2.2.1.
OS PARADIGMAS SOCIOCULTURAIS
E Uma leitura das tendências e das forças inscritas na socieda
Quando examinamos um pouco mais de perto a complexi
dade das sociedades e, por analogia, a das organizações sociais,
somos levados a procurar as estruturas ou os elementos em que
se baseiam ou a compreender o seu funcionamento. Em suma,
procuramos compreender o que se passa simplificando os fen&
menos através da construção de modelos.
No capítulo 1 destacámos uma série de elementos que nos
parecem importantes quando analisamos a sociedade e os seus
componentes, elementos que agrupámos sob a denominação de
paradigma sociocultural. Definimos o paradigma sociocultural
como um conjunto de crenças, concepções ou generalizações e
valores que apresentam uma concepção do conhecimento; uma
concepção das relações entre a pessoa, a sociedade e a natureza,
um conjunto coerente de valores e interesses, uma forma de
executar e um significado global que, por um lado, definem e
delimitam, para um determinado grupo social, o seu campo de
acção possível e a sua prática social e cultural e, por outro, asse
guram por isso mesmo a sua coerência e a sua relativa unanimi
dade.
Afirmámos que o paradigma sociocultural remete essencial-
mente para a acção exercida pela sociedade, a partir da sua acti
vidade, sobre as suas práticas sociais e culturais através da com
binação dos cinco componentes mencionados. O que caracteriza
esta acção e retroacção é o facto de o paradigma sociocultural,
enquanto acção exercida sobre as práticas sociais e culturais, ser
o resultado de uma reflexão, de um distanciamento da socieda
de em relação à sua actividade, distanciamento esse que pernil-
te a emergência de uma imagem normativa e exemplar, isto é,
reguladora das suas acções, da sua modificação, da sua produ
ção, da sua adaptação ou da sua reprodução. Esta imagem nor
mativa e exemplar liga-se ao conceito de imagem do futuro
definido por Polak (1961/1973).
O paradigma sociocultural tem importância, porque ao
apoiarmo-nos no nosso esquema de análise sistémica do fun
cionamento de uma sociedade, estamos a considerar que a esco
lha de um paradigma educacional assenta na escolha explícita
ou implícita de um paradigma sociocultural.
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de ocidental revela a existência de pelo menos quatro paradig
mas socioculturais fundamentais. O primeiro, conhecido pelo
nome de paradigma industrial, domina há séculos a civilização
ocidental. Qualificamos o paradigma industrial de paradigma
dominante. Os outros três paradigmas são qualificados de con
traparadigmas. Eles são o paradigma existencial que define
uma sociedade centrada na pessoa, o paradigma da dialéctica
social que define as novas sociedades como a sociedade sem
classes e a sociedade autogerida e o paradigma simbiosinérgico
que define as novas comunidades.
2.2.2. OS PARADIGMAS EDUCACIONAIS
Admitamos, sem remorsos, que há vários paradigmas educa
cionais que estruturam as práticas educativas das sociedades
contemporâneas. Haverá ainda muitos outros que determinarão
eventualmente a prática educativa das sociedades do futuro. A
nossa análise incide sobre um número bastante restrito de para
digmas educacionais. Lembremo-nos que a dimensão normati
va caracteriza o paradigma educacional. De entre os paradig
mas educacionais que pudemos identificar, escolhemos cinco,
que nos pareceram mais representativos.
a) O paradigma racional centrado na transmissão dos conhe
cimentos e valores dominantes.
b) O paradigma tecnológico centrado na utilização da tecno
logia educacional.
c) O paradigma humanista que visa o crescimento da pes
soa.
d) O paradigma sociointeraccional preocupado essencial-
mente com a abolição da exploração entre os homens.
e) O paradigma inventivo centrado na criação de comunida
des de pessoas.
Eis como iremos proceder para analisar os paradigmas. iDes
aeveremos em primeiro lugar o paradigma sociocultural, des
tacando cada um dos seus componentes. Em seguida, especifi
caremos a dimensão normativa dos paradigmas educacionais
51 ESCO[A SUFRIOR DE ED ir
II -
 r
com o auxilio das funções definidas. For fim, descreveremos a QUADRO 2.2
dimensão exemplar, recorrendo aos elementos da comunicação
já citados. Sinopse dos paradgmas sociocuhurais e educadonais
Os paradigmas educacionais que iremos explicitar represen
tam grandes tendências, pelo que não os encontramos tal como
são, no seu estado puro. De certa forma, descrevemos abstrac Paradigmas Parodigmas educacionds
ções, ((ideais». A realidade quotidiana da prática pedagógica sodocultorois . - - -
Dimensao normaliva Dimensao exemplar
actual e futura pode aproximar-se mais ou menos dos para
digmas que descrevemos. Por um lado, apenas apresentamos
Paradigma racional Aboidagem mecanicisla
um conjunto limitado dos paradigmas educacionais possíveis. Paradigma Industrial
,
Paradigma Iecnolag,co
.
Abordagem ecno-sisiemica
Por outro lado, é possível que os estudantes experimentem,
num mesmo dia, mais de um paradigma educacional ou mais
de uma abordagem pedagógica ligada a um ou vários para Paradigma existencial Paradigma humanista Abardagem argõnico
digmas educacionais e socioculturais. O que nos parece neste
momento mais importante é assinalar o paradigma que domina
as suas vidas. Paradigma . . Abordagem da aulogestào
da dialectica social
. . . Paradigma sociainieracliva
pedagogica
2.2.3. AS RELAÇÕES ENTRE PARADIGMAS
SOCIOCULTURAIS E EDUCACIONAIS Paradigma Abordagem da pedagagia
,mb:osrnerg,ca inventiva social de
O quadro 2.2 ilustra as relações entre os paradigmas socio au lados e nvolv ‘me n lo
culturais e educacionais. Observemos que dois paradigmas
educacionaisestão ligados ao paradigma industrial. Uma vez
que este paradigma domina uma grande parte das sociedades 2.3. AS CLASSIFICAÇÕES DOS MODELOS
contemporâneas e que os paradigmas tecnológico e racional EDUCACIONAIS
parecem dominar a prática pedagógica, parece-nos importante
descrever estes dois paradigmas educacionais. Existem diversas classificações de modelos, correntes, teo
rias, ideologias, abordagens, concepções ou paradigmas educa
cionais. Esta multiplicidade assegura a possibilidade de escolha.
Além disso, quando queremos analisá-la e estabelecer compara
ções, enfrentamos tanto o problema da escolha dos termos
como o dos eixos ou princípios de classificação. Vamos descre
ver, resumidamente, alguns estudos tipolágicos, agrupando-os
segundo o número de categorias que distinguem, e situar a
nossa própria tipologia em relação a esses mesmos estudos com
o auxílio do quadro 2.3a, que expõe as tipologias em duas e três
categorias, do quadro 2.3b, que apresenta as tipologias com
quatro ou mais categorias e do quadro 2.3c, que compara a tipo
logia desta obra com a utilizada na obra Teorias Contem porâ neas
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