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Entender o planejamento familiar, qual o seu objetivo e como ele pode ser realizado no SUS
O planejamento reprodutivo, chamado também de planejamento familiar, designa um conjunto de ações de regulação da
fecundidade, as quais podem auxiliar as pessoas a prever e controlar a geração e o nascimento de filhos, e englobam adultos, jovens e
adolescentes, com vida sexual com e sem parcerias estáveis, bem como aqueles e aquelas que se preparam para iniciar sua vida sexual.
As ações do planejamento reprodutivo ou planejamento familiar são definidas e amparadas pela Lei nº 9.263/1996, que também
estabelece penalidades e dá outras providências.
As ações de planejamento reprodutivo são voltadas para o fortalecimento dos direitos sexuais e reprodutivos dos indivíduos e se
baseiam em ações clínicas, preventivas, educativas, oferta de informações e dos meios, métodos e técnicas para regulação da
fecundidade. Devem incluir e valorizar a participação masculina, uma vez que a responsabilidade e os riscos das práticas
anticoncepcionais são predominantemente assumidos pelas mulheres.
É importante atentar para as ações de planejamento reprodutivo das mulheres lésbicas e bissexuais. Para esse grupo, o desejo ou
o direito à maternidade precisa ser garantido, considerando que técnicas de reprodução assistida como a inseminação artificial e a
fertilização in vitro estão disponíveis pelo SUS, independentemente do diagnóstico de infertilidade.
No Brasil, a Política Nacional de Planejamento Familiar foi criada em 2007 e envolve oferta de oito métodos contraceptivos
gratuitos e também a venda de anticoncepcionais a preços reduzidos na rede “Farmácia Popular”.
A atuação dos profissionais de saúde na assistência à anticoncepção envolve, necessariamente, três tipos de atividades:
- Atividades educativas: devem ser desenvolvidas com o objetivo de oferecer à clientela os conhecimentos necessários para a escolha
e posterior utilização do método anticoncepcional mais adequado, assim como propiciar o questionamento e reflexão sobre os temas
relacionados com a prática da anticoncepção, inclusive a sexualidade. As ações educativas devem ser preferencialmente realizadas em
grupo, precedendo a primeira consulta, e devem ser sempre reforçadas pela ação educativa individual. Existem diferentes metodologias
de trabalho de grupo. Cada serviço deve utilizar a que melhor se adapte às suas disponibilidades de pessoal, de tempo e de espaço,
bem como às características e necessidades do grupo em questão. Seja qual for a metodologia utilizada, é de fundamental importância
que as práticas educativas tenham um caráter participativo, permitindo a troca de informações e experiências baseadas na vivência de
cada indivíduo do grupo. A linguagem utilizada pelo profissional de saúde deve ser sempre acessível, simples e precisa.
- Aconselhamento: é entendido como um "processo de escuta ativa individualizado e centrado no indivíduo. Pressupõe a
capacidade de estabelecer uma relação de confiança entre os interlocutores visando o resgate dos recursos internos do indivíduo para
que ele tenha possibilidade de reconhecer-se como sujeito de sua própria saúde e transformação”. Essa prática pressupõe:
• Acolhimento da demanda da pessoa ou casal, entendida como suas necessidades, curiosidades, dúvidas, preocupações, medos e
angústias, relacionadas às questões de sexualidade, planejamento reprodutivo e prevenção das DST/HIV/Aids.
• Identificação do contexto de vida da pessoa ou do casal e suas ideias, desejos ou não desejos em relação a ter ou não ter filhos.
• Abordagem proativa com questioname ntos sobre a atividade sexual.
• Avaliação de vulnerabilidades individual ou do casal, para a infecção pelo HIV e outras DST.
• Compreensão de que o sucesso a ser alcançado depende da ação conjunta e solidária dos profissionais de saúde com a pessoa ou
o casal.
- Atividades clínicas: devem ser realizadas levando-se em conta que todo e qualquer contato que a mulher venha a ter com os
serviços de saúde deve ser utilizado em benefício da promoção, proteção e recuperação da sua saúde. De tal forma que a primeira
consulta deve ser feita após as atividades educativas incluindo: a anamnese; exame físico geral e ginecológico, com especial atenção
para a orientação do auto-exame de mamas e levantamento de data da última colpocitologia oncótica para avaliar a necessidade de
realização da coleta ou encaminhamento para tal; análise da escolha e prescrição do método anticoncepcional. As consultas
subseqüentes ou consultas de retorno visam um atendimento periódico e contínuo para reavaliar a adequação do método em uso,
bem como prevenir, identificar e tratar possíveis intercorrências.
As atividades clínicas devem incluir:
• Anamnese.
• Exame físico.
• Identificação das necessidades individuais e/ou do casal, incentivando a livre expressão dos sentimentos e dúvidas quanto à
sexualidade e à saúde reprodutiva.
• Identificação de dificuldades quanto às relações sexuais ou de disfunção sexual
• Ações de prevenção do câncer de próstata. Em homens com idade superior a 50 anos, recomenda-se a avaliação anual e realização
de exames (Antígeno Prostático Específico – PSA e toque retal) para detecção precoce do câncer de próstata.
• Orientações para a prevenção do câncer de pênis, incluindo recomendações para o autoexame, principalmente para homens com
idade acima de 50 anos.
• Ações de prevenção do câncer de colo de útero e de mama, com especial atenção para a orientação do autoexame das mamas e
para a realização do exame preventivo do câncer de colo de útero.
• Identificação da data da última coleta do exame preventivo do câncer de colo de útero e avaliação da necessidade de realização
de nova coleta, de acordo com o protocolo vigente.
• Atenção pré-natal e puerperal.
• Atenção à saúde da mulher no climatério/menopausa.
• Orientação para prevenção de DST/HIV/Aids, com incentivo à dupla proteção.
• Orientação para a escolha dos recursos à concepção ou à anticoncepção, incentivando a participação ativa na decisão individual
ou do casal.
• Prescrição e oferta do método escolhido.
• Acompanhamento da pessoa ou do casal.
Essas atividades devem ser desenvolvidas de forma integrada, tendo-se sempre em vista que toda visita ao serviço de saúde
constitui-se numa oportunidade para a prática de ações educativas que não devem se restringir apenas às atividades referentes à
anticoncepção, no enfoque da dupla proteção, mas sim abranger todos os aspectos da saúde integral da mulher. Deve-se, ainda,
promover a interação dos membros da equipe de saúde, de forma a permitir a participação dos diversos elementos, nessas atividades,
de acordo com o nível de responsabilidade requerido em cada situação.
A assistência em anticoncepção pressupõe a oferta de todas as alternativas de métodos anticoncepcionais aprovadas pelo
Ministério da Saúde, bem como o conhecimento de suas indicações, contra-indicações e implicações de uso, garantindo à mulher, ao
homem ou ao casal os elementos necessários para a opção livre e consciente do método que a eles melhor se adapte. Pressupõe, ainda,
o devido acompanhamento clínico-ginecológico à usuária, independentemente do método escolhido.
Na decisão sobre o método anticoncepcional a ser usado devem ser levados em consideração os seguintes aspectos:
- A escolha da mulher, do homem ou do casal
- Características dos métodos
- Fatores individuais e situacionais relacionados aos usuários do método
Características dos métodos:
- Eficácia (número de gestas não desejadas dos usuários nos últimos 12 meses)
- Efeitos secundários (adversos; avaliar quais são, como tratar e seu risco/benefício)
- Aceitabilidade (a inadaptação psicológica e cultural; falta de orientação; motivação para uso e grau de confiança)
- Disponibilidade (ser gratuito possibilita acesso geral; retira barreiras)
- Facilidade de uso (utilizar é difícil, complexa ou não assimilada por grande parte da população)
- Reversibilidade (completa e imediatamente reversíveis, e que uma vez interrompido seu uso, haja recuperação total da fertilidade)
- Proteção à Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e infecção pelo HIV.
Fatores individuais relacionados aos usuários do método:
- Condições econômicas.
- Estado de saúde.
- Características da personalidade da mulher e/ou do homem.
- Fase da vida.
- Padrão de comportamento sexual.
- Aspirações reprodutivas.
- Fatores outros, como medo, dúvidas e vergonha.
Os critérios médicos de elegibilidade para uso de métodos anticoncepcionais foram desenvolvidos pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) com o objetivo de auxiliar os profissionais da saúde na orientação das(os) usuárias(os) de métodos anticoncepcionais.
Os critérios médicos de elegibilidade para uso de métodos anticoncepcionais não devem ser considerados norma estrita, mas sim
recomendação, que pode ser adaptada às condições locais de cada país. Consistem em uma lista de condições das(os) usuárias(os),
que poderiam significar limitações para o uso dos diferentes métodos, e as classificam em quatro categorias, conforme descrito a
seguir:
• Categoria 1: o método pode ser usado sem restrições.
• Categoria 2: o método pode ser usado com restrições. As condições listadas na Categoria 2 significam que o método em questão
pode ser utilizado com alguma precaução. São situações nas quais as vantagens de usá-lo geralmente superam os riscos comprovados
ou teóricos que seu uso poderia acarretar. As condições da Categoria 2 fazem com que o método não seja a primeira escolha e, se
usado, um acompanhamento mais cuidadoso faz-se necessário.
• Categoria 3: os riscos comprovados e teóricos decorrentes do uso do método, em geral, superam os benefícios. Quando há
condição da Categoria 3 para um método, este deve ser o de última escolha e, caso seja escolhido, é necessário acompanhamento
rigoroso da(o) usuária(o).
• Categoria 4: o método não deve ser usado, pois apresenta risco inaceitável.
2. Quais são os métodos contraceptivos, as indicações desses métodos, riscos, benefícios e contra indicações
No que concerne aos métodos anticoncepcionais, podem ser classificados da seguinte forma:
Temporários (reversíveis)
a. Hormonais
• Orais
- Combinados (Monofásicos ou Bifásicos
ou Trifásicos)
- Minipílulas
• Injetáveis Mensais Trimestrais
• Implantes subcutâneos
• Percutâneos Adesivos
• Vaginais Comprimidos Anel
• Sistema liberador de levonorgestrel
(SIU)
b. Barreira
• Feminino
- Diafragma
- Espermaticida
- Esponjas
- Capuz cervical
- Preservativo feminino
• Masculino
- Preservativo masculino
c. Intrauterinos
• Medicados DIU de cobre Diu com levonorgestrel
• Não medicados
d. Comportamentais ou naturais
Tabela ou calendário (Ogino-Knaus)
Curva térmica basal ou de temperatura Sintotérmico Billings (mucocervical)
Coito interrompido
e. Duchas vaginais
Definitivos (esterilização)
• Feminino (ligadura tubária)
• Masculino (vasectomia)
1. ANTICONCEPCIONAL HORMONAL ORAL
Os anticoncepcionais hormonais orais, também chamados de pílulas anticoncepcionais, são esteroides utilizados isoladamente ou
em associação, com a finalidade básica de impedir a concepção. Os anticoncepcionais hormonais orais classificam-se em:
• Combinados: monofásicos, bifásicos e trifásicos.
Os anticoncepcionais orais combinados contêm dois hormônios sintéticos, o estrogênio e o progestogênio, semelhantes aos
produzidos pelo ovário da mulher. São mais conhecidos como pílula.
Nas monofásicas, que são as mais comuns, a dose dos esteróides é a mesma nos 21 ou 22 comprimidos ativos da cartela. A
apresentação pode ser em cartelas com 21 ou 22 comprimidos ativos ou em cartelas com 28 comprimidos, sendo 21 ou 22
comprimidos ativos, que contêm hormônios, seguidos de 6 ou 7 comprimidos de placebo, de cor diferente, que não contêm
hormônios.
As pílulas combinadas bifásicas contêm
dois tipos de comprimidos ativos, de
diferentes cores, com os mesmos hormônios,
mas em proporções diferentes. Devem ser
tomadas na ordem indicada na embalagem.
As pílulas combinadas trifásicas contêm
três tipos de comprimidos ativos, de
diferentes cores, com os mesmos hormônios,
mas em proporções diferentes. Devem ser
tomadas na ordem indicada na embalagem.
A eficácia das pílulas anticoncepcionais
relaciona-se diretamente à sua forma de
administração, ou seja, esquecimento na
ingestão de comprimidos e irregularidades na
posologia podem interferir. A orientação
adequada é fundamental para que as mulheres
usem a pílula corretamente.
Os principais efeitos secundários que
podem estar relacionados com o uso da pílula
são: alterações de humor, como depressão e
menor interesse sexual, que são pouco
comuns; náuseas, vômitos e mal-estar gástrico
(mais comum nos três primeiros meses);
cefaleia leve; leve ganho de peso; nervosismo;
acne (pode melhorar ou piorar, mas
geralmente melhora); tonteira; mastalgia;
alterações do ciclo menstrual: manchas ou
sangramentos nos intervalos entre as
menstruações, especialmente quando a
mulher se esquece de tomar a pílula ou toma
tardiamente (mais comum nos três primeiros
meses), e amenorreia e cloasma. Como
complicações podemos ter: AVE, infarto do
miocárdio e trombose.
Riscos:
• Não são recomendados para lactantes, pois afetam a qualidade e quantidade do leite.
• Muito raramente, podem causar acidentes vasculares, tromboses venosas profundas ou infarto do miocárdio, sendo que o risco
é maior entre fumantes (mais de 15 cigarros/dia) com 35 anos ou mais.
• Podem aumentar o risco para tumores de fígado, sendo extremamente raros os tumores malignos.
• De acordo com a informação atualmente disponível, a pílula não aumenta o risco para câncer de colo uterino e de mama, porém
novos estudos são necessários para se obter conclusões mais precisas. Além disso, existem ainda dúvidas sobre a possível aceleração
da evolução de cânceres preexistentes com o uso da pílula.
Pontos-chave
• Proporcionam ciclos menstruais regulares, com sangramento durante menos tempo e em menor quantidade.
• Diminuem a frequência e a intensidade das cólicas menstruais (dismenorreias) e dos ciclos hipermenorrágicos.
• Diminuem a incidência de gravidez ectópica, doença inflamatória pélvica (DIP), câncer de endométrio, câncer de ovário, cistos
funcionais de ovário, doença benigna da mama e miomas uterinos.
• Muito eficazes quando em uso correto.
• Não há necessidade de pausas para “descanso”.
• Podem ser usadas desde a adolescência até a menopausa. • A fertilidade retorna logo após a interrupção de seu uso.
• Não previnem contra DST/HIV/Aids.
Preferencialmente, deve-se sempre optar por pílulas combinadas de baixa dosagem. Nos casos em que existirem manifestações
androgênicas, como hirsutismo e acne, preconizam-se pílulas contendo progestógenos com atividade antiandrogênica – gestodene,
acetato de ciproterona, acetato de clormadinona e a drospirenona. Relatos prévios de sangramentos persistentes com contraceptivos
hormonais orais combinados, de baixa dosagem, podem sinalizar a escolha de outra pílula com dose mais alta.
• Apenas com progestogênio ou minipílulas: acetato de noretisterona, levonorgestrel e desogestrel.
Os anticoncepcionais orais apenas de progestogênio contêm uma dose muito baixa de progestogênio. Eles não contêm estrogênio.
Também são conhecidos como minipílulas. São os anticoncepcionais orais mais apropriados para a mulher que amamenta. Porém
mulheres que não estão amamentando também podem usá-los. Esses anticoncepcionais são encontrados em embalagens com 28 ou
35 comprimidos ativos.
A eficácia para a lactante, quando usada de forma correta e consistente, é alta. A alta eficácia durante a lactação explica-se porque
a lactação, especialmente quando exclusiva e nos primeiros seis meses, oferece alta taxa de proteção. Para a não lactante a eficácia em
uso correto e consistente não é tão alta quanto à da pílula combinada.
Os principais efeitos secundários que podem estar relacionados com o uso da minipílula são: alterações no fluxo menstrual;
cefaleia e sensibilidade mamária. Para as mulheres que não estão amamentando, os efeitos secundários mais comuns são as alterações
no fluxo menstrual: spotting (manchas), amenorréia, que pode ocorrer durante vários meses, fluxo menstrual abundante ou
prolongado. O maior risco é a falha dela.
A principal vantagem dos contraceptivos orais (pílulas anticoncepcionais) é que eles proporcionam contracepção confiável e
contínua se forem tomados conforme instruído.
Além disso, tomar contraceptivos orais reduz a ocorrência de:
Cólicas menstruais
Transtorno disfórico pré-menstrual (a forma grave da síndrome pré-menstrual)
Sangramento uterino anômalo em virtude de disfunção ovulatória (o sangramento anômalo decorrente de
alterações no controle hormonal da menstruação)
Anemia ferropriva
Distúrbios de mama não cancerosos (benignos)
Cistos ovarianos
Infecção das trompas de Falópio
Câncer de útero (câncer de endométrio)
Câncer dos ovários
Tricomoníase
Tricomoníase tem como agente etiológico o parasita flagelado Trichomonas vaginalis, de transmissão sexual e que tem a
capacidade de fagocitar bactérias, fungos e vírus, transportando-os para o trato genital superior.
Após penetrar na vagina, o Trichomonas vaginalis adere fortemente às células epiteliais, ligando uma proteína de sua superfície
(lipofosfoglicano) à membrana das células. Para sua sobrevivência, o parasita adquire nutrientes do meio externo, fagocitando
bactérias, fungos e células do hospedeiro. Eritrócitos incorporam sua membrana celular para adquirir o ferro, que utiliza para seu
metabolismo e aumento de virulência. Provoca resposta inflamatória e facilita a aquisição de outras infecções, inclusive a do HIV. A
tricomoníase tem sido associada a complicações durante o ciclo gravídico puerperal.
Sinais e Sintomas
O período de incubação do T. vaginalis varia de três dias a qua- tro semanas, e vagina, uretra, ectocérvice e bexiga podem ser
afetadas. Até 50% das mulheres com tricomoníase se mantêm assintomáticas e, em alguns casos, tal colonização pode per- sistir por
meses ou anos. Entretanto, naquelas pacientes com queixas, a leucorreia vaginal costuma ser descrita como mal
cheirosa, fina e amarela ou verde. Além disso, disúria, dispa- reunia, prurido vulvar e dor podem ser observados. Às vezes, a
sintomatologia e os achados físicos são idênticos àqueles da DIP aguda.
Com a tricomoníase, a vulva pode estar eritematosa, ede- maciada e escoriada. A vagina elimina a leucorreia mencionada
anteriormente e hemorragias subepiteliais ou “manchas ver- melhas” podem ser observadas na vagina e no colo uterino. A tricomoníase
costuma ser diagnosticada com a identificação microscópica de parasitas em um preparado salino da secreção. Os tricomonas são
protozoários anaeróbios com flagelo anterior e, portanto, móveis. São ovais e ligeiramente maiores que um leucócito
• Vaginose citolítica é causada pela excessiva proliferação de Lactobacillus, pela redução do pH vaginal e pela citólise, levando ao
aparecimento de sintomas. Os fatores desencadeantes são desconhecidos.
Os sintomas são corrimento esbranquiçado e prurido de intensidades variáveis que piora no período pré-menstrual. Ardor,
queimação, disúria e dispareunia podem estar associados. Ao exame clínico, observa-se o conteúdo vaginal geralmente aumentado, de
aspecto flocular, fluido ou em grumos, aderente ou não às paredes vaginais. O pH encontra-se igual ou menor que 4
• Vaginite inflamatória descamativa é uma forma pouco frequente, mas severa, de vaginite purulenta crônica. A etiologia é
desconhecida; em alguns casos, têm sido identificados Streptococcus do grupo B e Escherichia coli, e o processo inflamatório é
intenso. Existe a hipótese de que fatores imunológicos e deficiência de estrogênios contribuam para a afecção.
A queixa, comumente de longa duração, é de corrimento profuso ou em moderada quantidade, acompanhado de desconforto
acentuado, dispareunia, ardor. O exame ginecológico revela processo inflamatório, de intensidade variável, com eritema, podendo
haver petéquias ou mesmo equimoses na mucosa do trato genital; a cérvice pode estar envolvida. Por vezes, é necessário remover o
conteúdo vaginal para melhor observar o processo inflamatório na mucosa. Importante excluir tricomoníase. Pela microscopia,
observam-se aumento nos polimorfonucleares e nas células parabasais, ausência de Lactobacillus e presença de outras bactérias. O pH
vaginal encontra-se acima de 4,5
• Vaginite aeróbica é um estado de alteração do meio vaginal caracterizado por microflora contendo bactérias aeróbicas entéricas
(sendo as mais frequentes Enterococcus faecalis, Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Streptococcus
do grupo B), redução ou ausência de Lactobacillus e processo inflamatório de diferentes intensidades. Existem questionamentos a
respeito de se a flora aeróbia seria a causa da vaginite aeróbica ou secundária a alterações imunológicas.
Os sintomas são corrimento vaginal, por vezes com aspecto purulento e odor desagradável; dependendo do grau de inflamação,
há queixa de disúria e dispareunia. Ao exame ginecológico, observa-se inflamação do vestíbulo; ao exame especular, hiperemia da
mucosa vaginal e aumento do conteúdo vaginal, em graus variáveis. O quadro clínico severo de vaginite aeróbia assemelha-se ao da
vaginite inflamatória descamativa; para alguns autores, ambas seriam da mesma entidade
Cervicite
A cervicite mucopurulenta ou endocervicite é a inflamação da mucosa endocervical (epitélio colunar do colo uterino). Os agentes
etiológicos mais frequentes são C. trachomatis e N. gonorrhoeae.
Neisseria gonorrhoea
Muitas mulheres com N. gonorrhoeae no colo uterino são assintomáticas. Por essa razão, as mulheres em grupo de risco devem
ser rastreadas periodicamente. Os fatores de risco para pacientes portadoras de gonococos com infecção potencial do trato reprodutivo
superior são as seguintes: idade igual ou inferior a 25 anos, presença de outras infecções sexualmente transmissíveis, antecedente de
infecção por gonococos, parceiro sexual recente ou múltiplos parceiros, prática sexual sem preservativos, compartilhamen- to de
seringas ou objetos cortantes com resíduo de sangue e profissionais do sexo. O rastreamento de mulheres não ges- tantes e de baixo
risco não é recomendado
Sinais e Sintomas
A gonorreia sintomática do trato reprodutivo inferior femi- nino pode se apresentar na forma de vaginite ou de cervici-
te. Em geral, as mulheres portadoras de cervicite descrevem uma secreção vaginal profusa sem odor, não irritante e de cor branca-
amarelada. Os gonococos também podem infectar as glândulas de Bartholin e de Skene e a uretra, e ascender para o endométrio e as
tubas uterinas, causando infecção no trato reprodutivo superior. Neisseria gonorrhoeae é um cocobacilo gram-negativo que in- vade
as células epiteliais colunares e transicionais, passando para o meio intracelular. Por essa razão, o epitélio vaginal não é envolvido.
Chlamydia trachomatis
Esse parasita intracelular obrigatório depende de células do hospedeiro para sobreviver. Ele causa infecção do epitélio colunar e,
assim, os sintomas refletem a infecção de glândulas ectocervicais, com resultante descarga mucopurulenta ou secreções ectocervicais.
Se infectado, o tecido ectocervical costuma se apresentar edemaciado e hiperêmico. A uretrite é outra infecção do trato genital inferior
que pode ocorrer com intensa disúria.
Lesões em Massa
Verrugas genitais externas
Essas lesões desenvolvem-se a partir da infecção pelo papi- lomavírus humano (HPV). As verrugas genitais apresentam
morfologias diferentes, e o aspecto externo varia desde pápulas planas até as clássicas lesões exofíticas verrucosas, denominadas
condiloma acuminado (condyloma acuminata). Os tecidos envol- vidos variam e as verrugas genitais externas podem ocorrer
em áreas do trato reprodutivo inferior, uretra, ânus ou boca. Costumam ser diagnosticadas pelo exame clínico, e a biópsia
não é necessária, exceto se houver suspeita de neoplasia coexistente. Da mesma forma, a sorotipagem para HPV não é
necessária para diagnóstico de rotina.
O condiloma acuminado pode permanecer inalterado ou de- saparecer espontaneamente, e o efeito do tratamento sobre a
possibilidade de transmissão viral futura é obscuro. No entanto, muitas mulheres preferem a remoção, e as lesões podem ser
extirpadas com bisturi ou eletrocirurgia, crioterapia ou ablação por laser. Além disso, lesões muito volumosas podem ser
tratadas com aspiração cirúrgica ultrassônica cavitacional
Lesões de Prurido
Escabiose
O Sarcoptes scabiei infecta a pele, resultando em erupção com prurido intenso. O ácaro que causa essa infecção tem forma
achatada, e a fêmea cava um túnel sob a pele, onde permanece por aproximadamente 30 dias, alongando esse túnel. A postura
de ovos é diária, e o período de incubação demora 3 a 4 dias. As ninfas cavam seus próprios túneis, tornando-se adultas em
aproximadamente 10 dias. O número médio de ácaros adultos presentes em um paciente afetado é de uma dúzia, mas, na
teoria, pode chegar a centenas. Os ácaros movem-se na ordem de 2,5 cm por minuto, e a transmissão sexual é a causa mais
provável da infecção inicial, embora possa ser observada em contatos familiares.
Ocorre reação de hipersensibilidade retardada do tipo IV aos ácaros, aos ovos e às fezes resultando em pápulas, vesículas ou
nódulos eritematosos além dos túneis concomitantes na pele. Entretanto, é possível haver instalação, desenvolvimento e
ocultação de infecção secundária nesses túneis. As áreas de infecção mais comuns são mãos, punho, cotovelos, regiões inguinais
e tornozelos. A coceira é o sintoma predominante nessas áreas.
Os túneis são trilhas finas elevadas na pele, medindo de 5 a 10 mm de comprimento. O teste definitivo é realizado pela ras-
pagem do túnel com uma lâmina de bisturi, misturando esses fragmentos em óleo mineral e submetendo-os posteriormente
ao exame microscópico. A identificação de ácaros, de ovos, de fragmentos de ovos ou de bolinhas de fezes é diagnóstica.