Você está na página 1de 302

Comissão responsável

pela organização do lançamento


das obras completas de C.G. Jung em português
Or. Léon Bonaventure
Or. Fr. Leonardo Boff
Dora Mariana Ribeiro Ferreira da Silva
Ora. Jette Bonaventure TIPOS
A comissão responsável
pela tradução das obras completas de C.G. Jung
PSICOLÓGICOS
sente-se honrada em expressar seu agradecimento
à Fundação Pro Helvetia; de Zurique, pelo apoio recebido.

C.G.Jung

BC - UFSCar

111111111111
10142079

~
~EDITORA VOZES 1901 . 1991 Petrópolis
Uma vida pelo bom livro. 1991
,
© Walter-Verlag AG Olten 1971
Título do original alemão:
Psychologische Typen

. i>.,lu 13 / O .E!reitos exclusivos d~ publicação em língua POrtuguesa:

PIOC.
'"
J ~Sl5103 _.2.3.....
..~ / <XooG J. Editora Vozes Ltda.
Rua Frei Luís, 100
/ r ,l!p. J'6'Qj)'j6;Q~'" . 25689 ~:~rlis RJ
I.II.M _o _(f""'I~'''''''''' Sumário
~.~ ..~.

H $ J ~.~~)QQNr5~
N F " c:2 J. õ:( 1..
i~s) .
TradUção:
Lúcia Mathilde Endlich Orth
••• "I~ •• ;:,:.;.;.:..:..:../, ••.••
~OIIC \'.J t"'....,) I •• ~••••••••• ~••

'(1111.i··:a-i~~irill~:-'
'. . : ,?. .....••.• ç..);l.~.."
I Revisão literária:
EdgarOrth
(:lJtl. .• ;J ::!.:J..~~~ "") Revisão técnica: Prefácio à sétima edição 11
'1 ..... 'Y":J.9!'}~..%.~~ , " ". Jette Bonaventure Prefácio à oitava edição 13
Prefácio dos editores 15
1111'.1 (': -, o<AJ', -/
• -~ •.•.. '- _·--;''':íSEN~'.530.4Q706_2 (Edição original alemã)
Prólogo 17
Introdução 19
ISBN 85.326.0516-8 (Edição portuguesa _ brochura)
ISBN 85.326.0517-6 (Edição portuguesa - encadernada) I. O problema dos tipos na história dôo pensamento
antigo e medieval 25
1. A psicologia na antigüidade. Tertuliano e Orígenes 25
2. As disputas teológicas na Igreja antiga 35
3. O problema da transubstanciação 37
4. Nominalismo e realismo 40
a) O problema dos universais na antigüidade 41
b) O problema dos universais na Escolástica 51
c) Tentativa de conciliação de Abelardo 58
5. A controvérsia entre Lutero e Zwfnglio sobre a Ceia 74
11.As idéias de Schiller sobre o problema dos tipos 77
1. As cartas sobre a educação estética do homem 77
a) A função superior e inferior 77
b) Sobre os instintos fundamentais 103
2. Sobre a poesia ingênua e sentimental 132
a) A atitude ingênua 133
b) A atitude sentimental 134
c) O idealista e o realista 136
111.O apolineo e o dionisíaco 138
IV. O problema dos tipos no conhecimento das
pessoas 148
1. Considerações gerais sobre os tipos em Jordan 148
Este livro rol omposro e impresso nas oficinas gráficas da E'A:t "
= ora vozes Ltda em 2. Apresentação específica e crítica dos tipos de Jordan 153
setembro de 1991. .
a) A mulher introvertida 153
Prefácio à sétima edição

NOVAEDIÇÃOaparece sem alterações, o que não significa que


o livro não necessite de complementos, melhorias e suplementos.
, bretudo poderiam ser bastante ampliadas as descrições, algo
sucíntas, dos tipos. Seria interessante também um comentário sobre
trabalhos tipológicos de psicólogos que, desde a publicação dessa
bra, foram aparecendo. Mas a envergadura atual do livro é tão
ande que não deveria ser aumentada sem necessidade premente.
Além disso, pouco sentido prático teria complicar ainda mais a
p oblemática tipológica, enquanto não se entenderem exatamente,
O menos, seus elementos. A crítica, muitas vezes, comete o erro de
upor que os tipos sejam, por assim dizer, livremente inventados e
Impostos, de certa forma, ao material experimental. Devo dizer
ontra esta suposição que minha tipologia é o resultado da experiên- .
i prática de muitos anos, uma experiência aliás completamente
inacessível ao psicólogo acadêmico. Antes de mais nada sou médico
psicoterapeuta prático e todas as minhas formulações psicológicas
provêm das experiências de um trabalho profissional, diário e árduo.
Portanto, o que afirmo neste livro é comprovado, item por item e
entenas de vezes, por assim dizer, pelo tratamento prático do
doente, e foi no doente que o livro teve sua origem. Naturalmente
as experiências médicas são acessíveis e inteligíveis apenas aos que
profissionalmente se devem ocupar do tratamento de complicações
psíquicas. Não se pode, por isso, culpar o leigo quando certas
afirmações lhe soam estranhas ou quando pensa, inclusive, que
minha tipologia é o produto de um gabinete idílico e sossegado.
Duvido, porém, que esta ingenuidade leve a uma crítica competente.
c.G.Jung
Setembro de 1937

11
Prefácio à oitava edição

NOVAEDIÇÃOaparece outra vez sem alterações essenciais, mas


1 pequenos detalhes houve várias correções, pequenas mas
118 lutamente necessárias. Também foi elaborado novo índice ana-
IItI o.
Devo especial agradecimento a Lena Hurwitz-Eisner por este
II b lho cansativo.
C.G.Jung
Junho de 1949

13
Prefácio dos Editores

LIVRO Tipos Psicológicos apareceu em 1921. É um dos mais


nhecidos de JUNG. O fato de a oitava edição, publicada em
• estar esgotada, comprova o vivo interesse pelas questões da
logía da consciência. Alguns conceitos, inseridos por JUNG,
v z primeira, neste livro, são hoje usados no linguajar quotidia-

No corpo principal do livro interessa ao autor apresentar certas


l turas típicas e modalidades de função da psique, estimulando
mpreensão que a pessoa humana deve ter de si mesma e de seus
lhantes. O antagonismo dos tipos desempenha papel importan-
s dissensões religiosas, nas explanações científicas, culturais e
rnovisuais e nas relações humanas em geral.
O escrito é um marco na obra de JUNG e de interesse histórico.
isso foi mantido, quase totalmente, em sua redação original. Ao
r é possível, então, acompanhar o nascimento e o desenvolvi-
, nto das idéias de JUNG.
O último capítulo, JUNG o dedicou às definições dos conceitos
1 li ológicos mais usados. Contém uma definição de Selbst (si-mes-
) que o autor formulou para este volume e que, nas edições
nt ríores, ainda figurava sob o conceito de Eu. Mas o conceito
umiu importância tão central na obra de JUNG que foi necessário
-lhe definição própria.
O anexo é uma conferência, pronunciada em 1913, num Con-
8S0 de Psicanálise de Munique, ''Sobre a questão dos tipos
sl olõgícos", que é um estudo prévio muito ilustrativo para este
t Ivro. Além disso, há três outros trabalhos que, às vezes, resumem e,
utras, complementam o mesmo tema.

15
Ao final, temos uma bibliografia, compilada para este volume,
e um novo índice analítico.
O texto é revisado - em parte com ajuda do autor - e todas as
citações e referências foram confrontadas, sendo, em alguns casos,
complementadas. Textos latinos, até agora simplesmente transcritos
no original, foram traduzidos para o alemão. .
Queremos agradecer a valiosa colaboração de Prof. Dr. E. Abegg
- pelo controle dos textos hindus; Dra. M.-L.v.Franz - pela tradução
dos textos latinos; A Jaffé e Dr. P. Walder - por certas formulações.

Maio de 1960

P.S. à segunda edição dentro das Obras Completas: A paragrafa-


ção desse volume não corresponde exatamente à do volume VI·da
edição inglesa (Collected Works) que foi lançada, em sua primeira
edição, quase que simultaneamente.
Primavera de 1967

lti
deixam de dominar como linhas diretrizes unilaterais e, desta forma,
cessa também a dissociação da psique. Em seu lugar aparece uma
função nova, simbolicamente representada por uma criança, chama-
.da Messias, que jazia adormecida desde longa data. O Messias é o
mediador, o símbolo de nova atitude capaz de unir os opostos. É
uma criança, um menino, segundo o protótipo antigo do ''puer VI
aetemus", exprimindo sua juventude o renascimento e a restauração
do que estava perdido (apokatâstasis). O que Pandora trouxe à terra
em forma de imagem, o que foi rejeitado pelos homens e que veio a
constituir sua desgraça, realizou-se no Messias. Esta conexão de
o problema dos tipos na psicopatologia
símbolos corresponde a uma experiência freqüente na práxis da
psicologia analítica: ao surgir nos sonhos um símbolo, é rejeitado
por todos os motivos indicados acima e ainda provoca uma reação
contrária, correspondente à invasão de Behemoth. Resulta desse
conflitõ uma simplificação da personalidade que desce às caracte-
rísticas individuais básicas, já presentes no início da vida e que à tentativa de um psiquiatra extrair. da con,fus~ 5:
garantem a conexão da personalidade amadurecida com as fontes
de energia da infância. Segundo SPITrELER, o grande perigo dessa :u?~~~::eo~as cham~da~ inferioridad~:s~~!o~t1: ~~~d~;
transição está em que, ao invés do símbolo, os instintos arcaicos E t grupo de extensao mcomum re d
I i' áS~ limites que já não podem ser incluídos no campo as
despertados por este processo são assumidos racionalisticamente e I cop 11coS . . . todas as neuroses, todos os
reintegrados nas formas tradicionais de pensar. sicoses propriamente ~itas, ou seja, oral afetiva e demais inferio-
526 O místico inglês W. B~ diz: ''Há duas classes de pessoas: os r dos de degeneraçao mtele~tual, m 'com OITO GROSS que
prollferos192 e os engolidoresl 3. A religião é um esforço para conci- I d des psíquicas. Esta tent~va t~~~~o~ob o título Die zerebrale
liar ambas" .194 Com essas palavras de BLAKE,que resumem de modo PUkblicdo~rfu'
emkt1~!02(A~~~o :erebral secundária), cuia hip6tese
bem simples as idéias básicas de SPITrELER e também minhas
explicações, quero terminar este capítulo. Se lhe dei extensão inco-
un a n
t
mdamental o le,vou pos~
dois ti cológicos Ainda que
;~~~~~s ~~ito das url-erioridades
material empú;ico e e o te a ontos de vista aí assimilados sejam
mum, foi para fazer justiça à riqueza de idéias e pistas fomecidas
pelo Prometeu e Epimeteu, de SPlITELER, assim como foi o caso das
Cartas, de SCHIll.ER.. Ative-me, o quanto possível, ao essencial;
l>síquic~s,nada lIDpe ! q~~~; amplo da psicologia normal, pois o
l ansfendos para o.c .p ental s6 oferece ao pesquisador uma
deixei de lado, de propósito, toda uma série de problemas que
mereceria estudo mais completo. ;::m~~ag:~~~~~~;e~e favor~:l f~~~:e~:o~J:~~:~o~:::~
uícos co~ clareza qua~e ex~:: obscura dentro dos limites nor-
o.percebidos apenasal ~ciona às vezes como lente de aumento.
mais. O estado anorm d ítulo final suas conclusões a outros
pr6prio GROSS esten e, no c~p ,
ampos como veremos a seguir. b al
' "fun ~ undária" um processo cere r
GROSS entende por çao sec 6 . stalado a "função
elular que entra em ação logo ap s ter-se m

192. The prolific = o fecundo, que produz para fora de si.


193. The devouríng = que engole, que toma para dentro de si. . essê . dostiposnosdáGROSS
. - modificada mas malterada na nCla,
194. "Religion is an endeavour to reconcile the two!" Poaical Works, 1906, vol. 1. Uma exposlÇ30_ ch ' h' che Minderwe.rtigkeiten, 1909, p. 27s.
Ulmbém em seu livro Uber psy opat lS I'
I, p. 249. cr, The Marriage oi Heavea and nai. In: The Writings 01 WIWAM BlAKE,
Londres, 1925, p. 190.

263
262

-
Primária". A função Primária corresponderia ao trabalho propria-
mente dito da célula, ou seja, à produção de um processo psíquico . d e caso mostra a pecul~a-
positivo, diríamos, de uma repreSentação. O trabalho corresponde a caso. O quadro psico16gI.co e:~te renovada, para a açao
um processo energético, provavelmente a uma descarga de tensão • I' m Iro tidão sempre rapídam • uma queda para a
química, isto é, a uma decompo'ição qUÍmica. Apó, esta descarga " 1 d um~~r;~éeie de tendênáadà ~':ft~~ões mais pro~das
aguda que GROSS denomina função Primária, entra em ação a o, 1 uma falta e . . ífícatíva a
I I1 lalidade ~;~aa~:~erêneia, ao se es~~~:rt:~::l~vos numa
função secundária, a saber, uma recUperação, uma reCOll$truçãopor
I> lrns, uma tro lado impõem .• e rmn d de modo que
assimilação. Dependendo da intensidade do dispêndio de energia
11 ção. Por ou m "';ntudo se aprofun arem~ore, diversos,
precedente, esta função exigirá mais ou menos tempo. Durante este
I I d de t"'::::o ~fvel coisas he_&f"e.as ~~ ';..presentaçõe,':
tempo, a célula se encontra, em relação ao que aconteceu antes, num
estado modificado, numa espécie de estado de excitação que não I m ~o ':'essão da chamada. ''nive af: .ões primárias ~xclw
I1
pode deixar de influenciar o decurso psíquico ulterior. Processos I NIC~f. Esta rá~idad suc:t~:e~ !::tivos Çdasre~resentaç~eJi:~
muito acentuados, cheios de afeto poderiam significar um dispêndio a vívência os v rfi .al Mas lSSOposs
especial de energia e, por isso, também um período de recuperação I logo :'tividade ,6 pode ser supe asc~e . atitude. O processo
especialmente longo ou de função secundária. GROSS considera o ,. o, a idas adaptações e mudanç abstração sofre sob a
efeito da função secundária sobre o processo psíquico como influên- ' 1111m rápi dito de pensar, ou melhor, a 'o de abstração exige
cia demon'trá ve 1 e esPecifica no curso ,ubseqüente da associação, ': ~IJ~ee~~e ~ÇãOg:==r~!':::r.e:ep=ç::. ~:~
e isto no sentido de uma limitação da escolha associativa ao "tema" 1111 t mpo mais on~ ortanto uma função sec a ão de uma
apresentado pela função Primária, ou a chamada "repreSentação
Principal". De fato, algo mais tarde, pude chamar a atenção, em I uas r:percusso~:~~r aprofundamento ~nem a~:~a~elecimento
I 1 Ia na~ pode po de representaço~s. O tividade, não no
meus trabalhos experimentais - e também vários de meus alunos
em trabalhos semelhantes - para osfentJmenos de pers erança2 após J I en~açao - r::::
Foprimária produz ma1orr~~~a apreensão do
ev " I. ráp!do da ~ extensivo, da! ~ p. de seu signifícado
representações muito acentuadas, fenômenos que podem
monstrados numericamente. Meu aluno EBERSCHWElLER., numa
pesquisa e lingüística,
nâncias aglutinações.demonstrou
3
ser de-

este mesmo fenômeno nas asso-


," ~~':,:v;:"
111
m:,:'-=c~~~~p~';o t~a1:
I profundo. EstaoCtambém de falta de prec,?ndcee1de;consideração
~:,:~=
onfonne ocas , bé a impressão . d Um
\t, ~ às vezes tam m d brutalida e.
529 A Partir da experiência patológica sabe-se também quão fre- mpreensao, ou falta de tato ou mes~o e dos dá a impres-
qüentes são o, caso, de perseverança na, lesõe, cerebrai, graves,
como nas apoplexias, tumores, atrofias e outros estados de degene_ I, I::'!'::':!;'~: :.br':I~~":'~: ~~:~:'~ueb't,: ~e ~:.":
rescência que devem ser atribuídos a esta recuperação dificultosa. de certa ceguerra. atividade parece ser tam .d de ue tem
A hipótese de GROSS tem, portanto, grande probabilidade a seu " uperfície. A d~~~~, audácia até a louca t:'::'p~e.!ão do
favor. É natural que se pergunte, enlão, 'e não há indivíduos e até I ma presença êneia de crítica e na ;•.•..
pulso cego.
mesmo tipos em que o período de recuperação, a função secundária, u pressup osto .
na aus . ~ mas é antes ••••
da ação parece decisão, al e é facilitada pe a
1
demora mais do que em outros e se, eventualmente, não poderiam I Igo. ~rapld~ mínios estranho, parece ~a':f ação e de seu efeito
ser deduzidas certas psicologias singulares. A Incursão em o af tivo da representação, a
530 Uma função secundária curta influencia muito menos as asso- I norãncía do valor e 1 bora- 531
ciações consecutivas num Certo espaço de tempo do que uma longa. bre os o. utros .damente renova a d perturba a6tiaa sofre
e
Por isso, a função Primária pode ocorrer com freqüência bem maior A prontidão ~em;,: ~ências, de modo que ,~ m:.';:roouzidas
idas percepçoes . n~ dos casos, sõ podem processo de
2. JUNG, DiagnCMtischeAssOziationsstudien (Obr. Compl. rn. "U to, po,
is na maio
llrnente aqu.
elas associações que e .
Conteúdos relativ~
ntraram num
ente isolados somem
rizar uma séne
ziation.3. A1Jgemeinde
EBERScflWErLER, Untersuchungen
Zeillichrift die sprachJiche Komponente
iiber 1908.
für Psychialrie, der Asso- V nculações mass".as·or isso, bem mais difícil memo oema. Rápida
pídamenre, sendo, ~do (incoerentes) do qU\ um :Omo certa falta
cl fipalavras sem sen . mo que logo se apaga, em
111 ama,bilidade entusias .

264
265
. lado a lado sem influência 534
omplex~s isolados e~~~e~teragem contrabalançando o~
de gosto são outras características que surgem da sucessão muito e, por ISSO,també~ lógica e fortemente fechados em SI
rápida de conteúdos heterogêneos e da não percepção de seus 1 do-se mutuamente. ~:ência corretiva de complexos com
valores afetivos bem diferentes. O pensar tem caráter representativo, l1l ,mas falta-Ihes a _ facilmente ocorrer que um com-
I ç o diferente. pode, entao,. também particularmente
portanto é mais uma espécie de imaginação ou encadeamento de . ul te forte e por ISSO, . d'" t é
conteúdos do que abstração e síntese. parnc armen. \ à "idéia supervalonza a , ~so ,
não influenClávelse e evenfr t qualquer crítica e goza de
532 Nesta descrição do tipo com breve função secundária segui . ante que e en aalgo onipotente ou "Isp een "
ser uma domm
GROSSno essencial, incluindo algumas transcrições para a psicolo- . tr sformando-se em .
gia normal. GROSSdenomina este tipo "inferioridade com consci- utonO~la, an d tios toma-se idéia obsessIva ou para-
humor). Em casos oen . balável que mantém presa a seu
ência superficial". Mas se abrandarmos os traços excessivamente 1 to é algo absolutamente mDa forma recebe outra orienta-
fortes até ao normal, teremos um quadro geral em que o leitor I •' d d indivíduo essa 1', - d
reconhecerá facilmente o "less emotional type" (tipo menos emocio- IV a vida to a. o . éri fica "doido". Esta concepçao o
t da a mentalld~de,. o cnt n; oderia explicar também ~or
nal) de JORDAN,isto é, o extrovertido. GROSStem, por isso, o grande I I nto de uma ldél.a.P?I'~ 1~~e~secorrigir a idéia paranóica
mérito de, como primeiro, ter levantado uma hipótese homogênea m certos estados mlc.lals, P . ro riados especialmente
e simples sobre a existência desse tipo.
I~ \ te procedimen~osp~~~~~~?~~~Sc~~pfexosd~representação~
533 O tipo oposto GROSS o chama "inferioridade com consciência 11 I o se consegue ~c~ Existe também evidente cautela e, mes
restrita". A função secundária desse tipo é particularmente intensa I li dores e correuvos~ . à associação de complexos separados.
e prolongada. Por esse prolongamento, a associação consecutiva é I nsiedade com referenCla ., damente distintas, as pontes entr~
influenciada em grau mais elevado do que no tipo anterior. Podemos 18 s têm que perman~ce~~as o mais possível por rigorosa e
supor também, neste caso, uma função primária fortalecida e, mplexos deveIll ser es, com lexo. GROSS chama esta
portanto, uma atuação mais vasta e completa das células do que no ( d formulação do cont~u~o ,~gA fo~e retranca interior desse
extrovertido. A função secundária prolongada e fortalecida seria a ncia ''medo de assoclaçao . . xtema de influenciar. Seme-
conseqüência natural disso. A função secundária prolongada causa 11 pl XOdific a q
ult ualquer tentaUva e
. de êxito só quando consegue
viu
-
uma duração maior do efeito provocado pela representação inicial. li tentativa tem pers1ec?vad complexo a um outro complexo
Surge então um efeito que GROSSchama "efeito contrativo", isto é, \ \ pr~issa e a ~~~:~~~o °estão unidas entre si.
uma escolha particularmente orientada (no sentido da repre- 11 do tao firme e gi . uficientemente unidos causa 535
sentação inicial) das associações consecutivas. Com isso, visa-se a A acumulação de complexos U;~rae diríamos, firme represa-
uma realização ou aprofundamento do "tema". Arepresentação atua almente forte ?bs~çao Pa:~contr~os regularmente exr;ra-
de modo persistente, a impressão vai fundo. Conseqüência prejudi-
1\ 1 O da libido no ~tenor. Dai essos interiores; conforme o tipo
cial é a limitação a um campo mais estreito quando, então, sofrem
I llnária concentraçao sob~ procnaqueles orientados pelas sensa-
a variedade e a riqueza do pensar. Contudo, a síntese é muito \ p ssoa, sobre sensações. .slca~ uando se trata de alguém com
favorecida já que os elementos a serem reunidos permanecem
sobre processoS espm~~:a1e parece inibida, absorvida ?u
constelados o tempo necessário para tomar possível sua abstração. íude intelectual. A person tos" intelectualmente parcial
A limitação a um só tema produz, além disso, um enriquecimento U 1> rsa, "mergulhada em pensamen ,
de associações pertinentes, uma firme vínculação interna e consoli-
dação de um complexo de representação; mas este complexo é ao _. . che Minderwertigkeiten, p. 4), GROSS
mesmo tempo isolado de tudo o que não lhe diz respeito e acaba 4 {1moutra passagem (Ub~ psychrval°Pat~1S
da" e o assim chamado "c0'!1plexo de
. . -o entre "idéia supe onza erlstico desse npo, como
num isolamento associativo. Este fenômeno GROSS (tomando em- II Mllogue,c°":i;~~e último fenômeno não é apenas cara~to" devido à sua ênfase
V lor exagera. d d
tIO O "complexo e connno , if
prestado um conceito de WERNlCKE)o chama "sejunção". Uma .h I cmOSS, mas também. o ou . _ im rtando o tipo em que se maru esta. .
conseqüência da sejunção dos complexos é a acumulação de grupos ~,'lIllm ntal, tem valor considerável, nao~r:a1behcuuJ1ung der chronischen ParanOla,
de representação (ou complexos) que não têm entre si qualquer b isso P BJE,RRE, Zur. 11 795s
. Cf ...80 re j,,"Cl'he Forschungen, vol, m, 19 ,p. .
conexão, ou apenas uma conexão muito frouxa. Exteriormente, este " hrbuch für psychoana J~
estado mostra-se como personalidade desarmôníca ou, como a 6. GROSS, Lc., p. 40.
chama GROSS,"sejuntiva".

2b7

-
266
.,

. . ui ão da disponibilidade, cau~ada
ou hipocondríaca. Em qualquer caso só há pequena participação na • melh~tes ..A dtm~ ç falta de presença de espírito e
pação mteno!, p~o u~ ara osas, difíceis de con-
vida exterior e evidente tendência à misantropia e solidão que muitas Ocorrem entao sltuaçOes .emb d Çsociedade. Explosões
vezes encontra compensação num amor devotado a animais ou • . ara retrarr-se a
18 um moUVOp I' amento com os outros e,
plantas. riam confusões n? re ~c~on essoa não se sente em
536 Os processos interiores são mais ativos porque, de tempos em constrangimento e mdec:!~:~i:n~ento. A lentidão em
tempos, complexos até então pouco ou nada ligados de repente de restabelec~r o bon:riências desagradáveis que ~eram
"colidem" e ensejam uma função primária intensa que, por sua vez, I va a uma série de exp !_ç' idade quando nac de
desencadeia uma função secundária duradoura amalgamando dois . nto de lJUenon, ç
nte um senttme ~. ntra aqueles que roram
complexos. Seria de pensar que, dessa forma, todos os complexos . sse sentimento se volta ~ntaoa~~ A vida afetiva interna
colidissem alguma vez produzindo uma uniformidade e coesão geral ~res reais ou suposto~ d~ e~tipios afetos produz uma
dos conteúdos psíquicos. Este resultado salutar só poderia acontecer intensa e a ressodn~c~a :: tons e de sua percepção, pOlr-
se fosse possível, nesse meio tempo, sustar a mudança na vida xtremamente e ica t mocl'onal que se reve a
exterior. Mas, por não ser possível, sobrevêm sempre novos estímu- I I • ilid d articularmen e e rímul
senslbill a e P. 'dez e anSle . d a de diante de es . os .
los produzindo funções secundárias que cruzam e confundem as I II nte por forte ttml. ~ s onde seriam possfveís tais
linhas internas. Por conseguinte, este tipo tem pronunciada tendên- 1 18 ou de todas as sltuaçoe ntra estados emocionais do
cia a manter longe estímulos externos, evitar a mudança e, quando ,,11 8. A sensib~idade~ volta-se code o inião, afirmaçõe~ emo-
possível, deter a vida em seu fluxo constante até a total amalgamação I 1 blente. Manif~staçoe~ b:U:~:elhaJes são rechaçadas p~r
do interior. Tratando-se de pessoa doente, manifestará às claras esta I 'uências senttmentalS d d rópria emoção que podena
tendência, se retrairá de tudo e procurará levar vida eremítica. Mas I 1 temão - e isto por me o a p difí il de controlar. Com o
só em casos simples é possível obter a cura dessa forma. Em todos ~ duradoura c .
dear uma impressao ' lancolia que se basela no
os casos mais graves só cabe reduzir a intensidade da função t 1 n sce dessa sensibilidadedce~admeEm outro lugar? sustenta
primária; mas esta questão é um capítulo à parte que já abordamos \I I luído a V1 a. . .
11 nto de se estar ex~ " é característica especlal desse npo.
ao falar das cartas de SCl-llll.ER. que a ''melanc~ha ~ alor afetivo facilmente .le;ra .à
537 Ficou bem claro que este tipo se distingue por fenômenos afetivos m diz que a realtzaçao do v é' demais" A proemmencla
\I l • "levar a s no' ít
bem especiais. Como vimos, realiza as associações pertencentes às 1 IV lorização af~uva,. ao ao e~ocional neste quadro perrnt e
representações iniciais. Associa plenamente o material que diz 8 processos mten~res e .d A descrição de GROSS é bem
respeito ao tema, isto é, enquanto não se tratar de materiais já I I \1 nte reconhecer o:~;~;~)l~~tdO "impassioned type", mas nos
ligados a outros complexos. Se um estímulo atingir este material, 1I ompleta do que a e. tidade
isto é, um complexo, surgirá ou uma reação violenta, uma explosão 8senciais há plena lden. fu' ão cerebral secundária diz 539
carregada de afeto, ou absolutamente nada, se o complexo estiver
tão fechado que não permita a entrada de coisa alguma. Completada
I
N capítulo V de seu ~sc~to 1 nç rmal ambos os tipos de
que, dentro dos ~tmltes ~e~:m diferenças fisiol6gi~~ ~e
a realização, soltam-se todos os valores afetivos; ocorre forte reação lorldade por ele des~nt~s apre rficial-alargada e a consc~encla
emocional com prolongado efeito superveniente que, muitas vezes, 8
I I vLdualidade. A con~clêncla s~pediferenças de caráter. O up~ de
passa despercebido externamente, mas penetra fundo no Último. As I l _aprofundada sao, port~oo'GROSS, principalmen~e I?ráu~o,
vibrações consecutivas do afeto enchem o indivíduo e o tomam fi I ncia alargada é, segun o meio ambiente. Avida mtenor
incapaz de assumir novos estímulos até que o afeto se extinga. Uma V o à. rapidez com que s~ adapta a formar grandes complexos de
acumulação de estímulos será insuportável, por isso surgem fortes prepondera porque nao che:a ;ropaganda da própria persona-
reações de defesa. Em fortes acumulações de complexos, desenvol- sentação. ''Eles fazem gran e
ve-se uma atitude crônica de defesa que pode chegar à desconfiança
e, em casos patológicos, à mania de perseguição.
538 As explosões repentinas, alternando com mutismo e defesa,
7. t,c., p. 37. _._._.J::J.."J..t-ion p.58&.
podem dar à personalidade um ar bizarro que a tome um enigma O.Dle zuebrale Sc:Aw",wJ"'-' ,

21)9
268
\

lidade - e, se estiverem em posição mais elevada, também lutam por


grandes idéias tradicionais".9 GROSS considera a vida afetiva desse de poder em todos os seus
tipo Primitiva; entre os de nível mais elevado ela se organiza "pela li II 111, mas tamb~m ~ proc~~ante. GROSS escolheu para o
assunção de ideais já prontos, vindos de fora". E, assim, a atividade " 1I 11 8 spectos, é ~s~to se~idade sejuntiva" (ver supr~) que-
ou a vida afetiva (como diz GROSS) podem tornar-se heróicas. uldo a expressao 'person ial dificuldade de vincular
li " I tipo tem especi . iro
"Contudo, sempre é banal". "Heróico" e "banal" parecem incompa_ II I ublínhar que esse. . o introvertido serve, em pnm~
tíveis. GROSS mostra, porém, o que deseja exprimir: nesse tipo não 11 . A capacidade sintética d tão separados entre SI ao
ti' Ó ara formar complexos que es lexos que impedem o
há vinculação suficientemente desenvolvida do complexo erótico de
representação com o restante conteúdo da consciência, isto é, com 1 I li ~as são exatamente esses c°t.nP também no introverti-
os outros complexos de natureza estética, ética, filosófica e religiosa. '" "'~ ivimento de maio~ unidade. E '::,';:::;, egoística de poder o~
FREUD falaria aqui de repressão do elemento erótico. Para GROSS :. mplexo da sexualidade o~ ~aJ'o e bem distinto dos dem!",
a presença marcante dessa vinculação é o "sinal típico da natureza ') t
de prazer permanece ISO de um neur6tico introvertído
superior". 10 Para fonnar esta vinculação é indispensável uma função '11 ) xos. Lembro-me, por exe~ ;' tempo, alternativamen~e, nas
secundária prolongada, pois s6 pelo aprofundamento e pela retenção
prolongada dos elementos na consciência pode acontecer esta sín-
tese. Graças a ideais tradicionais pode a sexualidade ser mantida nos
II
I
feras do idealismo, ?'~:~~~
1I I~l nte intelectual que passa

sem que a conscien


dental e nos piores bordéis sub-
apresentasse a e~stência d~ ~
, as eram mantídas comp e
trilhos do socialmente útil, mas "nunca se eleva acima da trivialida- 'lI fi '0 ~oral ou e~t~tico. As !~~s o~~a. O resultado, naturalmente,
I 1I paradas, distintas ~siva
de". Este julgamento bastante duro é facilmente explicável pela I
natureza do caráter extrovertido: o extrovertido se orienta exclusi- ft'I grave neurose comp. guír as considerações 54
' 'U ta crítica ao se .
vamente por dados externos, de forma que o essencial de sua rt preciso levar ~ conta e~onsciênCia aprofundada". AdCO~':
atividade psíquica sempre está na manipulação deles. Nada ou ( SS sobre o 'tipo com o GROSS, "o fundamento ~ m e
pouco sobra para ordenar sua vida interior. Esta deve confonnar_se I profundada é, ~egund,~ D vido ao forte efeito contra~vo, ~s
de antemão com as detenninações vindas de fora. Nessas condições z Aoda índividualída e. ~ artir do ponto de VISta e
não é possível realizar a vinculação das funções mais desenvolvidas I I Jos externos são sempre vistos ~ Prática na assim chamada
com as menos desenvolvidas, pois ela exige grande parcela de tempo Ifi déia Ao invés do impulso para a.Vlda.Pn'zaÇão" "As coisas não
e esforço, um trabalho de auto-educação, longo e penoso, que não 1111. ''p ão para a mteno '.. 'ais
I lId de aparece a ressa . olados mas como idéias parei S
pode ser feito sem introversão. Para isso falta ao extrovertido tempo oncebidas como fenômenos 18 ão" Êsta concepção de GROS
e gosto, além de ser perturbado pela mesma e franca deSConfiança ande complexo de representaç bservações anteriores sobre os
em relação a seu mundo interno que o introvertido nutre pelo mundo
externo. 1 rda perfeitame~te c,omnoss:;:ta e de seus antecessore~ nas
J 8 de vista nommal~sta e r~ca É fácil ver, na concepçao de
540 Não se deve acreditar, porém, que o introvertido, graças à sua 1 s platônica, megárica e c tre o~pontos de vista: a pessoa c~m
maior capacidade sintética e maior habilidade de realizar valores I S, onde est~ a diferença en espaço de tempo, muitas ~çoes
afetivos, esteja, sem mais, em condições de efetuar também a síntese o secundária curta ~e~ n:;m. ela está mais ligada ao fenomeno
de sua individualidade, isto é, estabelecer de uma vez por todas uma J márías frouxamente Vll1C a a~~ os universais são apenas nomes
vinculação hannônica entre as funções superiores e inferiores. 1 do ao caso individual. Para e, essoas com funções secun-
Prefiro esta fonnulação à de GROSS, de que se trata apenas de qu~is falta realidade. Ma~, p~sasa~ abstrações, as id~ias ou ~s
seXUalidade, pois, segundo minha opinião, não se trata apenas de 1 t 8 prolongadas, os fat~s m~e~ a-~ a realidade autêntica com a
seXUalidade, mas também de outros instintos. A sexualidade é, sem nlv rsais tem sempre pnmazla,f sômenos in
' A . dilVliduais.
ís É, portanto,
dúvida, uma forma muito comum de expressar instintos indomados lU precisa relacionar todos ~~ e;a escolástíca). Uma vez que para
I ísta po~ nature~ (n~es~:~si~erar as coisas externlas, t~~ ~~e~~
ntrovertido o mo o _ á ropenso a ser re ati'yls a. ,
9. ef. para isso afinnação semelhante de JORDAN. cI nela sobre a percepçao delas, e;~s: a harmonia do meio amblt;P-
10. GROSS, u; p. 61. nte como especialmente praze

11. GROSS, Die zerebraIe Sek und~on,p.63.


.

270
271
ento Tem pensamentos que o atormentam. Compara-os
te; 12 vai ao encontro de sua compulsão interna de harmonizar seus '"lIIDUJ,Un's~entosde seus semelhantes. e, n~turalmente em
complexos isolados. Evita qualquer "comportamento desinibido" Y com os do tipo pensamento ÚltrovertIdo. P.ercebe qu~
porque levaria talvez a estímulos perturbadores. (Devem ser exce- ugar, incidem com os dele e, por ISSO,consi-
tuados os casos de explosão afetiva!). A consideração social é n mentos pouco co . . al ou reprime
individuais e, a si mesmo, um 'pensador ongmal' . al Na
diminuta devido à absorção pelos processos internos. O forte predo- d ara que nmguém pense go 19u .
mínio das idéias próprias impede que assuma idéias e ideais de nsamentos to os p d mundo tem mas que
trata-se de pensamentos que to o _ ' -
outros. A forte elaboração interna dos complexos de representação
dá às idéias um caráter de pronunciada individualidade. "Muitas
~ zes são ditos em voz alta. Penso, entao, que esta afirm
S provém de engano subjetivo que, no entanto, cons
d:
vezes, a vida afetiva é socialmente inútil, mas é sempre útil ao
indivíduo". 13 I ralo í I al ém apro- 543
Dorçacontrativa intensificada to~a poss ve. "al' .gu di to" 14
I'
I
542 Esta afirmação do Autor merece uma crítica minuciosa, pois l' •á - têm mteresse V1t lIDe Ia .
contém um problema que, na minha opinião, sempre ocasiona os se ?as coisa.s =a Jc:a~~e~tica essencial da mentalidade
maiores mal-entendidos entre os tipos. O intelectual íntrovertido -
que GROSS tem em mira aqui - não mostra exteriormente qualquer I V
~!r~~'
a..,
~~;ertido tem tendência de desen~olver os pensa~
dentemente de qualquer realIdade externa.
sentimento, apenas opiniões logicamente corretas e um procedimen- I em SI,mdéepen, É grande vantagem poder desenvol~er
to correto, em primeiro lugar, porque nutre aversão natural contra I m e tamb m pengo. I' ires dos sentidos. O pengo
a demonstração dos sentimentos e, em segundo lugar, porque teme
I tamente um pensamento, sem os lID al r bili-
linha de pensamento se afasta de qu quer ap ica
despertar em seus semelhantes estímulos perturbadores, isto é, I m que a . al nte seu valor vital. Portanto,
afetos, devido a seu comportamento incorreto. Teme afetos desagra- l \ prática, perdendo proporclOn ::ede desvia! -se por demais da
dáveis nos outros porque atribui ao outro sua própria sensibilidade ove~do está s~pr~:::::~~amente sob o aspecto simbólico.
e porque já foi perturbado pela rapidez e impetuosidade do extro- I consIderar as COIsas alta O extrovertido não está em
vertido. Reprime seu sentimento que pode evoluir às vezes até uma I bém es~e_ponto GR~s~~:e:~ del~ é outra. Tem a capacidade
paixão que sõ é percebida com absoluta clareza por ele mesmo. As 11 11 or posiçao, ape~as dÍna de tal forma que vivencie quase
emoções que o atormentam ele as conhece muito bem. Compara-as l ncurtar s~a ári~çao s~tIc~as isto é não está mais preso a nada,
com os sentimentos que outras pessoas, naturalmente em primeiro unções pnm as pOSl v" alid d iá - vê
, écie de êxtase por sobre a re 1 a e, J nao
lugar os tipos extrovertidos sentimentais, lhe mostram e acha que paira numa ~sp ,, a enas como estimulantes. Esta
seus "sentimentos" são bem diferentes dos de outras pessoas. Chega aliza as coisas, urílíza-as p . d air de certas situações
cidade é grande vant~gem, pOl~aju a a ~ " diz NIETZSCHE);
à conclusão que seus "sentimentos" (melhor, suas emoções) são
plícadas (''Estás perdido se cres no ~e~g~~ em catástrofe,
únicos, isto é, individuais. É natural que sejam diferentes dos do tipo também é grande desvantagem, pOIS e, . á I
extrovertido sentimental, pois estes são um instrumento diferen-
ciado de adaptação e carecem da "autêntica paixão" que caracteriza
tI V do muitas vezes a um caos p raticamente mextrlC ve .
é do tipo extrovertido que nasce o ch~a~o 544
os sentimentos interiores do tipo pensamento introvertido. Contudo Segun do GROSS, . ê . "ultural" O pnmerro
a paixão como algo instintivo tem pouca coisa de individual e,. nío "civi1izató~o': e, d~ ~~?:e~~~: à~~::n~ginação·abstrata". E
dependendo do caso, é comum a todas as pessoas. Só o diferenciado rresponde ao agir p~co ~ sua convicção de que nossa épo~a
pode ser individual. Por isso, nos grandes afetos, desaparecem as I 11 mente GROSS m es , fund d ao contrário
diferenças típolõgícas em prol do "simplesmente humano" em geral. 1 eisa sobretu~o da con::ncia=~~~:~~~cia ~;gada e super-
Na minha opinião, o tipo sentimento extrovertido é o primeiro a tempos antigos que am, ofundo no simbólico.
poder reivindicar a invidualidade do sentimento, pois seus sentimen- ial ''N6s nos comprazemos no Ideal, no pr 'ai' ul ,,15
Ia ~implicidade à harmonia - eis a arte da mais ta c tura.
tos são diferenciados; mas incide no mesmo erro quando se trata de

14. t»; p. 65,


12. Lx., p. 64.
15. t:«, p. 685.
13. t:«, p, 65.

273
272
. . a ocorre num caráter fisiol6gico
S45 Corria o ano de 1902 quando GROSS escreveu isto. E hoje? Se d de repente, po:s ~to nun;formações patológicas. Como já
for permitido dar uma opinião, deveríamos dizer: precisamos obvia- íco, com exceça» e tran ~o e extroversão não são caracte-
mente das duas coisas, civilização e cultura, diminuição da função i dive~as vezes, m~ove~: ligados ou desligados à vontade,
secundária numa e prolongamento na outra. Não se pode produzir mecanIsmos que po em s ondentes só se desenvolvem a
im dizer. Os caracteres c.orresp d I É certo que a
uma sem a outra e - infelizmente devemos constatar - faltam ambas . ãncía habItual de um e es.
à humanidade atual. O que uma tem demais falta à outra, se da pre d omm .. ~ inata mas que nem sempre,
quisermos fazer um pronunciamento mais cauteloso. O repetido \ ção repousa e~ .cert~ts?~~~~as vezes que a' influência do
discurso sobre progresso tomou-se desacreditado e suspeito. íuramente d~c1S1va. teV1pude constatar certa vez que uma
, quase tao tmp?rtan d . . trovertido e apresentava um
S46 Resumindo, gostaria de notar que os pontos de vista de GROSS I que vivia pr~XlIDo e~~;overtido, mudou de atitude e
coincidem com os meus. Até mesmo a terminologia que emprego - I lIl1 ortamento manifestam d . tarde entrou em relaclo-
extroversão e introversão - se justifica diante da concepção de . rtida quan o mais ,
I ou mtrove ' alid de declaradamente extrover-
GROSS. Só falta ainda uma crítica esclarecedora sobre a hipótese ín . m uma person 1 a ..
I I to tlIDOco rtas influênCIas pessoaIS
fundamental de GROSS, o conceito da função secundária. I . Diversas v~zes pude ver q~: t~~ o, a duração da função
S47 É sempre perigoso relacionar hipóteses fisiológicas ou "orgâni- m essenCIalmente, emfin~dou e ~ estado primitivo voltou
cas" com processos psicológicos. Como sabemos, numa época de árí ti o bem de 1 o, e qu -
li d a num P d influência estranha desapareceu.
grandes êxitos no estudo do cérebro, predomina certa mania de sentar-se quan o a om essas experiências, devemos 549
fabricar hipóteses fisiológicas para processos psicológicos; entre ece-me que, de a~ordo c natureza da função primária. O
elas, a hipótese de que no sono os prolongamentos celulares se nosso interesse mais par~ a função secundária muito
contrairiam não foi a mais absurda, pois mereceu séria atenção e foi
submetida a discussões "científicas". Falou-se, com razão, de uma
o GROSS chama a atençao ~a:a ~e afet016 e a faz depender
I I ngada após ~epresentat~~ cn:::xiste razão plausível par~ a
''mitologia cerebral" formal. Mas não gostaria de tratar a hipótese I nção primária- Na ver a , dura ão da função secundária;
de GROSS como ''mito cerebral", pois tem um valor de pesquisa I lna dos tipos se basear n~ tensid~de da função primária, pois
muito grande. Ela é excelente hipótese de trabalho que já foi I \I b m poderíam.?s baseá~~a ~pende obviamente da intensidade
reconhecida muitas vezes em outros campos. Também a idéia da I ção da função sec~ a alho da célula. Naturalmente,
função secundária é tão simples quanto genial. Este conceito simples \ dispêndio de energia, do :ra~ função secundária depende da
é capaz de levar grande número de fenômenos psíquicos a uma I r-se-ia objetar que a duração a . divíduos com maior capaci-
fórmula satísfatõria; e fenômenos cuja natureza diferente teria lld z da recuperação e que eX1ste:o~ menos dotados. Neste caso,
resistido a uma simples redução e classificação por meio de outra I \ de recuperação ~~ lado. d~~~or capacidade de recuperação do
hipótese. bro do extrovertl o tena al . dícío de prova para esta
S48 No caso de hipótese tão feliz, somos tentados a exagerar sua O do introvertid? Falta qu qu~: :bemos das causas reais da
extensão e aplicabilidade. Poderia ser o caso também aqui. Infeliz- 'I slção altam~nte tmprov~v~l~ti_se ao fato de que, excluí~os ~s
mente, porém, esta hipótese tem âmbito limitado. Vamos abstrair I I ç o secundária prolo~ga a. d de es ecial da função primária
completamente do fato de ela ser apenas um postulado, pois nin- I dos patológicos, a mte~sl a ent~ da função secundária. E,
guém jamais viu a função secundária da célula cerebral e ninguém 11 uz logicamente um p~o on~:dito está na função primária ~e
poderia demonstrar que e por que a função secundária deveria, em lrn, o problema propnam~n ue numa pessoa a função
princípio, exercer o efeito contrativo qualitativamente idêntico sobre I lume-se na pergunta: .don e ve:r:mqoutra fraca? Se colocarmos
as associações próximas como a função primária que, segundo sua prlrnárla é normalmente mtensa e, '
definição, é essencialmente diversa da função secundária. Há outra
circunstância que, a meu ver, tem peso ainda maior: o hábito da I'
atitude psicológica pode mudar em curto espaço de tempo num bé GROSS Üba psychopathische Minderwertigkeiten, p.
mesmo indivíduo. Se a duração da função secundária for de caráter 16. t,c., p. 12. Cf. tam m ,
físíolõgíco ou orgânico, deve ser considerada como mais ou menos O 7.
constante. É de se esperar então que a duração da função secundária

275
274
. mais importante do 552
. a função primária é para mim ~ rlmária é o fator
in~~~undária. A intensidad~ da funÇ::J isto é, da quan-
o problema na função primária, é preciso esclarecer donde provém I nçlo ende da tensão psíqulca em g ~e determina esta
a intensidade diversa e a rápida mudança que realmente ocorre na
\ 'J • ll~i:~Pacumulada e disroní~~~~::~~r d~ todos os e~tado~
intensidade da função primária. Tenho para mim que se trata de
fenômeno energético que depende de uma atitude geral. A intensi- \ çlo é um estado compdex?, á-lo humor, atenção, diSpO~l-
dade da função primária parece depender antes de tudo do grau de anteriores. podemos. eSl~rsão se caracteriza por tensao
I ectativa etc. A mtro dente função secun-
tensão da disponibilidade. Se houver grande quantidade de tensão vafun'
e~ pnm·ária intensa e correspo~ por relaxamento
psíquica, então a função primária será bem intensa, com as respec- çao ~ carac.tenza dári
tivas conseqüências. Mas se a tensão diminui ao aumentar o cansaço, I P ~longad~. A. extrfr0ve~a~o~:spondente função secun a
surgem a distração, a superficialidade de associação e, finalmente, l, unção pnmária aca
a fuga das idéias, ou seja, o estado que se caracteriza por função
primária fraca e por função secundária curta.
550 Por sua vez, a tensão psíquica em geral depende (sem considerar
razões fisiológicas como estar plenamente descansado etc.) de fato-
res altamente complexos como humor, atenção, expectativa etc., isto
é, de juizos de valor que, por sua vez, são novamente resultantes de
todos os processos psíquicos anteriores. Não entendo apenas juizos
lógicos, mas também afetivos. Em nossa linguagem técnica, deno-
minamos a tensão geral energética como libido e a psicol6gico-cons-
dente como valor. O processo intensivo está "carregado de libido" ou
é manifestação da libido; em outras palavras, um estado energético
de alta tensão. Também é um valor psicológico e por isso as
interações associativas que dele provêm são chamadas valiosas, em
contrapartida àquelas que são produzidas por efeito contrativo
menor e que nõs dizemos não terem valor ou serem superficiais.
551 A atitude tensa é bem característica do introvertido, enquanto a
atitude relaxada e fácil trai o extrovertído.V não considerados os
casos de exceção. As exceções, porém, são numerosas, inclusive em
um e mesmo indivíduo. Dê-se ao introvertido um meio ambiente
harmonioso que lhe seja totalmente favorável, e ele relaxará até a
plena extroversão, dando a idéia de estarmos diante de um extro-
vertido. Coloque-se o extrovertido num quarto escuro e silencioso,
onde todos os complexos reprimidos possam roê-lo, e ele entrará
numa tensão tal que levará ao extremo o mais leve estímulo. Assim
podem agir as situações mutáveis e transformar momentaneamente
o tipo, mas sem modificar de forma duradoura a atitude básica, isto
é, apesar da extroversão ocasional, o introvertido permanece sendo
o que era antes, bem como o extrovertido.

17. Esta tensão ou relaxamento é perceptível até mesmo na musculatura. Via de


regra, vem expressa no semblante.

277
276
fins segundo as leis da associação; mas, enquanto está sujeita à lei
ral da exteriorização 3 e se nos apresenta como algo de fora,
projetamos simultaneamente para dentro dela os processos interiores
que ela reproduz em nós e lhe damos, assim, uma animação (Besee-
lung) estética - expressão que deveria ser preferida ao termo Ein.fiih-
vn lung porque nesta introjeção dos nossos próprios estados interiores
na imagem não se trata apenas de sentimentos mas de toda espécie
de processos interiores". 4
o problema das atitudes típicas na estética WUNDT inclui a empatia entre os processos de assimilação ele- SS4
mentaresf A empatia é, pois, uma espécie de processo de percepção
que se caracteriza por transferir sentimentalmente um conteúdo
psíquico para o objeto; este é assimilado pelo sujeito ficando tão
intimamente vinculado a ele que o sujeito se sente, por assim dizer,
no objeto. Isto é possível se o conteúdo projetado estiver mais
553 DE certa forma é óbvio ue tod
vinculado ao sujeito do que ao objeto. No entanto, o sujeito não se
sente como projetado no objeto, mas o objeto "empatizado" lhe
re~acionados, direta oukdir t os os campos do espírito humano
parece animado e falando por si. Devemos lembrar que a projeção é
~~~bUição ao problema em q~e~:n~, co~ a psico~ogiadêem su~ em si e normalmente um fato inconsciente, não submetido a controle
so o, do poeta, do médico e d . epols de OUVIrmosa voz do
pal~vr~ o estetista. Por sua nature o conhece?or das pessoas, toma a consciente. Contudo, pode-se imitar conscientemente a projeção por
uma formulação condicional como, por exemplo, "se você fosse meu
e n~o lida apenas com o aspecto e~é~ est~tIca é.psicologia aplicada
e t yez em grau maior _ com a co _ as c~lsas, mas também _ pai", sendo então possível a situação de empatia. Via de regra, a
estética, Fenômeno tão fund questao PSIcológica da atitud projeção transfere conteúdos inconscientes para o objeto e, por isso,
sao e ex.n-0versãonão pOde:::~~tal como a OP~siçãoentre introver~ a empatia também é denominada transferência (FREUD)na psicolo-
ao estensra, pois a maneira comar despercebIdo por muito tem o gia analítica. A empada é, portanto, uma extroversão. WORRlNGER
define a vívência estética na empatia da seguinte forma: "Prazer
contemplados é tão diversa nas o a arte e o belo são sentidot e
faz~r-se notar. Abstraindo de :~ssoas que es!a oposição tinha que estético é autoprazer objetivado". 6 De modo que só é bela aquela forma
mais ou menos únicas ou sín umeras peculIaridades individuais com a qual se tem empatia. UPPS diz: "As formas são belas apenas
oposição que WORRINGERd gularss, há duas formas básicas d ' enquanto perdurar a empatia. Sua beleza é este meu gozar a vida,
tração (Abstrakdon).1 Sua de:t~ou empaf!a (Einjühlung) e abs~ livre e ideal, nelas"? De acordo com isso, toda forma com a qual não
temos empatia éfeia. E, assim, fica estabelecido o limite da teoria da
Ub~PS.Segundo este, empana é ~ "ob~~mp~tIa deriva sobretudo de
o ~eto distinto de mim -. ~e vaçao de mim mesmo n empatia, pois existem formas artísticas onde, segundo WORRlNGER,
nom d . , nao ImPortando s bieri um a atitude empatizante não se aplica.
e e sentImento ou não" "Q d e o o ~etIvado merece o
~~nto co~o se dele proviess~ ou ~::e~ per~ebo um objeto, experí. Trata-se das formas artísticas orientais e exóticas. De longa 555
. I o,. um Impulso para um modo d e ~stIvesse, enquanto perce- tradição, fixou-se entre nós ocidentais o ''belo natural e o verdadeiro
mtenor que parece ser dado or el etennm~do de comportamento
JO~L dá _aseguinte explicaçfo: "Ae~cO~~lcado a mim por ele".2 3. Por extemalização JODL entende a localização da percepção dos sentidos no
arnsra, nao é apenas ensejo para parIencia sensível, criada pelo espaço. Não escutamos os sons no ouvido e não vemos as cores no olho, mas no objeto
nos embrarmos de experís nClas . espacialmente localizado. JODL, Lehrbuch der Psychologie, 38 edição, 1908, vol. 2, p.
247.
4. Lc., p. 436.
1. WlLHELM WORRINGER,
2. LIPPs . Abstraktion und Einjüh1 5. WUNDT, Grundziige der physiologischen Psychologie, 58 edição, 1903, vol.;B, p.
, Leit/aden der Psychologie 28 edí _ ung, 1911. 191.
, içao, 1906, p. 193s.
6. WORRINGER, Lc., p. 4.
7. L1PPS,Ãsthetik,
p. 247.

278
279
mpatia pode gerar semelhanças e qualidades aparentemente co-
natural" como critério do belo artístico' . muns que não subsistem em si mesmas. Por isso é fácil entender que
o critério greco-romano e da art 'd' ~IS este fOIessencialmente
d va existir a possibilidade de outra espécie de relação estética com
certas formas de estilo medievalec:~~nt em ge~. (É verdade que
para com a arte em geral é em tíz rte d: exceção). Nossa atitude o objeto, ou seja, uma atitude que não vai ao encontro do objeto, mas
dele se afasta e procura garantir-se contra sua influência, criando no
ISSO,s consezuí
• õ
conseguimos dizer que algopa éante
b I esde . antig amente e, por sujeito uma atividade psíquica destinada a paralisar a influência do
forma artística do objeto for antivital e o se ânica ou empatia. Se a
objeto. Aempatia pressupõe que o objeto esteja vazio, podendo então
a,~sim~izer, não conseguimos estabele~e~org .Ica ou absu:ata, por
( Aquilo com que empatizo é vid .mpatia de nossa vida nela. preenchê-Io com sua própria vida. A abstração, no entanto, pressupõe
sóconseguimosempatizarcomfo:;o mal~ ~plo sentido". lJPPS). que o objeto esteja de certo modo vivo e ativo, e por isso procura
do a natureza e com vontade de . as orgamcas v~rdadeiras, segun- fugir de sua influência. A atitude abstrativa é, portanto, centrlpeta,
outra forma artística um estilo Vl~e:. Contudo, existe, em princípio isto é, introvertida. Ao conceito de abstração, de WORRINGER,
que se distingue da ~da e . antivida, que nega a vontade de viver' corresponde a atitude introvertida. É significativo que WORRINGER
a criação artística produ~ ~~=~esmo, ~retend~ ser belo. Quand~ designe a influência do objeto como pavor e medo. O abstrativo
abstratas, já não se trata do uere contr~as ~ vida, anorgânicas e coloca-se perante o objeto como se este tivesse uma qualidade
aterrorizadora, isto é, uma ação prejudicial ou perigosa contra a qual
de empatia, mas de uma nec~ssid:d~~tiCO onundo da necessidade
ou seja, de uma tendência ara o .e . rret~e~;e oposta à empatia, é necessário proteger-se. Esta qualidade aparentemente apriorística
do objeto é, sem dúvida, também uma projeção, respectivamente,
556 S b ..
?
necessidade de empatia no~ pare~~rr a Vl?aên· pólo oposto dessa
ser a eXLg aa da abstração" 8 uma transferência, mas transferência de cunho negativo. Devemos
" .0 r~ a psicología dessa força de abstra ão di . admitir, pois, que ao ato de abstração antecede um ato inconsciente
Quaís sao os pressupostos psíquicos d ~ ê ncla
~zWORRINGER: de projeção em que são transferidos para o objeto conteúdos de
Temos que procurá-los no sentimento ~ eXl~ d de abstração?
sua atitude psíquica para com o cosmo nov Encquantoaqueles cunho negativo.
. a exipovos, em
A • d Uma vez que a empatia, bem como a abstração, são atos cons- 558
empana tem como condição um I . . gencia e cientes, e que à segunda antecede uma projeção inconsciente, pode-
p~t~ís~a entre o homem e os r~e~~;~~e~o de confiança feliz e
mos levantar a questão se à empatia também antecede um ato
~Xlgencla de abstração é a conseqüência d os o mundo. externo, a inconsciente. Sendo a essência da empatia uma projeção de conteú-
mterna do homem devido aos fenômenos eduma grande inquietação
dos subjetivos, o ato inconsciente que a precede deve ser o oposto,
corresponde, do ponto de vista reli . o mundo externo e que
cendental muito forte de todas a IgIOSO,a ~a coloração trans- isto é, tomar o objeto inoperante. Assim, o objeto é esvaziado, é
mar este estado de s representações. Poderíamos cha- roubada sua atividade própria, é tomado apto a assumir os conteúdos
TIBUll. diz que 'De ~a tremenda agorafobia espiritual. Quando .subjetivos daquele que está com empatia. O que está com empatia
us cnou neste mundo em prí . 1 9 procura introduzir sua vida no objeto e nele quer senti-Ia; por isso é
então podemos admitir que este mesmo ~erro ugar o medo' , necessário que a autonomia do objeto e sua diferença em relação ao
também a raiz da criação artística". 1o sentimento de medo seja
sujeito não sejam grandes demais. O objeto é por assim dizer
557 É verdade que a empatia pressu õe Ii . despotenciado e supercompensado pelo ato inconsciente "que ante-
ça do sujeito no objeto A empati ~ uma S? icítude, uma confian- cede à empatia porque, de imediato, o sujeito se coloca incons-
ao encontro, que tr~sfere o c~nt ~ mo~e~to solícito que vai cientemente acima do objeto. Isto só pode ocorrer inconscientemente
provocando uma assimilação SUbjeti:Ud0t:sUbJJtlVOpara o objeto, por um fortalecimento da importância do sujeito. Pode ser por uma
e~tendimento entre sujeito e objeto a e azen °af°m que haja bom fantasia inconsciente que desvaloriza e enfraquece o objeto, ou
s~ula. l!m objeto passivo se deixa' :s~k~entu b~e?te, também o soergue e coloca o sujeito acima do objeto.
nao modifica de modo al ..ar su ~etlvamente, mas
Só assim aparece aquela diferença de nível, necessária à empatia, 559
disfarçadas pela transf:::n ~uas realalsqualidades. Estas são apenas
ncia ou, t vez mesmo, violentadas. A para transferir conteúdos subjetivos ao objeto. O abstrativo s~!lte
estar num mundo apavorante que procura esmagá-Io; por ISSO,
8. WORRINGER, Le., p. 16. retrai-se em si mesmo e tenta encontrar a fórmula redentora que
9. Primum in mundo fecit deus rimorem eleve seu valor subjetivo a tal ponto que esteja, no mínimo, à altura
10. WORRINGER, Lc., p. 100. .

281
280
da intluência do bi
o ~eto. A pessoa com e .
num mundo que precisa de seu sen . mpan~, ~o contrário, está
a1m~. Empresta-lhe cOnfiantementen:~nto ~ubJenvo para ter vida e I envolto em fumaça. O mundo inteiro será consumido pelo fogo.
tratívo se retrai desconfiado dí lDlaçao, ao passo que o abs- mundo inteiro estremece".
constrói, com abstrações par~ .Iante dos demônios dos objetos e É esta visão aterradora e triste do mundo que leva os budistas a 564
560 S ,SI mesmo, um antimund ima atitude abstrativa, da mesma forma que Buda, segundo a lenda,
e lembrarmos o que ÍI . di o protetor.
reco~ecer na empatia o mec~;o dno capítul~ anterior, é fácil I levado a seu caminho por impressão semelhante. A animação
o da mtroversão. "A grande in uie~ ~ e~ov:ersao e, na abstração dinâmica do objeto como base da abstração vem muito. bem expressa
aos fenômenos do mund q açao mtenor do homem deVI'd' n linguagem simbólica de Buda. Esta animação não resulta da
d o externo" n d . o mpatia, mas corresponde a uma projeção apriorlstica inconsciente,
to o estímulo, medo próprio d . a a m~ls é do que o medo de
sensação e realização mais ro o mtroverndo que, devido à sua uma projeção que existe praticamente desde o início. O termo
mudanças muito rápidas e viJen=~as, tem verdadeiro pavor de "projeção" parece inadequado para designar corretamente o fenôme-
servem t~bém ao fim declarado de co~stímulo~. Suas abstrações no, Projeção é, na verdade, um ato que acontece e não um estado
geral, o Irregular e o mutável I" ar, medIante um conceito existente desde o início; do qual estamos falando aqui. A meu ver, a
que este procedimento, essenc~:n=es da. legalidade. É evidente expressão ''participação "mística" de LÉVY-BRlJHL,é mais adequada
me!lte desenvolvido nos prímítív .mágICO,se encontra plena- a este estado. porque formula a relação original do primitivo com seu
mais valor mágico do que estén' os, cujas formas geométricas têm objeto. Seus objetos têm animação dinâmica, estão carregados de
co. matéria ou força anímica (mas nem sempre dotados de alma, como
561. WORRINGER diz com razão' "A pretende a hipótese animista) e exercem influência psíquica direta
Jogo .mutável dos fenômenos do ~un~~rment~dos pela confusão e
sobre as pessoas, produzindo nelas como que uma identidade dinâ-
dommados por uma necessidade extenor, esses POVo.seram
mica com seu objeto. Por isso, em certas llnguas primitivas, os objetos
que procuravam na arte não c ~bs.oluta de repouso. A felicidade
co~sas do mundo exterior o onsisna t~to em mergulharem nas de uso. pessoal têm um gênero que designa vida (o sufixo de estar
objeto individual de sua con~ n~~c~e del~Itm:em, mas em retirar o vivo). Também para a atitude abstrativa, o objeto é animado e ativo
a priori, e não precisa da empatia; ao contrário, exerce influência tão
eterno pela aproximação a fon!as a~sarbitrária e ~parente, torná-Io
forte que leva à íntroversão. A grande e inconsciente carga de libido
lugar de repouso na fuga dos c. A trat,~ e, assim, enco.ntrar um
Lenomenos" que o. objeto possui origina-se de sua "participação mística" do
562 "Estas formas abstratas e de aco d . ._ inconsciente daquele que tem uma atitude íntrovertída, Isto se deduz
e as melhores onde o homem od r o com a lei sao, poís, as únicas claramente das palavras de Buda: o fogo.do.mundo. é idêntico. ao.fogo
confusão dada pela imagem do ~U:d d~sl~ansar em face da terrível da libido. do sujeito, à sua paixão. ardente, mas que a ele se apresenta
563 . Confo.rme WORRINGER, _ ti o . como. objeto porque não foi diferenciada numa função subjetiva
tais que apresentam uma atin::; ~s o~as de arte e religiões orien- disponível.
mun~o. deve parecer diferente ao . tratlva em.relação ao mundo. O A abstração parece uma função que luta contra a "participação 565
do. ocidental que anima seu objet~n::tal relanyamente à percepção. mística" primitiva. Ela afasta do.objeto para destruir os vlnculos com
objeto é animado a priori é . m empana. Para o oriental o ele. Leva; por um lado, à criação de formas artísticas e, por outro, ao
dele e abstrai suas impre~sõ:~p~nori e por .is!o ele se retrai di~te conhecimento do objeto. A função da empatia é também a de ser um
temo.s no Sermão do fogo de B~da~~;'e~te visao da atitude oriental órgão de criação artística e de conhecimento. Mas ela tem lugar em
todos os sentidos estão em ch . u. o está em chamas. O olho e bem outra base do que a abstração. Esta se baseia no. significado e
ao fo.go do ódio, devido ao fog~:Ss:VI~o .ao.fo.go..do.amor, devido força mágicos do objeto; a empatia se funda no significado mágico
e a morre, a dor e a lamentação. a aflí ~çao, o.~asclDlento., a velhice do sujeito que se apodera do objeto mediante uma identificação
o acenderam. _ O mundo inte.' láçao,o sofrimento e o desespero mistica. o. primitivo, por um lado, é influenciado magicamente pela
IrO est em chamas . O mund' o mteIro. .
força do fetiche, mas, por outro, é também o feiticeiro e acumulador
11. t.«, p, 18. da força mágica que fornece "carga" ao fetiche. (Cf., neste sentidô, o
12. t.«, p.2I. rito Curinga dos australianosI3). A despotencíação inconsciente do

13. SPENCER e G1LLEN,The Northem Tribes of Central Australia, 1904.

282
283
-~

.Ii,l~ftll tio algo necessário e irremovível, ser libertado do acaso do ser


objeto que antecede ao ato da empatia é igualmente um estado , IIIIIIIHIO em geral, da aparente arbitrariedade da existência orgânica
duradouro de menor acentuação do objeto. Mas no tipo empático os 1111111\\", Perante esta quantidade impressionante e estonteante de
conteúdos inconscientes são idênticos ao objeto e fazem com que este li\'" u" nnímados, o homem cria para si uma abstração, isto é, uma
pareça sem vida e sem alma,14 por isso a empatia é necessária ao !i!lolll,11Il abstrata universal em que limita as impressões numa forma
conhecimento da essência do objeto. Poderíamos então neste caso H.,. HlIlnimagem tem o significado mágico de uma proteção contra
falar de uma abstração inconsciente, sempre à disposição, que IIll1llUl'lçacaótica da vivência. O homem mergulha tão profunda-
apresenta o objeto como desprovido de alma. A abstração tem sempre pll'I\II!Cl nela se perde que, ao final, coloca sua verdade abstrata acima
este efeito: mata a atividade independente do objeto na medida em ILI 1l11111dade da vida, e a vida, que poderia e~torvar o gozo da beleza
que esta se relaciona magicamente com a psique do sujeito. Por isso, 1'lIln,é de todo reprimida. Ele mesmo se toma abstração, ele se
o abstrativo a utiliza conscientemente, para proteger-se contra a '"'llllnca com o valor eterno de sua imagem e nela se fixa, porque
influência mágica do objeto. Também a relação de confiança que o 1I'I1I1sformoupara ele em fórmula redentora. Renuncia, desse
empatizante tem com o mundo provém da não-animação apriorístíca 10, n si mesmo e transfere sua vida para sua abstração na qual,
do objeto: nada há que o possa influenciar hostilmente ou oprimir, lia forma, fica cristalizado.
pois só ele dá vida e alma ao objeto, ainda que para sua consciência medida, porém, em que o empatizante traz para dentro do 567
a situação pareça exatamente oposta. Para o abstrativo, porém, o lu sua atividade e sua vida, ele mesmo se entrega ao objeto uma
mundo está cheio de objetos que atuam poderosa e, por isso, lue o conteúdo empatizado representa parte essencial do sujeito.
perigosamente; sente medo e, consciente de sua impotência, foge de 1'1I~ fiO coma o objeto, ele se identifica com ele e, portanto, sai de si
um contato muito estreito com o mundo para então criar aquelas 11111"1110. Na medida em que se objetiviza, ele se desubjetiviza. WOR-
idéias e fórmulas com as quais espera dominar a situação. Sua
IIINtlllR diz: "Ao empatizarmos esta vontade de agir num outro
psicologia é, portanto, a do oprimido; ao passo que o empatizante se
1IInlo,estamos dentro desse outro objeto. Somos libertados de nosso
coloca diante do objeto com segurança apriorístíca, pois, devido à I Individual enquanto nos abrimos, com nossa compulsão interna
sua não-animação, é inofensivo. Esta caracterização é esquemática e \" Ilxperiência, para um objeto externo, para uma forma externa.
não pretende delinear a natureza toda da atitude extrovertida ou utlmos, também, nossa individualidade fluir para limites estreitos,
introvertida, mas apenas sublinhar certas nuances cuja importância,
111 uposição à diferenciação ilimitada da consciência individual.
contudo, não é desprezível. Ia auto-objetivação há uma auto-renúncia. Esta afirmação de
566 Assim como o empatizante se compraz no objeto sem estar disso Ilullla necessidade individual de agir coloca, ao mesmo tempo, uma
consciente, o abstrativo, sem o saber, contempla a si mesmo ao 1I111llnçãoa suas possibilidades ilimitadas, uma negação de suas
refletir sobre a impressão que lhe advém do objeto. O que o empati- IIItlronciações irreconciliáveis. Com esta nossa compulsão interna de
zante transfere para o objeto é ele mesmo, isto é, seu próprio I', ficamos nos limites dessa objetivação" .16 Assim como para o
conteúdo inconsciente; e o que o abstrativo pensa sobre a impressão trntívo a imagem abstrata representa um engaste, um muro
que recebe do objeto ele na verdade o pensa sobre seus próprios IlIllletor contra os efeitos destrUtivos dos objetos inconscientemente
sentimentos que nele surgiram a partir do objeto. É claro, pois, que llhnados,17 a transferência para o objeto é para o empatizante uma
as funções fazem parte de uma verdadeira apreensão do objeto, bem IlI'uleção contra a dissolução, por fatores internos subjetivos que
como de uma criação realmente artística. Ambas as funções estão II1ls1stemem possibilidades ilimitadas da fantasia e correspondentes
sempre presentes no indivíduo, só que, na maioria das vezes, estão iupuleos à ação. Segundo ADLER,assim como o neurótico introver-
desigualmente diferenciadas. WORRINGER considera a tendência à t Ido se fixa numa "linha de conduta fictícia", o neurótico extrovertido
auto-renúncia 15 como raiz comum dessas duas formas básicas da llolsrraao objeto de sua transferência. O introvertido abstrai sua
vivência estética. Pela abstração, o homem procura, "na contem-

16. t,c., p. 27_


14.Porque os conteúdos inconscientes do próprio empatizante estão relativamen- 17. FR. TH. VISCHER dá, em seu romanceAuch Einer, descrição bem acertada dos
te sem vida. 111111'\08
vivificados.
15. L.c., p. 26.

285
284

Il
"linha de conduta" de suas boas e más experiências do objeto e confl sce também a importância do inconsciente. E ele começa a
na fórmula como proteção contra as possibilidades ilimitadas da vid . I II 111 r sintomaticamente a função dirigida, iniciando-se aquele
568 Empatia e abstração, extroversão e introversão são mecanismo ~ li 1 vicioso característico de certas neuroses: a pessoa procura
de adaptação e proteção. Enquanto possibilitam a adaptação prot • I I 1 I sar as influências inconscientemente perturbadoras por prés-

gem as pessoas dos perigos externos. Enquanto foremfúnções dirigi- I peciais da função dirigida, e esta competição pode eventu-
das18 libertam as pessoas de impulsos ocasionais; na verdad , 111 1\ levar a um colapso nervoso. A possibilidade de
protegem-nas inclusive disso por lhes tomarem possível a auto-re- I I núncia pela identificação com a função dírigída não está
núncia. Mostra a diutuma experiência psicológica que muitas pes- I I na limitação unilateral a uma das funções, mas também no
soas se identificam plenamente com sua função dirigida (a função I It 1 essência da função dirigida ser um princípio que exige a
"valiosa"), e estas pessoas são, entre outras, os tipos de que falamos j I núncia. Cada função dirigida exige a exclusão pura e simples

aqui. A identificação com a função dirigida tem uma indiscutível I I 1 que não lhe serve: o pensamento exclui todo sentimento
vantagem: permite à pessoa adaptar-se, da melhor forma, às expec- I I uado e o sentimento exclui todo pensamento inadequado. Sem
I 1I I ir todo o demais, a função dirigida não pode realizar-se. Por
tativas e exigências coletivas e ainda sair do caminho de suas funções
inferiores, não diferenciadas e não dirigidas por meio da auto-renún- " 1 do, a auto-regulação do organismo vivo exige naturalmente
IJ onízação do ser humano; por isso a consideração das funções
cia. Além disso, a "abnegação" é uma virtude peculiar sob o ponto
11 111) favorecidas se impõe como necessidade vital e tarefa inevitá-
de vista da moral idade social. No outro lado, porém, está a grande
desvantagem da identificação com a função dirigida: a degeneração I I ducação do gênero humano.
do indivtâuo.
569 Sem dúvida o homem é capaz de grande mecanização, mas não
a ponto de entregar-se completamente a ela sem graves prejuízos.
Quanto mais se identifica com uma das funções, tanto mais ele a
carrega de libido e tanto mais libido ele retira das outras funções.
Estas suportam por longo tempo um desfalque de libido, mas um dia
vão reagir. Enquanto são privadas de libido, entram aos poucos sob
o limiar da consciência, sua conexão associativa com a consciência
se toma frouxa e, assim, mergulham gradativamente no incons-
ciente. Isto equivale a um desenvolvimento regressivo, ou seja, um
regresso da função relativamente desenvolvida a um nível infantil e,
por fim, a um nível arcaico. Mas como o homem só passou relativa-
mente poucos milênios no estado cultural e muitos milênios no
estado inculto, os modos arcaicos de função ainda mantêm condições
de vida e são facilmente reativados. Quando, pois, certas funções são
desintegradas pelo despojamento da libido, entram em atividade seus
fundamentos arcaicos que estão no inconsciente.
570 Este estado significa uma díssocíação da personalidade na me-
dida em que as funções arcaicas não têm relacionamento direto com
a consciência, portanto não existem pontes transitáveis entre cons-
ciência e inconsciente. Quanto mais longe for a auto-renúncia, tanto
mais longe também avançará a arcaízação das funções inconscientes.

18. Cf. para o pensamento dirigido, JUNG, Súnholos da Tronsformação (Obr.


Compl. V). Na edição alemã p. 75.

286 ']2,7
-,

572
Mi', parte então para a caracterização dos dois temperamen-
1 como no âmbito dos modos e costumes há pessoas
I nais e liberais, no âmbito político há autoritários e anar-
1" ,I beletrlstica há acadêmicos e realistas, na arte há clássicos
"11\ II os, também encontramos conforme JAMES, na filosofia,
".1 I : o "racionalista" e o "empírico". O racionalista é o "adora-
I ) Indpios eternos e abstratos". O empírico é o "amante dos
vm II toda a sua rude variedade".
3
Ainda que ninguém possa
r nem fatos e nem princípios, resultam, contudo, pontos de
m distintos, dependendo do peso que foi atribuído a este ou
o problema dos tipos na filosofia moderna 1 do. JAMES coloca o "racionalismo" como sinônimo de
\ ,tualismo" e o "empirismo" como sinônimo de "sensualismo".
I V r, esta correspondência não é válida, mas deixemos a crítica
I pois e sigamos o pensamento de JAMES. Segundo pensa, ao
alismo está vinculada uma tendência idealista e otimista,
'o o empirismo se inclina para o materialismo e para um
1. os TIPOS DE JAMES 1110relativo e incerto. O racionalismo (intelectualismo) é
monista. Começa com o todo e universal, e une as coisas. O
571 TAMB~M .na nova filosofia pragmática foi descob .. , I I rlsmo, ao contrário, começa com a parte e faz do todo uma
. de ~OIStipos. Deve-se a descoberta a WILLIAM erta a e-JQSt~n~~a " I ,dI ea. Poderia ser denominado pluralista. O racionalista é pessoa
histõria da filosofia se constitui d JAMESque diz: A
de temperamentos humanos" (i
em .&:an e parte, de certo conflito nllmentos, o empírico é um cabeça-dura. O ~rimeiio está
quer que seja o temperamento d~s;;:::lçoes caracter~lógicas).1 "Qual- 11 I1 lroente inclinado a acreditar na livre vontade, o segundo, no
ao filosofar, esconder a realidade d filósofo profissional, ele tentará, I I I mo. O racionalista é facilmente d0f!1ático em suas consta-
seu temperamento que lhe dá um .endor te~peramento. Contudo é , o empírico, ao contrário, é cético. JAMES designa o racio-
outra de suas premissas estrit~ent or :al~ forte do que qualquer I 11\ t como "tender-minded" (de espírito suave e delicado) e o
evidência para um ou outro lado d ; o ~etlv.a~.Ele
ou mais dura do universo ';Jquer' se~a um o umatoa visao mais sentimental
=
pender a I 1I O como "tough-minded" (de espírito tenaz, rude). Pretende,
110, destacar a qualidade fundamental de cada mentalidade. A
f ou um prí íní EI
confiIa em seu temperamento D . d . nnc pio. e I , teremos ocasião de examinar mais de rperto esta caracte-
adequado a seu temperamento . acredita o um universo que seja I ' • o. Interessante é o que diz JAMES sobre os preconceitos que os
do universo que lhe seja ade uad A a em qualquer representação I 1 alimentam um contra o outro. "Têm baixo conceito um do
mento oposto não está afinad~ a. Ch: que a pessoa de tempera-
I .Seu antagonismo fez parte da atmosfera filosófica em todas as
incompetente
os e 'não por dentrovdr o car ter dofílosõfi
assuntos mundo oe a considera
. d LI a, Também faz parte da atmosfera de hoje. O tenaz acha o
o exce da de longe na capacidade dialéti M . c s, ain a que
não pode exizir com base ca. as na discussão pública I \I do sentimental; o delicado diz que o tenaz é grosso, calejado
. . o+» apenas em seu tem . bruto. Cada tipo considera o outro inferior',.5
d iscerrnmento ou autoridade P . há peramento, maior
nas nossas discussões filosó·fic~~.lsso certa !alta de .sinceridade
nunca é mencionada".2 ' nossa premissa mais poderosa

. t,c., p. 9.
i.PW.JAMES
1911,.. 6' Pragmatism.AN ew ••ome
Ar
Por Some Olâ wcys of Tninki ~ 10 d
n~ 4.I.e., p. 10s.
. t.c., p. 125.
2. L.e., p. 7s. '

289
288
573 JAMES coloca
relacionadas: as qualidades de cada um em duas colunas
I I 11'1 e jamais abandona a região terrena, mais sólida, dos
Tender-minded
I rtaruga ou outros dados positivos".7 Mas desse comen-
t
Tough-minded , I tI podemos concluir que JAMES se incline unilateralmente
nsar concreto. Valoriza ambos os pontos de vista: "Eviden-
Racíonalísra (segue princípios)
Empírico (segue fatos) 19 fatos são bons - dêem-se-nos quantidades de fatos. Os
mtelectualista
idealista sensualista são bons - dêem-se-nos princípios em abundância".8 Um
otimista materialista apenas o que ele é em si, mas também como nós o vemos.
religioso pessimista
irreligioso JAMES denomina o pensar concreto ''thick'' ou ''tough'', quer 576
indetenninista
monista detenninista, fatalista II para ele, esta forma de pensar tem algo de substancial e
I

dogmático pluralista " I I I1t ao passo que o pensar abstrato lhe parece algo fraco, fino
I
cético I II Ido, talvez mesmo, segundo a interpretação de FLOURNOY,
574 , I ntío e decrépíto. Tal concepção só é possível quando se
Esta relação toca em vários robl
t .
capítulo sobre o nominalismo e real ~mas q~e Já enco~tramos no
certos traços em comum com alo ismo, O 'tender-mmded" tem
1 I uma vinculação a priori da susbtancialidade com o fato
I I ,o que é, como dissemos, questão de temperamento. Quando
11 idor "empírico" atribui a seu pensar concreto uma substan-
nominalista. Confonne disse a~~e ista e.o ''tough-minded'', com o
cípío da introversão e o. nomí al~' o realismo corresponde ao prín- ti resistente, representa do ponto de vista abstrato uma
C ertamente a controvérsia sobre m ismo ao príncípí d , pois a substancial idade, a "dureza" cabe ao fato exterior e não
os . . pIO a extroversão.
1 snr "empíríco", Este, inclusive, se mostra particularmente
daquele conflito histórico de te unIversaIS também faz parte
refere JAMES. Essas rela ões 1 mperamentos na filosofia a que se 11
f débil porque não consegue afirmar-se diante dos fatos
_, 111 S, mas sempre depende dos dados sensíveísr'corre atrás deles
é introvertido e o ''tough-~ind:~~ a pensar. que o ''tender-minded''
se esta atribuição é correta ou ~ extrovertido. Mas resta examinar I IJ qüentemente, mal pode elevar-se acima de uma atividade
nao. III I I nte classificatória ou descritiva. Na ótica do pensar, portanto,
575 ~ Pe~omeu conhecimento - aliás Ií . . I 11 mento concreto é algo muito frágil e insubsístente, porque
nao fOIpossível encontrar d fino ~ umtado - dos escntos de JAMES rança não está nele mesmo, mas nos fatos externos que se
e içoes e desc . -. ,
ambos os tipos ainda que &_1' nçoes mais precisas de 1 I P m ao pensamento enquanto valores condicionantes. Este
.' rare mais vezes das du &
e as d ormne às vezes "thín" (fin) "thíck" as rormas de pensar 11 I se caracteriza por uma série de representações ativa das pelas
traduz "thín" por "mince té a e. ick (grossa). FLOURNO~ 11 ç es colocadas em movimento menos por uma atividade pen-
magro, débil) e ''thick'' p~r ,,;u,. malre, ché~' (delgado, tênue ut interior e mais pela mudança das percepções sensíveis. Portan-
sólido, maciço, opulento). JAMk~I::U:X~~de,massif, ,cossu" (espesso: I , uma série de representações concretas, condicionadas por
a expressão "soft-headed" literal r;!
usa para 'tender-minded" 1 I' pções sensíveis, não é exatamente aquilo que o abstrativo
como ''tender'' mol delí d mente de cabeça mole". "Soft" é I III ria de pensar, mas, na melhor das hipóteses, seria uma
. ,e, e ica o suave afá 1 '
frágil, amortecido de ouca fi' ,ve. ' _manso, portanto algo I t pção passiva.
cujas qualidades de re~stênci:r~~Íi~: °d~lIfl~ a ''thick'' e ''tough''
natureza da matéria. FLOURNOY I! c e mudar, lembram a temperamento que privilegia o pensar concreto e lhe atribui 577
da seguinte maneira' "É a op . _exp rca as duas formas de pensar hllt ncialidade se caracteriza pelo predomínio das representações
". . osiçao entre a form d 11 ív lmente condicionadas em oposição à atividade de apercepção
cronISta - IStOé, puramente lógica e díalé . _ a e pensar abstra-
mas que não inspira confian al euca, tao cara aos filósofos Ilv que procede de um ato subjetivo de vontade e que procura
J I nar essas representações sensíveis segundo as intenções de uma
frágil, oca, 'reles' porque mt~to ~: ~ J~S e que lhe parec~
particulares - e a forma de pen a a o contato das coisas I I Idéia. Dito de forma mais breve: este temperamento se interessa
sar concreta que se nutre de fatos da

7. I'LOURNOY, l.c.
6. rn. FIDURNOY, La Philosophie de W. James 1911
, ,p..
32
O. JAMES, Lc, p. 13.

290
291
\

mais pelo objeto; o objeto é empatizado, ele se comporta quase


a.utonomamen~eno mundo das representações do sujeito e atrai para I I d des ou, ao menos, limitam-nas em alto gra~. Daí provém
SIa compree?sao. Este ten;tperamento é, pois, extroversivo. O pensar I I I o a fantasia, a atividade mais livre do ~spírito,. nao pode
do extroverríde é concretista. Sua firmeza não está nele, mas, até II I I P 10 ilimitado (mesmo que o poeta assim ~ sinta), mas
certo ponto, ~ora ~ele, nos fatos empatizados, donde provém igual- I• presa a possibilidades pré-formadas, ou seja, a zmage~
mente a qualíficaçao de JAMES,''tough''. Quem se posiciona sempre ",t Vt ou imagens originais. Os contos de fa?as de pov~s os m~ls
do lado do pensar concreto, isto é, do lado das representações fatuais, 11 I 1 os mostram, pela semelhança dos n;totiVOS, esta ~culaçao
a este lhe parece a abstração algo frágil e débil, porque a compara • Imagens primitivas. Até mesmo as imagens que tem como
com a firmeza dos fatos concretos, dados pelos sentidos. Mas para Ias científicas apresentam tal restrição como, p~r exempl?,
quem está do lado da abstração, o decisivo não é a representação I., energia com suas transformações e constância, a teona
VInculada aos sentidos, mas a idéia abstrata. 11 I, a afinidade etc. ,
578 ím como predomina no espírito do pe~ad~r concret~ a
Segundo a opinião corrente, a idéia nada mais é do que uma 579
abstração de ce~a soma de experiências. E nesta linha gostamos de 1'1 • I tação pelos sentidos e é esta que traça a dIre~z, predo~ma
co?ceber o espírito humano como tabula rasa (quadro vazio) que 1r to do pensador abstrato a imagem sem co~teudo e, p.orl~SO,
vai-se preenchendo pelas percepções e experiências do mundo e da II I 11 presentável. Esta im~gem perm~ece relativamente mativ~,
vida. A partir desse ponto de vista, que é o da nossa cientificidade I 11111 to o objeto é empatízado e, ~SSlm,elev~do a fator determi-

empírica, no sentido mais amplo, a idéia não pode ser outra coisa do I I do pensar. Mas, se o objeto nao é empa~do, perd~ndo sua
~ue a,bstr~ção epifenoI?enal. e a posteriori das experiências e, por I J I I d rância no processo do pensar, ~ .ener~a que .fOInegada
ISSO,~ .malS~fraca e mais pálida do que estas. Sabemos, porém, que J • novamente para o sujeito. °
sujeito é inconscientemente
o espínto nao pode ser tabula rasa, pois a crítica de nossos princípios 11 I 1zado e, assim, são despertadas as imageJ?spré-formadas que
do.pensar mostra que certas categorias de nosso pensar são dadas a I rmitavam: entram como fatores operanvos no processo do
prtort, lS~Oé! antes de qualquer experiência, e surgem juntamente I I I em forma não representável, quais diretores de cena ar:ás
com o pnmeiro ato pensante e são, inclusive, condições pré-formadas 111 I 'tidores. Por serem meras possibilidades a?vada~ de função,
deste. O que f?i demonstr~do por Kant no tocante ao pensar 16gico j m conteúdo, por isso não são represent~vel~ e estao à procura
vale, em âmbito bem maior, para a psique. A psique é tão pouco I J llzação. Elas puxam a matéria da expen~ncla para dentro de
tabula rasa no início quanto o espírito (o lugar do pensamento). É I rma; não apresentam os fatos ~as ~ SI mesmas nos fat~s.
certo que faltam os conteúdos concretos, mas as potencial idades de I V /lt m-se praticamente dos fatos. Nao sao um ponto de partida
conteúdo são dadas a priori pela disposição funcional herdada e I1 ido como o fato empírico no pensar concreto, mas se tom~
pré-fo~ada. Ela é s~plesmente o resultado dos modo~ de função I J Plíveis unicamente pela configuração inconsciente do matenal
cerebrais dentro da linha geneal6gica, uma sedimentação das tenta- ~J 'i mental. Também o empírico pode articular e dar. forma a seu
nvas de adaptação e das experiências da linha filogenética. O cérebro 11 I ia! experimental, mas o fará segundo um conceito concreto,
ou ~istema funcional recém-formado é, portanto, um instrumento 111 b se em experiências passadas.
antigo, prePaz:a~~ para finalidades bem específicas, que não tem abstrativo porém, configura tudo segundo modelos incons- 580
~;ra.aperceptib~ldade passiva, mas que ordena ativamente as expe- Ilt S e só experimenta a posteriori a idéia a que deu fo~a, atr~vés
nencias e as obriga a certas conclusões e juizos. Este ordenamento nômeno por ele configurado. De acordo com s~a psicologia, o
r:
ão acontece por acaso ou arbitrariamente, mas segue condições
11 )1 lco está sempre inclinado a supor que o abstratívo configure?
~gorosamente ~ré-formadas que não são transmitidas pela experiên- 111 l íal experimental arbitrariamente e segundo pressupostos pálí-
CIacomo c~nteu.?o~d,~compreensão, mas são condições a priori da I ,fracos e insuficientes, pois avalia o processo do pensament~ do
co~pr~ensao. S~o idéías ante rem (antes da coisa), condições for- I Hl tivo de acordo com seu próprio mo~o ?~ pro:eder. A prem.lssa
mais, linhas básicas traçadas a priori que dão à matéria da experiên- IJ II riamente dita, a idéia ou a imagem pnmrnva, s~o desconhecidas
cia uma configuração~específica de modo que possamos entendê-Ias, bstratívo tanto quanto o é a teoria para o empírico, que somente
a exemplo de PLATAO,como imagens, espécie de esquemas ou 1 borará ~p6s muitas experiências.
possibilidades funcionais herdadas que, no entanto, excluem outras

292
293
, ' a da e eriência; os resultados
581 Conforme anunciei em capítulo precedente, o empíríco vê o 11 11 tnm com o ~~~~~e ;esent:J'ão da idéia psicológica.
objeto individual e se interessa por seu comportamento individual; segundo s , ' co atual é unilateralmente con- 582
o abstrativo vê, em primeiro lugar, a relação de semelhança dos I 1 que nosso espírito científl ão daquele que apresenta a
objetos entre si e se coloca além da individualidade dos fatos, porque " lI\plrlco, não sabe apreCIar ~ ~ç portantes do que o conheci-
lhe parece mais conveniente e tranqüilizador o conectivo e o homo- I \ I I IE os fatos ~ã~ para ele mal~s~ mente humana os compreeu-
gêneo na fragmentação da multiplicidade. Para o primeiro, a relação I ormas pnIOluvas, nas qua 'é uma conqUIsta
I I lado do concreUsmo ul d
de semelhança é algo cansativo e perturbador que o impede inclusive n linação para o d é oca do Iluminismo. Os res ta os
de conhecer a singularidade do objeto. Quanto mais empatiza com I I I V I nte n~va, dat~do a, ~veis mas levaram a uma acumil-
o objeto singular, tanto mais conhece suas propriedades e tanto mais \ nvolVlffiento sao admír 'd de foi causando aos poucos
desaparece o fato de uma relação de semelhança com outro objeto material empírico cuja quantt á~el foi o surgimento de um
qualquer. Mas se conseguir empatizar também com o outro objeto, nfusão do que elareza. InedVlt mitolo.na de especialistas
estará em condições de captar e sentir a semelhança dos dois objetos ientífi co e, com ISSO
lsmo cien e uma
"al'dade O'
A preponder âncicia do
em grau bem maior do que aquele que os viu apenas de fora. Devido orte da unrvers 1, 's
nificaram a m ressão do pensar aUVO,ma
ao fato de só conseguir empatizar primeiro com um objeto e depois li mo não significa a~en~s ~ ~~~rias dentro de uma disciplina.
com o outro - o que é sempre um processo demorado - o pensador I 111 um perigo para a cnaçao e~ais favorece o apareciment? de
concreto só chega devagar ao conhecimento das semelhanças entre I ncía de pontos de vista g A ' de pontos de vista empíricos.
eles e, por isso, o pensamento dele parece muito lento. Sua empatia, ' tanto quanto a ausenCla ,
m 1ncas, " d JAMES de "tender-mm- 583
no entanto, é ágil. O abstrativo, porém, capta com rapidez a seme- ,,~
de opmlao qu e a termmologIa e ,
,~ unilateral e mo nofund o,
lhança, substitui os objetos individuais por características gerais e , d d" contém uma Vlsao ' ,
,,\ I" "tough-mm e, , Mas ficou claro, em nossa expos~-
configura esse material experimental segundo sua própria atividade I II I I)raei~d~dum ~(prdec~=~)~ata dos mesmos tipos que denoml-
mental que, no entanto, está tão fortemente influenciada pela ima- I lU a upificaçao e ,
gem primitiva "indeterminada", como o pensar concreto pelo objeto. Illll overtido e extroverndo.
Quanto maior a influência do objeto sobre o pensar, mais gravará
seus traços na imagem pensada. Mas, quanto menor a atuação do
objeto na mente, com tanto mais força a idéia apriorística gravará • OS pARES DE OPOSTOS CARACTEIÚSTICOS DOS
seu selo na experiência. A importância desmesurada do objeto . TIPOS DE JAMES
empíríco criou, na ciência, uma espécie de teoria especializada que,
na psiquiatria, por exemplo, surgiu como a famosa "mitologia cere- JAMES aduz como caracterlstica
bral", pela qual se tentou explicar uma região experimental mais . íro par de opostos que , ,
O
n) i Pdnmen'posé racionalismo versus empmsmo.
ampla a partir de princípios que podem ser adequados para explicar I ru va os
certos complexos de fatos bem limitados, mas totalmente insuficien- , 'á atei dessa oposição e a designei
584
tes para qualquer outro uso. Inversamente, porém, o pensamento nforme o leItor percebe, J ,tr, t rmo "racionalismo" porque
abstrato, que só aceita o fato individual por causa da semelhança 1 gísmo versus empms , ' mo .~"
EVltelO' eal" quanto o pensar 1ideo 16-
com outro, cria uma hipótese universal que, apesar de apresentar a usar empírico concreto é ta~ raclO~rmas. E além do mais, não
idéia de forma mais ou menos pura, tem a ver com a essência dos tivo A razão comanda am a,s as o s também um racionalismo
fatos concretos tanto, ou tão pouco, quanto um mito. Levadas a , , ali mo lózíco ma , lõzi
, apenas um racion ~s ,0.0 ~m si é uma atitude pSICO gI,ca
extremo, ambas as formas de pensar geram mitologia. Uma se IIIlmental, porque o raclon~sm tir Parece-me que este concelto
manifesta concretamente através de células, átomos, oscilações e de sensatez do pensar e o s~r: ~onsciente à concepção histé-
coisas afins, a outra por meio de idéias "eternas". O empirismo , aliismo "stá
IIr cion e numa,,'Oposlçao '16' gIco" e, res-
nalista" como "ideo
extremo tem ao menos a vantagem de apresentar os fatos da forma I (·u.filosófica que, ent~nde racI~ rimado da idéia. Para os filósofos
mais pura possível. O ideologismo extremo, por sua vez, tem a I ('llvamente, ra~lOnall~mo cO~euPo caráter puramente ideal e vem
vantagem de espelhar, com a máxima pureza, as formas apriorísticas, \1\(1 mos, a mno (razao ) p~r ulso querer e até mesmo como um
as idéias ou imagens primitivas. Os resultados teóricos do primeiro I gnada como faculda de, imp ,

295
294
sentimento ou método. Contudo, psicologicamente considerada, ela
é uma atitude comandada, segundo UPPS, pelo "sentimento de fr ossivelmente, ainda mais do
I gía das facuIdades e so e, P6 'a razão fantasia etc., da
objetividade". De acordo com BALDWIN,9 ela é o "princípio consrí. tí os como mem n , , . I aia
tutívo e refiiU.!adordo espírito". HERBARTdiz ser ela a "faculdade de nceitos an g,. da têm a ver com pSlCO00- ,
/I dos ponto~ de vista 16gLCO~~~~e~~os psíquicos que abran~er,
reflexão". SCHOPENHAUER diz que a razão s6 tem uma função, I mais vanados forem ~s d Se do ponto de VIsta
ou seja, "a fonnação do conceito; e por meio desta única função I bi ário vai se toman o... , . as
esclarecem-se, facilmente e de per si, todos os fenômenos mencio- ) I Ilnido e ar itr õría razão ou fantasia, m
I' logía científica não houv~r :er:suas' conexões entre si que a
nados acima, que distinguem a vida dos homens da dos animais, e I I iJl'0cessosps(quicos elemen a bitrária resume nesses nomes,
ao emprego ou não dessa função se deve tudo o ~ue chamamos, em
"; t I uma distinção bast~t~ ~n~eligê~cia' ou 'funções intelec-
qualquer tempo e lugar, racional ou irracional". 1 Os "fenômenos
111 I u nos ainda podem iceit homogêneo correspondente a um
mencionados acima" se referem a certas manifestações da razão que
f I entido de um concel. o. d No entanto há casos em que
SCHOPENHAUERreuniu à guisa de exemplos, como "o Controle dos I I I de fatos nitidamente hmlt~t ~. emprestados do arsenal da
afetos e paixões, a capacidade de tirar conclusões e fonnular princí- ft080 valer-se desses concei o egando-os com sentido
pios gerais", "a ação comunitária de vários indivíduos", "a civilização, I 'I a das facuIdades, mesm? qluóe.emprEsses casos acontecem
o Estado; além da ciência e da conservação das experiências do I d m pSICO glca. . _
passado" etc. Se, para SCHOPENHAUER, a razão tem a função de 1111 f I do pela abor age f. Amenos complexos de CO~poslçao
I nos defrontamos com eno. _o devido à reguIandade de
fonnar os conceitos, deve possuir também o caráter daquela dispo- ;~ 11 I rogênea que exigem conslde;:;~es práticas; ou quando a
sição do aparelho psíquico, capaz de formar conceitos pela atividade
mbinação e, sobretudo, por rtas tendências defínídas em
pensante.
12 Também neste sentido de uma disposição é que JERUSA- I nela individual nos apresen~ ce eguIaridade dá combinação
LEM entende a razão: como disposição da vontade que toma
possível, em nossas decisões, usar a razão e dominar as paixões. 1 Iposição e estru~a; ~u quand.~:a~ições psíquicas complex~s.
f I I it de uma análise essas ra~mente à pesquisa psicológLCanao
585 Razão é, pois, a capacidade de ser razoável, uma atitude especial m todos esses cas~ ca~:;:S~onceitos gerais USf!{n formados, mas
que toma possível um pensar, sentir e agir segundo valores objetivos. I " , Igidamente depen en a seus fatores simples". .
Do ponto de vista do empirismo, esses valores "objetivos" provêm da ,,, l·los, quando poss(vel, rtida Salientei os tÓpiCOS 586
experiência, mas, do ponto de vista do ideOlogismo, provêm de um " ente extrove . .
ato de avaliação racional que, então, segundo KANT, seria uma
I1 t concepção é típicam . trovertido os "conceitos
I • aracterlsticos. Enquanto par:o ~'f~uIdades", isto é, simples
"faculdade de julgar e agir de confonnidade com Princípios básicos". I " como razão, intelecto, etc. s id unívoco a muItiplicidade
KANTconsidera a razão a fonte da idéia que é um "conceito racional umem . num senti
cujo objeto não pode ser encontrado na experiência" e que contém
I
11 8 básicas que res , ara oo extrovertido, o emp íríco ,
"a imagem primitiva do emprego da razão como princípio regulador ocessos psíq':licos que d~~~, ~ derivados, complicações dos
penas conceitos secun , é deslocado o acento de valor.
em prol da coerência geral do emprego empírico de nossa razão". 13
I 80S elementares sobre as qua~s 'ta evitar tais conceitos mas
Esta concepção é genuinamente introvertida. Contra ela está a
\I possível, segund~ este fo~t~s ~~pr~ a "seus fatores simp~es".
concepção de WUNoT, pela qual a razão pertence às funções inte-
V ríamos, em prin~íPIO,re ~Zl- ensar redutivamente em rel~çao a
lectuais complexas que, juntamente com suas "fases anteriores que I vío que o empíríco só po e p 'tos são sempre denvados
lhes dão o indispensável substrato sens(vel, são resumidas num termo . . para ele osnhconcel ,. ",Iidéias
l • ítos gerais, pOIS ce "conceitos racionais
geral". "É evidente que este conceito 'intelectual' é uma sobrevivência
I 8 da experiência. Ele nem ~ent:do passiva e aperceptivaI?ente
\,,'Ori.
1 I
por~~esê" P~::,';:~d: aos sentidos.Devidoa esta ~t1~g:e~
expenencia con I bieto: é ele que age e o n
9. BALDWIN, Handbook ofPsychology, I, p. 312.
10. HERBART, Psychologie ais Wissenschaft, § 117. nto recai sempre s~bre o ,o ~ais~omplicadas; estas, por sua
I uh cimentos ~ c.?n~lusdoesra~l~~s gerais que servem apenas para
11. SCHOPENHAUER, Die Welt ais Wille und Vorstellung, I, § 8.
12. JERUSALEM, Lehrbuch der PSYchologie, p. 195.
I. xígem a existência e cone
13. KANT, Logik, 1904, p. 1408.
. .
14. WUNDT, Grundzüge)der physlologischen Psychologie, 5&edição, vol. 3, p. 582s.
grífos no texto são meus •

296
297
íríco mas pensa ativamente a
1\ I n o é exatamente UI? emp ,
reunir certos grupos de fenômenos sob um nome coletivo. E, assim,
'I 1 I idéia geral de maténa.
o conceito geral nada mais é do que um fator secundário que,
propriamente, não existe fora da linguagem. Por isso, a ciência não ta é íntelec-
se ndo par de opostos que J~ES apresen
pode conceder à razão, à fantasia, etc. um direito à existência própria,
11 \ I I ~e!:us sensualismo (sensacionalISmo). . .
enquanto 'achar que s6 existe realmente o fato sensível, o "fator
elementar". .' ~ a designar a essência do empms- 589
nsuallsmo e a exp,re~sao P:Clusiva fonte do conhecimento. e a
587 Mas quando o pensar está orientado ativa e aperceptivamente, I mo. Para ele a unlca.e ~ nsualista está totalmente onen-
como no caso do introvertido, então a razão, o intelecto, a fantasia 1 ncia dos sentidos. A antu e ~e ortanto para fora. Eviden-
etc., têm o valor de uma função básica, de uma faculdade, ou seja, I o objeto dado pelos sentlald~s,~ intelectual e não estético,
de um poder ou fazer que vem de dentro para fora, porque o acento S pensa num sensu ism to
valorativo está no conceito e não nos processos elementares, cobertos J t , JAME ". t lectualismo" não parece ser o opos
" J r iss~ mes~o m e intelectualismo é uma atitude que se
e abrangidos pelo conceito. Este pensar é sintético desde o início. Ele .1, [\ do. PSlcolo~c~ente, °ior valor determinante ao intelecto,
organiza tudo pelo esquema do conceito e aproveita o material I I iza por atnburr o ma . al Com esta atitude é possível
experimental para "encher" suas idéias. O conceito é ativo e por força nh no grau conceítu .
I I 1I 1\ o ao co ecer. . i almente quando o pensame~:o ~e
interna pr6pria, assumindo e transformando o material experimen- I ,,\ m ser sensuallsta pnnc P d rovenientes da expenencIa
tal. O extrovertido acha que a fonte dessa força é mera arbitrariedade " 'I I om conceitos concretos, ~o. oslode ser intelectual. Pilosofi-
ou generalização apressada de experiências limitadas. O introvertido I Iv 1.Por isso t~bém o empmc~o romiscuamente com racio-
que está inconsciente de sua pr6pria psicologia de pensar e, talvez, 111 ut , intelectuallsn;o é empreg~e oPcontrário de serfsualismo é
tenha adotado como linha diretriz o empirismo em moda, defende-se II I m ; deveríamos. dizer en~a~::nbém o sensualismo é, em sua
inutilmente contra esta acusação. A acusação, porém, é mera proje- ,11, vez o ideologIs~~, pOIS
ção da psicologia extrovertida. O tipo pensamento ativo não extrai a u ia, extremo empmsmo.
energia de sua atividade pensante nem da arbitrariedade e nem da
experiência, mas da idéia, isto é, da forma funcional inata que é d JAMES é idealismo versus materia-
) O terceiro par de opostos e
ativada por sua atitude introvertida. Esta fonte lhe é inconsciente
porque, devido à sua falta apríorística de conteúdo, s6 pode captar a 11\ • alo 590
JAMES ao falar do sensu ismo,
idéia configurada, a posteriori, sob a forma que assume o material .1 poderíamos ter suposto. que exac~rbado isto é, um sensua-
experimental elaborado pelo pensamento. Mas, para o extrovertido, I c ntendia um simples empms~o "sensacion~lista" talvez quises-
é importante e imprescindível o objeto e o processo elementar porque \ 111 intelectual, mas pela express~ente corresponde à sensação,
projetou inconscientemente a idéia no objeto e s6 pode chegar ao (\ tacar também o que propn t rmo "o que corresponde à
conceito e, portanto, à idéia, pela reunião e comparação empíricas. II \ P ndente de ~od~ intelecto' c~mir~s:nsualidade, não no sentido
As duas orientações de pensar são notavelmente opostas: uma d
\I lção" quero slgrúfic,ar.a ver ~ :omo atitude psicológica onde o
configura seu material a partir de suas idéias inconscientes, chegan- 1\\ Ir de voluptas (volúpia). ma~ ~ é tanto o objeto empatizado
do assim à experiência; a outra se deixa guiar pelo material, contido I lU de orientação e determm~çao~ n~~nsorial. Esta atitude também
em sua projeção inconsciente das idéias, chegando assim à idéia. Esta III1 ntes o simples fato da e~clta~~o ue toda a mentalidade depende
oposição de atitudes tem algo de irritante e por isso é responsável, I I ser descrita com~ refleXlva, ~ q O objeto não é conhecido
no fundo, pelas mais calorosas e inúteis discussões científicas. I impressão sensonal e ne~a ~ ~:. age por meio de sua forma
588 Acredito que esta exposição ilustre o suficiente minha opinião \I I tamente e nem e~Ratlza o!enta exclusivamente pela impres-
de que a ratio e sua elevação unilateral a princípio, portanto o II \I \J al de ~xistir, e o s~Jelt~:: ~~ntato com o objeto. Esta a?tude
racionalismo, pertença tanto ao empirismo como ao ideologismo. Em li nsonal. desperta a riralidade primitiva. Seu oposto pertme?te
vez de falar de ideologismo, poderia usar também ~ palavra "idealis-. 1'011' spondena a uma me . por uma apreensão de carater
mo". Mas a antítese dessa é ''materialismo'' e eu não poderia dizer \ otltu dee mnn 't/.' va que
í
~
se caractenza
. t lectual nem sentiment
al .
e, sim,
que "materialista" é oposto a "ideológico", pois o materialista, como I1 ríal, mas que nao é nem m e
o demonstra a hist6ria da filosofia, também pode ser um ideol6gico,

299
298
. ente como o ideologismo puro dos
mente ideológIca (exatam u'pificação de JAMES? O
ambas as coisas ao mesmo tempo, numa mistura inseparável. Assim .' d acordo com a .
nixades), otímísta e . rtído está fora da categona
' 1I
1
como aparece o objeto sensível na percepção, aparece também o ti o bem mtrove ,
conteúdo psíquico na intuição, como quase uma ilusão ou alucina- , prio KANT, um p . mo os grandes empíricos. Parece-me
ção. II [smo e pessimismo, assun ~~ da tem a ver com os tipos de
591 Pelo fato de JAMES designar o "tough-minded" como "sensacio- II O que também esta .OpoSlçao t
na id otím ístas há também
introveru os ,
nalista" e "materialista" (e mais adiante também como "irreligioso"), MES, Assim como eX1S~m É possível que JAMES tenha
, ist e VIce-versa. '
faz surgir a dúvida se ele, com sua tipificação, tinha em mente a I overtidos onrms as d' ão subjetiva antes meneio-
mesma oposição de tipos que eu. O materialismo é vulgarmente rrido neste erro por .causa ,:~:o~a cosmovisão materialista,
entendido como uma atitude que se orienta por valores "materiais", I Na concepção do ldeologI _' futuro E tem que achá-Ia
. ,. , arece nao ter· -
ou seja, uma espécie de sensualismo moral. A caracterização de p{rica ou POSluVIsta,P . deus "matéria", a concepçao
JAMES apresentaria um quadro bem desfavorável, se fôssemos atri- imista. Mas para quem acredIta ão corta o nervo vital do ideolo-
buir a essas expressões seu significado vulgar. Isto evidentemente, t rialista é otimista. Esta concepça, . al a apercepção ativa e a
não está na intenção de JAMES. Suas palavras, acima citadas, sobre O
ficando paralítica sua força pnnclp . ', do mundo tem que
os tipos, bastam para remover qualquer mal-entendido nesta linha. , ' itivas Esta visao d
llzaçãe das imagens prlID .'. ta pois lhe tira a esperança e
Não estaríamos errados, se admitíssemos que JAMEStinha em mente
cer-Ihe completamen~e ~es=~a 'realizada no fenômeno. Um
sobretudo o sentido filosófico das expressões em questão. E, neste
ís ver novamente a idéia 1 xílio e baniment0 perpétuo.
caso, o materialismo é uma atitude que se orienta por valores I
, ' ifica para e e e
materiais que não são "sensuais" mas fatuais. Por "fatuais" se entende , I do de fatos reais sign d vista materialista com o
algo externo e, por assim dizer, feito de matéria. O oposto é "idealis- I
do JAMES equaciona o pontlo e almente está do lado do
I ir que e e pesso
mo", uma valorização suprema da idéia, no sentido filosófico. Não 1 IJ ímísta, devemo~ cone u e ode ser facilmente corroborada "for
entra em questão o idealismo moral, senão deveríamos admitir \ ísmo - conc1usao essa qu ,P d filósofo Isto pode exphcar
da Vida esse .
também, contra a intenção de JAMES, que por materialismo ele l Imerosos outros traços . d d" recebeu os três epítetos bastante
entende um sensualismo moral. Se admitirmos que por materialismo bém por que o "tough-m m iali t " e ";•..•. eliaioso". Para a mesma
ele entende uma atitude que coloca o valor diretivo supremo na ali "''maten is aU~ O'
li bíos de "sensu ísta, de Pragmatism onde JAMES compara
realidade dos fatos, chegaremos novamente a constatar nesse atribu- fi lusão aponta a pass,ag~m a um encontro de turistas de Boston
to uma particularidade extrovertida, de modo a eliminar nossa I útua aversão dos dOIS~pos ek 15 É uma comparação nada
dúvida inicial. Já vimos que o idealismo filosófico corresponde ao os habitantes de ~npple Cre .uma aversão sentimental que
ideologismo introvertido. Mas o idealismo moral não seria caracte-
rístico do introvertido porque também o materialista pode ser um nj.eira para o outro tipo e faz supor r um senso de justiça bem
, id nem mesmo po .
idealista moral. poderia ser supnml a h ano" parece-me prova mteres-
t Este pequeno "documento um dois tipos. pode parecer
. , irritantes entre os . M
\ t das diferenças. íbilidades de sentnnentos. as
d) O quarto par de opostos é otimismo versus pessimismo. \I IIquinho insistir nessas mcompaU ue são exatamente sentimen-
V li li experiências. me con=~er=c~nsciência, que influenciam às
592 Duvido muito que esta célebre oposição, segundo a qual é
I orno esses, reudo~ n~ .al o mais belo raciocínio e impedem a
possível distinguir os temperamentos humanos, possa aplicar-se, sem
V ",. li de maneira É
preJudlc~ o
il i agmar que os
habl'tantes de Cripple Creek
mais, aos tipos de JAMES. Será que o empirismo de DARWIN, por
preensão. fác un olhar bem especial.
exemplo, é pessimista? Certamente o é para alguém que tenha uma I rn os turistas de Boston com
cosmovisão ideológica e veja o outro tipo por uma lente de projeção
- h id s por seu estetismo
sentimental inconsciente. Mas o próprio empírico não precisa de bostonianos sao con eei o , '1 '
15, JAMES, Pragmatism, p, 13, Os distrito mineiro do Colorado, E fácí , pois,
forma alguma considerar sua visão como pessimista. Ou seria, por Illrlluallzado", Cripple Creek é um famOSO
exemplo, o pensador SCHOPENHAUER, cuja visão do mundo é hlllKlnor o contraSteI

301
300
e) O quinto par de opostos é religiosidade versus irreligiosidade. . ., , . ~ acima referida, no conceit~ 594
não admitirmos a limitação, nte de um deslize senti-
593 I I o" de JAMES, então se t;rata novame .
A validade dessa oposição na psicologia dos tipos de JAMES 111 I, o que pode ocorrer facilmente, .
depende essencialmente da definição que ele dá de religiosidade. Se
entende a natureza da religiosidade exclusivamente do ponto de vista
ideol6gico, isto é, como atitude em que a idéia religiosa desempenha O sexto par de opostos é indeterminismo versus determinismo.
papel dominante (em oposição a sentimento), então está certo em
qualificar o ''tough-minded'' também como irreligioso. Mas o pensa- , . amente interessante. É óbvio que o 595
H ta oposição é psicologic I sendo axiomaticamente acei~ a
mento de JAMES é demasiadamente vasto e humano para não
perc:eber que a atitude religiosa também pode ser detenninada pelo
sentimento religioso. Ele diz: "Mas nossa estima pelos fatos não
11
" " • áría conexão en~e
I'
tu:.~:~.::t.
rísmo pense de modo causa, it A atitude empírica é onen-
forma efetuada pelo, fatos
P 10 objeto empati~a ~~ necessidade de um efei~oseguir a uma
neutralizou em nós toda religiosidade. Ela pr6pria é, por assim dizer,
I ores com a sensaçao imnonha psicologicamente a esta
religiosa. Nosso temgeramento científico é devoto (our scientific
11 • É totalmente na~al q~~~~a:P:as conexões causais. A iden-
temper is devout)".I A falta de veneração por idéias "eternas" o 111 de a impressão da lmut~ 1, temos com a ocorrência de fatos
empfríco a substitui por uma crença quase religiosa no fato real. Se I I ção dos processos psíqUICOS~ o ato de empatia é emprestada
alguém orientar sua atitude para a idéia de Deus, psicologicamente, I' mos acontece logo de saída, ~o~~n e da vida do sujeito. Desse
de
isto é o mesmo que orientá-Ia para a idéia da matéria, ou que fazer bjeto respeitável .so?Ia da :~~; eto, ainda que o empatizan~e
dos fatos reais o fator determinante de sua atitude. No momento em
J do o sujeito é a~similado p do ~ objeto possui um ace~t~. mais
que esta orientação acontece de modo absoluto, merece o epíteto I I assimilar o objeto. Mas quan A ' ue influencia o sujeito e o
''religioso''. De um ponto de vista elevado, porém, o fato real merece d . e uma importância q . h a é
I II de valor, a, q~u:: ~ de si próprio. A psicologia um~.
tanto ser um fator absoluto quanto a idéia, a imagem Primitiva, que
I a uma d1SSlmilaçao, O icõlogo pode constatá-I o d1an~-
o choque dos homens e de Suas condições interiores contra os duros I nhecidamente camal~ômca. d psina acontecem no sujeito aSS1-
fatos da realidade externa criou depois de muitos anos. A entrega II1 nte. Sempre que o obje~o pr~~r::u, por exemplo, a iden~cação
sem reservas aos fatos reais jamais poderá ser chamada irreligiosa 11 11 ções à natureza do objet°xili apel importante na terapia ana-
do ponto de vista psicol6gico. O ''tough-minded'' tem sua religião
• m o objeto am~do dese!lll?~ o ~~s dá uma série de exempl,os. de
empmca como o ''tender-minded'' tem sua religião ideol6gica. É 1111 a, A psicologia do pnm~tiv or exemplo, as inúmeras assimila-
apenas um dado de nossa época cultural que a ciência seja dominada llssímílação em favor do objeto, &ito dos antepassados. Também se
pelo objeto e a religião pelo sujeito, isto é, pelo ideologismo, pois a p
fi ao animal totem ou ~o eds tos medievais e hodiernos. No
idéia tinha que refugiar-se alhures depois que foi obrigada a ceder . tizaçao os san . ida em
111 re aqui a estigma . di imilação é , inclusive, engi
seu lugar, na ciência, ao objeto. Se a religião for entendida como 1 vro A Imitação de Cristo, a 1SS
fenômeno da cultura atual, JAMES tem razão em qualificar o empí-
rico como irreligioso, mas sõ neste sentido. Como os filósofos não P lncípío. . . leão da psique humana para a 596
constituem uma classe separada de pessoas, seus tipos vão estender_ Devido a esta ine~ável disPf~~lrl~eentender a transladação da~
di símilação, é psicologicamente . 'to A psique passa, como fOI
se para além do círculo de pessoas filosofantes, e atingir a humani-
dade em geral, alcançando talvez os limites da humanidade nexões caus~ ' obietívas
~ ~ dpara o sUJei.
validade exclusiva .do p~cincíoi
pIO Causal
d
civili:zada. Bastaria esta razão genérica para proibir que se chamasse dito, por sob a unpressao ae istemologia para resistir ao trem~n o
irreligiosa a metade da humanidade civilizada. Aprendemos da é preciso todo o apa;ato da p dificulta ainda mais é que a ?titude
psicologia do primitivo que a função religiosa simplesmente faz parte poder dessa impressao. O que os impede de acreditar na
da psique e está presente sempre e em toda parte, por mais índífe- mpírica, com toda ~ sua naturez:; ~ova, qualquer possib~idade
rendada que seja. liberdade interna, 'p0~s falta q~~;~nrkento pálido e inde,~ldo de
d prova. O q~e Significa a~uade
uantid esmagadora de pro,:as o~jeti:ras do
liberdade em vista d? 9- íríco é, por assim dizer, meVltável!
I ó. Lc., p. 15. . trário? O determinismo do emp não prefira _ como SÓ1
on
pressupos to que ele pense coerentemente e

302
303

- .-
) O sétimo par de opostos é monismo versus pluralismo.
acontecer - manter duas gavetas, uma para a ciência e outra para a
religião que lhe foi legada pelos pais e pela sociedade. . . é compreensível, sem mais, que a 599
597 Como vimos, a essência do ideologismo está numa ativação 10 que ficou dito acima, . A idéia sempre tem
. d ela idéia tenda ao momsmo.
inconsciente da idéia. Esta ativação pode repousar numa aversão, II 1 o~enta ~ p . I btida mediante abstração de repre-
ocorrida durante a vida, pela empatia, mas também pode existir I I I hlerárqUlC?, seja e a tO ou existente a priori como forma
desde o nascimento, como atitude a priori, criada e alimentada pela II s e conceitos concre os, .. . alto da constrUção
.' o é o' ponto mais
natureza. (Já encontrei muitos casos desses em minha experiência 11 I lente. No primeiro cas 'barca tudo o que está abaixo dela;
prática). Neste último caso, a idéia é ativa a priori, mas, devido a seu I .l'ara e ao mesmo. tempo a gulamenta as possibilidades e
vazio e irrepresentabilidade, não é dada à consciência. Como fato \ ltlmo caso, é o legtslador te r:s casos- a idéia tem qualidades
interno predominante, mas irrepresentável, está acima dos fatos .aidades do pensar. Em am t o~a plur':lidade de idéias, sempre
"objetivos" externos e transmite ao sujeito no mínimo o sentimento .1 I minação.Aindadqu~presenr ~aior ou menor tempo, e constei a
de sua independência e liberdade, e este, devido a sua assimilação uma que pre omina, po . p vez
•. ' . dos elementos pSíqUlCOS. or sua
interna à idéia, sente-se livre e independente com relação ao objeto. II ' qUlcamente a ma~ona uese orienta pelo objeto tende para
Quando a idéia é o fator principal de orientação, ela assimila o "lIlh m é cl~o que a a~tute, q (pluralismo), pois a multiplicidade
sujeito, assim como o sujeito procura assimilar a idéia através da II I 1 íor numero ~e ~nnc pies bri a a um maior número de
elaboração do material experimental. Da mesma forma que, na I lualidad~s ob~etals també~ n~o lpossível que uma explicação
111 I os e pnncíplOS, sem.o qu ..
atitude objetal, de que falamos acima, ocorre uma díssímílação do
sujeito de si mesmo, mas em sentido inverso, isto é, em favor da idéia. I pte à essência do objeto. \ ,I dê 600

A imagem primitiva herdada perdura para além de qualquer tempo


A endência monista f~z parte da atitude introvertlda, a ten en-
e supera todas as mudanças fenomenais; precede e sobrevive a )luralista, da extroveruda.
qualquer experiência individual. E por isso tem um poder extraor-
dinário. Quando ativada, transfere para o sujeito um sentimento Ir) O oitavo par de opostos é ~ogmatismo versus ceticismo.
nítido de poder, assimilando-o através da empatia interna incons-
ciente. Surge, então, no sujeito, o sentimento de poder, inde- , é fá il deduzir que o dogmatismo adere natural- 601
pendência, liberdade e eternidade.17 Quando o sujeito experimenta 'l'nmbém aqui c ídéi ainda que a realização incons-
a livre atividade de sua idéia ultrapassando a realidade dos fatos, a ut à. atitude que s~gue ~ 1 ia, atismo É bem verdade que o
idéia de liberdade se lhe impõe naturalmente. Se for puro seu I ' da idéia não seja eo tp~o dogm toma' real por assim dizer

ideologismo, deverá chegar mesmo a uma convicção indeterminista. o como a idéia inconsclente/:xterno a impressão que aquele
598 A oposição de que estamos tratando é muito característica para 1 I tamente, c~usa ~~ ~spe:~~e um dogma cujos limites rígidos
nossos tipos. O extrovertido se caracteriza por sua tendência para o
I p nsa a partrr de,ldélas P, tal A atitude que se orienta pelo
objeto, pela empatia para com ele e pela identificação com ele, por 11 p lmem o ~a~enaln:~:=~~ r~lação a todas as idéias a prio~,
1 'o parece o ~ame rimeiro lugar ao objeto e à expenêncla,
sua dependência voluntária do objeto. É influenciado pelo objeto na
medida exata em que procura assimilá-lo. O introvertido, ao contrá-
rio, se caracteriza por sua aparente auto-afirmação diante do objeto.
~":r:
í\~~ ldé~:~e~~? Neste sentid~, o ceti~i~mo é, inclusive,
~lldiÇãOprévia indispensável para qualquer empina. .ai 602
Resiste a qualquer dependência do objeto, repele a influência do Também este par de opostos comprova a semelhança essenci
objeto e, inclusive, sente pavor dela. Sua dependência da idéia é tanta
I os tipos de JAMES e os meus.
que o protege de dependências externas e lhe dá o sentimento de
liberdade interna, mas também lhe dá uma declarada psicologia de
poder. 3. ClÚTICA À CONCEPÇÃO DE JAMES
603
~ d JAMES quero ressaltar de saída que
Ao criticar a concepç a~ e nte das qualidades de pensar dos
ocupa quase exc lUSlvame
17. Cf. para tanto os postulados de KANTpara Deus, liberdade e imortalidade.

305
304
tipos. Dificilmente poderíamos esperar outra coisa de uma obra
filosófica. Esta unilateralidade, condicionada pelo meio ambiente (duração criadora) como resultados da intuição. Abstraindo dessa
concepção básica, intuitivamente considerada, que deriva sua justi-
pode facilment~ levar a co~sões. Não é difícil demonstrar que est~
ou aquela qualidade, ou .várias delas, estão presentes no tipo oposto. ficação psicológica do fato de já ter sido uma combinação intuitiva
Há, por exem~lo, empíric~s que são dogmáticos, religiosos, idealis- corrente na antiguidade, sobretudo no neoplatonismo, o método de
tas, t.nt~lectuéUSe racionalístas; e há ideólogos que são materialistas BERGSON é intelectualista e não intuitivo.
pessumstas, de.terministas e irreligiosos. Mesmo dizendo que esta~ Em grau incomparavelmente maior usou NlETZSCHE a fonte 605
expressoes designam fatos bem complexos, em que várias nuances intuitiva, libertando-se do puro intelecto na formação de seu arca-
ainda entram em questão, nem assim fica descartada a possibilidade bouço filosófico; mas usou-a de forma tal e em tão grande quantidade
de confusão. ~ expressões de JAMES são, individualmente tomadas, que seu intuicionismo ultrapassou em muito os limites de uma
amplas demais e só tomadas em conjunto dão um quadro aproximado cosmovisão filosófica e levou a um feito artístico, em grande parte
da oposiç~o dos tipos, ma~ sem. levar a uma fórmula simples. Em inacessível à crítica filosófica. Penso, evidentemente, no Zaratustra
s~a, os tipos de JAMES sao valiosa complementação do quadro de e não na coletânea de aforismos filosóficos que são passíveis de crítica
tipo~ que podemos obter em outras fontes. JAMES tem o grande filosófica, principalmente por seu método íntelectualísta, Se puder-
ménto de ter apontado, pela vez primeira e com certa profundidade mos falar de um ''método intuitivo", então o Zaratustra de NlETZ-
para a extraordinária importância dos temperamentos na formação SCHE deu, a meu ver, o melhor exemplo dele e também demonstrou
do pensamento filo~ó~co. Sua concepção pragmática vai conciliar as categoricamente que é possível enfocar os problemas de modo
oposiçoes entre as idéias filosóficas, condicionadas pelas diferenças filosófico e não necessariamente de modo intelectual. Como precur-
de temperamentos. É sabido que o pragmatismo é uma corrente sores do intuicionismo de NlETZSCHE considero SCHOPENHAUER
filosófica muito difundida que nasceu da filosofia inglesa .18 reconhe- e HEGEL; o primeiro por sua intuição sentimental que influenciou de
~e ~ ''verdade'' um valor limitado à sua eficácia e utilid;de práticas, forma marcante suas idéias, o segundo por sua intuição ideal que está
mdiferente. ao fato .de .que possa ser contestada por este ou aquele na base de seu sistema. Nesses dois precursores, a intuição estava -
ponto de VIsta. É SIgnificativo que JAMES inicie a exposição desse se me for permitida a expressão - submetida ao intelecto, em
enfoqu~ filo.sófico com a ~posição dos tipos, querendo fundamentar, NlETZSCHE, porém, ela estava acima dele.
por aSSImdizer, a necessidade de uma concepção pragmática. Repe- A oposição das duas ''verdades'' exige uma atitude pragmática, 606
te-se. aquele e~p~táculo que já nos foi apresentado pela Alta Idade se quisermos fazer alguma justiça ao outro ponto de vista. Por mais
Mé~la. A oposiçao daquela época era nominalismo versus realismo imprescindível que seja o método pragmático, pressupõe resignação
e fOIABELARDOque tentou uma conciliação através do sermonismo demais e se liga quase inseparavelmente a uma falta de realização
ou conceptual~smo. ~as coI?o faltava totalmente àquela concepção criadora. A solução do conflito dos opostos não se dá nem por
o ponto d~ VIsta pSIcolÓgICO,também sua tentativa de solução compromisso légico-íntelectualísta, como no conceptualismo, nem
pareceu unilateralmente lógico-intelectualista. JAMES vai mais fun- pela medição pragmática do valor prático de concepções logicamente
do; ~barca a oposição psicologicamente e tenta uma solução prag- inconciliáveis, mas exclusivamente por criação ou ação positiva que
mática correspondente. Não devemos iludir-nos quanto ao valor assume os opostos como elementos necessários de coordenação,
dessa solução: o pragmatismo é um recurso que só pode reclamar assim como um movimento muscular coordenado implica sempre a
validade enquanto não forem descobertas outras fontes além das inervação dos músculos antagônicos. Portanto, o pragmatismo não
possibilidades intelectuais, coloridas pelo temperamento, que podem pode ser outra coisa do que atitude transitória que prepara o caminho
trazer novos elementos para a formação do pensamento filosófico. do ato criador afastando os preconceitos. Parece-me que a filosofia
604 BERGSON propôs a intuição e a possibilidade de um "método alemã - não a acadêmica - já trilhou o novo caminho, preparado pelo
intuitivo". Mas ficou apenas na proposta. Falta a prova do método e pragmatismo e apontado por BERGSON: foi NlETZSCHE, com sua
esta não será fácil de produzir, ainda que BERGSON tivesse apresen- violência peculiar, que arrebentou as portas cerradas. Seu feito
tado seus conceitos de "élan vital" (elã vital) e "durée créatrice" supera o ínsatisfatõrio da solução pragmática tão radicalmente
quanto o reconhecimento pragmático do valor vital de uma verdade
18. Cf. F.C.S. SCHIIl.ER, Humanism, 1906.
superou - e ainda tem que superar - a árida unilateralidade do
conceptualismo inconsciente da filosofia que segue ABELARDO.

306
307
\

ta influência sofre limitações, como se vê do caso-que OSTWALD


presenta em sua biografia de HELMHO~TZ: A propósito da pesqu~sa
matemática de HELMHOLTZsobre o efeito dos choques de indução,
screve DU BOIS-REYMONDao pesquisador: ''Você - não me leve a
mal- tem que tomar mais cuidado em abstrair de seu próprio ponto
de vista científico e colocar-se na posição daqueles que ainda não
IX sabem do que se trata e do que você lhes quer explicar'. HELMHOLTZ
respondeu: "A redação do artigo me deu muito trabalho, mas acho
que posso me dar por satisfeito". OSTWALDcomenta: ''Nem mencio-
o problema dos tipos na biografia na a questão do leitor porque, a modo dos clássicos, escreve para si
mesmo, isto é, basta que a redação esteja boa para ele e não para os
outros". Também é característico o que DU BOIS escreve na mesma
carta: ''Li várias vezes o artigo e o'sumário, sem entender exatamente
o que você fez... Finalmente descobri por mim mesmo o método e sõ
então fui entendendo aos poucos sua exposição". 6 .
Este caso é realmente característico na vida do tipo clássico que 608
607
COMO
I b
era de se esperar,
-
também o camppo da biosraiia tra .•
dos rí O' ' ~I.U sua
"«o
nunca ou raras vezes, consegue "inflamar almas co-irmãs com sua
co a oraçao ao problema ~s tipos pSIcológicos. Devemos isto à alma" e mostra que a influência a ele reconhecida por causa.de seus
metodologIa cIentífico-naturalIsta de WILHELM OSTWALD1 escritos é normalmente póstuma, isto é, quando é desenterrado,
comparando certa quantid~~e de biografias de eminentes natur~~~ devido a seus escritos, descobertos após a morte, como foi o caso de
t~s, cons~atou ~a oponib~Ida~e de tipos psicológicos que chéilnou ROBERT MAYER. Além disso, parece que faltam a seus escritos
tipo dâssico e tipo romélnti/o. DIZOSTWALD: "Enquanto o prím . convencimento, inspiração e apelo pessoal direto, pois o escrito, em
se caracteriza pela perfeíçãê total de cada um de seus trabalhos eiro última análise, é tanto uma expressão pessoal quanto a conversação
também por uma dísposíçã? recu.ada e de pouca influência pe~:: ou F~nferência. Portanto, a influência que o clássico exerce por seu
sobre os semelhantes, o rOmântico se projeta com as qualid d escríto depende menos das qualidades externas de sua obra do que
Opostas. N~o ~~e é própria.a p~rfeição do trabalho ParticulariZ:d~s do fato de ser o escrito a última coisa que dele resta, podendo, a partir
mas a multIphCIda~e e origlll~Idade ~anifesta de inúmeros e segui~ dele, ser reconstruido o trabalho que ele fazia. Depreende-se da
dos trabalhos, cuidando ~e influenCIar direta e fortemente s descrição de OSTWALDser fato inegável que o clássico raras vezes
~emelhantes... Devo. frisar que. a rapidez das. reações menta:~ comunica o que está fazendo e como o faz, mas apenas o que
Importante para se dizer a 4ue tipo pertence o CIentista. Pesquisad conseguiu, sem preocupar-se que o público tenha ou não conheci-
res com maior agilidade de reação são românticos os de menor ~- mento dos caminhos seguidos. O clássico dá a impressão de que seu
" 2 O lá .
clássí
SSICOS . c SSICOé lení? em pro d. um. e apresenta
' , sao
relativamente caminho e o modo de trabalhar têm pouca importância, porque estão
3
tarde os frutos maduros de seu espírito. Segundo OSTWALD intimamente vinculados à sua própria personalidade que ele mantém
das características nunca a!1sentes no tipo clássico é a "necessid~a como pano de fundo.
inc?ndicional de se apresenrar em público irrepreensivel sem err a" ~
OSTWALD compara seus dois tipos aos quatro temperamentos 609
O tipo clássico se compens~ de sua "falta de influência'pessoal o .
di por de outrora'' e com referência à qualidade que lhe parece fundamen-
uma influencia tanto maior rne iante seus escritos". Mas parece que
A • 5
tal: lentidão ou rapidez de reação. A reação lenta corresponde ao
1. OS1W AID, Grosse Miinner, 3a e 48 edição, 1910. temperamento fleugmático e melancólico; a rápida, ao sangüíneo e
2,. Lc., p. 448.
3. i»; p. 89.
4. Lc., p. 94. 6. Lc., p. 280.
5. t:«; p. 100. 7.Lc., p. 100.
8. Lc., p. 372.

308
309
_. ue mostra claramente ao público o
colérico. Considera o sangüíneo e fleugmático tipos médios normais, ll~u%~~~:~od;efo~~;i;ador e o modo como chegou a seus
enquanto o colérico e o melancólico seriam exageros mórbidos dos
caracteres básicos. Estudando as biografias de HUMPHRYDAVYe I ultados. , . . cípio só reage interna- 611
UEBIG,por um lado, e as de ROBERTMAYERE FARADAY, por outro, O introverti~o, ~o contrano, ::~ ::sr:ações' (com exceção das
é fácil reconhecer que os primeiros eram ''românticos'' declarados e 11 nte, não ext;enonza, norm~ rea 'ões ue no entanto, podem ser
sangüíneo-coléricos e os outros "clássicos" e fleugmático-melancóli- plosões afeuvas). El~cala sua rtid~ Ela; não aparecem e, por isso,
cosoEsta observação de OSTWALDparece-me convincente, pois os l orápidas.J~a:~oaa~;r:~~v~e ser' lento. Pelo fato de as .reaçõ:s
quatro temperamentos antigos foram provavelmente construidos ímrovern f rte caráter pessoal o extroverudo nao
segundo o mesmo princípio experimental que OSTWALDusou para Imediatas terem sempre o deixar transparec~r sua personalidade.
estabelecer o tipo clássico e o romântico. Os quatro temperamentos pode fazer o.utra COIsado que d sua personalidade ao calar suas
são distinções feitas sob o prisma da afetividade, isto é, da reação introverudo, porém, escon e fi atia ou a transferência de seus
afetiva manifestada. Mas esta classificação é superficial do ponto de reações imediatas. Nã~ procu:: : :b~tração do objeto. Ao invés de
vista psicológico; julga exclusivamente a partir da manifestação onteúdos para o .?bje~~:atas prefere elaborá-Ias longamente !l0
externa. E, assim, a pessoa que externamente se apresentasse quieta xternar sua~ reaçoes , resultado pronto. Procura desvín-
e sem ostentação pertenceria ao temperamento fleugmático. Ela íntimo e, e:., ap~:;:~~::o ;::pessoa e apresentá-Io como distinto
parece "fleugmática" e por isso é classificada entre os fleugmáticos. cular ao mos: al S us conteúdos apresentam-se ao mun-
Mas, na realidade, pode ser tudo menos fleugmática, inclusive uma de qualquer relaçao pes~o bs:ata e despersonalizada possível, como
pessoa sensual e apaixonada em que a emoção transcorre no mais do externo da forma mais a interior Mas por isso mesmo, tomam-
íntimo, e cuja excitação interna violenta se exprime pela maior calma resultados de longo tra~alho faÍta a~ público o conhecimento
externa. Esta possibilidade JORDANa levou em conta. Nãojulga pela se de difícil compreensao, porq~e como o pesquisador chegou ao
impressão superficial, mas por uma compreensão mais profunda da dos passos prévi~ e da ~an:a público o relacionamento pessoal
natureza humana. Os critérios básicos da distinção de OS1WALD resultado. final. F .~a t~ .me esconde dele sua personalidade. Mas
repousam, como a velha divisão dos temperamentos, na impressão cj>orqueo mtroveru o s e!lcla essoais ue facultam a com-
externa. Seu tipo ''romântico'' se caracteriza pela reação rápida são exatamente os relaCloname!lt~;ictual Esia circunstância deve
externa. Talvez o tipo "clássico" reaja com a mesma rapidez, mas preensão quando falha a ~artedm s:mpre que se trate de avaliar o
internamente. ser cuidadosamente CO~SIera a.d Geralmente estamos mal infor-
Percorrendo as biografias de OSTWALDvemos logo que o tipo desenvolvimen~ode um.mtrov~ru ã: conse imos vê-lo. Não poden-
610
mados sobre o mtroverudo, pOISn f t~bém não aparece sua
"romântico" corresponde ao extrovertido e o "clássico" ao introver-
do. reagir imediat~ente para ora, ara o úblico fazer inter-
tido. HUMPHRY DAVYe UEBIG são exemplos perfeitos do tipo
extrovertido, assim como ROBERT MAYERe FARADAY,do tipo personalidade .. Su~ Vlrdaáde~a eS~~~r ~ por ex~mplo, devido a seus
pretações e projeçoes ant sncas, s
introvertido. A reação externa é característica do extrovertido e a trabalhos - a ser objeto do interesse geral.
reação interna, do introvertido. O extrovertido não tem dificuldade 612
d OSTWALDdiz que a precocidade intelectual é caracte-
em sua expressão pessoal, faz valer .sua presença quase involun- Quan o d os acrescentar que ele mostra sua prece-
rística do romanUco, er:m.
A •

tariamente, pois, de acordo com sua natureza, tende a transferir-se talvez igualmente precoce, fecha em
para o objeto. Gosta de entregar-se ao mundo que o rodeia e cidade ao passo_que~ c. SSICO! almente mas por incapacidade de
necessariamente de forma compreensível e, por isso, aceitável. A si a sua prod~çao, .nao mtenc~n .d à in~uficiente diferenciação de
forma é, via de regra, agradável, mas sempre inteligível, ainda exteriorizá-Ia lfiedlatamente. evi °ta um ar canhestro verdadeiro
. rtido apresen '
quando desagradável. Faz parte da reação e exteriorização rápida sentimentos, o mQ':'0;re al isto é naquilo que os ingle-
que se transfiram para o objeto tanto coisas de valor como sem valor, infantilismo ~o relacl(~n~e~~~o~~~~ade). Su~ apresentação pessoal
além de coisas atrativas também pensamentos e afetos que repug- ses chamam 'pers.onallty' ~p d ele próprio é tão sensível neste
nam. Devido à exteriorização e transferência rápidas, os conteúdos é tão insegura e mdetermma a - e roduto que lhe pareça perfeito
são pouco elaborados e, por isso, facilmente compreensíveis; e a aspecto - que só ap~ebsl~nt~~~: prefere que o produto fale por
simples ordenação cronológica das manifestações imediatas produz ousa aparecer em pu lCO.

311
310
tamente, mas só após certo tempo. Se, no laboratório, algum aluno
~~;e~~ t~zd:~o~~e~e~e~e:s~;n~nte seu produto. Assim sendo, lhe apresentasse um problema, prometia refletir sobre ele e trazia,
facilmente podemos dizer tenha mCa~ef!tono ce,;ário m.undial que realmente, a resposta alguns dias depois. Mas esta vinha tão distan-

te precoce e externamente diferenciado é' r


superficial desconsidera, porém, que =!rfI~rdta'dEste
mo
em sua relação com o mundo interior I t s~p ~smente
a1
Julgamento
o aI?arentemen-
interno, está
ciada da pergunta do aluno que este, em apenas raríssimos casos,
conseguia fazer a conexão entre a dificuldade que tivera e a teoria
completa de um problema geral que o professor lhe trazia. Faltou
na vida do precoce por exemplo na; s o sd v: aparecer mais tarde não apenas a ajuda momentânea que mais interessava ao principian-
. .' , lorma e imaturidade moral te, mas também a orientação adaptada imediatamente à personali-
o que é mais freqüente, num espantoso. inf antílitsmo d e pensar ou,
dade do aluno pela qual este é levado, passo a passo, de sua natural
613 Em geral o romântico tem melh
mento do que o clássico conforme
Apresenta-se em público' com se
0;;: h .
c ance~ em seu desenvolvi-
an erva mu~to_bem OS1WALD.
dependência inicial para o domínio completo do campo científico por
ele escolhido. Todas essas deficiências provêm do fato de que o
exteriores dão logo mostras dr. ça ::~nVlcçao e suas reações professor não consegue reagir prontamente à necessidade vital ma-
estabelecer imediatamente inúm ímport _cia que tem. Consegue nifestada e para dar a resposta esperada e desejada leva tanto tempo
rão seu trabalho e lhe abrirão os he:~elaç~es valio~as que fecun~a- que o próprio efeito se perde".lO
fica escondido; a falta de relacioname ntes. O clás~lc.o,ao contrário, A explicação de OSTWALD,em termos de lentidão da reação do 616
de seu campo de trabalho m n.topessoal limita a ampliação introvertido, parece-me insuficiente. Não se pode próvar que HELM-
o HOLTZpossuísse menor rapidez de reação. Só não reagia para fora,
profundidade e o fruto de s~u ;~bcalh°molSésd sudaatividade
ura ouro. ganha em
mas para dentro. Não empatizava com o aluno e, por isso, não
614 Ambos os tipos possuem entusias O . entendia o que o aluno queria. Por estar completamente voltado para
boca aquilo que lhe enche o cora _ mo. extrovertido verte pela
suas idéias, não reagia na direção do desejo pessoal do aluno, mas
introvertido lhe fecha a boca. NãoÇ:~~:: p:s:n que o entusiasmo. do
mo no seu meio ambiente e . gu amar outro entusias- na direção das idéias que a pergunta do aluno nele despertavam; e
colaboradores do mesmo tipo
de se comunicar o Ia .'
'Je~~ ISSO, f~ta-1he um círculo de
d o que tivesse desejo e impulso
\isso tão ráp~da e pr?fundamente que log~ se dava conta de um
ccontexto maior, mas impossível de ser exammado naquele momento
. ,conlSmo e sua expr - . e apresentado de forma abstrata e bem elaborada; portanto, não foi
mcom~reensão que isto causa no público o ;:~ao eda atitude de
ç
por ser muito lento no pensar, mas por impossibilidade objetiva de
comunicações e també . em e razer outras
tenha algo d~ extraord:~~qu:.. muítas v~zes ninguém confia que captar num piscar de olhos toda a extensão do problema e reduzi-Io
"personalíty' parece comum at.ul a comurncar. Su~ expressão, sua a uma fórmula pronta. Naturalmente não percebia que o aluno nada
entendia de toda essa problemática; pensava que se tratasse realmen-
o romântico não raro já parece "lnt:=~::~r!e~clal, í~o passo que te.daquele problema e não de um simples conselho que poderia ter
a ~e de enfatizar ainda mais esta im _ go e sa a ~ conh~ce dado prontamente, se tivesse percebido o que o aluno queria naquele
ou ilícitos. Esta capacidade diferenciaare~sao, usan~o melO~lí~ltos
momento. Na qualidade de introvertido, não tinha empatia com a
pano de fundo favorável a idéias . a e exp:essao consntui um
psicologia do outro; ele empatizava com seu íntimo, com seus
insuficiente do público a superar~l°rtantesde ajuda a compreensão
A acunas e seu pensar. próprios problemas teóricos, continuava a tecer todo um problema
615 A enfase que OS1WALDemp t à b teórico com o fio levantado pelo aluno, tudo adequado ao problema,
capacidade docente do romântic~e~ a . em su~edida e brilhante mas não à necessidade momentânea do aluno. Esta atitude peculiar
romântico empatiza com o aluno e s:wto pertmente ao tipo. O do professor introvertido é, do ponto de vista do ensino, muito
momento certo. O clássico é e usar a palavra certa no
problemas e não percebe ~~cl~~
alunos. A propósito do clássico ~~L;
às;oltas com su:s idéias e
compreensao de seus
inconveniente e, do ponto de vista da impressão pessoal, desfavorá-
vel. Dá a impressão de ser lerdo, excêntrico e até mesmo limitado
intelectualmente; muitas vezes é subestimado não só pelo grande
"Apesar de seu vasto conhecimento d Z, observa OS1WALD: público, mas também por seus colegas mais chegados, até que seu
seu espírito inventivo , nunca foi b'om eproressor:
su: grande_experiência e de
nao reagia ímedía-

9. L.c., p.374. 10. L.c., p. 377.

313
312
o mas ue não permite a participação de alunos e conhecid?s.
trabalho intelectual seja, mais tarde, reexaminado, reelaborado e I mp ~ ão é~inda mais difícil porque o êxito notórío do ~omãnuco
traduzido por outros pesquisadores. A situt:nificante vital que, muitas vezes, é negado ~o cláSSICO,sendo
617 O matemático GAUSStinha tal aversão a ensinar que dizia a cada w!l ado a buscar sua única satisfação no aperfeIçoamento de sua
um dos alunos que se inscrevia para suas aulas que talvez seu curso bríg . a Parece-me pois que a exaustão relativamente prec.oce do
não se realizasse, s6 para livrar-se da obrigação de lecionar. O penoso ~ê~f~~o~ãntico está na ;eação para fora e não na maior rapIdez de
da atividade docente estava, para ele, conforme diz OSTWALD, na ação. . . b I
''necessidade de ter que apresentar nas aulas resultados científicos OS1WALDnão pretende que sua divisão de tipos se~a a so uta 619
sem antes ter polido e selecionado as palavras mais exatas. A entido de cada pesquisador ser incorporado, sem mais, a umdou
obrigação de comunicar a outros suas descobertas sem este trabalho no s . Éd ínião que "OSbem grandes" podem ser elenca os
outrOtipo. e op ••
prévio despertava nele a sensação de estar se apresentando a estra- orma recisa em um ou outro grupo extremo, ao p~sso que .as
nhos com roupa de dormir". 11 Com esta observação, OSTWALDtoca de f mPedl'anas"representam as mais das vezes, os mtermédlOs
num ponto muito importante e que já mencionamos acima, isto é, a pessoas '_ 12
no que se refere à rapidez de reaçao. .
aversão do introvertido de comunicar-se com o mundo externo de m resumo, gostaria de sublinhar que as blO~afias. de OS~ALD 620
outro modo que não o totalmente impessoal. ~ arte material valioso para a psicologia dos. upo~ e
618 OSTWALD diz que, via de regra, o romântico tem que encerrar cont;n~ ~~ar~en'te a coincidência do romântico com o extrovertldo
relativamente cedo sua carreira, por causa da exaustão crescente. E mos "d
e do clássico com o íntroverti o.
pretende explicar este fato pela maior rapidez de reação dele. Mas,
como sou de opinião que o conceito de rapidez mental de reação não
foi cientificamente esclarecido e não ficou provado, e provavelmente
nunca o será, que a reação para fora é mais rápida que a reação
interna, acredito que a maior exaustão do inventor extrovertido se \
deva essencialmente à sua reação para fora e não à rapidez da reação. d
Começa a publicar cedo, é rapidamente conhecido, desenvolve cedo
intensa atividade acadêmica e de publicações, cultiva um relacio-
namento pessoal com amplo círculo de amigos e conhecidos e
participa extraordinariamente no desenvolvimento de seus alunos.
O pesquisador introvertido começa a publicar mais tarde, seus
trabalhos seguem-se em intervalos bem maiores, são, na maioria dos
casos, mais simples na expressão, repetições de um tema são evitadas
até que algo realmente novo possa a ele ser acrescentado; devido ao
denso laconismo de sua comunicação científica que muitas vezes
esquece de mencionar os dados sobre o caminho seguido e o material
empregado, seus trabalhos não são entendidos e nem considerados,
permanecendo o pesquisador no anonimato. Sua aversão ao ensino
não lhe traz alunos, sua pouca fama exclui o relacionamento com
um círculo maior de conhecidos e, por isso, vive retraído, via de regra
não por necessidade mas por livre escolha, evitando o perigo de
expor-se demais. Sua reação para dentro leva-o sempre de novo aos
caminhos estreitamente limitados de sua atividade pesquisadora que
é, em si, muito cansativa e igualmente exaustiva com o passar do

i'2. L.c., p. 372s.


11. L.c., p. 380.

315
314
referencia 1
referencia 2 Abandonando, porém, o campo dos fatos passíveis de números 742
m didas, precisamos de conceitos que devem substituir a medida e
número. A precisão que nos fornecem as medidas e os números dos
t 8 observados só.pode ser substituída pela precisão do conceito.
, I o é sabido de todo pesquisador e praticante nesta área, os
• nceitos psicológicos atualmente em voga são tão imprecisos e
XI [uívocos que é difícil o entendimento mútuo. Tomemos, por exem-
I I , o conceito "sentimento" e tentemos avaliar tudo o que anda
1 ntro dele, para termos uma idéia da variação e ambigüidade dos
Definições nceitos psicológicos. Assim mesmo, algo de característico é expres-
, ainda que inacessível a números e medidas, mas apreensível em
ua existência. Não podemos simplesmente renunciar a isto, como o
IZ a psicologia fisiológica de WUNDT, e negar estes fatos como
nômenos básicos e essenciais e substituí-I os por fatos elementares
u neles díssolvê-los. Com isso se perderia parte principal da psico-
logia.
741 Para superar este inconveniente criado pela supervalorização da
pODE parecer supérfluo ao leitor que acrescente ao texto de minha 743
do p;squlsa um c~pítulo esp~ci~ de definições de conceitos. Contu- metodologia das ciências naturais, temos que recorrer a conceitos
, grande a ~inha .expenencla para comprovar que, exatamente bem seguros. Para chegar a esses conceitos, é necessário o trabalho
em tra~~hos p.slcológI~os, todo cuidado com expressões e conceitos de muitos, uma espécie de consensus gentium (consenso dos povos).
nunca emasíado, pOISé ~o campo. da psicologia, como em nenhum Como isto não é possível sem mais, é preciso, ao menos, que o
outro, qu.e aparecem as.maíores vanações de conceitos e que ocasio- pesquisador individual se esforce em dar a seus conceitos solidez e
nam, mUIta~vezes, os piores mal-entendidos. Este inconveniente não 5ecisão, o que pode ser feito discutindo o sentido em que emprega
parece provir apenas do fato de ser a psicologia uma ciência nova o conceito, de modo que todos estejam em condições de entender o
~as també~ porque o material experimental, o material da reflexã~ que pretende exprimir.
clentífic~ nao pode ser oferecido concretamente aos olhos do leitor Respondendo a esta necessidade, gostaria de apresentar, a se- 744
O af.~s~ulsador da psicologia está sempre forçado a descrever ~ guir, em ordem alfabética, meus principais conceitos psicológicos.
:e .1 a e observada por meio de circunlóquios e, por assim dizer Gostaria, também, de pedir ao leitor que, em caso de dúvida,
mdiretam~nte. Só podemos falar de exposição direta quando se trat~ recorresse a essas explicações. É óbvio que, com essas explicações e
de comunicar fatos elementares ligados a números e medidas M definições, só quero justificar o sentido em que uso os conceitos;
quar;to .da psic~logia real do homem é vivido e observado como'fat~! jamais ousaria dizer que este emprego é o único possível e o
pass ~els de numeros e medidas? Existe esse estado de coisas e absolutamente correto.
acredíto ter provado em m~us estudos de associação 1 que mesmo
fato~ ~xtremamente complIcados são acessíveis a um método de Abstração. Como a própria palavra diz, é extrair ou isolar um 745
me?lçao. 9,!em houv~r penetrado mais fundo na essência da síco- conteúdo (um significado, uma característica geral etc.) de um
10~aAe ~XlgIdo~u~ seJ~ considerada ciência, sem depender, e~ sua contexto, formado por outros elementos, cuja combinação em um
e"!stencIa, dos I~Ill1tesII?postos pela metodologia das ciências natu- todo constitui algo único ou individual, não podendo ser comparado
rais, terá perce~ld~ que Jamais haverá um método experimental que com outra coisa qualquer. A singularidade, individualidade e incom-
satisfaça à essencia da. alma humana ou que trace uma ima em parabilidade são obstáculos ao conhecimento, por isso os outros
bastante fiel dos comphcados fenômenos anímícos. g elementos associados a um conteúdo que é tido como essencial
parecem irrelevantes à vontade de conhecer.
1. JUNG, DiagnostischeAssoziationsstudien (Obr. Compl. fi). Abstração é, portanto, uma forma de atividade mental que liberta 74E
o conteúdo ou o dado, tido como essencial, de sua vinculação aos

384
385
. . atitude (v.) quando, por um lado, é 749
I) 'nommo abstratlva illIl;ai1 também aos conteúdos abstratos
elementos irrelevantes, deles os distinguindo ou diferenciando (v. I ti oV rsiva e, por ?~tro, aSSlID arte do objeto, tida como essencial.
Em sentido lato, abstrato é tudo o que foi extraído de sua vincula I posição no sujeite uma P t 'do mais irrepresentável ele é.
a elementos tidos como irrelevantes para seu significado.
mto mais abstrato um con edu 'qual um conceito é tanto mais
747 Abstração é uma atividade pertinente a todas as funções psi . - d KANTsegun o a 4
I I sso a posiçao e. '. dele as diferenças das coisas", no
lógicas. Assim como existe um pensamento abstrativo, existe tamb I 11trato "quanto mais se oram áximo se distancia
um sentimento, sensação e intuição (v. esses conceitos) abstrativos. bstração em seu grau m ,
pensamento abstrativo toma um conteúdo, caracterizado por su lido de que a a. tín . do assim a extrema irrepresentabi-

qualidades racionais e lógicas, e o separa dos elementos írrelevantes,


I olutamente do objeto, a gm . 'déia (v) Inversamente,
b - pura eu a denommo 1 . •
O sentimento abstrativo faz o mesmo com o conteúdo caracterizad Iltl de. Esta ~ straçao d é ivel de representação ou plasticidade
por valores sentimentais, e assim procedem a sensação e a intuição. u a abstraçao que am a pass .
Existem, portanto, pensamentos abstratos, bem como sentimentos um conceito concreto (v. concretlSmo). BLEULER
É . unhado por E. . 750
abstratos que SULLYdenomina sentimentos intelectuais, estéticos e (751)* Afetivid?d~. :-a~°:sc~e~o~ em sentido próprio, mas
morais.2 NAHLOWSKY ainda acrescenta o sentimento religioso.3 Em I signa e contém 'nao aP s tonalidades sentimentais de
minha concepção, os sentimentos abstratos corresponderiam aos bé ntimentos evesI ou a •I d
tnrn m os se ,5 R distingue da afetividade, por um a o,
sentimentos "superiores" ou "ideais". Os sentimentos abstratos eu os
coloco na mesma linha dos pensamentos abstratos. A sensação prazer e d~sprdazer'.
s sensaçoes os sen
:l!~ outras sensações corporais e, po~outro,
os intemos de percepçao (por
abstrata poderíamos chamá-Ia de sensação estética, em oposição à . t s" enquanto process
sensação (v.) dos sentidos, e a intuição abstrata, de simbólica, em s "sentlIDen o d babilidade) e enquanto pen-
xemplo sentimento de certeza, e pr~
oposição à intuição da fantasia (v.fantasia e intuição).
samento~ ou conhecimentos obscuros.
748 Neste trabalho vinculo ao conceito de abstração também a d um estado de sentimento, carac- 751
concepção de um processo psico-energétíco: quando assumo uma (750) Afeto. Por afet? enten õ~s ercepúveis do corpo e, de outro,
atitude abstrativa em relação ao objeto, não deixo que ele atue sobre teriz~o, de um lado: por m~~a~ c~so das idéias.7 Emprego afeto
mim como um todo; tomo uma parte, que separo de suas conexões, por uma perturbaçao pe~ la: .0 o _ ao contrário de BLEULER(v.
e excluo as partes que não interessam. Minha intenção é livrar-me como sinônimo de emoçao. D1StUlg. a ue a transição de um para
do objeto enquanto totalidade única e individual e só aproveitar uma afetividade) - sentimento de afeto, a~~ t~do sentimento, ao atingir
parte. Evidentemente tenho a visão do todo, mas não me aprofundo o outro tenha conto~os v~g~:v~o~~scorporais e se toma afeto. Por
nesta visão; meu interesse não vai para o todo, mas sai do objeto certo grau ~e força, hberta m b ç di tinguir entre afeto e sentimen-
como um todo e volta para mim com a parte escolhida, isto é, volta razões práticas. no entanto, é ~ _ lSvoluntariamente disponível ao
ao mundo de meus conceitos que já está pronto ou constelado para to, porque este pode ser uma _ ça: Igualmente o afeto se distingue
abstrair uma parte do objeto (Só é possível abstrair do objeto o afeto geralmente nao o . ti' anto
passo q~e I' rvações corporais percep veis, _enqu _
mediante uma constelação subjetiva de conceitos). Considero o do sentímentc pe as me . ria dos casos, essas inervaçoes ou sao
"interesse" como energia=libido (v.) que atribuo como valor ao faltam ao sentlmento, na maio dem ser detectadas apenas por
objeto ou que este atrai sobre si, eventualmente, contra minha de intensidade t~o peq~endaque po mplo pelo fenômeno psicogal-
vontade ou sem que eu esteja consciente disso. Visualizo, portanto, instrumentos muito delica os, por exe ,
o processo de abstração como a retirada da libido do objeto, como
um refluir do valor que abandona o objeto para um conteúdo
subjetivo e abstrato. A abstração significa para mim uma desvalori-
4. KANT, Lo~, § ~ ênteses é da edição alemã.
zação energética do objeto; em outras palavras, é um movimento * A numeraçao en . .~ tibUitiit, Paranoia, 1906, p. 6.
introversivo da libido (v. introversão). 5. BLEULER, AjfektiVllat, sugges
a
6. t.c; p. l~S. rundzüge der physiologischen Psychologie, 5 edição, vol.
7. Cf. para ISSO WUNDT, G
2. SUU.Y, TheHumanMind, 1892, n, cap.16. 3, 1903, p. 2095.
3. NAHWWSKY, Das Gefühlsleben, 1907, p. 48.

387
386
I I V 7, mostra um caráter bem definido e bem distinto do anterior.
Vân'1CO,Ao
8 afeto se acrescenta - I I I vérbio "anjo na rua e demônio em casa" traduz a experiência
}~l; liberadas, Esta constat:ç~~~açao das inerv~ções corp I
_ -LANGE,que deriva causal eu azo à teona do afeto I ti I díana do fenômeno da divisão da personalidade. Cada meio
I I \ I nte requer uma atitude especial. Quanto mais for exigida esta
-çoes corporais, Discordando d mente o afeto em geral das in '
afeto, por um lado, como est essa co~cepção extremada entend III pelo respectivo meio ambiente, mais rapidamente ela se
I' I á habitual. Muitas pessoas da classe culta têm que mover-se
coI?o estado fisiológico de ~:::.~s~qwco de sentimento e: por out
la?vo e recíproco sobre o outro ,çoes, tendo cada qual efeito cum 11\ ois meios completamente distintos: no lar e no ambiente
I I I sional. Estes dois ambientes bem distintos exigem duas atitudes
al1~-~eao sentimento intensifi~;~~ ~' um ~omponente da sensaç II I lmente diversas que, dependendo do grau de identificação (v.) do
pr xuno das sensações (v) e mo o que o afeto fie I

=:i"'
om a atitude do momento, condicionam uma duplicação do
s~~timental. Incluo afet~s e.:~:~~e~te diferenciado do ~s'::.d
I' ter. De acordo com as condições e necessidades sociais, o caráter
VlOentas ínervações corporais nã a os, 1StOé, acompanhados d
1 se orienta, de um lado, pelas expectativas ou exigências do
752 mas no campo da função sens'açã~~~. função sentiment I, 1 biente profissional e, de outro, pelas intenções e aspirações sociais
(87~ Alma, No decorrer de minhas i " I indivíduo. O caráter caseiro molda-se em geral pela busca de
tura do inconsciente fui obrigado f as mvesnga5õ:s sobre a estru- •)ffiodidade, donde vem que pessoas muito enérgicas, briosas, tei-
entre alma e psique Por' a azer uma dístínção cone ' 11 sas, obstinadas e grosseiras na vida pública, em casa e no seio da
:~~u:fs, tanto co~cienr::~~~::~Zna totalidade dos proc'.:~ tnüia são bondosas, brandas, 'condescendentes e fracas. Qual é o
n o um complexo determinado e l' ,stc1dentes, Por alma, porém V rdadeiro caráter? a verdadeira personalidade? Às vezes é impossí-
amos caracteriz lh um a o de funçõ '
ri
detalhes a minh ar me o: como "personalidade" pOdes que pode- V 1responder. '
" a concepçao tenho ue ' ara escrever em (879) Esta breve reflexão mostra que a divisão de caráter não é 754
~a1s d~tantes. Trata-se principalm~nt c~e:r a}guns pontos de vista S
Impossível, mesmo no indivíduo nonnal. Estamo autorizados, por-
1Sr:;0, o duplo caráter, da divisão d e os e~omenos do sonambu- .nto, a tratar a dissociação da personalidade como problema da
~i~a~:t~~ar:n os fr~ceses que ch~;~n:~~ade_ em cuja pesquisa 'Psicologia nonnal. Na minha opinião, a pergunta deve ser respondida
indívíd
1 uo. 9 aver mais de uma personalid d ença0'p~a a possibi-
a e num un1COe mesmo ssirn: semelhante pessoa não tem nenhum caráter verdadeiro, isto
é, não é individual (v.), mas coletiva (v.), ou seja, acomoda-se às
753 (878) É óbvio que num indi ,d circunstâncias e expectativas em geral. Fosse individual, teria um só
e~ta plural idade de personalid~Vl ~o normal não pode manifestar-se e mesmo caráter, apesar de toda a diversidade da atitude. Não se
çao da personalidade, comprov~~' mas a possibilidade de dissocia- identificaria com a atitude momentânea e não poderia ou quereria
aO,meno~ em germe, no âmbito no a por esses casos, deveria existir impedir que sua individualidade se manifestasse, de qualquer fonna,
psicológica mais penetrante co nnal. E realmente uma observa ão tanto numa quanto na outra situação. Na verdade ela é individual,
comprovar em indivíduos no ns~gue, se~ grandes dificuldades como todo ser, mas de modo inconsciente. Por sua identificação mais
caráter. Basta, por exem I rmais vestígios de uma divisão ' ou menos plena com a atitude do momento, engana no mínimo os
cunstâncías diferente" P~~bobservar atentamente alguém em :. outros, muitas vezes também a si mesma, sobre seu verdadeiro
personalidade quando passa ;;emos ~a mc~vel mudança em sua caráter; veste uma máscara que sabe corresponder, por um lado, às
um meio ambiente para outro
, , ,e a suas intenções e, por outro, às exigências e opiniões do meio ambien-
FERE, te, prevalecendo ora um ora outro momento. Esta máscara, lou seja,
rendas8, de Ia S Note
·/tésur
d des
. m.odiiicati
v ••.•••.
RejlexphiinOm: In:
JUNG Über d"
J tons de Ia résist él
BlOlogte! 1888, p. 217s. ~UTIIectnque,
. onatsschriftfür Psycholo 'e und
.
ete. In: Comptes
' ~as psychogalvanische
a atitude assumida ad hoc (por agora) eu a denomino persona. o Com
este nome se designava a máscara dos antigos atores.
Obro Compl. lI). :&c;:~~ichen ..Begleitersche~ungen 'tmeur~~~t, ~ (190!), p. 387.
(880) As duas atitudes do caso acima são personalidades coleti- 7
ete. In: Diagnostiche Asso .atiER,Uber.das Verhalten des psychogal:no.nschexpe~ent (In:
Zl onssnzdien, II p 113 ams en Phanomens vas que designaremos simplesmente pelo nome persona ou personae.
. ypnotism d ub ,.. '
MORTON 9 AZAM H The
PRINCE D:;
geistiger persõnli.cJzk..:..
? .Ie conscience er altérations de Ia
ocmnon of a personality 1906 LAND personnalué, ·1887
.
NOY •."etmlndividuum 1894 ' . MANN Die Mehrli .'
, Des Ituies à Ia Planête ,. RIBOT,Die Persõnlichkei ' eu
nannter occulter Phanomene
_. Mars, 1909. JUNG Zur Psych I' 1894. FLOUR- 10. Cf. O Eu e o Inconsciente (Obr. Compl. VIl).
(Obr. Compl. 1).' o ogte undelt,Pathologie soge-

389
388
. mportamento do próximo; outras acham que se trata de revelação
Já expus acima que a verdadeira individualidade é distinta delas. A
persona é, pois, um complexo funcional que surgiu por razões de ligiosa.
adaptação ou de necessária comodidade, mas que não é idêntico à (882) Essas maneiras completamente diferentes de lidar com as 757
individualidade. O complexo funcional da persona diz respeito ex- moções do inconsciente são ~ão h~bituais quanto as atitu~es para
clusivamente à relação com os objetos. om o objeto exterior. A atitude mterna corr~sponde pOIS a um
(881) É preciso distinguir bem entre a relação do indivíduo com omplexo funcional tão determinado quanto a a~tu~e e~erna. Aqu:-
756
les casos em que aparentemente os processos pSlqUlCOSmternos s.ao
o ~bje~o externo e a relação com o sujeito. Entendo por sujeito, em
totalmente desconsiderados não carecem de urna atitude típica
pnmeiro lugar, aquela emoção vaga e obscura, sentimentos, pensa-
interna tanto quanto não carecem de uma atitude típica externa
mentos e sensações que não nos advêm comprovadamente da conti-
nuidade da vivência consciente com o objeto, mas que, provindo do aqueles que desconsideram constantemente o objeto externo, a
íntimo obscuro, dos planos de fundo da consciência, perturbam ou realidade dos fatos. A persona desses tem, não raro, o caráter de falta
inibem e, por vezes, ajudam, constituindo, em sua totalidade, a de relacionamento, às vezes até de falta de consideração que quase
percepção da vida do inconsciente. O sujeito considerado como sempre se curva apenas aos rudes golpes do destino. Não é raro que
"objeto interno" é o inconsciente. Assim como há um relacionamento exatamente estes indivíduos cuja persona se caracteriza por uma
com o objeto externo, uma atitude externa, também existe um rígida falta de consideração tenham com relação a?s p:oc~ssos ~o
relacionamento com o objeto interno, uma atitude interna. É com- inconsciente uma atitude extremamente aberta a influências- São
preensível que esta atitude interna, devido à sua natureza extrema- pouco intluenciáveis e pouco acessíveis no relacionamento extern?,
mente íntima e difícil de acessar, seja algo bem mais desconhecido mas quanto a seus processos internos são moles, frouxos ~ male~vels.
Nesses casos, a atitude interna corresponde a uma personalidade
do que a atitude externa que todos podem ver sem mais. Contudo,
não me parece impossível conceituar esta atitude interna. Todas interna totalmente diversa da personalidade externa. Conheço, l?o.r
aquelas inibições ocasionais, caprichos, humores, sentimentos vagos exemplo, uma pessoa que destruiu impiedosa. e cegamen~e a felici-
e fragmentos de fantasias que às vezes perturbam o trabalho de dade de seus semelhantes próximos, mas que mterrompe ímportan-
tes viagens de negócios para apreciar a beleza de uma palsagem
concentração e o repouso da pessoa normal, e que racionalizamos
ft6restal que pode contemplar do trem. Casos parecidos todos conhe-
como provenientes de causas corporais ou de outros' motivos, não
têm, VIa de regra, sua razão nas causas que lhe são atribuídas pela cem, de modo que não preciso trazer outros exemplos.
consciência, mas são percepções de processos inconscientes. A estes (883) Assim como a experiência diária nos autoriza a falar de 758
fenômenos pertencem também os sonhos que gostamos obviamente uma personalidade externa, também nos autoriza a aceitar a existên-
de atribuir a causas externas e superficiais como indigestão, dormir cia de uma personalidade interna. Este é o modo como alguém se
de costas e outras mais, mesmo que tal explicação não resista a uma comporta em relação aos processos psíquicos internos, é a atitude
crítica mais severa. A atitude das pessoas individuais com relação a interna o caráter que apresenta ao inconsciente. Denomino pers~na
essas coisas é a mais diversa. Algumas não se deixam afetar em nada a atitude externa o caráter externo; e a atitude interna denomíno
por seus processos internos, conseguem, por assim dizer, desligar-se ' anima, alma. Na' mesma medida em que uma atitude é habitual,
completamente; outras estão sujeitas a eles em grau máximo. Já ao também constitui um complexo funcional mais ou menos firmado
acordar, qualquer fantasia ou sentimento desagradávellhes estragou com o qual o eu pode identificar-se em maior ou menor grau. A:
o dia; uma sensação vaga ou estranha desperta nelas a idéia de linguagem o expressa de modo plástico; quando alguém pO~SUI
alguma doença ignorada; um sonho lhes dá um pressentimento atitude habitual com referência a certas situações, costumamos dizer
sombrio, mesmo que não sejam supersticiosas. Algumas pessoas têm que ele é outro quando faz is~o ou aquilo. Co.misso se .demonstra a
acesso apenas episódico a essas moções inconscientes ou só a autonomia do complexo funcional de uma atitude habitual: é como
determinada categoria delas. Para algumas pessoas essas moções se uma outra personalidade se tivesse aposssado do indivíduo,. como
talvez nunca tenham chegado à consciência como algo que mereces- se "outro espírito tivesse entrado nele". A mesma aut<?noml~ que
se reflexão, para outras, porém, são problema de ruminação diária. muitas vezes caracteriza a atitude externa também se aplica à atitude
Algumas as consideram fisiológicas ou chegam a atribuí-Ias ao interna à alma. Mudar a persona, a atitude externa, é uma das art~s
mais dllceis da educação. Igualmente difícil é mudar a alma, pOIS

390 391
85) No que se refere às qualidades humanas em geral, é 760
sua estrutura costuma ser tão firme quanto a da persona. Assim com {v 1deduzir o caráter da alma do caráter da persona. Tudo. o que
a persona é um ser que parece constituir o caráter total de uma pes 11 lmente deveria estar na atitude extern?, ma~ que ali falta
e talvez a acompanhe inalterada por toda a vida, também sua a1m I lvamente encontra-se com certeza na atitude ínterna. É uma
é uma entidade bem determinada, com caráter às vezes bem autôn / básica qu'e pude comprovar sempre de novo. Mas,. no q';le.se
mo e imutável. Por isso é possível muitas vezes caracterizá-Ia às qualidades individuais, nada é possível deduzir. A.umca
descrevê-Ia com facilidade. certa é que, sendo alguém idêntico à sua person~, a~ qualldades
759 (884) No que se refere ao caráter da alma, vale, segundo minh llvíduais estão associadas com a alma. Dessa associaçao provém o
experiência, o principio geral de que ela se comporta complementar- li. bolo, freqüente nos sonhos, da gravidez da alma ~ue t~m sua
mente com relação ao caráter externo. A alma costuma possuir toda 1 ' na imagem primordial do nascimento do herói. A cnanç~ a
I ~da significa a individualidade ainda não consci~nte. Ass~
aquelas qualidades humanas comuns que faltam à atitude cons-
ciente. O· tirano, atormentado por maus sonhos, pressentimentos
sombrios e receios interiores, é figura típica. Externamente cruel,
':0 a persona, na qualidade de, express.ão da adaptaçao ao me~o
nhiente é normalmente muito influenciada ~ formada pelo mero
duro e inacessível, é internamente vulnerável a qualquer sombra, I bi te, também a alma é moldada pelo inconsciente e suas
I ien e, bl . ítívo assume
sujeito a qualquer humor, como se fosse o ser menos autônomo e alid des. Assim como a persona, em am lente pnmi ,
mais maleável. Sua alma contém, pois, aquelas qualidades humanas l~a;e ~ecessariamente traços p~itivos! também a alma assume,
de fraqueza e determinabilidade que faltam completamente à sua por um lado, os traços arcai.cosdo ~consclente e, por outro, ~ car~~~
atitude exterior, à sua persona. Se a persona for intelectual, a alma eimbólico-prospectivo do mcons~lente .. Daí provém o car ter
será sentimental com toda certeza. O caráter complementar da alma pressentimento" e "criador" da atitude mterna. •.
atinge também o caráter sexual, conforme pude constatar muitas (886) A identidade com a persona determina automatic~ente 761
vezes. Mulher muito feminina tem alma masculina; homem muito uma identidade inconsciente com a alma po~s, quand~ o sujeito, o
masculino tem alma feminina. Deve-se este contraste ao fato de o u é indistinto da persona, não tem relaçao con~cl~n~e c0n,t os
homem não ser plenamente viril em todas as coisas, mas possuir, via
de regra, certos traços femininos. Quanto mais viril sua atitude
~r~cessos do inconsciente. Ele é esses processos, ~ l~enti~O lSSO.
é seu ró rio papel exterior também sucumbírá ínfalíve mente
t
externa, mais suprimidos são os traços femininos; aparecem, então, Q,em sops~ternos isto é há de contrariar, por absoluta neces-
no inconsciente. Isto explica por que homens bem masculinos estão aos proces ". I b d ( nantiodro-
sidade, seu papel exterior, ou Vai levá- o ao ~ sur ~ v",e , .
sujeitos a certas fraquezas bem características; comportam-se para mia) Fica assim excluída qualquer afirmaçao da linha mdlVldual e
com as moções do inconsciente com a determinabilidade e impres- .d tr~scorr~ em meio a contradições inevitáveis. Neste caso, a
sionabilidade femininas. Por sua vez, as mulheres mais femininas ~a aé sempre projetada num objeto real e corresl!0n?ente, estabe-
apresentam quase sempre, em relação a certas coisas internas, uma lecendo-se com este um relaCionamento de dependência ~uase abso-
ignorância, teimosia e obstinação tão grandes que só poderíamos I ta Todas as reações oriundas desse objeto têm efeíto direto e ~ue
encontrar na atitude externa do homem. São traços masculinos que, toca o Último do sujeito. Trata-se, muitas vezes, de vínculos trágicos
excluídos da atitude externa feminina, se tomaram qualidades da
(v. imagem da alma).
alma. Se, com relação ao homem, falarmos de anima, deveríamos
(752) Anima, animus (v. alma, imagem da alma). . 762
logicamente falar de animus com relação à mulher. Geralmente na
atitude externa do homem predominam ou são consideradas ideais (753) Apercepção. É um processo psíquico pelo .qual .se articula 763
a lógica e a objetividade, nas mulheres predomina o sentimento. Na um novo conteúdo com conteúdos semelhantes e Já eXlsI~nt~s ~e
alma, porém, a situação se inverte: o homem sente e a mulher modo que se o considere entendido, apreendido ou cl~o.. D~stm-
delibera. Por isso o homem desespera mais facilmente, ao passo que ímos uma apercepção ativa e uma pusstva; a .pnrnerra um
a mulher ainda consegue consolar e ter esperança; por isso há mais ~ocesso mediante o qual o sujeito apreende cons,clentemen~e,. por
suicídios entre os homens do que entre as mulheres. Assim como a ~i mesmo e por motivação própria, UIÍl novo conteudo e o assunila a
mulher pode ser muitas vezes vítima das circunstâncias sociais, por
exemplo, da prostituição, o homem é vítima dos impulsos do incons-
11. Cf. WUNDT, Grundzüge der physiologische.n Psychologie, I, 1902, p, 322,
ciente, do alcoolismo e outros vícios.

393
392
em or reprodução e os assimilados,
I mentos assimiladores surg p tid s Então os elementos de
outros conteúdos já à disposição; a outra é um processo pelo qu r uma impressão d~eta dos ~~~ d~ 'certa forma, nos obj~tos
um novo conteúdo se impõe de fora (pelos sentidos) ou de dentro ( 1\ gens recordadas sao co~~~ objeto e os elementos repro?uzldos
partir do inconsciente) à consciência, forçando, de certa forma, teriores de ~odo que, .quanercepção plena dos sentidos s';lfJa,~?cf°
atenção e a apreensão. No primeiro caso, o acento da atividade esté \I crirem muíto entre SI, a p d d ira natureza das COIsas .
no eu; no segundo, no novo conteúdo que força sua presença. ana sobre a ver a e . 767
tusão que nos eng .' ~ sentido algo mais amplo, ou seja,
764 (754) Arcafsmo. Com este conceito designo o caráter de antíguí- (757) Emprego ass~ilaçao e~ito em geral e lhe contra~onho~ a
dade dos conteúdos e funções psíquicos. Não se trata do arcaizante, mo adaptação do objeto ao sUJ . 'to ao objeto e como allenaçao
isto é, da imitação das coisas antigas, como se vê, por exemplo, nas {"s.~imilaçãoco~o adapt:~of!~:J:l objeto, seja objeto externo ou
esculturas da época romana tardia ou no "gótico" do século XiX, mas do sujeito de SI mesmo Idéia
de qualidades que têm o caráter de reliquias. Deveríamos qualificar ." r exemplo uma 1 1. d 768
"psicológICO, po , . , uisi ão relativamente nova .. a
como arcaicos todos os traços psicológicos que concordam, em
essência, com as qualidades da mentalidade primitiva. É certo que o (781) Atitude. Este conceIto e aq Tn~4A1\.Th.l.17
é d MUEu.ER e SCnU1Vln1"'~.
Enquanto l{UL-
otores
arcaísmo adere, em primeiro lugar, às fantasias do inconsciente, isto psicologia. prov m e disposição dos centros sensónos 0NuG~US19
18
PE a define como pr~ ~ . ulso constante, EBB1
é, aos produtos da atividade fantasíadora ínconsciente que alcançam
para determinada eX~ltaçao ~u lffi)o como fenômeno de manobra
a consciência. A qualidade da imagem é arcaica quando possui
paralelos mitológicos óbvios.12 Arcaicas são as associações-de-ana- considera, em senndo ~al~~~ r~ndimento individual que ~1e
ue traz o habitual para en . d EBB1NGHAUSo uso que e e
logia da fantasia inconsciente e também o é seu simbolismo (v.
súnbolo). Arcaica é a relação de identidade com o objeto, a partici-
&0 habitual. Baseia-se no ~on~eItom~ uma disposição da psique de
pation mystique (v.). Arcaico é o concretismo do pensamento e do faremos. Entendemos a a~ e~~o O conceito é muito importante
. ou reagir em certa rreça. d sique porque expressa
sentimento. Arcaica é a compulsão e incapacidade de autodomínar-se
::retudo para os fenôme!l0s com1?lex~e c:Jos estímulos provoc~
(o ser arrebatado). Arcaica é a fusão das funções psicológicas (v.
aqu)!é fenômeno pSic~IÓ~cOeSP~~I~ies de modo bem fraco ou nao
diferenciação) entre si, por exemplo, pensamento e sentimento,
sentimento e sensação, sentimento e intuição, também a fusão das às vezes de forma muito orte e Ter atitude significa: estar pr~nto
partes de uma função (audição colorida), ambitendência e ambíva- o provocam de forma n~~uma. ste algo seja inconsciente, pOISter
lência (BLEULER), isto é, fusão com o oposto, por exemplo, senti- ata algo determinado a~ ~ que ~orística para o determinado, quer
mento e anti-sentimento, ~titude é o mesmo que drre~ao ap is osi ão, é assim que entendo~ a
seja ele representado ou nao. A d~~am çpresentes certa constelaçao
765 (755) Arquétipo13 (v. imagem). atitude,.consiste semp.re e~ ~e ;:tores psíquicos ou conteúdos que
766 (756) Assimilação. É a aproximação de um novo conteúdo da subjetiva, certa co~bmaçao e quela direção prefixada, ou qu~
consciência de um material subjetivo que está à disposição, 14 em que determinem o agir ~est~t:~:lOn:esse ou daquele modo predet~~-
é ressaltada sobremodo a semelhança do novo conteúdo com o
material subjetivo disponível, às vezes em detrimento 'da qualidade ~:~~~b:enm~:: é ~po~sível au~pe~~?~:; c~~~c~:~~· o~ ~~ns~
autônoma do novo conteúdo.15 A assimilação é basicamente um sempre tem um pont\~rrec~on;;~a ~e conteúdos ressaltará inf~l-
processo de apercepção (v.) que se distingue, porém, da pura aper- ciente, pois uma com maçao ão de um novo conteúdo" aque as
cepção pelo elemento de aproximação do material subjetivo. Neste velmente, no ato da apercepç arecem relevantes ao conteudo sub:
sentido, diz WUNDT: "Este modo de formação (isto é, a assimilação) alidades ou momentos que P J'ulgamento que exclUI
qu ~ uma escolha ou um
se apresenta mais evidentemente nas representações quando os jetivo. Acontece, entao,

12.Cf.paraissoJUNG, Simbolos da Transformação (Obr.Compl.V). T Grundzüge der physiologischen Psychologie, m, 1903,p. 529.
13.A estruturaarquetípicasempreestevenocentrodaspesquisasde JUNG. Mas 16.WUND,. 45 37
17 Pjlügus ArchlV, vol. , p. .
a formulaçãodefinitivado conceitosó foicunhadano decorrerdo tempo.Cf.JUNG, • _._.t"; •• der Psychologie, 1893,p. 44.
O Eu e o Inconsciente, As raizes da Consciência, entreoutros. 18.Grw........ 1 . I 1905 P 681s.
19.Grundzüge der psycho ogte, , "
14.WUNDT, Logik, I, 1906,p.20.
15.Cf.LlPPS, Leitfaden der Psychologie,:i.a edição,1906,p. 104.

395
394
(783) De acordo com a atitude habitual, também a psicologia 770
os elementos irrelevantes O é '11 I do indivíduo é orientada de forma diferente em seus traços
decidido pela constelação ~u co;:~. r~lev~t~ ou irrelevante será h os. Ainda que as leis psicológicas em geral valham para todo
a ação selecionadora da atitude _m~çao pr VIados conteúdos. Par
da atitude seja consciente ou inc:ao ~porta que o ponto direcional
I Mduo, não são características do indivíduo em si, pois seus efeitos
totalmente diferentes, dependendo da espécie da atitude geral.
a priori e, no mais, se processa ~~~~:td porque a eÉscolhajá é feita ultude geral é sempre resultado de todos os fatores que podem
que se distinga entre conscien . a c~ente. muito prático
I Iluenciar essencialmente a psique, ou seja, da disposição heredi-
haver também duas atitudes. u: e mco~sclente, pois é freqüente
I , educação, influência ambiental, experiências de vida, das
Isto significa que a consciênci~ ter: àconscl~nte .e.?utra inconsciente.
, ncepções e convicções adquiridas pela diferenciação (v.), das re-
que não os do inconsciente Perc b sua ~lsPoslçao outros conteúdos
na neurose. . e e-se c aramente esta duplícidade sentações coletivas etc. Sem a decisiva e fundamental importância
I atitude estaria fora de cogitação a existência de uma psicologia
769 (782) O conceito de atitude tem ce . I dividual. Mas a atitude geral provoca deslocamentos tão grandes
de apercepção de WUNDT D 1 díf rta afinidade com o conceito d forças e tais mudanças no relacionamento das funções singulares
_.' . e e uere porque o . d
cepçao inclui o processo da rel - d conceito e aper- ntre si que daí resultam efeitos globais que colocam muitas vezes
conteúdo novo a ser a ercebid açao o conteúdo prévio com o m questão a validade das leis psicológicas gerais. Mesmo julgando,
se refere exclu;ivamenie ao con~~~~::~~~ q~e o co~ceito de atitude por exemplo, ser indispensável, por motivos fisiológicos e psicol6-
é de certa forma a ponte 1. jenvo prévio. A apercepção gicos, uma certa atividade da função sexual, há indivíduos que, sem
disposição, ao conteúdo novoq~~q 19atO co~teúdo, já presente e à prejuízo, isto é, sem apresentar fenômenos patológicos ou sem que
forma a pilastra de um lado ~ o uan,~ a ati~de representa de certa haja qualquer restrição à sua potência, renunciam a ela, ao passo
ponte. Atitude significa um~ cOtnt~u o a pilastra do outro lado da que, em outros casos, até mesmo pequenas perturbações neste campo
selecionando e direcionand Ú ecatlva, e a expectativa sempre atua
acarretam sérias conseqüências em geral. Quão poderosas são as
encontra no campo de visã~· d~ cont~~d~ bem acentuado e que se diferenças individuais talvez o possamos ver melhor na questão do
c0!D outros conteúdos) certa co~~~~cle!lcla fonn~ (~v~ntualmente prazer e dewrazer. Aqui todas as regras parecem falhar.. O que existe
atitude determinada pois sem lh açao q~e é smorumo de uma que não teólla causado prazer ou desprazer ao homem, dependendo
menta a percepção e'apercepçã~ dan=d conteudo da consciência fo- das circunstâncias? Cada instinto ou cada função pode subordinar-se
as do heterogêneo. Dá ori em à e. o o que é homogêneo e inibe a outras e lhes obedécer. O instinto do eu ou do poder podem colocar
meno automático é base e~senci~~tude ~orresp.ondente. Este fenô- a seu serviço a' sexualidade, ou a sexualidade explora o eu. O
consciente. Levaria a uma co 1 a un ateralidade da orientação pensamento sufoca o restante ou o sentimento engole o pensamento
houvesse na psique uma fun _ mp eta perda de equilíbrio se não
e a sensação, tudo segundo a atitude.
q~e corrigisse a atitude cons~~~n~~t~reruado~da, compens.a~ora (v.) (784) Basicamente a atitude é um fenômeno individual que foge 771
atitude é um fenômeno normal . es e se?ti o, a duplicídade da
a unilateralidade consciente éque só r:az efeitos perniciosos quando da consideração científica. Mas na experiência é possível distinguir
comum, a atitude pode ser u:c:ss~va. Na qual~dade de atenção certos tipos de atitude na medida em que se podem distinguir
insignificante ou também um . Ie? meno parcial relativamente também certas funções psíquicas. Quando uma função predomina
habitualmente, surge uma atitude típica. De acordo com a natureza
inteira. Por força da disposiç~::uP~o g:f ~ue.determina a psique
da função diferenciada, haverá constelações de conteúdos que geram
edu~ação, da experiência geral de vid: uencia .do_ambiente, da
uma atitude correspondente. Assim temos uma atitude típica dos
habitualmente uma constelação de tO'!dda convicçao pode existir
tipos pensamento, sentimento, sensação e intuição. Além desses tipos
constante e até os mínimos detalhes u os que enge~dre de modo
de atitude, psicologicamente puros, cujo número talvez possa au-
profundamente experimenta o des uma ~erta atitude. Quem
que sempre espera o desprazer Esfraz~r da VIda ~erá uma atitude mentar, existem também tipos sociais em que uma representação
compensada pela disposição ínc ~ atitude consciente excessiva é coletiva imprimiu seu selo. São caracteriza.dos por diversos ísmos.
. d onscíente ao prazer O imid Essas atitudes coletivamente determinadas são muito importantes e,
uma antu e consciente para tudo o ue . '. ~pnrnl o tem em certos casos, podem superar em importância a atitude individual
este momento na experiência e f q. podena oprímí-lo, seleciona
atitude inconsciente abre-se par: areJdaem toda Pa:te? por isso sua pura.
o po er e a supenondade.

397
396
772
(838)CoI •
- ettvo. Denomino 1 •
que nao !iopr6prios de co envos todos os COnteúdos .
tempo,OU!eja d ~, mas de muitos ind'víd PSíqUIcoS compensação, aumenta a capacidade de adaptação a obstáculos
Estes Conte' ' ~ uma socIedade, de um I uos ao mesmo comuns e íncomuns e garante a formação de novas e melhores
tations cOll~~~e~j~as ''r~pr~~entações mís~~:S°c~~ ~a h~anidade. formas, de novos e melhores rendimentos".24 O sentimento de
como os COnceitos os P!UUltivos,descritas por LÉ~_~~T rkefõésen- inferioridade do neurótico que, segundo ADLER,corresponde etiolo-
estado reI' '- ."gerazs, usados pelas Ul-u. ,bem gicamente a uma deficiência orgânica, enseja uma "construção
ções d~ve~gIao, ~IeX:ciaetc. Mas não ape~:soas Cult~s, de direito, auxiliar" ,25 ou seja, uma compensação que consiste em produzir uma
LÉVY_BR~er eSIgnados coletivos mas t osb~onceItos e concep_ ficção capaz de equilibrar a inferioridade. A ficção ou "linha diretiva
vas apresent mostra como, nos primitivos a~ m os sentimentos. fictícia" é um sistema psicológico que procura transformar a inferio-
desse valor ~ ~o mesmo tempo sentim:nt rep~esentações coleti- ridade numa superioridade. Nesta concepção é significativa a exis-
colJective.' cdoe~'mvo d?s sentimentos denom?S co etivos. Por causa tência, empiricamente inegável, de uma função compensadora no
apenas ÍJJte! • e .y:sti" ques porque ' essas rema as ''re pz;ésentations campo dos processos psicológicos. Corresponde; no campo físiolõgi-
mistur"'.... ectuaís, mas também ernocí ~r~~entações não são co, a uma função semelhante ao autocomando ou auto-regulação do
••• .,·se certo' ClOnaIS N
porexem 1 s. conCeItos coletivos co '. a pessoa culta organismo.
coletivo ~o, com a Idéia coletiva de Deus c::;
~entimentos coletivos
t
lares, mas convém sõ a elementos ou c~nte ~Ito ou pátria. O carátet
mento COIllo~é~ a funções (v.) por inteiro ~dos psíquicos Particu-
(840) Enquanto ADLERlimita seu conceito de compensação à
equilibração do sentimento de inferioridade, considero-o em geral
774

como e~uilibração funcional, como auto-regulação do aparelho psí-


pensamento d ~o global pode ter caráter c~l ~r exemplo, o pensa- quico.2 Neste sentido, considero a atividade do inconsciente (v.)
exemplo forid"o ~ ser coletivo em sua função t:
o sentimellto ; vd or geral, ~e acordo com as l~s ~o ~~q~anto for um

idêntico' às e entico.ao sentimento geral ou e o a, enquanto, por


grca. Também
como equilibração da unílateralidade da atitude geral, causada pela
função da consciência. Os psicólogos gostam de comparar a consci-
ência ao olho. Fala-se de um campo visual ou centro visual da
consciência mXP~t~tivas gerais, corresponde::à outras palavras, for consciência. Esta comparação caracteriza bem a natureza da função
sensação, omo~o e todo mundo, etc. Tambéo, p~r exemplo, à da consciência: sõ poucos conteúdos chegam ao mais alto grau de

773
~eculiares a
l1ldividual
(839'
(v.r d~ perceber pelos sentidos m. sao. ~oletivos a
maior grupo de pessoas. O C~~tra.::tuidçao qu~ são
o o coletIvo é
consciência ~ apenas reduzido número de conteúdos pode estar ao
mesmo tempól no campo da consciência. A atividade da consciência
• J Compensaça- s' . é selecionadora. A seleção exige direção. E direção exige exclusão de
conCeIto f " o. Ignifica e ilib -
das neuro~;;?ljOduZido proPriament~~or Z~ ou ~ubstitu.ição. O
todo o irrelevante. Disso resulta obviamente certa unilateralidade da
orientação da consciência. Os conteúdos excluídos e inibidos pela
do sentimellto d~n~e .por compensação a equ~ ~a PSIcolOgia direção escolhida caem, em princípio, sob o poder do inconsciente,
sador com e enondade por um siste .1 raçao funcional mas, devido à sua existência efetiva, constituem contrapeso à orien-
deficiência:ará~l. ao desenvolvimento comma pS~o16gico compen_ tação consciente, contrapeso que, ao aumentar a unilateralidade
matemo co.;rg icas, Diz ADLER: "Com a ;;ensa ~r de 6rgãos nas consciente, também cresce e conduz finalmente a uma tensão notó-
a luta com eça, para esses 6rgãos e síst paraça.o do organismo ria. Esta tensão significa certa inibição da atividade consciente que,
mais violentO~undo extemo, luta essa q~~~ orgânicos deficientes, no entanto, pode ser rompida por um acréscimo de esforço cons-
fomece junt o que se ~ossenormal o aparelheve Ocorrer e que será ciente. Mas, com o tempo, a tensão aumenta de tal forma que os
amente maior possibilid d d o... Mas o caráter fetal conteúdos inconscientes inibidos se comunicam com a consciência,
a e e compensação e super-
sobretudo por meio dos sonhos ou de imagens de "livre ascensão".
20. LÉVY'BRJIUT Quanto maior a unilateralidade da atitude consciente, maior a
21. LÉVY. ~'u.,Lesfonctions mentales âans l . . oposição dos conteúdos que provêm do inconsciente, de modo .que
22. ADr.llhB~~HL, Lc., p. 2&. es SOCIetés in/érieures, 1912, p. 2~
--..", Uberden n -' s.
_ 23. Seguindo ANTo ervosen Charakter, 1912.
saçao. N, também GROSS ap
resenta referências à teoria d • 24. ADLER, Studie über Minderwertigkeit von Organen, 1907, p. 73.
acompen_ 25. ADLER, Überden nervõsen Charakter, p. 14.
26. JUNG, A Importilncia do Inconsciente na Psicopatologia (Obr. Compl. no.

398
399
ré rio Deus Isto é concretismo do pensamento. Para o homem
podemos falar de verdadeiro contraste entre consciência e incons- (\~ili~do o co~cretismo do pensamento consiste, por e~~mplo, na
ciente. Neste caso, a compensação se manifesta em forma de função
contrastante. Este é um caso extremo. Via de regra, a compensação t capacidade de pensar algo diferente do.que fat~~ ~an~m::;~o:
pelo inconsciente não é um contraste, mas uma equilibração ou ·dos e de evidência imediata, ou na íncapaci a e e .
complementação da orientação consciente. O inconsciente dá, por : ~~ento subjetivo do objeto do sentimento, ~ado pelos s~ntido~.
exemplo, no sonho, todos os conteúdos constelados para a situação . é um conceito que cal sob o conceito mais 779
consciente, mas inibidos pela seleção consciente, cujo conhecimento (844) O co~~re~mm°.(~tl'ca"(v) Assim como esta representa uma
10 de "parttapaçao ~ . .
seria indispensável para a consciência se adaptar plenamente. ~p d indivíduo com objetos externos, o concretismo ~epresenta
775 (841) Em situação normal, a compensação é inconsciente, isto mls~s::u.. do pensamento e sentimento com a sensa~ao. O co~-
é, atua de forma inconscientemente reguladora sobre a atividade :~smo determina que o objeto do pensamento e .sen~ento seja
consciente. Na neurose, o inconsciente está em contraste tão forte obieto' da sensação. Esta místura ímpede a
com a consciência que a compensação fica prejudicada. Por isso a a? e~e~~: :~~~;e=ame~to e sentimento e mantém as duas ~ções
terapia analítica procura uma conscíentízação dos conteúdos incons- dm f, ~a sensação isto é, numa relação sensual, o que ~pede A

cientes para restabelecer a compensação. na es era ~'uras e sempre fiquem na dependencla da


chegue~ ~i:Ç~::C~ uma preponderância do fator sensorial na
776 (851) Complexo de poder. Termo pelo qual designo às vezes o
complexo todo das representações e aspirações que têm a tendência se~saçao.: . lõzí (Sobre a importância do fator sensual, v.
onentaçao pSICO gica
de colocar o eu sobre as outras influências e a ele subordiná-Ias, quer
sensação e tipo). - d fun ão 780
provenham de pessoas e situações, quer de instintos, sentimentos e (845) A desvantagt'nl do concretismo é a vinculaçao. a . s
pensamentos subjetivos. ló
777 (842) Concretismo. Por este conceito entendo certa peculiaridade à sensaç~. s:np~:n:::n~::op::~e:r~:: s~~:~~~~:!;~~O de~~':~
do pensamento e sentimento que representa o contrário de abstração. o concre m . ula ão sensual das funções
Concreto significa propriamente "crescido junto". Um conceito pen- a reconduz para lá. Isto causa uma ~c íq~ca do indivíduo e favo-
sado concretamente é aquele que aparece intimamente ligado ou \-' lógicas que impede a autonomla ps nh
fusionado com outros conceitos. Tal conceito não é abstrato, separa- ~;~~oos fatos dados pelos. se~ti~:Sé ~~i~~: :~:~:::~:~ ~:~;en~~
do e pensado em si, mas relacionado e misturado. Não é conceito cimento dos fatos, esta onen aç _' . dívíduo O concre-
diferenciado, mas ainda se encontra no material de observação, · ão dos fatos e à sua relaçao com o m 1 .' ~
à Utterpretaç . rtãncia dos fatos e com isso, opressao
transmitido pelos sentidos. O pensamento concretista se movimenta tis o produz uma supenmpo 'b' .
dentro de conceitos e concepções exclusivamente concretos, está d ~dividualidade e de sua liberdade em favor do processo o ~~ti~~.
sempre relacionado com a sensação. De igual forma, o sentimento c~mo o indivíduo não é apenas determinado ,!l0r esúm~os PSI~O -
concretista nunca está separado de seu contexto sensorial. · bém or fatores que às vezes sao contrários aos atos
778 (843) O pensamento e sentimento primitivos são exclusivamente ~~~~:as :a:ncre~mo projeta esses fatores internos ~o~ fatdos
, rval rízação quase supersticlOsa o
concretistas, sempre relacionados com o sensual. O pensamento do externos, ocasionando uma supe o.. . 10 é o
primitivo não tem autonomia, mas adere ao fenômeno material. si como acontece com o prímínvo. Bom exe~p _
fato em, . N1ETZSCHEe a supervalonzaçao da
Eleva-se, no máximo, ao grau de analogia. Também o sentimento
primitivo está sempre relacionado com o fenômeno material. O
pensamento e o sentimento se baseiam na sensação, da qual pouco
concretismo do sentlIDento em
dieta que daí resultou, be~ com~ o maten
("O homem é o que come , cf. acímal. Exernp
.alo
~:~asu
de MOLESCHOTT

. P
ervalorização
..
se diferenciam. O concretismo é, portanto, um arcaismo (v.). A ., dos fatos é a hipóstase do conceito de energia no
supersnciose
influência mágica do fetiche não é vivenciada como estado subjetivo monismo de OSTWALD. A •

de sentimento, mas sentida como efeito mágico. Isto é concretismo (758) Consciência.· Por consciência entendo a refere~~a ~~~ 781
do sentimento. O primitivo não experimenta a idéia da divindade conteúdos psíquicos ao eu (v. eu) enquanto aSSlIDfor enten aP _
como conteúdo subjetivo, mas a árvore sagrada é a morada de Deus, e;,\OADE:'
t.q«:-
~
401 Z Bibliotec
400 ? Comunitá
27 f,
eu. R e erencias ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu
A •

(847) Segundo esta concepção, o método construtivo de inter- 783


são inconsdentes (v.). A consciência é a função ou atividade28 que
mantém a relação dos conteúdos psíquicos com o eu. Consciência pretação não se preocupa com as fo?.tes ou elementos origin~is ~ue
não é a mesma cois~ que psique, pois a psiq~e representa o conjunto stão na base do produto inconsciente, mas prlo3~urAsa exp~~ o
de todos os conteudos psíqUICOS;estes nao estão todos necessa- produto simbólico de forma g~ral e c?mpre~ns f ve '. assocla.çoes
riamente vinculados ao eu, isto é, relacionados de tal forma com o livres a propósito do produto inconsciente sao consideradas mais no
eu que lhes caiba a qualidade de conscientes. Existe uma boa sentido de sua orientação finalista e não tanto sob o aspecto de sua
quantidade de complexos psíquicos que não estão necessariamente procedência. São vistas sob o ângulo do fazer ou do deixar de fazer
vinculados ao eu.29" futuros' é cuidadosamente levada em conta sua relação com o estado
atual da consciência, pois, segundo a concepção compensatória do
782 (846) Construtivo. Emprego este conceito de forma semelhante inconsciente, a atividade do inconsciente tem um significado sobre-
ao de sintético e, de certa forma, para esclarecer melhor este. Pelos tudo de equilíbrio ou de complementação para a situação conscie?te.
term?s_ "constru,tivo" e "sin~ético" designo um método que está em Como se trata de orientação prévia, a verdadeira relação com o objeto
oposiçao ao metodo redutivo, O método construtivo se refere à entra bem menos em questão do que no procedimento redutivo que
elaboração de produtos inconscientes (sonhos, fantasias). Parte do se ocupa com relações objetais realmente acontecidas. Trata-se mais
produto inconsciente como se fora uma expressão simbólica (v.) que da atitude subjetiva em que o objeto significa apenas um indício das
antecipa ~a fase do desenvolvimento psicológico.30 MAEDERfala tendências do sujeito. A intenção do método construtivo é, pois,
n.este sentido de. uma junção propriamente prospectiva do incons- estabelecer um sentido do produto inconsciente em vista da atitude
ciente que anteCIpa quase ludicamente o desenvolvimento psicoló- futura do sujeito. Uma vez que o inconsciente só consegue, via de
. fu 31 T bé
fC~ turo; as: Éem ADLERreconhece uma função antecipadora regra, criar expressões simbólicas, o método co.ns~tivo serv~ para
o mco~sclente. . certo que o produto do inconsciente não pode esclarecer o sentido simbolicamente expresso, indicando à onenta-
ser considerado unilateralmente como algo realizado, uma espécie ção consciente um modo de se posicionar corretamente para que o
de produto acabado, caso contrário dever-se-ia negar-lhe qualquer sujeito consiga a necessária unidade em seu agir com o inconsciente.
sentido ?nalístico. O próprio FREUD reconhece ao sonho o papel
(848) Assim como nenhum método psicológico de interpretação 784
teleológico de ser, no mínimo, o "guardião do sono" 33 mas limita a
função prospectiva essencialmente a "desejos". Co~tudo o caráter se baseia extlusivamente no material associativo do analisando, o
finalist~ das tendências ínconscíenrse não pode ser negado a priori, método construtivo também faz uso de certos materiais comparati-
vos. Da mesma forma que o método redutivo usa certos paralelos
se ~onslderad~ a analogia co~ outras funções psicológicas ou fisio-
biológicos, fisiológicos, folclóricos, literários e outros, também o
lógicas. Consideramos, por ISSO,o produto do inconsciente como
tratamento construtivo de um problema intelectual recorre a parale-
expressão orientada segundo um fim ou ob!etivo, mas que caracteriza
o ponto diretivo em linguagem simbólica. 4 los fisiológicos e o tratamento de um problema de intuição recorre a
paralelos mitológicos e da história das religiões.
(849) O método construtivo é forçosamente individualista, pois 785
27. ~ATORP, Einleitung in die Psychologie, p. 11. Também UPPS, Leitfaden der
uma atitude coletiva futura só se desenvolve a partir do indivíduo. O
Psychologie, 1906, p. 3. método redutivo, ao contrário, é coletivo, pois a partir do caso
• . 28. Cf. RI~ Zur Einführung in die Philosophie, p. 161, que considera a consei- individual retoma a atitudes ou fatos básicos em geral. O método
encia tanto "atividade" quanto "processo". construtivo pode ser aplicado também diretamente pelo sujeito a seus
29. JUNG, A Psicologia da Dementia Praecox (Obr. Compl. IU).
materiais subjetivos. Neste caso, é um método Ü}tuitivo. visando à
30.Exemplo detalhado disso em JUNG, Zur Psychologie und Pathologie sogenann- elaboração do sentido geral de um produt.o ~o mconsClente.: Est~
ter occulter Phiinomene (Obr. Compl. 1).
31. MAEDER, Über das Traumproblem. In: Jahrbuch für psychoanalytische und elaboração se faz pelo encadeamento assoCl~t"!-VO(portan~o nao an-
psychopathol0&is<:~e Forschungen, vol. V, p. 647. vamente aperceptivo, v.) de outros matenais que ennquecem e
32.ADLER, Uber den nervõsen Charakter. aprofundam de tal forma a expressão simbólica do inconsciente (por
33. FREUD, Traumdeutung.
. 34.SILBERERse exprime de forma semelhante na formulação do sentido anagó-
gico, Cf. Probleme der Mystik unâ ihrer Symbolik, 1914, p. 149s.
35.JUNG. A Psicologia do Inconsciente (Obr. Compl. VII).

402
403
Cristo do doentio NIETZSCHE
hostilidade posterior contra eÍeseu endeusame~to de WAGNER SlI (858) Fantasia. Por fantasia entendo duas coisas distintas: o 799
de sábio em visionário etc. ' a transfonuaçao de SWEDENB01H jI/II/asma e a atividade imaginativa. Pelo contexto dá para perceber
796 (810) Eu. Entendo o "eu" como m qual sentido emprego a expressão fantasia em meus trabalhos.
que constitui para mim o centr d um complexo de representaç ( 10 fantasia enquanto fantasma entendo um complexo de repre-
m o e meu campo de c ·A. ntações que se distingue de outros complexos de representações
. e parece ter grande continuidade e Iidenrí O~scIenClae qu
ISSO,falo também de complexo d 4 }~ntIdade consigr, mesmo. P I I or não lhe corresponder externamente uma situação real. Ainda que
conteúdo quanto uma condi - d eu. 'Aco:uplexo do eu é tanto um urna fantasia possa ter sua origem em recordações de vivências
I . rçao a consClenCLQ (v) o

I almente ocorridas, seu conteúdo não corresponde a nenhuma


ps qUICOme é consciente enquant o o' pOISum elemento

plexo do eu Enquanto o c o estiver relacIOnado com o com. alídade externa, mas é essencialmente apenas o escoamento da
o' eu ror apenas o centr d tívídade criadora do espírito, uma ativação ou produto da combina-
conscIente, não é idêntico ao todo de minh o o o meu campo
complexo entre outros complexos P .a pSIq~e?mas apenas um o de elementos psíquicos, dotados de energia. Na medida em que
s~-mesmo. O eu é o sujeito apena; d;r I~SOdIstm~~ e~tre eu I energia psíquica pode estar sujeita a uma direção voluntária,
SI-mesmo é o sujeito do meu todo t !flinha c~nscI~ncla, mas o também a fantasia pode ser produzida consciente e voluntariamente,
Neste sentido o si-mesmo seria ~a ambe: da.pslque mconsciente. seja como todo ou, ao menos, em parte. No primeiro caso, nada mais
dentro dele o eu. O si-mesmo osta fan eza (Ideal) que encerraria é do que combinação de elementos conscientes. Mas este caso é uma
ciente como personalidade sUP~rior o~ ojarecer.na fantasia incons- xperiência artificial e de valor apenas teórico. Na realidade da
plo, o Fausto de GOETHE e o Z 1 eal, assun como, por exem- experiência psicológica do dia-a-dia, a fantasia é acionada por uma
à ideal idade: os traços ~caicosar;tus!Ta, de NIETZSCHE. Por amor atitude intuitiva de expectativa ou é uma irrupção de conteúdos
como distintos do si-mesmo "sup ~ ~~mesmo foram apresentados inconscientes na consciência.
Mefisto; em SPITTELER na forma ~noE :0 em GOETHE, na forma de (859) É possível distinguir fantasia ativa e passiva. A primeira é 800
como o demônio ou o anticrí t e puneteu; na psicologia cristã causada pela intuição, isto é, por uma atitude orientada para a
bre sua sombra no ''mais feioSd~se~:~;,~SCHE, Zaratustra desco~ percepção de conteúdos inconscientes, ocupando a libido imedia-
797 (799) Extroversão. É um volt _ . . tamer@ todos os elementos que emergem do inconsciente e, pela
este conceito designo uma r l_ar se ~ara fora da libido (v.). Com associação de materiais paralelos, faz com que cheguem à maior
objeto no sentido de um mo~:o mantt.e~ta do ~ujeito para com o clareza e evidência. A segunda aparece logo de forma evidente, sem
pelo objeto. Todo aquele que nto pOSItivodo mteresse subjetivo atitude intuitiva precedente ou concomitante do sujeito conhecedor
Pensa, sente e age em relação se encontra num est d
ao b o o
.
a o extrovertIdo que, aliás, permanece totalmente passivo. Estas fantasias integram
externamente perceptív;el de m dO~eto: e 1st? de maneira direta e os "automatísmos" (JANET) psíquicos. Elas só podem ocorrer numa
o d ,o o a nao pair dú íd dissociação relativa da psique, pois seu aparecimento pressupõe que
antu e positiya para com o obi t p o ar UVI a sobre sua
forma un:a transferência do ;t:r~~s or ISSO~ oextroversão ~ de certa quantidade considerável de energia se tenha subtraído ao controle
extroversao .for intelectual o o o e do SUJeItopara o objeto. Se a consciente e se apossado de materiais inconscientes. Avisão de Saulo,
~ental, ele sente no objet~. N~;::!~::sa no obj:to; se for senti- por exemplo, supõe que ele, inconscientemente, já é cristão, mas não
ainda que não exclusiva determín _ e extr~versao há uma forte tinha consciência do fato. É provável que a fantasia passiva tenha
.
é
versão ativa quando ela qu id .açao pelo objeto. Fala-se de extro~
ert a mtencIOnalmente d
sua origem num processo inconsciente e oposto à consciência mas
passiva quando é forçada pelo obí tO, ,e e extroversão que reúne em si quase tanta energia quanto a atitude consciente e,
por própria Conta o interesse d;;e o? ~sto e, quando o objeto atrai por isso, é capaz de quebrar a resistência desta.
vontade deste. sujerto, eventualmente contra a
(860) A fantasia ativa, ao contrário, não deve sua existência 801
798 (800) Sendo habitual unilateralmente a um processo inconsciente, intenso e contraditório,
extrovertido (v. tipo). o estado de extroversão, temos o tipo mas também à disposição da atitude consciente de assumir os
indícios ou fragmentos de relações inconscientes e relativamente
pouco acentuadas e, por meio de associação de elementos paralelos,
41. JUNG, A Psicologia da Dementia Praecox (Obr. Compl. III). apresentá-los numa forma visual plena. Não se trata, portanto, na

406
407
II 108 da consciência. O conteúdo inconsciente tem que depen~er
fantasia ativa, necessariamente, de um estado de alma dissociado I ma coesão interna muito forte que se traduz num sentido
mas, antes, de uma participação positiva da consciência. I
11 amente manifesto.
802 (~61) A forma passiva da fantasia traz muitas vezes o selo d (863) O sentido manifesto tem se~pre car~te~ de ~ processo
804
doentia ou, ao menos, de anormal, ao passo que a forma ativ
visual e concreto que, devido à sua irr~alldade obj~!IV~'nao c~nsegue
pe~ence, não raro, às atividades espirituais mais elevadas do homem llsfazer a exigência de compreensao d~ conscI~ncla. Por :sso, há
Po~s,}1ela confluem a personalidade consciente e inconsciente d~ lU procurar outro significado de f~ta~la, uma mte'J'retaçao de~a,
sujeito n~ produto c~mum e ~ificador. Semelhante fantasia pode um sentido latente. Ainda que a existência de um sentido ~a~~ntenao
ser a mais ~ta expr~ss~o .da ~Idade de uma individualidade e pode, segura e nada impeça a contestação de sua pOSSibilidade, a
me.smo, cnar esta I?dlVidualldade pela expressão perfeita de sua xlgência de compreensão satisfatória .é motivo suficiente para um
umd~d~, (cf: para ISSOo conc:ito d~ SC~LLER de "disposição tudo minucioso. Este estudo do sentido latente pode ser de natu-
~st~n.ca ). ,vIa de regra, a fantasia passiva nao é a expressão de uma za puramente causal, procurando saber as origens psicol~gicas da
individualidade que chegou à unidade, pois pressupõe corno disse- tasia. Isto leva, por um lado, às causas remotas da fantas~a, e, por
mos,. f~rt~ díssociação que, por sua vez, só pode ba;ear-se numa utro à constatação de forças instintivas que devem ser conslderad.as
oposlçao Igualmente forte entre consciência e inconsciente. A fanta- nergeticamente responsáveis pelo aparecimento da fant~sla.
sia que prové~ desse ~stado e irrompe na consciência jamais poderá FREUD, como se sabe, trabal~ou m~ito n~st~ linh~. E~ta espécie de
ser a expressao perfeita de uma individualidade una em si mas interpretação eu a denominei reãuuva. Ajustífícação (lesse modo de
r~present~á sobretudo o ponto de vista da personalidade U-;cons- ver é bem fácil; também é compreensível que p~a ~ certo tempe-
ciente. A Vida de Paulo é bom exemplo disso: sua conversão à fé cristã ramento esta maneira de interpretar os fatos pSicolÓgiCOScontenha
~orresp~ndeu a uma aceitação de seu ponto de vista até então algo de satisfatório, dispensando a exigência de ulte?or cOl~preen-
inconsciente e a uma repressão do ponto de vista até então anticristão são. Se alguém gritar por socorro, este fato se explica suficiente e
que ~e manifestava em seu~ ataque~ histéricos. A fantasia passiva "s~tisfatoriamente quando se constata que este alguém está momen-
precisa sempre de uma maca consciente, caso contrário fará valer bíneamente em perigo de vida. Se alguém sonha com mesa ~arta_e
sempr~ o .ponto de vista unilateral da oposição inconsciente. A se constata que, ao ir para a cama, estava com fome, esta explicação
fantasia anva, como produto, por um lado, de atitude consciente não é satisfatória para o sonho que teve. Se alguém q~e rep~e ~ua
oposta ao inconsciente e de processos inconscientes, por outro e que sensualidade, digamos um santo medieval, tem fro;tasIas se~a~s, Isto
se co~porta _emrel~ção à consciência de forma compensadora: e não se explica suficientemente pela redução à sexualidade repnrnlda.
opositora, nao precisa dessa crítica, mas apenas de compreensão.
_ (864) Mas se quisermos explicar a visã? de P~dro po~ estar ele
803 (862) Como n~ sonho (que.n~da mais é do que fantasia passiva), com fome e ter recebido, por isso, um convite do mconsclente para
também na ~ant~sla há que distinguir um sentido manifesto e um comer carne de animais impuros, ou porque o comer c~e d~
latent~. O primeiro ?ec0I!e d~ contemplação imediata da imagem animais impuros significava apen~s a satisfação ~e ~ ~esejo proi-
fantasl~sa, do en~clado.lffiedlato do complexo fantasioso de repre- bido então esta explicação tem muito pouco de s~nsfatono. Também
sentaçoes, O sentido manifesto merece poucas vezes este nome ainda não ~atisfaremos nossa exigência reduzindo a Visão de Saulo à sua
que esteja sempre bem mais desenvolvido na fantasia do que no inveja reprimida do papel que Cristo. de.sem~enhava entre ~eus
sonho.' provav~lmente porque a fantasia do sonho não precisa de conterrâneos, motivo pelo qual se teria Identificado com ~ns~o.
energia especial para opor-se eficazmente à fraca resistência da Ambas as explicações podem conter algo de verdade, mas. nao tem
consciência adormecida e, por isso, também as tendências com fraca relação alguma com a psicologia, historic~ente. determ~ad~, de
oposição e só ligeir~e~te compens~doras podem atingir a percep- pedro e Paulo. É uma explicação simples e slffiplóna.dem~ls. Não se
çao, ~m estado de ~gfha, ao contrário, a fantasia precisa dispor de pode tratar a história universal como problema d~ ãsíología ou como
considerável energia para superar a inibição resultante da atitude crônica escandalosa das pessoas. Seria algo muito estrel~o. T~mo.s
consciente. A oposição ~co~sciente d~ve.'pois, ser muito importante que alargar nossa concepção do sentido latente da fantasl~, primei-
para p~~~trar na co_nsc~encI~.Se consl.s~ ape.nas em indícios vagos ramente em seu aspecto causal. Jamais e~licaremos exa~snvamente
e.~e difícil apreensao, jamais c.onsegurra atrarr para si a atenção (a por ele a psicologia do invidíduo; é preciso saber tambem que sua
libido consciente) a ponto de interromper a continuidade dos con-

409
408
I nnano" não falta jamais em parte alguma. Também a explicação
psicologia individual é det . I, lista da visão de Pedro, referida nos Atos dos Apóstolos, é bem
sa~er como é determinad:rmN~ada pelas circunstâncias da épo '
físiolózi
11I 1 satisfatória do que uma conjetura fisiológico-pessoal.
r gico, bi10I'ogico
. ou pessoal
. ao se trata de' um problema apen.\ I
(867) Resumindo, podemos dizer que a fantasia deve ser enten- 808
epoca. Se~e então que nenhum'f~:s t~~e~ de um problema di
I ti tanto causal quanto finalisticamente. À explicação causal ela
:~~te exphcado apenas por sua cauf~~I~gIco pode ser exaustiv I p ece como sintoma de um estado fisiológico ou pessoal, resultado,
. ~ sempre umbilicalmente vincul d ,a e; .co~o fenômeno vivo
1I r sua vez, de acontecimento anterior. À explicação finalista, porém,
~~i~;~ a';';,d~~~:/ sempre algoar:al~~~~~u~~~~o .l';~c:s: \ f ntasia se apresenta como sfrnbolo que procura, com ajuda de
111 ceriais disponiveis, caracterizar ou apreender certo objetivo ou,
806 e (865), O momento psicológico tem car 1\ lhor, certa linha de desenvolvimento psicológico futuro. Pelo fato
. para_ tras. Ao realizar-se já prep fu de Jano: olha para frent 1 a fantasia ser a característica principal da atividade artística do
~~ença~, _a fin~idade, a ~olocaçãoar:e °ob' ~o. Não fosse assim, a pirito, o artista não é mero apresentador, mas criador e, por isso,
p n:omçao senam impossibilidad . ~e~v?s, a premeditação 'ducador, pois suas obras têm valor de símbolos que prefiguram as
m~~esta uma opinião e nós ales pSIcologIcas. Quando al érn Unhas do desenvolvimento futuro. A maior ou menor validade social
opirnao expressa antes o re acionamos simplesmente c~ dos símbolos depende da maior ou menor capacidade vital da
~amentedinútilp~is,para~o:";~!~Jêe::oa,_ esta explicação ê p~tia Individualidade criadora. Quanto mais anormal, isto é, menos capaz
ca~sa. esse agir, mas também o ' n~o queremos saber apenas de vida for a individualidade, menor será a validade social dos
o :etlvo, qual sua intenção e qJ~e q~~~ressar com ela qual simbolos por ela produzidos, ainda que sejam de importância abso-

~~z~~~~~:mtu::n~: :~::s~s ~~:etl~t~s. Na ~~~~~~gi~~~~~ luta para aquela individualidade .


(868) Só podemos negar a existência do sentido latente se 809
d
nas explicaçõe s,.' consideramos d .. vamente . ' um aspecto finalista
'
defendermos também a opinião de que um processo natural não
.esl?rezamos o fator estritamente e~lslvo justamente este aspecto e
contenha qualquer sentido satisfatório. Mas a ciência natural extraiu
tm~vamente o elemento criati ausal, reconhecendo assim in
~s"m na vida quotidiana entã:o:m todo ~ psíquico.Se ;'roced~m~; o sentido~o processo natural na forma de leis naturais. As leis
IStO.em consideração e' não bas~SlcologIa CIentífica tem que levar naturais são hipóteses humanas, colocadas para explicar o processo
estntamente causal em re ar-se apenas no ponto de . natural. Mas só na medida em que se tem certeza de que a lei proposta
no aspecto finalista' da :Siq~:~o das ciências naturais, mas tam~!~ coincide com o processo objetivo, temos o direito de falar de um
sentido dos fenômenos naturais. Na medida, pois, em que conseguir-
807 . (866) Se, portanto a .A •
mos demonstrar que a fantasia segue determinadas leis, também
~r;e~açã~ finalista do; co:~~~~n~la quoti~iaIl:a nos diz que a teremos o direito de falar de um sentido delas. Porém, o sentido
UVl a, nao há motivo para não adm ~ . consciencia é algo fora de encontrado só é satisfatório ou, em outras palavras, a comprovada
n:os e o contrário, que o mesm I~rmos, até que a experiência conformidade às leis só merece este nome quando reproduzir ade-
tr
Cl~nte. De acordo com minh o se ~ph~a aos conteúdos do in quadamente a essência da fantasia. Há uma conformidade às leis no
on~ntação finalista dos cont:;:.;e,:,enna, não há por que nec~~s~ g
processo natural e do processo natural. É bastante conforme à lei que
ma~sfreqüentes os casos em q s inconscientes; ao contrário são sonhemos quando dormimos; mas não é nenhuma lei que nos dirá
satisfatóría apenas aduzindo oue se consegu.e uma explicação ~ais algo sobre a natureza do sonho. É simples condição do sonho. A
po~exemplo, a visão de Saulo s~~P:~t0gulfmallsta. Se considerarmos demonstração de uma fonte fisiológica da fantasia é mera condição
e c egarmos à conclusão ue an. o de sua missão universal de sua existência, mas nenhuma lei de sua essência. A lei da fantasia
~~s t:ristãos, mas inconsciinte::n~~~~nte;ente um perseguidor como fenômeno psicológico só pode ser uma lei psicológica.
. s ao ~ que se tomara cristã a a otado o ponto de vista (869) ChegamoS, agora, ao segundo ponto de nossa explicação 810
mc.on~Clente? porque sua perso~~~la pr~ponder.ância e irrupção do
do conceito de fantasia, ou seja, ao conceito de atividade imaginativa.
o.bjetIvo cuja importância e dade. inconsciente procurava este
A imaginação é a atividade reprodutora ou criativa do espírito em
nvamente, então me parece maisn:c:ssldade compreendia instin-
geral, sem ser uma faculdade especial, pois se reflete em todas as
ficado desse evento do que a redu ;_quada, esta explicação do signi-
estes tenham contribuíd o d e al gumaç o forma
a motIVOSpessoais '. mesm
, pois o "d emasta d amente
o que

411
410

\t nvolvida. Daí é que surgem os tip.0s (v.) psicoló~cos. D~:sd~ã!


formas básicas da vida psíquica: pensar, sentir, sensualizar e intuir.
Para mim, a fantasia como atividade imaginativa é mera expressão tuilateralidade desse processo evolduuvo,~~~t:~~d~S então
ssariamente relegadas em seu esenvo . . ~
direta da atividade psíquica, da energia psíquica que só é dada à 11 ce á Ias "inferiores" mas só no sentido psicológico, e náao ~o
consciência sob a forma de imagens ou conteúdos, assim como a 1lum - .'. fun ~ ficaram para tr s nao
ntido psicopatológIco; pois estas . çoes qUfune~ .' al Como
energia física só pode manifestar-se como estado físico estimulando d . a enas retardadas em vista da çao pnncip '.
os órgãos sensoriais de modo físico. Assim como cada um dos estados 11 oÔ o:~~a:, ~çãO inferior é consciente, mas não r~conhecld~ em
físicos - energeticamente falando - nada mais é do que um sistema n :rdadeira importância. Comporta-se como mu~tos con~eudos
de força, também um conteúdo psíquico nada mais é - considerado uarimidos ou insuficientemente considerados que sao conSCIentes,
energeticamente - do que um sistema de força manifestado à cons- p lado e inconscientes, por outro, como nos casos em qt;e
ciência. A partir deste ponto de vista, pode-se dizer, então, que a ~~~emos determinada pessoa por sua aparência exte;na mfunas n~o
fantasia enquanto fantasma nada mais é do que determinada quan- d . t uem é Nos casos normais, a çao
tidade de libido que não pode manifestar-se à consciência a não ser sabemos :e:~~s~fe~en a~ ~enos ~m seus efeito~; nas I?-euroses,
na forma de imagem. O fantasma é uma idéia-força. O fantasiar permanec . arte ou em sua maior parte no inconsciente- Na
enquanto atividade imaginativa é idêntico ao fluir do processo
psíquico de energia.
~:!~~ e~~c~~:~o~a a libido é dirigida para a função principal, ~
função inferior evolui regressivamente, ISto é, volta para seu.s está
811 (807) Função (v. tambémftmção inferior). Por função psicológica . d' m atível com a funçao conSCIente e
entendo uma certa forma psíquica de atividade que, em princípio, gi~s ~calco~::':n~-~~~ q~e normalmente deveria ser cons-
permanece idêntica sob condições diversas. Sob o ponto de vista P:m~l~~i ~ inconsciente, também nele cai a energia e~pecífica dess~
energético, a função é uma forma de manifestação da libido (v.) que, ~: Uma função natural como, por exemplo, o sennm~nto, pOS~U1
sob condições diversas, permanece, em princípio, idêntica a si mes- um~a:~ergia que lhe advém da própria natureza; é um slste~a V1VO
ma; seria como a força física que pode ser considerada, de certo bem organizado que nunca será privado completamente e sua
modo, a forma de manifestação da energia física. Distingo ao todo
energia. .' t de 813
quatro funções básicas: duas racionais e duas irracionais, respecti- (853) Cofibi inconscientização da funçã? ~enordseu r~ o ~
vamente, o pensamento e o sentimento, a sensação e a intuição. Não .a assa ara o inconsciente e este é vívificado e mo o nao
posso indicar um motivo a priori por que considero estas quatro como
:~al. bisso !ascem fantasi~s que ~orres~~~de~ à :çç:~ t~~~~
funções básicas. Só posso dizer que foi fruto de longos anos de arcaica. Só é possível UIIla hbertaça~ an ítica a .
experiência. Distingo essas funções entre si porque não podem ser . a ens inconsClentes da fantasía que foram
relacionadas ou reduzidas umas às outras. O princípio do pensamen- tr~ze~do à ~~n~;ã:t;mada inconsciente. Pela conscienti!:aç~o
to é, por exemplo, absolutamente distinto do princípio do sentimento ativa afs pe . função inferior é novamente trazida à conSClenCla
etc. Diferencio essas funções de antemão da fantasia porque o dessas antastas, a
e com possibilidade de desenvolvimento futuro.
fantasiar me parece uma forma específica de atividade que pode 814
apresentar-se em todas as quatro funções básicas. A vontade me (910) Função transcendenté2 (v. simboic). . o o

815
parece um fenômeno psíquico totalmente secundário, bem como a (811) Idéia. Neste trabalho emprego às vezes 10 :on~e~to ldé:,
atenção. para designar certo elemento psico~ógico que tdemre aJ:opror::ê~~ia
d o imagem (v.) A imagem po e ser
o o .
812 (852) Função inferior. Entendo por este conceito a função que, o que e~omm 1 N último caso é coletiva e caractenza-se por
no processo de diferenciação, fica para trás. Mostra a experiência ser pessoal e unp~oa '. o o ue é imagem primordial. Se
~'

quase impossível - devido à adversidade das circunstâncias em geral qualidades mItolÓgicas. DIgo, ent~o, q~. alidades evidentes
- alguém desenvolver ao mesmo tempo todas as suas funções psico- não tiver caráter mitológico, ou seJ.a,,~ao tiver qu I to o termo
lógicas. As próprias exigências sociais fazem com que a pessoa e for apenas coletiva, então falo de ld~la. Empre~o, p~r:t: si~ificado
diferencie mais esta ou aquela função, porque é mais condizente com idéia para expressar o significado de imagem primor I , .
sua natureza, ou porque lhe fornece os meios mais úteis ao seu
sucesso social. Muitas vezes ou quase sempre identificamo-nos mais 42. cr. JUNG, A Função Transcendente (Obr. Compl. VIII).
ou menos plenamente com a função privilegiada e, por isso, a mais

413
412
~u,~foi abstraído do concretismo da imagem. Enquanto abstr ç I 814) HEGEL hipostasia totalmente a idéia e lhe concede o 818
idéia aparece como algo derivado de fatores elementares ou a p 1/ II I I uto de único ser real. Ela é "o conceito, a realidade do conceito
deles des~nvolvid~, como produto do pensar. É neste sentido, d II1 I t nidade dos dois".49 Ela é "eterna geração".50
secundário e denvado, que a idéia é considerada por WUNDTIl
outros. (815) LASSWITZdiz que a idéia é uma "lei que mostra a direção 819
11\ que se deve desenvolver nossa experiência". É a "realidade
816 (812) Mas enq~anto a id~ia na~a mais é do que o signifi . I, . ,,51
111' ma e mais segura.
f~rmul.ado de uma Imagem primordial, na qual já foi represem d
(816) COHENafirma ser a idéia a "autoconsciência do conceito", 820
szmboll~amen~e,a essência da idéia não é algo derivado ou produzido,
"fundamento" do ser.52
~as, pSlcologIc:une~te falando, algo existente a priori como possíb
hdade de combinações de pensamentos em geral. Por isso de acord ) (817) Não pretendo trazer mais citações sobre a natureza primá- 821
co~ a e~sência (e ~ão com a formulação) a idéia é um~ grandez I da idéia. Bastam estas para mostrar que a idéia é concebida como
psicológica ~e~e~m?Dte e exis~e~t~ a priori. Nesta linha, segundo andeza fundamental e existente a priori. Esta última qualidade ela
P~TAO, a ld~la.~ a Imagem pnrmnva das coisas; segundo KANT I deve a seu precursor, à simagem. (v.) simbólica primordial. Sua
a Imagem pnmmva do uso da razão", um conceito transcendental I tureza secundária de abstração e derivação ela a deve à elaboração
qu~ ultr~pas.sa c~mo ta.!os limites do experímentával+" um conceito cional à qual é submetida a imagem primordial para servir ao uso
racional cUJOobjeto nao pode ser encontrado na experiência".45 Diz racional. A imagem primordial é uma grandeza psicológica, sempre
KANT:"Mesmo que devamos dizer dos conceitos transcendentais d em toda parte autóctone. O mesmo pode-se dizer da idéia, ainda
razão que. el;s ~ão apenas idéias, não podemos considerá-Ios supér- que, devido à sua natureza racional, esteja muito mais sujeita a
fluos o~ inúteis. Mesmo que por eles nenhum objeto possa ser modificações pela elaboração racional e formulações que corres-
determínado, podem, no fundo e imperceptivelmente servir de pondem às condições de lugar e ao espírito da época. Por causa de
~ânon ~ razão em seu uso ~plo e ~sclarecedor; e mes~o que, por sua proveniência da imagem primordial, alguns filósofos lhe atri-
ISSO,nao reconheça outro objeto alem dos que poderia reconhecer buem qualidades transcendentes; segundo penso, isto não convém à
por se~s conceitos, será conduzido melhor e mais longe nesse idéia, mas à imagem primordial que tem a qualidade de ser intem-
conhecIm~nto. Sem ~alar de que ,t~vez possibilitem uma passagem poral porque é dad~ como integrante do espírito humano sempre e
dos c~nceltos na~al~ p,~a os prancos e possam proporcionar dessa em toda parte. Também sua qualidade de autonomia ela a tira da
manerr? às própnas Idel~s morais postura e concatenação com os imagem primordial que jamais foi criada mas está sempre presente,
conhecimentos especulativos da razão".46 aparecendo na percepção tão espontaneamente que poderíamos
817 (813~ SCHOPENJ-:IA~Rdiz: "Entendo por idéia aquele grau fixo
dizer estar ela procurando por si mesma sua realização, porque o
e determinado de objetivação da vontade enquanto coisa em si e 'espírito a sente como potência ativa e determinante. Esta concepção
portanto, estranha à plural idade, graus que se comportam na ver- não é geral, provavelmente é questão de atitude (cf. CapoVIl).
dade, para com as coisas~articulares como suas formas eternas ou (818) A idéia é uma grandeza psicológica que determina não só 822
c?mo seus protõtípos"." Para SCHOPENHAUER,a idéia é coisa o pensamento mas também (como idéia prática) o sentimento.
YIsual porq~e a c.onc~b~no m~smo sentido daquilo que eu chamo Geralmente só emprego o termo idéia quando falo da determinação
Imagem primordial; e inacessível ao conhecimento do indivíduo do pensar no tipo pensamento; também falaria de idéia na determi-
re~ela-se apenas ao "sujeito puro do conhecimento" que se elevou nação do sentir no tipo sentimento. Por outro lado, é termínologíca-
acima do querer e da Indívídualídade/'" mente correto falar da determinação pela imagem primordial quando
se trata da determinação apriorística de uma função não diferen-
43. Philosophische Studien, VIl, 13.
44. Kritik der reinen Vemunft. Ed. Kehrbach, p. 279s.
45. Logik, p. 140.
46. Kritik der reinen Yemunjt, Kehrbach, p. 284. 49. Asthetik, I, 138.
47. Die Welt als Wille und Vorstellung, vol. I, § 25. 50. Logik, m, p. 242s.
48.Lc., § 49. 51. Wirklichkeiten, p. 152,154.
52. Logik der reinen Erkenntnis, p. 14,18.

414
415
/
I I I1I1 d de distinta. Distingue-se da imitação por ser a identi-
ciada. A dupla natureza da idéia .. I 11imitação inconsciente, ao passo que a imitação é um
tempo secundário faz com ' como algo pnmáno 111
nsciente. A imitação é meio indispensável para a persona-
cuamente com "~agem p ~ue ~ '~~o seja às :vezes us le I 1\ ntil ainda em desenvolvimento. É proveitosa se não for
idéia é o primum movens (prím ~ . Para a atitude in o~ III uporte do comodismo e não impedir o desenvolvimento de
um produto. erro motor) e para a ext OV 111
III 111 I do individual adequado. Também a identificação pode ser
823 (821) Identidade Falo de íd id d
psícolõgica, É sempr~ um fe~~ enn ~ e no caso de uma i \I
consciente sempre pressuporia ~eno m.<;>n~ciente,pois a i \I I I
I' IIV

11 I II
I s enquanto o caminho individual ainda não for trilhável.
1\1 ndo surge melhor possibilidade individual, a identificação
u caráter patológico ao ser, agora, tão impeditiva quanto o
lentes e, por conse inte cons~lencla de duas cois II 1i I \IIl útil e proveitosa inconscientemente. Atua então dissociati-
suprimiria o fenô~no d~~~:d~:ç~o.~~tr~;uleito ntI ~ obj to, I 11 H porque o sujeito é'partido em duas partes da personalidade,
s~põe sua inconsciência. É uma carac'te~
nva e o autêntico fundamento da "
ti da e pSlc~16gt I I
~ . ca _a mentalidad I I
1111 tranha à outra.
U20) A identificação não se refere sempre a pessoas, mas 826
mais é do que o resíduo da rimiti p~~lpaça~ mística" qU( I I tIL\ m a coisas (por exemplo, a um movimento espiritual, um
sujeito e objeto, portanto do ~sta~o ~a mdif~rencla~ão ps~qui I I I II to etc.) e a funções psicológicas. Este último caso é especial-
é característica do estado de espíri~:~~Cle.nte ?nI?0:dl~; t n I 111 ut importante (cf. CapoIl). Nele a identificação faz com que se
me~~~, é característica do inconsciente d~~~~oa c~~c~ e, 011 "1111 um caráter secundário, levando o indivíduo a identificar-se de
me I a em que não se tiver tomado um c ' iza o que I 111 f rma com sua função mais bem desenvolvida que ele se afasta
fica em permanente estado de id tid d onteudo da consei 11" I uiníro ou totalmente de seu estado caracterológico original, caindo
com os pais baseia-se a identifi:~ _ a( e)com o objet? Na identid I I
1\ I verdadeira individualidade em poder do inconsciente. Isto é
'!,o evda' c.om
se baseia a possibilidade da proje çao'J
~s ~als;(v)também II I
mtroieçao 11 llicamente regra em todas as pessoas com função diferenciada.
824 . (822) Em primeiro lugar, a identidade ' .' . . 11 lusive é ponto de passagem obrigatório para o caminho da
CIente com os objetos Não é ni l e uma Igualdade me n Individuação. A identillcação com os pais e os familiares mais
. al . lve amento nem identifi -
~er l~ a priori que jamais foi objeto d caçao, ~as um
'A' I óximos é, em p);te, fenômeno normal enquanto coincide com a
Identidade a ingênua presunção ~ con~clenCla. Baseia-s n Icl'/ltidade familiar existente a priori. Neste caso, recomenda-se não
igual à de outra que os mesmos que.a psicologia de uma pessoa I ilar de identificação, mas de identidade, termo que exprime a
o agradável peda mim também mo~vos tenham validade geral, q mação real. A identillcação com os familiares distingue-se da
para mim também deva sê-lo paraos para os outros, que o imor 11 'identidade por não ser um fato dado a priori e, sim, surgir secunda-
sável pela tendência muito difundi:: J:tros etc. T~~ém é respon- lamente pelo processo seguinte: o indivíduo que se desenvolve a
que deveria ser melhorado na 6' querer corngir nos outros o partir da identidade ~amiliar original encontra, em seu processo de
a possibilidade da sugestão e ~o ~~~t~e~soa. ~e~a se b~seia também adaptação e evolução, dillculdades que não consegue superar sem
manifesta com especial evid A' gio psíquico. A Identidade s mais; por causa disso surge um represamento da libido que, aos
e:emplo, no delírio paran6ic~n~~ar:'~~i~asos patológicos como, po poucos, procura uma saída regressiva. A regressão faz reviver estados
poe estarem nos outros os conteúd n~~nto em que se pressu- primitivos: a identidade familiar, entre outros. Esta identidade,
dade toma possível também um I o~ ~ubJetIvos ~róprios. A Identí- regressivamente reavivada e já praticamente superada, é a identi-
social consciente que teve sua e;r etI,:?sm°áximC?nSClen~e, uma, atitude ficação com os familiares. Toda identificação com pessoas segue este
amor do próximo. essao m a no Ideal cristão do caminho. Sempre visa ao objetivo de conseguir uma vantagem, de
remover um obstáculo ou de cumprir uma tarefa, imitando os outros.
825 . (819) Identificação. Entende-se or id
psicológico de dissimilação (v .
.
l: -
I en~caçao um processo
nalidade. Identificação é um alhean açao) par~l~ ou total da perso-
(759) Imagem. Quando falo, neste livro, de imagem, não entendo 827
o retrato psíquico do objeto exterior, mas uma representação imedia-
favor de um objeto que ele p am~nt~.do sujeito de si mesmo em ta, oriunda da linguagem poética, ou seja, a imagem da fantasia que
identificação com o pai signoifir assim .lzer, assume. Por exemplo se relaciona indiretamente com a percepção do objeto externo. Esta
d do mai ca praticamente um d - dos
mo os o pai, como se o filh o fosse osse ]Igual ao pai~ ea não
oçao uma
os imagem depende mais da atividade inconsciente da fantasia e, como

417
416
-..

produto dela, aparece mais ou menos abruptamente na c "


como espécie de visão ou alucinação, mas sem o caráter P li 1/1 . ()V. e,. por
do inconsciente coletivo . outro ! mostra quedoa
d oletiva
desta, isto é, sem fazer parte de um quadro clínico de d I " 1 mentânea da consciência é mais influencia a c
imagem tem o caráter psicológico de uma representação da '"1 I• lmente. .. ifi 831
e nunca o caráter quase real da alucinação, isto é, nunca tom 11 I I - al não tem caráter arcaico e nem slgn -
da realidade e sempre se distingue da realidade dos sentido I (I' I ')1 tiva
A Imagem uz conteúdos do inconsciente
mas traPdesso .. d pessoal e uma
uma imagem "interna". Via de regra não possui nenhuma pr c '. A essoalmente condiciona a.

no espaço, salvo em casos excepcionais, quando também I( 1111 da consciencia p . d" étipo" 832
. dial que também chamei e arqu
manifestar-se exteriormente. Esta forma de manifestação d V ('I ~.) A imagem p~o~ 1 ínimo comum a todos os povos e
denominada arcaica (v.) se não for principalmente patolÓgica, Ijl I 11I» coletiva, ou seJ~,e, no m t bém a todas as raças e épocas
porém, não suprime seu caráter arcaico. No grau Primitivo, isto ," 1 ti clJ )/1. Provavel~ente ~~o~~~unS ~de constatar a existência de
mentalidade do primitivo, a imagem interna se transforma facilOl 11 I I I ncipais m0t,Ivosdmlto'togrlCgro.~ grega nos sonhos e fantasias de
'e de motivos a nu o o . 54
te em visão ou alucinação auditiva no espaço, sem ser patológi I. 1111 n friam de doenças psíquicas.
828 (760) Ainda que geralmente não caiba à imagem um valor d I I li de raça pura que s~ científico-natural, podemos 833
realidade, pode, em certas circunstâncias, ter, para a experiên 'I 765) Do ponto de ,:star~~~s~o~o sedimento mnêmico, um
psíquica, um valor tanto maior, isto é, um valor psicológico enom! I 111 íderar a Imagem pnm~ d condensação de inúmeros proces-
rama
como expressão de uma realidade "interna" que, às vezes, suplant IIu (SEMON)que .surgru a tido é um sedimento e, com isso,
a importância da realidade "externa". Neste caso, o indivíduo n () 1 emelhan~e~entre si, Nes~~s~~ certa experiência psíquica q~e
está orientado pela adaptação à realidade, mas pela adaptação 1111 forma típica fund~~n de motivo mitológico é uma expres~ao
exigência interna. ~rnpre retoma. Na qualIda e cando a experiência psíquica
829 (761) A imagem interna é uma grandeza complexa que s rnpre a?va e que sempre -r:~~r:~:~a apropriada. Sob este as~ec-
I m questao o~uform~ando uma dis osição fisiológica e anatormca-
compõe dos mais diversos materiais e da mais diversa procedência.
10 é expressao psíquica de. d al P'm o ponto de vista de que uma
Não é um conglomerado, mas um produto homogêneo, com sentido • . d Assumin o gue , .
mente determ~a . a. . d ' roduto de condições ambientaís
próprio e autônomo. A imagem é uma expressão concentrada da
situação ps(quica como um todo e não simplesmente ou sobretudo dos strutura anato~a d,e~e~ma
tuando sobre a.matena Vl~a, al
e~~lo
a imagem primordial, e~ s~a
rresponde a uma influência
conteúdos inconscientes. E certamente expressão de conteúdos in-
conscientes, não de todos os Conteúdos em geral, mas apenas dos ocorrênc.ia constante ~ :~e:s c~n~~anteque, por isso, de,:e ter o
momentaneamente constelados. Esta constelação é o resultado da externa Igualmente umv f deríamos relacionar o mito com
atividade espontânea do inconsciente, por um lado, e da situação caráter de lei natural. Dessa .mitoasolares com o nascer e o pôr do
momentânea da consciência, por outro, que sempre estimula a à natureza, por exemplo, os ud: ça perceptível aos sentidos, das
atividade dos materiais subliminares relevantes e inibe os irrelevan- sol d~ários, bem comor:al:~n: foi e é feito por muitos mitólogos.
tesoA imagemé, portanto, expressão da situação momentânea, tanto estaçoes do ano, o que r ue então o sol, por exemplo,
Mas isto não responde à perg;mta,?o q tituem direta e abertamen-
inconsciente quanto consciente. Não se pode, pois, interpretar seu transformaçoes nao cons
sentido sóa partir da consciência ou só do inconsciente, mas apenas e suas aparentes . t:' d sol a lua ou os processos
a partir de Sua relação recíproca. 'd do rmto O lato e o, ,.. di
te o conte~ o . o mínimo, em forma alegonca, m ica
meteorológicos aparecerem, n . ue neste caso não pode ser
830 (762) Qualifico a imag~m como primordiaZ53 quando ela possui uma colaboração autôno~a :~~:l::dfçõ~s ambient~is. Donde l~e
caráter arcaico. E só falo de caráter arcaico quando a imagem mero produto ~u estereonp to de vista fora da percepçao
apresenta uma concordância explícita com motivos mitológicos co- adviria a capacídade de.b.usc~ ~!a~~ de fazer algo mais ou algo
nhecidos. Neste caso, expressa, por um lado, sobretudo materiais sensorial? Donde lhe vma a ac borar o testemunho dos senti-
diferente do que simplesmente cor;~oria causal e científico-natural
dos? Em face dessas perguntas, a
53.V),Seguindo
Compl. , J. BURCKHARDT, ce JUNG, Súnbolos da Transformação (Obr.

,
54, Exemplo típico de imagem arcaica em JUNG , Súnbolos da Transformação.

418
419
. . ordial que chegou a formular um
dosengramas, de SEMON,já não satisfaz. Somos forçados a di I 11 do que a unagem P:UU t:o da função contrária pode levar
que a estrutura cerebral dada não deve sua natureza peculiar p I I I mento- Só ~ d~sen~ol=e~ez apreendida intelectualmente, a
à influência das condições ambientais, mas também à qualíd 1 além da idéIa, lS~Oe, atrai o sentimento que, neste caso, é
peculiar e autônoma da matéria viva, isto é, a uma lei inerente à \I li I I atuará sobre a ytda. Ela . o bem mais concreto do que o
A constituição dada do organismo é produto das condições ext n IIImenos diferen~lado e'éI?or :0 'e, por ser indiferenciado, a~da
por um lado, e das condições inerentes ao vivente, por outro 1
I 1 amento. O sentun~nto ~Pte O indivíduo é incapaz de uni-lo
Segue disso que a imagem primordial está sempre relacionada, 1> . d om o mconsClen . visual
I fusIona o c . rimordial aparece no campo
um lado, com certos processos da natureza, perceptíveis aos sentido , déia. Neste ~aso, a una:e:~do à sua natureza concret~, apreen-
em constante renovação e sempre atuantes e, por outro lado, tambéi III rno como sunbolo (v.) , ainda indiferenciado; e devido à. s~a
sempre relacionada com certas condições internas da vida do espírít ) o sentimento concretobé a idéia, já que é sua mãe, e une Id~la
e da vida em geral. O organismo confronta a luz com um novo órg o: I portância, apreende tam ~a em primordial atua como medIa-
o olho; o espírito confronta o processo da natureza com a image sentimento. Desse modo a .s gsua eficácia redentora que sempre
simbólica que o apreende tão bem quanto o olho apreende a luz. d ra e demonstra, uma vez ~ald' aplicar à imagem primordial o que
Assim como o olho é um testemunho da atividade criativa, específic r .-es Gostana e l'
I)Ossuiunas re 1910 .' da idéi a pois conforme já exp iquei, nao
. - se
e autônoma da matéria viva, também a imagem primordial é expres- CHOPENHAUERdisse a 1 I alg~ totalmente apriorfstico, mas
são da força criadora, única e incondicionada do espírito. deve consiiderar. a idéia como I borada a partir de algo. Portan t o, nas.
834 (766) A imagem primordial é, portanto, expressão condensada também como denvada e e ~ guir pediria ao leitor que subsu-
do processo vivo. Dá um sentido ordenado e coerente às percepções palavras de SCHOPE~~éia~ ;ela de "imagem primordial" para
sensoriais e às percepções interiores do espírito que parecem, a ruísse no texto ~ pala ue retendo dizer.
princípio, desordenadas e incoerentes e liberta, assim, a energia que seja entendIdo o q P al 1 _ a idéia - jamais será 837
psíquica da vinculação à pura e incompreendida percepção. Mas (769) "Pelo indivídU~ CO~;q~ele eq~e se posicionou acima de
vincula, ao mesmo tempo, as energias liberadas pela percepção dos conhecida, s~~ented o ~e~. Pd:alidade e se elevou a sujeito puro do
estimulos a um sentido determinado que dirige a ação dentro dos todo querer 'eJde to a fi ~VI tá ao alcance do gênio ou daquele que,
parâmetros condizentes com este sentido. Libera energia acumulada conhecimento: portanto s e~ a conse iu elevar sua força de conhe-
A

e sem aplicação, conduzindo o espírito para a natureza e dando uma motivado pelas obras do g~n~~i ão d~sPírito genial: por isso n~o é
forma espiritual ao instinto puramente natural. cimento puro para um~ ~~~ ~as apenas condicionalmente, 'pOlSa
835 (767) A imagem primordial é preâmbulo da idéia (v.), é sua d
"absolutamente comum~ . na obra de arte (por exemplo) so apela
terra-mãe. A partir dela, e após haver eliminado o concretismo (v.) idéia concebida e reP:~~~~d: de seu próprio valor intelectual", et~.
peculiar e necessário à imagem primordial, a razão desenvolve um a cada um segundo . _ em oral de nossa apreensao 838
conceito - a idéia - que se distingue dos demais conceitos por não rJ70) "Devido à f~rmdaespác10dteco~pôs na multiplicidade".
. ídéi a unida e que se
ser um dado da experiência, mas por ser um princípio que está na intuiuva, a 1 Ia e um recipiente inanimado que 839
base de todas as experiências. Esta propriedade a idéia a recebe da (771) "O conceito se P:r:~~:amos e dele não podemos retirar
imagem primordial que, enquanto expressão da estrutura cerebral guarda lado a lado o qu~ne~déia ao contrário, desenvolve, naquele
específica, dá forma determinada a toda experiência. mais do que colocamos. a 1_ 'e são novas em relação ao conceito
836 (768) O grau de eficácia psicológica da imagem primordial é que a concebeu, representaç~~: ~uum organismo vivo, que se ~esen:
determinado pela atitude do indivíduo. Se for introvertida, grande do mesmo nome: ela se par d que produz o que nele nao fOI
ênfase será dada naturalmente ao objeto interno, ao pensamento, volve, e dotado de força gera ora
devido à retirada da libido do objeto externo. Segue disso um depOSIta. d"
o .55
desenvolvimento particularmente intenso dos pensamentos dentro
da linha traçada inconscientemente pela imagem primordial. Dessa
forma, a imagem primordial se manifesta apenas indiretamente. A
progressão desse desenvolvimento pensante conduz à idéia, que nada .
55. Dte Welt
als will und vorstellung, vol. I. §49.
e

421
420
vém do fato de ser impossível uma verdadeira adaptação
é, a (772)
imagem SCHOPENHAUER
primordial percdebeu.claramente que a "id ," I nte ao objeto que representa a imagem da alma. Devido à
atin giidaa seguindo-se
sezuí ibilidade e não-existência de uma relação objetiva, a libido
o mesmo c o .minha definO
' segun - não p d '
içao, presada e explode numa descarga afetiva. Os afetos sempre
ou ~a "idéia" ("idéia" no senti:::~o para produzir um C 111' I fi onde falham as adaptações. Uma adaptação consciente ao
partir de noções,,5~ mas ue é e KANT, como um "con ( 1

que representa a imagem da alma é impossível exatamente
f?rmula?o!;a, ou, co:Uo dizqsc~Ó~~~ umUERele~~~to além d ru I "l a alma é inconsciente para o sujeito. Se lhe fosse consciente,
nto gemal , o que significa nada . d ,a disposição d II I ,'1 distingui-Ia do pbjeto e neutralizar os efeitos imediatos do
mento. Da idéia só se chega i maIS? que um estado de t 111
I li I ,pois estes provêm da projeção da imagem da alma sobre o
à

levou à idéia passar pelo áni da idéia pnmordial se o caminh


841 ( pice a idéia e alcançar fun - I \ 1 .57'
773) A imagem prim dial a çao con I
888) Para o homem, o portador mais adequado da imagem da 843
vantagem de ser viva. f: umo~r 1 ~em sobr: a clareza da id ,
f?rça geradora", pois é uma or !n~lSIl!0de VIda própria, "dotad ti
,lIn é a mulher, por causa das qualidades femininas de sua alma e,
1Ia mulher, é o homem. Sempre que houver uma relação absoluta,
SIstema sólido que não é apenas e zaçao_herdada da energia psíqulr
\ feito mágico, por assim dizer, entre os sexos, trata-se de projeção
do ~e<encadeardo processoene<i:~~~a~mast~bém possibílidul • I, Imagem da alma. Sendo freqüentes essas relações, também a alma
mo o como o processo ener é . . aractenza, por um lad
remota~ eras e toma possível ~uoco se.mpre ocorreu desde as m:, I 111 que ser muitas vezes inconsciente, isto é, muitas pessoas não
\ mam consciência do modo como se comportam para com os
ao ~nseJar tal apreensão ou come ~~:t:u:ue o~o~éndo regularment
nsao I I' essos psíquicos internos. E pelo fato de essa inconsciência vir
a ~da possa receber sua contin~d d pSIqUl~ade situações, qu ' mpre acompanhada de uma total identificação com a persona, esta
sária co~trapartida do instinto a e. Const.ItuI, portanto, a nece
l ntificação tem que ser muito freqüente. Realmente, muitas pes-
pressupoe também uma a ' 9ue é um agir teleológico mas
as se identificam tanto com sua atitude externa que já não têm
~omentân~a. Esta apr':r:;.~,::,':: ~~;::ó~ae;eleol?gica d~,itua~~
lação consciente alguma com os processos internos. Mas também
lIDag~m existente a priori. Re res aça~ ada e garantida p ) p de aconte~r o contrário: que a imagem da alma não seja projetada,
qual impossível seria a apreen~ão ~nta a formul~ aplicável e sem a
842 (887) I ,e uma nova situação mas permarieça no sujeito. Disso resulta tal identificação com a alma
magem da alma E um . que o sujeito se convence de que o modo como se comporta em
(v:) psíquicas que o incons~iente ~~~::spec~co entre as imagens r lação aos processoS internos seja também seu único e real caráter.
atitude externa, é representada nos so . Assim ~omo a persona, <, evido à sua inconsciência, a persona, neste caso, é projetada e, além
bessoas que possuem as qualidad nhos por imagens de certas disso, sobre um objeto do mesmo sexo - o que explica muitos casos
e~ acentuada, também a alma :sa~~esI?ondentes numa forma de homossexualidade aberta ou latente, ou de transferências de pai,
no inconsciente por certas es' de rnterna, é representada nos homens, .e transferências de mãe, nas mulheres. Esses casos
soas
corres~ondentes à alma. Esta hua que poss~em as qualidades acontecem sempre com pessoas com adaptação exterior deficiente e
vezes sao personagens totalmente ~:~c~~am~-se lIDag~m ~a alma. Às com relativa falta de relacionamento, pois a identificação com a alma
homens, normalmente a alma é ecidos ou mitológicos Nos cria uma atitude que se orienta principalmente pela percepção de
pessoa feminina' nas ~ulh apresentada pelo inconsciente ~omo processoS internos - o que retira do objeto a influência determinante.
a ~. diIVI'd u alídadi eres como masculi
idade é inconscient . ma. Nos casos em que (889) Sempre que a imagem da alma é projetada, surge uma 844
a imagem da alma tem o me te e, P?r ISSO,associada com a alma
vinculação afetiva absoluta com o objeto. Se não for projetada, cria-se
~m que ?á identidade com a ;:~o~a:~~er ~exu)al.Em todos os caso~ um estado de relativa inadaptação que FREUD descreveu em parte
inconsciente, a imagem da alma é . a ~a e, portanto, a alma é
como narcisismo. A projeção da imagem da alma faz com que a gente
Esta pessoa é objeto de amor int transfenda para uma pessoa real
não se preocupe com os processos internos enquanto o comporta-
de medo). As influências dessa ens~ ou?e ódio intenso (ou també~
memto do objeto coincidir com a imagem da alma. E, assim, o sujeito
lutamente obrigatório porque semore empre temrecebemcaráterresposta
imediato e abso-
afetiva. O

57. Cf. JUNG, A psicologia da Transferência (Qbr. Compl. XVI).


56. Kritik der reinen Yerttunft , Ed. Kehrbac,h p. 279.

423
422
está em condições de viver sua persona e desenvolvê-Ia. Mas, com o 'onsciência escapa de qualquer possibilidade compr.eensiva. É inútil,
tempo, o objeto terá pouca possibilidade de' corresponder sempre às portanto, fazer suposições a respeito. Dessas fantasias f~z Pa:te, por
exigências da imagem da alma, ainda que haja mulheres que, xemplo, a suposição da cerebração'A d~ proc~sso fisíolõgíco etc.
sacrificando sua prórpia vida, conseguem ser para seus maridos a Também impossível é fixar a abr~gencla do .mconsc~ente, Isto é,
imagem da alma por todo o sempre. Ajuda-as neste particular o aber quais conteúdos nele se ~,?nt~m. Sobre ISSOdecide apenas a
instinto biológico feminino. O mesmo pode o homem fazer incons- xperiência. Através da expenencia sa~emos,. por exemplo, que
cientemente por sua mulher, mas é levado a atos que ultrapassam onteúdos conscientes podem tomar-se inconscíentes por causa da
suas capacidades, tanto no bem como no mal. Também ele é ajudado perda de seu valor energético. S.ab~mos pela e~e~ênc!a que esses
por seu instinto biológico masculino. conteúdos que estão abaixo do limiar da consciencia nao desap~e-
cem simplesmente e que, o_portunam~nte, mesmo após decêníos,
845 (890) Se a imagem da alma não for projetada, surge, com o
podem emergir das profundezas, verificando-se. alguma cl!cuns-
tempo, uma diferenciação mórbida na relação com o inconsciente.
tâncía favorável como, por exemplo, o sonho, a hipnose, a cnptom-
O sujeito é inundado cada vez mais pelos conteúdos inconscientes
nésia58 ou um reavivamento de associações com o conteúdo
que, devido à falta de relação com o objeto, não consegue valorizar
e nem empregar de outra maneira qualquer. É natural que esses esquecido.
conteúdos prejudiquem em muito a relação com o objeto. Essas duas (916) Ensina também a experiência que conteúdos conscientes 848
atitudes são casos extremos entre os quais estão as atitudes normais. podem cair abaixo do lim~ar da ~onsci~ncia sem .grande perda de
Como se sabe, o normal não se distingue por uma clareza, pureza ou valor através de um esqueclIDento intencional+ o que FREUD chama
profundidade especiais de seus fenômenos psicológicos, mas antes repressão de um conteúdo ~esagr~dável. Efeit~ seme~hante o~orre
por uma obstrução e confusão geral deles. Em pessoas com atitude pela dissociação da personalldad~, IStOé, uma dissolução da unidade
externa benevolente e não-agressiva, a imagem da alma tem normal- da consciência devido a afeto violento ou choque nervoso, ou por
mente caráter malévolo. Exemplo literário disso é a mulher demo- desintegração da personalidade na esquizofrenia (BLEULER).
níaca que aco~panha Zeus em A Primavera do Olimpo, de (917) Pela experiência sabemos também que. as percepç~es d~s 849
SPITrELER. MUltas vezes o homem depravado é uma encamação da sentidos devido à sua fraca intensidade ou desvio de atençao, nao
imagem da alma para a mulher idealista, daí as "fantasias de chegam' a uma ap~rcepção consciente mas tomam-se conteúdos
salvação" tão freqüentes nesses casos; o mesmo se dá com homens psíquicos pela apet~pção inconsciente, o que pode ser demonstrado
que vêem as prostitutas com auréola de almas necessitadas de novamente pela hipnose, por exemplo. O mesmo pode ~contec~r com
salvação. certas conclusões ou outras combinações que ficam mconsclentes,
846 (823) Imaginação (v. fantasia). devido ao valor muito pequeno ou ao desvio de_atenç~o. ~inal~ente,
a experiência nos ensina que existem conexoes psíquicas mcons-
847 (915) Inconsciente. Para mim este conceito é exclusivamente
cientes como, por exemplo, imagens mitoló.gicas qu~ ?unc~ foram
psicolôgico e não filosófico, no sentido metafísico. É um conceito-li-
objeto da consciência, sendo produto exclUSIVOda atividade mcons-
mite psicológico que abrange todos os conteúdos ou processos
psíquicos que não são conscientes, isto é, que não estão relacionados ciente.
com o eu de modo perceptível. Ajustificação para falar da existência (918) Vemos que a experiência nos dá pontos de apoio ~ara 850
de processos inconscientes deriva, para mim, única e exclusivamente, aceitar a existência de conteúdos inconscientes. ~as t.Iada sa~e dizer
da experiência, e sobretudo da experiência psicopatolõgíca onde sobre o que poderia ser possivelmente um conteudo ínconscíente. É
vemos claramente que num caso de amnésia histérica, por exemplo, perda de tempo fazer suposições, pois é il~ita~o. o ~bi~o de tudo
o eu nada sabe da existência de complexos psíquicos difusos, mas o que pode ser conteúdo inconsciente. Qual e o limite infenor de uma
que um simples procedimento hipnótico consegue, de um momento
para outro, reproduzir plenamente o conteúdo perdido. Centenas de
58. Cf. FWURNOY, Des tndes d Ia Planete M~, 1900. Nouvel!es observarions sur
experiências desse tipo nos dão o direito de falar da existência de un cas de somnambulisme avecglossolalie. In: Arehíves de Psyc~?logte, I (190~), p. 1?1.
conteúdos psíquicos inconscientes. A questão de saber em que estado JUNG, Zur Psychologie um1 Pathologie sogenannter occulter Phanomene e mais o artigo
se encontra um conteúdo inconsciente enquanto não integrado à sobre Criptomnésia (ambos em Obro Compl. I)

424
percepçã~ subliminal dos sentidos? Existe algum d d .
nar a sutileza ou alcance das cornbí _ . mo. o e dim fi I (' 1 tiva, traria prejUlZOS para a atividade vital do indivíduo. A
um conteúdo esquecido está totalm m~çoes mconsclentes? Quan I Individualidade já é dada física e fisiologicamente e daí decorre sua
não têm resposta. . en e apagado? Essas pergunm manifestação psicológica correspondente. Colocar-lhe sérios obstá-
851 iulos significa uma deformação artificial. É óbvio que um grupo
(919) Contudo nossa expe .•. , .
conteúdos inconscientes nos p~:~~a ate aqui so~re a natureza do ocial constituído de indivíduos deformados não pode ser uma
mesmos. Podemos distinguir um . I e ce~a classificação geral d Instituição saudável e capaz de sobreviver por muito tempo, pois só
todas as aquisições da existência p~co~~lente pess.0a1que englob I sociedade que consegue preservar sua coesão interna e seus valores
o subliminalmente percebido ss~. o esq~ecldo, o reprimid I oletivos, num máximo de liberdade do indivíduo, tem direito à
conteúdos inconscientes pes;o~tns~, o e sentido, Ao lado dess vitalidade duradoura. Unia vez que o indivíduo não é um ser único
mas pressupõe também um relacionamento coletivo para sua exis-
K:v~m das aquisi~õe~ pessoais, ~~s d: ~~~?~il~~:~~~:d ~~e. ndão tência, também o processo de individuação não leva ao isolamento,
ClOnamento psíquico em geral ou . I ana O
herdada. São as conexões rnitolõ '-c seja, d~ estru~a cerebral mas a um relacionamento coletivo mais intenso e mais abrangente.
podem nascer de novo a qual ue~\ as, os motIvos e unagens qu (826) O processo psicológico da individuação está intimamente 854
~igraçã? históricas. D~nominoqesses ec~~~e~lUg:r' ~em tr~dição ou vinculado à assim chamadaftmção transcendente, porque ela traça as
avo. Assun como os conteú dos . os e mconsaente cole- linhas de desenvolvimento individual que não poderiam ser adquiri-
-. conSCIentes também' .
estao engajados numa certa ativid d rtii
cO
os mconsClentes das pelos caminhos prescritos pelas normas coletivas (v. súnbolo).
riência. Assim como provêm cert a e, ul dorme nos mostra a expe. (827) Em hipótese alguma, pode a individuação ser o "único 855
,.
d a d e psiquica os res ta os ou produto d "
consciente també s a anví- objetivo da educação psicológica. Antes de tomá-Ia como objetivo, é
inconsciente, por exemplo: sOnho~r: ína~ce~ Pl~d~t?s da atividade preciso que tenha sido alcançada a finalidade educativa de adaptação
exemplo, sobre qual a participação da: aSlas:. ~uti1 especular, por ao mínimo necessário de normas coletivas: a planta que deve atingir
sonho se nos apresenta não o criam cons~lencla nos sonhos. Um o máximo desenvolvimento de sua natureza específica deve, em
a reprodução conscie~te ou mesmos CO~scl~ntemente. Certamente primeiro lugar, poder crescer no chão em que foi plantada.
muita coisa nele, mas sem acabar o c~ sunp es pe~c~pção mudam
(828) A individuação está sempre em maior ou menor oposição 856
produtiva de proveniência inconsciente~ o fato básico da moção
à norma coletiv~pois é separação e diferenciação do geral e forma-
852
(920) Podemos chamar de com e d ção do peculiar, não uma peculiaridade procurada, mas que já se
funcional dos processos inconscien/ nsa or (v.) ~.rel~cionamento encontra fundamentada a priori na disposição natural do sujeito.
acordo com a experiência o es co~ a con~clencla porque, de .Esta oposição, no entanto, é aparente; exame mais acurado mostra
material subliminal constel~d prfce~so ~consclente traz à luz o que o ponto de vista individual não está orientado contra a norma
to todos aqueles conteúdos ~~: a ~Ituaç~o ~a consciência, portan- coletiva, mas apenas de outro modo. Também o caminho individual
consciente, se tudo fosse conscie~to po enc:m faltar no cenário não pode ser propriamente uma oposição à norma coletiva pois, em
inconsciente se manifesta com t ~. A ~çao compensatória do última análise, a oposição só poderia ser uma norma antagônica. E
unilateral for a atitude conscient~ o d~alOrd ~lare~a quanto mais o caminho individual jamais é uma norma. A norma surge da
patologia. ,e ISSO a murros exemplos a
totalidade de caminhos individuais, só tendo direito a existir e atuar
853 em prol da vida se houver caminhos individuais que, de tempos em
(825) Individuação. O conceito d . di . -
papel não pequeno em nossa sicolo . e ~ I~~uaça~ desempenha tempos, queiram orientar-se por ela. A norma de nada serve se tiver
o processo de formação e P~Cul gra. ~ ~dlV!du~ça?,. em geral, é valor absoluto. Só acontece um verdadeiro conflito com a norma
especial, é o desenvolvimento do~z~Ç~o o s~r ~d~VIdual e, em coletiva quando um caminho individual é elevado à norma, o que é
distinto do conjunto da psicolo . m1l\:duo, pSlcologIco como ser a intenção última do individualismo extremo. Esta intenção é obvia-
de diferenciação que' objetiva o ~a co e~v~. E portanto um processo mente patológica e contrária à vida. Conseqüentemente, nada tem a
individual. É uma necessidade nar:~~vo VImen~o .d~ personalidade ver com individuação que, sem dúvida, toma seu próprio caminho
de regulamentos, preponderante ou ~:é umalco~blçao dela por meio lateral, mas que, por isso mesmo, precisa da norma para sua orien-
exc USlvamente de ordem tação perante a sociedade e para estabelecer o necessário relacio-

426
427
. d ela intenção voluntária, e, ne~te
namento dos indivíduos na sociedade. A individuação leva, po II as simplesmente libera as Pul d obtido ultrapasse o efeíto
I
. ~ de que o res ta o
uma valorização natural das normas coletivas; mas se a orient I O com a restnçao b ito instinto estão, a meu ver,
, I ntade So o conce . . ~ tro
vital for exclusivamente coletiva, a norma é supérflua, acabando. ,li ncionado pe a vo . . r .a a consciênCIa nao con -
a própria moralidade. Quanto maior a regulamentação coletiva dll I I OS os processoS psíquicos 5uJao~n:firos (v.) são tanto processos
homem, maior sua imoralidade individual. A individuação coíncld I\. 19 Segundo esta concepçao,.
essos senumen at
t is (v sentimento). Processos
. d (' t
com o desenvolvimento da consciência que sai de um estado primiuvo li tintivos quanto proc . is são funções da vonta e is o
ircunstânClas usual , . d . a
de identidade (v.). Significa um alargamento da esfera da consciên i l íquicos que, em c onirole da consciêncIa), po em V1f
e da vida psicológica consciente. ubmetidos totalmente ao ~ instintivos quando se lhes
I • • anormaIS processos
857 (824) Individualidade. Entendo por individualidade a orígl r em circunstanClas. 't nômeno ocorre sempre que a
~ece energia inconSCIente. ~st~d e ela repressão de conteúdos
nalidade e peculiaridade do indivíduo sob todo e qualquer aspecto
sfera da consciência é restnngl a ~ fadiga sobrevêm intoxica-
psicológico. Individual é tudo que não é coletivo, o que, portanto, só
pertence a um e não a um grupo maior de indivíduos. Dificilment ncompatíveis ou quando; por c~~s~co: em ge;al, um "abaissement
I' es ou processos cerebraIs pato gt d pois em uma palavra, a
poderíamos falar dos elementos psíquicos da individualidade, mas 'I al" (JANEn quan o, ' is
só de seu grupamento e combinação próprios e específicos. du niveau ment ' . d ão controla os processos mal
onsciência já não controla ou am a n
858 (829) Itulividuo. Indivíduo é um ser por si só. Caracteriza-se o
indivíduo psicológico por sua psicologia peculiar e, em certo aspecto, centuados. . . instintivos, mas automáticos, 860
(912) Não gostana de deno~m~ conscientes num indivíduo e
única. A peculiaridade da psique individual aparece menos em seus
elementos do que em suas formações complexas. O indivíduo (psi- aqueles processos que uma vez or Normalmente também não se
cológico) ou a individualidade psicológica existem incons- que se automatizaram cOI? o tempo. em circunstâncias normais,
instintIVOS porque, d é uma
cientemente a priori, mas conscientemente só enquanto houver uma comportam como ~ S ' o fazem quando lhes a v m
nunca aparecem como coaçoes. o
consciência de sua natureza peculiar, isto é, enquanto houver uma
energia estranha. . o ensamento dirigido (v.). 861
distinção consciente em relação a outros indivíduos. A indivi-
(830) Intelecto. Chamo mtelecto p. VENARlUS 60 862
dualidade psíquica é dada correlatamente com a individualidade f i introdUZIdo por A
física mas, como dissemos, de forma inconsciente. Necessário se faz (831) Intt'Rjeção. Este te~~ ~as a transferência de um conteú-
um processo consciente de diferenciação, de individuação (v.), para como correspbndente d~ proi.ç ~ te bem expressa pelo conceIto
tomar consciente a individualidade, isto é, extraí-Ia da identidade do subjetivo pàra um objeto igu mnve:nientemanter o termo "proje-
com o objeto. A identidade da individualidade com o objeto é . ~ d modo que sena co . d . tro1eção
de projeçao, e FERENCZIdefiniu o concerto em..1
sinônimo de sua inconsciência. Sendo inconsciente a indivi- <, ção" para este processo.. ~" . mo inclusão do objeto no
dualidade, não há indivíduo psicológico, mas apenas psicologia d "projeçao ou seja, co ífícari a
como con trári o e . 'uanto "projeção" sign caIJ~ um
coletiva da consciência. Neste caso, a individualidade inconsciente campo subje~vo de mte;esses, e~~vos ara fora do objeto. '~n-
se manifesta como idêntica ao objeto e projetada sobre ele. Por isso, transferência de conteudos subj f P do eu todas as emoçoes
o objeto tem valor exagerado e sua influência determinante é pode- quanto o paranóico desloca para ora máximo que puder do
rosa demais. . ótico acolhe no eu o . . "
desagradáveIs, o neur bi to de fantasias mconsclentes .
859 (911) Instinto. Quando falo, nesse ou em outros trabalhos meus, mundo exterior e ~ tran~fo~a ~ ~ ;: do introjeção. A introjeção
de instinto, entendo o mesmo que comumente se entende por essa O primeiro mecanismo e projeça , . ~~ uma "expansão do círculo
palavra: uma coação para certas atividades. A coação pode vir de r de "processo de dil Ulçao, .
é uma especIe
estímulos internos ou externos que soltam o mecanismo psíquico do
instinto ou de fatores orgânicos que estão fora da esfera das relações
'a Psíquica e a Natureza dos
psíquicas de causalidade. Instinto é todo fenômeno psíquico que G Instinto e Inconsciente, em A Energt
ocorre sem a participação intencional da vontade, mas por simples 59.· Cf JUN •
coação dinâmica, podendo esta nascer diretamente de fonte orgâni- Sonhos (Obr. Com~=~eltbegriff, 1905, p. 255.
60. Der men5 . kti und Übertragun&, 1910, p. 10s.
ca, portanto extrapsíquica, ou ser condicionada essencialmente por 61. FERENCZI,lntro)e on

429
428
y u do conhecimento.62 A intuição partilha esta qualidade com
I ção cujo alicerce físico é causa e fundamento de sua exatidão.
de interesses".
normalFERENCZIt ambem
' considera a introie - \lidão da intuição repousa também em certo fato psicológico
863 processo
(. çao como
J
rig e disponibilidade eram inconscientes. A intuição se
. ~32) Psicologicamente . . - , 11111 f staem de forma subjetiva ou objetiva. A primeira é uma percepção
w:.sunilação (v.) e a projeção' :mmtroJeçao e portanto um processo
çao supõe uma assimila - d pr~cesso de dissimilação A .
r tos psíquicos inconscientes que provêm essencialmente do
contrári çao o objeto p I' . mtroJ to; a outra é uma percepção de fatos que se baseiam em
um o,,supõe uma diferenciação en e o ~uJeito; a projeção. 1 pções subliminais do objeto e em pensamentos e sentimentoS
conteudo subjetivo transfe ld tre objeto e sujeito devido ü)liminais que evocam. Há que distinguir também formas concretas
P~~.,so de extroversão porq:e o:.",a ~ objeto. A introj~ção é u tvstratas de intuição, segundo o grau de participação da sensação.
o jeto uma empatia cessita para a assi il - 'oncreta transmite percepções que se referem à realidade das
guir . • uma ocupação total d bi nn açao d
f uma introjeção passiva e um . o o ~eto. Pode-se distin lsas; a abstrata transmite as percepções de relações de idéias. A
o~~ os processos de transferê ~ ativa. Incluem-se na primeir Illuição concreta é um processO reativo porque resulta, sem mais,
principalmente nos casos em ncia n~ tratamento das neuro a \ s fatos dados. A abstrata, porém, necessita, como a sensação
sobre o sujeito. Na segund
adaptação.
i que o o~Jeto exerce atração ab ;".
a orrna esta a empada como processo de
so uta
\\)strata, de certo elemento diretivo, uma vontade ou intenção.
(835) A par da sensação, a intuição é característica da psicologia 866

864 . (833) Introversão Ch


lib~do (v.). Expressa is~o
O mteresse não se di .
=0 .
mtr~versão o voltar-se ara
a relaçao negativa entre p. . dentro da
o sujeito. Quem pos':.:,.?epara ~ objeto. mas dele se ;:,elto e objeto.
nfantil e primitiva. Contrabalançando a forte impressão sensorial,
ornece à criança e ao primitivo a percepção das imagens mitológicas,
precursoras das idéias (v.). Em relação à sensação comporta·se de
forma compensadora e, como a sensação, é a terra-mãe a partir da
de modo a d . I uma atitude introvertid ai e vai para qual se desenvolvem o pensamento e o sentimento como funções
sujeito
versão' ;~J.u::o~
pode ser a' d
eixar transparecer claram a pensa, sente e age
o~je:o recebe valor :;::;.~~~;.,~?tivado~
arater mais mtelectual . ano. A mtro-
é o
racionais. A intuição é função irracional, ainda que muitas intuições
possam. depois. ser decompostas em seus componentes e harm ·
zada s~ origem com as leis da razão. Quem orientar sua atitude
oni

introve _ m a. caracterizada pela intu' - ou mais sentimental' geral ~o princípio da mtuição e, portanto, gela percepção através
rsao atlva q d içao ou pel '
ao objeto e é assi uan o o sujeito quer um isol a sensação. A do inconsciente, pertence ao tipo intuição 3 (v. tipo). podemos
objeto a IÍbilo ..::a q~an'i:' ? sujeito não coos:;:nto .em relação distinguir intuitivos introvertidos e extrovertidos, conforme a intui-
podemos falar de tip: d .e re Ul. ~e a atitude introvertiJeu;tt~gr~ no ção for utilizada para dentro. pata o conhecimento ou contemplação

=~:
865 (834) . _ íntrovertido (v. tipo). a e abitual, interna, ou para fora, para as realizações e desempenho. Em casos
Intuzçao (vem de . . anormais, a intuição vem fundida, em grande parte, com os conteú-
meu ponto de vista é um m~en ~ olhar para dentro)
~fo psicológica que psicológica básica (v. ~~~l" dos dó inconsciente coletivo que a determinam, o que faz com que o
tipo intuitivo pareça irracional e incompreensível.
s:as~r:~~;:~ ~b~:;~::~~:a rce~;ãr;~~:~;:;,~a o~=Cknt:' (836) Irracional. Emprego este conceito não no sentido de 867
sentidos, nem sentimento a mtuiçao e que ela não é sens .:nas e anti-racio , mas extra-racional, isto é, o que não se pode fundamen-
possa aparecer também ebnem conclusão intelectual .açdaodos tar com analrazão. Ai entram os fatos elementares, como, por exemplo,
conteúdo se so estas formas N . . -' am a que que a terra possui uma lua, que o cloro é um elemento, que a água
explicar ou d:~~:~ema como um todo acaj,ad~ :'.:tuJçao. q~a1quer atinge sua maior densidade a 4 graus cenrlgrados etc. Irracioual é
espécie de apreens~ ~:::tieste c.onteúdo chegou ~ ::~al~amos também o acaso, ainda que mais tarde seja possível demonstrar sua
como a sensação (v.) é uma va, ~ao importando o conteúd~ ~a
na sensação seus conteú ~çao perceptiva irracion I . AsSIm
caráter de "'d . d teu dos tem caráter de "d dos" a (v.). Como
enva o"" d . a os e . - 62.
63.Igualmente
Deve-se a M.BERGSON.
do pensamento Daí ' pr? uzido" dos conteúdos dm op~slçao ao Molrzer o mérito de haver descoberto a existência desse tipo.
levou SPINOZA' ~rovem seu caráte~ de cert o sentimento e
a considerar a "scientia intuimva "eza e exatidão
como a forma maisque

431
430
., or considerações morais, estéticas ou
eventual causalidade racional.64 O irracional é um fator existencial :r
lrata de alor atnbu~do II íco é sÍInplesmente estabelecido po: s~,a
intelectuaiS; ? valor pSICO gt ifesta em certos efeitos ("produçoe~ )
que pode ser protelado sempre mais por complicadas explicações
força determmante que se man d libido uma força psíqUlca
racionais, mas finalmente complica tanto a explicação que esta bé não enten o por ríti os
ultrapassa a capacidade compreensiva do pensamento racional, atin- psíquicos. T am m ente interpretada por certo,s c ~ ,
conforme vem sendo err?neam 'mas utilizo-o para mtenslda-
gindo seus limítes, antes que abranja o todo do universo com a lei
Não personalizo o conce!to de ~~~:~a;e existe uma força psiq~ica
da razão. A plena explicação racional de um objeto realmente
des e valores. A questao de om o conceito de libido, MUltas
existente (e não apenas suposto) é uma utopia ou um ideal. Só um ~o nada tem a ver c ,,' " A
objeto que foi suposto pode ter explicação plena, pois nada existe especifica ou na libi do romiscuamente com energia, .
nele além do que foi suposto pelo pensar racional. Também a ciência vezes emprego o term~ I lrbilo a energia psíquica foi dada mmu-
empírica supõe objetos racionalmente limitados, pois, mediante justificação para denomm~~os indicados na nota de rodapé.
exclusão intencional do fortuito, não permite a consideração do ciosamente nos meus tra , ~ entendo o principio geral de 870
objeto real como um todo, mas sempre apenas uma parte previamen- (855) Orientação. Por ondentaça~ nta por certo ponto de vista,
, d ( ) Cada atitu e se one " pelo
te selecionada para o exame racional. Neste sentido, o pensamento uma atrtU e v,,' ~o A atitude de poder vai onentar-se. ~
como função dirigida é racional, o mesmo acontecendo com o q uer seja conSCIente ou na . b influências ou condlçoes
, do poder do eu so re I elo
sentimento. Mas se estas funções não se ativerem a uma escolha ponto de Vlsta , ensamento orienta-se, por exemp ?, p
racional determinada de objetos ou de qualidades e relações dos opres~o!as: ~ atltude d~ ~áxima, A atitude da sensação se onentará
objetos, mas ao que é percebido fortuitamente - o que nunca falta prinCIpIOlo~co como ~~os fatos que lhe são apresentados.
ao objeto real - ficam privadas de direção e perdem algo de seu pela percepçao s~~su, ." ermo ue provém de ~~- 871
caráter racional, porque assumem o fortuito. Tomam-se, assim, (856l "PartlClpatwn my~tt.que.: ~ar de ~culação psicologica
parcialmente irracionais. O pensamento e o sentimento que se BRUHL,6 significa ,uma esp cie s~'eito não consegue distinguir-se
orientam por percepções fortuitas e, portanto, são irracionais, podem com o objeto. ConSIste em que 01s J tá ligado por relação direta que
ser intuitivos ou sensuais. Intuição e sensação são funções psicológicas claramente do objeto',mas ~om e e es ial Esta identidade se baseia
que atingem sua plenitude na percepção absoluta do que se passa em poderiam~s, chamar l,de?-~!:d~eP:-~let~ e sujeito: A p~cipação
geral. De acordo com sua natureza, devem estar abertas à casualidade numa umcld~de apnons desse estado primitlvo. Nao annge o
absoluta e a qualquer possibilidade; por isso não devem ter qualquer mística é, portanto. ~ res~duo as a enas certos casos em que. se
direção racional. Denomino-as funções irracionais em oposição ao todo da relação sUJeIto-obJeto, m ~ P uliar A participação mistlca
pensamento e sentimento. Estas últimas funções atingem sua pleni- manifesta o fenômeno de~sa relaç:~ P~~lhor' se pode observar nos
tude na concordância total com as leis da razão. <, é naturalmente um fenon:eno q trável com freqüência entre os
868 (837) Ainda que o irracional em si não possa ser objeto de primitivos; mas també~ e enco~ mesma extensão e intensidade.
ciência, é de suma importância para a psicologia prática dar-lhe o civilizados, ainda que nao cO~almente entre pessoas; raras vezes
devido valor. Na verdade, a psicologia prática levanta muitos proble- Entre os civilizados, ocorre, ~o No rim~iro caso, trata-se de uma
mas que não podem ser resolvidos racionalmente e exigem uma entre uma pessoa ~ ~a cOlsa~o o~,eto (via de regra) obtém certa
solução irracional, isto é, um caminho que não corresponde às leis relação de tran~fer~ncl~ em qu ~re o sujeito. No segundo cas?,
da razão. A expectativa ou convicção de que todo conflito deve ser influência mágica, Isto e, absoluta, s~ uma coisa ou de uma espéCIe
resolvido exclusivamente por meios racionais pode impedir uma trata-se de influências semel~antes c:m a idéia que se faz dela.
verdadeira solução de natureza irracional. tifi ~ com uma COIsaou ~ 872
de iden caçao dank ) É o conteúdo ou matéria dajiLnçao
869 (850) Libido65• Por libido entendo a energia psiquica. Energia é (808) pensam~nt~ (Ge 1 di:crlminação pensante.
a intensidade do processo psíquico, seu valor psicológico. Mas não se do pensar, determma o pe a

64.Cf. JUNG, Sincronicidade: um prindpio de conexões acausais (Obr. Compl. VIII,


Ed. Vozes).
f. ~..; ns mentalr.<iduns les sociétés inférieures, 1912.
65. Cf. JUNG, Símbolos da Transformação (Obr. Compl. V) e A energia psfquica e
a natureza dos sonhos (Obr. Compl. VIII, Ed. Vozes).
66.UNY-BRUHL. o
Les tot:•..•.•

433
,J

873 (774) Pensamento (Denken). Considero o pensamento uma d I I sentimental, as leis da lógica estão apenas aparentemente à
quatro funç~es ~sicol~gicas básicas (v. função). O pensamento I sposição, na verdade estão abolidas em favor da intenção do
aquela ~çao pSI~ológIca que, de acordo com suas próprias leis, ~ ~ ntimento.
a conexao (CO~C~ltual)de cont~údos de representação a ele fome • (857) Persona (v. alma). 877
dos. É. ~a atividade apercepnva e, como tal, deve ser distinguid
(854) Plano do objeto. Quando falo de interpretar um sonho ou 878
em atl~dade de pensamento ativa e passiva. O pensamento ativo
fnntasia no plano do objeto, quero dizer que as pessoas ou situações
um a~ da vontade: o passivo é um acontecer. No primeiro caso,
que neles aparecem são objetivamente reais, em oposição a plano do
~ubordmo os conteudos de representação a um ato voluntário d
.~ujeito(v.) em que as pessoas ou situações nos sonhos se referem
Julgamento, n? segundo, há uma disposição de conexões conceituaí
xclusivamente a grandezas subjetivas. A concepção freudiana dos
~ fo~am-se_ Julgamentos que, às vezes, se contrapõem à minh
sonhos está quase exclusivamente no plano do objeto, uma vez que
mtençao e nao correspondem à minha orientação finalista de modo
os desejos nos sonhos se referem a objetos reais ou a processos
a car.ecerem do sentim~nto de direção, ainda que posterio.:mente eu
sexuais que incidem na esfera fisiológica, portanto extrapsicológica.
consiga, I?or ~ ~to ativo de apercepção, chegar ao reconhecimento
de sua oríentabílidade. O pensamento ativo corresponderia então a (892) Plano do sujeito. Quando falo de interpretar um sonho ou 879
~eu c~nceito de pensa~ento dirigido.67 O pensamento p~ssivo foi fantasia no plano do sujeito, entendo que as pessoas ou relações que
insuficientemente classificado como "fantasiar" em meu trabalho ali aparecem se referem a fatores subjetivos, pertencentes totalmente
.
acima . d o. 68·HOJeo chamana. de pensamento intuitivo.
cita à própria psique. Sabe-se que a imagem de um objeto presente em
nossa psique nunca é absolutamente igual ao objeto, mas, no máxi-
874 . (775) Uma simples justaposição de representações, o que muitos
mo, apenas semelhante. Forma-se evidentemente não pela percepção
psicólogos chamam pensamento associativo, não o considero um
dos sentidos e pela apercepção desses estímulos, mas por processos
pensamento, mas simples representar. A meu ver, só cabe falar de
já inerentes à nossa psique e que apenas são provocados pelo objeto.
pensamento quando se trata de conjugar representações através de Segundo nossa experiência, o testemunho de nossos sentidos coinci-
um conceito, quan,do exi~te, pois, um ato de julgamento, quer seja de grandemente com as qualidades do objeto, mas nossa apercepção
ele fruto de nossa intenção quer não.
está sob ~uências subjetivas quase ilimitadas que dificultam em
875 . ~7!6~ Denomino intelecto a faculdade do pensamento dirigido e muito o ~nhecimento exato do caráter humano. Uma grandeza
~tulçao m~electual a.faculdade do pensamento passivo ou não-diri- psíquica tão complexa como é o caráter humano só fornece, além
gI~o. E mais, de~ommo função racional. (v.) o pensamento dirigido, disso, à percepção pura dos sentidos, pouquíssimos pontos de apoio.
o mte~ecto, pOIS ordena em conceitos os conteúdos das repre- Para conhecê-lo são necessárias também empatia, reflexão e intui-
senta~?es~ segundo a pressuposição da norma racional de que tenho ção. Devido a essas complicações, o julgamento final é sempre de
~onsclencla. Por su~ vez, 0_ p~ns~ento não-dirigido, a intuição valor muito duvidoso, de modo que a imagem por nós formada de
intelectual, é para rmm funçao irracionai (v.), porque julga e ordena um objeto humano tem conotação extremamente subjetiva. Por isso
o~ conteúdos das representações segundo normas para mim incons- é bom, na psicologia prática, distinguir exatamente entre a imagem,
cle~tes, e, po~ isso, não aceitáveis como racionais. Às vezes posso a imago de uma pessoa, e sua real existência. Devido à origem
aceitar poste~o~ente que também o ato intuitivo de julgamento extremamente subjetiva de uma imago, é ela, não raro, bem mais
correspond~ a r~zao, mesmo que tenha emanado de um caminho que imagem de um complexo subjetivo de funções do que do próprio
me parece irracional. objeto. Por isso é essencial que no tratamento analítico de produtos
876 . ~~77) Por pensamento sentimental não entendo um pensamento inconscientes não se identifique, sem mais, a imago com o objeto,
mrumvo, mas um pensamento que depende do sentimento um mas seja considerada como imagem da relação subjetiva com o
pensamento: portan~o, que nã~ se,&1;1e seu próprio princípio lÓgico, objeto. Isto é interpretação em plano do sujeito.
mas que esta subordinado ao principio do sentimento. No pensamen- (893) O tratamento de. um produto inconsciente no plano do 880
sujeito revela a presença de julgamentos e tendências subjetivos dos
quais o objeto se toma veículo. Quando, pois, num produto incons-
67. JUNG, Símbolos da Transformação. ciente, surge uma imago de objeto, não se trata eo ipso do objeto real,
68. L.c.

434 435

-
- -
-,

mas pode ser muito bem e até


subjetivo de funções (v. ilna ~eponderan~emente, um compl (873) Racional. É o que corresponde à razão. Considero a razão 884
do sujeito nos permite uma ~ 1: alma), A m5erpr~tação em pl I uma atitude que tem por princípio conformar o pensamento, o
do sonho mas também d b P l.mt~~retaçao pSIcológica n () ntimento e a ação com os valores objetivos. Estes valores são
. di ~ e oras Iteranas em stabelecídos pela média das experiências de fatos psicológicos que
m ívíduaís representam complexos funcí . que <?sperson I
nomes na psique do autor. cionais relatIvamente au'" podem ser externos ou internos. Estas experiências não poderiam
881 representar ''valores'' objetivos se não fossem ''valorizadas'' como tais
(870) Projeção. Significa transferir .
subjetivo. (É o oposto de introie _ para o. ob~et~ um proc pelo sujeito, o que jáé um ato da razão. A atitude racional que nos
pro~e~so de. dissimilação em ;u!U:' ~')d A proJe~a.o e portanto u
subjetIvo e mcorporado de cert fi tira o do sujeito um conteúd
permite declarar valores objetivos como válidos em geral não é obra
do sujeito singular, mas da história humana.
sujeito se livra de conteúdos pe a orme: ao objeto. Pela projeção (874) A maioria dos valores objetivos - e também a própria razão 885
de valores positivos que por qU~OSOSe m~ompatíveis, mas também - são, desde tempos imemoriais, complexos sólidos de representações
a.uto-subestima, são ina~essíveis i~~: ~OtI~O, como, p.or:xemplo,
tzdade (v.) arcaica entre sujeito e objetO aseIa~e a proJeçao na iden-
em cuja organização trabalharam incontáveis milênios com a mesma
necessidade com que a natureza do organismo vivo reage às condi-
projeção quando aparece a n . o, mas s .se pode denominá-I ções médias e sempre retomadas do meio ambiente, opondo-Ihes
entre sujeito e objeto. Esta nec:~~~sl~ade de dIssolver a identidad complexos correspondentes de funções como, por exemplo, o olho,
se toma empecilho isto é uand a e ~pcu:ecequando a identidad perfeitamente adaptado à natureza da luz. Poderíamos falar, assim,
prejudica muito a adaptaçã~ e o ~e~ ause~Cla de conteúdo projetado de uma razão universal, preexistente e metafísica se a reação do
do sujeito se toma desejá;el A orn~ ~sse conteúdo para den,tro organismo vivo correspondente à média dos efeitos externos não
Identidade parcial adquire o ~aráfe~ ess.e ~omento a prévia fosse condição indispensável de sua existência - idéia já expressa por
designa, pois, um estado de identidad projeçao. Esta expressão SCHOPENHAUER. A razão humana nada mais é, pois, do que a
as~~, objeto de crítica, seja da crítí e ~ue se ,toI?ou ~erceptível e, expressão da adaptabilidade à média das ocorrências que se sedimen-
cnnca de outros. ca o propno SUJeito, seja da tou aos poucos em complexos firmemente organizados de repre-
882 (871) Pode-se distinguir . _ . sentações q\le constituem os valores objetivos. As leis da razão são
primeira é a forma comum d~~proJeçao I!~lva e outra ativa. A as que des~am e regulam a atitude média, "correta" e adaptada.
muitas normais que não são in~ a~ as ~roJeçoe~ patológicas e de Racional é tudo que concorda com essas leis e irracional (v.), ao
automática. A segunda é com encionaís ~as sunples ocorrência contrário, é tudo que não concorda.
empatia (v.) como um todo é ~n~nte essenc~al d~ ato de empatia. A (875) O pensamento e o sentimento são funções racionais 886
?
para levar o objeto a uma ín:l::cess d~ mtroJeção porque serve <, enquanto decisivamente influenciados pela reflexão. Realizam sua
finalidade quando concordam plenamente com as leis da razão. As
configurar esta re.lação, o sujeito d:s~:c:ç~o c?m o sujei~o. Para
exemplo, um sentImento e o tr f
x e SI ~ conteudo, por
este .e incluindo-o na esfera SUb~~:~e ara ? o_bJeto.'dando vida a
manifesta como ato de jul . p~oJeçao ativa também se
funções irr.acionais, ao contrário, são as que objetivam mera percep-
ção, como a intuição e a sensação; devem ser desprovidas, tanto
quanto possível, do racional - que pressupõe a exclusão de tudo que
objeto. Neste caso, um julg!n~~to :'I
b~e sa separar o sujeito do é não-racional - para chegar a uma percepção completa de todo o
como fato válido e transferid o su ~e~vo é destacado do sujeito porvir.
distanciarnento entre sujeito °ePc%?o objeto, .oc~rrendo, assim, um (876) Redutivo. Significa "que reconduz". Emprego este termo 887
processo de introversão porqu jeto. A proJeçao é, portanto, um para designar o método de interpretação psicológica que considera
. e, ao contrário da' . - _
provoca uma mclusão ou assímíl - - ~troJeçao, nao o produto inconsciente não sob o aspecto de expressão simbólica,
separ~ção entre sujeito e objeto. Te~~ mas uma diferenciação e mas semioticamente, como signo ou sintoma de um processo subja-
que, VIade regra, conduz a um total' 1portante pap~l ?a paranóia cente. E, de acordo com isso, o método redutivo trata o produto
883 (872) p.stque
. (
v. alma).
ISOamento do sujeito, inconsciente no sentido de uma recondução aos elementos, aos
processos básicos, sejam reminiscências de acontecimentos reais,
sejam processos elementares que afetam a psique. Ao contrário do
método construtivo (v.), o método redutivo está, pois, orientado para

436
437
. sub'etiva de sentimento e pensa-
I l' bido bem como da mls~: ur~za tal que a sensação concre:a
trás no sentido histórico ou no sentido figurado de reconduzh 111
grandeza complexa e diferenciada para o mais geral e mais 1 I 1 \'1 ~)t~,=:;~~~~:n':foa~nc!eta de. U::sfl~~~~~e~:r~~', ~:~
tar. Tanto o método interpretativo de FREUD quanto o de ADL J II[ansmite a percepção da flo: =as:~bém com sentimentos de
redutivos porque em ambos há uma redução a processos elernent
de desejo e ambição que, em última análise, são de natureza ínf 11 I I íulh s, do habitat etc. Logo ad rms ela visão da flor, ou com a perce~-
I zer ou desprazer, provoca os p por exemplo, sobre su~ classl-
e fisiológica. E, assim, o produto inconsciente adquire ne e
olfativa ou com pens~ent~;trata ao contrário, salienta de
riamente apenas o valor de uma expressão imprópria para a qual n
I . ção botânica. A ~ensaçao a mais n~tória, por exemplo, sua co.r
se deveria empregar o termo simbolo (v.). Em relação à importânc
n diato a caracterísuca se?s~al rincipal conteúdo da conSCl-
do produto inconsciente, o efeito da redução é dissolvedor, porq I elho-brilhante como umco ou P . rura A sensação abstrata
reconduz a seus antecedentes históricos e, assim, o destrói, ou porqu V rm d d ualquer outra rmsnue- 'duto da
o reintegra naquele processo elementar de onde saiu. ncia, separa a e q . ta Como toda abstração, e p~o . . A
nvém sobretudO ao ~s. isso não tem nada de I?nmIUVO.
888 (786) Sensação. Segundo meu entendimento, é uma das funç ( diferenciação das funçoe! e~ ;~~pre' concreta, isto é, mlstur~da (v.
psicológicas básicas (v.fun~ão). WUNDT também a considera fenô rrna primitiva d~ funçao e ão concreta é, em si, um fenomeno
meno psíquico elementar.6 Clrcalsmo e concretlSmo). A s~~saç ca rescinde, como toda ~b.s1!a-
889 (787) A sensação ou o sensualizar é a função psicológica qu reativo. A abstrat~, ao ~o~::~~~ d: direção. A vonl:ade d~~~~
proporciona a percepção de um estimulo físico. Por isso é idêntica ção da vontade, Isto e, ~, ato de exprimir e ap icar a a
percepção. Deve-se distingui-Ia rigorosamente de sentimento, poi , a abstração da sensaçao e o
para ~o . 891
este é processo bem diverso que pode associar-se à sensação como estética da sensaça . . f rtemente a natureza da cnança
''tonalidade afetiva". A sensação relaciona-se não apenas com os a
(789) A sensação caractenz o~ os casos, predomina sobre o
estimulos externos, mas também com os internos, isto é, com as e do primitivo porqu~, em amb s não necessariament~ sobre a
transformações dos órgãos internos. Por isso é ela, em primeiro lugar, ent e o senumento, ma erce ão consClente e a
sensação dos sentidos, ou seja, percepção pelos órgãos dos sentidos e Pl'~:;;iamçãoc~sidero a sensação. cOtmeOs~nsaç~~e intuição são para
pelo "sentido do corpo" (sensação cinestésica, vasomotora etc.). Por . pção inconsclen . mútua-
intuição como perce d funções que se compensam
um lado, é elemento da representação porque fornece a ela a imagem . n um par de opostos ou uas . t A função do pensamento
mu t e o senumen o. t e
percebida do objeto externo e, por outro lado, é elemento do senti- mente, como o pensame;::: ões autônomas, desenvolvem-se on og -
mento porque dá a este o caráter de afeto (v.), através da percepção e do sentimento, ~omo ç ir da sensação (naturalmen:e tam-
das transformações corporais. Enquanto fornece à consciência a '- néríca e fil9gene?cro:n~nte a ~ artida necessária da sensaçao).
transformação corporal, representa também os instintos fisiológicos. bérn a partir da mtU1çao~ con iementar, a sensação é algo s~ples- 892
Mas nem por isso é idêntica a eles, pois é apenas função perceptiva.
(790) Enquan~O fenomeno e .do às leis da razão, ao con~ano do
890 (788) Há que distinguir entre sensação dos sentidos ou concreta mente dado que nao es~á subme; r isso qualifico a sen~açao co~o
e sensação abstrata. A primeira abrange as formas acima descritas. pensamento .e do sen~e~:o'qu~ a razão consiga enfelXar gran e
A segunda é abstraída ou separada dos outros elementos psíquicos. função irracwnal Sv.), am contexto racional. . ,.
A sensação concreta nunca' aparece "pura"; vem sempre misturada número de sensaçoes num u'tude global pelo pnnClplO 893
com representações, sentimentos e pensamentos, ao passo que a e orienta sua a
(791) Uma pessoa qu. ~ (v tipo).
sensação abstrata apresenta uma espécie de percepção diferenciada o tipO sensaçao . d 894
que poderíamos chamar "estética" porque, seguindo seu próprio da sensação pertence a . ~ relativas isto é, correspon em
princípio, ela se afasta de toda mistura das diferenças do objeto (792) As sensações nonnalS s~o ul físic~ As sensações patoló-
'camente à intensidade do ~esnm o almen'te fracas ou fortes; no
pra U . 'sao anonn . ibi ~
gicas não são relativa~, :sto e, e do são exageradas. A irn lÇ~O
69. Para a história do conceito de sensação, cf. WUNDT, Grundziige der physiolo- primeiro caso, são ~Il1b.ldas, no s eçã~; o exagero resulta da fus~o
gischen Psychologie, I, 1902, p. 3505. DESSOIR, Geschichte der neueren deutschen
nasce da predominanfuncla ~e °p~~~xemplo, da fusão com uma funçao
Psychologie, 1894. VILLA, Einleitung in die Psychologie der Gegenwart, 1902. v. HART-
MANN, Die modeme Psychologie, 1901.
anormal com outra çao,

439
438
\.

do pensamento ou do sentimento ainda indiferenciada. O exagero


d~sapar~ce quando a funçã~ que ~stá fundida com a sensação se a cada conteúdo da consciência, seja de que espécie for. Aumentando
~iferen~la por ~l mes?Ia. A psicologia das neuroses dá exemplos bem a intensidade, surge um afeto (v.), isto é, um estado.se.ntimental com
ílustratívos pOIS,muitas vezes, uma forte sexualização (FREUD) está inervações corporais sensíveis. O se~timento. se. distíngue do afe!o
presente em outras funções, isto é, existe uma fusão da sensação por não provocar inervações corporais sensíveis, Isto é, tantas ou tao
sexual com outras funções. poucas quanto um processo convencional do pensamento.
(802) O sentimento comum e "simples" é concreto (v.), isto é, 897
895 (8~9) Sentimento .(Gefiihl). É o conteúdo ou matéria da função
do sentunento, determinado pela discriminação sentimental. misturado com outros elementos funcionais, muitas vezes, por exem-
plo com sensações. Neste caso especial, podemos denominá-lo afe-
896 (801) Sentimento (Fühlen), Considero o sentimento uma das
tiv~ ou (como acontece, por exemplo, neste trabalho) sensação
qu~tro ~çõe~ psicológicas básicas. Não consigo endossar a orien- sentimental entendendo-se com isso uma fusão inseparável do sen-
taç~o psicológica que entende o sentimento como fenômeno secun- timento co:U elementos da sensação. Esta mistura característica se
dário, dependente de "representações" ou sensações mas acho com faz presente toda vez que o sentime~to se mostra como. função não
HOEF~DING, ~T, LE~, ~E, BALDwÍN e outro;, que diferenciada; isto aparece mais evidentemente n~ psique de W?
o ~en~ento é funçao autonoma SUl generis.70 O sentimento é, em neurótico com o pensamento diferenciado. O sentunento é, em SI,
pnmeiro lugar, um processo que se realiza entre o eu e um dado função autônoma, mas pode entrar na dependência de outra ~ção,
conteúdo, um processo que atribui ao conteúdo um valor definido por exemplo do pensamento, quando, então, nasce um sentunento
no sentido de aceitação ou rejeição (''prazer'' ou "deprazer") mas que acomp~a o pensamento e só não ~ rep~ido. para for~ da
também um processo que, abstraindo do conteúdo momentân~o da consciência na medida em que se adaptar as relaçoes intelectuais.
consciência oU"d~sen~a5ões ~oI?en,;âneas, pode aparecer como que
(803) Do sentimento concreto convencional é preciso distinguir 898
Isolado, como ~dIsposIçao de ammo (humor). Este último processo
pode ter relaçao causal com conteúdos anteriores da consciência o sentimento abstrato. Assim como o conceito abstrato (v.pensamen-
mas não necessariamente, porque pode provir de conteúdos íncons- to) deixa de lado as diferenças das coisas, por. ele apreendidas,
cientes, co~orme o demo?stra copiosamente a psicopatologia. Mas também.o sen~ento abstrato s~breleva-se as diferen~,as dos ~on-
o humor, seja ~le ~ sentunento geral ou parcial, também significa teúdos individuais por ele valonz~dos e prod~z ~ .hw:n?r' ~u
uma valonzaçao, nao de um conteúdo determinado mas de toda a estado sentimental que abarca as diversas valonzaçoes mdI~duaIs,
situação momentânea da consciência e, novamente' no sentido da abolindo-as. Assim como o pensamento ordena os conteudos da
aceitação ou rejeição. Por isso o sentimento é, p~eiramente um consciência em forma de conceitos, o sentimento os ordena de acordo
processo d~ todo subietivo q~e pode independer, sob todos os a~pec- com seu valor. Quanto mais concreto o sentimento, mais s~bjetivo e
tos, do estímulo extenor, ainda que se ajunte a cada sensação.71 <, pessoal o valor que lhes atribui e quanto mais abstrato, mais geral e
Inclusive uma sensação "indiferente" tem "tonalidade afetiva" no- objetivo será o valor atribuído. Assim como um conceito 'pl~namente
meadamente a da indiferença, com o que se exprime novamente uma abstrato já não coincide com a ~divi~ualidad~ e ?eCulI~d~ade das
valorização. O sentimento é, portanto, também uma espécie de coisas, mas apenas com sua umversalIdad~ e u:difer~nc~açao, tam-
iulgamento, mas q.ue se distingue do julgamento intelectual, por não bém o sentimento plenamente abstrato Já nao coincide com o
Visar ao estabelecimenro de relações conceituais, mas a uma aceita- momento singular e sua qualidade sentimental, mas apenas com a
ção ou rejeição subjetivas. A valorização pelo sentimento estende-se totalidade dos momentos e sua indiferenciação. Como o pensamento,
o sentimento é, portanto, função racional, porque, conforme a e.xpe-
riência o mostra, os valores em geral são atribuídos~ segundo leI~ da
70.Para a históriado conceito de sentir e para a teoria do sentimento cf WUNDT
razão que, por sua vez, também governam a formaçao dos conceitos.
G~ der Psycho.logie, 1902, p. 35s. NAHLOWSKY,Das Gefüh/slehen· in sein~ '(804) As definições acima não caracterizam a essência do senti- 899
wesentl~ten Erschemungen etc, 1907.RIBOT, Phychologie der Gefühle, 1903.LEH- mento, mas apenas o descrevem a par:rr ~e fora. A. faculdade
MANN, D~eHauptgesetze des menschlichen Gefühlslehen, 1908,VIllA, Einleitung in âie
Psychologie der Gegenwart, 1902,p. 20Bs. intelectual é incapaz de formular a essencia do sentimento em
.71. ~ara distinguir ~ntre sentimento e sensação, ver WUNDT, Grundzüge der linguagem conceitual uma vez que o. pensamento pertence a uma
physlOloglSchen Psychologie, I, 1902,p. 3505. categoria incomensurável com o sennmento, da mesma forma que

440
441
1.

nenhuma função psicológica básica pode ser expressa exatam 111 xperímentável, respectivamente o ainda não experimentado. Essas
por outra. A isto se deve que nenhuma definição intelectual SI I qualidades ele tem em comum com muitos outros conceitos das
capaz de reproduzir o específico do sentimento, de maneira satísl I d ncias naturais que são mais 'nomuui (nomes) do que idéias. Na
tória. A classificação dos sentimentos nada acrescenta à compreen 111 dida em que a totalidade que se compõe tanto de conteúdos
de sua essência, pois mesmo a classificação mais precisa só pod onscientes quanto de inconscientes for um postulado, seu conceito
f~mecer aquele.conteúdo intelectualmente perceptível ao qual est (I
transcendente, porque pressupõe, com base na experiência, a
VInculados sentunentos, mas sem abarcar o específico do sentimen o. xistência de fatores inconscientes e caracteriza, assim, uma entida-
É possível distinguir tantos sentimentos quantas forem as classes d de que só pode ser descrita em parte e que, de outra parte, continua
conteúdos intelectualmente concebíveis; mas nem assim os senti írreconhecível e indimensionável. Uma vez que, na prática, existem
men~os em si são classificados exaustivamente, porque existem fenômenos da consciência e do inconsciente, o si-mesmo como
sentunentos que ultrapassam todas as classes de conteúdos intelec- totalidade psíquica tem aspecto consciente e inconsciente. O si-mes-
tualmente concebíveis e se furtam a qualquer rubrica intelectual. A mo aparece empiricamente em sonhos, mitos e contos de fadas, na
própria idéia de classificação é intelectual e, portanto, incomensurá- figura de "personalidades superiores" como reis, heróis, profetas,
ve.lc~m a~essênci~ d.osentimento. Devemos contentar-nos, pois, com salvadores etc. ou na figura de símbolos de totalidade como o círculo,
a indicação dos limites do conceito. o quadrilátero, a quadratura circuli (quadratura do círculo), a cruz
etc. Enquanto representa uma complexio oppositorum, uma união dos
900 (805) A espécie de valorização pelo sentir é comparável à
opostos, também pode manifestar-se como dualidade unificada,
apercepção intelectual, como uma apercepção do valor. E possível
como, por exemplo, no tao, onde concorrem o yang e o yin, como
distinguir uma apercepção sentimental ativa e passiva. O ato do sentir irmãos em litígio, ou como o herói e seu rival (dragão, irmão inimigo,
passivo se caracteriza pelo fato de um conteúdo estimular ou atrair
arqui-inimigo, Fausto e Mefisto etc.). Empiricamente, pois, o si-mes-
o sentimento, ele força a participação sentimental do sujeito. O ato
mo aparece como um jogo de luz e sombra, ainda que seja entendido
do se!ltir ativo, ao, contrário, atribui valores a partir do sujeito; ele
como totaiidade e, por isso, como unidade em que se unem os
v~o~za. os cont~udos segundo uma intenção, uma intenção que opostos. Já que este conceito não é explícito - tertium non datur -
privilegia o sentunento e não o intelecto. O sentimento ativo é
também é transcendente por esta mesma razão. Seria inclusive -
portanto, função dY:i~da, um ato de vontade, como por exemplo
logicamente - uma especulação inútil se ele não designasse e deno-
amar em contraposiçao a estar enamorado; este último seria um
minasse os símbolos de união que se manifestam empiricamente. O
estado passivo, não dirigido, como a própria linguagem o mostra: o
si-mesmo não é uma idéia filosófica já que não afirma sua própria
primeiro é uma atividade, o segundo é um estado. O sentimento não
existência, isto é, não se hipostasia. Intelectualmente significa ape-
dirigido é intuição sentimental. Em sentido estrito, só o sentimento
nas uma hipótese. Mas seus símbolos empíricos possuem muitas
ativo, dirigido, poderia ser denominado racional, ao passo que o
vezes significativa numinosidade (por exemplo, o mandala), isto é,
sentir passivo é irracional, na medida em que estabelece valores sem
um valor sentimental apriorístico (por exemplo, "Deus é círculo ...",
a participação do sujeito, às vezes mesmo contra a intenção deste.
a tetraktys pitágorica, a quatemidade etc.), demonstrando, pois, ser
901 (80.6) Orientando-se a atitude global do indivíduo pela função uma representação arquetipica que se distingue de outras repre-
do sentunento, falamos de um tipo sentimento (v. tipo). sentações do gênero por assumir uma posição central correspondente
902 (8?1) Si-mesmo.72 O si-mesmo, como conceito empírico, designa à importância de seu conteúdo e numinosidade.
o ârn:>lto total de ~odos os fenômen<?spsíquicos no homem. Expressa (894) Símbolo. Em minha concepção, o conceito de símbolo é 903
a unidade e totalidade da personalidade global. Mas na medida em bem distinto do simples conceito de sinal. Significado simbólico e
73
q~e esta, devido à sua participação inconsciente, só pode ser cons- semiôtico são coisas bem diversas. Em sentido estrito, FERRER0
c~ente em p~e~ o conceito de si-mesmo é, na verdade, poten- não fala, em seu livro, de símbolos mas de sinais. Por exemplo, o
cialmente ernpmco em parte e, por isso, um postulado, na mesma costume antigo de entregar, na venda de terras, algumas relvas é
proporção. Em outras palavras, engloba o experimentável e o não-

72. Esta definição foi escrita especialmente para este volume (1958). 73. FERRERO, Les /ois psych%giques du symbo/isme, 1895.

442
I
I

(897) Uma expressão usada Rara designar coisa co~ecida con- 906
designado vulgarmente como "simbólico", mas, por sua natureza, é tinua sendo apenas um sinal e ~~ca ~erá símb~lo. E ~ot~mente
totalmente semiótico. A relva é um sinal que representa a terra impossível, pois, criar um símbolo VlyO,Isto é, Ch~10d~ sl&?ifica<1..0'
adquirida. A roda alada do ferroviário não é um símbolo da ferrovia, a partir de relações conhecidas.xêoís o que aSSIm fOI cnado ~ao
mas um sinal de que a pessoa integra o serviço ferroviário. O símbolo, conterá nada mais do que nele foi colocado. Todo produto pSíqUICO
no entanto, pressupõe sempre que a expressão escolhida seja a que tiver sido por algum momento a melhor e~ressão possível. de
melhor designação ou fórmula possível de um fato relativamente um fato até então desconhecido ou apenas relativamente conhecido
desconhecido, mas cuja existência é conhecida ou postulada. Se a pode ser considerado um símbolo se aceitar:nos qu~ a expre~são
roda alada do ferroviário for tida como um símbolo, dir-se-á que este pretende designar o que é apenas pressentido e nao. est~ amda
homem tem algo a ver com uma entidade desconhecida que não pode claramente consciente. Na medida em que toda teona CIentífica
ser expressa melhor ou de outra maneira do que por uma roda com encerra uma hipótese, portanto é um~ descriç~o antecipada de um
asas. fato ainda essencialmente desconhecido, ela e um símbo~o. Além
904 (895) Toda concepção que explica a expressão simbólica como disso todo fenômeno psicológico é um símbolo, na suposição que
analogia ou designação abreviada de algo conhecido é setniática. enuncie ou signifique algo mais e algo diferente que e~cape ao
Uma concepção que explica a expressão simbólica corno a melhor conhecimento atual. Esta suposição é absol~~~ente posslv~l onde
formulação possível, de algo relativamente desconhecido, não poden- há uma consciência que procura outras possibilidades de sentl~o d.as
do, por isso mesmo, ser mais clara ou característica, é simbólica. Uma coisas. Só não é possível, e assim mesmo só para e~ta consctencia,
concepção que explica a expressão simbólica como paráfrase ou quando ele mesmo apresenta uma expressão qU,edIZ exatament.e o
transformação proposital de algo conhecido é alegórica. Explicar a que era intencionado como, por exemplo, numa fo~~a ~atemátlca.
cruz como símbolo do amor divino é semiôtico, pois "amor divino" Mas para uma outra consciência não existe esta limitação. Ela pod~
designa o fato que se quer exprimir, bem melhor do que uma cruz considerar a fórmula matemática como símbolo para um fato psí~UI-
que pode ter ainda muitos outros sentidos. Simbólica seria a expli- co' desconhecido e oculto à intenção que o estabeleceu, na medida
cação que considerasse a cruz além de qualquer explicação imaginá- elh que este fato não é comprovadame~te co~ecido daquele que
vel, como expressão de um fato místico ou transcendente, portanto criou a expressão semiótica e não podena, pOIS,ser objeto de uma
psicológico, até então desconhecido e incompreensível, que pudesse utilização consciente.
ser representado do modo mais condizente possível só pela cruz. e
(898) Depende da atitude da consciência que ob~erv~ SA~guma 907
905 (896) Enquanto um símbolo for vivo, é a melhor expressão de coisa é símbolo ou não; depende, por exemplo, da íntelígêncía que
alguma coisa. E só é vivo enquanto cheio de significado. Mas, uma considera o fato dado não apenas como tal, mas corno expressao de
vez brotado o sentido dele, isto é, encontrada aquela expressão que algo desconhecido. É bem possível, pois,. que a.!guém estabeleça um
formula melhor a coisa procurada, esperada ou pressentida do que fato que não pareça simbólico à sua consideração, mas o e para outra
o símbolo até então empregado, o símbolo está morto, isto é, só terá consciência. Também é possível o caso inverso. I?a mesma fo~a há
ainda significado histórico. Pode-se continuar falando dele como de produtos cujo caráter simbólico não dep~nd~ umcamente da atitude
um símbolo, sob a tácita pressuposição de que falamos sobre o que da consciência que observa, mas que impoem ao observador seu
ele foi no passado, antes que tivesse nascido dele uma expressão efeito simbólico. Esses produtos são constituídos de tal forma <!ue
melhor. A maneira como Paulo e a especulação mística mais antiga lhes faltaria qualquer significado se não recebessem um sentido
tratam a cruz mostra que para eles era um símbolo vivo que repre- simbólico. Como fato puro, um triângulo com um olh~ no centro é
sentava o indizível de forma insuperável. Para qualquer interpretação tão sem sentido que seria impossível ao observador cons:der~-lo ~~ra
esotérica, o símbolo é morto, pois o esoterismo lhe dá - muitas vezes brincadeira. Tal figura evoca de imediato uma concepçao sImbol~ca.
supostamente - expressão melhor, tomando-se mero sinal conven- Este efeito é reforçado pelo fato de a mesma fi~a aparecer ~Ultas
cional para relações que podem ser melhor entendidas de outra vezes e de forma idêntica, ou por seu modo especI~mente caPI?ch~do
forma. Somente do ponto de vista esotérico o símbolo é vivo. de apresentar-se que é a expressão de valor especial a ele atribuído,
(899) Símbolos que não atuam por si da maneira a:ima descrita, 908
ou são mortos, isto é, foram superados por formulaçao melhor, ou

445
444
são produtos cuja natureza simbólica depende exclusivamente da
simbólico que forçam, sem mais, a uma concepção simbólica. T m
atitude da consciência que observa. Esta atitude que concebe o para o indivíduo importância funcional semelhante ao símbolo social
fenômeno dado como simbólico podemos denominá-Ia atitude sim-
para um grupo humano mais amplo. Contudo, esses produtos não
bólica. Só em parte é justificada pelo comportamento das coisas; de
têm procedência exclusivamente consciente ou inconsciente, mas
outra parte é resultado de certa cosmovisão que atribui um sentido
originam-se da colaboração igual de ambos. Os puros produtos da
a todo evento, por maior ou menor que seja, e que dá a este sentido
consciência, bem como os produtos exclusivamente inconscientes,
um valo~ mais elevado do que à pura realidade. A esta concepção se
não são de per si símbolos categóricos, mas cabe à atitude simbólica
contrapoe outra que sempre coloca o acento na crua realidade e
da consciência de quem observa atribuír-lhes o caráter de símbolo.
subordina o sentido aos fatos. Para esta atitude não existe símbolo
Podem ser considerados também como fatos puramente causais
algum, quando o simbolismo depende exclusivamente do modo de
como, por exemplo, na escarlatina, podemos dizer que o exantema
observar. No entanto, também para ela existem símbolos, precisa-
vermelho é "símbolo" dela. Neste caso, fala-se de "sintoma" e não de
mente aqueles que levam o observador à suposição de um sentido
símbolo. Por isso, acho que FREUDestava certo ao falar, segundo sua
oculto. A imagem de um deus com cabeça de touro pode ser explicada
concepção, de ações sintomáticas74 e não simbólicas, pois estes fenô-
como sendo um corpo humano com cabeça de touro. Esta explicação
menos não são para ele simbólicos, no sentido aqui dado, mas sinais
porém, mal pode sustentar-se diante da interpretação simbólica poi~
sintomáticos de um processo básico bem determinado e conhecido
o símbolo é por demais evidente para ser ignorado. '
em geral. Há evidentemente neuróticos que consideram seus produ-
909 (900) Um símbolo que impõe sua natureza simbólica ainda não tos inconscientes - que são em primeira linha e sobretudo sintomas
é necessariamente vivo. Pode atuar, por exemplo, apenas sobre a de doenças - como símbolos altamente significativos. Mas em geral
compreensão histórica ou filosófica. Desperta interesse intelectual este não é o caso. Ao contrário, o neurótico de hoje está muito
ou estético. Um símbolo é vivo só quando é para o observador a propenso a considerar também o muito significativo como "sintoma"
expressão melhor e mais plena possível do pressentido e ainda não apenas. O fato de haver duas concepções distintas e contraditórias,
consc~ente. Nestas ~ondições operacionaliza a participação do in- ardorosamente defendidas pelas partes, sobre o sentido e não-sentido
consciente. Tem efeito gerador e promotor de vida. Como diz Fausto: ~as coisas nos ensina que há processos que não têm sentido especial
"Quão diferente é a atuação deste sinal sobre mim ...". algum, sendo mera conseqüência ou sintoma, e outros que trazem
910 (901) O símbolo vivo formula um fator essencialmente incons- em si um sentido oculto e que não derivam simplesmente de algo
ciente e, quanto mais difundido este fator, tanto mais geral o efeito mas querem vir a ser alguma coisa e, por isso, são símbolos. Cabe ao
do símbolo, pois faz vibrar em cada um a corda afim. Uma vez que nosso bom senso e espírito crítico discernir se estamos diante de
o símbolo, de um lado, é a melhor expressão possível e insuperável sintomas ou de um símbolo.
do que ainda é desconhecido para determinada época, deve provir (903) O símbolo é sempre um produto de natureza altamente 912
do que existe de mais diferenciado e complexo na atmosfera espiri- complexa, pois se compõe de dados de todas as funções psíquicas.
tual daquele tempo. E como, de outro lado, o símbolo vivo tem que Portanto, não é de natureza racional e nem irracional. Possui um lado
con5er em si o que é comum a um grupo humano bem grande para, que fala à razão e outro inacessível à razão, pois não se constitui
entao, atuar sobre ele, deve abarcar exatamente o que pode ser apenas de dados racionais mas também de dados irracionais forne-
comum a um grupo humano bem amplo. Jamais poderá ser algo cidos pela simples percepção interna e externa. A carga de pressen-
m~ito .diferenciado e inefável, porque isto só o entende e alcança a timento e de significado contida no símbolo afeta tanto o pensamento
mmona, mas tem que ser algo tão primitivo cuja onipresença esteja quanto o sentimento, e a plasticidade que lhe é peculiar, quando
fora de dúvida. Só quando o símbolo alcançar isto e o apresentar apresentada de modo perceptível aos sentidos, mexe com a sensação
como a melhor expressão possível, terá eficácia geral. Nisto consiste e a intuição. O símbolo vivo não pode surgir num espírito obtuso e
a eficácia poderosa e, ao mesmo tempo, salvífica de um símbolo pouco desenvolvido, pois este se contentará com o símbolo já exis-
socialmente vivo. tente conforme lhe é oferecido pela tradição. Só a ânsia de um
911 (902) O que falei do símbolo social vale para o símbolo indivi-
dual. Há produtos psíquicos individuais que têm evidente caráter
74. FREUD, Zur Psychopathologie des Alltagsleben.

446
447
. lUsa de sua evidência sensual. Mas o eu, dividido entre tese e
espírito bem evoluído que já - I l(tese, encontra na base intennédia sua contrapartida, sua expres-
a expressão única da suprem::i~~con~a no símbolo apresent o única e própria e aproveitará a oportUnidade de livrar-se de sua
exa~~ente porque o novo símbol po e gerar novo símbolo. M llvisão. Por isso a tensão dos opostos flui para dentro da expressão
espirituais do homem e deve o nasce das maiores realizaç ntennédia e a defende contra a luta dos opostos que logo começará
pro~da.s de seu ser, não p~~~mes~o te~po, conter as razões m d ntro e ao redor dela; os opostos procuram resolver a nova expres-
espmtuais mais diferenciad provir un~ateralmente das funç o cada qual à sua maneira. A espiritualidade pretenderá fazer da
moções mais inferiores e ma~:' ~as. ~ambem, em igual medida d
d~s estados opostos seja po~=t1vas. : ara s= esta colabo;aç
xpressão do inconsciente algo espiritual e a sensualidade, algo
sensual; uma quer fazer dela ciência e arte, a outra vivência sensual.
CIentemente lado a lado em ' a.m_os tem que estar co A solução do produto inconsciente numa ou noutra parte tem êxito
um? desunião fortíssíma co~l~n: oposiçao, Este estado tem que S apenas quando o eu não estiver completamente dividido, mas estiver
antítese se neguem e que o eu tenh mesmo, de tal forma que tese inclinado mais para um ou para outro lado. Se um lado conseguir
a!'soluta em ambas. Se hou ~ qu~ reconhecer sua participaçã resolver o produto inconsciente, não só o produto inconsciente irá
símbolo será principalmente v%~u ordinação de uma das partes
proporção, menos símbolo lo quuto. da outr~ parte e será, na mes~
para este lado, mas também o eu, originando-se uma identificação
do eu com a função privilegiada (v. função inferior). Conseqüente-
~títese oprimida. Porém na me~ ~:toma, Isto é, sintoma de um mente, o processo de divisão se repetirá mais tarde em plano
sintoma, também lhe falta o e . 1 ~ em que um símbolo é mero
pleno direito à existência de t ~lto hbertador, pois não exprime o superior.
(906) Se acontecer, porém, que, devido à estabilidade do eu, nem 915
a.opressão da antítese, mesm~ qa~:s/artes .~a psique, mas lembra
ISSO. conscíência não se dêe conta tese nem antítese consigam resolver o produto inconsciente, fica
d demonstrado que a expressão inconsciente é superior a ambas. A
913 (904) Havendo, no entanto 1 . estabiliq,ade do eu e a superioridade da expressão ~tennédia sobre
opostos, comprovadas pela paniJ en~ l~aldade e equivalência dos tese e áXitíteseparecem-me correlatas e se condicionam mutuamente.
e na antítese, produz-se uma su paça~ mcondicional do eu na tese Às vezes quer parecer que a estabilidade da individualidade inata
possível querer porque todo moti!pensao da vontade, pois já não é seja a' decisiva; às vezes, que a expressão inconsciente tenha uma
Igualmente forte. Mas como a vi o te:n a seu lado um contramotivo força maior que detennina a estabilidade incondicional do eu. Mas
represamento da energia vital daI nao.tolera suspensão, surge um na verdade pode ser que a estabilidade e detenninação da indivi-
vel se da t ensao
- d os opostos não
que surzi
evana a uma SI'tu açao - msuportá-
.
<, dualidade, por um lado, e a força superior da expressão inconsciente,
~u~ ultrapassa os opostos. Na urgisse nova função unificadora
por outro, nada mais sejam que indícios de um mesmo fato.
libido, operada pelo represam:r~mente ela nasce da regressão da
(907) Se a expressão inconsciente pennanecer intacta, formará 916
dual}uer progresso devido à total de~:'~o~o se tomou impossível
a matéria-prima não para um processo de resolução mas de constrU- eá
; ~o ~: ~omo a torrente que retoma à f la~ ~ vontade, a libido flui
id V1 a e da consciência produzem on e~l~to é, a suspensão e a ção, e ela se tomará o objeto comum da tese e da antítese. Tomar-s -
on e todas as funções diferenciada ~a at1V1~adedo inconsciente um conteúdo novo que dominará toda a atitude, acabará com a
e onde .todos os conteúdos exist s tem sua raiz arcaica e comum divisão e obrigará a força dos opostos a entrar num canal comum. E
mentalidade primitiva dá in r em em estado promíscuo do qual ' assim acaba a suspensão da vida, ela pode continuar fluindo com
umeras amostras ' a
novas forças e novos objetivos.
914 (905) Pela atividade do inc . . (908) Este processo, acima descrito, eu o designei em sua 917
constelado igualmente pela tes~nsC1en~e emerge novo conteúdo
compensatoriamente (v.) para com.:u an tese, e que se comport~ totalidade como função transcendente. Não entendo por "função"
do apresenta uma relação tant bos. Uma vez que este conteú uma função básica, mas uma função complexa, composta de outras
forma uma base íntermédia :n~om a tese quanto com a antítese- funções; e por "transcendente", não uma qualidade metafísica, mas
Sup?nhamos, por exem 10 a o e. ~s opostos podem unificar-se' o fato de que por esta função se cria a passagem de uma atitude para
tualídade: o conteúdo nirerm' dPodslçaoentre sensualidade e espírí.- outra. A matéria-prima elaborada pela tese e antítese e que une os
uma _ e Ia or nascid d . - opostos em seu processo de fonnação é o símbolo vivo. Em sua
. ~xpressao benevolente à tese es iri o o inconsciente, dará
espiritual de relacionamento e p tual, por causa de sua riqueza
, compreenderá a antítese sensual , por

449
448
. .do como categorias superiores aos tipos
tlpo introvertldo e extrov~rtl~ de lenamente à expenen-
matéria-prima, insolúvel por longo tempo, está sua riqueza d II
uncionais. Esta à~e~enclaçao ~~rres~~~ ex~mplo, duas espécies de
sentimento; e na forma que sua matéria-prima recebe, pela aç o I
ia pois não há dúvida q,:e eX1 edm'para
s sua vivência sentimental,
opostos, está sua influência exercida sobre todas as funções p {()III , . to: um mais vo ta1 o
casoIndicações dos fundamentos do processo de formação dos In lipos sennrnen O. bi
urro mais orientado pelo o ~eto. ma de enero-ia à 921
bolos encontram-se nas escassas referências sobre os conflltu .d a vontade como so e-
experimentados pelos fundadores de religião em seus período I (921) Vontade. Con.sl ero . ~ , ortanto um processo ener-
iniciação, como, por exemplo, Jesus e Satanás, Buda e Mara, Lute disposição da consciêncl.a.A~vol~~:c~~~e.Não ~hamaria de.volição
e o demônio, Zwínglio e sua vida mundana anterior, o rejuven ('\ gético, liberado po~monvaJa? c do por motivação inconsClente. A
mento de Fausto após o contrato com o diabo, em GOETHE.Ao fin I um processo PSÍ'!.U1CO cO~i;~~~~~oque deve sua existência à c~tura
de Zaratustra encontramos exemplo típico da opressão da antít vontade é ~ fenomeno P falta completamente à mentalIdade
na figura do ''homem mais feio". e à educaçao moral, o que
918 (909) Sintético (v. construtivo). primitiva.
919 (913) Tipo. O tipo é um exemplo ou modelo que reproduz d
forma característica o caráter de uma espécie ou de uma genera-
lidade. No sentido mais estrito desse nosso trabalho, tipo é um
modelo característico de uma atitude (v.) geral que se manifesta em
muitas formas individuais. Das muitas e possíveis atitudes, saliento
nesta pesquisa quatro, isto é, aquelas que se orientam sobretudo
pelas quatro funções psicológicas básicas (v. função): pensamento,
sentimento, intuição e sensação. Quando uma dessas atitudes é
habitual e imprime ao caráter do indivíduo um cunho determinado,
falo então de um tipo psicológico. Esses tipos, estribados nas funções
básicas, e que podemos denominar tipos pensamento, sentimento,
d
intuição e sensação, dividem-se, conforme a qualidade da função
básica, em duas classes: racionais e irracionais. Aosprimeiros perten-
cem o tipo pensamento e sentimento, aos últimos o tipo intuição e
sensação (v. racional, irracional). Outra divisão em duas classes é
autorizada pelo movimento dominante da libido, isto é, a introversão
e a extroversão (v.). Todos os tipos básicos podem pertencer a uma
ou outra classes - dependendo da atitude predominante: se é mais
introvertida ou mais extrovertida. Um tipo pensamento pode ser da
classe introvertida ou extrovertida e, assim, qualquer outro tipo. A
divisão em tipos racionais e irracionais é outro ponto de vista e nada
tem a ver com introversão e extroversão.
920 (914) Em duas colaborações anteriores sobre a teoria dos tipos,75
não diferenciei os tipos pensamento e sentimento dos tipos introver-
tido e extrovertido, mas identifiquei o tipo pensamento com o
introvertido e o sentimento com o extrovertido. Um exame mais
acurado do material fez-me, contudo, ver a necessidade de tratar o

75.JUNG, A questão dos tipos psicológicos (parágrafos 931-950deste volume) e


mais A Psicologia do Inconsciente (Obr. Compl. VII).

451
450
igualitárias, que tragam maior bem-estar geral, parece-me uma
llltude por demais voltada para as coisas externas. Só podemos fazer
l' ferência a essas questões abrangentes, pois não é nossa intenção
atar delas mais de perto. Temos que ater-nos só ao problema
psicológico. E o fato das atitudes tipológicas diferentes é problema
de primeira ordem, não só da psicologia, mas de todos os campos da
iência e da vida em que a psicologia humana desempenha papel
Epílogo decisivo. Qualquer pessoa de inteligência mediana compreende logo
que toda filosofia, que não é pura história da filosofia, se baseia numa
premissa psicológica pessoal. Esta premissa pode ser de natureza
exclusivamente individual - e comumente assim vem sendo enten-
dida, ainda quando submetida a uma crítica psicológica. E a questão
fica resolvida dessa maneira. Mas esquece-se que aquilo que foi
considerado preconceito individual não o é sob todos os aspectos,
922 NESSA época que viu as co . pois o ponto de vista de um filósofo particular tem, muitas vezes,
liberdade, igualdade e frater::~~~~a~ s~ad.Revo~ução Francesa - seguidores respeitáveis. E isto porque o ponto de vista lhes diz
de pensamento social que _ ifundrrem em correntes alguma coisa, porque o podem compreender e adotar, e não só para
rebaixar direitos políti~os a
procuram acabar com a insatisfa _
:;:'0n~~eto:~:rt~
g
e~ p:omover ou
e igualitário, mas que
lhe fazerem coro sem pensar. Esta compreensão seria impossível se
o ponto de vista do filósofo se baseasse apenas no individual, pois,
nos e socializações, é tarefa in ~~ através de regulamentos exter- neste caso, não seria compreendido nem plenamente aceito. A
dos elementos que compõem a:r _ f;ar d~ t.otal heterogeneidade p)culiaridade do ponto de vista compreendido e aceito pelos segui-
sejam iguais perante a lei qu:Çtaood·emnhduVldaé bonito que todos deres deve corresponder, portanto, muito mais a uma atitude pessoal
ningué m d omme . mjustamente
.. ' 'seu. os _te am voz polítí ca e que tipica, partilhada por maior número de adeptos na sociedade, seja
herdados. mas não é tão b .t ~ao por causa de privilégios dessa ou de forma análoga. Via de regra as partes se digladiam apenas
idéi d ? om o assim quando t d externamente, procurando falhas na armadura individual do adver-
1 ias e igualdade para outros setores d . É es ~n emos essas
bem turvo ou contemplar a sociedad h a vida. d preC1SOter um olhar sário. Geralmente esta luta é de pouca valia. Bem mais valioso seria
obnubilada para achar que e umana e uma distância bem se a disputa fosse transferida para o campo psicológico, lugar donde
. alo ári se possa conseguir artilh se origina em primeira instância. Esta transferência logo mostraria
19u it a dos bens através de regulam _ um~ p a mais
Deveria estar obcecado pela il - d entaçoes válidas para todos. que há atitudes psicológicas de diferentes espécies, cada qual com
participação na renda ou seja usao e que,. por exemplo, a mesma direito à existência, ainda que esta existência leve à formulação de
mesma importância p~a todo~ n~ oportumda~es de vida, tivesse a teorias incompatíveis. Enquanto se tentar conciliar o conflito por
aqueles cuja maior oportunidade d as. o que fana um legislador com arranjos de compromissos extemOS,satisfazem-se apenas as exigên-
S.eq~isesse ser justo deveria dar a ::;:~a:stá dentro e não fora deles? cias modestas de cabeças superficiais que não conseguiram aderir ao
significa muito para um ao outr obro do outro porque o que calor de princípios. Verdadeira compreensão, a meu ver, só é possível
social acabará com a diferen o p~ece ~ouco. Nenhuma legislação quando for aceita a diversidade das premissas psicológicas.
indispensável da energia vital ç;ePs1cológi~a das pessoas, este fator Uma coisa que sempre se impõe em meu trabalho prático é que 923
sempre útil falar da heterogeneid~a ~oc1edade humana. Por isso é o homem é virtualmente incapaz de compreender e aceitar outro
tra~em consigo exigências de bem-e:t as yes~oas. Essas diferenças ponto de vista que não o seu próprio. Em coisas pequenas, a
legislação, por mais erfeitai . ar tao. ~lvers~s que nenhuma superficialidade geral, uma indulgência e tolerância não muito
sível também seria,kagm· ;}ama1S"consegum~ satisfazê-Ias. Impos-
just ... . uma lorma de vida externa ' freqüentes e uma boa vontade rara ajudam a lançar uma ponte sobre
. a e equitativa, que não significasse ... ~por mais o abismo da incompreensão. Mas,nas coisas importantes e sobretudo
tipo. Mas que, apesar disso hai a . mJusnça. para um ou outro naquelas em que se questionam os ideais do tipo, a compreensão
ficos e religiosos que estão 'emJb entu~lastas p~l~ncos, sociais, filosó- parece fazer parte das coisas impossíveis. É verdade que luta e
us~a as condições exteriores gerais

453
452
-,

~ umente que as anteriores s jam d


discórdia sempre farão parte dos requisitos da tragicomédia hmu I I OV teoria pressupoe com b no fato de o autor ter uma vis
mas não se pode negar que o progresso da civilização levou O hm I to, muitas vezes, apenas com ase essores. Não se dá conta que a
da lei da selva para a constituição de tribunais e, portanto, à fo III lI> tiva diferente d~ de seus p~e~:cpsicologia, e, melhor ain~a~ a
de uma instância e medida superior às partes em luta. Para apaz I I ologia que ele v~ é sua P~<?f por isso só haver uma umca
o conflito de concepções, penso que se deveria tomar como h , I \ ologia de seu npo. Acre 1 a, psíqui~o que está pesquisando,
reconhecimento de tipos de atitude, não só o da existência d x.plicaçãoverdadeira para °dProcessu~poTodas as outras concepções
· ~ ue agra aaseu . ~ ~
tipos, mas também do fato de cada um estar encerrado em SUl I I t é, a exp1lcaçao q tras concepções - que sao tao
de tal modo a ser incapaz de compreender plenamente o ponto d diria mesmo, todas as ~ete ou.deradas erradas. No interesse da
V rdadeiras quanto a dele sao C?nsl. tia rofunda e humanamente
vista do outro. Sem o reconhecimento dessa exigência básí 'I,
v lidade de sua teoria, mostrare :uX;os :a psicologia humana, pois
inevitável a violação do ponto de vista do outro. Mas, como as pari
conflitantes se reúnem diante da corte e renunciam à violência di I 'ompreensivel contra ~a teona I sete oitavos de seu grau de
para submeter suas pretensões à justiça da lei e do juiz, assim C tl sua concepção perden.a, por exe~~:~de sua própria, conseguisse
V racidade. Sena preCISOqu~, ~. s mais outras sete teorias sobre
tipo, consciente de sua própria parcialidade, deve abster-se de in ul
tar o adversário, de desconfiar dele ou de rebaixá-Io, Pela abordag J pensar como igualmentd~~er a e:oamenos uma segunda, tão verda-
o mesmo processo ou, mamos,
do problema da atitude típica e por sua apresentação em grande
traços procuro chamar a atenção de meus leitores para este quad o deira quanto a sua. o natural independente da 925
id de que um process , . ó
de múltiplas possibilidades de conceber a vida, esperando ter col Estou convenCI o , lhe pode servir de objeto, s
borado um pouco para o conhecimento das variações e gradaçõ sicologia humana e qu~, p0,:rantod,sdoerr' a Mas também estou con-
P " xphcaçao ver a . d
quase infindas da psicologia individual. Espero que ninguém conclu pode ter uma uruca e , uico complexo que não po e ser
de minha descrição dos tipos que pretendo sejam esses quatro ou oito
tipos os únicos existentes. Seria um mal-entendido. Não duvido qu
vencido de que um processo 1~:; registrador de objetos só pode ter
apreendido por nenhum apar~ ~ que ele mesmo produz como
seja possível abordar e classificar as atitudes existentes também sob neiJessariamente aquela exp l~aça~ ode roduzir um conceito que
outro ponto de vista. Apontei neste meu trabalho algumas outras su1'eito,isto é, o autor do c0t;ce~tos~!e estltentando explicar. Mas o
possibilidades, por exemplo, uma classificação sob o aspecto da conco~de com o proces~o ~~~~c;stiver de acordo com o processo a
atividade. Mas, qualquer que seja o critério para a fixação de tipos, conceIto só concordara q " . ito Se não houver no autor o
. d mente do propno sUJe ' , di d
uma comparação das diversas formas de atitudes habituais levará ser exphca o na , analo 'a dele, o autor estara íante e
sempre a um número igualmente grande de tipos. processo a ser explIca.do,ne~ ão ~everá deixar para aquele que
924 É fácil considerar as atitudes existentes sob um ponto de vista um en,igma total cuja e: IC~dereicaptar empiricamente ~or apa-
<, vivencla o processo. Jam P , ~ . só posso exphcar seu
diferente daquele usado aqui, mas seria diflcil aduzir provas contra
relhos objetivos como se proc~ssa ~a ;~:~~ neste "conforme eu
a existência de tipos psicológicos. Não duvido que meus adversários
se esforçarão por eliminar da lista de problemas científicos a questão aparecimento confo~~ de~ o ;::~~~'melhor 'das hipóteses, m~a
dos tipos, pois esta é, no mínimo, obstáculo incômodo para a teoria imagino" está a parei I a. e, , eu concebo o processo da visao.
explicação surge da ma;terra com~ outro conceberá o processo da
dos processos psíquicos complexos que pretende validade geral. Toda
teoria dos processos psíquicos complexos pressupõe uma psicologia Mas quem pode garantrr-me q~~ de modo semelhante?
, humana uniforme, à semelhança das teorias das ciências naturais visão da mesma forma que eu ~ uniformidade da psicolo- 926
que pressupõem como base uma e a mesma natureza. Mas, no caso pode-se aduzir, com aparente [azao, acomo argumento em favor
da psicologia, ocorre uma situação peculiar: em sua formação con- aia humana em todos os t~mpos e ugarebs'etivamente condicionado.
o- ali ~ do Julgamento su J h
ceitual, o processo psíquico não é apenas objeto mas também sujeito. dessa gener ízaçao id d uniformidade da psique uma-
Se for admitido que o sujeito é sempre o mesmo em todos os casos Estou profundamente conven~l o ~nceito de inconsciente coletiv~
individuais, também é possível admitir que o processo subjetivo da na, de tal modo que a ~SSU~l ~~~mogêneo, cuja uniformidade vai
formação conceitual seja o mesmo sempre e em toda parte. Mas não como um substrato umvers s mitos e contos de fadas em
é isto que acontece, e a melhor prova é a existência de teorias as mais tão longe que encontramos os .mes~~ o do Sul dos Estados Unidos,
diversas sobre a natureza dos processos psíquicos complexos. Toda todos os cantos do vasto mundo. um gr

454
. . único e mesmo processo psíquico
por exemplo, sonha com motivos já presentes na mitologia greg I or isso consigo explicar um se excluem mutuamente, sem que
um comerciário suíço repete, em sua psicose, a visão de um gnósd sando duas teonas opostas q~e da pois a exatidão de uma se
egípcio. Mas dessa homogeneidade fundamental destaca-se um r ossa dizer estar esta oUdaqu~ a erra d~ outra na diversidade dela.
I . na uniformidade a psique e a, .
heterogeneidade igualmente fundamental da psique consciente. Qu ) sela . de dificuldade que a leitura de meu livro 927
incomensurável distância existe entre a consciência de um primitiv , E aqui começa a gran b l der Libido (traduzido em portu-
de um ateniense dos tempos de Temístocles, e a de um europeu
moderno! Que diferença entre a consciência do professor catedrático
anterior Wandlungen un; s.r:;
guês como Stm.bolos da ra~e o~ou
o :çãO) provocou no público leigo e
muitas cabeças pensantes à
e a de sua esposa! Como seria nosso mundo se houvesse predominado também no c1entífico e q t rial concreto expor uma e outra
a uniformidade dos intelectos? A idéia da uniformidade das psiques confusão. Tentei aí, baseado ~~ ~a ~ão consiste' de teorias nem as
conscientes é uma quimera acadêmica que facilita a tarefa do concepção. Mas como a re 1 a eforçados a pensar como divididos
professor diante de seus alunos, mas que desmorona diante da segue os dois aspectos que somos. a alma reluz em múltiplas
realidade. Independentemente das diferenças dos indivíduos, cuja estão '.Juntos num só , e tudo o que vive n a um futuro e na d a po d e
natureza mais intima está distante anos-luz da de seus próximos, os cores. Tudo é produto do passado e c~e~ode ser t~bém começo.
tipos, como classes de indivíduos, diferem muito entre si, e deve-se ser considerado como sendo apenasíqui~O só poder haver uma única
à existência deles a divergência das concepções gerais. Para descobrir Quem acha que para um proces.s°alJ.>dsade do conteúdo psíquico que
a uniformidade da psique humana, tenho que descer aos fundamen- . ~ rdadeira esta V1t 1 d .'
exphcaçao ve ? tr ditórias é algo desespera or, pnnci-
tos da consciência. Lá encontro aquilo em que todos se parecem. Se necessita de duas teonas con de de verdades simples e, talvez, até
fundamentar uma teoria sobre aquilo que une a todos, explico a almente se for um enamora o
psique a partir de seu fundamento e origem. Mas nada esclareço de kcapaz, de pensá-Ias ao ~esmo tem~:~as duas maneiras: a redutiva 928
sua diferenciação histórica ou individual. Com esta teoria ignoro a não estou convenc1do de que . . erta vez76 _ esgotem as
psicologia da psique consciente. Nego, assim, todo o outro lado da . onforme as denominei c h
e a ~~ nstrUuva - c . A dito ao contrário, que possa aver
psique, sua diferenciação do estado germinal primitivo. Reduziria, possibilidades de anáhs~. d ~re xPlicações do processo psíquico e
de certa forma, o homem a seu protótipo filogenético ou o decompo- outras e igualmente ver a e~as e tipos Estas explicações vão tole-
ria em seus processos elementares, e, se quisesse retirá-l o dessa exatamente tantas q~antos sao o~o mai como os próprios tipos em
redução e reconstítuí-lo, sairia, no primeiro caso, um macaco e, no rar-se mutuamente tao bem ~u t fi ue comprovada a existência de
segundo, um amontoado de processos elementares cuja combinação seu relacionamento pess?al. aso q e afirmo que não vejo razões
resultaria numa ação reciproca sem objetivo e sem sentido. Sem "diferenças d~ tip~s na ?Slqu~e~~~:r~ientífico se defronta co~ um
dúvida, a explicação do psíquico com base na uniformidade não só para que aSSlIDnao seja -do. bsistir lado a lado maior numero
é possível, como também plenamente justificada. Mas, para comple- dilema desagradáv~l: o~ eixar su mes~o processo: ou fazer uma
tar a imagem da psique, deve-se ter presente o fato da heterogenei- de teorias contrad1~ónas sob~ °de fundar uma seita que reivindica
dade dela, pois a psique individual consciente pertence a um quadro tentativa, ?e .anten;ao fracas~ae :' única teoria verdadeira. A prímeíra
geral- da psicologia, tanto quanto seus fundamentos inconscientes. possuir o único meto?o cert dificuldade já mencionada, de
Portanto, na minha formação conceitual posso partir, com o mesmo alternativa esbarra nao só na eno~eternamente 'contraditória, mas
direito, da psique diferenciada e considerar o mesmo processo que uma operação pensan~e ~~plabeá ~os da moralidade intelectual:
antes julgava sob o ponto de vista da homogeneidade, sob o aspecto bé dos pnncípios SlC . ( s
tam m nlllIl:. ulti licanda praeter necess1tatem o
da diferenciação. Isto me leva naturalmente a uma concepção bem princip~a explic.an~l non ~unt m ;er multiplicados além do nec~s-
contrária à anterior. Tudo o que naquela concepção ficou excluído princíp10S exphcatlvos nao d~ve~ lógica a necessidade de maior
como variante individual, aqui é importante como início de outras sário). No caso de uma teona p~l~O 01'S'ao contrário de qualquer
diferenciações, e tudo o que lá recebeu valor especial em função de número de exp icaç
r ões é algo .
deCISIVOP , . 1 .
bi t 'da explicação é na pS1COogia,
sua homogeneidade, agora me parece sem valor, porque simplesmen- teoria das ciências natura1S, o o ~e o '
te coletivo. Dessa forma sempre procuro observar para onde a coisa
vai e não donde ela provém, ao passo que na posição anterior não 'COSI' 2a edição, aditamento (Obr. Compl. Ill).
me preocupava com o destino, mas apenas com a origem da coisa. 76. JUNG, O Conte údo da PsI ...,

I' 457
456
\.

da mesma natureza que o sujeito: um processo psicológico dev


explicar o outro. Esta séria dificuldade já levou muitas cabeça
pensantes a subterfúgios curiosos como, por exemplo, à suposiçã
de um "espírito objetivo" que estivesse fora do processo psicológico
e pudesse, assim, pensar objetivamente a psique a ele subordinada,
ou à suposição semelhante, de que o intelecto fosse uma faculdad
capaz de posicíonar-se fora de si mesmo e de pensar-se a si mesmo.
Esses e semelhantes subterfúgios foram inventados para criar aquele
ponto de Arquimedes fora da terra e pelo qual o intelecto pudesse
desencaixar-se de seus gonzos. Entendo a profunda necessidade
humana de procurar as facilidades, mas não entendo por que a ANEXOS
verdade dever-se-ia curvar a esta necessidade. Também entendo que
esteticamente seria mais satisfatório se, ao invés do paradoxo de
explicações mutuamente contraditórias, pudéssemos reduzir o pro-
cesso psíquico a um fundamento instintivo o mais simples possível,
ou dar-lhe um objetivo redentor metafísico e, depois, descansar nesta
esperança.
929 Mas tudo o que tentamos penetrar com nosso intelecto acabará
sempre em paradoxo e relatividade, quando se trata de trabalho
\
honesto e não de petição de princípio que serve à comodidade. É ~\
certo que a compreensão intelectual do processo psíquico deve levar \JL

ao paradoxo e à relatividade, já porque o intelecto é apenas uma entre


várias outras funções psíquicas que, por sua natureza, ajuda o
homem a construir suas imagens dos objetos. Não pretendemos
conhecer o mundo apenas com o intelecto; ele pode ser compreen-
dido tão bem igualmente pelo sentimento. Por isso o julgamento do
intelecto é, no máximo, a metade da verdade e deve, se for honesto,
reconhecer sua insuficiência.
930 Negar a existência dos tipos em nada ajuda contra o fato de sua
presença. Em virtude dessa existência, cada teoria sobre os processos
psíquicos deve admitir que ela mesma é válida como um processo
psíquico, como expressão de um tipo da psicologia humana, existente
e com direito à existência. Unicamente dessas descrições típicas
provêm os materiais cuja cooperação torna possível uma síntese
maior.

458
A questão dos tipos pslcolõgícca'

CONFORME se sabe, se compararmos o aspecto geral da histeria e 931


da dementia praecox (esquizofrenia), saltará aos olhos o contraste
de seu relacionamento com o objeto. A histeria tem, normalmente,
uma intensidade de relacionamento com o objeto que ultrapassa o
normal, enquanto na esquizofrenia o nível normal não é alcançado.
No relacionamento pessoal isto se nota pelo fato de se ter, no caso
de histeria, uma comunicação a nível do sentimento com o paciente,
nãoeforrendo o mesmo na esquizofrenia. Não se falará aqui das
exceçoes a esta regra. Também se constata a diferença nas demais
sintomatologias das duas doenças. No que se refere aos sintomas
intelectuais da histeria, trata-se de imagens fantasiosas, que são
humanamente compreensíveis, do histórico anterior do caso indivi-
dual; na esquizofrenia, porém, as imagens fantasiosas têm um caráter
<, mais relacionado com sonhos do que com a psicologia do estado de
vigília. Além disso, é evidente forte interferência da psicologia da
história dos povos ao invés do material das reminiscências indivi-
duais, Os sintomas físicos tão numerosos na histeria, que simulam
quadros de doenças orgânicas bem conhecidas e impressionantes,
não se encontram no quadro clínico da esquizofrenia. Disso é fácil
concluir que a histeria se caracteriza por um movimento centrífugo
da libido, ao passo que na esquizofrenia o movimento é mais
centrípeto. Inversamente, a influência compensadora da doença
constatada na histeria obriga a uma redução do movimento centrí-
peto da libido, substituindo a vivência objetiva por sonhar acordado,
ficar de cama, internação em sanatório etc. Na fase de incubação, o
esquizofrênico que se fechou em si mesmo e se isolou do mundo
externo toma-se forte, através da compensação na doença, e é

1. Conferência feira no Congresso Psicanalítico de Munique, setembro de 1913.

461
muito que o assim chamado caráter histérico não é mero produto da
forçado a sair de si procurando atrair a at - neurose manifesta, mas de certa forma o precede. Àmesma conclusão
de um comportamento intencional ençao dos outros, por meio chegou HOCH em suas pesquisas sobre a anamnese esquizofrênica;
e diretamente agressivo. mente extravagante, insuportável
fala de uma "shut-in-personality" (personalidade fechada em si) que
932 ., Chamei extroversão e introversão ess d '- . é anterior ao aparecimento da doença. Nestas circunstâncias, pode-
libido. Nos casos mórbidos em qu .déi as d u~s direções opostas da ríamos esperar sem mais encontrar os dois tipos também fora da
emotividade, ficções ou inte e 1_ Ias elirantes, inspiradas na esfera da patologia. Sem pretensão de exaurir a série de possíveis
paciente o juízo de valor sobre~~e~~~oes fantástic~s adulteram no testemunhos da existência dos dois tipos, gostaria de trazer alguns
de acrescentar o termo regressivo J:ros e sobre SImesmo, gostaria
que? indivíduo volta seu interesse' tod:U°S de extroversão sempre exemplos.
Na ótica de meu limitado saber, as observações mais pertinentes 935
o objeto, e lhe confere ímportânci alcr o mundo externo para sobre o assunto devemo-Ias a WILLlAMJAMES que parte desta idéia
trári era e v or extra ord' , . '
é

con o, quando o mundo obietívo fi . i:l manos. No caso fundamental: "Qualquer que seja o temperamento de um filósofo
pouca atenção recebe mas o h ~ ca praticamente na sombra e
, . ,omemse toma d ' profissional, ele tenta, ao filosofar, pensar o fato a partir de seu
mteresse e aparece como úní o centro e seu próprio temperamento".2 Segundo esta concepção, totalmente em consonân-
O fenômeno que FREUD hICOa seus olhos, trata-se de introversão
, c ama transfi A • • cia com a psicanálise, divide os filósofos em duas classes: "tender-
projeta il~sões e avaliações subjetivas erenaa? em que o histérico minded" e "tough-minded". O primeiro termo significa literalmente
extroversao regressiva. Por intro _ no o~Jeto, eu o denomino "de espírito meigo", o outro, "de espírito inflexível". Em tradução
no inverso, tal como ocorre versao ~egresslva entendo o fenôme-
mais livre, poderíamos dizer "voltado para o espiritual" e ''voltado
sentações fantásticas atingem ona ~s~Ulzofrenia, onde estas repre-
sujeito. para o material". Os próprios termos já deixam prever a direção do
933 Não é difícil observar como os dois m ' movimento da libido. A primeira classe dirige a libido para as idéias,
atuar num mesmo indivíduo na alid dede sirm da libido podem é sobretpdo introversiva; a outra dirige a libido para o objeto sensual,
alternativos da psique. No 'mec~is 1 a e,de ~lffiples mecanismos a mat~a. É extroversiva. JAMES caracteriza o ''tender-minded'' em
co~orme ensina FREUD, a personali~~ histérico ?a extroversão, primeiro lugar como racionalista "going by principIes" (que se
teudo doloroso, do complexo sur ind e p.:ocura,.livrar-se do con- orienta por princípios).3 Para ele, os princípios e sistemas de pensar
que FREUD denominou "rep~essf:? ~ entao fenomen,os psíquicos são determinantes; ele administra a experiência, isto é, coloca-se
aferra aos objetos para esquecer e' de~sses casos, ? mdivíduo se acima dela e a submete friamente a seus princípios, convicções e
doloroso. O mecanismo da intr _ ixar para tras o conteúdo conclusões lógicas. Subordina os fatos e a multiplicidade empírica a
centrar a libido totalmente no ~~ersao, ao .contrário, procura con- ......
suas premissas, estranhas ao material, sem deixar-se influenciar ou
realidade a personalidade junt mplexo, libertando e isolando da desconcertar pela experiência. Lembremos, por exemplo, HEGEL e
psicológico está vinculado a f a:nente com o complexo. Este processo sua atitude para com a questão do número de planetas. No campo
apropriadamente pelo nome ~e~~den°alsq~e p~deríamos chamar mais da patologia, identificamos esse filósofo como paranóico que procura
sã " A '
ao. te aqui introversão e extr esv _ onzaçao"
_ . ao' mves
, d e "repres-
impor ao mundo sua concepção delirante, não importando que todos
reação que podem ser encontra~::rsao sa? ~OISmodos psíquicos de os fatos digam o contrário, e tudo "arranja" (ADLER) de tal forma a
O fato, porém, de dois distúrbios sí n~ llI!ICOe mesmo indivíduo. servir a seu sistema preconcebido.
e ,esquizofrenia, serem caracteri:a~~~IC~tatao opos~os: c~mo histeria As outras características que JAMESatribui a este tipo são lógica 936
msmo da extroversão ou da introve P ,pr~dommancla do meca- e facilmente deduzidas dessa premissa. O ''tender-minded'' é intelec-
t~bém tipos humanos normais se' rsao, mdlc~ que provavelmente tual, idealista, otimista, religioso, indeterminista, monista e dogmá-
era de um ou outro mecanismo ~ caractenzados pela prevalên- tico. Todos esses atributos deixam facilmente entrever a
conhecido do psiquiatra que o es~ ' s~: I,>0r.exe,mplo, é fato bem centralização quase exclusiva no mundo das idéias. A centralização
pelo predomínio de seu tipo espe~:o ~mco já vinha caracterizado nesse mundo ideal, como mundo interno da personalidade, nada
a doença, e até em sua mais tenra ínfân ,em antes de apresentar-se
934 C d' cia. 2. w. JAMES, Pragmatism, 1911, p. 7. cr também § 571s, deste volume.
orno IZ BINET, a neurose apenas 1
os traços típicos do caráter de co ?ca em relevo excessivo
uma personalidade. Já sabemos de há 3, r,c., p. 12,

463
462
6
Um segundo paralelo nos dá WILHELMOSTWAlD. Divid
mais é do qu e m
• A' . tr oversao
- predominante A ' . - pessoas geniais em duas formas: a forma romântica e a fo
expenencia tem para esses filé f ' . um~a funçao que u clássica. O romântico reage depressa, produz muito, mas, a par d
abstração, à necessidade de coloc os e a de servir ao projeto d coisas geniais há muita coisa sem valor e inacabada, é entusiasmado,
desorganização dos aconteci ocar em ordem a multiplicidade
b cimentos que em última álí d brilhante, gosta de ser professor e reúne em tomo de si grande
su meter-se a fatores subjetivo-ideais. ' an ise, evem número de alunos particulares. Como é fácil de perceber, este tipo
937 . O "tough-minded", ao contrário é e rÓ» ".
se identifica com o nosso tipo extrovertido. O clássico, porém, não
(orienta-se
' por fatos) . A experiê
nencia .' man dmpmco,
a nele elegomg
a by facts" reage imediatamente, aparenta reação lenta, não tem influência
ensar e por ela determinado O q -, f " segue e seu direta sobre o meio circundante, uma forte autocrítica limita sua
P
te .não conta. Seu pensar ére u<:,na? e ato I?~p~vel externamen- produção, não gosta do magistério e muitas vezes é péssimo profes-
pnncípios são menos im ortante açao a expe~e~c1a e:rterna. Seus sor; normalmente é estrartho ao seu meio, não possui ou possui
acontecimentos, mais de~critivos ~~ue os fatos: s~o mais retrato dos poucos seguidores e chega a um reconhecimento só após a morte.
Por isso suas teorias tendem a . que consntunvos de um sistema. Nesse tipo está presente indiscutivelmente a introversão.
muitas vezes turvadas e sufo dser mtemam~nte contraditórias e são 940
Pica as por matenal empíric d . Um terceiro paralelo importante nos é dado por W. WORRIN-
ara e e, a realidade psíquica se limita à observ _ o em emas~a. GER7 em sua teoria estética. Assume a expressão de A. RlEGL da
de prazer ou desprazer; não vai alé di açao e a uma reaçao ''volição artística absoluta,,8 e lhe atribui duas formas: a da empatia
o direito de existir ao p~stulado fil en,tfi lSS;j nem procura reconhecer e a da abstração. Fala de um impulso de empatia, de um impulso de
a superfície do mundo em íri oso, co, a m~sma forma que muda
abstração, tomando clara, assim, a natureza libidinal dessas formas.
mudança da experiência ~o~' o 'to~~h-mmded" está sujeito à
Diz WORRINGER: "Assim como o impulso de empatia encontra sua
lidades teóricas e práticas' do m;'; m~uPlos a~pectos e possibi- satisfação na beleza do orgânico, o impulso de abstração encontra
mesmo, nunca chega a um sistem o e. e suas coisas, mas, por isso
sua beleza no inorgânico que nega a vida, no cristalizado ou, falando
ao "tender-minded", O ''tou h- .a uni!!c~do qu~ pud~sse satisfazer
JAMES' "O . é . g minded e redutívo. D1Zmuito be em g~al, em toda normatividade abstrativa".9 A empatia representa
. supenor explicad I W . m um movimento da libido em direção ao objeto, ao passo que a
um caso de 'nada mais do que? pe od en?r e sempre tratado como
abstração retira a libido do objeto, lixiviando dele, de certa forma, o
bem inferior',.4 Os demais atrib~~a aima1s/o que algo de espécie conteúdo intelectual e cristalizando, a partir dessa lixívia, os elemen-
logicamente das premissas dadas' ~~ e enca ~s por ~AMES seguem tos típicos que se conformam à lei e que são superpostos ao objeto
ta: dá mais espaço à sensação d' 't~g~m~de?" e sensacionalís-
simista: conhece bem dernai o.que re exao. E materíalísta-pes- ou que constituem sua antítese. Também BERGSON usou a imagem
. 1Sa mcerteza e o caso d <, da cristalização e rigidez para ilustrar a natureza da abstração e
d os acontecimentos mundiais É . ., . _ esesperançado
esclarecimento intelectuais.
de sustentar a realidade do m~d lITe~lgt?So..nao está em condições
dos fatos externos É det .. o ps 1 UlCO
mterno
• em face do valor Pela "abstração" de WORRINGER entendemos aquele processo
que já havíamos conhecido como conseqüência da introversão, ou
941

pluralista, porque Ínca aze:~lsta e atalista, pois é resignado. É


e necessária é céu' p mtese. E, como conseqüência última seja, a exaltação do intelecto ao invés da realidade externa sem valor.
, co. Aprendemos com UPPS que, por empatia, devemos realmente enten-
938 O próprio JAMES se exprim d f der a extroversão: "O que empatizo no objeto é vida em sentido
mente ser a diversidade dos ti e e oz:na tal que se conclui facil-
amplo. E vida é força, trabalho interno, esforço e realização. Vida,
I?c.alização da libido, da "for Paos~~ve?lente de uma diversidade na
em uma palavra, é atividade. E atividade é aquilo em que experimen-
~Vlsmo religioso do solipsist~ drr ~sEmbcontraste c~m o subje-
nca: "Mas nossa estima pelo~ fa~ 1 so re .nossa atitude empí-
Nosso temperamento científi co é p1e o~"d'e a Plópna é quase religiosa .
oso".
6. Grosse Miinner, 3a e 4a edição, 1910. Cf. também § 607s deste volume.
7. Abstraktion und Einfühlung, 3a edição, 1911. Cf. também § 553s deste volume.
8. Em WORRINGER, Lc., p. 9. .
4. Lc., p. 16.
9. r,c., p. 3.
5. L.c., p. 15.

46S
464
\.

to.o.gasto de minhas forças. Esta atividade é, segundo sua natureza


atívídade da vontade". 10 , ra". O ingênuo manifesta a si próprio, o sentimental manifesta o
objeto. Não é à toa que o velho HOMERO é para SCI-llUER bom
942 " Bem n~ l~a de nosso conce.ito de extroversão diz WORRlNGER:
exemplo do ingênuo. Também já percebera que esses dois tipos
Prazer estetíco _é autoprazer objetívadov.l ' A concepção estética de resultavam da predominância de mecanismos psicológicos em um e
WO~NGER nao sofre de nenhuma "tough-mindedness" e por isso mesmo indivíduo. Diz ele: "Encontramos esses dois ~êneros não
val0r:~~ plenamente ~ a~tono.mia do fator psicológico. Diz WORRlN- apenas no mesmo poeta, mas também na mesma obra". 7
GER: O de~IsIv~ nao e,. pOIS, ~ tom sentimental, mas o próprio
Outro paralelo de nosso problema é a oposi~ão encontrada por 946
sennmenro, ISto e, Omovimenro mterno a vida interna a atívíd d
. do sui . ,,12 ' ,a e NIETZSCHE entre o apoitneo e o dionis(aco.1 Interessante é a
mterna O sujeito", E em outro lugar: "O valor de uma linh ~ de
& . comparação que usa para entender esta oposição. Estes opostos estão
uma rorma consiste n.o valor da vida que ela contém para nós. Ela
um para o outro como sonho e embriaguez. O sonho é a mais íntima
recebe
. sua beleza
'. UnIcamente de 13 nosso sentimento vital que ne Ia das vivências psíquicas, a embriaguez é um esforço de auto-esqueci-
projetamos u:conscIentemente". Essas idéias coincidem com mi-
mento, de libertação de si mesmo, de acordo com a multiplicidade
~a con~epçao da teoria da libido que procura conciliar as duas
psícologías, dos objetos. Usando palavras de SCHOPENHAUER,diz NIETZSCHE,
ao falar de ApoIo: "Como em mar bravio que, ilimitado, ergue
943 " C?~ól~ oposto da empatía é a abstração. Segundo WORRlNGER
vagalhões em frenesi, está um marujo confiante em sua frágil
.a exigencra de abstraçao e conseqüência de uma grande inquietação embarcação, assim está quieto em meio a um mundo de sofrimentos,
interna da pessoa de~~o aos fenômenos do mundo externo e corres- o homem só, apoiado e confiante no principium individuationis
ponde, no campo rehgtos04 a uma forte coloração transcendental de (princípio de individuação)".19 E continua NIETZSCHE: "Dir-se-ia
todas as representações".l que a inabalável confiança naquele princípio e a tranqüila segurança
944 _ Reconh~cen:lOsnesta. definição uma nítida tendência à introver- do acanhado encontraram nele sua mais sublime expressão, e gosta-
sao. Para o tipo íntrovertído, o mundo não se apresenta como o belo ríamoômesmo de descrever A~olo como a gloriosa imagem divina
e o apetecfvel, mas como o pavoroso e o perigoso, razão por que se do príricípío da individuação". o O apolfneo é, portanto, segundo a
~ntnnchetra e se protege atrás de seu mundo interior; a partir daí concepção de NIETZSCHE, um voltar-se para dentro de si mesmo, a
mve?ta figuras ~xatas, geométricas, cheias de paz, cujo significado introversão. O dionisíaco, ao contrário, é o fluir solto da libido para
mágico e pnmI~Ivo lhe garante o domínio do mundo que o cerca. as coisas. Diz NIETZSCHE: "Sob o feitiço do dionisíaco celebra-se
WO~~GER dIZesta frase impçrtanrs: "O impulso de abstração está novamente não só a aliança entre os homens, mas também a natureza
?O início de. q~alqu~r arte".15 Esta idéia encontra confirmação alienada, hostil e subjugada celebra sua festa de reconciliação com
Igualmente significativa no fato de o esquizofrênico reassumir não seu filho perdido, o homem. A terra concede prodigamente seus dons
só em seus pensamentos, mas também em seus desenhos expre;sões e os animais predadores das montanhas e desertos se aproximam
análogas às dos primitivos. ' pacificamente. O carro de Dioniso está coberto de flores e coroas, a
945 Seria injusto não falar de SCI-llUER neste contexto, pois também pantera e o tigre estão a ele atrelados. Transformar a ode de
Beethoven à alegria em pintura e dar livre curso à fantasia quando
e.le tent0.u form~F ~go sem~~?ante ao falar do tipo ingênuo e do
A

npo sentimental. O mgenuo e natureza", o sentimental "a procu- os milhões se afundam horrivelmente no pó: assim é possível apro-
ximar-se do dionisíaco. Agora, o escravo é homem livre, agora se
rompem as barreiras rígidas e inimigas que a necessidade, o capricho
ou a 'moda desavergonhada' colocaram entre os homens. Agora,
10. Lc., p.4.
11. Lc., p. 4.
12. Lc., p. 4.
13. Lc., p. 15. 17. Lc., p. 244.
14.Lc., p.17. 18.NIETlSCHE, Die Geburt der Tragõdie. ObrasCompletas vol.I, Leipzig1899.
15. Lc., p. 16. Cf.também§ 206sdestevolume.
16. FR. V. SCHIllER,Über naive und sentimentalische Dichtung Edí - Co 19.EmDie Welt aIs Wille und Vorstellung, 1892,I, 4°livro,p. 454.
1926,vol.18.Cf, também§ 198sdestevolume. . içao na, 20.NIETZSCHE, Lc., p.22s.

466
467
\.

Aqui os fenômenos não são reduzidos ao .m~is primitivo ul d d


neste evangelho da harmonia mundial, cada qual sente-se não sim les mas considerados como "arranjos , como res ta o
apenas unido, reconciliado e identificado com seu próximo, mas um int!çõ~s e propósitos de natureza mais comple~a. E~ vez d~ c u
com ele, corno se o véu de Maya se tivesse rompido e esvoaçasse em eficiente ternos aqui a causa final, por isso a hístória anteno~ e li
frangalhos diante da misteriosa unidade primitiva".21 Este texto não influências concretas do meio ambiente :ecebeI?- po~ca ~t~~ao"e:
necessita de maiores comentários. vista dos ríncípios detenninantes, das "linhas drrerr:zes c cias o
947 Para concluir a série de exemplos, buscados fora dos limites de . divíd
m 1 U.
J Aqui não é fundamental a procura do objeto e o.us~to
..' tia do poder do mdlVíduo
minha restrita especialidade, gostaria de citar ainda um paralelo, de prazer subjetivo no objeto, mas ~ gar~ fund tal
tirado do campo da lingüística, que também menciona os dois tipos. contra as influências hostis do meto ambiente. O tom ame~
Trata-se da hipótese de FINCK sobre a estrutura da linguagem. 22 . 1 . d FREUD é a procura centrífuga do prazer no objeto,
da pSlCOogia e . . ADLERé ura
Segundo ele há dois tipos principais de estrutura lingüística. O que o tom fundamental da psicologia de a proc
primeiro é representado em geral pelos verbos indicativos de ações: ao passo d ieit de seu "estar acima" de seu poder e sua
centrlpeta o sujei o, '. ~ d . d 't
eu ovejo, eu o mato, etc. O outro, pelos verbos que indicam sensação: libertação das forças opressoras da vida. A exphc.açao ~ tipO escn o
ele me apareceu, ele morreu a meus pés etc. Como se vê logo, o or FREUD é a transferência infantil de fantasias subJ~tivas para o
primeiro tipo indica um movimento centrífugo da libido que parte ~bjeto corno reação compensadora das dificuldades da ~da, ao ?~sso
do sujeito; o segundo, um movimento centrípeto da libido, que parte ue a explicação do tipo descrito por AD~R é a "gar~ti~ , ?
do objeto. O tipo introvertido encontra-se principalmente na lingua- q ulin o" e o fortalecimento obstinado da ficçao direti-
"protesto masc
gem primitiva dos esquimós. va". 950
948 Os dois tipos foram descritos também no campo da psiquiatria A difícil tarefa do futuro será criar uma psicologia que possa fazer
por OITO GROSS,23que distingue duas formas de inferioridade: um justiça aos dois tipos.
tipo com consciência superficial e alargada, e um tipo com consci-
ência estreitada e aprofundada. O primeiro tipo se caracteriza por
uma função secundária reduzida; o outro, por uma função secundá-
J
ria ampliada. GROSS reconheceu que a função secundária está em
íntima conexão com a afetividade, sendo fácil, portanto, entender
que também aqui se trata dos dois tipos, acima descritos. A compa-
ração que GROSS faz entre o tipo maníaco e o tipo com consciência
superficial deixa entrever que se trata, no caso, do tipo extrovertido;
a comparação do tipo com consciência estreitada com a psicologia
do paranóico mostra a identidade com o tipo introvertido.
949 Após essas considerações, não será segredo para ninguém que
devemos admitir a existência dos dois tipos psicológicos também na
psicologia analítica. Temos aqui, por um lado, uma teoria que é
essencialmente redutiva, pluralista e causalista. É a teoria de FREUD
que, estritamente limitada ao empírico e reduzindo o complexo ao
mais primitivo e ao mais simples, entende o psicológico em grande
parte como reação e dá ao momento da sensação a maior importân-
cia. Do outro lado, temos a concepção diametralmente oposta de
ADLER.24Sua teoria é totalmente intelectualista, monista e finalista.
21.L.c., p. 24.
22. FINCK, Der deutsche Sprachbau als Ausdruck deutscher Weltanschauung, 1899.
23. Die zerebrale Sekundiúfunktion, 1902. Cf. também § 527s deste volume.
24. Über den nervõsen Charakter, 1912.

469
468
tipífícação ocorra no comportamento emocional da pessoa - certa-
mente porque o aspecto afetivo é o mais evidente do comportamento
humano em geral.
Mas não se diga que os afetos sejam a única característica da 953
psique humana, pois é possível conseguir dados característicos tam-
Tipos psicológicos 1 bém de outros fenômenos psicológicos. É necessário apenas que
percebamos e observemos outras funções com a mesma clareza com
que vemos os afetos. Em séculos passados, que não conheciam o
conceito ''psicologia'' como o empregamos hoje, outras funções que
não os afetos estavam envoltos em completa escuridão, da mesma
forma que, ainda hoje, parecem subtilezas apenas perceptíveis à
maior parte das pessoas. Os afetos podem ser observados na super-
951 SÃO be~ antigas as tentativas de or I . fície e isto basta a quem não se interessa pela psicologia, ou seja,
categonas as infindas dffier ,Pd ~ ado, resumir em certas àquele que não vê nenhum problema na psique de seu semelhante.
tr d d eriças os mdivíduo h Basta-lhe ver no outro afetos. Se não os encontrar, o outro será para
ou o, e errubar a aparente unffi'd s umanos e, por
caracterização mais precisa de ~~~s ad~ de todos os homens pela ele como que invisível, pois, à exceção dos afetos, nada perceberá
querer entrar mais profundame diferenças psíqUIcas. Sem com clareza na consciência alheia.
lembrar que as mais anrí nte nes~as tentativas, gostaria de
meâicos, sobretudo de
VIveu no segundo século d
c~~to
. d
c~~cNIdas cat~gorias provêm de
. O, médICOda Grécia que
O fundamento de podermos descobrir na psique do próximo
outras funções além dos afetos está em que nós mesmos passamos
954

t epois e Cnsto Dístín . I deJun estado não-problemático da consciência para um estado


emperamentos básicos: o san üíneo flei ,. guia e e quatro problemático. Na medida em que julgamos o outro exclusivamente
melancólico. A idéia se basei:U ,~eumatIco, o colérico e o pelo afeto, mostramos que nosso principal critério, ou talvez o único,
(século V aC) de que o corpo h no ensmamento de J-llPÓCRATES seja o afeto. Isto significa que este critério vale também para nossa
t~s: ar, água, fogo e terra. A ess~;::ese compõe de quatro elemen- própria psicologia e, portanto, que nosso julgamento psicológico não
VIvo,sangue, fleuma, bíle amarela e bílntos corres~on.dem, no corpo é objetivo e isento, mas está submetido ao afeto. Esta é uma verdade
era que a.spessoas podiam ser divididas: negra. A idéia de GALENO que vale para a maioria das pessoas. Neste fato se baseia a possibi-
com a mIStura desigual desse I m quatro classes, de acordo lidade psicológica da guerra homicida e sua recorrêncía constan-
nasse o sangue teríamos os s::;u.~~o e ementos nelas. Se predomi- temente ameaçadora. Assim será enquanto julgarmos "ceux qui sont
teríamos os fle~áticos' aqu I gumeos; se predomínasse a fleuma de l'autre côté" (os que estão do outro lado) sempre conforme nossos
seriam os coléricos e os ~elane ~sl'com p:edomínio de bile amarel~ próprios afetos. Chamo de não-problemático este estado de consci-
.
mmasse a biile negra Confonnco ICOS d senam aquel es em que predo- ência porque, evidentemente, nunca se transformou ele mesmo num
d~ma, essas distinçÕes de te e o emonstra nossa linguagem mo- problema. Será ele mesmo um problema quando surgir a dúvida se
ainda que estejam totalmente ~:rame~tos tomaram-se imortais, o afeto - e também o afeto dele mesmo - constitui base suficiente
952 Sem dúvida GALENO passa as como teoria fisiológica. para o julgamento psicológico. Não podemos negar que sempre
. l' . ' teve o mérito de . .
pSICOogica dos indivíduos humanos c~ar: uma classificação estam os prontos a defender-nos contra aquele que nos acusa de
classificação que se basei . que perSIstIu por 1.800 anos termos um comportamento afetivo dizendo que agimos apenas aí de
nalidade ou afetividade É .at na diferença perceptível da emodo~ modo afetivo, mas que não somos assim em geral e sempre como
. in eressante que a primeira tentativa de naquele momento. Quando somos pessoalmente atingidos, gostamos
de explicar o afeto como exceção, como algo que envolve pouca
responsabilidade pessoal; mas, quando se trata dos outros, o caso é
I. Conferência pronunciada no Con .
1923. Publicado em Zeitschriift 1';;_ M ch&I'nkessoInternacIOnal sobre Educaça-o Territ r diferente. Mesmo que se trate apenas de uma tentativa, talvez não
lUJ ens e unde, VI, 1925. ,e muito comovente, de escusa do amado eu, há algo de positivo no
sentimento de justificação dessa escusa, ou seja, a tentativa de

470
471
-,

Bem ao contrário da antiga classificação dos temperamentos, o 955


diferenciar-se a si mesmo
Aind . e também o proxuno
,. d o estado afetivo problema de nova tipificação começa com a expressa convenção de
de.co~o~: :~s~~~;:~av~~~~x;~~~~~~:~m~::sim é uma tentativa não deixar-se julgar segundo o afeto, nem julgar pelo afeto, pois
ninguém pode nem quer identificar-se definitivamente com seu afeto.
i~lcológic~s que sej~ .tão características Xe su:;:e~~~~i~=Ç~~s Por isso não é possível haver um acordo geral - como acontece na
vez, mars caractenstIcas do que o afeto. Aqueles ue nos . ' ciência _ sobre o afeto. Quando, por exemplo, nos desculpamos por
pelos nossos afetos nós os acusamos de in q_ . ~ulg.am
Isto nos obriga também a não julgarm compreensao e mjusnça, um procedimento afetivo, temos que procurar aqueles fatores em que
nos podemos apoiar. Diremos por exemplo: "É evidente que disse isto
Para .isso é necessário que o homem p~~v~u:~~t-e~~~;l~u~ afetos.
ou aquilo num momento de exaltação (afeto). Foi naturalmente um
considera o afeto como essencial e ún I·C o cn·teno para
P SI. egico,
I.
paraque exagero e não era minha intenção. Na verdade, é minha opinião ou
outros, evolu~ para um estado problemático da consciência isto O; convicção que, etc,". Uma criança muito travessa que provocou em
par:a um esta o em que, além do afeto, sejam reconhecidos c ' sua mãe tremenda irritação pode dizer: "Eu não queria fazer isso,
válidos outros fatores. Neste estado problemático é I orno
í
também .ul poss ve ocorrer não queria magoá-Ia, gosto tanto de você". .
" _ um J g~ento paradoxal, qual seja: "Eu sou este afeto" e
eu nao sou este afeto". Esta contradição manifesta uma di . - d Essas explicações se referem à existência de outro tipo de 956
~u ou, mel~, uma divisão do material psíquico que cons~:~a: e: personalidade que não aquele que se manifestou no afeto. Em ambos
os casos, a personalidade afetiva aparece como algo inferior que
I o me reco ~c~r tanto no meu afeto quanto em outra coisa - .
acometeu e obscureceu o verdadeiro eu. Muitas vezes, porém, a
â::~~~t;~t;,sr:~~~~:s~ f~~o:~e:~~ o~:~~~~~or~s'p~~:i~:~ personalidade que se revela no afeto também aparece como um ser
soberano, e assumir o lugar de uma função I ,illICI mente

mais nobre e melhor, cujo nível infelizmente não foi possível manter.
,É sabido que existem tais ataques de generosidade, amor ao próximo,
s~mente. q~~do a pesso~ tiver ~ealizado esta ~;~~~~~~:~tr~ ~~~::~
ddedicação e outros "belos gestos" (como observou posteriormente
e ve~ cna o entro de SIuma diferenciação entre os diversos fatores
I

p~í9UlCOS,esta em condições de procurar em seu jul . um espectador irônico) aos quais a gente prefere não prender-se -
10gIcOsobre o õxí . I· ' gamento pSICO- razão, talvez, por que tanta gente pratica tão pouco o bem.
co~ ? afeto. s!~s::~a~~~O~j:;~~:n~:o
1
objetivo. O que, hoje, chamamos "psicologia" uma c~ncra
em certos pressupostos histórícos e morais ress
~::~l:
s~~~f2n!:-s: apenas Em ambos os casos, porém, o afeto vale como estado de exceção 957
cujas qualidades podem ser apresentadas à "verdadeira" personali-
dade como inválidas, ou como pertinentes mas desprovidas de
só foram s~ndo criados pela educação cristã dKrant~~~~~sse~ 6~~ credibilidade. Mas, o que significa esta "verdadeira" personalidade?
~os. O dito, por exemplo, "Não julgueis para não serdes ·:;t
ad " Naturalmente, em parte, o que cada qual dentro de si distingue do
estado afetivo; em parte, o que é negado a cada qual como impróprio
cno.u, por se~ cw;mo religioso, a possibilidade de uma vo~taâe :~e
~~:;~â~d~~e:~uâ: in~ total objletividade do julgamento. Esta pelo julgamento dos outros. Já que não é possível negar a integração
d d s eresse pe o outro, mas se baseia no fato do estado afetivo no eu, então o eu é o mesmo, tanto no estado afetivo
e evermos usar os mesmos critérioslara desculpar os outros como no dito estado "verdadeiro", mas numa atitude diferente em
usamos para desculpar a nós mesmos. o pressuposto e exatamente relação a seus fatos psicológicos reais. No afeto ele não é livre, é
o pressuposto fundamental de um julgamento justo do I· levado pelo impulso, é forçado. No estado normal, porém, há uma
~alvez cause estranheza que eu insista tanto na objetivid~~~~;~ livre escolha, uma capacidade dispositiva para compreender; em
esapar:ce o e~tranho quando se procura na prática clas;ificar outras palavras, o estado afetivo é não-problemático, o estado normal
pessoas. o san~íneo talve~ nos diga que, no fundo, ele é extrema- é problemático, isto é, existe o problema e a possibilidade de escolha.
~en~~ melanc6hco;. o colérico, por sua vez, que seu único defeito é Neste último estado é possível uma compreensão porque só aqui
er SI o sempre muito fleumático. Porém uma atítude d existe a possibilidade do conhecimento de motivos, do autoconheci-
em cui alid d 6 . ' as pessoas mento. Para o conhecimento é indispensável a distinção. Discrimina-
é uja v 1 a e ~ eu ~credIte e que seja negada por todos os demais
como uma Igreja universal cujo único membro sou eu É . ção, porém, significa a divisão dos conteúdos da consciência em
encontrar . ., . . precIso
mas tamb'ém POIScb~ten·°uls
, qudeabarquem não só o sujeito judicativo funções que se podem diferenciar.
o o jeto J ga o. '

473
472
ári oncordância do sujeito, sem ela nada se faz. Este tipo
958 Se quisermos, pois, determinar a peculiaridade de uma pessoa necess a a c deri AGOSTINHO. "Acreditaria no Evangelho se
de modo que não apenas nós estejamos satisfeitos com nosso julga- de pessoa respon ena a ., "E f nti
id d da Igreja não me obrigasse a ISSO. S orça-se co -
mento, mas também o objeto julgado, devemos partir daquele estado a auton a e d o ue faz é resultado de sua
ou daquela atitude que são considerados estados conscientes normais
~~:rt:~e~i~~od:m~:;!~ã~~~~ ;~~dO ser influenciado por
pelo objeto. Haveremos de preocupar-nos, então, primeiramente,
com a motivação consciente e abstrair de nossa própria interpretação alguém ou fazer algo em vista da opimao de outrem., .
arbitrária. Assim procedendo, descobriremos, com o tempo, que, E ta atitude caracteriza um segundo grupo de indivíduos que 959
apesar da grande variedade de motivos e tendências, há certos grupos , s ivacões rinci almente do sujeito, das realidades
denva suas monvaçoe P P é difí il dizer se tira suas
de indivíduos que se caracterizam por uma notável conformidade de internas. Há um terceiro grupo em que o : o mais numeroso e
suas motivações. Encontraremos, por exemplo, indivíduos que em motivações de dentro ou de fora. Este grup ~'d
todos os seus julgamentos, percepções, sentimentos, afetos e ações e as essoas normais menos diferenciadas; estas s~aocon~l e-
são motivados principalmente por fatores externos ou, ao menos, ~~~:~s no~ais porque não fazem excessos ou porqu~ na~ preCl~am
neles colocam grande ênfase, quer se trate de motivos causais ou deles Segundo sua definição, a pessoa normal se deixa etermmar
finais. Trago alguns exemplos para ilustrar o que afirmei: Santo . 'd dentro quanto a partir de fora. Estas pessoas
AGOSTINHO diz: "Não acreditaria no Evangelho se a autoridade da tanto. a :~n~eroso grupo do meio que inclui, de um lado, os
Igreja a isso não me obrigasse". Uma filha diz: "Não posso pensar ~on~~tu deixam determinar em suas motivações sobretudo
alguma coisa que contrarie meu pai". Alguém acha muito bonita mdllVldb'7°:oq~:r!:noe de outro, os indivíduos determinados pr:nC1-
pe o o ~e '.,., o de extrovertl.do e
certa música moderna porque todos assim a consideram. Acontece almente pelo sujeito. Denommel o pnmeiro grup ,~
não raro que alguém se case com certa pessoa só para agradar a seus P d de in trovertido. Esses termos não precisam de explIcaçao
o segun o , '
pais, mas contra seu próprio interesse. Há pessoas que se sujeitam especial, estão claros pelo que ficou dito acnna, ,.'
ao ridículo só para agradar aos outros, preferem cair no ridículo a Há indivíduos nos quais é possível reconhecer à primeira VlS!ao 960
não serem notadas. Há muitos que, no fazer ou deixar de fazer, só
conhecem um motivo: o que os outros vão pensar. Alguém diz: "Não
me envergonho de nada de que os outros' não tomaram conheci-
, o mas isto não é o comum. Via de regra, só uma, observação e
~~nderação cuidadosas das e;'P~riênci~s ~o~amfun~~~~~~~
~ , a É simples e óbvio o pnncipio
sificaçao precis . li d
~:=;
difícil de inferir é sua realidade
mento". Há pessoas que só encontram felicidade quando despertam atitudes opostas mas comp tca a e . ~,
a inveja nos outros; e outras que desejam e procuram sofrimento só . todo indivíduo é exceção à regra. Por ISSOn~o e
para atrair sobre si a pena dos outros. Exemplos dessa espécie podem concrtfd!-o~a descrição do tipo, por mais perfeita, q~e se aplIque
ser encontrados em larga escala. Eles indicam uma peculiaridade poss ~ed ín divíduo ainda que em certo sentido, milhares
a mais o que um , ' nformi d d d s
psicológica que é bem distinta de outra atitude que, por sua vez, pudessem ser por ela bem caracterizados. Aco orml~, e 'dasdPe~
encontra sua força motivadora principalmente nos fatores subjetivos soas é apenas um lado delas, o outro lado é sua, pec ~ian a e.
ou internos. Esta pessoa diz: "Sei que poderia causar a maior alegria , . d' idual não se explica por nenhuma classificaçao. Contudo,
a meu pai se procedesse assim ou daquele modo, mas já tenho outra psique m lVl r b inho para melhor
a compreensão dos tipos psicológicos a re um cam
posição firmada". Ou: "Percebo que o tempo ficou feio de repente, entendimento da psicologia humana em geral. ~
mas assim mesmo vou executar meu plano que já tracei anteontem". A diferenciação do tipo acontece, muitas vezes, bem ced~., l'., 961
Não viaja por distração, mas para transformar em fato sua idéia
preconcebida. Alguém diz: "Provavelmente meu livro é incompreen- inclusive, tão cedo que, em certos caso~, é possi:~::;ça: t~~:~~pli~~
, d d O primeiro sinal de extroversao numa
sível, mas para mim é bastante claro". Também é possível ouvir de n~a atae·ão ao meio ambiente e a extraordinária atenção que confere
alguém: "Todo mundo acha que sei alguma coisa, mas tenho plena a p bj~tos principalmente no que se refere à sua ação sobre eles. dO
convicção de que não sei nada". Tal pessoa pode ter tamanha ::d~ dos objetos é pequeno, A criança vive neles e com eles. ~pren ~
vergonha que não ousa aparecer em público. Algumas pessoas só se , mas de modo impreciso. Parece que se esenvo d ve c~
sentem felizes quando estão certas de que ninguém sabe nada a
respeito. Por isso, uma coisa é ruim quando agrada a todos. Procura :~~~:mdra;e~dgrt:a~
~ã~~:~ ~~~a:e~:~:d:ã~~~~~: ::;:~~ ~~~:~:
o bem lá onde ninguém supõe poder ser encontrado. Em tudo é e, Vla e r, .

475
474
a necessidade de prosseguir, ou sobre ambas, tendo igualmente boa
entre ela mes~a e os objetos, podendo, assim, brincar livremente dose de ânimo para deixar que a paz matrimonial chegue ao rompi-
com eles e .senu-Ios. Gosta de levar seus empreendimentos ao extre- mento. Se as circunstâncias forem favoráveis, esta fase entrará
mo e, por 1SSO,se expõe a riscos. Tudo que é 'desconhecido parece automaticamente na vida dos dois tipos e devido às razões seguintes:
atraente.
O tipo é um aspecto unilateral do desenvolvimento. Um deles 963
962 . Por ,outro lado, um dos primeiros sinais de introversão numa desenvolve apenas suas relações para fora e negligencia seu interior.
c~ança ~ sua natureza reflexiva e pensativa, seu pronunciado receio O outro desenvolve-se apenas para dentro e estagna com referência
e, mcl,us1ve, medo d~s o?jetos desconhecidos. Bem cedo manifesta-se ao exterior; mas, com o tempo, surge no indivíduo a necessidade de
tambe:n uma ten.de,nc1a de auto-afirmação perante os objetos e desenvolver também o que ficou desprezado. O desenvolvimento se
tenta Uvas de dominá-los. O desconhecido é olhado com desconfian- realiza sob a forma da diferenciação de certas funções. Por causa da
ça: Em geral, coloca forte resistência contra influências externas. A importância dessas funções para o problema dos tipos, preciso dizer
cnm:ça quer ter seu pró~rio caminho e, de forma alguma, aceita um
algo sobre elas.
caminho estr~,o que nao. co?segue entender por si só. Quando faz
A psique consciente é uma espécie de aparelho de adaptação ou 964
pergunta.s ~ao e por cur:os1~ade ou sensacionalismo, mas quer
orientação, constituído de certo número de diferentes funções psí-
nomes, sl?ificado.s e e~hcaçoes ~ue lh: dêem segurança subjetiva
quicas. Como funções básicas podemos elencar a sensação, o pensa-
e~ re~açao ao obJ,eto. V~ uma cnança mtrovertida que tentou os
mento, o sentimento e a intuição. Sob o conceito de sensação pretendo
pnm~rros passos so depois que se familiarizou com o nome de todos
abranger todas as percepções através dos órgãos sensoriais; o pen-
os obJ.etos e:n seu q~arto, com os quais poderia entrar em contato.
samento é a função do conhecimento intelectual e da formação lógica
Na cn~ça. mtro".eruda e~contramos bem cedo a atitude de defesa,
de conclusões; por sentimento entendo uma função que avalia as
caractensnca do introvertido adulto, contra o poder dos objetos, da
coisas subjetivamente e por intuição entendo a percepção por vias
~esma form~ que podemos observar bem cedo na criança extrover-
inconscientes ou a percepção de conteúdos inconscientes.
tida uma notavel segurança, espírito de iniciativa e alegria confiante
no trat~en:o c~m os ?bj~tos. Este é o traço fundamental da atitude Segundo o alcance de minha experiência, essas quatro funções 965
extroverud~. a vida pS1q~lca transcorre, por assim dizer, nos objetos básicas são suficientes para expressar e representar os meios e
e nas relaçoes com o~ objetos, ~o~a do indivíduo. Em casos especial- caminhos da orientação consciente. Para uma orientação plena da
~eI?-t~ ma:cantes, ~a uma ~speCle de cegueira para com a própria consciência, todas as funções deveriam concorrer igualmente; o
md1Vl~ual1dade. O introvertido, ao contrário, se comporta em relação pensamento deveria facultar-nos o conhecimento e o julgamento, o
aos obJet~s como se estes possuíssem um poder sobre ele, contra o sentimento deveria dizer-nos como e em que grau algo é importante
q.ual prec1s~ ?efe~der-se. Seu mundo propriamente dito é seu inte- ou não para nós, a sensação deveria proporcionar-nos a percepção
nor, seu s~e.1to. E um fato triste mas nem por isso menos freqüente da realidade concreta por meio da vista, do ouvido, do tato, etc. e a
~ue o.s dois tipos tenham péssimo conceito um do outro. Isto chama intuição deveria fazer com que advinhássemos as possibilidades e
imediatamente a atenção de quem estuda o problema. Provém do planos de fundo mais ou menos escondidos de uma situação, pois
~ato de o~ valo;es psíquicos estarem localizados em lados opostos. O também eles fazem parte do complexo quadro de um dado momento.
~troverudo v; ~do o que lhe parece valioso no sujeito; o extrover- Mas, na verdade, essas funções básicas estão raras vezes ou 966
udo, ao co~trano~ no objet~. Ao introvertido a dependência do objeto nunca igualmente diferenciadas e, portanto, disponíveis. Via de
parece a C01samais desprezível, ao passo que o extrovertido considera regra, uma ou outra dessas funções ocupa o primeiro plano e as
a preoc~pação com o sujeito simples auto-erotismo infantil. Não é outras permanecem indiferenciadas no segundo plano. Assim, há
de a~rr~, portanto, que os dois tipos se combatam mutuamente. muitas pessoas que se limitam a perceber simplesmente a realidade
Isto nao 1mp.ede que ~ ?omem, na maioria dos casos, despose uma concreta, sem preocupar-se em refletir sobre ela ou em considerar
senhor~ do .upo co~trar;o: Esses casamentos são muito significativos seu valor sentimental. Pouco se importam também com as possibi-
como simbíoses psicológicas, enquanto os parceiros não tentarem lidades que podem estar em certa situação. Tais pessoas eu as
~ompreender A"psicologicam~nte" um ao outro. Esta fase, porém, denomino tipo sensação. Outras se deixam determinar ~xclusivamen-
mtegra os fenomenos normais de desenvolvimento de todo casamen- te pelo que pensam, e não conseguem adaptar-se a uma situação da
to onde os esposos decidem sobre uma parada obrigatória ou sobre

477
476
qual não têm conhecimento intelectual. São os tipos pensamento. das funções inconscientes e de suas peculiaridades é possível conhe-
Outras pessoas, ainda, deixam-se guiar em tudo exclusivamente pelo cer cientificamente a atitude inconsciente.
sentimento. Perguntam apenas se algo é agradável ou não e se Não é possível falar abertamente de funções inconscientes, ainda 969
orientam por suas impressões sentimentais. São os tipos sentimento. que na economia psíquica seja preciso reconhecer ao inconsciente
Os intuitivos, finalmente, não se preocupam nem com idéias nem uma função. Acho que se procede bem se, neste aspecto, houver
com reações sentimentais, nem também com a realidade das coisas, muita cautela. Por isso não gostaria de afirmar nada além do
mas deixam-se atrair exclusivamente pelas possibilidades e abando- seguinte: o inconsciente no estado atual de nossos conhecimentos
nam qualquer situação que não permite vislumbrar maiores possibi- tem uma função compensadora em relação à consciência. O que o
lidades. inconsciente é em si e por si é especulação inútil. Ele está, segundo
967 Esses tipos apresentam ainda outra espécie de unilateral idade a natureza de sua definição, além de qualquer conhecimento. Apenas
que, no entanto, se complica de modo especial com a atitude postulamos sU,aexistência a partir de seus produtos como sonhos e
introvertida ou extrovertida em geral. Devido a esta complicação é coisas afins. E um dado seguro da experiência científica que os
necessário lembrar a existência desses tipos de função e, com isso, sonhos, por exemplo, têm normalmente um conteúdo que pode
voltamos à questão, antes abordada, da unilateral idade das atitudes corrigir de modo essencial a atitude consciente. Daí tiramos a
extrovertida e introvertida. Esta unilateral idade levaria a uma com- justificação para falar de uma função compensadora inconsciente.
pleta perda de equilíbrio se não fosse psiquicamente compensada por Além dessa função geral relativamente à consciência, o incons- 970
uma atitude inconsciente oposta. A pesquisa sobre o inconsciente ciente contém funções que, sob outras condições, podem tomar-se
mostrou, por exemplo, que um introvertido tem, ao lado ou atrás de conscientes. O tipo pensamento, por exemplo, tem que reprimir e
sua atitude consciente, uma atitude extrovertida que lhe é incons- excluir sempre, tanto quanto possível, o sentimento, pois nada
ciente e que compensa automaticamente a unilateral idade cons- perturba tanto o pensamento quanto o sentimento; e o tipo senti-
ciente. mento tem que evitar ao máximo o pensamento, pois nada é mais
968 Na prática, podemos vislumbrar intuitivamente a existência de prejudicial ao sentimento do que o pensamento. Funções reprimidas
uma atitude introvertida ou extrovertida em geral, mas uma pesquisa caem sob o domínio do inconsciente. Assim como dos quatro filhos
científica que pretende ser exata não pode contentar-se com premo- de Hórus apenas um tem cabeça humana, também das quatro
nições genéricas, mas tem que trabalhar o material concreto à sua funções básicas apenas uma é totalmente consciente e diferenciada
disposição. Descobriremos, então, que ninguém é simplesmente o suficiente para ser manipulada livremente e à vontade, enquanto
introvertido ou extrovertido, mas o é por conformação de certas as outras três são total ou parcialmente inconscientes. Com esta
funções. Tomemos, por exemplo, um intelectual: o material cons- inconsciência não quero dizer que um intelectual, por exemplo, não
ciente que ela traz à observação - idéias, conclusões, reflexões e esteja consciente de seus sentimentos. Conhece muito bem seus
também ações, afetos, sentimentos e percepções - é de natureza sentimentos na medida em que é capaz de introspecção. Mas nega-
intelectual ou, ao menos, dependente diretamente de premissas lhes qualquer validade ou influência. Manifestam-se contra sua
intelectuais. Devemos, por isso, inferir a natureza de sua atitude geral intenção; são espontâneos e autônomos. Apoderam-se da validade
da peculiaridade desse material. Um tipo sentimento apresentará que a consciência lhes nega. Agem por estímulo inconsciente, cons-
bem outro material: sentimentos e conteúdos emocionais de toda tituem como que uma contrapersonalidade, mas cuja existência só é
espécie, idéias, reflexões e percepções dependentes de premissas possível deduzir após análise dos produtos do inconsciente. Se uma
emocionais. Somente pela peculiaridade de seus sentimentos pode- função não possuir disponibilidade, se for percebida como estorvo
mos saber se um indivíduo pertence a este ou aquele tipo geral. É da função consciente, se caprichosamente ora se manifestar ora
por isso que preciso mencionar aqui também a existência de tipos de desaparecer, se tiver caráter obsessivo ou se permanecer obstinada-
função. As atitudes extrovertida e introvertida não podem ser de- mente escondida quando se deseja sua presença, então possui a
monstradas, no caso particular, como algo geral, mas só como a qualidade de função situada no inconsciente. Mas esta função ainda
peculiaridade da função consciente que predomina. Assim também tem outras características: é sempre algo inautêntico, isto é, possui
não existe uma atitude geral do inconsciente, mas apenas formas elementos que não lhe pertencem necessariamente. Assim, por exem-
tipicamente ordenadas das funções inconscientes; e só pela pesquisa plo, o sentimento inconsciente do intelectual é estranhamente fan-

478 479
-.

suprimir as manifestações autônomas do inconsciente, e o conflito


tástico, muitas vezes em grotesca o o . - . stá armado. Uma vez que o inconsciente entrou em conflito ativo
radamente racionalistada p .~lça.oao mtelectualismo exage-
. alid consciencia Em op . - à· com a consciência não mais se deixa suprimir simplesmente. É
cion I ade e soberania do pen .. osiçao mten- verdade que certas manifestações especialmente visadas pela cons-
impulsivo, incontrolado, capric~=e~to c~ns~ent~, ~ ~entimento é ciência não são difíceis de suprimir, mas, neste caso, os impulsos
como o sentimento de um selvag ,rrraClOn, pnrrnnvo e arcaico
em. inconscientes procuram simplesmente outras saídas, difíceis de re-
971 . O mesmo vale para cada fun ão ,. . conhecer. Uma vez abertas essas válvulas indiretas, já se inicia o
CIente. Permanece sem evoluir ~ ~~~ desta reprimida no incons- caminho da neurose. pode-se evidentemente tomar acessível à com-
~próprios, permanece em certo' estad~ a .co~ outro~ ele~entos preensão cada um desses falsos caminhos por meio da análise e,
CIente é o resto de uma natureza . .. PZ:IllltlVO,pOIS o mcons- assim, levá-Ios à supressão consciente, mas com isto a força instintiva
como a matriz do futuro. . PdnmltlVae mdomada em nós bem não é apagada e, sim, empurrada cada vez mais para um canto, se a
_ d mcna o em nós E a . '
nao- esenvolvidas são sempre també . .' .SSlID,as funções compreensão dos caminhos indiretos não for também uma com-
rar, pois, se, no decorrer da vid m as seminais. ~ão é de admi- preensão da unilateralidade da atitude consciente. Com a compreen-
complementação e mudança da tl.tua'dhouver.necessldade de uma são dos impulsos inconscientes deveria mudar a atitude consciente,
, a e consciente.
Alem dessas qualidades das fun - - - pois foi sua unilateralidade que ativou a oposição inconsciente, e o
972
acresce a peculiaridade d 1 ço~s nao-desenvolvidas ainda conhecimento dos impulsos inconscientes só é proveitoso quando ele
introvertida consciente e Vle·cqeeueas slao extrovertidas na atitude compensa efetivamente a unilateralidade da consciência.
. d -versa· e as compen
?tltu e consciente. Podemos esnerar sam, portanto, a A mudança da atitude consciente não é nenhuma bagatela, pois 975
mtelecrual introvertido sentirn perar, por exemplo, descobrir num a essência de uma atitude habitual é sempre um ideal mais ou menos
. entos extrovertidos U deles di
certa vez muito bem: "Antes do iantar .. m e es disse consciente, santificado pelo costume e tradição histórica, fundado na
sou nietzscheano". Isto signifi J sou k~tlano, após o jantar
in~electual, mas sob a influênl~i~ ~~~cl sua atitude quo~diana era
atitude consciente era quebrada por umaantedded~ .b?m Jantar sua
rocha do temperamento inato. A atitude consciente é sempre, no
mínimo, uma espéciede cosmovisão, quando não uma religião propria-
on a iorusraca mente dita. Esta realidade é que faz tão importante o problema dos
tipos. A oposição entre os tipos não é apenas um conflito externo
973 . Encontramos agora uma séria difi .:
npos '. O observador externo vê tanto culdad~: o d~agnostico dos entre as pessoas, mas também uma fonte de infindáveis conflitos
consciente quanto os fenômen ~ as manifestaçoes da atitude internos, não apenas a causa de disputas e antipatias externas, mas
indeciso sobre quais atribuir àOS aut?noI?os do inconsciente e fica também motivo de doenças nervosas e sofrimentos psíquicos. Foi esta
.. conSClenClae qua· . .
Em tais crrcunstâncias, o diagnóstico difere . lS,ao inconsciente. realidade também que obrigou a nós médicos ampliarmos nosso
em estudo bem exato das qualid d d nC1:Uso pode basear-se horizonte, originariamente apenas médico-psicológico, e incluirmos
é preciso descobrir quais t: 1.a es o matenal observado, isto é nele não só pontos de vista psicológicos em geral, mas também
. lenomenos provêm d . '
CIentemente escolhidos e qua. e motIVOS cons- questões relativas à visão do mundo.
se precisa estabelecer quais ~: r:sc~m esp~ntaneamente e também No espaço de uma conferência não é possível mostrar a profun- 976
quais as que têm caráter não d andestaço~s que são adaptadas e didade desse problema. Devo contentar-me em apresentar em gran-
a apta o, arcaico.
974 . Est~ claro, pois, que as qualidades d fun - .. des traços ao menos os fatos principais e o largo alcance de sua
CIente, IStOé, as qualidades da atitud ~ çao principal cons- problemática. Para maiores detalhes, indico meu livro Tipos psicoló-
em estreita oposição às qualidade~ c~nscl~nte co~o um ~odoestão gicos onde desenvolvi um trabalho minucioso.
outras palavras.
. _ . entre consciênci . a atitude inconsciente. Em
nela e inconsciente .t 1 Resumindo, gostaria de frisar que cada uma das duas atitudes 977
uma opostçao. Mas este contraste _ exts e nonna mente gerais, isto é, introversão e extroversão, se manifesta de acordo com
enquanto a atitude consciente não ~ao se. apresenta como conflito, uma das quatro funções básicas dominantes no indivíduo. Na reali-
estiver afastada demais da atitude o~ unilat~ral em demasia e não dade, não existem introvertidos e extrovertidos simplesmente, mas
acontecer, então o kantiano será d mconscrente. Se isto, porém, existem tipos funcionais introvertidos ou extrovertidos como tipos
por seu dionisismo porque este co:agra?av~mente surpreendido pensamento, tipos sentimento, etc. Disso resulta um mínimo de oito
altamente impróprios. A atitud e~ara a ~ esenvolver impulsos
e consciente ve-se, então, obrigada a

481
480
tipos perfeitamente distintos Obvi
multiplicado à vontade e a' qual amente este número pode ser
exemplo, cada uma das funçõs qu:r tempo se dividirmos, por
. f s em tres subgrupo -.
imposs vel na prática Poderíam s, o que nao serra
. . os por exern I di idí
o mtelecto em suas três formas b' nhecí P o, IVI Ir facilmente
espe~ula~va? a forma lógico-mat::á:a :cI~as: a form~ intuitiva e
baseia pnncIpalmente na erce ão . a orma empmca que se
Tipologia psicológica 1
lhantes é possível fazê-Ias~amb~Ç sensonal. Decomposições serne-
por exemplo, na intuição que pos:i~~~::sl n;-ç.ões básicas como~
sentímenral. Essas decom osi õ . a o mtelectual quanto
sutil. '
=
mente muitos tipos mas c~da di J>eulrmIt~mestabelecer arbitraria-
visao tenor toma-se cada vez mais
978 . Para. completar, devo dizer ue n - . . .
mtroverndo e extrovertido e as u; ao _consI~ero a npificação
teoria possível. Qualquer outro ~ri:;~ fun~oes básicas como a única 979
pregado como classificat6rio ma _ o pSIcoló~co poderia ser em- CARÁTER é a forma individual estável da pessoa. A forma é de
a mes~a importância prátic~. s nao enconrrei nenhum que tivesse natureza corporal e também psíquica, por isso a caracterología em
geral é uma doutrina das características tanto físicas quanto psíqui-
cas. A enigmática unidade da natureza viva traz consigo que a
característica corporal não é simplesmente corporal e a característica
psíquica não é simplesmente psíquica, pois a continuidade da natu-
reza não conhece aquelas incompatibilidades e distinções que a razão
humana precisa colocar a fim de poder entender. A separação entre
corpo e alma é uma operação artificial, uma discriminação que se
baseia menos na natureza das coisas do que na peculiaridade d.a
razão que conhece. A intercomunicação das características corporaIs
e psíquicas é tão íntima que podemos tirar conclusões não s6 a partir
da constituição do corpo sobre.a constituição da psique, mas taxnbém
da particularidade psíquica sobre as correspondentes formas corpo-
rais dos fenômenos. É verdade que o último processo é bem mais
difícil, não porque o corpo é menos influenciado pela psique do que
a psique pelo corpo, mas porque, partindo da psique, ternos que
concluir do desconhecido para o conhecido, enquanto que no caso
inverso temos a vantagem de começar pelo conhecido, ou seja, pelo
corpo visível. Apesar de toda a psicologia que acreditamos hoje
possuir, a alma continua sendo bem mais obscura do que a superfície
visível do corpo. A psique continua sendo um terreno estranho, pouco
explorado, do qual temos notícias apenas por vias indiretas, forneci-
das pelas funções da consciência que, por sua vez, estão expostas a
possibilidades de erro quase infindas.

1. Conferência pronunciada no encontro de médicos de doentes mentais, zurique


1928. Cf. Seelenprobleme der Gegenwart, p. 101s.

482
483
-,

. ue a conhecemos perfeita, duradou-


980 O caminho mais seguro parece, portanto, e com razão, ser o que somos quase forçados a ace~ar q .sso que todos têm não só opinião
vai de fora para dentro, do conhecido para o desconhecido, do corpo ra e inquestionavelmente. por 1 • ~ de que conhecem o
para a alma. Foi por isso que todas as tentativas de caracterologia . I· as também a conVIcçao .d
sobre pSlCOogta, m . é Os psiquiatras, por terem que h ar
começaram de fora: a astrologia nos tempos antigos começava no assunto melhor. do q~ n~~:~ dos parentes e guardiães de seus
espaço cósmico para chegar às linhas do destino que, segundo Seni com o proverbIal co eClID. eiros como grupo profissional, a se
de Wallenstein, estão dentro da própria pessoa. O mesmo acontece pacientes, foram talvez os pnm ito 'das massas de que em matéria
com a quiromancia, a frenologia de GALL,a fisiognomia de LAVATER o cego preconcel " ~
de fr ontarem com be rnai de si do que os outros. Isto nao
e, modemamente, com a grafologia, a tipologia fisiológica de KRET- de psicologia, ca~a ~ual s:e.: r;:a:ele que sabe mais e, inclusive, a
SCHMER e a técnica de RORSCHACH. Como se vê, não faltam impede que o pSlqUl~tra J. dqd ó há duas pessoas normais. A
caminhos que vão de fora para dentro, do corporal para o psíquico. ponto de confessar: Nesta Cl a e s /
981 Esta direção de fora para dentro tem que ser trilhada pela outra é o professor X". . ados a admitir que o psíquico, 984
pesquisa até que se possam estabelecer, com relativa segurança,
certos fatos elementares da psique. Uma vez estabelecidos, o caminho
Na ~sicologia de. h?Je ~~~~s !O~Ç mais desconhecido, ainda que
na qualidade de mais une nh ido e que qualquer um outro
pode ser invertido. Podemos, então, formular a pergunta: quais são . plenamente co ect , . S
pareça o mais elhor do que nós a nós própnos. em
as expressões corporais de um fato psíquico determinado? Infeliz- provavelmente nos co~ece x.nh ' rico muito útil por onde come-
mente ainda não progredimos o suficiente para formular esta per- dúvida, isto s~ria um princípio e:~ tão imediata é que a psicologia
gunta, pois seu requisito básico, a constatação satisfatória do fato çar. Mas preCIsamente por ser a ps tarmos ainda nos inícios de uma
psíquico, está longe de ser atingido. Apenas começamos a ensaiar a foi descoberta tão tarde. E, por itc e definições para apreender os
composição de um inventário psíquico, e isto com maior ou menor ciência, é que nos f~tam c~n:i o~es mas não faltam fatos. Pelo
êxito. fatos. Faltam conceitos e e se ~nc~bertos pelos fatos, em flagran-
982 A simples constatação que certas pessoas se manifestam dessa contrário, somos cer~ados~ q~~s outras ciências onde devemos, por
ou daquela forma não significa nada, se não nos levar a inferir uma te contraste com a ~ltuaçao . amento natural como no caso
correlação psíquica. Só estaremos satisfeitos quando soubermos o assim dizer, procur~-los e CU{~~s de plantas, nos' dá um conceito
d
tipo de psique que corresponde a determinada constituição corporal. dos elementos químicos e ~s. Bem diferente é a situação com a
O corpo nada significa sem a psique, da mesma forma que a psique s6 compreensível a postenon. . ~ píri.ca nos mergulha apenas
. . atitude com visao em d
nada significa sem o corpo. Se nos dispusermos a inferir um correlato psique: aqui uma ontecer síquico subjetivo e, quan o
psíquico a partir de uma característica física, estaremos concluindo, na torrente sem fim de nosso~~uer con~eito generalizador, trata-~e,
como já ficou dito, do conhecido para o desconhecido. surge dessa engrenagem qu . t a E por sermos nós tambem
983 Infelizmente devo frisar bem esta parte porque a psicologia é, na maioria das vezes, de mero sm o:~~s livre curso ao processo
por assim dizer, a mais nova de todas as ciências e está, portanto, psique, é q~ase ineviltávelnfunqued~oos e fiquemos privados de nossa
, uico selamos ne e co ~
sujeita a muitos preconceitos. O fato de só ter sido descoberta há psiq ,J nh di tinções e fazer comparaçoes.
capacidade de reco ecer is did 985
pouco mostra que levamos muito tempo para separar o psíquico do d dificuldades. A outra é o fato de que, na .me 1 a
sujeito de tal forma que pudéssemos transformá-l o em material de Esta é uma as ~ . is e nos aproXlffiamos
conhecimento objetivo. A psicologia como ciência natural é realmen- em que nos afastamos dos ~enomeno~e~~:c;:mbém a possibilidade
te a mais nova aquisição; até há pouco era um produto tão fantástico da não-espacialida~e da PSICÀ~'P~mo a constatação dos fatos se
e arbitrário quanto a ciência natural da Idade Média. Acreditava-se de uma mensuraçao. exata. t ml frisar a irrealidade de alguma
que psicologia podia ser feita por decreto. E este preconceito ainda toma difícil. Se deseJO, por exe~r.~~ teria tido esta idéia se não ...
nos acompanha a olhos vistos. O psíquico é para nós o mais imediato coisa, digo que apenas a pensei. coisas" Observações desse tipo
aliá ~ costumo pensar essas 1 í .
e, por isso, aparentemente, o mais conhecido. Além de sumamente ' e, 1 s, nao . di ~o nebulosos são os fatos ps quicos
conhecido, ele nos enfada, nos aborrece com a banalidade de sua são muito comuns e m icam qua b.etivamente quando, na realida-
incessante vulgaridade quotidiana; sofremos, inclusive, com isso e ou, ainda, quão va.gos parecem s~ ~dos como 'outro conhecimento
fazemos todo o possível para não termos que pensar nisso. Sendo a de, são tão objetivos e d~t~rmm uilo não importando as condi-
psique o próprio imediatismo, e sendo nós mesmos a própria psique, qualquer. Realmente penseI IStOe aq ,

484
d dos quais não gostamos d
inglês skeletons ín tne cupboar 'utrOS deles nos lembrem, mas qUi
ções e cláusulas desse processo. Muitas pessoas têm que ir formal-
lembrar e, muito menos, que os a sem pedir licença e da forma ~a s
mente ao encontro dessa concessão, por assim dizer evidente, e, às se apresentam à nossa lembranç zem consigo recordações, desejos,
vezes, com o maior esforço moral. indesejável possível. seu:prâ, tra introspecções com os quais nao
986 Se concluirmos sobre a situação psíquica a partir do conhecido temores, deveres, necessIda esu~uportanto, se imiscue~ ~m nossa
dos fenômenos externos, então encontraremos essas dificuldades. sabemos b~m o que fazer, e !eh-a perturbadora e pernIclOSa.
987 Meu campo de trabalho específico não é o estudo clínico de vida conSCIente sempre de m. ., ie de ínferioridade no 990
características externas, mas a pesquisa e classificação dos dados I são uma especl I
Sem dúvida os comp exos . ar de saída que um cornp ~xo
psíquicos possíveis de estabelecer por conclusões. Desse trabalho sentido mais amplo; ~as <}ue~:~~~: uma inferioridade. Q~~r dizer
resulta, em primeiro lugar, uma fenomenologia psíquica que permite ou ter um complexo nao sign te não-assimilado e confhtlvo, um
uma correspondente teoria estrutural e, pelo emprego empírico da apenas que existe algo dIscord~ h-tcentivo para maiores esforços e,
teoria estrutural, chega-se finalmente a uma tipologia psicológica. obstáculo talvez, mas també~il· dade de sucesso. Neste sent;tdo, o:
988 A fenomenologia clínica é sintomatologia. O passo da sintoma- com isso talvez nova pOSSl I U entroncamentos da vida ps -
tologia para a fenomenologia psíquica é comparável à evolução da complex~s são precis~ente d~~~~p~nsar, que não deveriam ~altc:r'
puta patologia sintomática para o conhecimento da patologia celular quica que não go~t~amos, ica entraria em estado de.parallsaçao
e metabólica, pois a fenomenologia psíquica nos permite a observa- caso contrário a atlVld~dâ,?~~~~ os problemas não resolVldos, o lu~ar
ção dos processos psíquicos subjacentes e que são a base dos sintomas fatal. Eles mostram ao m IVl. .amente uma derrota, onde existe
manifestos. Como se sabe, este progresso foi conseguido pelo uso de onde sofrem, ao menos proVlso~u supe;ar enfim o ponto fraco, no
métodos analíticos. Hoje em dia temos real conhecimento daqueles algo que ele não pode esquecer '
processos psíquicos que produzem sintomas psicógenos e, dessa mais amplo sentido da palavra. muita luz para seu aparecime~to. 991
forma, está lançada a base de uma fenomenologia psíquica, pois a Este caráter do complexo traz uma necessidade de adaptaçao e
teoria dos complexos nada mais é do que isto. O que quer que ocorra surge obviamente do choque ;ntre da do indivíduo para suprir esta
nos recessos obscuros da psique - e existem várias opiniões acerca a constituição especial e ina equal xo é um sintoma valioso para
disto - uma coisa é certa: são, antes de tudo, conteúdos carregados · t assim o comp e
necessidade. V 1So . .' - . dividual.
de afeto, os assim chamados complexos que gozam de certa autono- diagnosticar uma dlSpOsIçao m há uma variedade infínda de 992
mia. Já rejeitamos várias vezes a expressão "complexo autônomo", A experiência nos mostra que paração leva a concluir que há
mas, parece-me, sem razão, porque os conteúdos ativos do incons- complexos, mas uma cuidado~~~i~~ e típicas, todas elas fundam~n-
ciente mostram na realidade um comportamento que eu não saberia relativamente pouc~s fo~~s, . da infância. Isto tem que ser aSSlID,
qualificar de outra forma que não pela palavra "autônomo". Este tando-se nas primerr~s. VlVe~cIas anifesta na infância, uma vez que
termo significa a capacidade dos complexos de resistir às intenções pois a disposição in~l~dual J~!~:so da vida. O complexo p~ental
da consciência, de ir e vir a seu bel-prazer. De acordo com tudo que
é inata e não adqumda noue o rimeiro choque entre a reall~ad~ e
conhecemos deles, os complexos são grandezas psíquicas que esca-
nada mais é, po.rtanto, d~ q d ~divíduo neste aspecto. A prlIDe~
param do controle da consciência. Separados dela, levam uma a constituição made<;lua a o er ortanto, um complexo parent ,
existência à parte na esfera obscura da psique de onde podem, a forma de complexo. tinJ;la qU~:dad~ com a qual a criança pode entrar
qualquer hora, impedir ou favorecer atividades conscientes. pois os pais são a prlIDerra re
989 Aprofundamento ulterior da teoria dos complexos leva logica- em conflito. tal nos diz o mesmo que ~a.da 993
mente ao problema do surgimento dos complexos. Também sobre isso A existência de um complexodP~edn·víduo. A experiência pratlca
existem diversas teorias. Independentemente dessas, mostra a expe- . . - adequada o m 1 A . • de um
sobre a conStltulçao .al ão está no fato da eXlstenCIa
riência que os complexos sempre contêm algo como um conflito ou, logo nos mostra que o essenCI :- es ecial como o complexo atua no
no mínimo, dão origem a ele ou dele provêm. Como quer que seja, complexo parent~, mas n~o o as pmais diferentes variaçõe~ q~e
as características do conflito, do choque, da consternação, do escrú- indivíduo. E aqui se ve icarn ínfimo à constituição espeCIal a
pulo e da incompatibilidade são próprias dos complexos. São os assim podemos atribuir, apenas em grau ,
chamados "fantasmas" (wunde Punkte), em francês bêtes noires, em

487
486

l I
nossa própria explicação. Mas são preci~ament: e~t~s variações que
influência dos p~is porque, freqüentes vezes, mais crianças são
possibilitam a valiosa introspecção no SIstema individual de adapta-
expostas conco~Itante~e~te à mesma influência e, apesar disso,
reagem da maneira mais diversa que se possa imaginar. ção psíquica. Tomemos o primeiro caso,. em 9-ue o ~dIvíduo salta
sobre o riacho por diversão. Em outras sítuaçoes da VIda, provavel-
994 Voltei m~a atenção exatamente para essas diferenças achando mente notaremos que seu fazer e deixar de fazer se pautam, e~
q~e P?r_ m~Io .d:las . conseguiria discernir as peculiaridades das grande parte, por este aspecto. O segundo, que salto~ porque nao
disposições mdI:'ldu.aIs. Por que, numa família neurótica, uma crian- havia outra possibilidade, podemos vê-lo passar pela VIda.cautelosa
ça reag: com histeria, outra com neurose compulsiva, uma terceira e apreensivamente, sempre se orientando pe~afau.te-de~"!:le~ (falta
com psicose e uma quarta talvez com nada disso? Esse problema da de coisa melhor) etc. Em todos esses casos estao à ~Is'p0sIçao s~stemas
"lhd
esco a a neurose " , com o qu al tambem
també FREUD se defrontou, tira psíquicos especiais aos quais são confiadas ~s.decls~es ..E,fácil s!1P~r
do co_mple~o par~ntal C0r;t0.tal o significado etiológico, pois a que essas atitudes são legião. Sua ~ul?phcIdade individual e tao
questao denva mais para o indivíduo que reage e para sua disposição inesgotável como as variedades de cristais, mas que fazem parte, sem
específica.
dúvida, desse ou daquele sistema.
995 ~da q~e as .ten~ativas de FREUDpara solucionar este problema 998
Assim como os cristais apresentam leis fundamentais,re~ativa-
me deixem ms~nsfeIto, eu mesmo não estou em condições de res- mente simples, também as atitudes mostram .certas pecuhandades
ponder à questao. Julgo ser prematura a mera formulação do proble- básicas que as remetem a grupos bem determmados.
ma da escol~a ~a ne~ose. Antes de abordarmos este problema
As tentativas do espírito humano de construir tipos e, assim, 999
sumamente difícil, precisamos saber muito mais sobre como o indi-
víduo reage. A questão é esta: como reagimos a um obstáculo? colocar ordem no caos dos indivíduos são antiq~íssimas. (\ tent~nva
Exemplo: chegamos à ?eira de um riacho sobre o qual não há ponte, mais antiga neste sentido foi feita pela astrologia do Antigo Onente
nos assim chamados trígonos dos quatro elementos: ar, água, terra
mas que é largo demais para ser. transposto com um simples passo.
e fogo. O trigono do ar consiste, no horóscopo, dos tr~s zodíacos do
-r:emos que ~ar um salto. Para ISSO,temos à nossa disposição um
sIste~a.funclOnal bem complicado, isto é, o sistema psicomotor, uma ar: aquário, gêmeos e libra; o do fogo, dos rr:ê~.zO~Iacos do fogo:
áries leão e sagitário etc. Segundo esta annquíssIma concepçao,
fun5ao Já pronta, bastando ser ativada. Mas, antes que isto ocorra,
que~ nascesse nesse trigono teria parte ness~ natureza aérea ou
ve.rifica-se ~g? puramente psíquico: a decisão sobre o que deve ser
feito. E aqui tem lugar os acontecimentos individuais decisivos mas fogosa e apresentaria um temperamento e desuno c~rresp~~d~ntes.
Por isso a tipologia fisiol6gica da antiguidade, ou seja, a divisão em
que, rar~s. vezes ?U ~1Unca,são reconhecidos pelo sujeito como
quatro temperamentos hurnorais, está em íntima con~xão com as
cara~t~nsncos, pOIS~VIa de regra, não se vê a si mesmo ou, apenas,
em último caso. AsSIm como para saltar é colocado habitualmente à concepções cosmológicas ainda mais antigas. <? que anngame~te era
representado pelos signos do zodíaco fOI,depoís, expresso na língua-
disposição o aparelho psicomotor, também para a decisão sobre o
gem fisiológica dos antigos médicos, isto é, pelas ~alavras fleumátl~o,
q~e deve ser f~ito ~xiste habitualmente (e, por isso, incons-
CIentemente) à dISpOSIÇãoum aparelho exclusivamente psíquico. sangülneo colérico e melanc6lico, que apenas designam a~ secreçoes
corporais: Como sabemos, essa tipificação durou, no mínimo, 1.800
996 . As opiniões diverge~ ~~ito sobre a composição desse aparelho; anos. No que se refere à tipologia asrr:ológica, para espanto, da
certo é apenas que todo indivíduo tem seu modo costumeiro de tomar mentalidade esclarecida, ela permanece mtacta e recebe, íncíusíve,
decisões e superar dificuldades. Se perguntarmos a um deles dirá
que salto~ sobre.o rio porque ~o~t~de saltar; um outro dirá que ;altou novo florescimento. 1000
porque nao havia outra possibilidade; e um terceiro dirá que todo Este retrospecto histórico nos tranqüiliza quanto ao fato de ~u:
obstáculo é um estímulo para superá-lo. Um quarto não saltou nossas tentativas modernas de tipologia não são novas e.nem ongi-
porque detesta esforços inúteis; e um quinto também não porque não nais, ainda que nossa consciência científica nos permita ret~m~
havia maior necessidade de passar para o outro lado. esses caminhos antigos e intuitivos. Temos que ~char nossa p~opna
resposta para o problema, e uma resposta que satisfaça os anseios da
997 Escol~i de propósito este exemplo banal para mostrar como
parecemirrelevantes tais motivações e, até mesmo, fúteis, a ponto ciência.
de estarmos propensos a relegá-Ias em seu todo e substituí-Ias por

489
488
-..

1001 E aqui se apresenta a dificuldade principal do problema tipolõ- dando a impressão de serem pa:~v~:~~~ :~~~::;~~~e:o~
gico, isto é, a questão de padrões ou critérios. O critério astrológico pareciam pessoas qu,: saltavam ~ ue talvez tivessem entrado num
era simples: consistia na constelação imperante na hora do nasci- doi~ pés, para só entao pens~:i 1-10s irrefletidos, o que parecia
mento. A questão de saber como o zodíaco e os planetas podiam brejo. Pdodí~osd POq~:n:~~os ~s a premeditação do outro é: às
conter qualidades temperamentais penetra no obscuro nevoeiro da mais a equa o o ,.' rtante e um agir muito responsavel
pré-história e fica sem resposta. O critério dos quatro temperamentos uma atividade muito impo - M
vezes, alha i ado de uma simples ocupaçao. as
psicológicos da antiguidade era a aparência e o comportamento do em vista do fogo d: p a fP~~~ de um nem sempre era premedi-
indivíduo, exatamente como na tipificação psicológica atual. Mas, de Eronto d~sc?b,~ ~e :u:~~~~ém não era irreflexão. A hesitação
qual deve ser o critério de uma tipologia psicológica? taçao e o agir rapi o e , s vezes numa timidez habitual ou, ao
1002 Lembremos o exemplo dos indivíduos que deviam passar por do primeiro repous~ m~llt~tivo diante de tarefa grande demais; a
menos num retroce er ins , 1d id uma autocon-
sobre um riacho. Como e segundo que pontos de vista devemos
classificar suas motivações habituais? Um deles o faz por diversão, ativid~de ime~iata :~i~~~~s;el~~~ ~~~~jeto~~s~aaobservação fez
outro porque se não o fizesse seria pior, um terceiro não o faz porque fiança quase es:;: tipificação da seguinte maneira: existe toda
tem outra opinião etc. A série de possibilidades parece infinda e sem com que eu form asse a o momento de reagir a uma situação
maiores perspectivas para o problema. uma classe ~e pessoas 9u e!n d "não" em voz baixa e só depois
d d primeiro se retrai, dizen o 'd' d
a a, . 1 que reage imediatamente íante a
1003 Não sei como os outros procedem em relação a esta tarefa. Só chega a ~ea~; e outr:n~:~~ lena confiança de que seu procedi-
posso dizer como eu tratei o assunto e, quando me objetam que meu mesma sl~açao, :pa;.. primeir: classe seria caracterizada por ~a
modo de resolver o problema é apenas o meu preconceito pessoal, mento est _corre o., obieto e a segunda, por uma relação
devo concordar. E esta objeção é tão válida que eu não saberia certa relação negauva com o J

defender-me contra ela. Só me ocorre trazer o exemplo de Colombo positiva. d ' titude 1005
que, baseado em suposições subjetivas, em falsa hipótese, e seguindo Como se pode ver, a primeira classe. correspon e a a
caminho abandonado pelos navegadores da época, descobriu a introvertida e a segunda à atitude extroverada. b
América. Aquilo que contemplamos e o modo como o contemplamos , ifi am tão pouco quanto a desco erta 1006
sempre o fazemos com nossos próprios olhos. Por isso a ciência não Mas esses dois.termo~ sign c" d MODERE usava um linguajar
é feita por um só, mas sempre exige o concurso de muitos. O de que o "Bourge~ls Gentil~dommealo; quando conhecemos todas as
indivíduo pode dar sua contribuição e, neste sentido, ouso falar do comum. Só adquirem senti o e v ,
demais características que acompanham o upo'. d 1007
meu modo de ver as coisas. , , ode ser introvertido sem que o seja em to os os
1004 Minha profissão obrigou-me desde sempre a levar em conside- ~mguem P it ' trovertido soa assim: todo o psíquico acont~ce
ração a peculiaridade dos indivíduos e a especial circunstância de sentidos. O concei o m gularmente no introvertido. Se assim
que ao longo dos anos - não sei quantos - ter que tratar de inúmeros assim como deve acontecer re , d'víduo é extrovertido seria
casais ligados pelo matrimônio e ter que torná-los plausíveis um ao não fosse, a constatação que um certo m laltura é 175m que tem
- '1 t quanto afirmar que sua "
outro, homem e mulher, enfatizou mais ainda a obrigação e neces- tao me evan e ,b . éfalo Obviamente estas consta-
sidade de estabelecer certas verdades médias. Quantas vezes, por cabelos castanhos ou q~e e ~aqduOICque ~ realidade que exprimem.
exemplo, tive de dizer: "Sua mulher é de constituição tão ativa que - não contêm muito mais . '
taçoes _ 'd "comparavelmente mais eXigente.
não se pode esperar que sua vida toda se resuma a cuidar do lar". Mas a expressao extrov~~tl ,0 e : inconsciente do extrovertido têm
Isto já é uma tipificação, uma espécie de verdade estatística. Existem Que r dizer
d
que a conSClenClae
'das qualidades de forma que seu comportamen o
t
naturezas ativas e passivas. Mas esta verdade rudimentar não me que ter etermma o curso de sua
eral seu relacionamento com os outros ,e, mesmo,
satisfazia. Minha próxima tentativa foi dizer que havia algo como
~da ~presentem certas características típicas. , "
naturezas reflexivas e irrefletidas, pois percebera que muitas nature- oversão e extroversão como tipos de atitudes SIgnificam um 1008
zas aparentemente passivas não eram, na verdade, tão passivas, mas
sim premeditativas. Essas examinam, primeiro, a situação e só depois precl::Ceito que c~ndiciona to~o o pr~:~~ p;~~~~=~~~ :~:~:~
agem; e por assim procederem habitualmente, desperdiçam oportu- lecem o modo habItual de reaçao e, po ,
nidades onde é preciso agir imediatamente, sem premeditação,

491
490
o modo de agir, mas também o modo de ser da experiência subjetiva em grande parte, em salas de aula ou em consultórios, por generatio
e o modo de ser da compensação pelo inconsciente. aequivoca (por geração espontânea) de um cérebro erudito, isolado
1009 A.determinação do hábito de reagir tem que acertar no alvo, pois e, por isso, semelhante ao de Zeus. Não quero ser irreverente, mas
o hábito é de certa forma uma central de comutação a partir da qual não posso deixar de comparar o professor de psicologia com a
é regulado, por um lado, o agir externo, e, por outro, é configurada psicologia da mulher, dos chineses ou dos aborígines australianos.
a experiência específica. Certo modo de agir traz resultados corres- Nossa psicologia tem que envolver-se na vida, caso contrário ficare-
pondentes e a compreensão subjetiva dos resultados faz surgir mos presos à Idade Média.
experiências que, por sua vez, voltam a influenciar o agir e, dessa Percebi que do caos da psicologia contemporânea não era possí- 1014
forma, traçam o destino individual, segundo o ditado: "Cada qual é vel extrair critérios seguros; era preciso criá-Ios, não a partir da
o autor de seu destino".
estratosfera, mas com base nos inestimáveis trabalhos já existentes
1010 Ainda que não haja dúvida de que o hábito de reação nos leva de muitos, cujos nomes a história da psicologia não poderá ignorar.
ao ponto central, permanece a delicada questão se a caracterização No âmbito de uma conferência é impossível mencionar todas as 1015
do hábito de reação foi acertada ou não. Pode-se ter opinião diferente observações separadas que me levaram a selecionar certas funções
neste assunto, mesmo que se tenha conhecimento profundo desse pstquicas como critérios das diferenças em discussão. Apenas é preciso
c~po espec~co. O que ~ude encontrar.em favor de minha concep- constatar em geral que as diferenças, na medida em que pude
çao eu o reurn em meu livro sobre os tipos, afirmando categorica- percebê-Ias até agora, consistem essencialmente em que um intro-
mente que não pretendia fosse minha tipificação a única verdadeira vertido, por exemplo, não apenas se retrai e hesita diante do objeto,
ou a única possível.
mas isto é um modo bem definido de proceder. Também não age
1011 O confronto entre introversão e extroversão é simples, mas como todos os introvertidos, mas sempre de um modo todo próprio
infelizmente formulações simples merecem quase sempre descon- seu. Assim como o leão abate seu inimigo ou sua presa com a pata
fiança. Com demasiada facilidade acobertam as verdadeiras compli- díantéíra (e não com a cauda, como o faz o crocodilo), também nosso
cações. Falo de experiência própria, pois tendo publicado há quase hábito de reação se caracteriza normalmente por nossa força, isto é,
vinte anos, a primeira formulação de meus critérios.f percebi, para pelo emprego de nossa função mais confiável e mais eficiente, o que
meu desgosto, que caíra na esparrela. Algo não estava certo. Havia não impede que, às vezes, também possamos reagir utilizando nossa
tentado explicar demais com meios muito simples, o que acontece à fraqueza específica. Tentaremos criar e procurar situações condizen-
maioria no primeiro prazer da descoberta. tes e evitar outras para, assim, fazermos experiências especificamen-
1012 O que me chamou a atenção agora foi o inegável fato de haver te nossas e diferentes das dos outros. Uma pessoa inteligente há de
enormes diferenças nos introvertidos entre si e nos extrovertidos adaptar-se ao mundo com sua inteligência e não como um boxeador
entre si. Eram tão grandes essas diferenças que cheguei a duvidar se de sexta categoria, ainda que possa, num acesso de fúria, usar os
tinha enxergado bem ou não. A solução dessa dúvida exigiu um punhos. Na luta pela existência e pela adaptação, cada qual emprega
trabalho de observação e comparação que durou quase dez anos. instintivamente sua função mais desenvolvida, que se toma, assim, o
critério de seu hábito de reação.
1013 O problema de saber donde provinham as enormes diferenças
entre os indivíduos do mesmo tipo enredou-me em dificuldades A questão é esta: como reunir todas essas funções em conceitos 1016
imprevisíveis que ficaram por muito tempo sem solução. Essas gerais de modo que possam distinguir-se dos simples acontecimentos
dificuldades não estavam tanto na observação e percepção das individuais?
diferenças; a raiz era, como antigamente, o problema dos critérios Uma tipificação bruta dessa espécie já foi criada de há muito pela 1017
isto é! a des~gnação a~~quada das diferenças características. Aqui vida social nas figuras do camponês, do operário, do artista, do
experimenter com meridiana clareza quão nova é a psicologia. Difere erudito, do lutador, etc., ou no elenco de todas as profissões. Mas
bem pouco de um caos de opiniões teóricas arbitrárias que nasceram, esta tipificação nada tem a ver com a psicologia, pois, como se
expressou certa vez um notável sábio, existem também entre os
intelectuais aqueles que são meros "estívadores intelectuais".
2. Ver § 931s deste volume.

492
493
1018 O que aqui se pretende é de ordem mais sutil. Não basta, por ção extraordinária para levá-l~s a refletrr:. Estes ~e e~contram em
exemplo, falar de inteligência, pois é um conceito por demais vago oposição evidente àqueles, e a diferença é ainda mais gntantt;. qu~do
e genérico. Pode-se chamar de inteligente praticamente tudo que se trata de sócios ou de marido e mulher. No dar preferência ao
funciona de modo fluente, rápido, eficiente e finalista; à semelhança pensamento, pode-se perceber se alguém é introvertido ou e.xtrover-
da burrice, a inteligência não é função, mas modalidade; nunca diz tido. Mas só o empregará no modo que corresponda a seu TIpo.
o quê, mas sempre o como. O mesmo vale dos critérios morais e A predominância de uma ou outra ~ção.não explica todas as 1020
estéticos. Temos que saber dizer o que funciona primordialmente na diferenças que ocorrem. O que denommo TIpOSpensamento ou
reação habitual. E, neste caso, somos forçados a retomar a algo que, sentimento são pessoas que têm novamente algo em comum e q~e
à primeira vista, parece a velha psicologia de faculdades do século eu não saberia designar de outra forma do que pela palavra meio-
XVIII; na verdade, porém, só voltamos aos conceitos já inseridos na nalidade. Ninguém negará que o pensamento é essencialmente raci-
linguagem quotidiana, acessíveis e compreensíveis a qualquer um. onal, mas, quando chegamos ao sentimen~o, levantam-se. graves
Quando, por exemplo, falo de "pensar", só um filósofo não sabe o objeções que não gostaria de rejeitar s:m mais. Posso garantir que~o
que isto significa, mas nenhum leigo há de considerar isto incom- problema do sentimento' me tro~e nao po~ca ~or de cabeç~. ~ao
preensível. Quase diariamente empregamos esta palavra e sempre quero, porém, sobrecarregar minha conferência ~om as op~lOes
significa praticamente a mesma coisa. Mas um leigo entraria em teóricas sobre este conceito, mas trazer apenas rapidamente minha
sérios apuros se pedíssemos que nos desse de pronto uma definição concepção. A dificuldade principal é que a palavra "sen.timento" ou
inequívoca de pensar. O mesmo vale de "memória" e "sentimento". "sentir" é suscetível dos mais diferentes usos, especialmente na
Esses conceitos psicológicos puros são muito difíceis de definir língua alemã, embora menos na língua ingles.ae francesa. Temos que
cientificamente, mas são facílimos de entender na linguagem usual. distinguir de antemão esta palavra do conceito de sensaçao, q';1eé a
A linguagem é uma reunião de evidências por excelência; por isso, função dos sentidos. Também é preciso ~ompreender que ~ sennmen-
conceitos muito nebulosos e abstratos não conseguem lançar raízes to.de compaixão, por exemplo, é conceitualrnente b:m diferent~ ~o
nela ou facilmente morrem porque têm pouco contacto com a sentimento de que o tempo vai mudar ou de que as açoes do al';lffimIo
realidade. Mas o pensamento ou o sentimento são realidades tão vão subir. Minha proposta era que se chamasse de sentimento
evidentes que qualquer linguagem não muito primitiva tem expres- propriamente dito o primeiro sentimento e, qu~to aos outros, .fosse
sões absolutamente inequívocas para eles. Podemos ter certeza, abolida a palavra "sentir" - ao menos com relaçao a seu uso psicolé-
então, que estas expressões coincidem com situações psíquicas bem gico - e substituída pelo conceito de "sen~ação"',,~nq~~t~ se tratasse
determinadas, não importa como sejam cientificamente defmidas de experiência sensorial; ou pelo conceito de mtuiçao", en,!um;to
essas situações complexas. Todos sabem, por exemplo, o que é se tratasse de uma espécie de percepção que não pode ser atribuída
consciência, mas a ciência ainda o desconhece; ninguém duvida que diretamente à experiência dos sentidos. Por isso, defini sensação
o conceito consciência coincida com uma determinada situação psí- como percepção através da função consciente dos sentidos e intuição
quica, mas a ciência não o sabe definir. como percepção através do inconsciente.
1019 Foi por isso que tomei os conceitos leigos contidos na linguagem Evidentemente é possível discutir sobre a validade dessas defini- 1021
usual como critérios para as diferenças verificadas num tipo de ções até o fim do mundo, mas a discussão prende-se, em. última
atitude e com eles designei as funções psíquicas correspondentes. análise apenas à questão se devemos chamar um certo animal de
Tomei, por exemplo, o pensamento, como é entendido usualmente, rinoceronte ou de "com chifre no focinho", pois o que interessa é
porque me chamou a atenção que muitas pessoas pensam bem mais saber como designar o quê. A psicologia é terra virgem onde a
do que outras e dão a seu pensamento valor bem maior em suas linguagem ainda precisa ser fixada. Podemos n;edir a tempera~a
decisões importantes. Também usam seu pensamento para entende- de acordo com Réaumur, Celsius ou Fahrenheit, apenas e preciso
rem o mundo e a ele se adaptarem; e tudo que lhes acontece é explicar que graduação estamos utilizando.
submetido a uma consideração ou reflexão, ou, no mínimo, a um Como se vê, considero o sentimento uma função da índole e dele 1022
princípio previamente estabelecido. Outras pessoas relegam o pen- distingo a sensação e o pressentimento o.uintui5ão. quem _misturar
samento em favor de fatores emocionais, isto é, do sentimento. Fazem essas funções com o sentimento, em sentido mais estnto, nao conse-
continuamente uma "política do sentimento" e é preciso uma situa-

494 495
cio? Permanecem em situação mais ou menos primitivo-infantil,
~irá entend~r a racional idade do sentimento. Mas, quem as separa,
nao .pode deixar .de reco~ecer que os valores e julgamentos do apenas meio-conscientes ou totalmente inconscientes. E constituem,
se~tlmento, ou seja, os sentimentos em geral, não apenas são racio- assim, para cada tipo, uma inferioridade característica que é parte
nais, mas podem ser também lógicos, conseqüentes e criteriosos integrante de seu caráter geral. Ênfase unilateral do pensamento vem
com~ o pensam~nto. E~te fato parece estranho ao tipo pensamento, sempre acompanhada de inferioridade do sentimento; sensação
mas ~sto .se exp~lca facilmente pela circunstância típica de que, na diferenciada perturba a faculdade intuitiva e vice-versa.
funçao diferenCla.da do pensamento, a função sentimento é sempre Se uma função é diferenciada ou não, é fácil de perceber por 1025
menos desenvolvida e, por isso, mais primitiva e contaminada com
sua força, estabilidade, consistência, confiabilidade e ajustamento.
o'!tr~s ~~ões, princi~almente com as irracionais, não-lógicas e
Mas sua inferioridade nem sempre é tão fácil de reconhecer e
na0:Judlc~UV~S!.respecuvamer:te. não-aval~adoras, isto é, com a sen-
saç~o e ~ mtu~çao. Est~s duas últimas funçoes são opostas às funções descrever. Um critério bastante seguro é sua falta de autonomia e,
racionais, e Isto devido à sua natureza mais profunda. Quando portanto, sua dependência das pessoas e das circunstâncias, sua
pensamos, a gente ~ faz com a intençã~ de chegar a um julgamento caprichosa suscetibilidade, sua falta de confiabilidade no uso, sua
ou ~ ~a conclusao: e, quando sentimos, é para chegar a uma sugestionabilidade e seu caráter nebuloso. Na função inferior, esta-
a.vallaç~o correta. Mas a sensação e a intuição, como funções percep- mos sempre por baixo; não podemos comandá-Ia, mas somos inclu-
uvas, Visam à percepção do que está acontecendo, mas não o inter- sive suas vítimas.
pret~m e nem o avali.am .. Não de,:em, portanto, proceder A intenção dessa conferência é dar um apanhado das idéias 1026
seletivamente segundo princípios, mas tem que estar simplesmente
abertas. ao que acontece. O puro acontecer é, no entanto essencial- básicas de uma tipologia psicológica, por isso não devo entrar em
mente rrracion~, l?ois nã? há método conclusivo capaz de demons- descrição detalhada dos tipos psicológicos.
trar q';1ed:ve existir tal numero de planetas ou tais e tantas espécies O resultado de meu trabalho até agora é a constatação de dois 1027
de an~als de sangue quente. A irra~ionalidade é um defeito que tipos gerais de atitude: a extroversão e a introversão, e de quatro
apel~a para o pensamento e o sentimento: a racionalidade é um tipos funcionais: os tipos pensamento, sentimento, sensação e intui-
defeito onde a sensação e a intuição deveriam ser chamadas. ção. Esses tipos variam segundo a atitude geral e, assim, produzem
1023 .Há ~uita~ pessoas que. baseiam seu hábito principal de reação oito variantes.
na írracionalidade e, precisamente, .na sensação ou na intuição,
Já fui questionado, em tom de censura, pelo fato de admitir 1028
n';1llca.r:as duas ao mesmo tempo, pOISa sensação é tão antagônica
à mtuiçao quanto o pensamento ao sentimento. Se eu quiser consta- quatro funções; não poderiam ser mais ou menos? Cheguei ao
tar com meus olhos e ouvidos o que realmente acontece, posso fazer número quatro de modo puramente empírico. A explicação a seguir
tudo menos perambular com sonhos e fantasias por todos os cantos mostra que com quatro se chega a uma certa totalidade.
- o q~e. exatamente o. intuitiv:o tem que fazer para garantir o A sensação constata o que realmente está presente. O pensamen- 1029
ne~essano e~paço a se~ mc~nsClent~ ou ao objeto. Compreende-se, to nos permite conhecer o que significa este presente; o sentimento,
pois, que o tipo sensaçao seja o antípoda do intuitivo. Infelizmente qual o seu valor; a intuição, finalmente, aponta as possibilidades do
o tempo nã~ me permite a~orda: as inte~essantes variações provoca- "de onde" e do "para onde" que estão contidas neste presente. E,
das pela atitude extrovertida e introvertída nos tipos irracionais.
assim, a orientação com referência ao presente é tão completa quanto
1024 Em vez disso, gostaríamos de acrescentar uma palavra ainda a localização geográfica pela latitude e longitude. As quatro funções
sobre as conseqüências regularmente produzidas quando se dá são algo como os quatro pontos cardeais, tão arbitrárias e tão
preferência a uma das funções. É sabido que a pessoa não pode ser indispensáveis quanto estes. Não importa que os pontos cardeais
tudo ao mesmo tempo nem ser perfeita. Algumas qualidades ela as sejam deslocados alguns graus para a esquerda ou para a direita, ou
desenvolve, outras deixa atrofiadas. Nunca alcança a perfeição. O que recebam outros nomes. É apenas questão de convenção e com-
que pode acontecer com aquelas funções que ela não utiliza diaria-
preensão.
mente de modo <consciente e, portanto, não desenvolve pelo exercí-

496
497
-.

1030 Mas, uma coisa devo confessar não tari d


matisesta bússola em minhas viagen~ de d;~;o:~as~ ~:~ds~ ~~~
ao ato mUlto natural e humano de ue cad al . .
mas .devido ~o fato objetivo de que, ~om iss! i~o~a sU,asidéias,
mtedld~ e onen.tação. que t.orna possível o qu~ nos fal~ ~~~e:~i~~
empo. uma psicologia critica.

Tipologia psicológica 1

DESDE os primórdios da história das ciências, foi preocupação do 1031


intelecto reflexivo colocar meios-termos entre os pólos da seme-
lhança e dessemelhança absolutas do ser humano. Daí resultaram os
assim chamados tipos ou - como eram denominados antigamente -
temperamentos que classificavam a igualdade e desigualdade em
categorias uniformes. Na antiguidade, foram sobretudo os médicos
que aplicaram esse princípio ordenador - que EMPÉDOCLEShavia
estatuído para o caos dos fenômenos naturais, dividindo-os nos
quatro elementos: fogo, ar, água e terra, em conexão com as proprie-
dades, igualmente oriundas da filosofia naturalista dos gregos: seco,
quente, úmido e frio - aos seres humanos, tentando, assim, reduzir
a caótica diversidade do gênero humano a grupos organizados.
Dentre esses médicos, destacou-se GALENOque, com esta doutrina,
influenciou a ciência da doença e do homem doente por quase 1.800
anos. Os antigos nomes dos temperamentos ainda denunciam sua
procedência da "patologia humoral": melancólico (de bílis negra);
fleumático (mucoso: a palavra grega phlegma significa queimação,
inflamação; o "muco" foi considerado como produto final da infla-
mação); sangüíneo (de sangue); colérico (bílis "amarela"). Nossa
concepção moderna de ''temperamento'' tomou-se bem mais psico-
lógica, pois a "alma", nesses 2.000 anos de desenvolvimento, liber-
tou-se dessa vinculação com humores quentes e frios, mucosos e
biliosos. Jamais os médicos de hoje identificariam um temperamento,
isto é, uma certa espécie de estado emocional ou excitabilidade,
diretamente com a constituição do fluxo sangüíneo ou linfático,
ainda que sua profissão e seu contato com as pessoas, sob o ângulo
da doença corporal, os induzam mais vezes do que o leigo à tentação

1. Publicado em Süddeutsche Monatshefte, fevereiro de 1936_

498
499
de considerar a psique como órgão sensível e dependente da fisiolo- isso localizava a alma na região do diafragma (do grego, phrenes =
gia das glândulas. Os "humores" dos médicos atuais já não são as diafragma) e do coração. Foram os filósofos que começaram a dizer
antigas "secreções corporais" mas os sutis hormônios que influen- que a razão estava na cabeça. Há aborígines cujos "pensamentos"
ciam em larga escala o "caráter", considerado como síntese das estão localizados essencialmente na barriga e indígenas Pueblos que
reações temperamentais ou emocionais. A disposição geral do corpo, ''pensam'' com o coração ("só os loucos pensam com a cabeça"). A
ou a assim chamada constituição, no sentido mais amplo, tem muito este nível, consciência é comoção e vivência da unidade. Mas foi
a ver com o temperamento psicológico e, na verdade, tem tanto a ver exatamente este povo do prazer e da tragédia que inventou, quando
que não podemos recriminar os médicos se consideram o fenômeno começou a pensar, aquela dicotomia que NIETZSCHE achava dever
psíquico como dependente do corpo. Em algum lugar a alma é corpo imputar ao velho Zaratustra, ou seja, a descoberta dos pares de
vivo, e corpo vivo é matéria animada; de alguma forma e em algum opostos, a separação de direito e esquerdo, em cima e embaixo, bem
lugar existe uma irreconhecível unidade de psique e corpo que e mal. Isto foi obra dos antigos pitagóricos. Sua doutrina da respon-
precisaria ser pesquisada psíquica e fisicamente, isto é, tal unidade sabilidade moral e das graves conseqüências metafísicas do pecado
deveria ser considerada pelo pesquisador como dependente tanto do infiltrou-se, no decorrer dos séculos, nas mais diversas camadas da
corpo quanto da psique. A concepção materialista concedeu a prima- população, através da ampla difusão dos mistérios õrfico-pítagérícos.
zia ao corpo e relegou a psique à categoria de fenômeno derivado e Já PLATÃOusa a comparação do cavalo branco e preto para designar
de segunda classe, reconhecendo-lhe não maior substancialidade do a complicação e polaridade da psique humana; mas os mistérios já
que a de um "epifenômeno". O que em si é uma boa hipótese de propagavam, bem antes, a doutrina da recompensa de além-túmulo
trabalho, ou seja, que o fenômeno psíquico vem condicionado pelos para os bons, e do castigo infernal para os maus. Não se trata de
processos corporais, tomou-se, no materialismo, um desmando filo- sofismas psicológicos de filósofos "alheios ao mundo" ou de misticis-
sófico. Qualquer ciência séria sobre o organismo vivo há de rejeitar mo fanfarrão, pois o pitagorismo já era, no século VI aC, uma espécie
este desmando, pois, de um lado, tem patente diante dos olhos que de. religião estatal na Magna Grécia. Também seu pensamento e
a matéria viva ainda possui um segredo indecifrado e, por outro, sua ' mistérios não desapareceram, mas experimentaram inclusive um
objetividade não pode negar que ainda persiste um abismo, para nós renas cimento fílosõfíco, no século II dC, quando influenciaram for-
totalmente íntransponível, entre o fenômeno físico e psíquico, de temente o mundo intelectual de Alexandria. Seu confronto com o
modo que o psíquico não é menos misterioso do que o físico. profetísmo judaico levou ao que podemos denominar de começo da
1032 O abuso materialista só foi possível recentemente, quando a religião cristã universal.
concepção da psique libertou-se da visão antiga e desenvolveu-se, no Do sincretismo helênico nasceu uma tipificação das pessoas que 1034
curso de muitos séculos, na direção da autonomia e da abstração. Os era totalmente estranha à psicologia humoral dos médicos, ou seja,
antigos ainda conseguiam ver corpo e psique como unidade insepa- estabelecia gradações entre os pólos parmenidianos de luz e escuri-
rável porque estavam mais próximos daquele tempo primitvo em que dão, de acima e abaixo. Distinguia as pessoas em hylikoi; psychikoi e
ainda não havia uma fenda moral na personalidade e o homem podia pneumatikoi - materialistas, psíquicas e espirituais. Esta classificação
sentir-se como unidade indivisa em sua inocência e irres- não é uma formulação científica de semelhança e dessemelhança,
ponsabilidade infantis. Os egípcios ainda gozavam da incrível inge- mas um sistema crítico de valores que não se baseia em aparências
nuidade de uma confissão negativa de culpa: "Não deixei ninguém externas, mas em suposições éticas, místicas e filosóficas. Mesmo não
sofrer fome. Não fiz ninguém chorar. Não matei etc." Os heróis sendo propriamente "cristã", esta concepção faz parte do cristianis-
homéricos choravam, riam, vociferavam, enganavam e matavam mo primitivo ao tempo de Paulo. Sua simples presença já é prova
num mundo em que isto era considerado natural e evidente para inconteste da cisão que ocorreu na unidade primitiva da pessoa
homens e deuses e a família dos deuses olímpicos se comprazia numa totalmente entregue às suas emoções. Após ter sido apenas um ser
irresponsabilidade imortal. vivo, experimentado e experimentador, sem análise reflexiva sobre
sua origem ou destino, viu-se o homem, de repente, confrontado com
1033 Era neste nível arcaico e pré-filosófico que vivia o homem,
dominado por suas emoções. Só o que fazia seu sangue ferver, seu três fatores deterministas, moralmente obrigatórios: corpo, alma e
espírito. Desde o nascimento já vinha decidido se haveria de viver na
coração bater forte, sua respiração se acelerar ou diminuir, seus
intestinos se desarranjarem, só isto era considerado "anímico". Por hyle, no pneu ma ou num ponto indeterminado entre os dois. A cisão

500 501
presente no espírito helênico tomou-se, agora, aguda, fazendo com costumava chamar de "curiosas". Penso especialment 1 Jll '11N

que o acento principal recaísse no anímico-espiritual, separando-se KERNERe em sua Vidente de Prevorst, e em BLUMHARDT( 1
este do corpóreo natural e firmando-se como autônomo. As metas sua Gottliebin Diuus. Mas, para ser historicamente justo, n
últimas e mais importantes estavam na determinação moral e num esquecer a Idade Média e as Acta Sanctorum. Nesta linha vão
estado espiritual e supramundano. E a separação da hyle ampliou-se pesquisas científicas atuais que vêm ligadas aos nomes de WILUAM
para uma separação entre mundo e espírito. E, assim a sabedoria JAMES FREUDe FLOURNOY.JAMESe seu amigo suíço, THÉODORE
primitiva e meiga dos pares de opostos dos pitagóricos transformou- FLOURNOY tentaram descrever a totalidade do fenômeno psíquico
se num conflito moral apaixonado. Nada é mais indicado para e julgá-lo co~o totalidade. Também FREUD,.enquanto médico, pa;te
desafiar nosso estado consciente e vigilante do que uma desunião da totalidade e indivisibilidade da personalIdade humana, mas Im-
consigo mesmo. Não é possível imaginar outro meio mais eficaz de ;10
põe-se certas limitações p~óprias da época, senti.do ?e ~ecanismos
acordar a humanidade de seu torpor irresponsável e inocente dentro (instintivos) e processos smgulares. Tam~em res~gIu a ~agem do
da mentalidade primitiva e trazê-Ia para um estado de respon- homem à totalidade de uma pessoa coletiva essenCIalmente 'burgue-
sabilidade consciente. sa" o que levou a uma interpretação ideologicamente unilateral.
Inf~lizmente FREUD sucumbiu à tentação médica, à maneira da
1035 Chamamos este processo desenvolvimento cultural. Trata-se, em psicologia humoral, de atribuir o fenômeno psíquico ao corpo, e isto
todos os casos, de um desenvolvimento da capacidade de diferen- com gestos rebeldes contra a reserva metafísica, perante a qual sentia
ciação e julgamento, da consciência em geral. Com o incremento do
conhecim~nto e da crítica foram lançados os fundamentos para o algo como um pavor sagrado.
desenvolvunento total subseqüente do espírito humano, no sentido Ao contrário de FREUD que, após um início psicológico correto, 1037
do desempenho intelectual. O produto espiritual que ultrapassa em voltou à antiga idéia da constituição física, e quis reduzir tudo
qualquer aspecto o desempenho do mundo antigo é a ciência. Ela teoricamente ao instinto condicionado pelo corpo, parto eu da
superou a cisão entre o homem e a natureza; distinguiu o homem da) suposição da soberania da psique. Ainda que corpo e psique !ej~
natureza e, exatamente por isso, fez com que ele encontrasse nova- uma unidade em algum lugar, em sua natureza n:~ifesta sao t~o
mente seu verdadeiro lugar dentro da ordem natural. Mas sua diferentes que devemos atribuir-lhes uma substancIalI~ade própna.
posição metafísica privilegiada entrou em colapso, enquanto não foi Enquanto não tivermos condições de ve~car esta unidade, só nos
garantida pela fé na religião tradicional, surgindo, então, a conhecida resta examinar separadamente corpo e psique e proceder como se
oposição entre "fé e ciência". De qualquer forma, a ciência física e fossem independentes um do outro, ao m~t;0s .em ~~~ estrutura. Que
natural reabilitou a hyle e, neste sentido, o materialismo foi, inclusi- isto não seja assim, mostra-n~s a exp~nencIa diária. Mas, se nos
ve, um ato de justiça histórica. fixarmos nisso, jamais consegurremos dizer algo sobre a psique.
1036 . Mas, um campo bem essencial da experiência, isto é, a própria Supondo que a psique tenha soberania, vamo~ libertar-nos .da 1038
psique humana, permaneceu por muito tempo uma reserva merafí- tarefa insolúvel- ao menos até o presente - de referir todo o psíquico
sica, ainda que tivesse havido sérias tentativas, desde o iluminismo ao corporal. Podemos, então, tomar as manifestações da psiq~e como
de abri-Ia para a pesquisa científica. Começou-se, às apalpadelas: expressão de seu próprio ser e estabelecer regulandades ou npos. Se
com as percepções dos sentidos, aventurando-se, aos poucos, no eu falar, portanto, de tipologia psicológica, trat~-s: da formula!ão
camp? das associações; esta linha levou finalmente à psicologia de elementos psíquicos estruturais e nao .da.d:scnçao d~ e~ana~oes
expenrnental, culminando napsicologiajisio16gica de WUNDT. Uma psíquicas de determinado tipo de constítutçao. Nesta última linha
psicologia mais descritiva, com a qual os médicos entraram em estão as pesquisas de KRETSCHMERsobre a estrutura corporal e o
contato, desenvolveu-se na França. Menciono nomes como TAlNE caráter.
R!BOT e? JANE~. E~tas tentativas .científicas se caracterizaram pel~ A tentativa de uma tipificação puramente psicológica eu a 1039
dissolução do pSIqUICOem mecanismos ou processos particulares. descrevi em detalhes no meu livro Tipos Psicológicos. A base de minha
Contra essa postur~ levantm:a:n-se al~s, apresentando o que hoje pesquisa foi uma atividade de vinte anos, como médico, que me pôs
poderíamos denommar de visao globalísta. Parece que esta orienta- em contato com pessoas de todas as camadas e de todas as nações
ção surgiu de certo tipo de biografia, sobretudo daquelas biografias mais desenvolvidas. Quando se é médico principiante, nossa cabeça
que um tempo mais antigo, que também conheceu bons momentos ,

502 503
"

está cheia de quadros clínicos e diagnósticos da doença. Mas, com o


prazer e necessidade de estar junto e participar, .capac.idade. de
correr d.o tempo, vão surgindo impressões de espécie bem diversa. suportar movimento e barulho de qualquer espécie e, inclusive,
Impressíonanre é, por exemplo, a diversidade de indivíduos humanos encontrar satisfação nisso, e, finalmente, atenção constante ao mun-
e.a.profu~ão caó~ca de ,casos.particulares cujas circunstâncias espe- do ambiente, cultivo e relacionamento com amigos e conhecidos, mas
CIaISd,e vida e ~UJoc~ater s.rngul.a:produzem quadros clínicos que sem rigorosa seleção, grande importância aAo~odo de ~uir sobre
- se e que existe ainda dlsposlçao para tanto - só podem ser o meio ambiente e, por isso, forte tendência de exibír-se. Sua
~nquadrados num diagnóstico clínico fazendo certa violência. É cosmovisão e ética são, por isso, de natureza coletiva, com forte
~elev~te que se designe um distúrbio dessa ou daquela forma, mas acento no altruísmo, e sua consciência depende em grande parte da
e preciso notar que os chamados quadros clínicos de doenças são opinião pública. As dúvidas morais só acontecem quando "os outros
an:~s, expressõ~s mímicas ou teatrais de certos caracteres. A proble~ tomam conhecimento". As convicções religiosas são determinadas,
manca patolõgíca em tomo da qual tudo gira quase nada tem a ver de certa forma, pela decisão da maioria.
com um quadro clínico, mas é a expressão e a natureza do caráter.
Também os complexos, na qualidade de "elementos nucleares" das O sujeito propriamente dito permanece o quanto possível no 1042

neuroses, .são ~~levantes~ porque são meros fenômenos que derivam escuro. Ele é ocultado dele mesmo com inconsciência. Tem grande
de certa disposição de carater. Isto se vê facilmente no comportamen- aversão a submeter seus motivos a um exame crítico. Não tem
to do d~ent: em r:lação à sua f~íl.ia paterna. Ele tem, por exemplo, segredos que já não tenha partilhado com outros. Se, contudo, lhe
quatro ~aos, nao sendo o primeiro nem o último; teve a mesma acontecer algo inconfessável, prefere o esquecimento. Tudo o que
educaçao e as mesmas oportunidades que seus irmãos. Mas ele está possa estorvar o otimismo e positivismo manifesto. é ~ejeitado. O que
doente e os outros sãos. Mostra sua análise que uma série de pensa, intenciona e faz é levado avante com convicçao e ardor.
influências, à qual estiveram expostos e sob a qual sofreram também A vida psíquica desse tipo transcorre, de certo modo, fora dele 1043
seus irmãos, só atuou de modo patológico sobre ele ao menos na mesmo em seu meio ambiente. Vive nos e com os outros. Ocupar-se
aparência. Mas, na verdade, estas influências também nele não são consigo mesmo lhe dá arrepios. Se perigos o espreitarem, é melhor
causas propriamente ditas, mas explicações fictícias. A causa verda- abafá-Ios com ativismo. Mas, se possuir um "complexo", refugia-se
deira da neurose está na maneira como o doente assimilou e utilizou no burburinho externo e faz com que os circunstantes confirmem
as influências do meio ambiente. diariamente que está tudo em ordem com ele.
1040 Comparando vários casos, cheguei à conclusão que deveria haver Se não for ativo, atirado e superficial em demasia, pode ser um 1044
duas a~tudes gerais basicamente distintas que repartiriam as pessoas membro valioso da sociedade humana.
~m .d?IS grupos, caso a.humanidade toda se constituísse apenas de No limitado espaço deste artigo, devo contentar-me com um 1045
indivíduos altamente diferenciados. Como isto evidentemente não esboço geral. Pretendo deu:ao leitor apenas ~a idéia ~o que seja
é o c~so, podemos ~lrmar apenas que esta diferença de ati~de é extroversão, para que o ajude em seu própno conhecimento das
perfeitarnenrs observavel quando se trata de personalidade relativa- pessoas. Comecei propositalmente com a descrição ?a ex:rovers~o,
mente diferenciada, em outras palavras, que só é observável a partir pois esta atitude é conhecida de todos. O extrovertido nao .só Vl~e
de ~ certo grau de diferenciação e só então assume importância nesta atitude, mas também a exibe perante os outros por princípio.
prática. Nos casos patológicos dessa espécie, trata-se, em geral, de Ela corresponde, além disso, a certos ideais e exigências morais.
pessoas que se afastam do tipo familiar, e, por isso, já não encontram
bastante segurança em sua fundamentação instintiva hereditária. A A introversão que não se volta para o objeto mas para o sujeito, 1046

insegurança instintiva é um dos motivos básicos do desenvolvimento e não se orienta pelo objeto, não é perceptível sem mais. O introver-
de atitude habitual unilateral, ainda que seja em última análise tido não vai ao encontro do objeto, mas está sempre em posição de
condicionada ou reforçada pela hereditariedad~. ' retirada diante dele. Está fechado para o acontecimento externo, não
participa, tem acentuado desprazer social logo que ,s_eencontra em
1041 Essas duas atitudes básicas e diferentes eu as denominei extro- meio a grande número de pessoas. Em grandes reurnoes, sente-se só
ve~são e introversão. A extroversão se caracteriza pelo pendor para o e perdido. Quanto maior a quantidade, maior sua resistência contrá-
objeto externo, abertura e boa disposição para o acontecimento ria. De forma alguma gosta do "estar no meio", nem do participar e
externo, desejo de atuar sobre ele e de deixar-se envolver por ele, imitar entusiásticos. O que faz é sempre à sua maneira, eliminando

504
505

t.,; I
-.

totalmente influências externas. Sua aparência é desajeitada, pare- Apesar dessas características, o introvertido não é de forma 1049
cendo, às vezes, inibido; acontece muitas vezes que, devido a certa alguma um inútil para a sociedade. Seu retraimento sobre si mesmo
rudeza, mau humor ou escrúpulo impróprio, ofenda as pessoas. Suas não significa renúncia plena ao mundo, mas busca de sossego, pois
melhores qualidades ele as reserva para si e muitas vezes faz o só assim é capaz de dar sua contribuição para a vida da comunidade.
possível para ocultá-Ias. Facilmente é desconfiado, teimoso, sofre de Este tipo de pessoa está exposto a inúmeros mal-entendidos, e 1050
sentimentos de inferioridade e, por isso, é às vezes-invejoso. Sua não sem razão, porque dá motivos para isso. Não se pode inocentá-lo
ansiedade em relação ao objeto não reside no temor, mas no fato de de encontrar certo prazer na mistificação, e que o ser mal compreen-
lhe parecer negativo, exigente, impositivo e, mesmo, ameaçador. Por dido lhe traga satisfação, o que confirma mais uma vez sua visão
isso, imagina toda sorte de motivos ruins, tem eterno medo de pessimista do mundo. Nessas condições é compreensível que o
tomar-se ridículo, via de regra é muito sensível e se protege atrás de acusem de frieza, orgulho, teimosia, egoísmo, arrogância, esquisitice
uma cerca de arame farpado tão fechada e impenetrável, que ele etc., e que o lembrem sempre de novo que dedicação aos objetivos
mesmo gostaria de não estar atrás dela. Com referência ao mundo, da sociedade, abertura para os valores do mundo, disposição corajosa
emprega um elaborado sistema de segurança que se compõe de e confiança abnegada naquilo que tudo move são autênticas virtudes
escrupulosidade, pedantismo, frugalidade, cautela, meticulosidade e sinais de vida sadia e vigorosa.
angustiada, precaução, exatidão sofrida, cortesia e uma desconfiança O introvertido sabe muito bem que tais virtudes existem e que 1051
sempre atenta. Faltam em seu mundo os tons rosa, pois é crítico e talvez haja em algum lugar (não no círculo de seus conhecidos)
encontra em toda sopa um cabelo. Em circunstâncias normais é
pessoas extraordinárias que gozam da plena posse dessas qualidades
pessimista e preocupado, pois o mundo e a humanidade não são
bons, mas oprimem e subjugam o indivíduo que não se sente acolhido ideais. Sua auto crítica e a consciência que tem de seus motivos já lhe
em seu seio. Mas ele também não acolhe o mundo, ao menos não destruíram a ilusão de ser capaz dessas virtudes; e seu olhar descon-
diretamente, pois tudo tem que ser medido e avaliado por seus fiado e aguçado pelo medo sempre ainda consegue divisar em seus
modelos críticos. Enfim, só é aceito aquilo que se elabora a partir de semelhantes as orelhas de burro que aparecem por sob a juba do
muitas razões subjetivas. leão. Mundo e humanidade são para ele estorvo e perigo, não
1047 Ocupar-se consigo mesmo lhe é gratificante. Seu próprio mundo apresentam nenhuma validade pela qual se pudesse orientar. A única
é porto seguro, um jardim cuidadosamente cercado, vedado ao coisa válida é seu mundo subjetivo; e, quando em estado de exalta-
público e à curiosidade indiscreta. Sua própria companhia é a ção, acredita que este seja o mundo objetivo. Poderíamos sem mais
melhor. Em seu mundo, onde se altera apenas o que ele quer, sente-se acusar essas pessoas do mais crasso subjetivismo e, mesmo, de um
bem. Sua melhor produção é o que faz com os próprios meios, por individualismo doentio, se ficasse comprovado definitivamente que
iniciativa própria e a seu modo. Se acontecer, após longo e penoso só existe um mundo objetivo. Esta verdade, porém, não é um axioma;
processo de assimilação, assumir algo que lhe seja estranho, é capaz é apenas meia-verdade. A outra metade é que o mundo também é
de fazer bom uso dele. Multidão, maioria, opinião pública e entusias- como as pessoas o vêem, em última análise, como o indivíduo o vê.
mo geral não o convencem, apenas fazem com que se esconda ainda Não existe mundo algum sem o sujeito que conhece. Por mais
mais em sua casca.
insignificante e singelo que seja, isto constitui a outra pilastra da
1048 Seu relacionamento com as demais pessoas é caloroso só quando ponte que sustenta o fenômeno universal. A apelação ao sujeito tem,
a segurança está garantida, isto é, quando pode dispensar sua por isso, a mesma validade que o apelo ao assim chamado mundo
desconfiança protetora. Mas inúmeras vezes isto é impossível e, em
objetivo, porque se fundamenta simplesmente na realidade psíquica.
conseqüência, seu círculo de amigos e conhecidos limita-se ao míni-
mo. Também a vida psíquica desse tipo transcorre totalmente no Mas esta é uma realidade que tem suas leis peculiares e que não são
íntimo subjetivo e fica oculta ao mundo exterior. Surgindo nesse de natureza secundária.
mundo interno algum conflito ou dificuldade, portas e janelas são Extroversão e introversão são atitudes opostas que se apresentam 1052
fechadas. Tranca-se com seus complexos até atingir total isolamento. em toda parte, também na história do pensamento humano. A
problemática daí resultante já foi antecipada por FRIEDRICHSCHlL-

507
LER e ~stá contida em suas cartas Sobre a educação estética do essencialmente um resultado empmco das diferenças típ
homem. Mas, como desconhecesse o conceito de inconsciente não atitudes funcionais. Há pessoas para as quais o acento nurnin 1 • li
conseguiu uma solução satisfatória. E os filósofos, que deveri~ ser na sensação, isto é, na percepção de dados reais e esta é cons tu!
os pnmeiros a tratar desse assunto, não gostam de submeter sua em princípio exclusivo de determinação e orientação. Estas são
função PAensamentoa uma. crítica basicamente psicológica e, por isso, pessoas fatuais para as quais o julgamento intelectual, o sentimen
se m~tem longe .dessa discussão, Mas é preciso entender que esta e a intuição são relegados a plano secundário em vista da extraor-
polandade da atitude psíquica tem a maior influência sobre as dinária importância da realidade dos fatos. Se o acento recair no
concepções filosóficas. pensamento, reserva-se um julgamento sobre qual importância atri-
1()53 . Para o extrovertido, o objeto é a priori interessante e atrativo buir a este ou àquele fato. E dessa importância dependerá a maneira
ass~ como, p~a o introvertido o é o sujeito, respectivamente ~ como o indivíduo se comportará diante dos fatos. Se o sentimento
reah?ad~ psiquica ..Po?emos empregar para isso a expressão "acento for numinal, a adaptação dependerá totalmente do valor sentimental
n~I?al , o .que s1~~ca que, para o extrovertido, as qualidades que se atribui ao fato. Recaindo o primado numinal na intuição, a
pO~ltIVasde importância e valor recaem em primeiro lugar sobre o realidade atual só terá valor enquanto pareça conter possibilidades
objeto que desempenha, então, em todos os processos psíquicos o que se tomam, então, a suprema força motivadora, sem consideração
papel preponderante, condicionador e orientador. O mesmo vale do com o ser realmente presente.
sujeito em relação ao introvertido. A localização do acento numinal dá origem a quatro tipos de 1056
1054 O acento num~al não distingue apenas entre sujeito e objeto, função que encontrei em minha experiência com pessoas e, só depois,
mas tam?é~ seleciona aquela função da consciência que é mais formulei sistematicamente. Esses quatro tipos sempre se ligam, na
7Isa~a: DIStIngOquatro funções: sensação, pensamento, sentimento e realidade prática, com o tipo de atitude, ou seja, com extroversão ou
m~lç~o. O processo da ~e~sação cons!at~ essencialmente que algo introversão, isto é, as funções aparecem numa variação extrovertida
existe; o pensamento ~al ~lzer o .q,:e SIgnifica; o sentimento, qual o ou introvertida. Disso resulta um conjunto de oito tipos funcionais,
valor dele; e a mnnçao e suposiçao e pressentimento sobre o "de demonstráveis na prática. Naturalmente é impossível expor, no
onde" ~ "para o_nde:'.A perc~pção pela sensação e a intuição eu as espaço deste artigo, a psicologia peculiar desses tipos em sua mani-
denommo ~çoes irracionais, porque se referem simplesmente ao festação consciente e inconsciente. Devo remeter o leitor à minha
fato acontecido ou dado. O pensamento e sentimento, porém en- obra, acima mencionada.
quanto funções judicativas, são racionais. A sensação como fon~tion A tipologia psicológica não tem a finalidade, em si bastante 1057
du réel (função do real) exclui a atividade intuitiva simultânea uma inútil, de dividir as pessoas em categorias, mas significa antes uma
vez que esta ~~o.se ocuPe: com o ~e~atualmente presente, mas, antes, psicologia crítica que possibilite uma investigação e ordenação me-
~om as ~osslbil.ldades nao sensonas dele e, por isso, não se deixa tódicas dos materiais empíricos relacionados à psique. É, antes de
influenciar muito pela realidade existente. Da mesma forma o tudo, instrumento crítico para o pesquisador em psicologia que
pensamento está em oposição ao sentimento. O pensamento nâo precisa de certos pontos de vista e diretrizes para ordenar a profusão
pode ser desviado ou influenciado por valores sentimentais assim quase caótica das experiências individuais. Neste sentido, podería-
como o s~ntimento não pode ser viciado por demasiada r~flexão. mos comparar a tipologia com uma rede trigonométrica ou, melhor
Quando dispostas em diagrama, as quatro funções formam uma cruz ainda, com um sistema cristalográfico de eixos. Em segundo lugar,
com um eixo racional incidindo perpendicularmente sobre o eix~ a tipologia representa uma ajuda para a compreensão das variações
irracional. individuais e uma orientação no que se refere às diferenças funda-
1055 .Evidentem~nte, nem tudo o que a psique consciente pode pro- mentais das teorias psicológicas em voga. E, por último, mas não
duzír está contido nas quatro funções orientadoras. Vontade e me- menos importante, a tipologia significa também meio indispensável
mó~a o~ reminis~ências. não foram levadas em consideração. O para determinar o equacionamento pessoal do psicólogo praticante
monvo e que a diferenciação das quatro funções orientadoras é que, por um exato conhecimento de suas funções diferenciadas e
inferiores, pode evitar sérios erros no julgamento de seus pacientes.
2. cr. § 96s deste volume.

508 509
\.

1058 .~ ~ siste~a p,Sicológicoque apresentei e que se baseia na expe-


n.encI~ prática e uma t~ntativa de.fornecer base e moldura para a
dlvers~dade ~em,f:0nterras que remava até agora na formação de
concel~os?slcol~gt~os. Definições precisas serão, mais cedo ou mais
tarde.' ~dlspenSave!s em nossa ciência ainda bem jovem. Algum dia,
osyslcologos ~evera~ c?~cordar em certos princípios básicos, imunes
a mterpretaçoes arb~trm:as,,se a psicologia não quiser permanecer Bibliografia
um conglomerado não-cíentífíco e fortuito de opiniões individuais.

ADLER,Alfred. Über den nervôsen Charakter. Wiesbaden, 1912.


- Studíe über Minderwertigkeit von Organen. Berlim e Viena, 1907.
AGOSTINHO. Sermones.Tn: MIGNE, Patr. Lat., t. 38, col. 1006.
- Contra Epistolam Manichaei. ln: M1GNE,Patr. lat., t. 42, col. 173-206.
AMBRÓSIO. De Instítutione Virginis. In: M1GNE, Patr. lat., t. 16, col. 315-348. Ver
também Bibliothek der Kirchenvâter, Editado por O. Bardenhewer e outros, vol.
32, Kempten e Munique, 1917.
AMBRÓSIO(Pseudo-). Expositio beati Ambrosii Episeopi super Apocalypsin. Paris,
1554.
ÂNGEW SILÉSIO(SCHEFFLER,Johannes). CherubiniseherWandersmann. In: Sâmt-
liche poetisehe Werke. Editado por Hans Ludwig Held, Munique, 1924.
ANQUETIL DUPERRON, Abr. Hyae. Oupnek'hat (id est, Secretum tegendum) ... in
Latinum conversum. Estrasburgo, 1801-2, 2 vols. Das Oupnek'hat. Die aus den
Veden zusammengefasste Lehre von den Brahmanen. Deutseh von Franz Mischel.
Dresden, 1882.
ANSELMO DE CANTUÁRlA.Proslogion seu Aloquium de Dei Existentia. In: Sancti
Anselmi Cantuariensís Monologium et proslogion nee non Iiber pro insipiente
eum libro apologetico. Tubingae, 1858.
ATANÁSIO,bispo de Alexandria. Life of St. Antony. ln: BUDGE, Sir E. A. Wallis, The
Book of Paradise. By PAUADruS, HIERONYMUS etc, (Lady Meux Ms. na 6)
Londres, 1904,2 vols. (vol. 1, p. 3C76).
Atharvaveda. Ver DEUSSEN, Geheirnlehre des Veda u. Allgemeine Gesehichte der
Philosophie, vol. 1.
AVENARIUS,Richard. Der mensehliehe WeItbegriff. Leipzig, 1905.
AZZAM, C. M. Etienne Eugêne. Hypnotisme, double conscienee et altérarions de Ia
personnalité. Paris, 1887.
BALDWIN,James Mark. Handbook of Psychology: Senses and Intellect. Londres e
Nova lorque, 1890.
BARIACH, Emst. Der tote Tag. Berlim, 1912, z- edição, 1918.
BARTSCH, Karl. Ver Meisterlieder der Kolmarer Handsehrift.
Bhagavadgitâ. ln: Sacred Books of the East, vol. 8.
Bhâgavata-Purâna. Tradução inglesa de S. Subbarau. Vyasa-Press. Tirupati, 1928.
BINSWANGER, Ludwig. Über das Verhaíten des psyehogalvanischen Phânomens ete.
In: Diagnostische Assozíationsstudien. Leipzig, 1910 (vol. 2, p. 113-196).
BJERRE, Paul. Zur Radikalbehandlung der chronisehen Paranoia. In: .Jahrbuch für
psyehoanalytische Forschungen. Leipzig e Viena, 1911 (vol. 3, p. 795-847).

510
511

Você também pode gostar