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DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES

a b o r d a g e m c l í n i c a

Ricardo Tanus Valle


Eduardo Grossmann
Renata Silva Melo Fernandes
01
Eduardo Grossmann
Silvania Furtado
Thiago Kreutz Grossmann
Ricardo Tanus Valle
Renata Silva Melo Fernandes
Anatomofisiologia
do Sistema Mastigatório 22

46 Oclusão
Edson Chaves Junior

02
03 Eduardo Grossmann
Ricardo Tanus Valle
Renata Silva Melo Fernandes
José Stechman Neto
Exame Clínico do Paciente com
Disfunção Temporomandibular 68

80
Classificação, Diagnóstico e
Tratamento das Alterações
Articulares em DTM
Ricardo Tanus Valle
Eduardo Grossmann
Renata Silva Melo Fernandes
04
05 Marcelo de Mattos Garcia

Avaliação por Imagem da


Articulação Temporomandibular 98

112
Classificação, Diagnóstico e
Tratamento das Alterações
Musculares nas DTM
Wagner de Oliveira

06
07 Ricardo Tanus Valle
Renata Silva Melo Fernandes
Eduardo Grossmann
Disfunção Temporomandibular
em Crianças e Adolescentes 148

154 Disfunção Temporomandibular e


Comorbidades na Prática Clínica
Daniela Aparecida de Godoi Gonçalves
Cinara Maria Camparis

08
09 Henrique Carneiro de Campos

Cefaléias Primárias 168

184 Fibromialgia
Flávio Calil Petean
Renata Silva Melo Fernandes

10
196 Sono e DTM
Paulo Afonso Cunali
Rafael Schlögel Cunali

11
12 Ricardo Tanus Valle
Renata Silva Melo Fernandes
Eduardo Grossmann
Sintomas Otoneurológicos
Associados à Disfunção
Temporomandibular
218

228
Otalgia ou Disfunção
Temporomandibular:
Maurício Schreiner Miura

13
Diagnóstico Diferencial

14 Ricardo Tanus Valle


Juliana Stungiski Barbosa

Bruxismo 236

250 Placas Oclusais


Ricardo Tanus Valle
Renata Silva Melo Fernandes

15
16
Débora Bevilaqua Grossi
Gabriela Ferreira Carvalho
Lidiane Lima Florencio
Maria Claudia Gonçalves
Thaís Cristina Chaves
O Papel da Fisioterapia
na Avaliação e no Tratamento das 262
Disfunções Temporomandibulares

300
Aspectos Emocionais
Associados às Disfunções
Temporomandibulares – DTM
Jorge Alberto von Zuben

17
18
José Tadeu Tesseroli de Siqueira

Tratamento Farmacológico das


Disfunções Temporomandibulares 312

322
Cirurgia da Articulação
Temporomandibular
Eduardo Grossmann

19

SUMÁRIO
s u m á r i o
ANATOMOFISIOLOGIA
DO SISTEMA MASTIGATÓRIO

Eduardo Grossmann
Silvania Furtado
Thiago Kreutz Grossmann
Ricardo Tanus Valle
Renata Silva Melo Fernandes
DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES
a b o r d a g e m c l í n i c a

MASTIGAÇÃO

A
mastigação é uma ativida- los que agem sobre essas estruturas de- com movimentação segundo três eixos,
de sensório-motora que vem também adaptar-se à mudança de condilar (elipsoide), com superfícies ós-
visa à preparação de ali- padrão de uso. Uma dessas adaptações seas discordantes.
mentos para a conclusão é a chamada miosina mastigatória, en-
do primeiro passo no pro- contrada especificamente nos músculos Seus componentes anatômicos são:
cesso da digestão, onde responsáveis pela elevação da mandíbu- osso temporal, mandíbula, ligamen-
as partículas alimentares la, a qual foi primeiramente descrita por tos, membrana sinovial, fluido sino-
são reduzidas em tama- Rowlerson et al.38 e é, fisiologicamente, vial, disco e zona retrodiscal, nervos e
nho adequado para o umedecimento muito mais rápida do que a miosina pre- vasos sanguíneos.
através da saliva e, finalmente, liberação sente nos músculos de contração rápida
dos sabores. dos membros posteriores de gatos.

A análise da anatomia bucofacial é ca-


OSSO TEMPORAL
A filogenia da miosina mastigatória dos
paz de fornecer informações sobre o vertebrados sugere que os genes e os
passado, o presente e o futuro das es- fatores atuantes envolvidos na deter- Trata-se de um osso par, situado abai-
pécies de vertebrados e, nesse contex- minação e diferenciação dos músculos xo dos ossos parietais, que contribui
to, o sistema mastigatório, representa- mastigatórios em diferentes espécies para formação das paredes laterais
do pela integração de dentes, músculos podem contribuir para o entendimento do crânio. Articula-se com cinco os-
e ossos responsáveis pela apreensão e sos; acima com o parietal; à frente e
do papel especial que esses músculos
preparação dos alimentos para utiliza- acima com o esfenoide, à frente com
desempenham na biologia evolutiva.
ção desses organismos, é uma fonte o zigomático; atrás com o occipital e
Assim como a posição das cavidades
inesgotável de informação. abaixo com a mandíbula. Apresenta
orbitais são capazes de determinar a
três porções: a escamosa, a timpâni-
posição da espécie na cadeia alimentar
As superfícies oclusais desgastadas re- ca e a petrosa. Em função do escopo
(geralmente, anteriorizadas para os pre-
presentam um registro tridimensional da desse capítulo, abordaremos somente
dadores e lateralizadas para as presas), a primeira porção.
atividade mastigatória. Tal registro, em as características anatômicas do siste-
conjunto com o tamanho e as relações ma mastigatório determinam os hábi-
das estruturas bucofaciais, pode fornecer A parte escamosa do temporal participa
tos alimentares, bem como a forma de na formação do arco zigomático do tem-
dados sobre a sobrevivência e adaptação aproveitamento energético dos alimen-
do organismo ampliando a compreensão poral e da articulação temporomandibu-
tos ingeridos pelas diferentes espécies. lar. Junto à porção inferior do processo
dos registros fósseis dos hominídeos e
zigomático do temporal encontra-se a
ajudando as interpretações evolutivas.
fossa mandibular, que irá alojar a cabeça
da mandíbula quando a boca está fecha-
Táxons diferentes ao longo da evolução ARTICULAÇÃO da. Quando a boca é aberta, a cabeça
desenvolveram diversas características
anatômicas dos dentes, da mandíbula e
TEMPOROMANDIBULAR mandibular irá repousar sobre o tubér-
culo articular.
das estruturas ao redor da cabeça para
permitir a mastigação de diferentes tipos A articulação temporomandibular (ATM)
de alimentos. Para aperfeiçoar a função e é uma das mais complexas estruturas fa-
minimizar o gasto energético, os múscu- ciais. Trata-se de uma diartrose, bilateral,
OSSO PARIETAL
CAP
01
24 25
01

OSSO ESFENÓIDE

OSSO ZIGOMÁTICO
OSSO OCCIPITAL

OSSO TEMPORAL

PARTE ESCAMOSA

MANDÍBULA

02

Figura 01 ›› Osso temporal em uma norma lateral


esquerda com os seus limites.

Figura 02 ›› Norma lateral esquerda do osso temporal


com ênfase na sua porção escamosa.

PARTE PETROSA
PARTE TIMPÂNICA
DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES
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FOSSA MANDIBULAR Figura 03 ›› Norma inferior do crânio, lado esquerdo,


no qual se observa parte dos acidentes anatômicos

É uma depressão óssea, de forma ovoi-


de, cuja profundidade é variável, com
os seguintes limites: anterior pelo tu-
bérculo articular; posterior pelo pro-
cesso retro-articular; lateral pela base
do arco zigomático e medial pela espi-
nha do osso esfenoide.

Na porção posterior da fossa mandibular


encontramos médio-lateralmente a fissu-
ra escamo-timpânica. Na sua progressão
medial, essa fissura sofre uma divisão:
fissura petroescamosa, anteriormente, e
fissura petrotimpânica, posteriormente.

TUBÉRCULO ARTICULAR
É uma barra transversal óssea revestida
por uma camada espessa de tecido con-
juntivo fibroso, desprovido de nervos e
vasos, ao contrário do resto da fossa
mandibular, que também apresenta
esse mesmo tecido de revestimento,
porém de menor espessura. Isso sinali-
za que essa é, verdadeiramente, a par-
te funcional da articulação temporo-
mandibular durante os atos funcionais
diários. Esse se apresenta extrema-
mente convexo anteroposteriormente
e levemente côncavo no sentido trans-
versal. Apresenta duas vertentes: uma
anterior e outra posterior. A posterior
tem grande importância, pois sua incli-
nação determinará a trajetória da cabe-
ça mandibular durante os movimentos
de abertura e fechamento da boca.
CAP
01
26 27

2
3

1- TUBÉRCULO ARTICULAR 3- FOSSA MANDIBULAR

2- FISSURA PETROTIMPÂNICA 4- PORO ACÚSTICO EXTERNO


DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES
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MANDÍBULA
É um osso composto por um corpo e ou superficial, e uma camada mais es- tando delimitar a articulação em duas: a
dois ramos. Nesses últimos encontra- treita, interna ou profunda. A porção porção supra e infradiscal. Esse ligamen-
se a parte articular da mandíbula com externa apresenta-se sob a forma de to é bem delineado e resistente, manten-
o temporal, que compreende um pro- leque, originando-se da face lateral do do em contato as superfícies articulares
cesso de forma ovoide denominado tubérculo articular e da raiz do pro- durante os movimentos, funcionando
cabeça mandibular. Essa está unida ao cesso zigomático do osso temporal, como uma “esponja” para retenção do
ramo da mandíbula por um segmento correndo obliquamente em direção fluido sinovial.
estreito, com leve inclinação frontal, à porção posterior do colo mandibu-
chamado de colo mandibular, que pos- lar. Suas funções são as de manter o
sui uma depressão médio-anterior - a complexo disco-cabeça da mandíbula LIGAMENTO
fóvea da mandíbula. Tais cabeças são contra o tubérculo articular e de pre-
mais largas lateralmente e estreitas venir o deslocamento lateral da cabe- ESTILOMANDIBULAR
medialmente. Seus pólos laterais são ça mandibular.
ásperos e geralmente pontiagudos. Os É uma densa concentração de fáscia cer-
mediais são, por sua vez, frequente- A sua porção interna é uma estreita vical que se estende do processo estiloide
mente arredondados. tira oriunda do tubérculo articular que do osso temporal até a porção posterior
se estende para posterior até o polo e medial da borda do ramo mandibular.
As suas dimensões são de aproximada- lateral da cabeça da mandíbula e parte Tal ligamento mostra-se relaxado na po-
mente 15 a 20 mm no sentido médio-la- posterior do disco articular. A função sição de abertura e fechamento bucal ou
teral e de 8 a 10 mm no sentido postero- dessa porção é restringir o movimen- quando a mandíbula está em repouso,
anterior. Seu mais longo eixo forma um to posterior da cabeça mandibular e tornando-se tenso somente na protrusão
ângulo reto com o plano do ramo. do disco no interior da fossa mandibu- exagerada da mandíbula.
lar, protegendo, consequentemente,
A cabeça da mandíbula apresenta-se a zona retrodiscal altamente inervada
com extrema convexidade posteroan- e vascularizada.
teriormente e menor convexidade mé- LIGAMENTO
dio-lateralmente. ESFENOMANDIBULAR
LIGAMENTO CAPSULAR
É um resquício da cartilagem de Meckel.
LIGAMENTOS DA ATM É um cone fibroso, bastante frouxo, que
Estende-se desde a espinha do osso es-
fenoide e da fissura petrotimpânica até
contorna toda a articulação temporo- a língula mandibular. Esse permanece
mandibular. Em sua formação, existem passivo durante a cinemática mandibu-
LIGAMENTO dois feixes de direção vertical, com dispo- lar, mantendo-se em uma mesma inten-
sição em dois planos: um superficial, com sidade de tensão durante a abertura e o
TEMPOROMANDIBULAR a presença de fibras longas e espessas, fechamento bucal.
com extensão desde o colo mandibular
Apresenta-se em número de dois de até a fossa mandibular do osso tempo-
cada lado, dividindo-se em duas cama- ral, e outro profundo, cujas fibras curtas
das distintas: uma ampla, mais externa terminam às margens do disco, possibili-
CAP
01
28 29
CABEÇA DA MANDÍBULA
PROC. CONDILAR

PROC. CORONÓIDE
LINHA OBLÍQUA RAMO DA
MANDÍBULA

Figura 04 A,B ›› Norma anterior e la-


A teral oblíqua esquerda da mandíbula.

PARTE ALVEOLAR
DA MANDÍBULA EMINÊNCIAS
ALVEOLARES

CORPO DA
MANDÍBULA

FORAME PROTUBERÂNCIA
MENTUAL MENTUAL

CABEÇA DA
MANDÍBULA
Incisura da
PROC. mandíbula
CORONÓIDE FÓVEA
PTERIGOIDEA

PROC.
FORAME DA CONDILAR
MANDÍBULA
B

RAMO DA
MANDÍBULA

PARTE
ALVEOLAR DA
MANDÍBULA

TUBÉRCULO
MENTUAL ÂNGULO DA
MANDÍBULA
LINHA
FORAME OBLÍQUA
MENTUAL
DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES
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MEMBRANA SINOVIAL FLUIDO SINOVIAL um derrame intra-articular ou efusão. Ele


pode estar presente em ambos os com-
partimentos articulares. Isso pode ser ob-
É constituída por um tecido conjunti- O fluido sinovial (FS) normal apresenta-se servado mediante o exame de ressonância
vo frouxo, composta por um estroma claro, transparente ou levemente amarela- magnética nuclear em uma ponderação T2,
de fibras colágenas e três camadas de do. É obtido a partir do plasma sanguíneo e em um corte sagital oblíquo.
fibroblastos, posicionada sobre todo por secreção das células sinoviais existen-
o disco até um período de 120 dias de tes na membrana sinovial. Em condições A lubrificação dessa articulação sinovial ocor-
formação fetal. Com o crescimento e normais, há poucas células de defesa (ma- re a partir do ácido hialurônico, responsável
a erupção dentária, essa membrana crófagos), que se elevam somente em si- pela viscosidade do fluido sinovial, o qual
degenera, permanecendo somente na tuações patológicas. O volume total de FS, permite um contato suave entre a sinóvia e
porção anterior e posterior do tecido dentro dos padrões de normalidade, é de a cartilagem. Está presente, também, uma
discal. É ricamente inervada por um aproximadamente 2 mL, estando presente glicoproteína, denominada de lubricina, pro-
contingente simpático de tal forma cerca de 1,2 mL no compartimento supra- duzida a partir das células sinoviais, capaz de
que, quando traumatizada, produz discal e 0,8 mL no infradiscal. Na presença fixar moléculas de água à cartilagem, hidra-
uma dor intensa, aguda, lancinante e de um trauma, infecção ou de uma neopla- tando-a. Isso possibilita à cartilagem articular
de difícil localização. sia, o mesmo pode sofrer alterações, au- sofrer a ação de cargas, deformando-se, sem
mentando o seu volume, o que caracteriza alterar a sua estrutura funcional.

CÁPSULA ARTICULAR

LIGAMENTO LATERAL

LIGAMENTO ESFENOMANDIBULAR

LIGAMENTO ESFENOMANDIBULAR

PROCESSO
ESTILÓIDE

LIGAMENTO
ESTILOMANDIBULAR
Figura 05 ›› Norma lateral esquerda dos diferentes
ligamentos da ATM.
CAP
01
30 31

LIGAMENTOS DISCAIS Tal estrutura fibrocartilaginosa divide a ATM bras colágenas que se origina na borda
em duas partes: a superior ou têmporo-dis- posterior do disco e dirige-se para baixo,
cal (mais extensa), que realiza predominan- inserindo-se na porção posterior do colo
Os ligamentos do disco da articulação
temente o movimento de translação, e a in- mandibular. O primeiro estira-se total-
temporomandibular são em número de
ferior ou discomandibular, responsável pelo mente durante a abertura bucal máxima,
quatro: medial, lateral, anterossuperior
movimento de rotação articular. produzindo uma força posterior retrátil
e anteroinferior. O medial fixa a extremi-
dade mediana do disco ao polo medial sobre o disco; o segundo funciona como
As principais funções do disco são: esta-
da cabeça mandibular; o lateral, à por- um amortecedor biológico nos movimen-
bilizar a cabeça mandibular, proporcio-
ção lateral da cabeça mandibular; o infe- tos de fechamento da boca e um propul-
nando seu posicionamento fisiológico
roanterior do disco, ao colo mandibular, sor do disco (joelho vascular), e o último
na fossa mandibular, possibilitar os mo-
e o anterossuperior parte do disco, indo limita o movimento de rotação anterior
vimentos combinados da ATM e regular
inserir-se no ligamento capsular e na do disco sobre a cabeça da mandíbula.
os movimentos mandibulares de uma
margem anterior da superfície articular
forma sincrônica (ação proprioceptora).
do osso temporal. Todos esses ligamen-
Além dessas, protege as superfícies arti-
tos são compostos de fibras colágenas
culares, evitando um contato direto com
e, consequentemente, não possuem
a fossa e/ou com o tubérculo articular,
capacidade de se estirarem. As funções
absorve forças durante a função e facilita
desses ligamentos são permitir que a ca-
a difusão do fluido sinovial.
beça da mandíbula e o disco funcionem
como uma unidade nos movimentos ro-
Durante a cinemática mandibular, o dis-
tatórios e translatórios articulares, e im-
co apresenta-se flexível, adaptando-se
pedir o deslocamento látero-medial do
às demandas funcionais articulares. Po-
disco em condições fisiológicas.
rém, sobrecarga ou mudanças estrutu-
rais na ATM podem produzir alterações
reversíveis ou irreversíveis, dependendo
DISCO ARTICULAR do tipo e da duração da alteração, da
magnitude da carga, de fatores locais e /
O disco articular é uma pequena placa ou sistêmicos e genéticos.
fibrocartilaginosa de forma elíptica,
que se localiza entre as superfícies ar- Figura 06 ›› A flecha indica, no exame de ressonân-
ticulares da cabeça da mandíbula e do ZONA RETRODISCAL cia magnética nuclear, boca fechada, corte sagital
oblíquo, T2, um disco com deslocamento anterior e
osso temporal. Seu maior eixo tem di- (ZONA TRILAMINAR) a presença de efusão no compartimento superior da
reção dorsomedial, assim como a cabe- ATM esquerda.
ça mandibular. No plano oblíquo, tem
orientação ventro-caudal. A superfície Assim é chamada a região que é uma ex-
periférica do disco se funde à cápsu- tensão do disco ou a quarta porção do
la articular, sendo ligada à cabeça da mesmo. É uma área altamente inervada e
mandíbula através de ligamentos. vascularizada. Localiza-se posteriormen-
te à banda posterior do disco articular.
No plano sagital, o disco pode ser dividido
em três regiões, segundo a sua espessura: A zona retrodiscal é composta por três
banda anterior com 2 mm, zona interme- estratos: a) um estrato superior, que se
diária com 1 mm e banda posterior com origina na borda posterior do disco e ter-
3 mm. Essa conformação anatômica se mina na placa timpânica. Sua composi-
deve ao fato de existirem fibras colágenas ção é gordura, fibras colágenas e elastina
anteroposteriormente entrelaçadas com em abundância, o que confere ao mesmo
fibras no sentido médio-lateral, nas por- capacidade de se estender; b) um estrato
ções anterior e posterior do tecido. intermediário que abriga tecido adiposo,
um joelho vascular e um plexo nervoso
Em um corte anatômico frontal, o disco é que se origina também na borda poste-
mais espesso na sua porção medial pro- rior do disco indo em direção à porção
porcional ao espaço entre a cabeça e à posterior da fossa mandibular. Finalmen-
fossa mandibular nessa região. te, um extrato inferior, composto de fi-
DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES
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Figura 07 ›› Norma lateral de uma ATM direita. ESZT,


estrato superior da zona trilaminar; CS, compartimento
superior; FM, fossa mandibular; LSA, ligamento supe-
rior anterior do disco; CSPT, cabeça superior do pte-
rigoideo lateral; CIPT, cabeça inferior do pterigoideo
lateral; LLD, parte do ligamento lateral do disco; CM,
1- ESZT 4/5 - LSAD 8- EIZT 11 - CSPT

cabeça mandibular; EIZT, estrato inferior da zona trila- 2- CS 6 - CI 9- CM 12 - CIPT


minar; EINZT, estrato intermediário da zona trilaminar;
CI, compartimento inferior. 3- FM 7 - EINZT 10 - LLD
CAP
01
32 33

INERVAÇÃO Os mastigatórios são masseter, temporal, e na margem anterior do ramo da man-


pterigoideo medial e pterigoideo late- díbula. O feixe profundo tem origem no
ral. Apresentam em comum uma mesma tubérculo do esfenoide e na inserção
A inervação da ATM é recolhida por ra- inervação a partir do trigêmeo e funções na crista temporal. Suas ações estão na
mos da terceira divisão do nervo trigê- distintas, respectivamente, ou seja, levan- dependência das suas fibras, ou seja, a
meo (mandibular). O nervo aurículotem- tam, protruem, retruem e lateralizam a vertical e o feixe profundo levantam a
poral inerva a parte posterior medial e mandíbula, além de iniciar o movimento de mandíbula; as oblíquas auxiliam na pro-
lateralmente; o nervo masseterino iner- abertura bucal. Outro grupo é composto trusão mandibular e as horizontais res-
va a parte medial e anterior da cápsula, pelos músculos supra- hioideos. São eles
e o nervo temporal profundo posterior pondem pela retrusão.
milo-hioideo, genio-hioideo, estilo-hioideo
as porções anteriores e laterais da cáp-
e digástricos, que trabalham em conjunto Um grupo de músculos profundos, im-
sula articular.
de forma sincronizada e não como unida- possíveis de serem palpáveis em toda a
des individuais. As diferenças são que a sua extensão, são o pterigoideo medial e
inervação dos supra-hioideos se dá a partir o pterigoideo lateral.
VASCULARIZAÇÃO de três ramos cranianos distintos, respecti-
vamente, ou seja, a partir do V, XII, VII e V
DA ARTICULAÇÃO novamente, sendo que o principal depres-
TEMPOROMANDIBULAR sor da mandíbula é o digástrico. Os demais PTERIGOIDEO MEDIAL
elevam a laringe e o osso hioide. O terceiro
grupo, não menos importante, correspon- Origina-se na fossa pterigoidea e na super-
A ATM é suprida, primordialmente, por
de aos infra-hioideos. São eles o esterno- fície medial da lâmina lateral do processo
ramos de três vasos arteriais: artéria
-hioideo, omo-hioideo, esternotireóideo e pterigoideo do osso esfenoide. Insere-se
temporal superficial para sua porção
tiro-hioideo ligados ao osso hioide, eterno, na superfície medial do ramo e do ângulo
posterior; a meníngea média para por-
clavícula e escápula. São inervados pelos da mandíbula. Suas ações são levantar e
ção anterior, e a maxilar para sua por-
três primeiros nervos cervicais e apresen- protruir a mandíbula.
ção inferior. Estão presentes também
outras artérias que contribuem para nu- tam como funções deprimir a laringe, o
trição da ATM. São elas a auricular pro- hioide e o soalho bucal, além de estabilizar
o osso hioide.
funda, a timpânica anterior e a faríngea PTERIGOIDEO LATERAL
ascendente. A drenagem venosa é rea-
lizada pelas veias temporal superficial,
maxilar e pelo plexo pterigoideo. A cáp- MASSETER Apresenta duas cabeças distintas
sula articular e os ligamentos do disco quanto à origem e ao volume. A supe-
são ricamente vascularizados durante rior, menor, tem origem na porção ho-
É um dos músculos de localização super- rizontal da grande asa do esfenoide,
o crescimento, mas não são vasculariza-
ficial, composto por dois feixes distintos. inserindo-se na porção ântero-medial
dos durante a idade adulta.
O feixe superficial tem origem nos dois do disco articular. A cabeça inferior
terços inferiores do arco zigomático com origina-se na face lateral da lâmina la-
inserção no ramo e no ângulo da mandí-
teral do processo pterigoide do osso
MÚSCULOS DA bula. O feixe profundo, por sua vez, tem
esfenoide e na face lateral do processo
origem na porção inferior de todo o arco
MASTIGAÇÃO zigomático com inserção na face lateral
piramidal do osso palatino, dirigindo à
porção ântero-medial do colo mandi-
do ramo da mandíbula, atingindo a base
bular (fóvea pterigoidea). Suas ações
Na região da cabeça e pescoço existem do processo coronoide. Suas ações são:
dois ossos móveis, excetuando os ossícu- são: a cabeça superior contribui no fe-
levantar a mandíbula e contribuir tam-
los da orelha média. São eles a mandíbula chamento final dos dentes; a cabeça
bém no movimento protrusivo.
e o hioide, que se situam em nível de C2 e inferior apresenta três funções: pro-
C3, respectivamente. Ambos são ímpares, trusão, quando ambas as cabeças se
apresentam uma forma de ferradura pre-
TEMPORAL contraem; lateralidade quando há con-
so um ao outro através de ligamentos e tração unilateral dessa cabeça, a man-
músculos. Todas as mudanças de posição O outro músculo superficial similar ao díbula desloca-se para o lado oposto
que ocorrem na mandíbula refletem no masseter, por apresentar também dois e, novamente, havendo contração de
osso hioide e vice-versa. A esses ossos está feixes, é o temporal. Possui uma forma ambas as cabeças inferiores haverá o
acoplada uma gama de músculos mastiga- de leque, originando-se na fossa tempo- início da abertura da boca com auxílio
tórios, supra e infra-hioideos e da faringe. ral e inserindo-se no processo coronoide dos músculos supra-hioideos.
DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES
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A.ALVEOLAR SUPERIOR
POSTERIOR

08

A.ESFENO-PALATINA

Aa.TEMPORAIS PROFUNDAS

Rr. PTERIGOIDEOS

A. MENÍNGEA MÉDIA

A. AURICULAR PROFUNDA

A. TIMPÂNICA ANTERIOR

A. MASSETÉRICA

A. MAXILAR

A. BUCAL

A. ALVEOLAR
INFERIOR
R. MILOHIOIDEO

R. MENTUAL
CAP
01
FRONTAL PARIETAL
34 35
M.MASSETER
PARTE PROFUNDA
M.TEMPORAL

09

PROC. MASTÓIDE
PORO ACÚSTICO
EXTERNO
PROC. ESTILÓIDE

CÁPSULA ARTICULAR

Figura 08 ›› Norma lateral da cabeça, na qual se


LIG. LATERAL observam os vasos arteriais que nutrem a ATM.

M.MASSETER Figura 09 ›› Norma lateral esquerda do crânio, na qual


PARTE SUPERFICIAL
se visualizam os músculos temporal e masseter.
DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES
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M. PTERIGOIDEO LATERAL.
CABEÇA SUPERIOR

M. PTERIGOIDEO LATERAL.
CABEÇA INFERIOR

M. MASSETER PARTE
PROFUNDA

M. PTERIGOIDEO
MEDIAL

M. MASSETER PARTE
SUPERFICIAL

10
CAP
01
36 37

11

MÚSCULO PTERIGOIDEO LATERAL


COM SUAS DUAS CABEÇAS

M. PTERIGOIDEO
MEDIAL

M. MASSETER

Figura 10 ›› Norma posterior na qual se visualizam


os músculos pterigoideos mediais e, parcialmente, os
laterais.

Figura 11 ›› Norma lateral esquerda na qual se visualiza


o músculo pterigoideo lateral com suas duas cabeças.
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OSSO HIOIDE MÚSCULO DIGÁSTRICO MÚSCULO ESTILO–HIOIDEO

Trata-se de um músculo formado por Origina-se no processo estiloide, superficial


Trata-se de um osso localizado na linha
dois ventres*. O ventre posterior se e anterior ao ventre posterior do digástrico,
mediana, acima da cartilagem tireoide origina na incisura mastóidea, medial- dirigindo-se para baixo e inferiormente. In-
e abaixo da mandíbula. Apresenta um mente ao processo mastoide do osso sere-se no corpo do osso hioide. Suas ações
corpo e quatro prolongamentos- os temporal, e toma uma direção inferior são: tracionar o osso hióide para cima e para
cornos maiores e os menores. Nesse e anterior indo se inserir no tendão in- trás e também auxiliar na fixação do osso
osso insere-se um conjunto de 9 mús- termediário. O anterior origina-se nes- hioide durante a abertura da boca.
culos que se conectam à língua, man- se tendão (inserido no corpo e corno
díbula, crânio, cartilagem tireóidea, es- maior do osso hioide), tomando uma MÚSCULO GENI–HIOIDEO
terno, faringe e escápula. direção superior e anterior para se in-
serir na fossa digástrica da mandíbula. Tem origem na espinha geniana infe-
Suas ações são: atuando em conjunto rior da mandíbula, tomando uma dire-
levantam o osso hioide; auxiliam na ção posteriormente para se inserir no
MÚSCULOS SUPRA-HIOIDEOS
abertura da boca, quando o osso hioi- corpo do osso hioide. Suas ações são
de é estabilizado pelos músculos infra- tracionar o osso hioide para anterior,-
Encontram-se acima do osso hioide, na -hioideos. Atuando de forma separada, quando a mandíbula está fixa, e atuar
porção anterior, lateral e superior do pes- o ventre anterior traciona o osso hioide na depressão da mandíbula, quando o
coço. Quase sua totalidade é composta por para cima e para frente, e o posterior osso hioide é estabilizado pelos múscu-
músculos pares, à exceção do milo-hioideo. para cima e para trás. los infra-hioideos.

CORNO MENOR CORNO MAIOR

CORPO Figura 12 ›› Norma anterior do osso hioide na qual se


visualiza seu corpo e seus cornos maiores e menores.

* Apresentam origem embriológica distinta, ou seja, estão relacionados aos 1° e 2° arcos faríngeos. Dessa feita, apresen-
tam a seguinte inervação: o ventre posterior é inervado pelo nervo facial e o anterior pelo trigêmeo (nervo mandibular).
CAP
01
38 39

MÚSCULO MILO-HIOIDEO milo-hióidea tomando uma direção As suas fibras posteriores se inserem no
posterior e medial onde encontra com corpo do osso hioide. Suas ações são:
Trata-se do principal músculo que cons- o do lado oposto na rafe milo-hióidea, levantar o hioide, a língua e o soalho bu-
titui o soalho bucal. Origina-se na linha que se dirige da mandíbula ao hioide. cal e abaixar a mandíbula.

MÚSCULO DIGÁSTRICO
(VENTRE ANTERIOR)

MÚSCULO HIOGLOSSO MÚSCULO


MILO-HIOIDEO

MÚSCULO DIGÁSTRICO
(VENTRE POSTERIOR)
MÚSCULO
ESTILO-HIOIDEO

Figura 13 A ›› Visão ântero-inferior. Norma inferior dos


músculos supra-hioideos.
ALÇA FIBROSA DO
TENDÃO DIGÁSTRICO
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