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Introdução geral à filosofia

Prof. Dr. Celso Candido de Azambuja (Unisinos)

Porque o temor que me assalta é que, levados pela nossa segura consciência de que a
Filosofia se alimenta continuamente de sua história, tenhamos ido longe demais na prática da
orientação historiográfica. Que, no louvável intuito de assegurarmos a nossos estudantes uma
sólida base de conhecimentos historiográficos, de os afastarmos de um achismo inconsequente
próprio dos que nunca frequentaram de perto o pensamento dos grandes filósofos nem
aprenderam a dura disciplina das lógicas internas aos grandes empreendimentos filosóficos,
tenhamos perdido de vista a meta que muitos desses estudantes – e de nós, também – tinham
– tínhamos – em nossos horizontes: a elaboração de uma reflexão filosófica, a compreensão
filosófica de nós mesmos e do mundo.

Oswaldo Porchat
I

Penso que é impossível avançar neste debate sem


minimamente debater o conceito de filosofia, o que podemos
entender por filosofia.
Em certo sentido, um pouco temerariamente talvez, podemos
dizer que três grandes temas envolvem o campo da reflexão
filosófica:
a) o tema do conhecimento, da epistemologia ou da
metafísica, que se pergunta sobre o conhecimento, suas
condições de possibilidade, seus limites e ambições. Depois,
b) a filosofia tem como central de sua abordagem do
mundo, o ser humano, o anthropos: sua natureza, sua
condição, seu sentido, seus valores, suas ações. E,
finalmente,
c) a filosofia é aquela disciplina ou atividade que se
pergunta pelo seu tempo, que tenta entender a sua
atualidade e tenta apreender “o tempo no pensamento”,
como diria Hegel.
E que o faz de certo modo e com certa técnica ou arte
(techne), através de um discurso que é essencialmente
especulativo, de um método que é fundamentalmente dialético
e cujo objetivo central consiste em criar conceitos.
II

Deste modo, é forçoso reconhecer que, não apenas os


conteúdos da filosofia mas também seu modo próprio de ser,
são fundamentais em todas as áreas do conhecimento, mesmo
naquelas que se consideram as mais exatas, como a física ou a
matemática, ou as mais inexatas, como a teologia, a ética, a
política ou a estética. Porque simplesmente não há área do
conhecimento e da atividade profissional que não implique uma
ideia de verdade teórica, de ser humano e de atualidade.
A ação é do ser humano ou é para o ser humano. As ações e
as práticas cotidianas e profissionais, empresariais, pessoais
acontecem em uma época dada, correspondem a certa
compreensão da atualidade na qual se dão estas práticas e
ações. Finalmente, toda a ação pessoal ou profissional, hoje
mais do nunca, pressupõe conhecimento e conhecimento
verdadeiro.
III

Da mesma forma, não há área do conhecimento que, em seu


nível mais alto de criação, não pressuponha uma dimensão
especulativa do pensamento para formular suas questões
centrais de sentido e de valor, que não envolva um método
dialético na elaboração de suas questões e respostas
fundamentais e, finalmente, que não tenha como fim a criação
conceitual dos problemas envolvidas em sua própria área.

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