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AS FRASES FEITAS

Algumas frases são a antítese do que preconiza a Abordagem Centrada na Pessoa. O que as
torna realmente inadequadas e danosas é a forma mecânica como são utilizadas, sendo
introduzidas em momentos totalmente impróprios.

Na verdade, tais frases apenas evidenciam a dificuldade que alguns voluntários têm para lidar
com determinadas situações e para trabalhar com o material recebido da outra pessoa (não
sabem o que fazer com o que a pessoa disse). As frases surgem então, como recursos para aliviar
a própria ansiedade e escapar da situação que julgam ser ameaçadoras, desconcertantes ou
intimidativas.

Vejamos algumas delas:

▪ Você não gostaria de falar sobre isso? Normalmente para dar uma "força" à pessoa para
que ela entre no assunto. Mas os que a utilizam não se dão conta de que, nesse ponto,
o assunto já está em andamento e que, ao invés de propor à pessoa que fale, o
voluntário deve expressar o que compreendeu do que foi comunicado pelo outro até
aquele instante.

▪ Estou aqui pra te ouvir. Frase utilizada para comunicar disponibilidade ou quando o
voluntário se vê acuado, sentindo-se sem saída. Aqui, também, é importante ressaltar
que o voluntário do CVV WEB está disponível para dialogar com a outra pessoa, trocar
o verbo ouvir por conversar está bem próximo a realidade do serviço oferecido no chat.
Quando alguém afirma que ninguém o ouve, está na verdade afirmando que não lhe
dão atenção, não dão valor ao que ele diz. Somente nesse sentido estrito é que o
voluntário pode afirmar que está disponível para ouvir ou adequadamente no chat:
conversar.

▪ Isso é importante pra você? Os que têm por hábito utilizar esta frase, o fazem sempre
que não desejam responder a alguma pergunta da Outra Pessoa. Se a analisarmos mais
detidamente, facilmente perceberemos que ela, na verdade, expressa o
descontentamento do voluntário com a pergunta recebida e sua intenção de não
respondê-la ou, pelo menos, criar obstáculos para isso. Sob a máscara de uma proposta
de reflexão (cuja resposta é óbvia: é claro que é importante, senão não teria sido
perguntado) há, na realidade, uma repreensão, uma censura, um “pito”, que o
voluntário passa na pessoa, sem, contudo, assumir. Há, então, uma incongruência: o
que é sentido pelo voluntário é absolutamente diferente do que ele comunica. Ao
recebê-la, a pessoa deduz que sua pergunta não foi bem aceita, que o voluntário não
gostou de ser questionado da forma como foi e, naturalmente, se sente desconfortável,
desconcertada e culpada por ter feito algo que desagradou o voluntário. Sente que foi
infeliz, mas não fica claro o porquê. Colocações dessa espécie só contribuem para
afastar a pessoa.

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▪ Você já conhece o nosso trabalho? De maneira idêntica à anterior, essa pergunta
usualmente comunica que algo que foi dito pela Outra Pessoa, o assunto ou a forma
como ela o aborda desagradou o voluntário e que ele, o voluntário, não deseja seguir
pelo caminho que está sendo trilhado ou se configura adiante. Frequentemente é
utilizada como um "corte" na conversa, como se o voluntário dissesse "com quem você
pensa que está falando... eu não estou aqui para isso". Pode gerar desconforto, mal
estar e demonstra uma incongruência do voluntário.

▪ Como é que você está se sentindo? O aspecto mais grave dessa pergunta, que pode
parecer a princípio bastante coerente com a Abordagem Centrada na Pessoa - ACP, é a
sua extemporaneidade, ou seja, a inadequação dos momentos em que é aplicada. Os
que lançam mão dessa pergunta, da forma como descrito, partem do princípio de que
o sentimento é não apenas o aspecto mais importante da relação de ajuda, mas o único
que têm valor. Frequentemente ocorre do voluntário não saber o que dizer, pois
rapidamente podem se esgotar as possibilidades de um diálogo restrito a sentimentos,
que podem, inclusive, ser declarados pela própria pessoa em sua primeira frase. Essa
concentração nos sentimentos do outro tem como apoio outra ideia de aparência
coerente com a ACP, a de que o problema da pessoa não tem importância (o importante
é o sentimento) e que por isso o voluntário deve apenas abordar sentimentos. A
constituição do diálogo, da parte do voluntário, é basicamente o material fornecido pela
própria pessoa, a quem ele precisa compreender empaticamente, na dimensão
experiencial (da experiência, da vivência) da pessoa; oferecer uma Resposta Reflexo do
Sentimento é o seu esforço para que o outro perceba o que ele compreendeu do que
foi comunicado, não existindo a necessidade de perguntar, ou seja, através do diálogo
fraterno saber como a outra pessoa se sente diante do problema que está enfrentando.

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