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Assim com outros sistemas, o sistema locomotor está sujeito a lesões primárias de seus
componentes, mas pode também afetar-se em decorrência de processos sediados em outras partes
do organismo, tal como a acidose ruminal, que provoca laminite. Da mesma forma, lesões primárias
do sistema locomotor podem determinar o envolvimento do estado geral do animal.
Exame especial
O exame dos membros se faz, inicialmente, pela inspeção, a qual pode revelar
alterações de tamanho, assimetria, feridas, drenagens e atrofia muscular. A
palpação dos membros também é empregada, palpando-se a musculatura, ossos e
pele. Avalia-se a consistência, temperatura, sensibilidade e tônus muscular (rigidez,
fraqueza, paralisia). Como muitas vezes os quadros de paralisia de membros
posteriores estão relacionados com lesão de medula espinhal, convém também
avaliar o tônus da cauda e ânus.
Por fim, o exame do casco deve, em princípio, avaliar a sua forma. Cascos sadios
possuem a face frontal formando um ângulo de 50 o com o solo, a qual é cerca de
duas vezes maior que a sua face caudal. Os cascos traseiros são mais pontudos
que os dianteiros e suas unhas laterais são ligeiramente maiores que as mediais.
Usualmente o casco dos bovinos cresce de 6 a 7 cm por mês. Para se realizar o
exame do casco é necessário, inicialmente, limpá-lo e lavá-lo criteriosamente, caso
contrário poderão não ser detectadas inúmeras alterações. Feito isto, deve-se
observar a forma (achinelado, em tesoura, encastelado), o desgaste, e a presença
de sulcos (laminite). Deve-se observar as paredes do casco, a sola, o talão e o
espaço interdigital. A palpação avalia sensibilidade e mobilidade. Pode-se fazer a
palpação indireta, com uma pinça de casco (sensibilidade) ou com sondas
(profundidade de lesões). A percussão pode ser empregada, utilizando-se um
pequeno martelo para a pesquisa de sensibilidade.
Exames complementares
Punção articular: pode colher o líquido sinovial cujas características podem ser
muito úteis ao diagnóstico.
Principais enfermidades
Decúbito persistente
O decúbito persistente, também conhecido como "Síndrome da Vaca Caída" ou
"Downer cow", é uma condição de etiologia múltipla na qual o animal não consegue
se levantar. Os quadros mais freqüentes constumam acontecer em vacas leiteiras
logo após o parto. Esta predileção está relacionada com a ocorrência aos distúrbios
metabólicos puerperais (acetonemia e hipocalcemia), bem como a eventual traumas
durante o trabalho de parto. Todavia, o decúbito persistente pode ocorrer nas mais
diversas situações, quer sejam de natureza traumática, quer sejam associadas aos
estados debilitantes em geral. O próprio decúbito por sua vez agrava o quadro, já
que a compressão dos membros provoca lesões nervosas periféricas e degeneração
muscular resultante da isquemia local. Acredita-se que após três dias seguidos de
decúbito, as complicações decorrentes desta compressão tornam o quadro
irreversível, qualquer que seja sua causa primária.
Luxação patelar
Trata-se de uma enfermidade de origem genética, em que ocorre a fixação
permanente ou temporária da patela na porção superior da tróclea do fêmur. Esta
fixação da patela impede que o membro flexione-se normalmente. Assim, o termo
"luxação" é impróprio para se caracterizar esta doença, apesar de seu uso
consagrado. É uma condição bastante freqüente em gado leiteiro e o animal afetado
não consegue flexionar o membro afetado, mantendo estendido para trás. Na
maioria das vezes, esta condição é transitória e ora aparece, ora desaparece. A
ponta do casco afetado costuma apresentar certo desgaste na sua porção dorsal,
uma vez que o animal arrasta o membro afetado quando este está estendido.
Artrite
Lesões nas articulações usualmente estão relacionadas com os quadros de artrite.
Conceitualmente, o termo artrite define a inflamação de uma articulação que, em
princípio, pode ser qualquer uma do corpo. Entretanto, a inflamação das articulações
carpo-ulnar e tarso-tibial são mais facilmente detectáveis pois se apresentam
visivelmente espessadas quando inflamadas.
Nos bovinos e nos ovinos, a causa mais freqüente deste tipo de artrite é a poliartrite
purulenta. A artrite nestes casos são decorrentes de bacteremias de
microorganismos piogênicos oriundos de infecção umbelical. Os animais afetados,
pricipalmente jovens, apresentam claudicação de apoio e mesmo impotência
funcional. A punção da articulação afetada revela conteúdo purulento típico. O
envolvimento de várias articulações justifica o nome de "poliartrite purulenta",
empregado para designar tal doença. O prognóstico nestes casos usualmente é de
reservado a mau. O tratamento, porém, pode ser tentado com antibióticos
sistêmicos.
O tratamento pode ser feito com antibióticos: enrofloxacina (Baytril®, Flotril® ): 2,5
mg/kg; danofloxacina (Advocin®): 1,25 mg/kg; tilosina (Tylan®): 25 mg/kg (dose
inicial 50 mg/kg); lincomicina + espectinomicina (Linco-Spectin®): 15 mg/kg;
espiramicina (Rovamicina®): 25 mg/kg.
Podridão-dos-cascos
Também chamada de "foot-rot" ou "piétin". A base desta doença é a umidade e
acúmulo de fezes e urina favorecem o desenvolvimento de certas bactérias -
Dichelobacter (Bacteroides) nodosus e Fusobacterium necrophosus - que vão
provocar diferentes graus de erosão do casco afetado.
As principais lesões que podem ser notadas durante o exame do casco dos bovinos incluem a úlcera
de sola ("broca"), a erosão do bulbo, a inflamação interdigital, a hiperplasia interdigital ("tiloma"), a
deformidade da unha e a inflamação da coroa.
O tratamento da doença digital bovina tem uma base comum. Após a devida
contenção do animal, deve-se lavar copiosamente o casco com água e sabão. Após
a limpeza, faz-se a apara do excesso de casco. Nos casos em que há a presença de
tecidos necrosados ou de hiperplasias como o tiloma, é necessária sua remoção. É
conveniente, antes, proceder a uma anestesia regional (Bier) com 10 mL de lidocaína 2%
(Xylocaína®), mantendo-se um garrote para diminuir eventuais hemorragias.
Nos casos de artrite interfalangena distal, é preciso fazer a remoção do sesamóide distal
pela sola do casco e a ressecção da porção infeccionada do tendão flexor profundo. Em casos graves,
pode ser necessária a amputação da unha afetada. A imobilização de unhas afetadas pode ser
conveniente durante a fase de recuperação e pode ser realizada através da colocação de um
tamanco de madeira na unha oposta, fixando-o com resinas especiais ou mesmo massa plástica
usada em funilaria.
Deve-se fazer, ao final, a aplicação local de uma mistura de sulfa em pó ou tetraciclina (Terramicina®,
Talcin®) com sulfato de cobre e a colocação de uma bandagem de gaze ou atadura de crepe (penso),
impermeabilizando-a com alcatrão vegetal. Este curativo deve ser trocado a cada 3 ou 4 dias. O
sulfato de cobre só deve ser usado nos primeiros curativos, enquanto ainda há tecidos necrosados.
Bibliografia
BORGES, J.R.J. & GARCIA, M. Guia Bayer de podologia bovina. 2.ed. São Paulo:
Bayer, 2002. [CD-ROM]
DIAS, R.O.S. & MARQUES JR., A.P. Casco em bovinos. São Paulo: Lemos
Editorial, 2001.
GARCIA, M. & BORGES, J.R. Doença digital bovina. In: RIET-CORREA, F. et al.
Doenças de ruminantes e eqüinos. São Paulo: Varella, 2001. V.2, p.507-516.
GREENOUGH, P.R. & WEAVER, A.D. Lameness in cattle. 3.ed. Philadelphia: W.B.
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RAVEN,E.T. Cattle footcare and claw trimming. 3.ed. London: Farming Press
Books, 1989.
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