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MAÍRA TEIXEIRA – R1

PSICOPATOLOGIA E EEM
RESIDENCIA MÉDICA PSIQUAITRIA HCSL

Como conhecimento que visa ser científico, a psicopatologia não inclui critérios de
valor, não aceita dogmas ou verdades a priori. Ao se estudar e praticar a psicopatologia não
se julga moralmente aquilo que se estuda; busca-se apenas observar, identificar e
compreender os diversos elementos do transtorno mental. Conhecendo-se e descrevendo os
fenômenos psicopatológicos para compreensão do psiquismo humano.

Dificilmente se conseguirão dados suficientes apenas com uma entrevista psiquiátrica,


sendo frequentemente necessários vários exames/entrevistas para se chegar a um completo
conhecimento do caso. Além disso é crucial a observação minuciosa, atenta e perspicaz do
comportamento do paciente, do conteúdo do seu discurso, do seu modo de falar, da sua
memória, da postura, da vestimenta, da forma como reage, do seu estilo de relacionamento
com o entrevistador, com seus familiares e eventualmente com outros pacientes.

O exame físico também é de extrema importância visto que paciente com transtornos
mentais graves (TMG) apresentam doenças físicas com maior frequência do que a população
em geral. Isso ocorre em associação ao enfrentamento de múltiplas barreiras para o acesso
ao cuidado apropriado. Essa combinação tem como consequência a mortalidade precoce.
Esses indivíduos têm uma expectativa de vida reduzida em 15 a 20 anos. Sendo as
comorbidades físicas mais frequentes: DM II e resistência a insulina; dislipidemia; DCV;
neoplasias malignas; HIV/AIDS; hepatite C; osteoporose; hiperprolactinemia; obesidade;
tabagismo; uso de álcool e outras substâncias; efeitos colaterais dos psicofármacos.

O exame físico, diferentemente do que alguns supõem, quando realizado de forma


adequada, pode ser um excelente instrumento de aproximação afetiva, principalmente com
aqueles inseguros/psicóticos. Ser examinado respeitosamente pelo médico pode inclusive

POUSO ALEGRE - 2021


transmitir segurança e confiança a muitos pacientes. Deve-se também lançar mão da
propedêutica armada (exames laboratoriais + imagem), quando se julgar necessário.

É de boa prática que entreviste primeiro, e a sós, o paciente. Que evite escrever
durante a entrevista; que ouça mais do que fale; que procure ser ameno e franco com atitude
firme, mas não ameaçador; tranquilo, mas nunca indiferente ao relato. As perguntas devem
evitar sugestões e alternativas, p.ex. “dorme bem, não é? // dorme bem ou mal?” devem
também ser claras e objetivas em linguagem simples.

Seguem alguns conceitos importantes:

Þ Semiologia psicopatológica = estudo dos sinais e sintomas dos transtornos mentais;


Þ Semiotécnica: refere-se a técnica e procedimentos específicos de observação e coleta de
sinais e sintomas, assim como da sua descrição. No caso dos transtornos mentais a
semiotécnica concentra-se na entrevista direta com o paciente, seus familiares e demais
pessoas com os quais convive.

Agora fechando a ótica para a anamnese psiquiátrica em si, afim de conhecer e


estabelecer um vinculo satisfatório com o paciente é de praxe que sejam seguidos os
seguintes tópicos:

Identificação: nome, idade, estado civil, filhos, escolaridade, profissão, naturalidade e


residência (inclusive registrar com quem mora), religião, se tem plano de saúde.

Queixa principal/motivo da consulta: tem importância não só pelo seu conteúdo, mas
também por avaliar a crítica do mesmo quanto ao seu estado. Observar se a consulta é feita
por vontade e iniciativa própria ou se vem trazido por familiares e contra sua vontade. “O
neurótico procura o médico, o psicótico é levado ao médico.”

História da doença atual: sinais, sintomas, quando começou. Fatores desencadeantes.


Fator de melhora ou piora. Sintomas associados. Buscar ativamente pensamentos de morte
e alterações do sono e apetite além de queixas álgicas.

História patológica pregressa: comorbidades, medicações em uso e alergias


medicamentosas.

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História social: etilismo, tabagismo, uso SPA. Atividade física. Hábitos alimentares.

História pessoal: características da sua personalidade, temperamento e caráter pré


mórbidos. Devemos avaliar também os antecedentes pessoais: antecedentes de outro
distúrbio mental com data e sintomatologia, tratamentos, internações e tentativas de suicídio.

História familiar: histórico de doença mental, tentativas de suicídio, doenças genéticas.

Exame estado mental: detalhada avaliação psíquicas + impressões e observações feitas


pelo examinador. Dentro do EEM entra a psicopatologia que descreve as funções psíquicas
e suas alterações.

RELÓGIO DAS FUNÇÕES MENTAIS

APARÊNCIA
INSIGHT
JUÍZO CRÍTICO ATITUDE
PRAGMATISMO COMPORTAMENTO

11 12 1 ORIENTAÇÃO
INTELIGÊNCIA

10 2

ATENÇÃO
MEMÓRIA
9 3 CONSCIÊNCIA

8 4
VOLIÇÃO + IMPULSO FALA
+ INSTINTO 7 5 LINGUAGEM
+ PSICOMOTRICIDADE
6
PSICOSES PENSAMENTO
DELIRIOS + C+F+C
SENSOPERCEPÇÃO +
CONSCIÊNCIA DO EU AFETIVIDADE
H+A

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1. Aparência

Como esta sua aparência, descrevê-la caso algo chame a atenção e se mostre relevante.

Boa apresentação // apresentação prejudicada // regular apresentação // vestes


bizarras // vestes em desacordo com a estação. Auto cuidado preservado // auto cuidado
prejudicado. Emagrecido // mau cheiroso // fáscies típica, atípica, sindrômica.

2. Atitude/ comportamento

Como se mostra a fisionomia e como o paciente reage ao ambiente e ao entrevistador.

Þ Comportamento: hostil // negativista // indiferente // desdenhoso // agressivo // choroso;


Þ Atitude: suspicaz // desinibida // dramático // dissimulador // querelante // sugestionável //
ansiosa // pedante // indiferente // submissa // simulador // passivo-agressivo // pueril.

3. Orientação

É a capacidade de estar orientado quanto a própria pessoa – orientação autopsíquica. E


quanto ao tempo e espaço – orientação alopsíquica ou alocronopsíquica.

*O primeiro sentido perdido é o tempo, depois espaço e por último desorientação do próprio
eu.
4. Atenção e consciência
CONSCIÊNCIA
É a capacidade de dar-se conta de si mesmo e do mundo externo. É a capacidade do
individuo entender o que está acontecendo dentro e fora de si mesmo. É referida como a zona
clara da vida psíquica.
Fazendo uma analogia, podemos comparar a consciência com a luz incidindo sobre um
palco: sua intensidade seria o nível de consciência ou lucidez. A área iluminada o campo
de consciência. Os atores iluminados dentro deste campo, os conteúdos da consciência
(pensamentos, afetos, representações) dos quais se toma conhecimento neste momento (por
isso estão claros e iluminados). A região da penumbra imediatamente próxima ao campo
iluminado, seria o pré consciente ou subconsciente, reunindo atores que poderão entrar
em cena a qualquer momento (são lembranças ou representações não recentes, mas com a

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possibilidade de o ser, convocadas por interesse ou sentimento). A obscuridade área mais
distante da iluminada é o inconsciente (atividade psíquica da qual não nos damos conta, mas
capaz de influenciar na atividade psíquica consciente) – como nos teatros no qual funcionários
invisíveis ao publico influenciam na peça.

A consciência pode se alterar de maneira fisiológica, quantitativa ou qualitativa:

Þ Alterações normais/fisiológicas da consciência:


• Ritmo circadiano: são oscilações endógenas autossustentadas do ritmo biológico no
período de 24 horas (que inclui as oscilações do nível de consciência da vigília e do
sono), as quais nesse intervalo organizam a temporalidade dos sistemas biológicos do
organismo e otimizam a fisiologia, o comportamento e a saúde;
• Sono: é, ao mesmo tempo, um estado comportamental e uma fase fisiologicamente
normal e necessária ao organismo. Reversível e tipicamente expresso pela postura de
repouso, comportamento quieto e redução da responsividade. Tem uma arquitetura
fisiológica complexa com estados cíclicos de sono REM e sono NÃO REM, tendo
substratos neuronais distintos (neurotransmissores, moduladores, circuitos
específicos) e propriedades oscilatórias do EEG. É dividido em duas fases:
- Sono não REM: sono sincronizado e sem movimentos oculares rápidos;
- Sono REM: sono dessincronizado com movimentos oculares rápidos.

Em uma noite normal de sono, as fases não REM e REM se repetem de forma cíclica
a cada 70 a 110 minutos, com 4 a 6 ciclos completos por noite. O sono se inicia com o tipo
não REM, havendo a sucessão dos estágios. O primeiro período REM, que geralmente é bem
curto, ocorre cerca de 70 a 120 minutos após o indivíduo adormecer. Têm a duração e a
intensidade dos períodos afetados por mecanismos de regulação homeostático como por
experiências ocorridas durante a vigília. Seus efeitos restauradores e transformadores
otimizam as funções neurocomportamentais da vigília.

• Sonho: é um fenômeno associado ao sono, pode ser considerado uma alteração


normal da consciência. São vivencias predominantemente visuais, sendo rara a
ocorrência de percepções auditivas, olfativas ou táteis. Isso se relaciona as ondas
pontogenículo-occiptais que ativam as áreas corticais visuais do lobo occiptal durante
sua ocorrência.

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Þ Alterações quantitativa da consciência (rebaixamento do nível de consciência-RNC):
neurofisiologicamente a consciência é diretamente dependente da integridade do SNC e
em especial do funcionamento da formação reticular ascendente, no tronco cerebral que
multiplica, amplia e envia ao córtex cerebral estímulos trazidos pelas vias sensitivas e
sensoriais. Seus distúrbios são:
• 1ª grau - Obnubilação: diminuição branda da consciência neurológica com queda da
atenção e sensopercepção. Pequeno grau de sonolência ou perplexidade além de
certa desorientação. A produtividade psíquica e a capacidade de iniciativa são muito
pobres. No geral, o individuo diminui a atenção para as solicitações externas, dirigindo-
se para a sonolência;
• 2ª grau - Torpor/Estupor: rebaixamento global mais acentuado do nível de consciência
neurológica no qual são necessário estímulos intensos para obter apenas reações
primitivas (gemer ou balbuciar). Incapacidade de ação espontânea com grande inibição
da psicomotricidade e vontade;
• 3º grau - Sopor: é um estado de marcante e profunda turvação da consciência, de
sonolência intensa, no qual o indivíduo pode ser despertado apenas por um tempo
muito curto e por estímulos muito enérgicos do nível de uma dor intensa. O paciente
pode revelar fácies de dor e ter alguma gesticulação de defesa. Retornando
rapidamente à quase ausência de atividade consciente. Ele se apresenta intensamente
sonolento, quase em coma. A psicomotricidade encontra-se mais inibida do que nos
estados de obnubilação e de torpor;
• 4º grau - Coma: abolição total da interação entre individuo e meio, perda completa da
consciência, grau mais profundo de rebaixamento. Incapacidade total da atividade
voluntaria. Alguns sinais neurológicos podem ser verificados: movimentos oculares
errantes com desvios lentos e aleatórios, nistagmo, transtornos do olhar conjugado,
ausência do reflexo de acomodação, etc;
• Perdas abruptas da consciência: podem ser causadas por fatores emocionais,
neurofuncionais ou orgânicos de diversas naturezas. São elas:
- Lipotimia: se caracteriza por perda parcial e rápida da consciência (dura apenas
segundos), geralmente com visão borrada, palidez da face, suor frio, vertigens e perda
parcial e momentânea do tônus muscular dos membros, com ou sem queda do corpo
ao chão;

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- Sincope: designa um colapso súbito, com perda abrupta e completa da consciência,
perda total do tônus muscular, com queda completa ao chão. O mecanismo básico é a
instalação rápida de irrigação cerebral insuficiente por causas diversas.
Existem outras síndromes psicopatológicas associadas ao rebaixamento prolongado do
nível de consciência: o dellirium e o estado onírico. Dellirium: é um quadro que pode ser
descrito como rebaixamento leve a moderado da consciência acompanhado de desorientação
temporo-espacial, dificuldade de concentração, perplexidade, ansiedade em graus variáveis,
agitação ou lentificação psicomotora, discurso ilógico e confuso associado a ilusões e/ou
alucinações, quase sempre, visuais.
É um estado que oscila muito ao longo do dia. Geralmente, o paciente está com o sensório
claro pela manhã, e, no início da tarde, o nível de consciência “afunda”, piorando no fim da
tarde e à noite. Podem surgir, então, ilusões e alucinações visuais, bem como intensificar-se
a desorientação e a confusão do pensamento e do discurso, com a possibilidade de haver
agitação psicomotora e sudorese.
Já o termo estado onírico ou oniroide (dream-like state) é utilizado para designar uma
alteração da consciência na qual, paralelamente à turvação da consciência, o indivíduo entra
em um estado semelhante a um sonho muito vívido. Predomina a atividade alucinatória visual
intensa com caráter cênico e fantástico. A pessoa vê cenas complexas, ricas em detalhes,
com lutas, matanças, fogo, assaltos, sangue, etc. Cuja carga emocional é marcante (angústia,
terror ou pavor). Há geralmente amnésia lacunar do período. Frequentemente associado a
psicoses tóxicas, síndromes de abstinência de substâncias (delirium tremens) e quadros febris
tóxico-infecciosos.

Þ Alterações qualitativas da consciência: uma serie de estados da consciência nos quais


se tem mudança parcial ou focal do campo da consciência. Uma parte esta preservada e
a outra alterada. De modo geral, há quase sempre algum grau de rebaixamento (mesmo
que mínimo) do nível de consciência.
• Estado crepuscular: desestruturação da consciência neurológica, em que subsistem
conexões relativamente coordenadas de curso breve, de início súbito, acompanhada
de amnesia anterógrada. Geralmente estão presentes experiências delirantes e
alucinatórias. O paciente se apresenta um pouco confuso, perplexo, com afetividade
indiferente as circunstâncias atuais. Existe um estreitamento transitório do campo da
consciência, um afunilamento (que se restringe a um círculo de ideias, sentimentos ou

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representações de importância particular para o sujeito acometido), com a conservação
de uma atividade psicomotora global mais ou menos coordenada, permitindo a
ocorrência dos chamados atos automáticos. Caracteriza-se por surgir e desaparecer
de forma abrupta e ter duração variável, de poucos minutos ou horas a algumas
semanas. Durante esse estado, ocorrem, com certa frequência, atos explosivos
violentos e episódios de descontrole emocional (podendo haver implicações legais de
interesse à psicologia e à psiquiatria forense). Os estados crepusculares foram
descritos classicamente como associados à epilepsia, mas também podem ocorrer em
intoxicações por álcool ou outras substâncias, após traumatismo craniano, em quadros
dissociativos histéricos agudos e, eventualmente, após choques emocionais intensos;
• Estado segundo: estado patológico transitório semelhante ao estado crepuscular,
caracterizado por uma atividade psicomotora coordenada porem estranha à
personalidade do sujeito acometido e que não se integra a ela.

Com certa frequência, alguns autores utilizam os termos “estado segundo” e “estado
crepuscular” de forma indistinta ou intercambiável. Em geral, atribui-se, ao estado segundo
uma natureza mais psicogenética, sendo produzido por fatores emocionais (choques
emocionais intensos). Já ao estado crepuscular, são conferidas causas mais frequentemente
orgânicas (confusão pós-ictal, intoxicações, traumatismo craniano, etc.);

• Dissociação da consciência: Designa a fragmentação ou a divisão do campo da


consciência, ocorrendo perda da unidade psíquica comum do ser humano. O termo
“dissociação” pode cobrir não apenas a consciência como também a memória, a
percepção, a identidade e o controle motor. A dissociação da consciência ocorre com
mais frequência nos quadros anteriormente chamados histéricos (crises histéricas de
tipo dissociativo). Nestas situações, observa-se dissociação da consciência, um estado
semelhante ao sonho, em geral desencadeada por acontecimentos psicologicamente
significativos (conscientes ou inconscientes) que produzem grande ansiedade para o
paciente. Essas crises duram de minutos a horas, raramente permanecendo por dias.

Alguns pacientes têm crises ou estados dissociativos agudos que se iniciam com queda
ao chão, abalos musculares e movimentação do corpo semelhante à crise convulsiva (da
epilepsia). Nesses casos, designa-se tal crise como crise pseudoepiléptica (crise conversiva).
A dissociação da consciência pode ocorrer também em quadros de ansiedade intensa,

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independentemente de se tratar de paciente com personalidade histriônica ou traços
histéricos, sendo a dissociação, então, vista como uma estratégia defensiva inconsciente para
lidar com a ansiedade muito intensa, é como se o indivíduo se desligasse da realidade para
parar de sofrer. Podem ocorrer em transtornos da personalidade borderline.

• Transe: semelhante a sonhar acordado, diferindo disso, porém, pela presença em geral
de atividade motora automática e estereotipada acompanhada de suspensão parcial
dos movimentos voluntários. O estado de transe ocorre sobretudo em contextos
religiosos e culturais;
• Estado hipnótico: É um estado de consciência reduzida e estreitada e de atenção
concentrada, que pode ser induzido por outra pessoa (hipnotizador). Trata-se de um
estado de consciência semelhante ao transe, no qual a sugestionabilidade do indivíduo
está aumentada e sua atenção concentrada no hipnotizador. Nesse estado, podem ser
lembradas cenas e fatos esquecidos e podem ser induzidos fenômenos como
anestesia, paralisias, rigidez muscular e alterações vasomotoras. Não há nada de
místico ou paranormal na hipnose. É apenas uma técnica refinada de concentração da
atenção e de alteração induzida do estado da consciência.

Outro tipo de alteração da consciência é a Experiência de quase-morte (near death


experience – NDE): Um estado especial de consciência é verificado em situações críticas de
ameaça grave à vida, como parada cardíaca, hipoxia grave, isquemias, acidente
automobilístico grave, afogamento, TCE, entre outras. São experiências muito rápidas (de
segundos a minutos) em que um estado de consciência particular é vivenciado e registrado
por essas pessoas.

ATENÇÃO
Processo psíquico que concentra a atividade mental sobre determinado objeto traduzindo
um esforço mental e atividade deliberada e consciente do individuo. Desta maneira a atenção
depende diretamente da consciência. Toda alteração da consciência gera alteração da
atenção. Existe a atenção voluntaria e a atenção espontânea.
Þ Atenção espontânea ou vigilância: consiste na capacidade de destacar, por exemplo,
sons, atos, fatos, pensamentos ou sentimentos momentâneos. É a capacidade de parar
de ler o livro para focar em algum barulho que aconteceu no momento. Os distúrbios da
vigilância se caracterizam por aumento ou diminuição, são eles:

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• Hipervigilância: paciente está a cada instante atento a um fato, saltando para outro com
grande rapidez. Pode ser observado em quadros maníacos, excitação psíquica e
intoxicações por euforizantes;
• Hipovigilância: menor capacidade de estar atento ao mundo circundante. Pode ocorrer
na fadiga intensa, quadros melancólicos e obnubilação;
• Normovigil.
Þ Atenção voluntaria ou tenacidade: é aquela que depende da vontade e pode ser dirigida.
É ativa e intencional. Também se caracterizam por aumento ou diminuição:
• Hipotenaz
• Hipertenaz
• Normotenaz

Usamos o sufixo prosexia para caracterizar o estado completo da atenção, ou seja, a soma
da atenção espontânea com a atenção voluntária:

• Normoprosexico = normovigil e normotenaz


• Hipoprosexico = hipovigil e hipotenaz
• Disprosexia: hipertenaz e hipovigil ou hipervigil e hipotenaz
• Aprosexia = falta total de atenção.
**É teoricamente impossível estar hipervigil e hipertenaz, pois uma função acaba anulando a
outra.
Normoprosexia Hipoprosexia Disprosexia Disprosexia
HIPOVIGILANCIA
TENACIDADE

VIGILÂNCIA HIPOVIGILANCIA
HIPOTENACIDADE
HIPERVIGILÂNCIA
HIPERTENACIDADE

HIPOTENACIDADE

5. Fala e linguagem

É a manifestação do pensamento que caracteriza o processo mental do ser humano.


Existem 3 fases da formação da linguagem:

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1ª etapa: conceitualização/ macroplanejamento. É o planejamento do conteúdo, busca de
conceitos;

2ª etapa: formulação/ microplanejamento. Planejamento da forma, busca de fonemas e


palavras. Envolve a área de Broca e a região frontal lateral inferior;

3ª etapa: articulação. Planejamento dos movimentos necessários para emitir a voz


envolvendo o tronco encefálico responsável pela musculatura facial, língua, cordas vocais,
faringe e musculatura respiratórios. Esta etapa envolve as regiões pré-motoras do córtex
frontal esquerdo da face do giro pré-central.
Outras regiões presentes no processo da fala são as áreas auditivas, áreas visuais e áreas
límbicas.

Þ Alterações neurológicas da linguagem:


• Disartria: problemas referentes a articulação das palavras devido aos músculos da
fonação apresentarem paralisia, ataxia ou paresias;
• Dislalia: transtorno da articulação da fala que aparece na pronúncia das palavras. O
individuo troca, distorce, omite ou substitui sons;
• Alexia: incapacidade total para leitura já adquirida, geralmente associada a afasia e
agrafia. Individuo está impossibilitado de ler, mas escreve normalmente;
• Dislexia: alteração neurológica que prejudica a aprendizagem na área da leitura e
escrita;
• Agrafia: falta de capacidade para escrita já adquirida, devido lesão orgânica;
• Afasia: incapacidade do órgão responsável pela fala para produzir a linguagem.
Dificuldade ou incapacidade de compreensão e utilização da linguagem verbal ou
escrita. Perda dos conhecimentos de linguagem já adquiridos acompanhados de algum
prejuízo das funções intelectuais. As afasias se classificam em:
- Afasia sensorial ou de Wernicke: dificuldade em compreender a linguagem verbal e
escrita. Consegue a emissão das palavras, mas é totalmente incompreensível;
- Afasia motora: perda total da capacidade de falar consequente a perda do controle
dos músculos do aparelho fonador. Impossibilitado de pronunciar as palavras,
enquanto sua leitura e escrita ocorrem normalmente;

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- Afasia de Broca: comprometimento da expressão da linguagem oral e escrita. Comum
da sequela do AVC do lado direito;
- Afasia global: perda total da capacidade de articular palavras com impossibilidade de
expressão e compreensão. Ocorrem devido a lesões cerebrais que atingem a zona
motora;
- Afasia nominativa: dificuldade de encontrar o nome correto de um objeto, também
chamada de afasia mnésica;
- Afasia sintática: incapacidade de agrupar as palavras em sequencias apropriadas.

Þ Alterações psiquiátricas da linguagem: na fala devem ser avaliados 3 itens: 1. Prosódia


(afeto na fala) cujas alterações estão relacionadas a sua exuberância e vigor
(hiperprosódia ou hipoprosódia); 2. Intensidade (volume) alterada com elevação ou
redução (hiperfônica ou hipofônica); 3. Velocidade.
• Disfemias: perturbação na emissão dos fonemas e na velocidade da fala, devido
fatores emocionais. à Gagueira: pode ocorrer por fatores emocionais, problemas
referentes a fonação e fatores genéticos;
• Taquilalia: pessoa falando muito;
• Pressão de fala: individuo não para de falar e também não te deixa falar. *este é um
dos critérios diagnósticos da mania no TAB;
• Logorréia/verborreia: comprometimento da fala devido aumento da sua velocidade.
Fala acelerada;
• Bradilalia: diminuição acentuada da velocidade da fala na qual o individuo verbaliza de
forma muito vagarosa e de difícil entendimento;
• Coprolalia: palavrões, palavras de baixo calão;
• Mutismo: fala impossibilitada devido a um estado emocional ou perturbações
psiquiátricas. Esta presente nos quadros de: esquizofrenia catatônica, depressão
grave, quadros psicogênicos (dissociativos e conversivos). Pode ser classificado em
mutismo passivo ou ativo;
• Ecolalia: repetição da fala, mais especificamente das últimas palavras que o individuo
ouviu de maneira involuntária;
• Estereotipia e perseveração verbal: repetição involuntária de palavras ou frases, que
acabam por tornar-se sem sentido. Pois, a partir do que ouviu, faz repetições com
mudança do conteúdo da frase ou palavra;

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• Logoclonia e Palilalia: repetição do próprio discurso. Quando ocorre a repetição da
última silaba denomina-se logoclonia já a repetição da última palavra, palilalia;
• Verbigeração: repetição de palavras ou frases durante um período prolongado (meses,
semanas ou dias) de maneira monótona e sem parar;
• Mussitação: alteração em que predomina o murmúrio somado ao tom baixo da fala, de
maneira repetitiva e com pouco movimento lábia;
• Neologismo: alteração caracterizada pelo uso de palavras novas ou já conhecidas no
qual o sujeito cria seu próprio significado, o que as tornam sem sentido para quem as
ouve;
• Jargonofasia: consiste na incoerência total da fala na qual palavras identificáveis, com
articulação correta, são caoticamente emitidas, geralmente misturadas com
neologismos. “SALADA DE PALAVRAS”;
• Glossolalia: consiste na emissão de sons que nos parece outra língua, no qual os
fonemas são ininteligíveis, porém assemelhando-se a uma fala normal. Individuo
“inventa” uma língua nova com presença de afeto na fala.
• Para-resposta: respostas completamente disparatadas em relação as perguntas.

6. Pensamento
Se estende a toda atividade psíquica desde o ato da percepção ate o da linguagem.
Entende-se pensamento como o trabalho mental que emprega os materiais coletados pela
atenção, percepção, memoria e consciência, organizando-os por meio das associações e da
imaginação, influenciado pela inteligência e pela afetividade, visando ajustar-se a realidade.
Sua constituição é resultado da agregação de: IDEIA/CONCEITO (representação mental
dos caracteres essenciais de um objeto. Por intermédio dos conceitos é que apreendemos o
significado das coisas) + JUÍZO (síntese mental que nos permite chegar à relação dos
diferentes conceitos) + RACIOCÍNIO (relação entre os juízos). Exemplificando: Neve (ideia/
conceito); a neve é fria (juízo); a neve queima a pele, preciso me proteger dela (raciocínio).
A expressão do pensamento é dada pela linguagem então no exercício clínico do dia a dia
avaliamos o pensamento pelo que o paciente fala. E, a partir daí, percebemos os distúrbios
formais quanto ao seu curso, formato e conteúdo.

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NEUROFISIOLOGIA DO PENSAMENTO

Em se tratando de neurofisiologia, temos como principal região envolvida o córtex pré


frontal que realiza o seguinte processo:

1º Córtex pré frontal dorsolateral: recebe as informações pelas vias aferentes que são
captadas pelo sistema sensorial. As informações novas são comparadas com as já existentes
que estão armazenadas (memoria). Esse processo é indispensável ao curso do raciocínio, é
tarefa da memoria operacional;
2º Córtex cingulado anterior: as informações obtidas na etapa anterior são aí processadas,
entretanto entra em cena o raciocínio lógico para resolver problemas e tomar decisões. A
atenção é focalizada para as informações que entram, fixando objetos e planejando ações;
3º Córtex pré frontal ventromedial: nesta localização os comportamentos são planejados
utilizando os ajustes necessários (ordenação temporal, circunstâncias sociais, objetivos) para
concretizá-los.

Þ Alterações do curso: velocidade em que o pensamento é expresso.


• Taquipsiquismo: pensamento acelerado. Verborreia;
• Bradpsiquismo: pensamento lentificado.

Þ Alterações da forma
• Fuga de ideias: a velocidade do curso está tão acelerada que ocorre um
“atropelamento” das ideias sem que qualquer uma seja concluída. Antes de terminar a
exposição de um pensamento já lhe surgiu outro;
• Intercepção ou bloqueio: súbita interrupção das associações e intenções contidas num
determinado pensamento. Paciente cessa o que vinha dizendo no meio da frase;
• Prolixidade: detalhismo, minuciosidade e apego a insignificâncias levando ao
abandono inicial do tema. Distúrbio típico do epilético;
• Perseveração: repetição involuntária, passiva, automática e obstinada de temas, frases
e palavras;
• Arborização: perda da direcionalidade sem conclusão do raciocínio (comum nos
episódios maníacos);
• Circunstancialidade: dá voltas em torno do tema sem atingi-lo;

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• Dissociação: pensamentos com dificuldade na articulação de juízos tornando-se
desorganizado e incoerente com repercussões evidentes na memoria, na consciência
neurológica ou na identidade pessoal;
• Descarrilhamento: desvio súbito ou gradual do curso do pensamento com idas e vindas
para assuntos irrelevantes, sem bloqueio e retornando ao seu curso original. Parece
saltar a cada instante de um trilho para outro tornando ininteligível o que é expressado.
àDistingue-se da fuga de ideias. Pois nesta há logorréia, taquipsiquismo e euforia (quadro
maníaco). Não observados no descarrilhamento que é próprio das esquizofrenias.
• Desagregação: quebra dos laços associativos ou de estranhos desarranjos de relação
entre resíduos de pensamentos, sem laços entre si, que são configurados de momento,
sem estruturação racionalsem logica finalidade.

GRAUS DE DESESTRUTURAÇÃO DO PENSAMENTO:

1º Afrouxamento: afrouxamento dos enlaces associativos;


2º Dissociação: pensamento que não tem sequência logica;
3º Descarrilhamento: extraviamento do curso original, mas que volta em algum ponto;
4º Desagregação (mais grave): profundas e radicais perdas de associação entre as
ideias. Mistura de forma desorganizada e fragmentos de pensamentos heterogêneos.
Está presente também o jargonismo “salada de palavras”.

Þ Alterações do conteúdo: estão associadas a determinadas temas como obsessões,


fobias e especialmente delírios.
• Pensamento imposto: aquilo que se está pensando não é o próprio pensamento, mas
sim o de outra pessoa capaz de impô-lo ao “eu”. Aqui a atividade do “eu” e seus limites
estão alterados, enfraquecidos ou rompidos;
• Pensamento vago: conteúdo ambíguo, impreciso e indefinido dificultando a clareza do
raciocínio;
• Pensamento pobre/concreto: pensamento concreto de estrutura rudimentar, com
conceitos escassos de forma literal e sem abstrações. Apresenta acentuada dificuldade
para utilização de metáforas;
• Pensamento magico: conteúdo fantasioso, supersticioso;

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• Pensamento obsessivo: caracteriza-se por ser repetitivo, inadequado e intrusivo. É
reconhecido pelo paciente como dele próprio, mas ao mesmo tempo considerado como
absurdo e que contra ele luta;
• Pensamento derreísta: conteúdo completamente ligado as necessidades afetivas do
individuo com grande distorção da realidade e a favor unicamente dos propósitos do
mesmo.

7. Afetividade

É o que determina a atitude geral do individuo diante de qualquer experiência vivencial,


promove impulsos motivadores e inibidores, percebe os fatos da memoria agradável ou
sofrível, confere disposição indiferente ou entusiasmada e determina sentimentos que oscilam
entre dois polos a depressão ou a euforia. A afetividade é desmembrada em:

Emoções: estado afetivo intenso, momentâneo, involuntário e de início repentino,


decorrente de uma reação psíquica e somática frente a um estímulo interno ou externo,
necessário para a sobrevivência;

Sentimento: estado afetivo estável, são subjetivos e menos aparentes e, portanto,


vivenciados de forma particular e individual. Provem das emoções mais básicas, mantendo
correlações tonais com as mesmas e podendo se apresentar das formas mais variadas
possíveis;

Paixão: a intensidade do estado afetivo pode ser tal que o afeto domina o psiquismo
do individuo como um todo. Se este estado afetivo estiver direcionado a um único objeto que
detém o foco da atenção, do interesse e do desejo do sujeito chamamos de paixão. Nesse
caso a capacidade de raciocínio logico e de fazer julgamentos pode ser afetada, inclinada em
favor do objeto apaixonante;

Humor: forma de expressar as emoções;

Afeto: como o humor modula/afeta o outro.

*Os mais importante a se avaliar no EEM é o humor e afeto.

HUMOR

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É responsável por fornecer um sentido particular a percepção de mundo da pessoa. É
o estado de animo, disposição afetiva de fundo, que penetra em toda a experiência psíquica
do individuo. É o tônus afetivo, resultado de uma combinação de fatores psíquicos e
somáticos. Pode apresentar modificações diante de circunstâncias internas e/ou externas
(alterações do humor), porem o tônus do humor sempre permanece ou retorna a seu estado
básico.

*Evitar usar a palavra hipotímico pois esse adjetivo não mostra a intensidade.

• Humor rebaixado: predominância de sentimentos desagradáveis;

à Ao exame devemos avaliar também o grau de inibição psíquica (apatia e desinteresse),


grau de estreitamento do campo vivencial (perda do prazer), e grau de sofrimento moral
(autoestima baixa, sentimento de culpa).

• Humor exaltado: aumento do estado de animo do individuo, predominância de sentimentos


agradáveis. Associado a aumento da atividade psíquica e da psicomotricidade. Pode
apresentar fuga de ideias, logorréia e pressão de fala. Apresenta variação entre euforia
(sensação de alegria exagerada e desproporcional) e exaltação patológica (sensação de
autoestima inflada e poder);

à É importante obter informações do paciente que apresenta essa alteração com outras
pessoas, já que este experimenta o estado de maneira agradável, podendo por isso negá-lo.

• Humor disfórico: exacerbação do estado de animo com predominância de sentimentos de


hostilidade, irritação constante e incompatível com as situações vivenciadas. É comum
haver comportamentos agressivos e desproporcionais;
• Irritabilidade patológica: hipersensibilidade a estímulos ambientais com respostas
agressivas e inadequadas. Perturbação fácil e exagerada pelas sensações auditivas e
visuais;
• Outras descrições: Humor inflado // humor colérico // humor bélico // niilismo // taciturno //
humor aflito // humor indiferente.

AFETO

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São elementos vivenciados sob a forma de emoções e sentimentos. É o tônus
emocional que acompanha uma ideia ou representação mental - “é aquilo que te afeta”.

• Hipertimias: aumento em intensidade e duração dos afetos, geralmente associada a


aceleração da atividade psíquica e irritabilidade. É uma excitabilidade afetiva;
• Hipotimias: diminuição da excitabilidade e na intensidade dos afetos, como nos quadros
depressivos e melancólicos, nos quais não é rara a persistência por longo tempo de
sentimentos com tonalidade sombria e desagradável, acompanhados de pensamentos de
culpa, ruína, hipocondria e morte;
• Hipomodulação: incapacidade de modular o afeto ou o modula com baixa intensidade;
• Hipermodulação: modula o afeto com muita intensidade.

à não confundir com apatia (incapacidade total de experimentar sentimentos e emoções)


dificilmente encontrada na clínica.

• Embotamento/apagamento afetivo: desaparecimento significativo de qualquer tipo de


vivência afetiva, com mudanças visíveis na fisionomia e no jeito de agir do paciente;
• Distimias: súbitas rupturas do equilíbrio afetivo que hora se manifestam para o lado da
tristeza e hora para o lado da euforia e da alegria mórbidas e outras vezes para o da cólera.
“É o mau humorado”;
• Labilidade afetiva: instabilidade, oscilação de uma reação emocional para outra.
Mudanças rápidas e repentinas do afeto que ocorre na maioria das vezes diante de
estímulos reais, porém de forma desproporcional e exagerada;
• Incontinência afetiva: incapacidade de conter as emoções. Falha nos mecanismos
frenadores dos afetos;
• Paratimias: sentimentos paradoxais e inadequados. Discordância afetiva (inadequação
entre sentimentos e pensamentos);
• Neotimias: sentimentos novos, inusitados e extravagantes. Sentimentos de estranheza, de
transformação corporal ou transformação cósmica, dentre outros;
• Ambivalência afetiva: presença de sentimentos opostos pelo mesmo objeto, ocorrendo
simultaneamente.

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Sistema Límbico

Circuitos são um conjunto de regiões neurais conectadas de forma circular – córtex cingulado,
hipocampo, hipotálamo e os núcleos anteriores do tálamo - que estão envolvidas com vários
aspectos das emoções (o sentimento, as reações comportamentais e os ajustes fisiológicos).

Þ Córtex cingulado: recebe projeções de diversas outras regiões corticais associativas e com
elas fornece a base para a experiência subjetiva;
Þ Hipocampo: consolida a memória do conteúdo emocional;
Þ Amigdala: recebe as informações sensoriais e interiores provenientes do córtex e do
tálamo, avalia sua natureza emocional e comanda as regiões responsáveis pelos
comportamentos e ajustes fisiológicos adequados (no hipotálamo e no tronco encefálico);
Þ Hipotálamo: controla as manifestações fisiológicas que acompanham as emoções,
realizando essa tarefa através do sistema nervoso autônomo e do sistema endócrino.

8. Psicoses: sensopercepção // delírios // consciência do eu

SENSOPERCEPÇÃO

Todas as informações básicas do ambiente, necessárias a sobrevivência do individuo,


chegam ate o organismo por meio das sensações. Os diferentes estímulos físicos (luz, som,
calor, pressão, etc) ou químicos (substância com sabor ou odor, estímulos sobre as mucosas
e a pele) agem sobre os órgãos dos sentidos, estimulando os diversos receptores e assim
produzindo sensações.

Define-se sensação como o fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos
ou biológicos variados, originados fora ou dentro do organismo, que produzem alterações nos
órgãos receptores, estimulando-os. Os estímulos sensoriais fornecem a alimentação sensorial
aos sistemas de informação do organismo.

Por percepção entende-se a tomada de consciência, pelo individuo, do estímulo sensorial.


Diz respeito á dimensão propriamente neuropsicológica e psicológica do processo, a
transformação de estímulos puramente sensoriais em fenômenos perceptivos conscientes.

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Em outras palavras a sensação seria um fenômeno passivo no qual estímulos físicos ou
químicos atuam sobre sistemas de recepção do organismo. Ao passo que a percepção seria
um fenômeno ativo: o sistema nervoso e a mente do sujeito constroem um percepto por meio
da síntese dos estímulos sensoriais, confrontados com experiências passadas registradas na
memoria e com o contexto sociocultural em que vive o individuo e que atribui significado as
experiências. Suas alterações podem ser quantitativas ou qualitativas:

Þ Alterações quantitativas da sensopercepção


• Hiperestesia: percepções anormalmente aumentadas em sua intensidade ou duração.
Presente nas intoxicações por alucinógenos em algumas formas de epilepsia ou
enxaqueca;
• Hipoestesia: percepções anormalmente diminuídas. Pode estar presente nos quadros de
depressão grave;
• Analgesia: perda de sensações dolorosas;
• Parestesias: são sensações táteis desagradáveis (embora não sentidas propriamente
como dor) em geral espontâneas, descritas como: formigamento, adormecimento,
agulhadas ou queimação;
• Disestesias táteis: sensações anômalas, em geral dolorosas, desencadeadas por
estímulos externos. Ao estimular a pele do paciente com calor ele refere sensação de frio
ou após um leve toque ele refere dor.

*Parestesias e disestesias ocorrem em doenças dos nervos como neuropatia diabética


periférica, mononeurite diabética e neuropatias de natureza alcoólica.

Þ Alterações qualitativas da sensopercepção


• Agnosias: é um transtorno da percepção no qual o paciente apresenta alterações
especificas no reconhecimento de lugares, pessoas e objetos. Geralmente são causadas
por lesão do córtex cerebral associativo e estão relacionadas com a região sensorial
lesada (visual, olfativa, auditiva, tátil, cenestésica, gustativa):
- Prosopagnosia: quando existe dificuldade ou incapacidade de reconhecer faces ou um
elemento dentro de grupos específicos de coisas (por exemplo uma panela dentro dos
equipamentos de cozinha);

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- Cenestésica e proprioceptivas: paciente não identifica partes do seu corpo ou daquilo
que o circunda. Também chamada de assomatognosia ou síndrome da indiferença (lesões
de córtex parietal posterior).
• Ilusão: percepção deformada/alterada de um objeto real e presente. Na ilusão há sempre
um objeto externo real gerador do processo. Podem ocorrer em estados de rebaixamento
do nível de consciência, estados de fadiga grave e em alguns estados afetivos de
acentuada intensidade (ilusões catatímicas):
- Pareidolia: imagem criada a partir de estímulos imprecisos ou de figuras abstratas
(projeções). “Individuo vê animais nas nuvens” // “vê são Jorge na superfície da lua” //
“interpretação de quadros da arte moderna”.
• Alucinações: percepção clara, definida e convicta de um objeto sem a presença do objeto
estimulante real, ou seja, sem o estímulo sensorial respectivo. Estas percepções são
vivenciadas como fenômenos próprios do mundo do sujeito:
- AUDITIVAS: são o tipo mais frequente nos transtornos mentais. Geralmente são
imperativas (comandam) ou de conteúdo depreciativo e de perseguição, são vozes que
ameaçam ou insultam. Podem ser:
a. Alucinação auditiva simples: audição de ruídos primários, sensação subjetiva de
ouvir ruídos – tinnitus;
b. Alucinações auditivas complexas: alucinação audioverbal na qual o paciente escuta
vozes sem qualquer estímulo real.

Cabe mencionar um fenômeno próximo das alucinações auditivas, característicos da


esquizofrenia. São aqueles referidos como a sonorização do pensamento/ eco do pensamento
(vivência sensorial de ouvir o pensamento no mesmo momento em que se está sendo
pensado ou de forma repetida logo após ter sido pensado) e publicação do pensamento
(paciente tem a nítida sensação de que as pessoas ouvem o que ele pensa no exato momento
em que está pensando).

- VISUAIS: geralmente de etiologia orgânica ou exógena. Podem ser do tipo:

a. Fotopsia: são simples como pontos, cores e brilhos;


b. Cenográficas: complexas, movimentadas e assustadoras;
c. Micropsia (Liliputianas): percebe objetos menores do que realmente são;
d. Macropsia (Guliveriana): percebe objetos maiores do que realmente são;

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e. Zoopsias: visões de bichos assustadores no delirium tremens, atenuam-se com o
aumento de outros estímulos como luz e som;
f. Ictais: alucinações simples e repetitivas estão presentes na epilepsia cercando as
crises convulsivas, tem duração breve e conteúdo formado pelo material da
memoria;
g. Extracampinas: ocorrem fora do campo sensorial, presentes na esquizofrenia.

- OLFATIVAS E GUSTATIVAS: As alucinações olfativas ocorrem principalmente nas


esquizofrenias e em epilepsia de lobo temporal, geralmente precedendo as crises
epiléticas generalizadas (auras com alucinações olfativas), em crises parciais complexas
(crises uncinadas) ou precedendo crises de enxaqueca (auras de enxaqueca com cheiro
de carne podre, cigarro, gás). Elas costumam ter impacto pessoal especial, podendo estar
relacionada a interpretações delirantes “sinto cheiro de veneno de rato na comida pois
estão querendo me envenenar”.

- TÁTEIS E HÁPTICAS (sensibilidade cutânea): geralmente individuo sente a presença de


insetos e outros pequenos animais andando pela pele. Podem também sentir novelos de
fios enroscados no corpo os quais ficam tentando retirar. É encontrado no delirium
tremens e alcoólatras de longa data.

- CORPORAIS: distúrbio sensoperceptivo em relação ao corpo. Podem ser:

a. Cenestésicas: sensações deformadas em relação ao corpo e seus órgãos


(desmanchando, inchando, encolhendo) que podem caminhar para quadros mais
complexos como transformações, possessões demoníacas;
b. Cinestésicas (motoras ou musculares): percepção alterada em relação aos
movimentos musculares do próprio corpo (caindo, subindo, balançando).

à Sd. de Cottard: sente que seu corpo esta sem vida, suas vísceras não mais funcionam e o
seu corpo está desaparecendo. A interpretação que acompanha este fenômeno
sensoperceptivo denomina-se delírio de negação de órgãos ou niilista.

à Sd. do membro fantasma: ocorre em indivíduos que sofreram amputação de algum membro
e continuaram suas percepções e ações dentro do esquema corporal anterior a perda sofrida,
sentem o membro e lhes dão realidade espacial ao se movimentar.

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- HIPNAGÓGICAS: alucinações ao adormecer.

- HIPNOPÔMPICAS: alucinações ao despertar.

São percepções alteradas durante a passagem do ciclo sono – vigília. Por exemplo
sensação de estar despencando de um precipício, além de algumas visões.

CARACTERÍSTICAS DAS ALUCINAÇÕES EM CARACTERÍSTICAS DAS ALUCINAÇÕES EM


TRANSTORNOS DE ETIOLOGIA ORGÂNICA TRANSTORNOS ESQUIZOFRÊNICOS E AFINS

• Longas e complexas, porem de intensidade • Longas, globais, complexas e estáveis;


variável, sendo mudadas através de outros • Conteúdo imperativo, paranoide e
estímulos; ameaçador;
• Lateralizado no campo sensorial deficitário; • Predominantemente auditivas, com
• Conteúdo intenso e cenográfico; grande tipicidade;
• Critica preservada, sem alterações da • Lucidez do ponto de vista da consciência
consciência neurológica. neurológica
• Ausência de crítica em relação a
alucinação.

Þ Falsos reconhecimentos: alteração complexa da percepção e do reconhecimento


(agnosias de identificação) no qual existem para o paciente vários tipos de sósias. Este
fenômeno está presente em algumas síndromes delirantes crônicas e em virtude disso é
acompanhado de alterações da consciência reflexiva e do conteúdo do pensamento
(delírios). São elas:
- SD. DE CAPGRAS: o individuo está convencido de que uma pessoa da família é sósia
de alguém desconhecido;
- SD. DE FRÉGOLI: ocorre a falsa identificação de pessoas ou familiares em estranhos
que, embora fisicamente diferentes, são psicologicamente iguais.
Pode ser também um fenômeno menos complexo, encontrado em alguns quadros
orgânicos cerebrais, no qual o paciente não identifica pessoas do seu círculo familiar ou
reconhece pessoas estranhas como velhas conhecidas.
• Alucinose: é o fenômeno pelo qual o paciente percebe a experiência alucinatória como
estranha a sua pessoa, ou seja, reconhece seu caráter patológico, tem crítica da

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estranheza do fenômeno. É frequente em quadros psicoorgânicos, intoxicação por
substâncias alucinógenas. Pode ser do tipo:
- ALUCINOSE ALCOÓLICA: vozes que tratam o paciente na 3ª pessoa, existe
preservação da critica e nível normal de consciência;
- ALUCINOSE VISUAL: encontrada em patologias e tumores neurológicos (pedúnculo
e tronco cerebral), abuso de drogas alucinógenas e sd. Charles Bonnet.

Sd. de Charles Bonnet: ocorre com mais frequência em pessoas com graus variáveis de
déficits visuais (catarata, lesões de córnea ou retina ou das vias neurais visuais, degeneração
macular). Nessa síndrome as alucinações visuais complexas chamam a atenção pois podem
apresentar cenas vívidas envolvendo imagens de animais, flores, pessoas, faces, arvores,
imagens em miniaturas, etc. Os pacientes geralmente (em mais de 90% dos casos) têm
insight sobre o caráter anormal da experiência alucinatória, tem a inteligência e as funções
cognitivas mantidas e não apresentam alucinações de outros tipos. A síndrome ocorre mais
em pessoas idosas, que são as que mais tem problemas visuais, mas pode ocorrer em
qualquer idade.

• Pseudoalucinação: são imagens representativas involuntárias e impostas ao mundo


interior, não possuindo projeções. Estas imagens são voláteis, sem intensidade e pouco
nítidas. São fenômenos que estão entre as alucinações e as representações. É como se
fosse a expressão sensorial de um pensamento muito predominante. Geralmente são
visuais e menos frequentemente auditivas.

A alteração da sensopercepção é algo complexo que deve ser minuciosamente


investigado. Portanto, ao exame, devemos buscar o padrão comportamental frente aos
estímulos ambientais e corporais e a intensidade de suas sensações e percepções.
Considerando deficiências físicas, alterações neurológicas e os aspectos culturais do paciente
como crenças religiosas, profissão e naturalidade.

Comparar eventos atuais sensoperceptivos com outros semelhantes na história pregressa


do paciente. Pesquisar o tipo, a complexidade e a intensidade da alucinação além da sua
estabilidade e duração. Ficar atento ao fáscies e olhar do paciente pois ele poderá estabelecer
“contato” com as alucinações durante a entrevista. Muito importante também é perceber sobre

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o grau de realismo e convicção da alucinação verificando se ele consegue distingui-las das
percepções normais.

DELÍRIO

A palavra delírio tem sua origem semântica na junção entre os termos desvios +
trilhas/caminhos. Corresponde a uma alteração do conteúdo do pensamento. É um juízo
patologicamente falso da realidade. Com convicção intima e irremovível, contra a qual não há
argumento. Existe um tripé que o caracteriza:

a. Impossibilidade do conteúdo/incompreensibilidade: não pode ser explicado


logicamente;
b. Ininfluenciabilidade: não há como modificar a ideia por meio de correções;
c. Convicção extraordinária: vivencia muito intensa.

A classificação vai depender do conteúdo do pensamento. Podendo ser do tipo:

• Ideia delirante: delírio verdadeiro, é primario e ocorre com lucidez de consciência. Não é
consequência de qualquer outro fenômeno. São agrupadas em temas típicos:

- Expansão do eu: grandeza, ciúmes, reinvindicação, genealógico, místico, de missão


salvadora, erótico, invenção ou reforma, ideias fantásticas, excessiva saúde ou
capacidade física ou beleza;

- Retração do eu: prejuízo, auto referência, perseguição, influência, possessão, humildade,


experiência apocalíptica;

- Negação do eu: hipocondríaco, negação e transformação corpórea, auto acusação,


culpa, ruína, niilismo, tendência de suicídio.

• Ideia deliróide: secundaria a perturbação do humor, situação afetiva traumática existencial


grave ou uso de drogas. Há compreensão dos mecanismos que a originam.

CONSCIÊNCIA DO EU

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Se refere a consciência dos seus próprios atos psíquicos. É a percepção do seu eu. Como
o sujeito aprende sua personalidade. É uma atividade de grande complexidade que envolve
todas as funções mentais e é completamente enraizada na consciência neurológica.

É subjetiva quando os fenômenos são conhecidos pela interioridade de uma vivência. É


objetiva quando existe um saber (processo racional) de algo – o sujeito realiza um
conhecimento racional e intencional dos objetos que percebe, imagina e pensa. É auto
reflexiva pois se trata do conhecimento da própria identidade (consciência de si mesmo) e
também como consciência ética que é a definição do nosso dever moral (ações em
conformidade com os juízos de valor).

Os conteúdos não acessíveis a consciência formam o inconsciente, criado por Freud e


estudado por vários autores. Para Freud entende-se por inconsciência os processos mentais
dinâmicos ideativos e afetivos que foram colocados fora da consciência pela repressão, mas
que são poderosos e influenciam na vida psíquica e no comportamento da própria pessoa.

Freud chegou à conclusão, ao longo de suas investigações, de que existem duas classes
de inconsciente: o verdadeiro e o inconsciente pré-consciente. O primeiro é
fundamentalmente incapaz de consciência. Já o pré-consciente é composto por
representações, ideias e sentimentos suscetíveis de recuperação por meio de esforço
voluntario. São os fatos, lembranças e ideias que esquecemos ou deixamos de lado, mas que
podemos, qualquer hora, evocar voluntariamente.

Por sua vez, o inconsciente verdadeiro é muito diferente. Inacessível a evocação


voluntária. Só é possível o acesso a via inconsciente por meio de técnicas especiais como a
hipnose ou psicanálise. A rigor, para Freud, o inconsciente verdadeiro só se revela por meio
de subprodutos que surgem na consciência, as chamadas formações do inconsciente:
sonhos, atos falhos, chistes (riso constituído de elementos entrelaçados, entrecruzados a
ponto de não se poder reconhecê-los ou dissociá-los) e sintomas neuróticos.

Freud vai além, para ele o inconsciente é bem mais do que um simples estado mental fora
da consciência. É, embora obscuro, a estrutura mental mais importante para o psiquismo
humano. Sendo que este sistema funciona regido pelo princípio do prazer por meio do
processo primário em forma de condensação e deslocamento. É também isento de

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contradições mútuas e não apresenta referência ao tempo. É dinâmico na medida em que
exerce uma ação permanente sobre a vida psíquica.

Para Jaspers o inconsciente é “aquilo como de modo algum se sente como existindo
interiormente, que não se vivencia em absoluto; aquilo que não se conhece como objeto, que
não se nota (que por isso, no entanto, vem a ser mais tarde, percebido ou recordado);
finalmente, é aquilo de que não se veio a saber”.

As características formais da consciência do eu são:

Þ Consciência de atividade do eu: esta presente em todos os processos psíquicos. O “eu


penso” acompanha todas as percepções (sensações do corpo) ideias, recordação,
pensamento ou sentimento em que há esse aspecto especial de ação “minha”, “do eu”
ocorre o que se chama de personalização. Se, ao contrário, estes elementos psíquicos
aparecem com a consciência de não me pertencerem, de serem estranhos a mim, de
serem automáticos ou de surgirem de outra parte, chamam-se esses fenômenos de
despersonalização. Suas perturbações são descritas como:
• Alteração da consciência do existir: trata-se da falta de dar-se conta da própria ação,
ausência de sensação normal do próprio corpo. É um fenômeno singular em que o
“existente” não pode mais sentir o “seu existir”. Pacientes verbalizam: “não sou eu
quem dorme, não sou eu quem sofre” // “já não existo” // “estou morto”;
• Alteração da consciência de execução: nos pacientes com essa alteração ocorrem
fenômenos por eles relatados como pensamentos a eles impostos por outra pessoa, é
um poder estranho atuando sobre ele. Há convicção de que algo alheio ao “eu” está
acontecendo e atinge todo o tipo de ação, não só os pensamentos, mas também o
andar e fazer outras atividades. É como se o individuo não atuasse de modo próprio
sentindo-se inibido ou impelido por influências externas.
Þ Consciência da Unidade do eu: “dar-se conta da unidade do eu” implica saber que “eu
sou um” em um mesmo momento. A alteração da consciência da unidade do eu leva a
vivência do seu desdobramento de “ser dois a um só tempo” – ser homem e ser mulher,
ser João e ser José ao mesmo tempo.
Þ Consciência da Identidade do eu: consciência de ser “si mesmo” todo o tempo, de ser
sempre “si mesmo” em qualquer lugar e em qualquer momento. Esta alteração geralmente

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esta presente nos quadros esquizofrênicos. Paciente vivencia “ser um” e continuar “sendo
um”, mas não o “mesmo um” de antes: agora é outro.
Þ Consciência do eu em oposição ao mundo externo: é a clara noção de oposição do
mundo exterior. A noção de limites entre o mundo exterior passando a fazer parte do “eu”.
Por exemplo: “senti o latido do cão como um contato doloroso no meu corpo”. Também se
enquadram as vivencias de supressão dos limites entre “eu” e o ambiente, algo que ate
então era somente do “eu” passa a ser do mundo dos outros – “o mundo inteiro sabe os
meus pensamentos”.
O fato da consciência do eu apresentar quatro características não significa que suas
alterações sejam únicas, pelo contrário, o mais comum é que se associem dois ou mais
distúrbios, somando-se ou gerando outros. Na maioria das vezes indicam psicoses do grupo
das esquizofrenias. Mas podem fazer parte também dos quadros de intoxicações e psicoses
orgânicas.

9. Conação/vontade, instinto, impulso, psicomotricidade

INSTINTO

Também podem ser chamados de tendências vitais que respondem aos reflexos
incondicionados e condicionados. São de organização genética e constitucional, é inato ao
individuo e referente a cada espécie, visando a sua sobrevivência. Sua manifestação é no
sentido de descarga de tensões para o restabelecimento do estado neurofisiológico não
tensional (homeostasia). Por exemplo: fome, sede, termorregulação, sono e sexo. A
psicanálise os denomina como pulsões. São:

I. Reflexos incondicionados: fenômenos neurofisiológicos com atividade no SNC,


inalteráveis e limitados, que nascem com a pessoa e permitem sua adaptação ao meio
ambiente em reposta a estímulos. Tem como objetivo a sobrevivência do individuo e
da espécie. São: deglutição, sucção, contração de membros, movimentos de agarrar,
movimento natatório, respiração, circulação, excreção, resposta a luz e sons, etc;
II. Reflexos condicionados: são respostas do córtex cerebral mediante conexões
nervosas que não existiam previamente, mas que foram aprendidas e desenvolvidas
por meio de estímulos chamados sinais. Esses sinais levam o cérebro a uma atividade
analítico – sintética, com resposta excitatória ou inibitória.

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As perturbações dos instintos são mais encontradas nos casos de lesão cerebral e
consequente deterioração mental. O instinto de auto conservação poderá alterar-se nas
depressões e psicoses de toda ordem, originando tendência ao suicídio ou a automutilação.
Englobam:
Þ Alterações dos instintos alimentares: falta, perda, aversão, exagero ou perversão da
ingesta de alimentos. Presente na anorexia nervosa, bulimia, hiperfagia, coprofagia
(ingesta de excrementos) e personalidade borderline.
Þ Alteração do sono
• Dissonias: perturbação predominante na quantidade, qualidade ou regulação do sono.
Presente nos quadros de insônia, hipersonia ou transtorno do ciclo sono-vigília;
• Parassonias: eventos episódicos que ocorrem durante o sono como: sonambulismo,
terror noturno, pesadelo e narcolepsia (ataque irresistível de sono com a presença de
alucinações hipnagógicas, hipnopômpicas ou paralisia).
Þ Alterações da resposta sexual: incapacidade do individuo participar de um
relacionamento sexual da forma que gostaria devido a alteração do desejo ou da resposta
genital e ejaculatória durante o ato sexual. Pode ser observado nas aversões sexuais,
ejaculação precoce, vaginismo, disfunção orgásmica, dispareunia, falta ou perda do
desejo, dentre outros.
• Identidade sexual

Na maioria dos casos a etiologia dos transtornos da resposta sexual são decorrentes de
conflitos psíquicos como ansiedade excessiva, exigência elevada, baixa auto estima,
preocupação excessiva com o desempenho sexual, desconhecimento do próprio corpo,
dificuldade de comunicação sexual e/ou falta de intimidade sexual.

IMPULSO

É uma resposta involuntária, momentânea e incontrolável que ocorre em sintonia com os


valores e necessidades do individuo (sendo inadequada para outras pessoas) e desprovida
de finalidade de sobrevivência. Surgem sem escolha e decisão, são descargas motoras sem
direção, sem conteúdo e sem censura. Diferente dos instintos que tem origem inconsciente,
não sofrem controles conscientes (ou censura) e tem sempre uma finalidade.

Dentre as manifestações impulsivas podemos encontrar:

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• Piromania: impulso a atear fogo (epiléticos, psicopatas e oligofrênicos);
• Frangofilia: rasgar as vestes ou quebrar objetos. Deixar em frangalhos;
• Impulso hetero ou autoagressivo;
• Dromamania: tendência a fugas e andar sem destino a ermo;
• Dipsomania: individuo ingere grandes quantidades de líquidos, inclusive álcool (lesão
hipofisária, melancólicos e esquizofrênicos);
• Cleptomania: impulso em se apropriar de objetos alheios. É mais frequente no sexo
feminino e em personalidades imaturas;
• Toxicomanias: tendência ao uso de substâncias que alterem o funcionamento do SNC.
Mais prevalente naqueles com personalidade imatura e instáveis, manifestações
neuróticas e alterações patológicas do humor.
Þ Ato impulsivo: algo súbito, incoercível e incontrolável, desprovido de finalidade
consciente. As etapas de deliberação e decisão são ignoradas.
Þ Ato compulsivo: individuo se sente compelido/obrigado a realizar aquela ação. Ao
contrário do ato impulsivo, nesta situação a execução não se da de imediato, ela acontece
somente após deliberação do consciente. Existindo, como consequência, luta e resistência
contra sua execução. Nem sempre levam a uma sensação de prazer, por vezes produz
alívio temporário para vivência disfórica. É comum em quadros de TOC, toxicofilia,
sibomania (jogo patológico) e aniomania (compulsão por compras).

VONTADE//VOLIÇÃO

É a capacidade de agir racionalmente. É uma função mental complexa, integrada e


ligada aos instintos, consciência, sensopercepção, emoções, sentimentos e razão. Dotada de
finalidade.

Þ Alterações da vontade/conação
• Abulia: ausência de vontade seja quanto a decisão, seja quanto a execução;
• Hipobulia: diminuição e/ou incapacidade do potencial volitivo, especialmente na
passagem do pensamento para a ação, geralmente consequente ao automatismo das
ações. Presente nas depressões graves, epilepsia, psicoses orgânicas, lesões
cerebrais e abuso de drogas;
• Estupor: imobilização da vontade acompanhada de acinesia, pode ocorrer nos
histéricos e melancólicos, letárgicos e catatônicos;

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• Hiperbulia: exacerbação do impulso volitivo. Utilização de um esforço voluntario
desmedido, exagerado ou socialmente inadequado para realizar uma atividade
qualquer. Comum nos quadros maníacos, intoxicação aguda ou crônica por
anfetaminas ou outros psicoestimulantes, formas expansivas da demência senil e
estados de agitação geral;
• Negativismo: forma anormal de comportamento na qual o paciente tende a fazer
oposição aquilo que lhe é pedido. Pode estar presente nas esquizofrenias
(principalmente a catatônica), depressão grave, quadros dissociativos e transtornos de
personalidade. É dividido em:
- Negativismo Passivo: sujeito simplesmente se abstém de colaborar;
- Negativismo Ativo: tende a fazer o contrário do que se espera ou se deseja dele.
à Entre as manifestações do negativismo encontra-se o mutismo e a sitiofobia (recusa
sistemática de alimentos).
• Apragmatismo: capacidade prejudicada de realizar atividades volitivas e psicomotoras
simples como higiene pessoal e cuidados de limpeza; apesar da função neurológica
estar intacta. Esta alteração pode ser encontrada nas psicoses crônicas, estados
depressivos, quadros catatônicos e estados de esgotamento.

OS ATOS VOLUNTÁRIOS COMPREENDEM:

I. Intensão (proposito)//discussão: ato preparatório, a intenção, o esboço do ato. Está


ligado a razão integrada aos instintos, impulsos, emoções e sentimentos. Aqui se
concebem soluções e são comparados e avaliados motivos;
II. Deliberação/análise: Escolha racional e analítico sintética das alternativas, ponderação
consciente (faço ou não faço?);
III. Decisão (escolha): ato formal da vontade, é a fase principal que marca o início da ação
da vontade (execução ou inibição);
IV. Execução/ação: realização, ou não, da decisão externamente. É a finalização da
vontade, através da motricidade à ato voluntario.

PSICOMOTRICIDADE

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É a execução de movimentos (voluntários e involuntários) organizados e integrados.
Constituem uma síntese psíquica e motora, que permite a adaptação do individuo ao meio.
Para as teorias psicanalíticas o corpo não é apenas o organismo é também linguagem. Visto
isso, por meio da motricidade e dos gestos é possível realizar uma leitura simbólica do dizer
corporal do individuo. Suas alterações são:

Þ Agitação psicomotora: elevada excitação e multiplicidade de movimentos corporais, no


qual os movimentos expressam uma tensão interna e grande inquietação emocional.
Percebido em quadros maníacos, tóxicos, paranoides agudos, conversivos, ansiosos,
retardo mental e distúrbios de hiperatividade, grande estresse ou tensão emocional,
demências, transtorno de personalidade de conduta, hipertireoidismo, etc.
Þ Inibição motora: diminuição e/ou lentificação acentuada do número, amplitude e energia
dos movimentos voluntários. Pode estar presente nas depressões graves, esquizofrenia
catatônica, demências, transtornos orgânicos, alterações da personalidade ou de conduta,
hipotireoidismo, etc.
Þ Acinesia: desaparecimento dos movimentos corporais involuntários e voluntários. Entre
eles a fala (mutismo), a mímica, os gestos e a marcha. Comum nos transtornos neuróticos
(dissociativos e conversivos), estados avançados de vários tipos de demência e sd de
Cotard.
Þ Apraxia: capacidade prejudicada de realizar atividades motoras como utilizar objetos de
forma adequada, montar quebra cabeça, vestir-se ou iniciar o movimento de marcha
espontânea, apesar da função motora estar intacta.
Þ Psicomotricidade predominantemente esquizofrênica: acentuada perturbação
psicomotora particularmente presentes nos quadros de esquizofrenia catatônica. São:
• Flexibilidade cérea: conservação de uma mesma posição (inclusive posições
desconfortáveis), revelando uma extrema flexibilidade e plasticidade da musculatura;
• Catalepsia: manutenção prolongada da atitude motora, ocorre devido a hipertonia do
tônus postural;
• Cataplexia: perda súbita do controle motor;
• Maneirismo: são gestos artificiais, afetados e repetitivos. É uma alteração do
comportamento expressivo: mímica, gestos, linguagem, com o uso de preciosismo
verbal, floreados e estilísticos. Pode também ser encontrado nas formas graves de
conversão e retardo mental;

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• Estereotipia motora: são movimentos voluntários, repetitivos, estereotipados, não
funcionais com frequência rítmica. Ex: balançar o corpo ou a cabeça, alisar cabelo ou
fazer sinal da cruz;
• Ecopraxia: imitação de um comportamento sem proposito, gestos, atitudes;
• Discinesia: movimentos musculares involuntários e repetitivos anormais, tais como:
torcer os dedos, torcer o tronco ou respirar emitindo grunhidos;
• Marcha bizarra: marcha com maneirismo e estereotipias motoras variadas.
Þ Psicomotricidade conversiva: Entende-se por psicomotricidade conversiva aquelas
manifestações motoras que sugerem um transtorno físico, mas que são resultantes de um
conflito psíquico e fatores estressores, de natureza emocional inconsciente e transitória.
• Convulsão de conversão: são manifestações motoras com estreitamento da
consciência cuja natureza é emocional e transitória.
Þ Psicomotricidade neurológica: são aquelas decorrentes de lesões cerebrais especificas
ou do uso de medicações antipsicóticas ou doenças neurológicas.
• Decorrente do uso de medicações antipsicóticas (neurolépticos):
- Parkinsonismo: diminuição dos impulsos, lentidão da marcha, rigidez corporal, tremor,
sialorréia, faces inexpressivas e sinal de roda denteada;
- Discinesia tardia: composta por espasmos peribucais dolorosos e protrusão
involuntária da língua. É de difícil reversibilidade. Ocorre com o uso de neurolepticos
por pelo menos 3 meses;
- Acatisia: inquietação muscular com incapacidade para sentar-se, ou balanço com
apoio alternado nos pés enquanto está de pé. *metoclopramida – plasil;
- Síndrome do coelho: movimentos rápidos de mascar;
- Síndrome neuroléptica maligna: complicação geralmente fatal causada pelo uso de
neurolépticos. Caracteriza-se por rigidez muscular + febre + diaforese + delirium +
alterações da PA.
Þ Tiques: são vocalizações ou movimentos involuntários, súbitos, rápidos, recorrentes,
rítmicos e estereotipados, que variam quanto a localização, frequência e vigor. Tendem a
surgir paroxismos. Suas características principais são a inoportunidade e a manifestação
intempestiva. É considerada por alguns autores como a expressão motora de conflitos
psíquicos.

10. MEMÓRIA

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Memória é a função psíquica que permite conservar os dados vividos e os aprendidos. É
a capacidade de fixar, armazenar (ou conservar), recordar (ou evocar), reconhecer e localizar
no tempo e no espaço vivencias e conhecimentos. A memória de fixação ocorre em duas
etapas: 1. Fixação imediata ou de curto prazo (memoria recente) – acontecimentos dos
últimos dois ou três dias. Tem relativa precisão, pois ainda não se ligaram as vivencias do
individuo. 2. Fixação definitiva ou de longo prazo (memoria remota) – quando o registro dos
dados se integra a vivência do individuo, fazendo parte do passado.

A memória está em constante funcionamento, mas normalmente não faz registros


definitivos de tudo o que ocorre com o individuo. O tempo de fixação é limitado pelo grau de
importância e pelo tipo de utilização que faremos de cada evento registrado. Sendo que o
material evocado jamais é o mesmo do material fixado. Ocorre “contaminações” pela história
atual, mostrando que na memória as significâncias se integram as experiências que por sua
vez se transformam.

As capacidades de fixação e evocação podem variar de individuo para individuo, bem


como em diferentes situações e momentos de cada um, pois nem sempre o cérebro funciona
com toda a sua potencialidade. Portanto, elas podem ser treinadas e consequentemente
melhoradas. A capacidade evocativa exige menor treinamento do que a de fixação. Quanto
maior a significância mais fácil será sua evocação, registro e acesso ao seu detalhamento.

àLembrança: atividade evocativa voluntaria da experiência vital pessoal é também chamada


recordação.

Þ Alterações quantitativas da memoria


• Hiperminesia: exaltação na evocação das lembranças. A recordação dos fatos ocorre
com detalhes e minucias que escapam as pessoas em estados normais. Esta
relacionada mais a uma aceleração do psíquico geral do que uma alteração isolada da
memoria;
• Amnésia: incapacidade total ou parcial para lembrar experiências passadas.
- Amnesia anterógrada: refere-se aos fatos ocorridos depois da causa determinante do
distúrbio. A memória remota fica conservada;
- Amnésia retrógrada: perda da memoria para fatos ocorridos antes da causa
determinante do distúrbio. Pode ser reversível ou irreversível;

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- Amnésia retro-anterograda: refere-se aos fatos ocorridos antes e depois da causa
determinante do distúrbio. Comum em TCE;
- Dismnésia: termo utilizado para referir-se a um grau menor de distúrbios amnésicos
(esquecimento de nomes, números, fatos isolados). Observado com frequência em
indivíduos saudáveis.
Þ Alterações qualitativas da memoria
• Paramnésia: deformação do processo de evocação de conteúdos mnêmicos
previamente fixados. A lembrança não corresponde a sensopercepçao original. As
distorções evolvem a inclusão de detalhes, significados ou emoções falsas aos fatos.
Além das relações entre o real e o imaginário, as distorções da memoria englobam
também a misturando do presente com o passado.
- Ilusões mnêmicas: lembranças verdadeiras ou reais com acréscimo de elementos
falsos ao núcleo da imagem mnêmica. É a forma mais frequente;
- Alucinações mnêmicas: criações imaginativas com aparência de reminiscências que
não correspondem a nenhuma lembrança verdadeira;

à Tanto as ilusões quanto as alucinações mnêmicas são os principais materiais para a


construção dos delírios e alucinações nos psicóticos.

- Fabulações: preenchimento das lacunas de memória através de experiências


imaginarias, imagens oníricas ou lembranças autenticas isoladas. Não há intenção de
mentir ou enganar por parte do paciente dada incapacidade de reconhecer as imagens
como falsas ou deslocadas;
- Fenômeno do “já visto” e “jamais visto”: ocorre quando uma situação nova é
incorretamente considerada como repetição de memoria e experiências anteriores
(déjá-vu) ou quando uma situação antiga é vivida como se fosse a primeira vez (jamais
vu);
- Criptomnésia: irrupção do material mnêmico de forma repetitiva, podendo ocorrer num
curto espaço de tempo. O individuo não reconhece como lembrança e sim como um
fato novo;
- Ecmnésia: afloramento com revivescência muito intensa de lembranças anteriores
que pareciam esquecidas. Só é considerada ecmnésia quando as cenas evocadas vêm
acompanhadas pela experiência (como se estivessem acontecendo agora), e não
como uma lembrança isolada.

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11. INTELIGÊNCIA

Pode ser definida como a aptidão geral da pessoa para colocar, conscientemente, seu
pensamento de acordo com as novas necessidades. Ou seja, a capacidade geral de adaptar-
se a novas situações mediante emprego adequado de meios ideativos. É o conjunto de todas
as capacidades mentais que são utilizadas para adaptação as tarefas vitais. Funciona através
de esquemas complexos e moveis, em conformidade com um plano logico, para solução de
problemas.

Os vários aspectos de funcionamento da inteligência são construídos em épocas


diferentes do desenvolvimento e podem variar muito para cada individuo. As variações no
funcionamento da inteligência dependem da capacidade de manipular as informações e
identificar relações entra dados de qualquer natureza sejam eles relativos ao mundo externo
ou conteúdos abstratos restritos ao mundo subjetivo.

Além da capacidade de reprodução de dados, o que mais caracteriza a inteligência é


sua capacidade de permitir que novos conteúdos sejam construídos a partir de duas
atividades:

I. Criatividade: processo do psiquismo que possibilita a utilização consciente de recursos


novos para resolução de situações cotidianas;
II. Intuição: conhecimento baseado em fatos que pertencem a experiência do
inconsciente e que surge de forma espontânea e instantânea a mente. Não pode ser
comandada nem controlada.
Os níveis de inteligência não dependem unicamente da posse de meios ideativos, mas
também da capacidade de aplicá-los. Segundo Jaspers -” A escassez de conhecimentos é,
em geral, sinal de debilidade mental, mas a abundância deles não constitui, necessariamente
sinal de inteligência”. O desenvolvimento intelectivo adequado depende da integração eficaz
dos fatores genéticos e ambientais. Nenhum dos fatores isolados seria capaz de determinar
o sucesso do desenvolvimento da inteligência.
Howard Gardner (1983) propôs uma conceituação teórica para a inteligência de ordem
múltipla. Ele defende a existência de sete modalidades de inteligência que são encontradas

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em todos os indivíduos, porém em diferentes níveis. Sendo que algumas habilidades podem
se desenvolver mais que outras. São elas:
a) Inteligência linguística/verbal; d) Inteligência corporal;
b) Inteligência logico/matemática; e) Inteligência interpessoal;
c) Inteligência musical/rítmica; f) Inteligência intrapessoal.

Daniel Goleman (1995) falou sobre a inteligência emocional. Sua teoria ressalta a
importância do papel das emoções nas respostas dos indivíduos e a necessidade de
aquisição de algumas habilidades para que se alcance sucesso na vida. Destaca cinco áreas
de habilidade emocional diretamente relacionadas ao funcionamento intelectivo:

a) Autoconhecimento; d) Reconhecimento de emoções


b) Controle emocional; em outras pessoas;
c) Automotivação; e) Habilidades em relacionamentos
interpessoais

W. Stern (1912) estabeleceu o conceito de Quociente de Inteligência – QI, o qual se


obtém calculando a relação existente entre a idade mental e idade cronológica. Através desse
índice é possível fazer a comparação de desempenho de pessoas da mesma idade. O QI é a
medição da atual capacidade intelectual de um individuo e não necessariamente do potencial
do funcionamento futuro.

CLASSIFICAÇÃO FAIXA DE QI
Retardamento mental profundo Abaixo de 20-25
Retardamento mental grave 20-25 a 35-40
Retardamento mental moderado 50-55 a 70
Fronteiriço 70 a 79
Normal inferior 80 a 90
Normal 90 a 110
Normal superior 110 a 120
Superior 120 a 130
Muito superior Acima de 130
Classificação de inteligência pela faixa de QI de acordo com o DSM V

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Þ Alterações quantitativas da inteligência - Retardo mental

Condição em que houve interrupção do desenvolvimento mental, prejudicando o nível


global de inteligência, aptidões de aprendizado, de fala, de habilidades motoras e sociais. A
interrupção ocorreu em algum ponto da evolução antes do surgimento da abstração, ou seja,
no período compreendido entre pré-natal, perinatal e pós-natal ate a puberdade. O grau de
retardo é aferido pelo ponto onde o desenvolvimento da mente estacionou. É considerado
retardo mental quando o individuo apresenta QI significantemente inferior à média com escore
< 70.

Só deve ser diagnosticado como tal, se o comprometimento das capacidades se


manifestara antes dos 18 anos. Esta alteração leva a incapacidade para preencher os padrões
da própria faixa etária provocando prejuízos no funcionamento adaptativo. Resultam disso:
dificuldade para fazer planos e julgamentos, para lidar com exigências do meio, para cuidar
de si mesmo e apresentam dependência social.

O retardo mental pode ter sua origem em diferentes fontes: genéticos; físicos como
problemas durante a gestação, doenças, traumatismo sofrido antes, durante ou após o parto;
psicossociais como ambiente empobrecido em termos de estimulação e nutrição. Estes
indivíduos apresentam menor expectativa de vida e o seu diagnostico deve ser feito
independente de possuir outro transtorno físico ou mental. A linha entre a normalidade e o
retardo nem sempre é tão clara. O mesmo ocorre entre os níveis.

Þ Retardo mental leve: QI entre 50 a 70 à idade mental adulta de 8 a 12 anos.


• Uso de linguagem atrasada em graus variados;
• Suas dificuldades são percebidas no rendimento escolar, geralmente adquirem
habilidade escolar até o nível de 5ª e 6ª series;
• Conseguem independência em cuidados próprios e em habilidades práticas e
domésticas, podendo a maioria ser bem sucedida na comunidade e viver
independente;
• Atingem um bom contato de conversação, embora se note uma certa imaturidade
emocional e social;
• Incapacidade acentuada para lidar com situações complexas, como casamento e
educação dos filhos;

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• Esse grupo constitui o maior percentual de retardos mentais. Associa-se ao autismo,
epilepsia e outros transtornos de conduta ou incapacidade física;
• Nível de independência baixo, necessitando constantes orientações situacionais.

Durante os anos pré escolares pacientes com este tipo de alteração frequentemente
não são diferenciados das outras crianças podendo haver somente um prejuízo mínimo na
função sensoriomotora.

Þ Retardo mental moderado: QI entre 35-40 a 50-55 à idade mental adulta de 6 a 9 anos.
• Fácil reconhecimento;
• Raramente ultrapassa o primeiro grau escolar;
• Só conseguem participar de conversas simples. Dificuldades da fala;
• Parecem alheios as necessidades da vida em sociedade e tem dificuldades de cuidar
de si mesmos, embora consigam comunicar suas necessidades básicas;
• Quase nunca conseguem independência na vida adulta;
• Representam aproximadamente 10% da população com retardo mental. E são mais
frequentes as etiologias orgânicas.

Þ Retardo mental grave: QI entre 20 a 34 à idade mental adulta de 3 a 6 anos.


• Notado ao nascimento;
• Pouca ou nenhuma fala comunicativa;
• Habilidades motoras precárias, só cuidando do corpo com treinamento (aprendem a se
vestir, comer sozinhos e fazer higiene pessoal);
• Problemas sérios de saúde, requerendo supervisão continua;
• Apresentam anormalidades cerebrais frequentes.

Þ Retardo mental profundo: QI abaixo de 20.


• Facilmente identificáveis, apresentam deficiências em quase todos os aspectos;
• Só aprendem a receber ordens simples e a comunicar algumas necessidades da vida
cotidiana, com grande falta de compreensão e limitação de linguagem;
• São comuns: incapacidades neurológicas graves ou outros problemas físicos que
afetam a mobilidade, como epilepsia e comprometimento visual e auditivo;
• Geralmente de etiologia orgânica.

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O exame dos pacientes com deficiência intelectiva deve ser realizado com maior
frequência na presença dos pais ou responsáveis. Pesquisando:
a) Antecedentes familiares;
b) Fatores hereditários;
c) Predisposições maternas: RH, DM, desnutrição, drogas à álcool principalmente, idade
materna <16 ou > 35, prematuridade; multiparidade ou condições emocionais traumáticas;
d) Condições da gestação: radiação, enfermidades infecciosas (sarampo, toxoplasmose,
rubéola) hemorragias, substâncias toxicas, distúrbios placentários (PP, DPP), desnutrição,
eclampsia;
e) Condições perinatais: APGAR (anóxia), hiperbilirrubinemia, prematuridade,
tocotraumatismo, peso ao nascer (<2,5kg ou >4,5kg), tipo e duração do parto;
f) Condições pós natais: infecções (meningites, encefalites e abscessos), desnutrição, falta
da mãe, fatores socioeconômicos, intoxicação por chumbo, deficiência de iodo, alterações
hormonais, TCE.

Deve ser investigada também a história atual. Pesquisando sobre o desempenho nas
atividades cotidianas como cuidados com a própria higiene, comunicação com familiares e
estranhos, rendimento escolar, uso de componentes e instrumentos domiciliares, trabalhos
diferenciados e participação em jogos e brincadeiras.

O exame físico é de suma importância pela grande quantidade de achados específicos


compostos por sinais e estigmas próprios e característicos das síndromes de retardo mental
principalmente no cabelo, cabeça, rosto, pescoço, pele e dedos. Sendo complementado pelo
exame neurológico.

12. Insight//juizo crítico//pragmatismo

JUIZO CRÍTICO

É a capacidade para perceber e avaliar adequadamente a realidade externa e separá-la


dos aspectos do mundo interno ou subjetivo. Implica separar sentimentos, impulsos e
fantasias próprios, de sentimentos e impulsos de outras pessoas. Refere-se, ainda, à
possibilidade de auto avaliar-se adequadamente e ter uma visão realista de si mesmo, suas
dificuldades e suas qualidades. Os distúrbios do julgamento podem ser circunscritos a uma

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ou mais áreas, como dinheiro ou sexualidade, mantendo as demais adequadas. Entende-se
que o juízo crítico da realidade está alterado, por exemplo, quando as decisões do paciente
são determinadas por delírios ou alucinações.

INSIGHT

Insight é uma forma mais complexa de juízo. Envolve um grau de compreensão do


paciente sobre si mesmo, seu estado emocional, sua doença e as consequências desta sobre
ele as pessoas que o cercam e sua vida em geral.

PRAGMATISMO

Analisa-se se o paciente exerce atividades práticas como comer, cuidar de sua aparência,
dormir, ter autopreservação, trabalhar, conseguir realizar o que se propõe e adequar-se à
vida. Dizemos que algo é pragmático quando é relativo aos atos que se devem praticar,
quando é referente às aplicações práticas, voltado para a ação. Por exemplo conseguir
colocar em prática a proposta terapêutica.

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