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2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

Relatório e Arquivamento do IP

Relatório final: faz uma síntese do que foi


apurado.

A classificação do crime vincula o MP ou


o juiz? Não.

A única exceção onde a Autoridade


Policial pode dar juízo de valor é no caso
de crime de tóxicos, onde a Autoridade
deverá indicar a conduta do indiciado no
artigo12(tráfico) ou no artigo16(porte de
substância), nos termos do antigo artigo
37 da Lei 6.368/76 e atual 30 da Lei nº
10.409/2002.

Devolução do inquérito policial para a


polícia: O MP quando recebe o IP relatado
pode requerer sua devolução quando faltam
diligências imprescindíveis para o
oferecimento da denúncia (CPP, art. 16).
E se o juiz discorda da devolução? Envia
os autos ao PGJ ou à Câmara de
Coordenação e Revisão(LC 75/93, art. 62)

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E se o indiciado estiver preso? Não é


possível devolução do IP (salvo se o indiciado
for solto).
Nada impede que o Ministério Público
ofereça denúncia e, ao mesmo tempo,
requisite novas diligências à autoridade
policial (CPP, art. 13, II e 47; LONMP, art.
26, IV).
Pode a autoridade policial determinar o
arquivamento do inquérito policial? Não
(CPP, art. 17). Quem pode arquivar IP no
Brasil? Somente juiz.

Quando? Quando houver requerimento do


MP.
O juiz de ofício não pode arquivar o IP. 

O ato do juiz que arquiva IP é uma


decisão(o CPP fala impropriamente em
despacho).

Transita em julgado?
Depende do fundamento do
arquivamento:

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Quando reconhece a falta de tipicidade -


conforme a arguta distinção de Bento de
Faria, acolhida por Frederico Marques),
terá a mesma eficácia de coisa julgada
material da rejeição da denúncia por
motivo idêntico (C.Pr.Pen., art. 43, I),
impedindo denúncia posterior com base
na imputação que se reputou não
criminosa Coisa julgada é feita nesta fase,
sem processo ? Sim, pois trata-se de
processo lato sensu.

*** Só existe pedido de arquivamento


explícito. Não há como admitir
arquivamento implícito. Na eventualidade
de que o representante do Ministério
Público não tenha opinado expressamente
sobre algum co-réu ou sobre um delito,
deve-se abrir vista dos autos para isso.

Arquivado o inquérito policial, de outro


lado, não é possível o oferecimento de
ação penal privada subsidiária da pública
(CPP, art. 29), que só é cabível quando há
inércia do ministério público.

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Cabe recurso contra o ato do juiz que


arquiva o IP? Não.

Exceções:
1)crime contra a economia popular, em
que cabe recurso de ofício(reexame
necessário) (Lei 1.521/51, art. 7º)

(a) se o Tribunal julgar improvido o


recurso, decide que os autos
devem mesmo ficar arquivados;
(b) se o Tribunal julgar provido o
recurso, decide que os autos não
poderiam ser arquivado, logo, não
devolve os autos à primeira
instância(para não ferir a
independência funcional), e sim,
aplica por analogia o artigo 28 do
CPP.
? Ora, por que o juiz então, ao invés
de recurso de ofício, decide pelo
arquivamento e já remete ao PGJ(28
do CPP) ou à Câmara de
Coordenação e Revisão(CCR-LC
75/93) ?
Porque o PGJ ou a CCR não podem
rever decisão judicial.

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? E se o juiz discorda do
arquivamento do MP, aplica o 28 do
CPP, o PGJ ou a CCR mantém o
posicionamento do MP. Como isso
vincula o juiz, pode ele, determinar
o arquivamento e proceder ao
recurso de ofício ?
Não, pois o PGJ ou a CCR já se
manifestou e ainda que isso fosse
possível e o Tribunal viesse a
entender de forma diversa, nada se
poderia fazer.

2) no caso das contravenções dos arts.


58(jogo do bicho) e 60(aposta de corrida
de cavalos fora do hipódromo) da Lei
6259/44 - cabe Recurso em Sentido
Estrito (artigo 6º da Lei 1508/51):
(a) se o juiz se retratar, deve
aplicar o 28 do CPP, pois não pode
obrigar o MP a oferecer denúncia.
Não cabe recurso disto, logo não se
aplica o artigo 589, parágrafo
único do CPP;

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(b) manter sua decisão: deve então


remeter os autos ao Tribunal, que
se julgar improvido o recurso,
manterá o arquivamento e se
julgar provido, aplicará o artigo 28
do CPP
Mas quem irá recorrer, se foi o próprio
MP quem requereu o arquivamento ? R:
qualquer do povo
Art. 6º. Quando qualquer do povo
provocar a iniciativa do Ministério
Público, nos termos do artigo 27 do
Código do Processo Penal, para o
processo tratado nesta Lei, a
representação, depois do registro pelo
distribuidor do juízo, será por este
enviada, incontinenti, ao Promotor
Público, para os fins legais.
Parágrafo único. Se a representação
for arquivada, poderá o seu autor
interpor recurso no sentido estrito.

? Arquivado o inquérito policial é possível


o oferecimento de ação penal privada
subsidiária da pública (CPP, art. 29)? Não.

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E se o juiz discordar do pedido de


arquivamento, que ocorre? Aplica o art. 28
do CPP (envio dos autos ao PGJ ou a CCR),
que pode
(a) oferecer a denúncia,
(b) designar um promotor para fazê-lo ou
(c) insistir no arquivamento. Quando o
Procurador Geral insiste no
arquivamento, vincula o juiz.
O próprio PGJ pode oferecer a denúncia
como alguém por ele delegado. Este é
longa manus(EXTRA AUTOS pede para
trocar de membro, pois não é conveniente
o processo com membro que não se
convenceu dele).

Pode o PGJ obrigar o próprio membro do


MP que pediu o arquivamento a oferecer a
denúncia ?
Não, em face do princípio institucional da
independência funcional(art. 127, §1º da
CF/88 – UNIDADE, INDIVISIBILIDADE E
INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL)

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ATENÇÃO: No âmbito do Ministério


Público Federal há regra específica (LC
75/93, art. 62): cabe à Câmara de
Coordenação e Revisão Criminal
manifestar sobre o arquivamento de
inquérito policial ou peças de informação
(e concordará ou não com o Procurador da
República que pediu o arquivamento).

É possível a reabertura do inquérito


policial arquivado? Por força do art. 18 do
CPP sim, quando há notícia de NOVAS
PROVAS.

Quem pode pedir o desarquivamento ?


O MP(o querelante não, pois não pode
pedir arquivamento, pois isto é renúncia).

E a vítima ?
Não.

Súmula 524 do STF: somente se surgem


novas provas é que a ação penal pode ser
intentada.

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Assim, arquivado o IP pelo juiz, somente


pode o mesmo ser desarquivado se surgirem
novas provas(artigo 18 do CPP c/c a
Súmula 524 do STF) e desde que não tenha
operado a prescrição.

O conceito de novas provas, previsto no


artigo 18 do Cód. Proc. Penal, segundo a
Jurisprudência:

“A nova prova há de ser


substancialmente inovadora e não apenas
formalmente nova”. (RTJ 91/831 e RT
540/393).

? O JUIZ, PODE, DE OFÍCIO, COM NOVAS


PROVAS, DESARQUIVAR O IP ?
SIM, POIS DE QQUER FORMA TERÁ QUE
ABRIR VISTA AO MP PARA ANÁLISE DO
NOVO PANORAMA PROBATÓRIO.

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Pedido de arquivamento de inquérito


policial (ou outra peça investigatória) em
2ª instância ou em outro Tribunal ?

Vincula o Desembargador ou Ministro(HC


82.507-SE, rel. Min. Sepúlveda Pertence,
10.12.2002. (HC-82507)”.

Qual razão jurídica então de ter que pedir


arquivamento, se a manifestação do chefe
do parquet já vincula ? Não há, talvez para
manter boas relações entre as instituições,
que, por deferência especial, formula pedido
ao Tribunal.

Exercício: se o pedido de arquivamento,


entretanto, é formulado por Procurador
que atua em nome do Procurador Geral,
pode ser aplicado o art. 28 do CPP?  O
STJ disse sim, REsp 148.544-AC, Hamilton
Carvalhido, DJU de 04.02.02, p. 577, j.
17.05.01; Rp 22-PR, Pádua Ribeiro, DJU de
16.12.91. Mas o tema é polêmico. O
correto é o entendimento contrário,
porque o Procurador designado fala em
nome do PGJ ou PGR(longa manus)

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É possível arquivamento do inquérito


policial em ação penal privada? Não. Se
houver pedido, significa renúncia. O juiz em
seguida julga extinta a punibilidade, nos
termos do art. 107, V, do CP.

Pode o Procurador Geral de Justiça avocar


o inquérito policial? Não, não pode o
Procurador Geral da Justiça ou da
República avocar o inquérito policial. Mas de
acordo com a Lei Orgânica do Ministério
Público ele pode designar um promotor
para acompanhar o inquérito policial.

Professor Thales e Rogério Sanches Cunha:


A PEC de Reforma do Poder Judiciário
confere amplos poderes ao Procurador
Geral da República para, junto ao STJ,
avocar processos estaduais quando
envolvam atentados contra direitos
humanos, abrindo possibilidade de
perigosíssima interpretação extensiva em
benefício do Ministério Público Federal,
sempre em detrimento das atribuições dos
Promotores de Justiça.

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Com efeito, torna-se difícil vislumbrar uma


conduta criminosa que não atinja, direta ou
indiretamente, direitos humanos,
possibilitando ao Procurador Geral da
República chamar à esfera federal os
processos mais rumorosos, em relação aos
quais a sociedade, que nos garante a
existência, espera uma resposta pronta e
eficaz.
Com a Súmula 122 do STJ, pela conexão,
tudo vai para a esfera federal.
Professor Rogério: Ainda que pareça hilário,
correremos o concreto risco de nos
depararmos com situações como as que
assistimos em produções hollywoodianas,
nas quais autoridades estaduais ou
regionais, no calor do desempenho de suas
atribuições contra crimes graves e rumorosos,
são surpreendidas pela aparição repentina e
inusitada de “agentes federais” que, sem
maiores explicações e em total
desconsideração ao trabalho até então
realizado, “assumem” o controle da situação,
prontos para receberem os louros da vitória.

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Correição parcial durante o inquérito


policial: sim, é cabível correição parcial
durante o inquérito policial. Por exemplo:
(a) quando o juiz não acata o pedido
fundamentado de devolução do
inquérito policial à autoridade
policial;
Não cabe se o pedido de devolução é ausente
de fundamento: devolver os autos a DEPOL
para renumerar folhas.
(b) Quando o juiz arquivar o IP de ofício,
sem ouvir o MP

Que ocorre quando juiz ou promotor é


preso em flagrante?
se o crime cometido pelo juiz ou pelo
promotor for inafiançável pode haver prisão
em flagrante. Só existe imunidade formal
prisional para eles no caso de crime
afiançável. A autoridade policial nesse caso
lavra o auto de prisão em flagrante nos
termos do art. 8º do CPP e, no prazo de
vinte e quatro horas, o encaminha
(juntamente com o preso) ao Tribunal de
Justiça ou Procurador Geral de Justiça
(Lei 8.625/93, art. 40, III), que darão
prosseguimento na investigação.

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Ministro da Justiça pode requisitar IP ?


Não, ele “requisita” abertura deste ao MP e
este faz a requisição, se entender pertinente.

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Arquivamento tácito ou implícito e


arquivamento indireto:

ARQUIVAMENTO TÁCITO OU IMPLÍCITO –


ocorre quando:
(a) o MP viola o princípio da
legalidade(não oferece denúncia em
relação a um dos crimes) – aspecto
objetivo
(b) o MP viola o princípio da
indivisibilidade(não oferece denúncia
em relação a um co-autor ou
partícipe) – aspecto subjetivo

Esse tipo de arquivamento somente


ocorre quando o juiz não se pronunciar
com relação aos fatos omitidos na peça de
acusação.

Assim, se o juiz aplicar o artigo 28 do


CPP, não se fala em arquivamento
implícito ou tácito e sim, tão somente,
pedido implícito ou tácito de
arquivamento não consumado (leia-se, não
houve arquivamento tácito,apenas o pedido
tácito).

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Portanto, sugere-se que o membro do


Ministério Público deve sempre expor na
cota introdutória à denúncia os motivos
que o levaram a deixar de incluir na
prefacial acusatória um fato criminoso ou
um indiciado(sobre o tema, vide Manual de
Prática Forense, Professor Thales Tácito, RT,
2004).

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ARQUIVAMENTO INDIRETO

O arquivamento indireto1 surge quando o


membro do Ministério Público se vê sem
atribuição para oficiar em um
determinado feito e o magistrado, por sua
vez, se diz com competência para
apreciar a matéria.

Não se confunde tal hipótese com conflito


de atribuições, porquanto este resulta no
conflito entre dois agentes do Ministério
Público, enquanto que no arquivamento
indireto ocorre uma tentativa por parte
do membro do Ministério Público de
arquivar a questão em uma determinada
esfera.
Exemplo: artigo 27 da Lei 6.368/76 -
quando um promotor de Justiça entende
que os fatos investigados são de competência
da Justiça Federal e o juiz entende ser ele
mesmo competente
Exemplo: lança perfume é autorizado na
Argentina.

1
Professor Marcus Vinicius de Viveiros Dias(Do arquivamento implícito e do
arquivamento indireto, http://www.mundojuridico.adv.br

Pg. 17
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Como dessa decisão não cabe o recurso


em sentido estrito previsto no artigo 581,
inciso II, do Código de Processo Penal,
pois, nesse caso, o juiz se declara
competente e não incompetente, a
solução para dirimir a presente questão é
a aplicação analógica do artigo 28 do 
CPP, a fim de que o chefe ministerial dê a
última palavra, a saber, ou o Procurador-
geral de Justiça ou a Câmara de
Coordenação e Revisão Criminal:
(a) concorda com a tese do membro do
Ministério Público e o magistrado
deverá encaminhar os autos à Justiça
Federal - Neste caso (o chefe do
Ministério Público concorda com a tese do
promotor de justiça), o juiz federal que
receber os autos poderá suscitar o
conflito negativo de competência a ser
dirimido pelo Superior Tribunal de
Justiça,com arrimo no artigo 105, inciso I,
letra "d", da Carta Política” ou
(b) abraça o entendimento do
magistrado e delega para outro

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membro do Ministério Público atuar


no feito na órbita da Justiça Estadual.
Conflito de Atribuição nº 1994/0031616-
0, STJ, Min. Rel. Anselmo Santiago
Conflito de Atribuições, STF, Min. Rel.
Rafael Mayer, DJ: 09-12-83

Quem resolve o conflito de atribuições


entre Promotores Estaduais é o
Procurador Geral de Justiça. Entre
Procuradores Federais(Procuradores da
República) é a Câmara de Coordenação e
Revisão.

E quanto há um conflito entre membro do


MP estadual e outro federal? Em nenhum
lugar do ordenamento jurídico isso está
disciplinado. Parte da doutrina diz que o
STF dirimiria a questão (CF, art. 102, I, "f").
Outra parte sustenta que o STJ seria o
competente (CF, art. 105, I, "d"). Com a
devida venia, nem um nem outro dispositivo
resolve a questão. Não há nada expresso no
ordenamento.

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Professor Thales entende tratar-se de ato


administrativo complexo, dependendo da
decisão conjunta do PGJ e PGR, pois
admitir que o Procurador-Geral da República
resolva o conflito é invadir a
independência do Ministério Público
Estadual, instituição autônoma e com
Chefia própria. O artigo 128 da CF/88
traz exatamente esta autonomia entre o
Ministério Público da União e dos
Estados, cada qual com Chefia própria,
visando não quebrar o norte federativo

A mesma solução entende o Professor


Thales para o conflito de atribuições
entre um Promotor do Estado de MG e de
SP: o PGJ-MG e PGJ-SP devem se
manifestar(ato complexo), sendo que, não
havendo consenso, suscitam cada qual ao
respectivo juiz estadual o conflito de
competência para o STF

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PEÇA 1:
ESQUELETO DE ARQUIVAMENTO DE
INQUÉRITO POLICIAL REQUERIDO PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO EM CASO DE
SUICÍDIO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR


JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE
________________.

PROPOSTA DE ARQUIVAMENTO

INQUÉRITO POLICIAL Nº
NUMERAÇÃO DA SECRETARIA -
MM. JUIZ,

I- DO RELATÓRIO

O Inquérito em
epígrafe, que esta acompanha, foi
instaurado, visando apurar as
circunstâncias que provocaram o óbito de
          , ocorrido no dia           , na localidade
de          , a qual enforcou-se com uma corda
(conforme A.C.D. de fls.           ).
Pg. 21
2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

Procedidas as
investigações policiais e, mais precisamente
depoimentos de           , constatou-se que a
vítima era pessoa           .
      (seu
          )esclareceu ainda, que apesar de
          .

No dia fatídico, a vítima


disse que iria           .

O laudo pericial de fls.


                    /21ª DRSP/          do Instituto
Médico legal, às fls.           constatou que a
morte de           deu-se por asfixia mecânica.

Realizadas inúmeras
investigações, concluiu o Laudo de nº           -
do Instituto de Criminalística (fls.           ) que
a morte de           deu-se por asfixia
mecânica, por constrição cervical,
auxiliada pela ação da gravidade sobre o
corpo, INEXISTINDO VESTÍGIOS DE LUTA
E DE OUTRAS LESÕES NO CADÁVER          .

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2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

Às fls.      ,
RELATÓRIO da Autoridade Policial,
concluindo por suicídio a “causa mortis” da
vítima, sem elementos de instigação, auxílio
ou induzimento ao suicídio(artigo 122 do CP)
ou mesmo homicídio(artigo 121 do CP).
Assim, das fls. 02 até o
relatório policial (fls.           ), nada mais foi
trazido à baila que pudesse dar um mínimo
de autoria, um indício que levasse a tese de
homicídio ou induzimento, instigação ou
auxílio ao suicídio.
Estes, em suma, são os
fatos.
II- DA FUNDAMENTAÇÃO
LEGAL E JURÍDICA

Assim, das fls. até o


relatório, nada mais foi trazido à baila que
pudesse dar um mínimo de autoria, um
indício, que levasse a tese de homicídio ou
mesmo no sentido de instigação,
induzimento ou auxílio ao suicídio, pelo
contrário, a perícia MÉDICO-LEGAL concluiu
que

Pg. 23
2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

“...          faleceu por


asfixia mecânica, por constrição cervical,
auxiliada pela ação da gravidade sobre o
corpo. Devido a ausência de vestígios de
luta e de outras lesões no cadáver, levam
estes Peritos a admitirem a hipótese de
auto extermínio..., efetivado com uso de
corda de           “fio de algodão...(fls.           )

Realmente vislumbra-se
pelo conjunto probatório., figura atípica
penal consistente em suicídio.
Atípica porque não
restou comprovada a instigação,
induzimento ou auxílio ao suicídio,
tampouco autoria, co-autoria ou
participação em homicídio.

Perícias às fls.          
(levantamento do local do indigitado suicídio)
e exame necroscópico (fls.           ).

O laudo de exame
necroscópico (fls.           ) concluiu pela
insuficiência respiratória, asfixia pela
constrição do pescoço: enforcamento.

Pg. 24
2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

Para MEDICINA-LEGAL
trata-se de ASFIXIA COMPLEXA, espécie
ENFORCAMENTO, a saber, por ação de
uma força constritiva, passiva, exercida pelo
peso do corpo.
Nas lições de aula, do
culto professor Ruy Celeste Bertotti
(Apostila de Medicina Legal II, edição 1996,
Faculdade de Direito de Bauru/ITE), as
lesões externas provocadas por esta espécie
de asfixia, apresenta-se com sulco por
decalque do laço (corda, correia,
suspensório, cordão de sapato, tiras de
pano, etc), que se apresenta oblíquo de
baixo para cima e de frente para trás,
interrompido ao nível do nó e com bordos
desiguais, sendo o superior mais saliente.
Noutro giro, as lesões internas são fratura
da glândula tireóide e menos
freqüentemente do osso hióide e de
vértebras cervicais.
A diferença no sulco dos
enforcados para os estrangulados (força
constritiva externa e não peso do corpo)
repousa, segundo Bonnet:

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2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

ENFORCADOS/ESTRANGULADOS:
1- Oblíquo ascendente;
1- Horizontal ;

2- Interrompido no nó;
2- Contínuo;

3- Geralmente único;
3- Geralmente múltiplo;

4- Por cima da tireóide;


4- Por baixo da tireóide;

5- Geralmente apergaminhado;
5- Raramente apergaminhado

6-Variável segundo a zona do pescoço


6-Uniforme em todo o do pescoço.

Pelo exame necroscópico


de fls.           , confere o sinal do sulco dos
enforcados, na medida em que os médicos-
legistas narraram:
          ‘SULCO ÚNICO
ACIMA DA REGIÃO SUPRA CAVICULAR,
INTERROMPIDO NO NÍVEL DA
NUCA’.         

Pg. 26
2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

Os sinais clássicos nas


asfixias são:
1- Manchas de Tardieu=
equimoses subpleurais;
2- Manchas de
Paultauf= manchas de tonalidade vermelho-
clara, mais ou menos 2cm, subpleurais;
3- Manchas de
Valentin= nos sufocados os pulmões
mostram-se distendidos;
4- Bernt= a contração
dos músculos erectores dos pelos faz com
que seus folículos se mostrem salientes,
principalmente nas coxas e braços (pele
anserina) Observável nos afogados.

Os sinais no sulco dos


enforcados são:
1- Ponsold= livores
cadavéricos em placas por cima e por baixo
das bordas do sulco;
2- Thoinot= zona
violácea a nível das bordas do sulco;
3- Azevedo Nunes=
livores punctiformes por cima e por baixo
das bordas;

Pg. 27
2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

4- Neyding= infiltrações
hemorrágicas punctiformes no fundo do
sulco;
5- Ambroise Paré= pele
enrugada e escoriada no fundo do sulco;
6- Lesser- vesículas
sanguinolentas no fundo do sulco;
7- Bonnet= marcas de
trama do laço no sulco.
Os sinais nos vasos
sanguíneos dos enforcados são:
1- Amussat= secção
transversal da túnica interna da artéria
carótida comum, perto da bifurcação;
2- Etienne-Martin=
desgarramento da túnica externa da
carótida;
3- Friedberg- sufusão
hemorrágica da túnica externa da carótida
comum;
4- Lesser= ruptura da
túnica interna da carótida interna ou da
externa (este sinal é mais raro);
5- Ziemke= solução de
continuidade na túnica interna das veias
jugulares.

Pg. 28
2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

Posto isto, o laudo de


necrópsia é indende de dúvidas, pois
constatou “      a presença de
CONGESTOS AUMENTADO DE VOLUME
CUJO CORTE E ESPREMEDURA,
ENCONTRAMOS SANGUE
ESPUMOSASANGUINOLENTO DE FLUIDEZ
AUMENTADO          ” (fls.           ).

Provado, pois, o
suicídio.
Ademais, o artigo 41 do
CPP permite a denúncia em relação a pessoa
certa, desde que haja indícios de autoria e
prova da materialidade delitiva; entretanto,
em relação a ausência de indícios de autoria
é indispensável dizer que referido artigo,
contra sensu, veda a peça vestibular, até por
falta de condição da ação (justa causa),
visto que a presente Ação não terá utilidade
jurisdicional alguma, além de gasto
processual sem necessidade.
Por fim, inútil sustentar
um processo penal sem indícios de autoria
no delito citado.

Pg. 29
2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

Outrossim, este
representante Ministerial para afastar
tentativas errôneas ou impertinentes de
rearquivamento do Inquérito Policial,
disserta o conceito de novas provas,
previsto no artigo 18 do Cód. Proc. Penal:

“São somente aquelas que


produzem alteração no panorama
probatório dentro da qual fora concebido
e acolhido o requerimento de
arquivamento, segundo o STF. “A nova
prova há de ser substancialmente
inovadora e não apenas formalmente
nova”. (RTJ 91/831 e RT 540/393).

Nesse sentido, reza a


Súmula 524 do STF:
“Arquivado o inquérito policial por
despacho do Juiz, a requerimento
do Promotor de Justiça, não pode a
ação penal ser iniciada sem novas
provas.

Pg. 30
2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

“De acordo com o STF, ainda, constitui


constrangimento ilegal o
desarquivamento de inquérito policial e
conseqüente oferecimento de denúncia
e seu recebimento sem novas provas
(RTJ 63/620, 47/53, 33/618, 32/35 e
40/111), sendo irrecorrível o despacho
que determina o arquivamento ou o
desarquivamento do inquérito policial
(RT 422/316).
Assim sendo,
telefonemas anônimos, suspeitas
infundadas, testemunhas de “ouvi dizer” e
dúvidas pessoais não trazem elementos sine
qua non à prefacial acusatória, pois não é
permitido usar da Justiça Penal para fins
alheios, pois a mesma cuida de fatos sérios,
o Poder Judiciário, encontra-se com
inúmeros feitos em atraso e somente
justificar-se-á tal provocação, se e somente
se, houver a superveniência de novas
provas, que ao menos, indigite uma autoria
e um razoável conjunto probatório, firme
para sustentar eventual édito
condenatório2.
2
DOUTRINAS: Epaminondas Pontes, Denúncia com base no inquérito policial já arquivado, Revista do
Conselho Penitenciário Federal, Brasília, Conselho Penitenciário Federal, XXVII/65, 1971; Afrânio Silva
Jardim, arquivamento e desarquivamento de inquérito policial, RDP 35/76.

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2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

III- DO PEDIDO MINISTERIAL

Destarte, não havendo


elementos necessários para instauração de
ação penal, faltando justa causa, este
representante Ministerial, requer a V. Exª se
digne de ARQUIVAR OS AUTOS DO
PRESENTE INQUÉRITO POLICIAL, sem
prejuízo do disposto no artigo 18 do
Código de Processo Penal (nos termos
fidedignos supra explicados) durante o
período que antecede o prazo prescricional.

Mercê.

Local e Data.

THALES TÁCITO PONTES LUZ DE PÁDUA CERQUEIRA


PROMOTOR DE JUSTIÇA TITULAR

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2ª aula de Processo Penal – Professor Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira

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