JORNAL

EDICAO nº 05 | julho 2022

Periódico Pedagógico para estudantes do
Ensino Fundamental Anos Finais
e Ensino Médio.

CAPA: Uso e
abuso de álcool e
outras drogas na
adolescência Pag 4

Os povos africanos Textos cruéis 5 fatos que você precisa

e os sistemas de demais para serem saber sobre atividade
numeração lidos rapidamente física e saúde mental na
Pag 3 Pag 6 adolescência Pag 14
2 JORNAL LUPA n. 5, JUL 2022
S UM Á R IO
2 • opinião
3 • artigo
4,5 • curio sida des
6,7 • L i t er at ur a
8-12 • M AT ÉRI A DE CA PA
13 • Dica Cultural: filme
14 • MEIO A MBIEN T E
15 • T IRINH AS
E X P EDIEN T E
Responsável – Projeto Lupa:
Weyner Lopes Rodrigues
Diretor da Escola de Formação da
Secretaria de Educação de Minas
Gerais
Conteudistas Vol. 5:
Viviane Soares
* Esta publicação é para
fins didáticos. Proibida a
comercialização
Projeto Gráfico: Oros Soluções
Educacionais.
ASCOM: Pablo Lima
Supervisão: Anderson Camelo
Direção: Ana Paula Ribeiro
Coordenação de Equipe:
Lúcio Gomes.
Designers:
Douglas Lendel,
João Victor Sampaio,
Natália Guimarães.
Ilustrações: Natália Guimarães.
Diagramação: Douglas Lendel
O P I N I Ã O
Luva de Pedreiro e a importância da
leitura e interpretação de texto
Por Viviane Reis Soares
Diversas condições podem estar relacionadas
a essa dificuldade do Iran. Condições econô-
micas, acesso à educação de qualidade, ne-
cessidade de trabalhar desde cedo para ajudar
a família são algumas delas. Essas condições
impactam de uma maneira, que a exemplo do
fato narrado, pode causar grandes prejuízos.
Do lado de cá das telas e das redes sociais,
na realidade diária do nosso país, observa-se
que muitos jovens têm resistência aos estu-
dos. Muitos que, inclusive, possuem acesso e
condições de frequentar uma escola pública.
O que esses jovens têm negligenciado é que a
desvalorização dos estudos acarreta prejuízos
inimagináveis ao longo da vida.
Não ler, ou ler, mas não ter condições de in-
terpretar e compreender é um empecilho para
o exercício da cidadania e garantia de direitos.
Contratos de trabalho, contratos de compra e
venda documentos relacionados a bens, do-
Recentemente uma polêmica tomou conta das cumentos de habilitação. Tudo isso (e muito
redes. O mais famoso influencer do momen- mais) demanda capacidade de leitura e inter-
to, Iran Santana Alves “Luva de pedreiro”, que pretação de texto.
contagiou o Brasil com o seu bordão “Rece- Para o Iran, uma nova história vem se dese-
ba!”, desabafou em uma live sobre a necessi- nhando, com grandes oportunidades. A arte,
dade de dar uma pausa em suas publicações. o carisma, o humor e a criatividade permitiram
A declaração, que deixou seus fãs preocupa- que sua história fosse transformada. A defa-
dos e chateados, relaciona-se com desacordos sagem escolar lhe apresenta agora como um
com o seu empresário. No que diz respeitos grande desafio que traz difíceis consequên-
às questões contratuais, pouco se sabe cias, mas uma coisa é certa: Iran não
devido às restrições de publicações a assinará mais contratos sem ter real-
respeito. Mas uma declaração cha- A arte, o carisma, mente ciência do que se trata.
mou atenção em uma reportagem o humor e a E os demais estudantes de nosso
publicada na Rede Globo no dia 04 criatividade país? Saibam que talvez o sucesso
permitiram que
de julho de 2022. midiático não seja uma possibilida-
Luva de pedreiro e seus pais não sua história fosse de para todos, mas uma educação
possuem o domínio da leitura. Essa transformada. de qualidade, o desenvolvimento de
afirmação foi feita em entrevista para habilidades e competências o longo da
uma reportagem do programa Fantástico. vida escolar é um importante meio para a
Ao ser questionado sobre seu entendimento conquista de seus objetivos.
a respeito do contrato assinado, o influencer Por isso, se a educação de qualidade é um
afirmou não ter condições de compreender o direito e é a melhor forma de exercer a cida-
documento por ter dificuldades para ler. dania, apenas RECEBAAAA!
RECEBAAAA!
A R T I G O Periódico pedagógico para estudantes 3

Os povos africanos e os sistemas de numeração

É necessário descontruir a ideia do eurocentrismo científico, enraizado no ensino brasileiro, sobretudo no
que tange à história da Matemática.
Karla Teresa Ribeiro. Professora de Língua Portuguesa, bacharela em Direito. Adaptação do artigo da mesma autora publicado em:
https://www.even3.com.br/anais/emem2021/393603-os-povos-africanos-e-os-sistemas-de-numeracao--possibilidades-de-uso-do-jogo-mancala-em-sala-de-aula/ .

O estudo dos sistemas fonte de comprovação científica do pioneirismo vez que o objeto contém entalhes de 168 linhas
de numeração antigos, e contribuição dos povos africanos para distribuídas por três colunas.
frequentemente, são a criação dos sistemas de numeração Ao longo dos anos, muitos investigadores têm
tratados nos li- atuais. formulado diversas hipóteses para fundamentar
vros didáticos O estudo desses artefatos tem os agrupamentos das linhas marcadas no osso de
de matemática. oportunizado conhecer novas Ishango. Alguns pesquisadores dizem que os cál-
No entanto, o teorias sobre o desenvolvi- culos são referentes a um jogo aritmético. Outros
enfoque his- mento do processo de con- sugerem referir-se ao calendário lunar. Há também
toriográfico tagem que apontam aqueles que propõem que tais marcações têm uma
que em geral desde a utilização conexão com o sistema duodecimal. Independen-
é dado a al- de pedras, mar- temente da explicação encontrada, é indiscutível o
guns períodos ou cações em las- fato de que essas civilizações certamente influen-
regiões em que a cas de madeiras, ciaram nosso sistema de contagem.
matemática viveu um ossos e cavernas, Outra forma de expressão do desenvolvimento
florescimento, somado à nós em cordas, até o matemático desses povos pode ser evidenciada
ideia de que o desenvolvimento des- cálculo com os dedos, através do antigo jogo de tabuleiro de contagem,
ta ciência está intimamente relacionado como possíveis métodos Gebet’a ou Mancala, como é mais popularmen-
à criação da escrita, faz com que as con- que deram origem aos te conhecido. O nome do jogo significa mover,
tribuições de algumas civilizações, como a sistemas de numeração, em árabe, e representa uma família de jogos
africana, cujas práticas numéricas eram, em inclusive ao sistema de nu- matemáticos de tabuleiro, em que o jogador
sua maioria, orais, não sejam devidamente meração decimal. Além dis- deve capturar as sementes ou peças do adver-
consideradas como parte integrante do so, essas pesquisas também sário, através do processo de “semear”. O jogo,
processo de criação e desenvolvimento deram margem para o estudo que tem ganhado espaço nas escolas, chegou
dos sistemas de numeração e de toda a das manifestações matemáticas ao continente americano através dos africanos
matemática como a conhecemos. presentes nos fractais, na música, escravizados, que trouxeram consigo uma di-
Há milhares de anos atrás os africanos já nos jogos, no urbanismo e na ar- versidade desses jogos, com diferentes regras e
utilizavam representações do que hoje de- quitetura dos povos africanos. tabuleiros.
finimos como numerais, álgebra e geometria Os vestígios mais antigos de matemáti- Frente ao exposto, podemos considerar que a
em suas expressões artísticas e culturais, bem ca que se conhecem atualmente são dois valorização dos saberes matemáticos historica-
como na resolução de problemas cotidianos. Tais ossos com um conjunto de marcações muito mente construídos pelos povos africanos faz-
conhecimentos foram difundidos por todo o mun- regulares, de significado desconhecido. Ambos -se necessária como forma de corrigir injustiças
do após uma série de migrações para fora da África são evidências do desenvolvimento de sistemas de étnico-raciais das quais os povos africanos têm
que começaram por volta de 30.000 a.C., e pos- contagem que se deram muito antes do contato sido vítimas ao longo dos tempos e para romper
teriormente, por invasões da África por europeus dos africanos com outros povos e da colonização com a visão eurocêntrica de que os Egípcios e
e asiáticos. Assim, constata-se que o desenvolvi- europeia. O primeiro osso, descoberto em 1970, Mesopotâmicos foram os percussores da mate-
mento da matemática como a conhecemos hoje, na Suazilândia, datando mais de 35.000 anos, é o mática.
deve-se expressivamente pelas influências da ma- Osso de Lebombo: um osso de pata de babuíno Reconhecer a importância dos povos africanos
temática que já era praticada na África Antiga. com 29 marcas, cujas tentativas de interpretação para a construção dos sistemas de numeração
Contudo, a visão eurocentrista conseguiu afastar sugerem estar associadas às fases da lua ou à con- atuais não irá diminuir a relevância das histórias
da História da Matemática, bem como de tagem de algum outro intervalo de tempo. das matemáticas egípcia e mesopotâmica e sim
tantas outras áreas, toda a influência O O segundo é o Osso de Ishango, encon- enunciar a desconstrução e a eliminação das in-
desses povos no desenvolvimento primeiro osso, trado em 1960, no Congo, com da- sensibilidades de cunho racista e eurocêntrico.
das ciências. Até o final do sécu- tação aproximada de 20.000 anos,
lo XX, pouco se conhecia acerca
descoberto em sendo considerado o objeto mate-
dessa ancestralidade histórica da 1970, na Suazilândia, mático mais antigo já descoberto.
matemática, pois são recentes as datando mais de O artefato tem apenas 10 cm de
pesquisas que mobilizaram a des- 35.000 anos, é o comprimento e contém um cristal
coberta de diversos objetos de ori- Osso de de quartzo em uma extremidade, o
gem africana, como ossos, papiros e qual servia provavelmente para fazer
tábuas de argila, que têm servido como
Lebombo os registros quantitativos no osso, uma
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História e Memes
Como tudo começou?
Por Viviane Soares. Disponível em: https://frigideira.aiqfome.com/historia-dos-memes/ Acesso: 15/06/2022.
Não tem como pensar no humor da internet sem
pensar em memes, não é? Desde que a onda co-
meçou, se tornou praticamente o padrão de como
fazer piadas na internet viralizarem. E claro que a
gente gosta demais disso não é? Mas você faz ideia
da história dos memes e como tudo isso começou?
Apesar de hoje a palavra ser associada a humor,
piadas e templates, o conceito de meme é total-
mente científico e existe uma explicação de por-
que a gente gostar tanto do humor que envolve
memes.
Então pega um caderninho que hoje a gente vai
falar da história dos memes, e vai ser um mix de
uma aula de história, biologia, psicologia e até de
marketing por aqui, com direito à citação científica
e tudo!
A origem dos memes
O termo “meme” foi originalmente
usado pelo biólogo evolucionista Ri-
chard Dawkins, em 1976 no seu livro
The Selfish Gene. Para Dawkins, um
meme seria uma “unidade de trans-
missão cultural”, o equivalente cultu-
ral de um gene.
O conceito da palavra surgiu do gre-
go mimeme, que é imitação. O con-
ceito de mímica veio da mesma
palavra, e não é tão diferente
do que Dawkins imagi-
nou. Só que ele queria
que a palavra fosse
parecida com gene,
por isso abreviou
o termo para
meme, que tam-
bém se aproxi-
mava da pala-
vra memória.
Segundo
Dawkins,
a palavra
meme é usada para representar: “sons, ideias, frases mor, não é? O uso de memes como algo do cotidia-
de efeito, modas de roupas, jeitos de se fazer potes ou no começou lá pelo final da década de 2000, mas
de construir arcos. Assim como genes se propagam os memes da internet surgiram muito antes disso, a
na piscina genética pulando de corpo para corpo via gente só não classificava como meme ainda.
espermatozoides ou óvulos, memes se propagam na Com a popularização da internet nos anos 80, os
piscina memética pulando de cérebro pra cére- fóruns foram os lugares que os memes como
bro por um processo que, no sentido amplo, Foto: conhecemos começaram a tomar forma.
pode ser chamado de imitação”. Know Your Meme Referências a filmes em contextos fora
Sim, você acabou de ler o termo pisci- do filmes já contavam como memes,
na memética. incluindo frases icônicas tipo “I’ll be
Então na realidade, memes não se limi- back” em Exterminador do Futuro e
tam apenas a humor, mas sim à coisas “It’s a trap!” em O Retorno de Jedi (que
que se repetem culturalmente através se você for analisar, nada mais é do que
do tempo. O dicionário Merriam-Webster uma versão gringa do nosso querido “É uma
define meme como “uma ideia, comportamento, cilada, Bino“).
estilo ou uso que passa de pessoa para pessoa dentro Esses memes que são memes na essência mas a
de uma cultura”, que é uma definição perfeita do gente não chamava de memes na época são co-
que os memes realmente são, não é mes- nhecidos como proto-memes. Duvido que você
mo? achasse que tinham tantas camadas nessa história
Sendo assim, os memes criam um tipo toda, não é?
de conexão social entre as pessoas, Algo que levou os memes a irem além de fóruns
mesmo que virtualmente, por compar- nichados foi o surgimento e rápida popularização
tilharem da mesma piada e reconhe- do YouTube, que permitiu que vídeos e pequenos
cerem a ideia de que uma pessoa quis clipes fossem compartilhados muito mais rapida-
passar de maneira mais rápida. mente do que pelos canais de comunicação online.
Os proto-memes Foi aí que o Rick Roll se tornou um meme, aliás.
Mas claro que a gente A popularização dos memes
sempre vai associar Mas apesar de já ser algo conhecido e usado por
essa palavra a hu- algumas pessoas antes, o termo e o conceito
de meme só foi de fato consagrado na cul-
tura popular através da popularidade das
redes sociais.
Pela natureza de redes sociais como o Fa-
cebook e Twitter em compartilhar conteúdo
com facilidade, elas geraram um campo
onde os memes poderiam se pro-
pagar da maneira mais rápida
e eficiente possível, trans-
cendo as barreiras de
nicho que ainda enfren-
tavam em fóruns, che-
 Periódico pedagógico para estudantes 5

Foto: Pinterest

gando um momento no qual um meme você provavelmente já tenha cultural, passando de pessoa pra pessoa.
ia tão além, que a maior parte das pessoas visto. Com o passar do tempo, os Final profundo não? Da próxima vez que você en-
nem sabe de onde originou. memes foram tomando forma para trar num papo sobre memes, aproveita para falar
A primeira grande onda de memes ultra po- agradar grupos mais nichados tam- que você não está só vendo piadas toscas no celu-
pulares veio com os Rage Comics, que surgiram no bém, principalmente no que diz respeito às lar, mas sim adquirindo bagagem cultural.
Reddit e perto de 2010 se popularizaram diferentes gerações! A classificação de humor que Ou manda a real mesmo: a gente quer se divertir!
Foto: rapidamente no Facebook. Por serem agrada mais à baby boomers, millennials e a geração
museudememes.com.br “personagens” com expressões Z foi ficando mais clara justamente observando os Memes e História
muito características, poderiam tipos de memes que mais geravam conexão com
funcionar em diversos contextos, cada geração. ERA VARGAS
o que ajudou a várias pessoas cria- O impacto e o legado dos memes Década de 1930 no Brasil. No poder, Getúlio Var-
rem seus próprios memes usando- Depois de ver tudo isso, a gente tem que ressaltar gas. O gaúcho chegou à presidência da República
-os como template. que os memes não são apenas um tipo de humor em 1930 por meio de uma revolução que depôs o
A partir daí foi que a história dos me- de internet que surgiu nessa década passada e fi- presidente Washington Luís. A fase não era boa. O
mes tomou forma e vida própria, surgindo cou super popular. Pelo próprio conceito da pala- mundo vivia a ressaca da crise de 1929. No Brasil, o
novas trends das mais diversas origens, desde mú- vra, memes sempre existiram, e é difícil imaginar café passava por uma crise de superprodução o que
sicas, filmes, jogos e até política. É muita coisa pra um mundo conectado pela internet onde memes acarretou a queda no preço do produto. Com o obje-
citar, mas você com certeza lembra do Grumpy Cat não existem. tivo de superar essa crise, o presidente Getúlio Vargas
e do Doge, pois memes com animais E eles permitiram um nível de conexão virtual que criou o Conselho Nacional do café no ano de 1931
tendem a se popularizar entre antes não era tão fácil. Antes era estranho que adotou dentre outras medidas: a realização de
quase todos os grupos sociais. você conversar com alguém ou responder empréstimos em bancos ingleses para comprar a sa-
Aliás é válido notar que os um comentário pela internet que não co- f r a paulista; a realização de contratos de vendas
memes não se resumem nhecia pessoalmente. Afinal, o que você de café com vários países e a queima
apenas a modas. Embora sabe sobre a pessoa? Mas quando de parte do café chamada de “quo-
boa parte dos memes fi- vem de um meme, já existe essa ta sacrifício”.
quem muito saturados após pequena conexão entre todos Alguns memes que retratam
um uso constante e sejam os envolvidos em reconhecer esse período:
abandonados por novas o meme em questão.
ideias, alguns memes per- Talvez mais do que apenas
duram por muito tempo humor, eles são aquilo
e até “evoluem” de uma que Dawkins ima-
certa maneira, como o ginou quando
próprio Doge, que criou o con-
ficou popular lá ceito: parte
em 2013 mas do nosso
até hoje pos- legado
suem memes
derivados dele,
como esse aqui
que
6 JORNAL LUPA n. 5, JUL 2022 L I T E R A T U R A

Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente

Texto adaptado. Disponível em:
https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/tcd-textos-crueis-demais-para-serem-lidos-rapidamente-como-livro-de-poesia-jovem-de-autoajuda-chegou-aos-mais-vendidos.ghtml

Sobre a obra e o autor: Passou a escrever “alucinadamente”: “Era a ma- cruéis demais para serem lidos rapidamente” (“o
O estudante universitário Igor Pires da Silva neira de expurgar aquela dor e de me fazer pre- nome surgiu quando eu estava no ônibus e veio
enfrentava o término de um relacionamento sente, vivo. Transformei em metáfora para se- de estalo na minha cabeça; era muito forte e ins-
que ele descreve como abusivo quando, em guir em frente”. tigante para não fazer nada com ele”). Era poesia
março de 2016, re- livre. Quando a gente começou, pensou muito
solveu voltar a fa- Na prática, seguir em frente significou criar um em estilo bem livre, bem Rupi Kaur, que estava
zer poesia após perfil no Facebook para publicar textos poéti- em voga na época”, explica ele, citando a poeta
um ano de re- cos voltados ao público jovem. Lançado em abril e best-seller canadense de origem indiana cuja
cesso. daquele ano, o projeto foi batizado de “Texto obra é associada ao feminismo.A ideia inicial ia

além de questões sentimentais, explica Igor ao
G1. O título “Textos cruéis demais para serem li-
dos rapidamente” é uma espécie de declaração
de princípios e contraponto ao habitual em redes
sociais.
Adrenalina é um exemplo dos escritos de Igor
Pires, autor de “Textos cruéis demais para se-
rem lidos rapidamente:
Adrenalina
estamos tão acostumados a sermos deixados pra
trás
que quando alguém bom entra pela porta da frente
das nossas vidas
e diz que quer tentar alguma coisa
a gente recua e volta correndo pro quarto
chorando
a gente tem medo de quem traz a felicidade
porque não sabemos lidar com ela
toma aqui, pega
e vai
abre os braços pro amor que pode não ser o da sua
vida para sempre
mas será no agora
e o que você tem, além do agora?
além desse amor, dessa pessoa
dessa sensação na barriga tarde da noite
dessa adrenalina que é, meu deus do céu, começar
a gostar de alguém
e ser gostado de volta
é disso que você pode se orgulhar: de ter coragem
de dar a cara ao tapa
de não permitir que o medo de algo novo atravesse
o seu olhar
e de deixar sobre seu coração
uma sensação gostosa de quando a gente se sente
confortável
porque a outra pessoa existe no mundo
e é tão bom
essa sensação tomando conta de nós
fazendo-nos quase que como crianças: ela reparou
no seu cabelo, ele disse que seus olhos são bonitos,
você ganhou uma série de elogios, impressões e de-
talhes que até então passariam despercebidos
estranhos não conseguiriam decifrar o tamanho que
você é
como ela faz
e eu te pergunto: medo do quê?
o coração pode doer, sim. ele não está imune a isso.
o coração pode parar por uns segundos, também.
Periódico pedagógico para estudantes 7
mas é a ordem natural da vida: ela rasga, remenda, “a ansiedade está mentindo para você”
rasga e remenda. “este texto é um conselho: seja mais gentil con-
sigo mesma”
o coração pode pulsar tanto que você pensará
“é agora que ele sai pra fora de mim e não volta”
mas ele, tão esperto, volta sim
porque ele, ou a sua alma, ou seu corpo
são atestados de que você está sentindo o me-
lhor que pode
de que tem se rebelado contra o medo que às
vezes deita nos seus ombros
de que tem tentado (e é tão importante tentar!)
não correr da felicidade
sabe isso que você está sentindo agora? é um si-
nal
de que está vivo,
de que seu sangue ainda dança nas suas veias
de que seu corpo é capaz de fazer dormir o amor
de outra pessoa
sem que este queira fugir
sim, você. você é capaz de amar
e de ser amado
e você merece.
por que não mereceria?
então não bata a porta para o amor
para alguém que quer oferecer, talvez, fagulhas
que outras pessoas nem sequer tentaram
INDICAÇÃO DE LIVROS:
alguém que talvez, e só talvez, Livro: O Lar da Srta. Peregrine Para Crianças Pe-
queira lançar sobre você as sensações mais incríveis culiares
que você nunca teve a oportunidade de sentir Editora: Intrínseca |Autor: Ransom Riggs |Ano:
com os que foram embora e perpetuaram algum 2016
trauma Por Alice Domingos
alguém que queira tentar, com você, ser melhor
ser alguma coisa A obra literária “O Lar da Srta. Peregrine Para Crian-
ser qualquer coisa ças Peculiares” escrita por Ransom Riggs conta a
história do jovem “Jacob Portman” e sua tentativa
é o universo de desvendar a morte de seu avô. Essa busca acaba
te chamando o levando ao orfanato de Srta. Peregrine.
para dançar
A trama é uma ficção, especificamente, lite-
é o universo pegando pela sua mão ratura fantasiosa, e tem mais 5 livros em sua
fazendo você conhecer cada espacinho da sua casa sequência. Possui 457 páginas, sendo tecnica-
que pode não ser a mais bonita ou estável mente grande, entretanto sua leitura é rápida,
mas é o lugar onde o amor dorme já que o enredo te prende de uma forma sur-
preendente com seus personagens peculiares
e ele não gosta de dormir sozinho. e estranhamente apaixonantes, junto com a
atmosfera sombria em que se que passa.
Outras passagens de Igor Pires que inspiram:
“eu sou o meu maior amor” A leitura é emocionante, e os personagens
“a gente tem medo de quem traz a felicidade por- despertam a sua curiosidade e te fascinam.
que não sabemos lidar com ela” É um ótimo livro para quem quer começar
“todas as manhãs são lembretes do universo a ter o hábito da leitura, ou sair da famosa
para você continuar” “Ressaca literária”.
8 JORNAL LUPA n. 5, JUL 2022
Não é novidade que a atividade física é uma grande
aliada da nossa saúde física e mental. E, sem dúvida
alguma, esse é um fato que vale para qualquer faixa
etária. Mas quando falamos do aspecto psicológico,
no período da adolescência as emoções estão ainda
mais à flor da pele.
Levando em consideração as vantagens psicossociais
de uma vida ativa para a diminuição do estresse, dos
sintomas da ansiedade, da depressão, da Tensão Pré-
-Menstrual (TPM), a melhora do humor, o aumento
da autoestima e da sensação de bem-estar, os jovens
têm ainda mais motivos para acreditar que manter o
corpo em movimento contribui para a melhoria da
saúde.
Para falar um pouco sobre a importância da atividade
física e entender todos os benefícios dela para essa
faixa etária, conversamos com o Professor Doutor
Rodrigo Antunes Lima, que também é pesquisador
na área de atividade física e saúde de crianças e ado-
lescentes, e elegemos 5 fatos que você não pode
deixar de saber! Olha só:
1 – Um impulso no desenvolvimento
O nosso corpo foi feito para ficar em movimento,
e isso não foi definido pela natureza à toa! Segun-
do Rodrigo Antunes, é importante destacar que ser
ativo fisicamente durante a adolescência melhora o
desenvolvimento cognitivo e o desempenho esco-
lar. Além disso, contribui para um melhor desenvol-
vimento ósseo, muscular e para o controle do peso
corporal, diminuindo os riscos de desenvolver obesi-
dade e outras doenças crônicas.
2 – Plantando agora para colher depois
Durante as fases iniciais da nossa vida, estamos em
um período de constante mudança rumo à idade
M A T É R I A D E C A P A
5 fatos que você precisa saber
sobre atividade física e saúde
mental na adolescência
Uma vida ativa oferece benefícios expressivos para a saúde, e
não é só a do corpo!
Fonte: https://saudebrasil.saude.gov.br/eu-quero-me-exercitar-mais/5-fatos-que-voce-precisa-
saber-sobre-atividade-fisica-e-saude-mental-na-adolescencia
O fato é que passar
longas horas no celular,
adulta. E na adolescência não é dife- no computador, em tivas, devido ao aspecto social,
rente. Segundo o pesquisador, essa às conexões e às interações que
tablets e afins aumenta o
é uma fase de consolidação tanto estão intrinsecamente ligadas à
comportamento sedentário,
pessoal quanto de hábitos. Ou seja, cada modalidade, podem ofere-
comportamentos adquiridos pelo que é fonte de diversos cer mais benefícios para a saúde
adolescente têm grandes chances de problemas para a saúde mental. No entanto, as variações
serem mantidos na fase adulta. Por que física e mental. individuais também são benéficas.
não optar por aqueles que vão construir Além do mais, alguns adolescentes po-
um futuro mais saudável? dem ter preferência por elas.
3 – Descobrindo a identidade por meio da atividade Por esse motivo, para dar certo, é importante que
física o jovem esteja engajado e pratique atividades físicas
As transformações não param e é justamente na das quais goste e com as quais se identifique. Essa
adolescência que começamos a entender melhor identificação faz com que a prática perdure por mais
quem somos. Diante dessas múltiplas sensações e tempo.
dessa busca pelo entendimento da própria identida- 5 – O exemplo é a melhor maneira de ensinar
de, Rodrigo lembra que praticar atividade física pode Uma das principais características da geração jovem
ajudar bastante o adolescente a se conhecer e a lidar atual é, sem dúvida, o tempo excessivo diante das
com todas as mudanças que ocorrem com o corpo telas. É comum, inclusive, achar pais e responsáveis
nesse período. com dificuldades para lidar com a situação. O fato
4 – Uma oportunidade excelente para fazer amigos é que passar longas horas no celular, no computa-
Parte dessa busca pela identidade passa pelo aspec- dor, em tablets e afins aumenta o comportamento
to social. É muito comum, inclusive, que adolescen- sedentário, que é fonte de diversos problemas para a
tes adotem comportamentos específicos para serem saúde física e mental.
aceitos em um círculo de amigos. Nesse contexto, a Segundo Rodrigo, pessoas com maior tempo
atividade física é uma oportunidade excelente para nesse estado praticam menos atividade física,
socializar de um jeito positivo e saudável. podem desenvolver transtornos alimentares e
Segundo Rodrigo, a socialização é um aspecto central problemas relacionados ao sono, sendo esses
para a saúde mental dos adolescentes, e a atividade fatores que também têm impacto na saúde men-
física pode ser um fator importante nesse processo, tal. Mas para lidar com o problema, ele lembra
além de ter um impacto positivo nas emoções. “A que antes é preciso interromper um ciclo que
aula de educação física é um momento de conexão atinge toda a família. Afinal, hoje em dia boa par-
entre os adolescentes, e que perdura para além das te dos familiares ou das pessoas que convivem
aulas e do período escolar”, afirma o professor. nas mesmas residências está presa às telas, até
Por isso, Rodrigo explica que as modalidades cole- mesmo na hora das refeições.

Uso e abuso de álcool e outras drogas na adolescência
O psicólogo Gilberto do Rosário Moreira alerta para os riscos
Gilberto do Rosário Moreira. Psicólogo Clínico – CRP: 04/53474. Especialista em Saúde Mental e Dependência Química e em Sexualidade Humana.
Professor de Sociologia da SEEMG; Licenciado em Psicologia e em Ciências Sociais. Contatos: gilbertomoreirapsicologo@gmail.com Instagram: @
gilbertomoreirapsicologo
A adolescência trata-se de uma fase marcada por Provar o seu valor: drogas, bem como o tabaco, que aqui vale
diversas transformações e acontecimentos na vida É diante disso, que o jovem, precisa estar precavido e
do indivíduo. Dentre os vários acontecimentos, es- orientado, pois, nessa tentativa de provar o seu valor
tão às descobertas, e elas contribuirão para o seu e a sua capacidade, que poderá haver o incentivo ou
desenvolvimento, tanto nos aspectos psicológicos, até ter o desejo de fazer uso de alguma substância
quanto sociais. psicoativa lícita ou ilícita. Geralmente, por ser consi-
Assim, é nessa fase que o jovem também vivencia derada uma droga lícita e socialmente aceita, e até
conflitos internos e intensos decorrentes das emo- incentivada pela maioria, o álcool é uma delas.
ções e sentimentos em relação Enfrentar a timidez
a si, bem como ao mundo Uma vez experimentado, o jovem pode associar o
que o rodeia. uso do álcool a diversos prazeres vivenciado nessa
Por isso, é importante fase, e até mesmo usá-lo, como “recurso”, para o
...podendo haver a
o cuidado com algu- enfrentamento de algumas situações em sua vida,
necessidade de fazer
mas questões que como a timidez, por exemplo, e pode progredir
algumas experimentações
rondam o mundo para o consumo de outra droga mais pesada.
no sentido de provar
dos jovens. Sentimento de “estar no controle”
que é capaz e assim ser
Fazer parte de um Atrelado a isso, o sentimento de onipotência faz
acolhido pelos demais.
grupo: com que o adolescente pense que está no controle
É na adolescência que e que consegue parar quando quiser, e que o uso
o indivíduo buscará por da droga e do álcool é inofensivo.
outras referências além da Outros fatores:
família, sendo que, fazer parte de um grupo ■ Influência de pessoas que consomem substân-
de iguais uma delas. Com isso, se nesse grupo cias psicoativas, pois nessa fase da vida encon-
é comum o uso de algum tipo droga em seus tra-se muito mais vulnerável e impulsivo.
membros, em muitas das vezes, o jovem tam- ■ A dificuldade de mensurar e avaliar os pró-
bém poderá se sentir inclinado, podendo haver a prios atos são outras características mar-
necessidade de fazer algumas experimentações cantes da adolescência, o que contribui
no sentido de provar que é capaz e assim ser para que o jovem crie resistência e acate
acolhido pelos demais. sugestões para que faça uso e abuso de
Periódico pedagógico para estudantes 9
ser apontando também como outra subs-
tância que pode provocar dependência.
■ É importante ressaltar a questão da vulnera-
bilidade do indivíduo em relação à possibilida-
de do desenvolvimento de uma dependência
química, e que vale acrescentar que quando
mais cedo se inicia o uso de álcool e outras
drogas, maiores serão chances para que tal
possa ocorrer.
Redes sociais
Nas redes sociais há certa “naturalização” de com-
portamentos para os quais o jovem ainda não está
preparado, vindo a apresentar dificuldades para
avaliar os riscos e responder de forma contrária. É
essa dificuldade que pode fazer com o jovem se
sinta pressionado e venha a experimentar deter-
minado tipo de droga, para poder se sentir perten-
cente a um tipo de tendência.
É importante enfatizar que não há forma segura
no contato e no uso de qualquer tipo de droga,
pois, trata-se de algo que pode gerar dependência
e diversos prejuízos biopsicossociais na vida do in-
divíduo.
Portanto, é preciso considerar todos os fatores que
possibilitem que o jovem tenha acesso e venha en-
contrar em qualquer substância psicoativa, lícita ou
ilícita, uma solução para lidar com as dificuldades e
descobertas inerentes da adolescência.
10 JORNAL LUPA n. 5, JUL 2022 M A T É R I A D E C A P A
Como nosso cérebro pode nos deixar mais
pobres (e o que fazer para evitar)
Estudos têm mostrado que tomamos decisões irracionais que prejudicam nossa saúde financeira com
frequência
João da Mata. Da BBC News Brasil em São Paulo
É um pouco mais caro do que a sua conta bancá- nomia ao olhar justamente para essas anomalias.
ria permite, mas se torna a coisa mais urgente do Surgia o campo da economia comportamental,
mundo naquele momento. E se o preço aumen- cujo maior nome é o psicólogo - isso mesmo, um
tar e você perder a oportunidade? E se esgotar? psicólogo - Daniel Kahneman, vencedor do prê-
Tomado pelo impulso, você faz as contas de ca- mio Nobel em 2002. “Eles abrem esse espaço de
beça e decide comprar. Não precisa nem colocar conversa para que a gente possa perceber que
o número de cartão, que já está salvo no nave- tem outras coisas que influenciam a tomada de
gador. decisão, e não só a ideia de maximização da uti-
Dias depois, vem o arrependimento. Ou pior, o lidade, do bem-estar e do lucro. Que coisas são
endividamento. essas? As emoções”, explica Renata.
Nos últimos anos, estudos nas áreas de econo- No final dos anos 1980, outro campo de estudos
mia comportamental e neuroeconomia têm mos- vai ainda mais fundo.
trado que essas situações - em que tomamos Unindo as descobertas da economia comporta-
decisões irracionais que prejudicam nossa saúde mental e as técnicas da neurociência, a neuroe-
financeira - acontecem com frequência. conomia tenta desvendar o que acontece no cé-
Mas quais são os nossos erros econômicos mais rebro dos indivíduos na hora que ele decide fazer
comuns? E como não cair nas “armadilhas” do uma compra desnecessária, por exemplo.
nosso cérebro? “Agora a gente tem a possibilidade de abrir a caixa
Uma boa maneira é entender o que essas áreas preta, que é como os economistas se referiam à
de estudo têm descoberto e aplicar os ensina- mente das pessoas. Você consegue de fato olhar
mentos no nosso dia a dia. e entender o que vai acontecendo no processa-
mento cerebral na hora que o indivíduo vai tomar
Você é racional? uma decisão”, diz Renata.
“A economia tradicional olhou por muito tempo “Quando você estuda neuroeconomia, cai por
para o indivíduo como alguém racional, frio e terra a ideia de que podemos controlar o com-
objetivo e que vai querer maximizar o seu bem- portamento, a tomada de decisão, tudo o que
-estar, seu lucro, seu ganho financeiro e interesse fazemos. Porque o motivador da tomada de de-
próprio”, afirma a professora Renata Taveiros, co- cisão não é o aspecto racional, cortical, lógico
ordenadora do Curso de extensão em neu- e analítico. Ele está muito mais ligado à
rociência e neuroeconomia na FIA. Quando você estuda emocionalidade.”
As tomadas de decisão inconsistentes, neuroeconomia, cai
que fogem da racionalidade, eram por terra a ideia de que Aprenda a dizer ‘não’ a si próprio
consideradas anomalias. Ou seja, não podemos controlar Antes de tudo, é bom deixar claro
o comportamento, a
viravam objeto de estudos. tomada de decisão, tudo
que os afetos e emoções não são
Mas no final dos anos 70, um grupo o que fazemos. necessariamente ruins. Pelo con-
de pesquisadores revolucionou a eco- trário, são de suma importância para
nossa sobrevivência.
“A seleção natural nos trouxe a combinação do
afeto com a razão. E não foi à toa. Isso maximi-
za nosso acoplamento com o mundo. Quando a
gente tira emoção, a gente tira empatia pelo ou-
tro. Nossas decisões se tornam mais egoístas, e a
sociedade como um todo desfalece”, diz o neu-
rocientista Álvaro Machado Dias, professor da
Unifesp e sócio do Instituto Locomotiva.
Mas é fato que emoções também podem nos le-
var a cometer erros graves, que levam ao senti-
mento de culpa e ao endividamento.
É nesse sentido que os ensinamentos economia
comportamental e a neuroeconomia podem nos
ser úteis: tornar nossa irracionalidade previsível e
evitar decisões ruins.
A primeira dica parece simples, mas na prática é
bem difícil. Você deve aprender a dizer não para
si mesmo.
“Não faça nada por impulso sem antes avaliar se
a culpa não vai estragar a festa. Entenda melhor
seu ‘eu futuro’, com suas agendas e cobranças.
Dizer não para si é como dizer não para um filho:
é difícil, mas pode ser engrandecedor”, aconselha
Álvaro.
Segundo Renata Taveiros Saboia, um dos mo-
tivos que tornam tão difícil essa negação dos
próprios impulsos é a facilidade cada vez maior
de fazer pagamentos. QR Codes, Pix, cartões de
crédito que ficam salvos em sites de compras são
alguns exemplos. Além disso, o neurotransmissor
chamado dopamina, que ativa o chamado “siste-
ma de recompensa” do cérebro, também pode
atrapalhar.
“Quando a dopamina está trabalhando, ela esti-
mula o comportamento impulsivo. Como funcio-

na? Você tem lá uma expectativa de ganhar algo.
Pode ser dinheiro, bem-estar, prazer, uma imagem
bacana diante dos outros, etc. E esse compor-
tamento impulsivo te faz querer imediatamente
aquela recompensa”, explica.
Um exemplo de como esse sistema de recom-
pensa é explorado atualmente é a gamificação
do consumo. Ou seja, a transformação do ato
de comprar em um jogo. Aplicativos de super-
mercados e lojas online prometem recompensas
(descontos, produtos grátis, etc.) ao se atingir um
determinado número de pontos, por exemplo. No
Brasil, esse tipo de decisão ruim pode ser identi-
ficada nos nossos altos níveis de endividamento,
diz Renata.
Um estudo da Confederação Nacional do Comér-
cio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), de agosto
de 2021, aponta que um em cada quatro brasi-
leiros (25,6%) não conseguia quitar as dívidas no
prazo naquele mês.
“A gente tem problemas muito sérios no Brasil, e
todo esse estímulo para consumo que estimula o
comportamento impulsivo piora ainda mais essas
condições”, diz a neuroeconomista. Por isso, uma
dica de ouro para evitar esse tipo de decisão im-
pulsiva é sempre “dar uma volta a mais”.
“Eu costumo colocar um adesivo no cartão de
crédito dos clientes dizendo ‘dê mais uma volta,
espere mais um pouco, respire’. Quando a pessoa
vai fazer outra coisa e volta, a dopamina baixa,
já que é uma substância química que tem efeito
por um tempo determinado. Logo, a sensação de
‘quero, quero’ vai passar e ela chegará à conclusão
que pode usar esse dinheiro para outra coisa. Mas
tem que ser depois, na hora não dá”, explica.
Não faça contas de cabeça
Só que essas decisões ruins podem ser evitadas
antes mesmo da compra. Renata Taveiros expli-
ca que quando você tem a exata noção de como
anda a sua vida financeira, é mais difícil ficar endi-
vidado.
“É muito importante a pessoa ter coragem e saber
que vai ser muito bom se aproximar da vida finan-
ceira e olhar as contas. Muitos dizem que é difícil,
mas depois que você faz isso, vem uma sensação
de alívio. Se você tiver medo de olhar, vai cair em
todo tipo de armadilhas mentais.”, diz ela.
Uma dessas armadilhas é a “contabilidade men-
tal” - aquela mania de fazer contas de cabeça,
Periódico pedagógico para estudantes 11
na maioria das
vezes erradas,
sobre a nossa
situação fi-
nanceira.
mesma quantia para outra pes-
“A gente faz
soa é quase a mesma coisa.
contas de
Segundo Renata Taveiros de Sa-
caixinha. ‘Eu
boia, uma solução pode ser criar
ganho 100,
um “nudge”, ou seja, um empur-
então eu posso
rãozinho para que você pense com
gastar 50 no su-
mais carinho no seu futuro.
permercado, 20 no
“Uma ideia que eu costumo aplicar é
barzinho, só 10 no lan-
usar um desses aplicativos que te deixam
che, também posso ter uma parcela
mais velho em uma foto. Isso te faz se conectar
mensal de 15...’. Você compara 15 com 100, 10
com aquela imagem. Aí você deve fazer o exer-
com 100, mas não soma tudo. Depois, leva um
cício de pensar o que quer para a vida daquela
susto e vê que está no vermelho”, alerta a neuro-
outra pessoa. Assim, vai criar um circuito neural
economista.
que conecta o seu eu do futuro com o seu eu de
Ou seja, coloque seus gastos na ponta do lápis.
hoje”, diz ela.
Some todos os seus ganhos e os seus custos de
vida. Só assim você terá a real noção de quanto
Aprenda também a dizer ‘sim’ a si próprio
dinheiro pode gastar.
Mas o neurocientista Álvaro Machado Dias faz
um alerta. Ainda que seja importante guardar di-
Cuide do seu ‘eu futuro’
nheiro, é necessário também saber se permitir.
Uma das decisões mais importantes que pre-
“Não assuma que se permitir é sempre ruim
cisamos tomar, pensando no nosso futu-
e nem caia na falácia de que devemos
ro, é a de guardar dinheiro. É claro que
Ainda que seja adiar continuamente o prazer para um
o contexto da economia brasileira
importante dia poder usufruir do mesmo em in-
- com desemprego, informalidade e
guardar dinheiro, é tensidades maiores. Hoje, o que ve-
inflação em alta - torna isso proibiti-
necessário também mos é um mar de gente sem tesão
vo para muita gente.
saber se permitir. de viver. Saia deste mar”, diz ele.
Mas por que é tão difícil fazer isso
De acordo com Álvaro, nem todas as
mesmo quando há condições?
decisões que tomamos na vida, sejam
Um efeito conhecido como “desconto
elas econômicas ou não, podem ser reali-
intertemporal” na economia comportamental
zadas de maneira puramente racional - e nem é
pode explicar:
desejável que isso aconteça.
“Imagina que você pega um binóculo e vira ao
“Às vezes a gente é tomado por componentes
contrário. O que acontece? O que tá lá longe fica
emocionais, e de fato isso pode gerar desfechos
pequenino. E o que está perto ganha um valor,
ruins, inclusive arrependimento”, diz ele.
um tamanho gigante”, explica Renata Taveiros.
“Mas a entrada em jogo desses componentes que
“A gente quer a recompensa imediata, agora, já,
não são formalistas, lógicos, é o que no final das con-
porque ela aparenta ser muito maior do que uma
tas torna as nossas decisões melhores para o grupo,
recompensa que é muito misteriosa, que você
espécie e cultura como um tudo”, completa.
não sabe o que vai acontecer, lá no futuro.”
Por isso, a dica é saber alocar melhor as suas ener-
Estudos neuroeconômicos mostram que algumas
gias e preocupações:
áreas do cérebro acionadas quando você pensa em
“Não dá tempo - nem faz qualquer sentido - tentar
guardar dinheiro para o seu futuro são as mesmas
otimizar todas as decisões. Escolha as suas bata-
de quando você pensa em dar dinheiro para um
lhas. Foque nas escolhas que mais importam; são
estranho. O que pode significar que, para o nosso
elas que, ao fim e ao cabo, definirão quem você é”.
cérebro, guardar dinheiro para o Eu futuro e dar a
12 JORNAL LUPA n. 5, JUL 2022 M A T É R I A D E C A P A

A “moda” do cigarro
eletrônico
Com diferentes essências e sabores e uma aparência mais
inofensiva que o tabaco comum, o cigarro eletrônico pode
provocar consequências tão nocivas quanto o cigarro, incluindo
doenças pulmonares e cardiovasculares e câncer. alerta foi feito
pelo neurocirurgião Fernando Gomes.
(Texto adaptado) Disponível em: https://exame.com/brasil/anvisa-mantem-proibicao-a-venda-de-
cigarros-eletronicos-em-votacao-unanime/. Acesso: 07/07/2022. https://www.cnnbrasil.com.br/saude/
entenda-os-riscos-do-cigarro-eletronico-para-a-saude/

Diretores da
Anvisa votaram nesta
quarta-feira um relatório
A praticidade e aparência tecnológica de Análise de Impacto dução de danos à saúde.
do cigarro eletrônico têm sido atrativos Regulatório (AIR) Cigarros eletrônicos, ou vapes,
especialmente entre os jovens. Segun- sobre os dispositivos funcionam por meio de uma
do o Instituto Nacional de Câncer (Inca), eletrônicos para
fumar.
bateria que aquece um líquido
os dispositivos eletrônicos não são segu- interno, composto por água, aro-
ros e possuem substâncias tóxicas além da
matizante, nicotina, propilenoglicol
nicotina. O cigarro eletrônico pode causar doen-
ças respiratórias, como o enfisema pulmonar, doen-
e glicerina. Têm formas variadas, e modelos
ças cardiovasculares, dermatite e câncer. mais modernos se parecem com pen-drives.
Alguns são fechados: não é possível manip-
De olho na notícia: Cigarro eletrônico: uma ular o líquido interno. Outros podem ser re-
droga ILÍCITA carregados com líquidos de várias substân-
Anvisa mantém proibição à venda de cigar- cias e sabores, como uva e menta.
ros eletrônicos em votação unânime Diretores da agência votaram nesta quar-
Norma da agência já veda a comercial- ta-feira um relatório de Análise de Impac-
ização, a importação e a propaganda do to Regulatório (AIR) sobre os dispositivos
aparelho conhecido como “Vape” desde eletrônicos para fumar. Esse documento
2009 apresentava três alternativas para o tema:
A Agência Nacional de Vigilância Sani- manter a proibição; manter a proibição com
tária (Anvisa) decidiu nesta quarta-feira, ações adicionais não normativas (como
6, manter a proibição de venda de cigar- campanhas e fiscalização); ou permitir a
ros eletrônicos no Brasil e ampliar a fis- comercialização dos cigarros eletrônicos.
calização para coibir o mercado irregular A recomendação da área técnica foi pela
dos dispositivos. Participaram da votação adoção da segunda alternativa, de manter
quatro diretores da Anvisa - a decisão foi a proibição com medidas de fiscalização.
unânime. A venda de cigarros eletrônicos é Essa opção foi endossada nesta quar-
proibida no País desde 2009. ta-feira diretoria da Anvisa.
A avaliação técnica da Anvisa aponta que A avaliação da Anvisa, com base em pesqui-
nenhum dispositivo eletrônico é útil para sas científicas e experiências em outros
ajudar fumantes a parar de fumar e que países, é a de que os cigarros eletrônicos fa-
cigarros eletrônicos causam dependência e vorecem a entrada dos jovens no tabagismo.
diversos riscos à saúde. Também indica que Para a diretora Cristiane Jourdan, relatora do
uma suposta redução de substâncias conti- processo, uma eventual decisão de liberar os
das nos cigarros eletrônicos, na comparação produtos poderia ter impacto negativo na
com os cigarros tradicionais, não significa re- política de controle do fumo no Brasil.
D I C A C U L T U R A L :
Livro x Filme
“Amor e Gelato”: mas cadê o amor?
Por Isabella Paolinelli e por Anny Caroline atualizado em 17ul 2022, 10h33 - publicado em 17 Jul 2022, 10h01
“Amor e gelato”, o primeiro livro da trilogia “Amor
e livros” da autora Jenna Evans Welch, ganhou
recentemente uma adaptação em formato de fil-
me na plataforma de streaming Netflix, mas se-
gundo os fãs da série literária, não foi produzido
como esperado.
Ao contrário de como foi especulado pelos fãs, o
filme buscou no livro apenas inspiração e a his-
tória não foi seguida à risca. Houve até revolta,
devido ao elenco não se encaixar nas detalhadas
descrições literárias que Evans faz nos livros e a
história de amor retratada na obra literária tam-
bém não foi mostrada nas telinhas de streaming.
Apesar dos pesares, o filme traz uma história leve e
divertida na bela e calorosa Itália. Porém, em minha
concepção, o livro é um retrato de superação dos
medos e “achamentos” amorosos de verão.
F I L M E
Jenna Evans Welch: “Não consigo lembrar de
não querer ser uma escritora”
Autora do queridinho “Amor & Gelato” conver-
sou com a CH sobre novo livro e visita ao Brasil
Jenna Evans Welch conheceu um público apai-
xonado na Bienal Internacional do Livro de São
Paulo! A autora da trilogia de sucesso Amor &
participou do evento falando mais sobre seus
livros e o que podemos esperar de seus próxi-
mos passos após seu título virar uma adaptação
na Netflix.
Com seus livros aparecendo na lista de mais
vendidos no estande da Intrínseca na Bienal de
SP, a autora conversou a CAPRICHO durante
o evento e recordou como tudo começou: “Eu
Periódico pedagógico para estudantes 13
x
sabia que queria ser uma escritora desde o mo-
mento em que aprendi a ler, eu acho. Não consi-
go me lembrar de não querer ser uma escritora.”
“Me lembro de dizer para minha mãe, quando ti-
nha 11 anos, que escreveria os livros que gostaria
que estivessem esperando por mim. Eu tive esse
plano por grande parte da minha vida”, destacou.
E após ter conquistado os corações dos fãs
com sucesso de Amor &, a escritora falou de
como ter essa conexão com seus leitores atu-
almente é importante para ela: “Me sinto mui-
to honrada de ser parte da vida deles dessa
forma. É uma experiência muito especial para
mim.” Leia mais em: https://capricho.abril.com.br/
entretenimento/jenna-evans-welch-amor-gelato/
14 JORNAL LUPA n. 5, JUL 2022 M E I O
Como seria a vida se não houvesse mais natureza
• Lauren Holt * • BBC Future 17 julho 2022 Atualizado 18 julho 2022. https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-61811736. * Lauren Holt é pesquisadora do Centro para o
Estudo do Risco Existencial da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Ela está explorando o impacto da humanidade na complexidade biológica e o efeito da tecnologia
nos ecossistemas.
Nos primeiros minutos do filme de ficção científica Bla-
de Runner 2049, um carro de polícia sobrevoa uma pai-
sagem que foi transformada pela agricultura sintética.
Espelhos dispostos concentricamente para capturar a
energia solar se inclinam em direção a torres centrais,
como devotos voltados para Meca, circunferência após
circunferência, se perdendo no horizonte.
Mais adiante, um mosaico de fazendas cobertas por plás-
tico cobre cada centímetro de terra, brilhando à luz do
Sol como facetas de um verniz rachado.
Dentro de cada uma destas células, um trabalhador ves-
tindo traje de proteção draga um punhado de larvas de
besouros que se contorcem de dentro de um tanque
com água verde musgo.
Ficamos sabendo que estas técnicas agrícolas salvaram a
humanidade da fome causada pelo colapso ecológico em
meados da década de 2020.
O planeta inteiro está devastado, contendo nada além de
relíquias altamente cobiçadas de organismos “reais” e um
clima disfuncional caracterizado pela poeira seca.
Ainda assim, humanos sobrevivem e até prosperam —
pode não haver mais nada selvagem, mas eles podem
criar animais replicantes perfeitamente projetados para
substituir as coisas reais.
O “cordão umbilical” metafórico que conecta a sobrevi-
vência humana e a biosfera foi realmente cortado.
Ao longo de 2020 e 2021, enquanto o mundo se re-
colhia por causa da pandemia de covid-19, me peguei
refletindo sobre esta representação sombria, como par-
te do meu trabalho no Centro para o Estudo do Risco
Existencial (CSER, na sigla em inglês) da Universidade de
Cambridge, no Reino Unido.
Fiquei intrigada sobre como seria o futuro uma vez que a
humanidade tivesse superado a covid-19, e a crise climá-
tica-ecológica mais uma vez veio à tona.
Se a degradação ambiental severa continuar, um caminho
plausível é aquele em que os seres humanos, por necessida-
de, se desvinculam de uma biosfera que deixa de funcionar.
Um pensamento não saía da minha cabeça, algo que o
pesquisador de sistemas complexos Brad Werner falou
em uma grande conferência científica em 2012.
Em uma palestra intitulada “Is Earth F**ked?”, ele disse
A M B I E N T E
que o capitalismo global, auxiliado pela tecnologia, “tor-
nou o esgotamento de recursos tão rápido, conveniente
e livre de barreiras que os ‘sistemas humano-Terra’ estão
se tornando perigosamente instáveis em resposta”.
E se, como Werner sugeriu, a Terra realmente estiver
com problemas e os sistemas naturais do planeta estive-
rem fadados a entrar em colapso e morrer?
Vamos desenvolver cópias artificiais para substituí-los,
como em Blade Runner? E se isso acontecer mesmo,
como seria esse mundo?
Estas perguntas me levaram a publicar um artigo anali-
sando as consequências e os perigos de cortar o cordão
umbilical entre os seres humanos e a biosfera humana e
como este processo pode já ter começado.
A humanidade já está no caminho da dissociação dos sis-
temas naturais — então, se quisermos evitar os piores ce-
nários desta trajetória, o que podemos fazer a respeito?
Diante de um iminente colapso dos sistemas naturais da
Terra, falar sobre dissociação não é mais ficção científica.
Em alguns casos, ela se manifesta como “reparos” cada
vez mais profundos para preservar nossa busca por uma
vida boa.
Por exemplo, os cientistas começaram a inventar manei-
ras de sintetizar “serviços ecossistêmicos” — como poli-
nização ou outros processos naturais que beneficiam a
sociedade humana.
Na produção de alimentos, isso envolve tentar plantar
sob luz artificial no subsolo, cultivar microalgas, micopro-
teínas e larvas em biorreatores e introduzir genes modi-
ficados para aumentar a resiliência de espécies agrícolas
às mudanças ambientais.
Outras vezes, a desvinculação proposta é enquadrada
como uma forma de escapismo.
O recém apresentado “metaverso”, por exemplo, prome-
te uma forma de distanciamento espacial, laboral e recre-
ativo da “vida real” do mundo físico: por que visitar uma
floresta ou lago poluído quando você pode acessar uma
simulação digital quase perfeita de um ambiente limpo a
partir da sua casa?
Em outros lugares do Vale do Silício, tecnólogos e bilioná-
rios falam da necessidade de abandonar completamente
um planeta Terra degradado — e estão dando os primei-
ros passos para desenvolver naves espaciais com destino
a Marte.
SABEL INFANTES/BBC
Mesmo que a gente não se separe fisicamente da nature-
za a este ponto, um futuro tecnologicamente adaptado,
em que o mundo é projetado e modificado em torno das
nossas ações, é visto por alguns como aceitável, se não
necessário, para atender às duras condições do futuro.
A verdade provável é que a tecnologia pode ser a única
maneira clara de escapar de futuros desastres, dadas as
escalas de tempo terrivelmente curtas envolvidas.
Até mesmo a redução ou restrição generalizada da ativi-
dade humana, dados os recentes lockdowns globais, mal
afetou as emissões e outras práticas destrutivas.
Algumas pessoas podem acreditar que a desvinculação
não precisa ser uma preocupação. A ameaça de um
mundo exclusivamente humano-tecnológico não seria
uma distopia para muita gente.
Os defensores do transumanismo, por exemplo, imagi-
nam um futuro em que os humanos transcenderam seu
estado atual para se combinar com a tecnologia — nos
casos mais extremos, evoluindo para seres digitais “uplo-
adados”.
Esta não é a minha perspectiva, mas no passado fui de-
finitivamente seduzida por uma visão de transumanis-
mo “verde”: uma ideia explorada pela escritora feminista
Donna Haraway.
Isso propõe que, em vez de buscar preservar os sistemas
naturais, possamos nos integrar geneticamente à biosfe-
ra, de modo que tanto o humano quanto o natural sejam
transformados.
Eu via isso como uma tentativa de preservar espécies
ameaçadas de extinção, agindo como arcas biológicas
para o futuro, ou como uma forma de aniquilação bela
rumo a uma ecologia estranha no futuro.
No entanto, um mundo Blade Runner que contém ape-
nas humanos e matéria tecnologicamente organizada
sob seu controle, seria um deserto de máquinas, em vez
de orgânico.
Nesse futuro, o transumanismo verde não seria sequer
possível.
Ou não haveria mais nada para ser absorvido, ou os va-
liosos pedaços da biosfera seriam totalmente absorvidos
por nós, assimilados e mudados, apropriados, e o restan-
te desapareceria.
Leia mais em: https://www.bbc.com/portuguese/vert-
-fut-61811736
T I R I N H A Periódico pedagógico para estudantes 15
 JORNAL

P E R I Ó D I C O P E DAG Ó G I C O PA R A E S T U DA N T E S
D O E N S I N O F U N D A M E N TA L A N O S F I N A I S E E N S I N O M É D I O .

G O V E R N O D O E S TA D O D E M I N A S G E R A I S
S E C R E TA R I A D E E S TA D O D E E D U C A Ç Ã O D E M I N A S G E R A I S
E S C O L A D E F O R M A Ç Ã O E D E S E N V O LV I M E N T O P R O F I S S I O N A L D E E D U C A D O R E S