Você está na página 1de 18

Tribunal da Relação de Lisboa

Processo nº 45/06.7TYLSB-F.L1-6

Relator: VÍTOR AMARAL


Sessão: 10 Abril 2014
Número: RL
Votação: UNANIMIDADE
Meio Processual: APELAÇÃO
Decisão: IMPROCEDENTE

REIVINDICAÇÃO MÓVEIS POSSE

PRESUNÇÃO DE PROPRIEDADE

Sumário

1. - Em acção de reivindicação de bens móveis não sujeitos a registo, o


reconhecimento do direito de propriedade por via de aquisição originária, por
usucapião, depende sempre da verificação de uma posse – traduzida num
corpus e num animus –, dodecurso de um certo lapso de tempo (cfr. art.º
1299.º do CCiv.), e das características da continuidade, publicidade e
pacificidade (dessa posse), tratando-se de pressupostos de procedência da
acção que cabe à parte reivindicante demonstrar.
2. - Se esta parte, não demonstradas algumas daquelas características, logra
demonstrar, contudo, a existência da posse a seu favor, de tal posse derivará
presunção de propriedade que a beneficia, a qual, se não ilidida, pode fundar
o reconhecimento do direito dominial.
3. - Tal posse pode ser exercida através de outrem – a quem se concedeu o uso
temporário da coisa –, que não passará, nesse caso, de um mero detentor, um
possuidor precário, por deter em nome do verdadeiro possuidor, detentor esse
que, sem inversão do título, não poderá adquirir por usucapião nem beneficiar
da presunção de propriedade derivada da efectiva posse.
(sumário do Relator)

Texto Integral

ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

I – Relatório

1 / 18
“C…, S. A.” (entretanto declarada insolvente), com sede na Avenida
…,intentou acção declarativa, com processo ordinário, contra

1.ª - “L…, Lda.”, com sede no Lugar da …, e

2.ª - “M…, S. A.” (também entretanto declarada insolvente), com sede na ….,
pedindo:

a) Seja declarado ser a A. titular do direito de propriedade dos bens móveis


que identifica, ordenando-se a sua restituição à mesma;

b) Seja levantada a penhora incidente sobre os mesmos bens e anulada


qualquer venda que venha a ter lugar nos autos em que a penhora foi
realizada e em que a 1.ª e a 2.ª RR. são exequente e executada,
respetivamente.

Alegou, em síntese ([1]):

- ter celebrado com a 2.ª R. um contrato de cessão de exploração de


estabelecimento industrial, na vigência do qual a referida R. laborou nas suas
instalações, com os seus trabalhadores e utilizando os seus equipamentos, que
estavam instalados no local cedido há cerca de 20 anos;

- terem tais equipamentos sido por si adquiridos entre 1986 e 1991 e nunca
terem sido por si alienados, apenas com cedência da sua exploração, vindo a
ser penhorados em acção executiva intentada pela 1.ª R. contra a 2.ª R., sendo
tal penhora ofensiva quer da posse quer da propriedade da demandante.

Apenas contestou a 1.ª R., impugnando a factualidade alegada na petição e


argumentando que a A., apesar de ter deduzido embargos de terceiro à
execução, não os fez prosseguir, pelo que caducou o direito que agora se
pretende fazer valer, actuando a A. em conluio para evitar a venda dos bens e
prejudicar a R., havendo abuso do eventual direito, assim concluindo pela sua
absolvição do pedido.

Por despacho de fls. 153 e segs. foi a 2.ª R. (“M…”) absolvida da instância por
falta de personalidade jurídica.

Realizada a audiência preliminar, foi proferido despacho saneador e foram


elaboradas a matéria de facto assente e a base instrutória, sem reclamações.

Foi depois realizada a audiência de discussão e julgamento, com decisão da


matéria de facto controvertida, também sem reclamações, após o que foi

2 / 18
proferida sentença, pela qual se julgou a acção parcialmente procedente por
provada, assim se decidindo:

“a) Declarar a A. C…, SA como proprietária dos seguintes bens:

- Charriot Jocar, adquirido em 30 de Dezembro de 1988, conforme doc. de fls.


8 (processo em papel) cujo teor se dá aqui por integralmente reproduzido;

- Máquina Volvo "LM" Modelo 4200, Chassis 2340, adquirida em 3 de Julho de


1987, conforme doc. de fls. 9 (processo em papel) cujo teor se dá aqui por
integralmente reproduzido;

- Charriot "Jocar" 40H, com serra e treino de rolos, com extractor senfim
treino de rolos não motrizes e suportes para madeira, adquirido em 28 de
Janeiro de 1991, conforme doc. de fls. 10 (processo em papel) cujo teor se dá
aqui por integralmente reproduzido;

- Alinhadeira "Jocar" AJ700/130 com canhão múltiplo de separadores, rampa,


treino de rolos de entrada e treino de rolos de saída, adquirido em 19 de
Dezembro de 1990, conforme doc. de fls. 11 e 12 (processo em papel) cujo
teor se dá aqui por integralmente reproduzido;

- Serra de fita Modelo SFA5-1600, NR16317; Charriot hidráulico, Modelo


CGH13 com 6.5 m de chassis, 4 colunas de grifos divisão eletrónica e
movimento hidráulico por cabo, com 3 giradores GT3 incorporados;
mecanização para carregamento de troncos e evacuação de tábuas,
equipamento este adquirido em 3 de Fevereiro de 1987, conforme doc. de fls.
13 (processo em papel) cujo teor se dá aqui por integralmente reproduzido;

- Conjunto de cabeceiras; um diferencial elétrico TA051; um diferencial; uma


linha elétrica da ponte rolante; uma viga de ponte com 10,7 e um carril de
ponte, rolante, equipamento adquirido em 17 Março 1987, conforme doc. de
fls. 14 (processo em papel) cujo teor se dá aqui por integralmente
reproduzido;

- Um empilhador Toyota, 3FD15, e dois empilhadores Toyota 3FD20,


adquiridos em 11 de Janeiro de 1989, conforme doc. de fls. 15 (processo em
papel) cujo teor se dá aqui por integralmente reproduzido;

- Máquina da marca Ruckle guilhotina, canteadora tipo AFE28009; máquina


da marca Ruckle, juntadora transversal tipo FZS28.1 n° … - adquiridas em 5
de Junho de 1987, conforme doc. de fls. 16 e 17 (processo em papel) cujo teor
se dá aqui por integralmente reproduzido;

3 / 18
- Serra circular modelo SA-350, adquirida em 31 de Dezembro 1981, conforme
doc. de fls. 18 (processo em papel) cujo teor se dá aqui por integralmente
reproduzido;

- Máquina de tirar folha, marca Valett ET Garreau, Modelo TB 38 com 4


lâminas; máquina de tirar folha da marca Valett ET Garreau, Modelo TB 32
com 3 lâminas; duas guilhotinas Valett ET Garreau, Modelo MTN 40-4M com 2
lâminas de corte, com todos os acessórios; secadores, volteadores, descasque,
afiadora, ponte rolante, 4T, ponte rolante 3T, diferencial mono rail, trans
paletes, vigas, quatro cubas de ferro, adquiridas em 5 de Setembro de 1986
conforme docs. de fls. 19 a 31 (processo em papel) cujo teor se dá aqui por
integralmente reproduzido;

b) Condenar a R. L…, Lda, em consequência, a restituir à A. os bens


identificados em a);

c) Absolver a R. do demais peticionado” (cfr. fls. 474 e seg.).

Desta sentença, veio a ora R. (“L…, Lda.”) interpor o presente recurso (fls. 486
e segs.), apresentando as seguintes

Conclusões

«1. Configurando a presente ação, uma acção de reivindicação, incumbia à


autora, antes de mais, e como conditio sine qua non para a procedência da
mesma, a alegação e prova do direito de propriedade sobre os bens
reivindicados, pela prova da aquisição derivada ou pela prova da aquisição
originária.

2. In casu, a autora não logrou fazer tal prova, sendo o elenco de factos
provados manifestamente insuficiente para concluir pela aquisição por parte
da mesma do direito de propriedade dos bens em causa.

3. Consta dos factos provados, sob o n.º 21, que a autora adquiriu os
equipamentos aí descritos (com base nas facturas juntas aos autos); que esse
equipamento foi utilizado pela M… (ponto de facto n.º 19) e que o mesmo não
foi alienado pela autora a esta (ponto de facto n.º 20).

4. Ora, a compra e venda não pode considerar-se a se como constitutiva do


direito de propriedade, mas apenas translativa desse direito (nemo plus juris
ad alium transfere quam ipse habet), tornando-se necessário, pois, provar que
o direito já existia na esfera jurídica do transmitente (dominium auctoris).

4 / 18
5. O que a autora manifestamente não fez, concluindo-se assim que não logrou
fazer a prova da aquisição derivada do seu pretenso direito de propriedade.

6. Por outro lado, perscrutando a prova produzida, da mesma resulta, de


forma cristalina, que não foi feita prova da posse da autora sobre os bens
móveis em causa, não constando sequer dos factos provados, como não
constava já dos factos alegados, qualquer acto material de posse da mesma
sobre os ditos bens.

7. Como também não consta qualquer facto, de onde se infira o necessário


animus possidendi.

8. Não tendo, por isso, a autora provado ser proprietária dos bens, por via da
aquisição originária.

9. Assim, não tendo sido provado o direito de propriedade invocado, deveria a


acção ser considerada improcedente, por não provada.

10. Sem prescindir, dir-se-á ainda que os factos apurados não permitem
concluir, como o fez a Mma Juiz a quo, que os bens adquiridos pela ré, no
processo executivo em que era exequente, não pertenciam à devedora, pelo
que aquela não os adquiriu legitimamente, não tendo título para a sua
detenção.

11. Resulta da matéria provada que a executada M… utilizou os ditos bens


pelo período de seis anos (entre 1999 e Junho de 2006), pelo que ao abrigo do
disposto no art. 1299.º do Código Civil, poderia até tê-los já adquirido por
usucapião.

12. No entanto, dos factos provados resulta, pelo menos, que a referida M…
era detentora dos bens em questão, exercendo o poder de facto sobre os
mesmos, pelo que ao abrigo do disposto n.º 2 do art. 1252.º e n.º 1 do art.
1268.º do Código Civil, e na falta de prova em contrário, deveria o Tribunal a
quo presumir que os bens em questão eram propriedade da referida empresa.

13. Donde resulta, ao contrário do referido na douta decisão sob recurso, que
a ré adquiriu legitimamente os mesmos, no âmbito do referido processo, tendo
assim título bastante para a sua detenção.

14. A tudo quanto se deixou alegado, acresce ainda a circunstância de não


resultar da matéria de facto provada, que os bens adquiridos pela ré, no

5 / 18
processo executivo supra referenciado, sejam os mesmos que a autora
reclama serem seus e cujas facturas juntou aos autos.

15. Com efeito, não foi estabelecida nos autos a correspondência entre uns e
outros, sendo certo que os bens penhorados não têm características
específicas e diferenciadoras que permitam, com a segurança exigível em
situações como a presente, diferenciá-los de outros bens da mesma natureza e
identificá-los como sendo aqueles a que se reportam as facturas juntas aos
autos pela autora.

16. Ao considerar provado ser a autora proprietária dos bens em causa e,


consequentemente, ordenar a restituição dos mesmos àquela, o Tribunal a quo
incorreu em erro de julgamento, fazendo uma incorrecta apreciação dos factos
e errada aplicação do direito aos mesmos, violando dessa forma os preceitos
legais vertidos nos arts 342.º, 1252.º, n.º 2, 1268.º, n.º 1, 1298.º, 1299.º e
1311.º, todos do Código Civil”.

Pugna pelo provimento do recurso e, em consequência, pela revogação da


sentença apelada, a dever ser substituída por outra que julgue a ação
improcedente por não provada, com as consequências legais.

***

A Apelada contra-alegou, concluindo pelo bem fundado da decisão em crise e


consequente improcedência do recurso.

***

O recurso foi admitido como de apelação, a subir imediatamente, nos próprios


autos e com efeito meramente devolutivo, tendo então sido ordenada a
remessa dos autos a este Tribunal ad quem, onde foi mantido o regime e efeito
fixados.

Colhidos os vistos, e nada obstando ao conhecimento do mérito do recurso,


cumpre apreciar e decidir.

***

II – Âmbito do Recurso

6 / 18
Perante o teor das conclusões formuladas pela parte recorrente – as quais
(exceptuando questões de conhecimento oficioso não obviado por ocorrido
trânsito em julgado) definem o objecto e delimitam o âmbito do recurso, nos
termos do disposto nos art.ºs 608.º, n.º 2, 609.º, 620.º, 635.º, n.ºs 2 a 4, 639.º,
n.º 1, todos do Código de Processo Civil actualmente em vigor e aqui aplicável
(doravante NCPCiv.), o aprovado pela Lei n.º 41/2013, de 26-06 ([2]) –,
constata-se que o thema decidendum, incidindo exclusivamente sobre a
decisão da matéria de direito, consiste em saber:

1. - Se não logrou provar-se factualidade demonstrativa do direito de


propriedade invocado pela A./Apelada;

2. - Se a R./Apelante logrou demonstrar a sua válida aquisição desses bens em


processo executivo;

3. - Se não ficou demonstrada a correspondência entre os bens adquiridos pela


R./Apelante e os reclamados pela A./Apelada.

***

III – Fundamentação

A) Matéria de facto

Na 1.ª instância foi considerada a seguinte factualidade como provada:

«1 – C…, SA, pessoa coletiva nº …, com sede na Avenida …, matriculada na


Conservatória do Registo Comercial do … sob o n.º … desde 24/02/60, foi
declarada insolvente por sentença de 03/11/06, transitada em julgado,
conforme teor de fls. 334 a 351 (processo em papel) dos autos principais, cujo
teor se dá aqui por integralmente reproduzido (alínea A) da matéria de facto
assente).

2 - Tem por objeto social a construção civil, nomeadamente a carpintaria


manual e mecânica (alínea B) da matéria de facto assente).

3 - Mostra-se registada a nomeação como membros do Conselho de


Administração da A.

- Presidente: A…;

- Vogais – F…;

7 / 18
- C…;

- A…;

- D… (alínea C) da matéria de facto assente).

4 – M…, SA, pessoa coletiva nº …, com sede na Zona …, encontrava-se


matriculada na Conservatória do Registo Comercial de … desde 22/10/97
(alínea D) da matéria de facto assente).

5 - Tinha por objeto social a importação, exportação e comércio por grosso e a


retalho de madeiras, seus derivados e ferragens (alínea E) da matéria de facto
assente).

6 - Em 14/09/00 foi registada a sua transformação em sociedade anónima


(alínea F) da matéria de facto assente).

7 - Consta o registo da cessação de funções como gerentes da M… de M…,


M… por renúncia em 27/04/99 (alínea G) da matéria de facto assente).

8 - Em 14/04/00 foi registada a nomeação como gerente de A…, sendo sócios


este e F… (alínea H) da matéria de facto assente).

9 - Mostra-se registada em 14/09/2000 a renúncia de A… como gerente (alínea


I) da matéria de facto assente).

10 - Mostra-se registada em 21/03/07 a declaração de insolvência da M…., SA,


proferida em 25/01/07 e transitada em julgado em 05/03/07 (alínea J) da
matéria de facto assente).

11 - Mostra-se registado em 11/07/08 o encerramento de processo de


insolvência da M…, SA por estar liquidado na totalidade o seu património
(alínea K) da matéria de facto assente).

12 - A R. L…, Lda, dedica-se a atividade relacionada com a transformação


industrial de madeiras (alínea L) da matéria de facto assente).

13 - Correu termos no .. Juízo Cível do Tribunal Judicial de … o processo de


execução comum nº …/04.3TBFAR, em que era exequente L…., Lda e
executada M…., SA, conforme certidão de fls. 198 a 235 dos autos (processo
em papel) cujo teor se dá aqui por integralmente reproduzido e no qual foram
penhorados os bens discriminados a fls. 231 e 234 (processo em papel) em
14/06/05 (alínea M) da matéria de facto assente).

8 / 18
14 - Naqueles autos foram adjudicados à R. L…., Lda os bens penhorados pelo
preço de € 67.200,00, conforme fls. 120 a 123 (processo em papel) cujo teor se
dá aqui por integralmente reproduzido (alínea N) da matéria de facto assente).

15 - A A. deduziu, por apenso ao processo de execução id. embargos de


terceiro, os quais não foram recebidos, por decisão transitada em julgado,
conforme certidão de fls. 195 a 196 dos autos (processo em papel) cujo teor se
dá aqui por integralmente reproduzido (alínea O) da matéria de facto assente).

16 - A A. apresentou declaração de cessação de atividade para efeitos de IVA


em 31/12/01 (alínea P) da matéria de facto assente).

17 - A A. foi, até 16/03/94, uma sociedade comercial por quotas, tendo tido
como sócios M…, J…, M…, V… e M… (alínea Q) da matéria de facto assente).

18 - A M…, SA foi até 14/09/2000 uma sociedade por quotas, tendo tido como
sócia até 05/05/99 a A. C…, SA (alínea R) da matéria de facto assente).

19 - Entre data indeterminada de 1999 e Junho de 2006, a M..., SA utilizou o


estabelecimento industrial da A. situado na Zona …, todo o equipamento
industrial ali existente e os trabalhadores da A. (resposta aos nºs 1, 2 e 3 da
base instrutória).

20 - Equipamento industrial esse instalado há 20 anos e que não foi alienado


pela A. à M... (resposta aos nºs 4 e 6 da base instrutória).

21 - A A. adquiriu os seguintes equipamentos nas seguintes datas:

- Charriot Jocar, em 30 de Dezembro de 1988, conforme doc. de fls. 8


(processo em papel) cujo teor se dá aqui por integralmente reproduzido;

- Máquina Volvo "LM" Modelo 4200, Chassis 2340, adquirida em 3 de Julho de


1987, conforme doc. de fls. 9 (processo em papel) cujo teor se dá aqui por
integralmente reproduzido;

- Charriot "Jocar" 40H, com serra e treino de rolos, com extractor senfim
treino de rolos não motrizes e suportes para madeira, adquirido em 28 de
Janeiro de 1991, conforme doc. de fls. 10 (processo em papel) cujo teor se dá
aqui por integralmente reproduzido;

- Alinhadeira "Jocar" AJ700/130 com canhão múltiplo de separadores, rampa,


treino de rolos de entrada e treino de rolos de saída, adquirido em 19 de

9 / 18
Dezembro de 1990, conforme doc. de fls. 11 e 12 (processo em papel) cujo
teor se dá aqui por integralmente reproduzido;

- Serra de fita Modelo SFA5-1600, NR16317; Charriot hidráulico, Modelo


CGH13 com 6.5 m de chassis, 4 colunas de grifos divisão eletrónica e
movimento hidráulico por cabo, com 3 giradores GT3 incorporados;
mecanização para carregamento de troncos e evacuação de tábuas,
equipamento este adquirido em 3 de Fevereiro de 1987, conforme doc. de fls.
13 (processo em papel) cujo teor se dá aqui por integralmente reproduzido;

- Conjunto de cabeceiras; um diferencial elétrico TA051; um diferencial; uma


linha elétrica da ponte rolante; uma viga de ponte com 10,7 e um carril de
ponte, rolante, equipamento adquirido em 17 Março 1987, conforme doc. de
fls. 14 (processo em papel) cujo teor se dá aqui por integralmente
reproduzido;

- Um empilhador Toyota, 3FD15, e dois empilhadores Toyota 3FD20,


adquiridos em 11 de Janeiro de 1989, conforme doc. de fls. 15 (processo em
papel) cujo teor se dá aqui por integralmente reproduzido;

- Máquina da marca Ruckle guilhotina, canteadora tipo AFE28009; máquina


da marca Ruckle, juntadora transversal tipo FZS28.1 n° …- adquiridas em 5 de
Junho de 1987, conforme doc. de fls. 16 e 17 (processo em papel) cujo teor se
dá aqui por integralmente reproduzido;

- Serra circular modelo SA-350, adquirida em 31 de Dezembro 1981, conforme


doc. de fls. 18 (processo em papel) cujo teor se dá aqui por integralmente
reproduzido; - Máquina de tirar folha, marca Valett ET Garreau, Modelo TB 38
com 4 lâminas; máquina de tirar folha da marca Valett ET Garreau, Modelo TB
32 com 3 lâminas; duas guilhotinas Valett ET Garreau, Modelo MTN 40-4M
com 2 lâminas de corte, com todos os acessórios; secadores, volteadores,
descasque, afiadora, ponte rolante, 4T, ponte rolante 3T, diferencial mono rail,
trans paletes, vigas, quatro cubas de ferro, adquiridas em 5 de Setembro de
1986, conforme docs. de fls. 19 a 31 (processo em papel) cujo teor se dá aqui
por integralmente reproduzido (resposta ao nº 7 da base instrutória)

22 - Em 9 de Fevereiro de 2005, o gerente da R. L... deslocou-se, com o


solicitador de execução da execução referida em M), às instalações onde
laborava a M... para efetuar penhora do equipamento que lá se encontrava
(resposta ao nº 8 da base instrutória).

10 / 18
23 - Estavam presentes os Senhores M… e I…, os quais em momento algum
referiram que tais bens não seriam pertença da M... Tendo apenas proposto o
pagamento da dívida até ao final do mês (resposta aos nºs 9, 10 e 11 da base
instrutória)».

***

B) Matéria de Direito

1. - Se não logrou demonstrar-se o direito de propriedade invocado pela A./


Apelada

Defende a parte apelante que a compra e venda não pode considerar-se como
constitutiva, de per si, do direito de propriedade, mas apenas translativa dele,
tornando-se necessário provar que o direito já existia na esfera jurídica do
transmitente, com o que – diga-se desde já – inteiramente se concorda. E nem
a sentença recorrida expressa coisa diversa.

Dali parte a Apelante para a conclusão de que a A./Apelada não logrou fazer a
prova da aquisição derivada do invocado direito de propriedade, com o que
também só podemos concordar, pois que nada se sabe quanto à titularidade do
domínio pelo respectivo transmitente.

E conclui ainda a Apelante que não foi feita prova da posse da A./Apelada
sobre os bens móveis em causa, faltando um qualquer acto material de posse
desta sobre os tais bens, nem prova quanto ao animus possidendi, situação
que afastaria a possibilidade de aquisição originária.

Nesta parte já não pode subscrever-se a conclusão a que chegou tal Apelante.

Vejamos.

A posse, como é consabido, é constituída por um corpus e por um animus ([3]).

Na verdade, quanto à usucapião (cfr. art.ºs 1287.º e 1299.º, ambos do CCiv.),


enquanto modo de aquisição originária do direito de propriedade (cfr. art.ºs
1316.º e 1317.º, al.ª c), também do CCiv.) sobre bens móveis (sujeitos ou não a
registo) ou imóveis, dir-se-á que este instituto postula, no âmbito dos seus
elementos integrantes, uma posse (art.º 1251.º do mesmo Cód.), a qual se
traduz num “corpus” – consubstanciado na prática de actos materiais
correspondentes ao exercício do direito –, tal como num “animus” – intenção e

11 / 18
convencimento do exercício de um poder sobre a coisa correspondente ao
próprio direito e na sua própria esfera jurídica –, posse essa que deve ser
exercida por um certo lapso de tempo e que deve revestir as características da
pacificidade, publicidade e continuidade (cfr. art.ºs 1293.º e segs. e 1298.º e
segs. ainda do CCiv.).

A posse assume relevância jurídica fundamental, não só pelos mecanismos


legais adoptados para a sua defesa (cfr. art.ºs 1276.º e segs. do CCiv.), mas
também por nela poder fundar-se a presunção da titularidade do respectivo
direito, já que, com alude o art.º 1268.º, n.º 1, do CCiv., o possuidor goza da
presunção da titularidade do direito, a não ser que exista presunção, a favor
de outrem, fundada em registo anterior ao início da posse.

E, por outro lado, e num outro âmbito, quanto a imóveis (o que também vale
para móveis sujeitos a registo), dispõe o art.º 7.º do CRegPred. que o registo
definitivo constitui presunção de que o direito existe e de que pertence ao
titular inscrito, nos precisos termos em que o registo o define.

Daí que tenha a jurisprudência vindo a entender que quando alguém tem a seu
favor presunção legal de propriedade, derivada do benefício do registo de
transmissão, em tal presunção pode fundamentar pedido reivindicatório,
sujeitando-se, porém, a que a parte contrária a ilida ([4]).

Quer dizer, em acção de reivindicação caberá ao demandante o ónus da


alegação e prova dos factos tendentes a demonstrar o seu pretendido direito
de propriedade sobre a coisa reivindicada – cfr. art.º 342.º, n.º 1, do CCiv. ([5])
–, prova essa a ser efectuada através de factos dos quais resulte demonstrada
a aquisição originária do domínio, por sua parte ou dos seus antecessores na
posse.

Quando, porém, a aquisição for derivada, como é o caso da transmissão por


compra e venda, terão de ser provadas as sucessivas aquisições dos
antecessores até à aquisição originária, excepto nos casos em que ocorra
presunção legal de propriedade (cfr. art.ºs 349.º e 350.º, n.ºs 1 e 2, ambos do
CCiv.), como a resultante da posse ou do registo definitivo de aquisição ([6]).

O Tribunal a quo entendeu estar demonstrada, in casu, a aquisição originária,


por usucapião, do direito de propriedade de móveis não sujeitos a registo,
visto que considerou, à luz do disposto nos art.ºs 1298.º e 1299.º do CCiv.,
ocorrer “posse por muito mais de dez anos” (cfr. fls. 473 do processo em
suporte de papel).

12 / 18
E, com efeito, o art.º 1299.º do CCiv. dispõe que a usucapião de coisas móveis
não sujeitas a registo ocorre quando a posse, independentemente de boa fé e
de título, tiver durado seis anos.

Quer dizer, se o possuidor mostrar possuir por seis anos consecutivos, mesmo
que a sua posse seja de má fé e não titulada, pode consumar-se a prescrição
aquisitiva, dando-se a aquisição originária do direito por via de usucapião.

Ora, refere o Tribunal recorrido que a A./Apelada provou a compra dos


equipamentos, o que resulta do ponto 21- da matéria de facto apurada, tendo
a aquisição ocorrido entre 1988 e 1991, portanto, mais de dez anos antes da
instauração desta acção.

Também se provou (ponto 20- da mesma factualidade) que a utilização desse


equipamento pela sociedade “M...”, concedida pela A., não resultou de
qualquer alienação do mesmo pela concedente.

Assim sendo, apurou-se que a A., não só declarou adquirir, por compra, os
equipamentos (cfr. ponto 21- aludido da matéria de facto e documentos de fls.
08 e segs.), como, por essa via recebidos, os instalou no seu estabelecimento
industrial – na Zona …, onde viria a ocorrer a penhora em discussão –,
instalação essa há vinte anos, e até concedeu a sua utilização, conjuntamente
com o estabelecimento de que faziam parte, à dita “M...”, o que fez sem
alienação, situação que se manteve por diversos anos e até Junho de 2006 e
que ocorria ao tempo da mencionada penhora em execução contra aquela
“M...”.

Daqui só pode, salvo o devido respeito, depreender-se a posse da A. ([7]), que,


não tendo alienado os bens, antes tendo concedido o seu uso (temporário) a
outrem, no âmbito da concessão da utilização, sem alienação, de um
estabelecimento industrial, se limitou a facultar a respectiva detenção.

Donde que deva concluir-se, também aqui, que a posse foi obtida – pela
demandante – aquando da declarada transmissão por compra e venda e que se
prolongou no tempo, subsistindo quando se deu a penhora, já que a detenção
pela “M…”, mera utilizadora facultada por outrem, não traduzia uma
verdadeira posse sua, mas apenas uma detenção/utilização em termos
precários, em nome de outrem, a concedente e verdadeira possuidora, aqui A.,
pois que inexiste inversão do título de posse (cfr. art.º 1290.º do CCiv.).

Existindo, assim, posse, que se prolongou, continuadamente, por mais de dez


anos, seria de julgar operante a usucapião, com a consequente aquisição

13 / 18
originária do direito de propriedade, se também resultassem devidamente
ilustradas as ditas características da pacificidade e da publicidade (cfr. art.ºs
1297.º e 1300.º, n.º 1, ambos do CCiv.).

Acontece, porém, que, demonstrada a posse contínua/ininterrupta, nada se


provou que permitisse concluir pela sua publicidade (constituída e exercida à
vista de toda a gente) e pacificidade (sem oposição de quem quer que fosse),
sendo que o respectivo ónus alegatório e probatório cabiam à parte
demandante (art.º 342.º, n.º 1, do CCiv.), não podendo presumir-se ser a posse
pública e pacífica.

Quadro este que impede, salvo o devido respeito, que se considere verificados,
além do prazo de seis anos a que alude o dito art.º 1299.º, os requisitos/
características da publicidade e da pacificidade, tudo na conjugação com os
art.ºs 1297.º e 1300.º, n.º 1, todos do CCiv..

Mas que, assim demonstrada a posse da A., não impede a operância da


presunção legal de propriedade, a favor daquela, derivada de tal posse
(aludido art.º 1252.º do CCiv.), presunção essa que não foi ilidida, para o que
não bastaria, como também dito, a simples detenção ou posse precária por
parte da sociedade “M...” (art.ºs 1253.º e 1290.º, ambos do CCiv.).

Termos em que a pretensão da A./Apelada de reconhecimento do seu direito


de propriedade sobre os equipamentos deve proceder, mas apenas com
fundamento na presunção de propriedade, não ilidida, decorrente da sua
verificada posse.

2. - Se a Apelante demonstra válida aquisição em processo executivo

Do exposto já se conclui que, sendo a sociedade “M...” – executada no


processo executivo onde foram os equipamentos penhorados, como se de bens
seus se tratasse – mera detentora em nome de outrem, como tal possuidora
precária, a que falta o animus possidendi ([8]), não poderia ela adquirir por via
de usucapião (art.ºs 1253.º e 1290.º citados do CCiv.), já que inexistiu inversão
do título de posse ([9]).

Por outro lado, não sendo verdadeira possuidora, mas apenas detentora, como
dito, também não poderia operar a seu favor a aludida presunção de domínio
derivada de uma posse que não tinha, posto que tal presunção tem de operar,
isso sim, a favor da verdadeira possuidora (ainda que exercendo a posse
através de outrem, a detentora por si autorizada), a referida A./Apelada.

14 / 18
Donde que também faleça a argumentação da Apelante no sentido da
aquisição do direito de propriedade pela referida executada e da consequente
válida aquisição em acção executiva por tal Apelante e ali exequente.

Nesta parte, pois, só poderá concluir-se como o fez o Tribunal recorrido:

“Do lado da R., que adquiriu os bens em venda executiva no âmbito de


execução movida à M... (…), temos a seguinte situação: bens penhoráveis são
apenas os bens do devedor nos termos do art. 821º do Código de Processo
Civil na versão em vigor à data da penhora, não sendo aplicável o nº 2 do
preceito porquanto a execução não foi movida contra a aqui A.

Os bens penhorados e posteriormente vendidos não pertenciam à devedora,


no caso a M... pelo que a R. L..., que os comprou em venda executiva, não os
adquiriu legitimamente, não tendo título para a sua detenção”.

Improcedem, por isso, as conclusões em contrário da Apelante.

3. - Se ficou indemonstrada a correspondência entre os bens adquiridos pela


R./Apelante e os reivindicados nesta acção

Pugna, por fim, a Apelante por não se ter provado que os bens por si
adquiridos no processo executivo (penhorados à executada “M...”) sejam os
mesmos que são reivindicados nestes autos.

Defende, assim, que não foi estabelecida nos autos a correspondência entre
uns e outros, não tendo os bens penhorados características específicas e
diferenciadoras que permitam, com a segurança exigível, diferenciá-los de
outros bens da mesma natureza e identificá-los como sendo aqueles a que se
reportam as facturas juntas aos autos pela A./Apelada.

Ora, deve dizer-se que se sabe quais os bens penhorados e vendidos na dita
execução – cfr. ponto 13- da factualidade provada, que remete para o
documento de fls. 231 a 234 do processo físico (auto de penhora).

Tais bens foram penhorados no local da situação do dito estabelecimento


industrial (Zona …), cujo uso foi concedido (com os equipamentos/móveis que
o integravam) pela A./Apelada, de forma precária/transitória (sem alienação),
à sociedade “M...”.

Como dito, presume-se a propriedade dos mesmos a favor da A./Apelada, e


não, como pretendia a R./Apelante, a favor da executada “M...”.

15 / 18
Tais bens correspondem, ademais, aos reivindicados nestes autos (cfr. ponto
21- da factualidade provada e seu confronto com o teor do auto de penhora),
conclusão que não pode ser afastada pela circunstância de nem todos esses
bens terem sido objecto de uma descrição inteiramente minuciosa/esgotante
em sede de auto de penhora, muito embora ali se tenha procedido à
identificação e descrição que é usual e possível nestes casos.

Certo é que, ante a correspondência, no essencial, entre os bens penhorados/


vendidos e os ora reivindicados – seja quanto à identificação genérica, seja
quanto às características visíveis –, não podendo olvidar-se que todos foram
objecto de penhora no dito estabelecimento industrial, e visto o demais
provado, dúvidas razoáveis não podem restar quanto à propriedade de tais
bens penhorados e vendidos a favor da A., que não era executada nos
respectivos autos de execução, afastada ficando a sua pertença à sociedade
executada, não podendo, por isso, a exequente (aqui R./Apelada) valer-se de
penhora e venda executiva de bens que não pertenciam à respectiva
executada, mas a outrem que os vem reivindicar.

Assim improcedendo as conclusões da Apelante em contrário.

***

IV – Sumariando, nos termos do art.º 663.º, n.º 7, do NCPCiv.:

1. - Em acção de reivindicação de bens móveis não sujeitos a registo, o


reconhecimento do direito de propriedade por via de aquisição originária, por
usucapião, depende sempre da verificação de uma posse – traduzida num
corpus e num animus –, do decurso de um certo lapso de tempo (cfr. art.º
1299.º do CCiv.), e das características da continuidade, publicidade e
pacificidade (dessa posse), tratando-se de pressupostos de procedência da
acção que cabe à parte reivindicante demonstrar.

2. - Se esta parte, não demonstradas algumas daquelas características, logra


demonstrar, contudo, a existência da posse a seu favor, de tal posse derivará
presunção de propriedade que a beneficia, a qual, se não ilidida, pode fundar
o reconhecimento do direito dominial.

3. - Tal posse pode ser exercida através de outrem – a quem se concedeu o uso
temporário da coisa –, que não passará, nesse caso, de um mero detentor, um
possuidor precário, por deter em nome do verdadeiro possuidor, detentor esse

16 / 18
que, sem inversão do título, não poderá adquirir por usucapião nem beneficiar
da presunção de propriedade derivada da efectiva posse.

***
V – Decisão
Pelo exposto, acordam os juízes deste Tribunal da Relação em julgar
improcedente a apelação e, em consequência, manter a decisão recorrida.

Custas da apelação pela parte apelante.

Escrito e revisto pelo relator.

Elaborado em computador.

Versos em branco.

Lisboa, 10/04/2014

________________________________________________

José Vítor dos Santos Amaral (relator)

________________________________________________

Maria Manuela Gomes

________________________________________________

Fátima Galante

([1]) Segue-se, no essencial, a síntese do relatório da decisão recorrida.


([2]) Processo instaurado antes de 01/01/2008 e decisão recorrida posterior a
01/09/2013 (cfr. sentença de fls. 468 e segs. dos autos, datada de 31/10/2013,
bem como art.ºs 5.º, n.º 1, 7.º, n.º 1, e 8.º, todos da Lei n.º 41/2013, de 26-06,
e Abrantes Geraldes, Recursos no Novo Código de Processo Civil, Almedina,
Coimbra, 2013, p. 15, referindo este Autor que, tratando-se de decisões
proferidas a partir de 01/09/2013, portanto, após a entrada em vigor do
NCPCiv., em processos instaurados anteriormente a 01/01/2008, se segue, em

17 / 18
matéria recursória, o regime do NCPCiv., com excepção apenas da norma do
art.º 671.º, n.º 3, que restringe a revista em situações de dupla conforme).
([3]) Cfr., por todos, na jurisprudência recente, o Ac. STJ, de 07/02/2013, Proc.
1952/06.2TBVCD.P1.S1 (Cons. Serra Baptista), em www.dgsi.pt.
([4]) Cfr., por todos, Ac. STJ de 14/10/1976, BMJ, 260.º - 97; Acs. Rel. Lisboa,
de 10/05/1978, Col. Jur., 1978, 3.º, p. 931, e de 20/02/1981, BMJ, 309.º - 390,
cits. por Abílio Neto, Código Civil Anotado, 6.ª ed., p. 768 e seg..
([5]) Assim já era entendido no distante Ac. Rel. Lisboa, de 09/02/1993, Proc.
0066831 (Rel. Joaquim Dias), em www.dgsi.pt.
([6]) Cfr. Ac. STJ, de 16/06/1983, BMJ, 328.º - 546, também citado por Abílio
Neto na sua dita obra, p. 771.
([7]) O corpus está bem traduzido na declarada compra e venda com traditio,
na instalação subsequente do equipamento no estabelecimento industrial,
onde se manteve por vinte anos, sem alienação, na subsequente concessão
temporária do seu uso, sem facultar mais que a mera detenção, guardando,
por isso, a A. o poder sobre a coisa. Neste contexto, o animus é de presumir, a
favor da A., perante o disposto no art.º 1252.º, n.º 2, do CCiv. (como é
jurisprudência pacífica, o corpus faz presumir a existência do animus – cfr. o
aludido Ac. STJ de 07/02/2013).
([8]) Quanto a este elemento da posse sobre bens móveis, cfr. o Ac. STJ, de
16/10/2008, Proc. 08A2357 (Cons. Moreira Alves), em www.dgsi.pt.
([9]) Cfr., sobre o tema, o Ac. STJ, de 09/10/2007, Proc. 07A2503 (Cons.
Fonseca Ramos), em www.dgsi.pt.

TEXTO INTEGRAL:

18 / 18

Você também pode gostar