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Passarola de Gusmão: o primeiro homem do mundo a voar foi um padre

português
A Passarola de Gusmão foi o primeiro veículo capaz de voar e foi criado por um padre
português no século XVIII. Descubra a sua fantástica história e como tudo aconteceu.

Sabia que a primeira aeronave conhecida no mundo a efetuar um voo teve origem
portuguesa? 74 anos do balão dos Montgolfier (os irmãos que ficariam na história como os
criadores do balão de ar quente), existia a Passarola de Gusmão, invenção de Bartolomeu de
Gusmão. Pouco se sabe das suas características técnicas, mas sabemos que terá voado em
1709.

O padre jesuíta Bartolomeu de Gusmão nasceu em Santos, São Paulo, Brasil, em 1685, e com
apenas 20 anos criou um aparelho que fazia subir a água de um ribeiro até uma altura de cerca
de 100 metros, o que demonstra já a sua propensão para a inovação. Após ter terminado os
estudos secundários, partiu para Portugal, tendo-se matriculado na Universidade de Coimbra,
onde estudou Física e Matemática. 

Diz-se que, ao observar uma bola de sabão a pairar no ar, elevada pelo ar quente da chama de
uma vela, Bartolomeu de Gusmão teve inspiração para conceber um aparelho que fosse mais
leve que o ar. Assim, na sequência dos seus estudos sobre aerostação, o padre Gusmão fez
uma petição ao rei D. João V, em 1708, para aquilo que designou como “instrumento de andar
pelo ar” (e que ficaria conhecido mais tarde como a Passarola de Gusmão). 

Apresentação da Passarola de Gusmão ao Rei D. João V


Concedida a autorização real e um financiamento, o cientista dedica-se inteiramente ao seu
projeto na Quinta do Duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira (Lisboa). No dia 8 de
agosto de 1709, perante o rei, a rainha, o núncio apostólico, membros do corpo diplomático e
de toda a corte portuguesa, na Sala dos Embaixadores da Casa da Índia, Bartolomeu de
Gusmão faz subir até ao teto um balão aquecido com ar.

Mais tarde, desenvolverá uma versão maior, já tripulada, que recebeu o nome de Passarola.
Este enorme balão, que possivelmente levava dentro o seu inventor, foi lançado da Praça de
Armas do Castelo de São Jorge e voou cerca de 1km, até ao Terreiro do Paço.

Precoce na revelação dos seus dotes intelectuais, Gusmão foi também precoce no pedido de
“patente” do novo engenho que fez ao rei nesse mesmo ano (provavelmente o primeiro
pedido de propriedade intelectual em terras lusófonas) e também na sua demonstração
prática, embora num espaço interior e, portanto, limitado.

Dessa forma, Bartolomeu de Gusmão tornou-se um dos pioneiros da aeronáutica mundial,


sendo chamado de “Padre Voador”. Apesar de todas estas honras, acabou por ter de fugir para
Espanha, em fuga da Inquisição, em 1724, tendo morrido em Toledo nesse mesmo ano, com
apenas 39 anos de idade.

Bartolomeu de Gusmão

A perseguição da Inquisição e a fuga para Espanha não tiveram nada a ver, no entanto, com as
aventuras do Padre Bartolomeu de Gusmão no campo da aviação. Segundo o testemunho de um
companheiro jesuíta, que o acompanhou na fuga, ambos eram suspeitos de serem, afinal de
contas, judeus. Algo muito grave naquela altura.

Não se sabe ao certo se era judeu ou não. O que se sabe é que era muito comum atribuir-se
suspeitas de judaísmo a quem mostrasse sinais de pensamento científico. No entanto,
Bartolomeu de Gusmão terá passado grande parte dos seus últimos dias de vida obcecado com a
ideia da vinda do Messias e do Quinto Império

Os desenhos da Passarola de Gusmão que chegaram aos nossos dias não serão verdadeiros nem
representam o artefato voador tal como ele era. A explicação é simples: sabemos que
Bartolomeu de Gusmão voou mesmo, mas seria impossível ter voado numa máquina semelhante
à que aparece nas gravuras por causa das leis da física.

Estas gravuras falsas terão sido desenhadas muitos anos mais tarde e já após a morte de
Bartolomeu de Gusmão. A intenção de quem as desenhou seria dar o devido crédito ao padre
português pelas primeiras experiências com balões de ar quente, décadas antes dos irmãos
Montgolfier.

In https://www.vortexmag.net/passarola-de-gusmao-o-primeiro-homem-do-mundo-a-voar-
foi-um-padre-portugues/ (consultado no dia 8/02/2023)

A Passarola na obra “Memorial do Convento”


A construção da Passarola

Um sonho a concretizar:
. “…o homem, primeiro tropeça, depois anda, depois corre, um dia voará.” (pág. 64)
. “…faremos como as aves, que tanto estão no céu como na terra…” (pág. 65)
. “…e quando tudo estiver armado e concordante entre si, voarei.” (pág.68)

Simbologia na Obra:
. Elo de ligação entre o céu e a terra;
. Pelo seu movimento ascensional, representa metaforicamente a alma que ascende aos
céus;
. Representa a libertação do espírito e a passagem para um outro estado de existência.
Materiais principais:
. Bolas âmbar (que serão atraídas pelo sol); . Éter (atraído pelo âmbar);
. Íman (atraído pelo éter).

O éter seria substituído pelas vontades dos Homens


“Equipa” na construção da Passarola

Padre Bartolomeu Lourenço – O Voador

. Possui um vasto conhecimento cientifico;

. Conta com o apoio do Rei para a construção da Passarola;

. Vai à Holanda procurar saber como obter o éter, que acredita ser o elemento fundamental
para a máquina voar.

Baltasar – Sete Sóis


. Conhecimento empírico e manual;

. Apesar de maneta da mão esquerda aceita ajudar o Padre na construção da Passarola;

. Graças ao seu esforço físico, a Passarola foi construída.

Blimunda – Sete Luas


. Conhecimento mítico/ sobrenatural;

. Graças aos seus poderes, vê os defeitos da máquina para que Baltasar os corrija;

. Recolhe as vontades para que a máquina possa voar;

. Fica doente, mas a música de Scarlatti cura-a.

Domenico Scarlatti

. Músico italiano professor da Infanta D. Maria Bárbara;


. Representa a arte aliada ao sonho;

. É ele que cura Blimunda através da sua música e possibilita o voo da passarola.

Construção da Passarola
Etapas de construção:
. “…queres vir tu ajudar-me, perguntou (…) se Deus é maneta e fez o universo, este homem
sem mão pode atar a vela e o arame que hão-de voar” (pág. 68/69)

. Blimunda, em jejum, inspecciona a máquina observando os seus defeitos para que Baltasar
pudesse corrigi-los;

. Padre Bartolomeu viaja para a Holanda, a fim de descobrir o segredo do éter, e como poder
obtê-lo.

Quando regressa, procura por Blimunda e Baltasar em Mafra para lhes revelar o segredo do
éter:
.  “…mas o éter antes de subir aos ares para ser o onde as estrelas se suspendem e o ar que
Deus respira, vive dentro dos homens e das mulheres (...) o éter compõe-se da vontade dos
vivos(…) quando vires que a nuvem vai sair de dentro delas aproximas o frasco aberto, a
vontade entrará nele…”*
O Padre parte para Coimbra para se formar e ordena o regresso do casal a Lisboa afim de
construírem a máquina;
Sete-Sóis e Sete-Luas encontram a máquina em mau estado e decidem, trabalhando em
conjunto, reconstruí-la;
Passou o Inverno e vai passando a Primavera: Padre vai fazendo visitas à quinta, Blimunda
recolheu trinta vontades e a máquina está a tomar forma.
Regressa o Padre Bartolomeu, doutor em cânones e morando agora no Terreiro do Paço;
Ao assistir à aula de cravo da Infanta Dona Maria Bárbara, a convite do Rei, Padre Bartolomeu
conhece Domenico Scarlatti com quem trava amizade e muita confiança, levando-o à quinta
para que visse a máquina.
Domenico depara-se com uma “…ave gigantesca, de asas abertas, cauda em leque, pescoço
comprido, a cabeça em tosco…” e aliando o sonho à arte pede autorização para visitar mais
vezes a máquina: “trarei para cá um cravo e tocarei para eles e para a passarola, talvez a
minha música possa conciliar-se com esse misterioso elemento”, (referindo-se às vontades);
A recolha das Vontades
Padre alerta Blimunda que uma doença vinda de uma nau do Brasil atacou Lisboa e que esta
seria a altura ideal para recolher vontades, uma vez que na procissão do Corpo de Deus
Blimunda estava “cega” e até agora não tinha mais de cem vontades;

Blimunda aceitou o pedido do Padre e parte em busca das vontades;

Num mês, Blimunda recolheu mil vontades, andando, portanto, sempre em jejum;

No fim da epidemia, as duas mil vontades já estavam dentro do frasco;

No entanto, Blimunda “…caiu doente. Não tinha dores, febre não sentia, apenas uma extrema
magreza, uma palidez profunda que lhe tornava transparente a pele. Jazia na enxerga, de
olhos sempre fechados…”

Sabendo do estado de saúde de Blimunda, Scarlatti foi visitá-la, e numa das visitas começou a
tocar cravo;

Com a música, Blimunda soltou um suspiro e algumas lágrimas. Nessa noite, Scarlatti tocou
toda a noite e durante a semana seguinte visitava a quinta e tocava por algumas horas;

Blimunda foi ficando melhor, até que recuperou totalmente.

O dia do Voo
Padre Bartolomeu andava ansioso com o dia de experimentar a máquina voadora. Esse dia
antecipou-se devido à perseguição do Santo Ofício;

Assim, retiraram-se as telhas da quinta de São Sebastião da Pedreira onde dormiram durante
seis anos Sete-Sóis e Sete-Luas, o sol iluminou as esferas de âmbar e a Passarola pôde
finalmente voar.

Webgrafia de apoio:
http://www.faroldasletras.pt/memorial_capitulos.html

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