmética ou em
progressão geométrica) e o sistema alemão.

▪ Asduas modalidades eleitas são, porém, as mais utilizadas


no contexto nacional.
 a) SISTEMA DE PRESTAÇÕES
CONSTANTES (1)
▪ Neste caso

C1 = C2 = ........ = Cn = C

▪ Logo, se C é constante e Jk é sempre decrescente, então Mk é


necessariamente crescente.

▪ Por conseguinte, o sistema de amortização de prestações


constantes ou sistema francês é também denominado por sistema
de amortização progressiva.
 a) SISTEMA DE PRESTAÇÕES
CONSTANTES (2)
▪ Sendo Mk crescente, importa esclarecer em que medida se opera esse
crescimento. Assumiremos que

Mk= M1 (1 + i )k-1 (1)

ou genericamente

Mk = Mm (1 + i )p, sendo k = m + p (2)

▪ Logo, Mk cresce em progressão geométrica de razão igual a (1 + i ).


 a) SISTEMA DE PRESTAÇÕES
CONSTANTES (3)
▪ A medida do crescimento de Mk vai corresponder o inverso do
decréscimo de Jk, uma vez que o montante dos pagamentos (termos
da renda) é constante.
▪ Sendo C constante, podemos estabelecer

Mk + Jk = Mk-1 + Jk-1 (3)

▪ Desenvolvendo a expressão, vem que


Mk-1 ( 1 + i ) + Jk = Mk-1 + Jk-1
 a) SISTEMA DE PRESTAÇÕES
CONSTANTES (4)
▪ Por definição, Jk-1 > Jk, logo

Jk-1 – Jk = Mk-1 ( 1 + i ) – Mk-1


Jk-1 – Jk = Mk-1 [ ( 1 + i ) – 1 ]
Jk-1 – Jk = i × Mk-1 (4)

Mk
Jk-1 – Jk = i × (5)
1+ i
 a) SISTEMA DE PRESTAÇÕES
CONSTANTES (5)
▪ Sendo Mk crescente, o diferencial entre uma dada quota de juro
e a seguinte vai ser também crescente, o que significa que Jk é
decrescente em k a uma taxa crescente, tal como resulta da
interpretação das expressões apontadas em (4) e (5).
▪ Tomando a expressão (4), concluímos ainda que a redução dos
juros a pagar depende da redução do capital em dívida (já que
MK-1 corresponde ao capital amortizado no período anterior).
 a) SISTEMA DE PRESTAÇÕES
CONSTANTES (6)
▪ Na eventualidade de as prestações não serem consecutivas, temos que

Mk + Jk = Mk+m + Jk+m (6)

▪ Surge, então

Jk – Jk+m = Mk+m – Mk

Jk – Jk+m = Mk [ ( 1 + i )m – 1 ] (7)
 a) SISTEMA DE PRESTAÇÕES
CONSTANTES (7)

▪ As fórmulas anteriormente apontadas revelam-se


extremamente úteis, principalmente nos problemas em
que necessitamos de apurar uma dada quota de capital
ou de juro em função de outra, ou ainda quando
pretendemos determinar a taxa de juro, tendo por base
duas quotas de capital ou de juro conhecidas.
 b) SISTEMA DE AMORTIZAÇÕES
CONSTANTES (1)
▪ Neste caso

M1 = M2 = ........ = Mn = M

▪ Logo, se M é constante e Jk é sempre decrescente, então Ck é


necessariamente decrescente.

▪ Este processo é conhecido por sistema de amortização constante,


por serem constantes as quotas de amortização.
 b) SISTEMA DE AMORTIZAÇÕES
CONSTANTES (2)
▪ Como se processa o decréscimo de Jk no sistema de amortizações constantes?

▪ O montante de juro periódico é sempre calculado sobre o montante de capital


em dívida no início do período a que os mesmos se reportam. Logo,

J1 = C0 × i

J2 = (C0 – M ) × i

J3 = (C0 – 2 M ) × i
 b) SISTEMA DE AMORTIZAÇÕES
CONSTANTES (3)
▪ Generalizando para n, vem

Jn = [C0 – (n – 1) M ] × i (8)

▪ Assim, surge que

Jk-1 – Jk = [C0 – (k – 2) M] × i
– [C0 – (k – 1) M ] × i
Jk-1 – Jk = C0 × i – (k – 2) M i
– C0 × i + (k – 1) M i
 b) SISTEMA DE AMORTIZAÇÕES
CONSTANTES (4)
(cont.)
Jk-1 – Jk = – k M i + 2 M i + k M i – M i

Jk-1 – Jk = M  i (9)

▪ Como M é constante, os juros vão decrescer linearmente, sendo, por


consequência, também linear o decréscimo do montante das prestações.
 b) SISTEMA DE AMORTIZAÇÕES
CONSTANTES (5)
▪ Na eventualidade de as prestações não serem consecutivas, temos que

Jk = [C0 – ( k – 1 ) M ] × i

e também

Jk+m = [C0 – ( k + m – 1 ) M ] × i

▪ Daqui resulta que

Jk – Jk+m = m M i (10)
DOIS SISTEMAS EM CONFRONTO … (1)

▪A expressão apontada em (9) para o sistema de


amortizações constantes tem o mesmo significado que a
apontada em (4) para o sistema de amortizações
constantes, ou seja, a redução dos juros é função do
decréscimo do capital em dívida, correspondendo este
decréscimo à amortização realizada no período anterior.
DOIS SISTEMAS EM CONFRONTO … (2)

▪ Em ambos os sistemas de amortização, o somatório das


quotas de capital vai ser igual ao montante de capital
mutuado C0.

▪ Numa situação de igualdade em termos de taxa, montante


e prazo, a quota de juro referente ao 1º período é igual nos
dois sistemas estudados, uma vez que é calculada sobre o
capital inicial.
DOIS SISTEMAS EM CONFRONTO … (3)
▪ Porém,o ritmo de amortização de um dado empréstimo
com as mesmas caraterísticas – mesmo montante,
mesma taxa e mesmo período de amortização – é mais
célere se tomarmos o sistema de amortizações
constantes.

▪ Por conseguinte, o montante de juros a pagar no sistema


de amortizações constantes é menor do que é devido no
sistema de prestações constantes.
ALGUNS EXPEDIENTES DE CÁLCULO

▪ No sistema de amortização progressiva teremos que


J1 = C0 × i e também Jn = i × Mn,
enquanto no sistema de amortização constante teremos
J1 = C0 × i e ainda Jn = i × M
▪ Na verdade, no 1.º período, o montante do capital em dívida será
C0, enquanto no último corresponderá ao valor da amortização a
efetuar nesse período, isto é, Mn ou M , consoante os casos.
CONSTRUÇÃO DE QUADROS DE
AMORTIZAÇÃO (1)

▪O modelo de quadro de amortização que passamos a


descrever é usado nos casos em que as quotas de capital e
de juro se referem ao mesmo período de tempo.
▪ Um quadro de amortização deve comportar cinco colunas:
⬧ a primeira identifica o período de tempo K;
⬧ a segunda refere-se ao montante em dívida no início do
período;
CONSTRUÇÃO DE QUADROS DE
AMORTIZAÇÃO (2)

⬧a terceira dá conta do montante de juros a pagar no período;


⬧ a quarta indica o valor da amortização de capital a efetuar no
período (dispensável no sistema de amortização de quotas de
capital constantes);
⬧ a quinta informa quanto ao montante do termo da renda, ou seja,
do pagamento a efetuar no fim do período (dispensável no
sistema francês).
CONSTRUÇÃO DE QUADROS DE
AMORTIZAÇÃO (3)
▪ Paraalém destas colunas, podemos incluir outras relativas
a encargos inerentes ao contrato, de que são exemplo o
Imposto do Selo e as despesas bancárias.
▪ Poderá ser também útil incluir uma coluna relativa à taxa
de juro, principalmente se esta se alterar durante a vigência
do contrato.
▪A elaboração dos quadros de amortização obedece a
critérios específicos, consoante o sistema de amortização
considerado.
PLANOS DE AMORTIZAÇÃO DE
EMPRÉSTIMOS versus PLANOS DE
FUNDOS DE AMORTIZAÇÃO

▪ Os planos de amortização não devem ser confundidos com os


fundos de amortização.

▪ Na verdade, enquanto os primeiros nos indicam o modo de


liquidação de uma determinada dívida, os segundos dão conta do
valor acumulado, em cada momento, para acorrer a uma dívida
futura, pelo que poderão ser designados por fundos para
amortização dessa dívida.

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