Você está na página 1de 14

Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ

Direito Processual Penal


Prof. Marcos Paulo

Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AM-


PERJ Disciplina: DIREITO PROCESSUAL PENAL
Professor: Prof. Marcos Paulo
Monitora: Juliana Magalhães de Freitas

Aula 05 – dia 27.06.2023

ARQUIVAMENTO E DESARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO


A NATUREZA JURÍDICA DO ARQUIVAMENTO=> Vai depender do modelo adotado, se
antes do Pacote anticrime ou depois do Pacote anticrime. Isso porque o pacote anticrime alterou
substancialmente o processo penal, que veio com o propósito de afinar e reforçar o nosso modelo
acusatório. => Mas atualmente a sua vigência encontra-se, em grande parte, suspensa em virtude da
decisão liminar da ADI.

Portanto, o professor irá sempre trazer o modelo vigente, e comparar com o modelo a ser
adotado após a queda da suspensão por Fux dada ao Pacote anticrime (Lei 13.964/2019).

O arquivamento trata-se de um ato JUDICIAL, mas NÃO JURISDICIONAL. NÃO


SÃO SINÔNIMOS! A diferença é que no caso do ato judical, trata-se de uma decisão do juiz; en-
quanto o ato JURISDICICIONAL trata-se de ato da jurisdição, em que ocorre a substituição da von-
tade das partes, pela vontade do Estado-Juiz.
ATO JUDICIAL É GÊNERO => QQ ATO QUE EMANE DO JUIZ
ATO JURISDICIONAL => EXPRESSÃO GENUÍNA DA JURISDIÇÃO, TÍPICO DA JU-
RISDIÇÃO, COM A CARACTERÍSTICA DA SUBSTITUTIVIDADE.
A vontade do Estado-Juiz INTEGRA A VONTADE DO MP, dando-lhe eficácia jurídica.
Quando houver discordância entre Juiz e MP, o Juiz irá fazer a remessa ao Procurador-geral => em
que cabe a PALAVRA FINAL.

ATUALMENTE=> ATO JUDICIAL (de Natureza administrativa complexa) => despido de


carga decisória, já que a palavra final acaba sendo o do MP, mas passa pelo Juiz.
Procedimento de jurisdição voluntária no âmbito processual penal=> não é jurisdição con-
tenciosa.
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo

E COM A NOVA REDAÇÃO DO ART. 28 DO CPP?


Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o ar-
quivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar
improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-
geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou in-
sistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. (REDAÇÃO
ANTIGA E VIGENTE ATUALMENTE)
X
NOVA REDAÇÃO => SUSPENSA PELA ADI
Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informa-
tivos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à auto-
ridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologa-
ção, na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) (Vide ADI
6.298) (Vide ADI 6.300) (Vide ADI 6.305)
§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito
policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à re-
visão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgâni-
ca. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e Muni-
cípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a
quem couber a sua representação judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

A nova redação do art. 28 do CPP transforma o ato, que antes era judicial, em um ato IN-
TEIRAMENTE ADMNISTRATIVO, pelo fato de retirar a atuação do Juiz. Ocorre a DESJUDI-
CIALIZAÇÃO DO ARQUIVAMENTO. Ocorre portanto, a depuração do sistema acusatório, consi-
derado o art. 129 I da CRFB/88, porque o MP é o titular da ação penal. Isso serve também para que
o juiz não se imiscua na sua atuação.
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo
SURGE ENTÃO UMA DÚVIDA ACADÊMICO-DOUTRINÁRIA:
Tratar-se-á de um ato administrativo complexo ou composto?
Quando se fala em ato administrativo composto considera-se apenas orgãos em instâncias di-
ferentes avaliando o arquivamento. Seria o MP e a instância revisora. Professor ressalva que quando
se fala em chancela da Instância revisora como um ato composto, seria feito de forma pro-forme, ou
seja, de forma automárica/vinculante.
E, para o professor, pelo entendimento da nova redação do artigo 28 não há um efeito vincu-
lante, de mera chancela; trata-se de um controle independente. Portanto, continua a concorrer dois
órgãos distintos, sem ser automática => portanto ato administrativo complexo.

RESUMINDO A NATUREZA JURÍDICA DO ARQUIVAMENTO (atual x entendimento


com a nova redação do Pacote Anticrime)

ESPÉCIES DE ARQUIVAMENTO
QUANTO AO OBJETO, pode ser objetivo ou subjetivo. O arquivamento objetivo recai so-
bre crimes, sobre qualificadoras... O arquivamento subjetivo recai sobre as pessoas. Nada impede
que haja o arquivamento tanto objetivo como subjetivo.
Ex. furto com rompimento de obstáculo por Odair. Imagine que tenha sido feito o arquiva-
mento do primeiro furto => objetivo.
Ex. Imagine que tenha outro crime de furto de Odair em concurso com Astolfo. Se for feito
o arquivamento em relação ao Astolfo, tratar-se-á de um arquivamento subjetivo.

QUANTO À FORMA: pode ser explícito ou implícito.


ARQUIVAMENTO EXPLÍCITO => A. Explícito ocorre quando o MP solicita diretamente e
expressamente o arquivamento.
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo

STJ/STF: apenas entendem arquivada a investigação se for explícito. Isso com a combinação
dos artigos 93 inciso IX, c/c129 VIII 2a parte. Ambos referem que as decisões deverão ser funda-
mentadas, seja do magistrado ou do MP respectivamente. E o arquivamento é uma manifestação de
cunho processual, ainda que em fase pré-processual. E portanto tem que ser feita de forma expressa.
Em nível infraconstitucional, vide art. 28 do CPP, se o juiz julgar improcedente as razões in-
vocadas=> portanto há a necessidade de ser explícito.
o artigo 28, se o juiz julgar improcedente,
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Esta-
tuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas to-
das as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os
fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;

DO CONTRÁRIO => PRESUME-SE EM ABERTO A INVESTIGAÇÃO. E então, como


consequência fática é que não incide a Súmula 524 do STF.
Súmula 524 - Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promo-
tor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.

Esta súmula nos diz, que uma vez arquivado o inquérito, somente poderá ser desarquivado
se sobrevierem provas novas. Provas novas não são provas formalmente novas. É preciso provas
inéditas, desconhecidas do MP. => Provas materialmente novas.
Entretanto, ao ver do STF/STJ, só pode falar em arquivamento explícito. Sem isso, o inqué-
rito permanece em aberto em relação à crimes e aos investigados.
E PORQUE HOUVE ESSE DEBATE?
Esse debate veio a partir de um vício que ocorre na prática.
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo
Ex. imagine uma investigação, com muitos investigados. E o MP não denunciou Asdrubal.
Mas tampouco se manifestou sobre o arquivamento para o Asdrúbal, ou que as investigações se-
guiam para Asdrúbal. E O QUE DEVERIA SER FEITO PELO JUIZ? Receberia a denuncia e reme-
teria os autos para o MP se manifestar sobre Asdrúbal. Se o Juiz não o fizer, Asdrúbal fica no lim-
bo, mas para o STJ/STF, ele fica ali, apto a qualquer momento ser aditada a denuncia para incluí-lo.
Imagine que um outro membro do MP perceba que já houvesse justa-causa para Asdrúbal.
Ele poderia incluir o Asdrúbal independentemente de provas novas. => não incorre a Sumula 524
do STF. => neste caso inexiste investigação efetiva em curso, logo, tem-se uma quadra de INÉR-
CIA INJUSTIFICADA ESTATAL, a permitir a ação penal privada subsidiária da pública.

1a consequência de se permitir apenas arquivamento explícito => não incide S. 524 do STF
2a consequência de se permitir apenas arquivamento explícito => permite a ação penal priva-
da subsidiária da pública pela inércia injustificada estatal

ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO=> AFRÂNIO SILVA JARDIM (criador) e HÉLIO TOR-


NAGHI (criador secundário). Ainda que o MP não tiver se pronunciado explicitamente, é porque
ele veladamente entende que não há justa causa para o oferecimento da denúncia. E, caso seja envi-
ada a denúncia ao Juiz, e este, também de forma velada, não questione a ausência, significa que
concorda que não há justa causa para o oferecimento da denúncia.
Passa a operar-se o arquivamento implícito da investigação para que se dê uma definição ju-
rídica ao status do indiciado e/ou injusto que não foi denunciado, evitando que fique no limbo, em
detrimento da segurança jurídica.
E como se explica os artigos 93 inciso IX, c/c129 VIII 2a parte? Essa explicação é simples,
porque a exigência constitucional de fundamentação das manifestações ministeriais e judiciais é
garantia do IMPUTADO contra arbitrariedades estatais, logo, enquanto GARANTIA, descabe ser
trabalhada em seu desfavor. Se entende o contrário, o postulado constitucional acaba trabalhando
em desfavor do imputado, o que não é o intuito da CRFB.
1a consequência de se permitir arquivamento implícito => incide S. 524 do STF
2a consequência de se permitir arquivamento implícito => NÃO permite a ação penal priva-
da subsidiária da pública pela inércia injustificada estatal (porque aqui o MP agiu, ainda que não de
forma explícita).
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo
COM O NOVEL ART. 28 DO CPP=> Acaba o arquivamento implícito, determinando a ma-
nifestação expressa do MP (em verdade manifestação dúplice do MP).
“Pulo do gato”=> Como o juiz não mais interfere no arquivamento, a denúncia não inclusiva
de determinado crime e/ou indiciado, uma vez recebida, não importa arquivamento implícito´. Isso
é importante, porque no modelo atual, se ele recebe a denúncia sem questionar, sem tergiversar, é
porque eles está totalmente de acordo com o MP, inclusive veladamente em relação aos que não foi
incluso na denúncia.
No novo modelo, se o MP denuncia, sem incluir informações, não houve o aval da instância
revisora. => O ARQUIVAMENTO SÓ SE APERFEIÇOA COM O AVAL DA INSTÂNCIA
REVISORA.
ISSO SEPULTA O ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO!!! => assim que ficar assentada a
constitucionalidade do novo art. 28 do CPP!!! => vai ser o tema de provas para o MP!!!
OBS: Professor aborda esse assunto de forma detalhada em seu livro.

OBS: EUGÊNIO PACCELI => quando um membro do MP declina atribuição por acreditar
que não tem atribuição para isso. =>Passou a chamar isso de Arquivamento indireto (para o
professor é uma definição/nomenclatura equivocada do Ilustre doutrinador)> incidência da S. 524
STF/ação penal privada subsidiária da pública (
Ex. quando o MPE está investigando um caso de tráfico interestadual. Em determinado
momento o MPE percebe que há implicação de tráfico internacional e remete a investigação para o
MPF. O MPF por sua vez não entende desta forma, porque acredita que não há elementos para um
tráfico internacional. Até haver a definição de atribuição, ocorrerá o que se chama de arquivamento
indireto!
Arquivamento indireto é uma nomenclatura ruim, porque assim que se define a atribuição
=> já remete para a denúncia.
Neste caso não há nem a incidência da Súmula 524 do STF, nem tampouco a possibilidade
de ação penal privada subsidiária da pública.
OBS: Essa nomenclatura é capciosa e há doutrinadores renomados que incorreram no erro
de dizer que cabe neste caso, tendo o membro do MP declinado de sua atribuição, poderia o Juiz
realizar a aplicação do artigo 28 do CPP. Para que este declínio seja revisto pelo Procurador Geral
como se fosse uma revisão de um suposto arquivamento. => MAS NÃO CABE!!!!!!!!!!
Ex voltando o caso do tráfico internacional. Esse declínio de atribuição por esta lógica
remeteria ao PGJ. => isso claramente afeta o pacto federativo. Porque o PGJ estaria decidindo sobre
um conflito de atribuição entre MPE e MPF; que de fato deve ser dirimido pelo CNMP.
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo
* o prazo para denúncia fica suspenso nos casos de declínio de competência? Não se trata
de suspensão, mas vai permitir o relaxamento da prisão, caso o investigado esteja preso. Então
passaríamos a tratar de prazo para indiciado solto, já comentado em aula passado. No entanto, esse
prazo é um prazo impróprio, não acarretando maiores consequências práticas, já que não se tratando
de inércia do MP, não cabe o provimento da ação penal privada subsidiária da pública.
Arquivamento indireto independe em relação ao modelo atual e o modelo da novel redação
suspensa.

CONSTITUCIONALIDADE DO ATUAL ARTIGO DO 28 DO CPP=>


É exemplo de controle externo (judicial) sobre o exercício da ação penal pública,
considerado o princípio da obrigatoriedade para o MP, conforme o contido no art. 129, I, da
CRFB/88).
Para o STF/STJ o atual modelo é constitucional, porque a palavra final persiste com o MP,
via Procurador Geral. Como a palavra final é do MP (na forma do PG), não há mácula ao sistema
acusatório.
x
O tema é controverso porque alguns acreditam (de forma minoritária) que há o
comprometimento do sistema acusatório (art. 129, I da CRFB/88), porque o juiz se imiscui no
exercício da ação penal pública, em detrimento da equidistância >
Se entendêssemos inconstitucional esse artigo, caberia HC com pedido de trancamento da
ação penal por vício de iniciativa (art. 573, §1º do CPP > princípio da causalidade) e,
subsidiariamente, o afastamento do juiz por suspeição. O afastamento por impedimento é um rol
taxativo, enquanto que o rol da suspeição é exemplificativo.

A nova redação do artigo 28 do CPP está promovendo a DESJUDICIALIZAÇÃO do


arquivamento, de forma a compatibilizar completamente com o sistema acusatório. =>
CONSTITUCIONALIDADE INDISCUTÍVEL
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo
INSTRUMENTALIZAÇÃO DO ART. 28 DO CPP:
Parece haver duas alternativas para o Procurador Geral apenas: promover o arquivamento ou
remeter a outro membro do MP para que proceda a denúncia. No entanto, pela Teoria dos Poderes
Implícitos, ele pode uma solução intermediária: pode requisitar novas diligências investigatórias! É
POSSÍVEL, e apesar de não estar expresso, está subentendido.
1=> Caso haja a insistência do arquivamento, cabe ao juiz a quo apenas homologar a
vontade do MP.
2=> Caso haja o oferecimento da denúncia ou designação de outro Promotor para ofertá-la,
cabe nova recusa? SIM, a maioria dos novos autores entende pela possibilidade, em apreço à
independência funcional (art. 127, p.1o da CRFB/88). Ainda mais se interpretado literalmente o art.
28 do CPP enquanto “designação”, mas mesmo se lido como “delegação”, porque não pode o
membro do MP ser compelido a concorrer à prática de ato de que discorda.
NÂO. => Em sentido contrário, e é a posição clássica (inclusive das Câmaras de
Coordenação e Revisão do MPF). Isso porque, como, nos termos do art. 28 do CPP, a denúncia é
genuinamente do Procurador-Geral, e inexiste designação, mas delegação. O promotor indicado,
atuaria como sendo a sua LONGA MANUS, logo, NÃO veicula como sua a opinião delitiva,
externando a do Procurador-Geral. Ademais, a independência funcional convive com a hierarquia
do órgão. Se houvesse a possibilidade de recusa, o sistema todo pensado ruiria, ou no mínimo uma
crise institucional.
OBS=> Neste caso em que há o oferecimento da denúncia por um segundo membro; a
obrigatoriedade de oferecimento da denúncia se esgota quando da possibilidade de oferecimento de
recurso.
3=> requisição de novas diligências investigatórias (nos moldes do art. 16 do CPP). neste
caso, o AFASTAMENTO DO PROMOTOR NATURAL SERIA INEVITÁVEL? Isso vai depender
do fundamento utilizado para o arquivamento. Se o arquivamento tiver tons definitivos (falta de
justa causa, por entender ilícito o acervo judiciário), ele deveria se manter afastado. Agora, se o
fundamento foi falta de provas, o afastamento não se justifica.
Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade po-
licial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.

OBS: Isso NORMALMENTE não cai em prova, principalmente objetiva. Cairia em uma
prova subjetiva ou oral.
INTRUMENTALIZAÇÃO DO ART. 28 DO CPP COM A NOVA REDAÇÃO:
Quanto ao novel art. 28 do CPP > IDÊNTICA instrumentalização, EXCETO quanto à
denúncia, pois a instância revisora NÃO tem atribuição para ofertá-la, resolvendo-se pela
DESIGNAÇÃO, quadra na qual se potencializa a argumentação favorável à recusa pelo promotor
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo
indicado, ponderando-se, em sentido contrário, notadamente a hierarquia, à semelhança do já
verificado no MPF. A Câmara de Revisão não poderia delegar, porque ela não teria essa atribuição
=> não delega aquilo que não se tem!
Novel art. 28 do CPP = NEUTRO = CCRMPF já é naturalmente a instância revisora > a
única diferença é que a remessa passa a ser automática, e não mais via provocação

INTERVALO

ARQUIVAMENTO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL


Neste caso, há uma peculiaridade, aplicado o artigo 28, é feita remessa dos autos para a
CCRMPF (art. 62, IV da LC 75/93 > “manifestar-se” sobre o arquivamento). Lembrando que
Procurador da República indicado age sob DESIGNAÇÃO!
IV - manifestar-se sobre o arquivamento de inquérito policial, inquérito parlamentar ou peças
de informação, exceto nos casos de competência originária do Procurador-Geral;
* As CCRMPF- Câmaras de Coordenação e Revisão são compostas por Procuradores
Regionais do MPF.
* nesse caso, a câmara não poderia oferecer a denuncia, certo? Então aquelas opções do PGJ
não se aplicariam? a única difença é que a Câmara não poderia oferecer a denúncia, mas as demais
alternativas se aplicam sim.
OBS: Novel art. 28 do CPP = NEUTRO = CCRMPF já é naturalmente a instância revisora >
a única diferença é que a remessa passa a ser automática, e não mais via provocação (explicação
dada mais adiante na aula).

ARQUIVAMENTO NO ÂMBITO DOS CRIMES DE ATRIBUIÇÃO ORIGINÁRIA DO


PROCURADOR-GERAL
No caso de MPEs, o artigo 28 fica esvaziado. art. 28 do CPP. Porque se o PGJ é o
responsável por rever os casos de arquivamento, fica consignado a inafastabilidade da
promoção de arquivamento, restando unicamente ao relator homologar. Tanto é esse o
entendimento, que a 3ª SEÇÃO STJ afirma que a mera promoção de arquivamento, nesses
casos, já enseja a incidência da S. 524 STF (em que o desarquivamento tem que ter
materialidade nova).
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo
Diante disso temos o art. 12, XI da Lei 8625/93 (Lei Orgânica do MP), em que é criado
um controle externo (social). Isso porque, diante da impossibilidade de controle pelo Juiz,
permitiu-se que o legítimo interessado provoque o Colégio dos Procuradores de Justiça.
Art. 12. O Colégio de Procuradores de Justiça é composto por todos os Procuradores de Justi-
ça, competindo-lhe:
XI - rever, mediante requerimento de legítimo interessado, nos termos da Lei Orgânica, deci-
são de arquivamento de inquérito policial ou peças de informações determinada pelo Procurador-Ge-
ral de Justiça, nos casos de sua atribuição originária;

=> “legítimo interessado” => QUEM É O LEGÍTIMO INTERESSADO? Quando a lei


orgânica não definir, utiliza-se como parâmetro o definido no art. 24, caput e §1º/arts. 30 e 31
do CPP.
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Públi-
co, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
Parágrafo único. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão ju-
dicial, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
o
§ 1 No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direi-
to de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (Parágrafo único re-
numerado pela Lei nº 8.699, de 27.8.1993)
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o
direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou ir-
mão.
Art. 32. Nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da parte que comprovar a sua
pobreza, nomeará advogado para promover a ação penal.
o
§ 1 Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder prover às despesas do processo, sem pri-
var-se dos recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da família.
o
§ 2 Será prova suficiente de pobreza o atestado da autoridade policial em cuja circunscrição
residir o ofendido.

Âmbito Federal? POSIÇÃO DOMINANTE => Silêncio eloquente na LC 75/93


impulsionado por um posicionamento eminentemente político. Historicamente sempre foi
tolerado. No âmbito federal têm-se o Colégio do MPF, mas sempre se permitiu esse silêncio,
não colocando esta atribuição a este órgão.
Em se tratando de crimes do PGR, o STF SEMPRE admitiu EXCEPCIONALMENTE
controlar promoções de arquivamento lançadas pelo PGR. (não é “implicância” com o útimo
presidente). Isso com lastro no art. 5º, XXXV, da CRFB/88, pela inafastabilidade da
jurisdição, por ser o STF a “última trincheira” da cidadania (termo cunhado pelo próprio STF).
OBS: Tal entendimento reverbera para outras instâncias=> STJ >
Porque esse discurso nunca foi replicado no âmbito Estadual? Porque é desnecessário,
tendo em vista os Colégios de Procuradores de Justiça!
No âmbito federal construiu-se esse discurso para amoldar o art. 28. Mas, no
entendimento do professor é de que o sistema processual penal colapsa >Porque ele colapsa?
Ainda que se entenda que o STF possa desarquivar por entender o arquivamento aberrante ou
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo
sem tecnicidade, o sistema colapsa porque as investigações ficam estagnadas, aguardando a
prescrição. O PGR não vai dar prosseguimento às investigações, porque à ele cabe a ação
penal, que inclui a investigação. => LEMBRANDO QUE ESTE CENÁRIO É ANORMAL!
Diante deste cenário anômalo, poderia formalizar uma Ação penal privada subsidiária da
pública? sim, Partindo da premissa de comprovada inércia da acusação estatal, SIM. Mas essa
solução vai na contramão da doutrina majoritária, segundo a qual o arquivamento inviabiliza a ação
penal privada subsidiária da pública, afinal, o MP agiu, ao promover o arquivamento.

Outra aplicação possível diante desses casos anômalos => Aplicar, por analogia, o art. 12, XI
da Lei 8625/93, por ser o MP uno e indivisível (art. 127, §1º da CRFB/88). Se temos essa
possibilidade de controle externo noâmbito estatual, seria lógico a sua aplicação para o MPF.
Hipótese na qual sequer se admitiria a recusa à promoção de arquivamento pelo STF ou pelo STJ,
pois, se pudesse aplicar a recusa à promoção de arquivamento, traria a possibilidade do
comprometimento/vulnerabilidade do sistema acusatório. E isso traz a solução para a impunidade,
já que o legítimo interessado poderá provocar o Colégio de Procuradores.

=> Para PROVA: Para o STF/STJ => Âmbito Federal: STF poderia rever a promoção de
arquivamento, por ser a última trincheira. No âmbito Estadual: arquivamento inafastável por ser
inaplicável o art. 28 do CPP. Mas pode ser revisto administrativamente pelo colégio de
Procuradores de Justiça, após provocação do legítimo interessado.

Ante o novel art. 28 do CPP, como funciona? Promoção de arquivamento do


Procurador-Geral já produz efeitos por si só, porque inexiste instância a ele superior, logo, o
imbróglio acima DESAPARECE, afinal, tem-se a DESJUDICIALIZAÇÃO DO
ARQUIVAMENTO.
E o arquivamento como procedimento bifásico? É complicado, nesse caso, a promoção
de arquivamento por si só, já produz efeitos. Lembrando que é sem prejuízo, na esfera
ESTADUAL, haja vista o art. 12, XI da Lei 8625/93. Na esfera Federal, entende-se da mesma
forma, só que deveria haver a interpretação analógica do art. 12, XI da Lei 8625/93.

ARQUIVAMENTO NOS CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR E A


SAÚDE PÚBLICA – art. 7º da Lei 1521/51
Esta lei versa sobre crimes da Economia Popular, e somente no artigo 7o traz a questão
de crimes contra a saúde pública
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo
Art. 7º. Os juízes recorrerão de ofício sempre que absolverem os acusados em proces-
so por crime contra a economia popular ou contra a saúde pública, ou quando determina-
rem o arquivamento dos autos do respectivo inquérito policial.

Por “Recurso de ofício” = entenda-se como reexame necessário (condição de eficácia


do pronunciamento judicial = somente alcança eficácia plena após o reexame necessário): No
entanto, já foi muito discutido essa questão, alguns doutrinadores (Marcellus Polastri)
entendendo como sendo inconstitucional, por ferir o sistema acusatório.
1 ABSOLVIÇÃO – ok, quando há a absolvição não trará grandes problemas.
2 ARQUIVAMENTO > O problema é quando o Tribunal tem entendimento diversa do
arquivamento, já que a conclusão diversa do arquivamento seria a denúncia => mas como
admitir que o Tribunal determine a denúncia?
Neste caso, SERGIO DEMORO HAMILTON/TOURINHO FILHO defendem uma
“FILTRAGEM CONSTITUCIONAL DESTE ARTIGO 7o”. Portanto, se tivermos um
arquivamento, vai ter que ser encaminhado para o reexame necessário ao Tribunal. Este
TRIBUNAL tem duas opções: chancela o arquivamento OU, caso discorde, envia remessa ao
Procurador-Geral. Desta forma o artigo 7o da Lei contra Crimes da Economia Popular (que
neste artigo inclui os crimes contra Saúde Pública) está se amoldando à Constituição. Para o
professor, não há a proteção do sistema acusatório. Isso porque o PGJ, vai ser impelido a
manter a denúncia, e em continuando, o Tribunal já tem praticamente seu posicionamento
prévio estabelecido...
ex. imagine que o fundamento do arquivamento seja insignificância. Se o Tribunal
entender que não há insignificância, já tem a visão prévia estabelecida.
Para o professor, o correto seria remeter o processo direto ao PG para revisão.

NO caso de arquivamento para crimes da economia popular, com o NOVEL ART. 28


DO CPP > derrogação tácita do art. 7º da Lei 1521/51, tornando-se insubsistente no caso de
arquivamento, ante a sua DESJUDICIALIZAÇÃO DO ARQUIVAMENTO.

IRRETRATABILIDADE DA PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO


Invoca-se a política atual, do atual PGR. Isso já aconteceu muito, por ex. no caso do
FHC => Engavetador Geral da República. A irretratabilidade da promoção de arquivamento
veio desta época. Havia divergência entre o PGR que saiu e o que entrou. O novo PGR pediu
retratação de todos os arquivamentos feitos pelo PGR anterior, sob a alegação de que ainda
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo
não tinham sido apreciados pelo STF. Ao avaliar o pedido de retratação, o Pleno do STF não
conheceu do pedido sob os seguintes argumentos:
Pleno do STF > unidade e indivisibilidade do órgão ministerial (art. 127, §1º da
CRFB/88) + teoria do órgão (seria a Procuradoria Geral da República, e não o Procurador
Geral da República). => Entendendo pela IRRETRATABILIDADE da promoção de
arquivamento, considerado o caráter CONCLUSIVO da investigação.
ISSO É MUITO IMPORTANTE.
Se estivéssemos diante de investigações rebus sic standibus, ou seja, que pegam a
investigação na forma em que se encontram. São manifestações que levam em conta o
momento. Mas no caso do arquivamento, ele carrega um tom de definitividade que não pode
ser usado como mudança do estado do processo, acerca da investigação. Não poderia admitir
uma retratação pela discordância entre os Procuradores.
E A INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL, COMO FICA? A independência existe para
resguardar os membros do MP de pressões alheias ao processo, mas NÃO para esfacelar a
unidade e a indivisibilidade, comprometendo a segurança jurídica e a marcha evolutiva de
toda persecução. Toda persecução é uma marcha para frente, nunca para trás. E assim
entendeu o STF sobre a questão da irretratabilidade, fixando, todavia, duas DISTINÇÕES:
I) erro material;
II) superveniência de provas materialmente novas (neste caso nem seria exatamente
uma retratação, pois estaria mais próxima a um desarquivamento).
X
NO ENTANTO, TENDO EM VISTA PROVAS DO MP: Ainda que a unidade e a
indivisibilidade sejam do órgão, a projeção é ADMINISTRATIVA.
Imagine que se altera-se a LC 75, nada impede que tal mudança se aplicasse ao MPE.
Pois, a Unidade e Indivisibilidade do Órgão é em sede administrativa.
No entanto, não poderia, à titulo da unidade e indivisibilidade do órgão; se projetar
para o âmbito do processo, exatamente para não tolher a independência funcional. Afinal, um
membro do MP não está vinculado à compreensão do anterior
=> falece ao STF coerência, porque ASSIM ENTENDE EM SEDE DE INTERESSE
RECURSAL, ou seja, o STF adota dois pesos e duas medidas. Se ele permite essa mudança de
posicionamento dentro da sede recursal, mutatis mutandis, deveria entender da mesma forma
no caso de arquivamento.

Pelo Novel art. 28 do CPP? Plenamente RETRATÁVEL, mesmo porque só se


aperfeiçoa após a manifestação da instância revisora. Nada poderá impedir sua retratação,
Curso Preparatório de Carreiras Jurídicas – AMPERJ
Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo
porque ainda se trata de uma retratação “incompleta”, a ter eficácia após o aval da instância
revisora.

Novel art. 28 do CPP => QUEM É A INSTÂNCIA REVISORA?


DE LEGE LATA > MPF = CCRMPF (art. 62, IV da LC 75/93) => Já está plenamente
definida!
x
No âmbito dos MPES, na nova lei não fala: (posição majoritária, da tradição) PGJ x (-)
Conselho Superior do MP – art. 9º da Lei 7347/85 (de lege lata, a partir da Lei de Ação Civil
Pública, deveria ser essa a interpretação), por analogia
Art. 9º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da ine-
xistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do in-
quérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente.
§ 1º Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob
pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério
Público.
§ 2º Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja homologada ou re-
jeitada a promoção de arquivamento, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou
documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de informação.
§ 3º A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho Superi-
or do Ministério Público, conforme dispuser o seu Regimento.
§ 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, designará,
desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.

Atualmente, o prof. fala que o Conselho Superior do MP não teria capacidade atualmente
de realizar essa interpretação, a não ser que pudesse ser feito de forma monocrática.
*A expressão latina de lege lata significa da lei criada, enquanto que de lege ferenda refere-se a uma lei a ser
criada.
Professor acredita que esse posicionamento majoritário ainda pode mudar, por conta
da própria redação nova do art. 28:
Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informati-
vos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autori-
dade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação,
na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) (Vide ADI
6.298) (Vide ADI 6.300) (Vide ADI 6.305)

DESLEGALIZAÇÃO > “lei” aqui dever ser interpretada em sentido amplo = pode ser
mudada por ato normativo do próprio CNMP. Inclusive mudando a questão da decisão
monocrática, possibilitando que seja decidido por meio de decisão monocrática.

PRÓXIMA AULA: DESARQUIVAMENTO

Você também pode gostar