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ALTERAÇÕES ILÍACAS QUE INFLUENCIAM NA CONDROMALÁCIA PATELAR

Ernesto Cesar Pinto Leal Junior1, Camila Rodrigues de Oliveira2, Francis Régio
Nassar3
1, 2, 3
Curso de Fisioterapia - Universidade de Vale do Paraíba - 12244-000 - São José dos Campos -
SP - Brasil.
Rua Machado Sidney,160 apto 302 - Centro - CEP 12245-650 - ernesto@univap.br
1, 3
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento - IP&D - Mestrado em Engenharia Biomédica -
Universidade do Vale do Paraíba - Av. Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova - 12244-000 - São José dos
Campos - SP - Brasil - francis@univap.br

Palavras-chave: Ilíaco, Joelho, Condromalácia Patelar, Biomecânica.


Área do Conhecimento: IV - Ciências da Saúde.

Resumo: As alterações na cintura pélvica em especial no ilíaco têm sido amplamente relacionadas e
discutidas sobre as compressões patelares. Deste modo, a finalidade deste estudo é fazer uma
revisão sobre os efeitos da anterioridade, posterioridade, abertura e fechamento do ilíaco e suas
conseqüências sobre a articulação patelofemural, tal como as compressões. Observou-se que uma
vez o ilíaco em alteração por um tempo relativamente grande levará a disfunções biomecânicas da
patela, tendo como uma de suas conseqüências a condromalácia patelar.

Introdução patelo-femoral, melhorando a capacidade


funcional dessa articulação para o indivíduo.
Na última década, pode – se observar Este trabalho procura compreender a
um grande avanço quanto à avaliação e relação entre a cintura pélvica, com ênfase
tratamento da cintura pélvica, em especial à para os ilíacos e o joelho por meio da revisão
articulação sacroilíaca. E na medida em que biomecânica e fisiológica das articulações
se passou a compreender melhor a anatomia, envolvidas, demonstrando a influência que as
biomecânica, fisiologia e neurologia funcionais alterações ocorridas no ilíaco irão gerar na
dessa região pode se notar a íntima relação articulação do joelho levando a condromalácia
entre a cintura pélvica, coluna lombar e patelar.
membros inferiores, com isso começou a
existir uma maior preocupação em entender Revisão Bibliográfica
como alterações em determinada região
poderia estar influenciando uma outra região Biomecânica da Articulação do Quadril
(LEE, 2001).
Devido a esta íntima relação entre os Como toda articulação sinovial, o
segmentos acima citados, principalmente quadril possui uma cápsula articular fibrosa
entre cintura pélvica e os membros inferiores, espessa e fortemente reforçada por três
surgiu o interesse de verificar as principais ligamentos: o iliofemoral, o isquiofemoral e o
alterações nesta região e suas conseqüentes pubofemoral. O mais importante deles é o
repercussões na articulação do joelho. ligamento iliofemoral, que reforça a cápsula
A condromalácia patelar segundo anteriormente, ele se fixa à espinha ilíaca
WEINSTEIN e BUCKWALTER (2000), é ântero-inferior cruzando a articulação para se
definida como amolecimento seguida de fixar na linha intertrocantérica do fêmur
fragmentações da cartilagem articular e (LIPPERT, 2000).
consequentemente alterações do mecanismo Ainda segundo LIPPERT (2000), o
extensor do joelho. ligamento pubofemoral se localiza médio
A escolha da condromalácia patelar, inferiormente na articulação do quadril, se
dentre várias patologias que acomete a fixando na região medial do acetábulo e ramo
articulação do joelho devido a alterações no superior do púbis, e se dirige para baixo e
ilíaco, é por esta ser uma patologia para trás fixando-se no cólon do fêmur. Este
progressiva a qual leva a uma alteração da ligamento juntamente com o iliofemoral limita a
capacidade individual do indivíduo. A hiperextensão e a abdução da articulação do
prevenção e o tratamento das alterações do quadril. A flexão e a extensão são movimentos
ilíaco trará como resultado a descompressão em torno de um eixo coronal. Flexão é o
movimento em direção anterior. Pode se Para o mesmo autor a abdução e a
mover na coxa no sentido da pelve fixa, como adução são movimentos em torno de um eixo
na elevação alternada das pernas no decúbito sagital. Abdução é o movimento afastando-se
dorsal; ou o movimento pode ser de trazer a em direção lateral. O principal músculo
pelve no sentido das coxas fixas. Os músculos abdutor do quadril é o glúteo médio. O glúteo
flexores do quadril são os músculos situados mínimo é principalmente abdutor, o tensor da
na frente do plano frontal que passa pelo fáscia lata é um forte abdutor no quadril
centro da articulação (LEE, 2001). alinhado. O glúteo máximo só é abdutor por
Os músculos flexores do quadril são suas fibras mais superiores e por sua parte
numerosos; os mais importantes são o psoas superficial que participa da constituição do
e o ilíaco por serem os mais potentes de todos deltóide glúteo. O piramidal da pelve tem ação
os flexores e em todos os casos o de percurso abdutora inegável (WEINSTEIN e
mais longo (as fibras mais longas do psoas BUCKWALTER, 2000)
inserem – se em T12); o sartório, que é Adução é o movimento em direção
principalmente flexor do quadril e medial. Os músculos são particularmente
acessoriamente abdutor – rotador externo e numerosos e fortes. Os adutores do quadril
também tem uma ação sobre o joelho (flexão são constituídos basicamente pelos músculos
– rotação interna); o reto – anterior é um flexor pectíneo, adutor magno, grácil, adutor curto e
potente, mas sua ação sobre o quadril adutor longo. Todos os músculos citados
depende do grau de flexão do joelho, ele é aduzem a articulação do quadril. Além disso, o
tanto mais eficaz quanto mais o joelho estiver pectíneo, adutor curto e adutor longo
fletido. Intervém sobretudo nos movimentos flexionam a articulação do quadril. As fibras
que associam a extensão do joelho e flexão do anteriores do adutor magno que se originam
quadril, como no avançar do membro que no púbis e ísquio podem ajudar na flexão,
oscila durante a marcha; o tensor da fáscia enquanto que as fibras posteriores que se
lata, além de sua ação de estabilização da originam na tuberosidade isquiática podem
pelve e sua potente ação de abdução, possui auxiliar na extensão. O grácil, além de aduzir a
um considerável componente de flexão articulação do quadril, flexiona e roda
(KENDALL et al., 1999; KAPANDJI, 2000). medialmente a articulação do joelho
Extensão é o movimento em direção (KENDALL et al., 1999).
posterior. O movimento pode ser de trazer a A rotação lateral e a medial são
coxa posteriormente, como na elevação da movimentos em torno de um eixo longitudinal.
perna para trás, ou de trazer o tronco Rotação medial é o movimento no qual a
posteriormente. Os músculos extensores do superfície anterior da coxa volta-se no sentido
quadril estão situados atrás do plano frontal do plano mediossagital. Os rotadores internos
que passa pelo centro da articulação, plano são bem menos numerosos que os rotadores
este que contém o eixo transversal de flexão – externos e sua potência é três vezes mais
extensão (WEINSTEIN e BUCKWALTER, fraca. Dentre os rotadores internos ou mediais
2000). destacam – se o tensor da fáscia lata, o glúteo
Distingue – se dois grandes grupos de mínimo e os feixes anteriores do glúteo médio
músculos extensores, conforme eles se fixem (KAPANDJI, 2000).
sobre a extremidade superior do fêmur ou na Para uma rotação interna de 30 – 40,
proximidade do joelho. No primeiro grupo, o o trajeto do obturador externo e do pectíneo se
mais importante é o glúteo máximo; é o projeta exatamente por baixo do centro da
músculo mais potente do corpo, é também o articulação; estes dois músculos não são,
mais espesso (66 cm² de secção) e então, rotadores internos. Se a rotação interna
naturalmente o mais forte. Ele é auxiliado continua o obturador externo e o pectíneo se
pelos feixes mais posteriores do glúteo médio convertem em rotadores internos, já que agora
e do glúteo mínimo (KAPANDJI, 2000). seu trajeto passa a frente do eixo vertical,
No segundo grupo, figuram enquanto que o tensor da fáscia lata, o glúteo
essencialmente os músculos isquiotibiais: médio e o glúteo mínimo se convertem em
porção longa dos bíceps, semitendinoso, rotadores externos. Isto só acontece quando a
semimembranoso, cuja potência só é de 2/3 rotação interna alcança sua amplitude
do glúteo máximo. São músculos biarticulares máxima; é um exemplo da inversão das ações
e sua eficiência sobre o quadril depende da musculares em função da posição da
posição do joelho: a fixação do joelho em articulação (KAPANDJI, 2000; BUSQUET,
extensão favorece sua ação de extensão 2001).
sobre o quadril (WEINSTEIN e Rotação lateral é o movimento no qual
BUCKWALTER, 2000; LEE, 2001). a superfície anterior da coxa move-se
afastando-se do plano mediossagital Os O ângulo Q ou patelofemoral é o
músculos rotadores externos do quadril são ângulo entre o reto femoral e o tendão patelar.
numerosos e potentes. No seu trajeto cruzam É determinado traçando-se uma linha entre a
por trás o eixo vertical do quadril. O conjunto Espinha Ilíaca Ântero Superior (EIAS) ao
de rotadores externos é formado pelo piriforme ponto médio da patela. O ângulo formado pela
da pelve, obturador interno, obturador externo, intersecção destas linhas representa o ângulo
quadrado femoral, gêmeo superior e gêmeo Q. Este ângulo, na extensão, mede de 13 a
inferior, o pectíneo, os feixes mais posteriores 18º e tende a ser maior nas mulheres. Vários
do adutor magno, o glúteo máximo e os feixes problemas diferentes de joelhos estão
posteriores do glúteo mínimo e do glúteo associados com o fato de o ângulo Q ser
médio (KENDALL et al., 1999; KAPANDJI, maior ou menor que esta medida (LIPPERT,
2000). 2000; WEINSTEIN e BUCKWALTER, 2000).
A força do quadríceps, dirigida
Biomecânica da Articulação do Joelho obliquamente para cima e ligeiramente para
fora, se converte numa força estritamente
O joelho é uma articulação vertical, onde a patela realiza uma translação
intermediária do membro inferior e está circunferêncial sobre o fêmur durante a flexão.
situado entre a articulação do quadril e a A patela está unida ao fêmur por conexões
articulação do tornozelo. A flexão – extensão com comprimento suficiente, que permitem o
do joelho acontece através do eixo transversal deslocamento. A cápsula articular forma três
e ocorre no plano sagital. O quadríceps é o fundos de saco profundos ao redor da patela:
músculo extensor do joelho. É um músculo por cima, o fundo do saco subquadriciptal e, a
potente, sendo três vezes mais potente que os cada lado, os fundos de saco látero patelares.
flexores; isso é explicado muito bem pelo fato Quando a patela se desliza por baixo dos
dele precisar lutar contra a gravidade. côndilos, os três fundos de saco se abrem. Na
Entretanto, vimos que, quando o joelho está sua descida a patela é acompanhada pelo
em hiperextensão, a ação do quadríceps não ligamento adiposo, que modifica 180 graus a
é necessária para manter a posição de pé; sua orientação. A patela está muito bem
mas, desde que se inicie a menor flexão, o encaixada na sua fenda pelo quadríceps, mas
quadríceps deve intervir muito energicamente no final da extensão, esta força de coaptação
para impedir a queda pela flexão do joelho. O diminui e em hiperextensão tem tendência a
quadríceps é formado pelo vasto medial, vasto deslocar-se para fora, porque o tendão
lateral, vasto intermédio e reto femoral, sendo quadriciptal e o ligamento menisco patelar
este último um músculo biarticular, auxiliando formam um ângulo obtuso para fora. O que
na extensão do joelho e na flexão do quadril impede a luxação da patela para fora é a face
(KENDALL et al., 1999; KAPANDJI, 2000;). externa da tróclea mais proeminente que a
Os músculos flexores do joelho estão interna. Outras estruturas também são
contidos na loja posterior da coxa; são os responsáveis por oferecer estabilidade à
músculos isquiotibiais, sartório, poplíteo. Os patela , dentre elas nós temos lateralmente à
flexores do joelho são, ao mesmo tempo, seus patela densos retináculos fibrosos superficiais
rotadores; repartem – se em dois grupos, e profundos, além do trato iliotibial. Quando o
conforme seu ponto de inserção sobre o joelho é fletido criam forças laterais e de
esqueleto da perna: os que se fixam por fora inclinação da patela, sendo esses movimentos
do eixo vertical de rotação do joelho são os impedidos pelas forças equilibradas criadas
rotadores externos, representados pelo bíceps pelas estruturas mediais de estabilização: o
e pelo tensor da fáscia lata. E os que se ligamento patelo-femoral, o ligamento
prendem por dentro do eixo vertical de rotação menisco-patelar medial, e as fibras oblíquas
do joelho são os rotadores internos, do vasto medial (VMO) (EGUND, 1992;
representados pelo sartório, pelo LEHMKUHL e SMITH, 1997; KAPANDJI,
semitendinoso, pelo semimembranoso, pelo 2000;).
reto interno e pelo poplíteo. O fato de que os
No começo do movimento de flexão, a
quadris estejam mais separados entre si que
área de contato é no terço distal da patela. À
os tornozelos faz com que o eixo mecânico do
medida que a flexão aproxima-se de 90 graus,
membro inferior seja ligeiramente oblíquo para
a superfície da articulação move-se no sentido
baixo e para dentro, formando um ângulo de
da base para cobrir a metade proximal da
3º com a vertical. Este ângulo será maior
patela, observou-se que as pressões de
quanto mais larga for a pelve, como no caso
contato são as mesmas na faceta medial e
da mulher (LEHMKUHL e SMITH, 1997;
lateral e aumentam com a flexão do joelho a
KENDALL et al., 1999).
90 graus. A 120 graus de flexão ocorrem duas devido à lesão do ligamento ílio-lombar inferior
áreas de contato e pressão, uma é na homolateral (BUSQUET, 2001).
articulação patelo-femoral, e a outra entre o O recurvatum do joelho irá
tendão do quadríceps e o fêmur (LEHMKUHL proporcionar uma maior coaptação fêmuro
e SMITH, 1997). tibial levando assim à um aumento da
compressão articular principalmente no platô
tibial medial, aumentando o stress no menisco
Biomecânica Osteopática da Articulação medial . Essa hiperextensão do joelho, faz
Sacroilíaca com que ocorra maior tensão sobre os
elementos do platô fibroso posterior ,
proporcionando uma distensão dos ligamentos
Estudos realizados com colaterais e cruzado posterior; produz ainda
Stereofotogrametria em sujeitos vivos sobre a patela uma tendência de
comprovaram a possibilidade de movimentos deslocamento lateral causado pelo
em todas as dimensões da articulação
posicionamento do ligamento menisco patelar
sacroilíaca (STURESSON et al., 1989). e do tendão quadriciptal (HALL, 2000;
Segundo STURESSON et al. (1989) , KAPANDJI, 2000).
seu estudo também descreve os movimentos
O ilíaco em anterioridade pode causar
da articulação sacroilíaca e faz uma ainda tensão dos músculos isquiotibiais que
comparação entre os movimentos irá gerar dor na articulação tíbio fibular
sintomáticos e os assintomáticos dessa
superior e na face externa do joelho (RICARD,
articulação . 2000).
O exagero dos movimentos A rotação posterior do ilíaco irá
fisiológicos do ilíaco em relação ao sacro, irá
produzir as seguintes manifestações clínicas:
gerar um estiramento dos ligamentos encurtamento da perna ipsilateral, rotação
sacroilíacos e dos fusos musculares dos externa da articulação coxofemoral devido à
músculos da região, levando à uma facilitação
ação dos músculos piramidal e quadrado
nervosa provocando espasmos musculares femoral, EIAS mais alta e posterior, EIPS mais
que estarão fixando a disfunção. O tipo de baixa, crista ilíaca mais alta, ramo púbico mais
lesão irá depender dos músculos hipertônicos
alto, rotação homolateral de L5 devido a
e da direção das forças aplicadas na região. O tensão do ligamento ílio-lombar homolateral.
ilíaco pode se fixar em: anterioridade, Esta disfunção se fixa devido à espasmos do
posterioridade, abertura, fechamento, rotação músculo reto abdominal, glúteo máximo,
externa, rotação interna, superioridade e isquiotibiais, obturador interno, e psoas menor.
inferioridade (STRURESSON et al., 2000;
Esta situação irá favorecer a retificação lombar
BUSQUET, 2001). e a flexão do joelho (RICARD, 2000;
A rotação anterior do ilíaco observa-se BUSQUET, 2001).
que a Espinha Ilíaca Antero Superior (EIAS),
Os sintomas álgicos podem ser
se apresenta posicionada antero- encontrados na região do joelho devido à
inferiormente, o ísquio se eleva e posterioriza, tensão dos músculos adutores e do sartório,
e o ramo púbico se abaixa. Este movimento é
pseudo síndrome patelofemoral devido à
limitado pela sínfise púbica, tônus dos tensão do músculo reto femoral (BUSQUET,
músculos reto abdominal e isquiotibiais e 2001).
tensão do ligamento sacroilíaco (RICARD,
Nas lesões do ilíaco em abertura
2000). pode-se observar as seguintes manifestações
A rotação anterior do ilíaco é fixada clínicas: deslizamento da asa ilíaca para fora
por espasmos dos músculos adutores, reto
levando a uma descompressão da superfície
femoral, sartório, ilíaco e sacro lombar, articular sacroilíaca , EIPS e EIAS separadas
favorecendo a hiperlordose lombar e o da linha média e o ísquio mais próximo à linha
recurvatum do joelho. Esta alteração irá
média levando a posteriorização da base do
produzir uma rotação interna da articulação sacro. Esta lesão estará sendo fixada pelo
coxofemoral devido à ação dos músculos espasmo dos músculos glúteo máximo, glúteo
adutores do quadril, Espinha Ilíaca Póstero médio, glúteo mínimo, tensor da fáscia lata e
Superior (EIPS) mais alta, Espinha Ilíaca sartório. Nesta situação ocorre a diminuição
Ântero Superior (EIAS) mais baixa, crista ilíaca
da lordose lombar e deslizamento da cabeça
mais baixa, perna homolateral mais comprida, do fêmur para baixo e para dentro levando a
base sacra relativamente mais anterior e uma diminuição do valgo fisiológico do joelho
rotação de L5 para o lado oposto da lesão
e a perna homolateral se apresentará mais
comprida (BUSQUET, 2001).
A diminuição do valgo fisiológico, irá da asa do ilíaco, EIAS mais interna em relação
reproduzir um aumento do estresse à linha média em relação do que a EIAS do
compressivo sobre o côndilo femoral interno, ilíaco contralateral porém na mesma altura,
tensão das estruturas laterais do joelho e EIPS mais afastada de S2, sínfise púbica
consequentemente alterações na cartilagem desviada para o lado contrário da lesão ,
articular (LEHMKUHL e SMITH, 1997). rotação interna do membro inferior ipsilateral e
O geno varo é um fator predisponente posteriorização da base do sacro. Essa pode
para a síndrome do atrito ílio-tibial, devido à levar à uma rotação interna do membro inferior
sobrecarga na parte lateral do joelho (HALL, homolateral (RICARD, 2000)
2000). A cintura pélvica posiciona a
Nas lesões do ilíaco em fechamento articulação do quadril para o movimento
pode se observar as seguintes manifestações efetivo do membro (HALL, 2000), os
clínicas : aproximação da asa ilíaca em movimentos da articulação do quadril, estão
relação a linha média levando a uma intimamente associados aos movimentos da
compressão da articulação sacro ilíaca articulação do joelho, devido a presença de
gerando assim uma hipomobilidade, inúmeros músculos biarticulares que envolvem
aproximação da EIAS e EIPS e um essas articulações (KAPANDJI, 2000).
afastamento do ísquio em relação a linha Quando existe uma instabilidade
média, esta alteração irá produzir uma pélvica provocada por um trauma, ocorre uma
anterioridade da base do sacro, aumento da diminuição da base de suporte de peso e
lordose lombar, a cabeça do fêmur irá se aproximação dos joelhos devido ao
deslocar para baixo e para fora aumentando desequilíbrio dos músculos pélvicos
assim o valgo fisiológico do joelho e biarticulares (HALL, 2000).
ocasionará em uma perna homolateral mais
curta. Esta é fixada pelo espasmo dos Condromalácia Patelar
músculos ilíaco, adutores e obturador externo
(BUSQUET, 2001). Esse distúrbio comum da cartilagem
O geno valgo será acompanhado de articular da patela é responsável por grande
uma rotação lateral do fêmur e hiperextensão incapacidade e dor no joelho. A lesão da
do joelho (KENDALL et al., 1999). Em uma cartilagem deve à degeneração prematura
situação onde ocorre um aumento do valgo do com amolecimento, fibrilação e aspereza –
joelho irá ocorrer um aumento da força semelhantes às alterações patológicas da
compressiva do côndilo externo, aumento da osteoartrite, embora com algumas diferenças
tensão nas estruturas mediais do joelho e importantes (VERNI et al., 1997).
lesões na cartilagem (LEHMKUHL e SMITH, As causas costumam ser mecânicas
1997). O valgo irá ainda favorecer a (subluxações ou luxações recidivantes da
lateralização da patela devido à rotação patela, desequilíbrios patelares, etc.), podendo
externa do fêmur, atuando como um fator de ocorrer também por traumas muitas vezes
luxação e subluxação externa, condromalácia repetitivos. O trauma direto da patela por
patelar e artrose fêmuro-patelar externa golpe ou queda pode resultar em dano
(KAPANDJI, 2000). condral. Esses casos, em geral, são
As disfunções ocorridas no eixo unilaterais (GABRIEL et al., 2001;
longitudinal levam o ilíaco a se fixar em OUTERBRIDGE, 2001).
rotação interna ou externa. Quando o ilíaco se Outra causa é o aumento do ângulo Q,
apresenta posicionado externamente observa- segundo WEINSTEIN e BUCKWALTER
se as seguintes manifestações clínicas: (2000), se este estiver aumentado indicará um
abertura da asa do ilíaco, EIAS mais externa valgismo e consequentemente um
em relação a linha média do que a EIAS do desalinhamento patelar, sobrecarregando os
ilíaco contralateral porém na mesma altura, meniscos mediais.
sínfise púbica desviada para o lado da lesão, No fêmur, normalmente pode-se
rotação externa do membro inferior encontrar uma crista na margem superior da
homolateral, anteriorização da base do sacro e superfície articular do côndilo medial. Pode
aproximação da EIPS em relação à S2. Esta entrar em contato com a cartilagem patelar
alteração é fixada pelo espasmo dos músculos durante os primeiros 30 graus da flexão do
glúteo médio, glúteo mínimo e sartório joelho, quando a patela desce em seu sulco
(RICARD, 2000). (WEINSTEIN e BUCKWALTER, 2000).
Quando o ilíaco se apresenta Quando o movimento do joelho é
posicionado internamente observa-se as impedido, o ritmo patelofemoral normal
seguintes manifestações clínicas: fechamento também se perde, de modo que a patela é
forçada contra o fêmur. Anomalias musculares c) Condromalácia central – hiperpressão
que incluem os músculos isquiotibiais também central, conseqüente a uma hipertensão
podem provocar distúrbios no ritmo do aparelho extensor do joelho
patelofemoral (BOSCH, 1999). d) Condromalácia total – esta resulta quase
A condromalácia possui início com o sempre da evolução e conseqüente
amolecimento e ferimento da cartilagem extensão das formas precedentes.
articular e sua evolução determina os graus da e) Condromalácia bipolar – É muito rara e
doença. MACARINI et al. (1998) classificam a sua etiologia se presta a discussões.
condromalácia em quatro graus diferentes:
Grau I : amolecimento e inchaço Discussão
Grau II : fragmentação e fissuras
numa área menor que 0,5 polegada Os estudos desses movimentos em
Grau III : fragmentação e fissuras sujeitos vivos executados com
numa área maior que 0,5 polegada Stereofotogrametria , comprovou a
Grau IV : erosão da cartilagem até possibilidade de movimentos em todas as
chegar ao osso. dimensões da articulação sacroilíaca
Para que possa ser diagnosticada (STURESSON et al., 1989 ).
clinicamente, a condromalácia precisa ser No estudo de STURESSON et al.
sintomática. A dor será do tipo mecânica e (1989), também há descrição dos movimentos
aumentará ao se subir e descer escadas, da articulação sacroilíaca e uma comparação
sendo um sinal claro de comprometimento entre os movimentos sintomáticos e os
patelar, já que o componente de flexão mais assintomáticos dessa articulação .
carga aumenta a pressão patelar sobre os Conforme descrito por BUSQUET
côndilos femorais; a dor à pressão e à (2001), uma vez que o ilíaco pode sofrer
mobilização da patela é um sinal claro de alterações em sua biomecânica e esse
comprometimento condral, sendo descrita exagero de seus movimentos poderá acarretar
como profunda e localizada ao redor da área em estiramento dos ligamentos envolvidos e
retropatelar (HOLMES e CLANCY, 1998). dos fusos musculares dos músculos da região.
O paciente notará falhas e bloqueios Deste modo, o tipo de lesão dependerá dos
do joelho, sinais claros de comprometimento músculos em espasmos e da direção das
patelar. Os sintomas associados incluem forças aplicadas na região .
rigidez, aprisionamento, bloqueio, edema ou Quando o ilíaco se encontra em
sensação de insegurança ou de que o joelho anterioridade há tensão do ligamento
pode “ceder”. O grau de alteração patológica sacroilíaco, espasmos dos adutores, reto
subjacente correlaciona – se bem com a femoral, sartório, ilíaco e sacro lombar,
freqüência de bloqueio. A sinovite não é levando a uma hiperlordose lombar e o
comum, mas pode ser causada por irritação recurvatum do joelho, onde haverá um
sinovial produzida por partículas de cartilagem aumento da compressão articular
(WEINSTEIN e BUCKWALTER, 2000), principalmente no platô tibial medial, o que
Segundo AMATUZZI e SOBRINHO aumentará o stress no menisco medial
(1991), as condromalácias mecânicas aumentando assim as chances de uma
dividem-se em: degeneração na faceta medial e
a) Condromalácia da faceta lateral da patela consequentemente uma condromalácia patelar
(50% dos casos) – Freqüentemente (RICARD, 2000; BUSQUET, 2001).
devida à hiperpressão lateral por ruptura Se o ilíaco está em posterioridade,
do equilíbrio das forças transversais entre iremos encontrar espasmos do reto
as duas retináculas. Suas causas mais abdominal, isquiotibiais, obturador interno e
freqüentes são, a esclerose retrátil da psoas menor, há uma síndrome patelofemoral
retinácula lateral, a hipotrofia do vasto devido à tensão do reto femoral e também à
medial oblíquo, o espasmo e retração do uma semiflexão do joelho causada pelo
vasto lateral ou obliqüidade do tendão espasmo dos isquiotibiais, levando a um
patelar. stress do ligamento patelar o que
b) Condromalácia da faceta medial (15% posteriormente levará a uma hiperpressão
dos casos) – Causada freqüentemente por patelar, podendo acarretar a uma
uma displasia que se constitui na fonte da degeneração da cartilagem articular da patela
incongruência e dos conflitos entre as central (RICARD, 2000; BUSQUET, 2001).
superfícies articulares. O ilíaco em abertura leva a uma
diminuição do valgo fisiológico, que irá
reproduzir um aumento do estresse
compressivo sobre o côndilo femoral interno, BOSCH, J. J. Chondromalacia Patella. J.
tensão das estruturas laterais do joelho e Pediatr. Health Care. v.13, n.3, p. 144-56.
consequentemente alterações na cartilagem 1999.
articular, onde uma dessas alterações poderá BUSQUET, L. As cadeias musculares. 1ed.
ser a degeneração e deste modo, a Belo Horizonte: Edições Busquet, 2001.
condromalácia patelar (LEHMKUHL e SMITH, EGUND, B. The Natural History of Recurrent
1997; BUSQUET, 2001). Dislocation of the Patela. J Bone Joint Surg.
Se o ilíaco encontra – se em v. 74, n. 8, p.140-2. 1992.
fechamento haverá um aumento do valgo GABRIEL, M.R.S.; PETIT, J.D.; CARRIL,
fisiológico, o que irá favorecer a lateralização M.L.S. Fisioterapia em Traumatologia,
da patela devido à rotação externa do fêmur, Ortopedia e Reumatologia. Rio de Janeiro:
atuando como um fator predisponente à Revinter, 2001.
condromalácia patelar (BUSQUET, 2001). HALL, S. J. Biomecânica Básica. 3ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
Conclusão HOLMES, S. W.; CLANCY, W. G. Clinical
Classification of Patellofemoral Pain and
Pode-se observar que as alterações Dysfunction. J. Orthop. Sports Phys. Ther. v.
sacroilíacas, principalmente dos movimentos 28, n. 5, p. 299-306. 1998.
iliosacros, acarretam disfunções mecânicas KAPANDJI, I. A. Fisiologia Articular. Rio de
não só na cintura pélvica, como também no Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
joelho, já que músculos biarticulares estarão KENDALL, F. P. ; Mc CREARY, E. K. ;
modificando a fisiologia articular dessas PROVANCE, P. G. Músculos, Provas e
mesmas estruturas. Como conseqüência, Funções. 4ed. São Paulo: Manole, 1999.
alterações na articulação do joelho, LEE, D. A cintura pélvica. 2ed. São Paulo:
principalmente na patelofemoral, que pertence Manole, 2001.
ao complexo articular do joelho, possui uma LEHMKUHL, L.D. ; SMITH, L.K. Cinesiologia
grande intimidade com o músculo reto femoral Clínica de Brunnstrom. 4ed. São Paulo:
devido a sua inserção. Tendo em vista essa Manole, 1997.
relação, qualquer alteração nesse músculo LIPPERT, L.S. Cinesiologia Clínica para
poderá levar à disfunções biomecânicas da Fisioterapêutas. 3ed. Rio de Janeiro:
patela, principalmente compressões, sendo Guanabara Koogan, 2000.
este o primeiro estágio da condromalácia MACARINI, L. et al. The Initial (I and II) and
(amolecimento da cartilagem devido a uma Advanced (III and IV) Stages of Juvenile
alteração no mecanismo de deslizamento da Patellar Chondromalacia. Its Diagnosis by
patela no espaço intercondilar). Magnetic Resonance Using a 1.5 T Magnet
Assim, quando uma alteração with FLASH Sequences. Radiol. Med. v. 95, n.
biomecânica do ilíaco instala-se por tempo 6, p. 557-62. 1998.
prolongado, pode provocar estiramentos OUTERBRIDGE, R. E. The Etiology of
ligamentares, espasmos dos músculos Chondromalacia Patellae. Clin. Orthop. n.
envolvidos, estiramentos dos antagonistas e 389, p. 5-8. 2001.
possível alteração da marcha. RICARD, F. Tratamiento Osteopático de las
Deste modo, cabe ao fisioterapeuta Lumbalgias y Ciáticas. 2ed. Madrid: Editorial
entender a fisiologia articular e possíveis Médica Panamericana, 2000.
patologias que podem acarretar devido à SETTINERI, L.I.C. Biomecânica: Noções
disfunções mecânicas. Uma avaliação precisa Gerais. São Paulo: Atheneu, 1988.
e detalhada deve ser feita antes de qualquer STRURESSON et al. Movements of the
procedimento fisioterapêutico, pois o corpo Sacroiliac Joints. Spine. v.14, n.14, p. 162 - 5.
humano não é formado por segmentos 1989.
isolados, e sim por um grande complexo STRURESSON et al. A Radiometric Analysis
músculoesquelético e articular que interagem of the Movements of the Sacroiliac Joints in
para promover harmonia dos movimentos. the Reciprocal Straddle Position. Spine. v.25,
n.2, p. 214 - 7. 2000.
Referências Bibliográficas VERNI, E. et al. Chondromalacia of the
Patella. Natural Progression. Chir. Organi.
AMATUZZI, M. M.; SOBRINHO, J. L. F. G. Mov. v. 82, n. 4, p. 401-7. 1997.
Patologia Fêmoro Patelar: Atualização de WEINSTEIN, L.S.; BUCKWALTER, J.A.
Conceitos. Ver. Hosp. Clin. Fac. Med. S. Ortopedia de Turek: Princípios e sua
Paulo. v.46, n.6, p. 293-302. 1991. Aplicação. 5ed. São Paulo: Manole, 2000.

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