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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE FÍSICA

Raias Espectrais e Experimentos de


Franck-Hertz

Edmar Moraes Nasciemnto


Newton Barros de Oliveira
Ossamu Nakamura
Ricardo dos Reis Teixeira Marinho

2016
2
Sumário

1 Raias Espectrais e Experimentos de Franck-Hertz 5


1.1 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2 PARTE TEÓRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.1 Estrutura Atômica da Matéria: modelos atômicos de Thomson a Bohr. 6
1.2.2 Espectros Atômicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3 PARTE EXPERIMENTAL I: Raias Espectrais . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3.1 Espectroscopia Ótica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3.2 Rede de difração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.3.3 Lista de materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.3.4 Medidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.3.5 Questões Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.4 PARTE EXPERIMENTAL II: Experimento de Franck-Hertz . . . . . . . . 21
1.4.1 Lista de Materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.4.2 Montagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.4.3 Medidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.4.4 Questões Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.4.5 Apêndice: Tratamento de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.5 EXERCÍCIOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.6 BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

3
4 SUMÁRIO
Exp 1

Raias Espectrais e
Experimentos de Franck-Hertz

Figura 1.1: Na imagem acima, podemos ver a nebulosa de Laguna, uma nuvem gasosa
brilhante situada a uma distância de 5000 anos-luz da Terra. Hoje podemos afirmar que
ela é constituı́da quase completamente por hidrogênio! Mas quais são as bases cientı́ficas
para esta afirmação? Como o conhecimento da estrutura atômica da matéria pode auxiliar
no entendimento dos elementos constituintes de estrelas distantes da mesma forma que
conhecemos os elementos presentes na atmosfera? A espectroscopia, como vocês verão, será
uma ferramenta fundamental para algumas destas perguntas...

5
6 EXP 1. RAIAS ESPECTRAIS E EXPERIMENTOS DE FRANCK-HERTZ

1.1 OBJETIVOS
Estudo da estrutura interna dos átomos por meio da observação da espectroscopia na faixa
do visı́vel de alguns gases, por exemplo: hidrogênio, hélio, neônio e mercúrio. Verificação
do modelo atômico de Bohr usando o espectro ótico do átomo de hidrogênio. Confirmação
experimental da quantização interna dos átomos multieletrônicos utilizando a experiência
de Franck-Hertz.

1.2 PARTE TEÓRICA


1.2.1 Estrutura Atômica da Matéria: modelos atômicos de Thom-
son a Bohr.
No inı́cio do século XX, os cientistas começaram a estabelecer as bases para a compreensão
da formação dos espectros à medida que eles começaram a aprender mais sobre a estrutura
dos átomos e a natureza da luz. Um dos primeiros modelos imaginados de átomo do século
passado resultou das duas seguintes hipóteses:

• Os átomos são constituı́dos de elétrons e cargas positivas:


Por volta de 1910, acumularam-se inúmeras evidências experimentais de que os átomos
contêm elétrons (por exemplo, o espalhamento de raios X por átomos e o efeito fo-
toelétrico). Estas experiências davam uma estimativa para o número de elétrons num
átomo, Z, como sendo aproximadamente igual a A/2, onde A é o peso atômico quı́mico
do átomo considerado. Como normalmente os átomos são neutros, eles devem também
conter uma carga positiva igual em módulo a carga negativa de seus elétrons. Por-
tanto um átomo neutro tem uma carga negativa -Ze, onde -e é a carga do elétron, e
também uma carga positiva de mesmo valor em módulo. O fato de que a massa do
elétron é muito pequena se comparada com a de qualquer átomo, mesmo com a do
mais leve, implica que a maior parte da massa do átomo deve estar associado a carga
positiva.
8
• Os átomos tem diâmetros da ordem de 10 cm:
Este valor pode ser obtido a partir da densidade de um sólido tı́pico, de seu peso
atômico e do número de Avogrado.

Estas considerações levaram J.J. Thomson a propor uma tentativa de descrição de um


átomo (modelo pudim de passas para o átomo) segundo o qual os elétrons carregados nega-
tivamente estariam localizados no interior de uma distribuição contı́nua de carga positiva.
Supôs-se uma distribuição esférica de cargas positivas e, devido a repulsão mútua, os elétrons
estariam uniformemente distribuı́dos na esfera de carga positiva.
A demonstração conclusiva da inadequação do modelo Thomson foi obtida por Er-
nest Rutherford a partir da análise de experiências sobre o espalhamento de partı́culas ↵
por átomos. Os experimentos de Ernest Rutherford (1871-1937) em 1909, auxiliado por
Hans Geiger (1882-1945) e Ernest Marsden (1889-1970), bombardeando folhas de ouro com
partı́culas ↵ (ı́ons de hélio), resultou que 1 em cada 20.000 partı́culas incidentes eram re-
fletidas na mesma direção de incidência. A análise de Rutherford mostrou que, em vez de
1.2. PARTE TEÓRICA 7

estar espalhada por todo o átomo, a carga positiva está concentrada em uma região muito
pequena, ou núcleo, no centro do átomo o qual é rodeado por uma nuvem de elétrons, com
carga elétrica negativa. Este foi um dos mais importantes progressos da fı́sica atômica e foi
a base da fı́sica nuclear.
A verificação experimental detalhada das previsões do modelo nuclear de Rutherford
para o átomo deixou pouco espaço para as dúvidas em relação à validade desse modelo. No
centro do átomo há um núcleo cuja massa é aproximadamente a massa de todo o átomo,
e cuja carga é igual ao número atômico Z multiplicado pela carga elementar; em torno
desse núcleo existem Z elétrons, neutralizando o átomo como um todo. Mas surgem sérias
questões a respeito da instabilidade de um átomo desse tipo. Se supusermos, por exemplo,
que os elétrons em um átomo estão estacionários, não existe arranjo estável que os impeça
de colapsar com o núcleo, sob a forte atração coulombiana. Se os elétrons decaı́rem terı́amos
átomos com as dimensões do núcleo, o que contrariaria evidências experimentais.
Esses elétrons não poderiam estar parados, pois eles decairiam em direção ao núcleo
devido à atração coulombiana, então Rutherford propôs que os elétrons estariam girando
em torno do núcleo em órbitas circulares. No entanto, isso não resolvia o problema da
estabilidade do núcleo, pois cargas elétricas aceleradas emitem energia, e a perda de energia
faria os elétrons espiralarem rapidamente em direção ao núcleo, emitindo radiação em todos
os comprimentos de onda e tornando os átomos instáveis.
Esse modelo atômico não era satisfatório, pois os átomos obviamente são estáveis, além
do mais era conhecido, por meio dos estudos dos espectros de emissão, que quando os átomos
emitem radiação, eles o fazem somente em certos comprimentos de onda, especı́ficos de cada
elemento, e não em todos os comprimentos de onda. Isso gerou a suspeita de que as leis
da mecânica clássica não se aplicavam totalmente a corpos microscópicos como os átomos
e propiciou o surgimento da mecânica quântica.
Este problema difı́cil, o da estabilidade do átomo, na verdade levou à formulação de um
modelo simples da estrutura atômica. Uma caracterı́stica básica deste modelo, bastante
bem sucedido, proposto por Niels Bohr em 1913, era a previsão do espectro da radiação
emitida por certos átomos. Vamos destacar ainda que em 1900, o cientista alemão Max
Planck (1858-1947) desenvolveu o modelo da quantização da luz, segundo o qual a matéria
emite luz em pacotes de energia, que ele denominou quanta.
Mas antes de discutirmos o modelo atômico de Bohr vamos discutir alguns fatos expe-
rimentais que já eram conhecidos e que foram importantes para o coroamento do modelo
de Bohr: o espectro de emissão e os resultados dos experimentos conduzidos por Franck e
Hertz.

1.2.2 Espectros Atômicos


Uma carga em repouso gera um campo elétrico em sua volta. Se esta carga estiver em
movimento, o campo elétrico, em uma posição qualquer, estará variando no tempo e gerará
um campo magnético que também varia com o tempo. Estes campos, em conjunto, cons-
tituem uma onda eletromagnética, que se propaga mesmo no vácuo. James Clerk Maxwell
(1831-1879) demonstrou que a luz é uma onda eletromagnética.
A intensidade da luz em diferentes comprimentos de onda, chamamos de espectro. Quase
toda informação sobre as propriedades fı́sicas das estrelas são obtidas direta ou indireta-
mente de seus espectros, principalmente suas temperaturas, densidades e composições. Isaac
Newton demonstrou em 1665-66 que a luz branca, como a luz do Sol, ao passar por um
8 EXP 1. RAIAS ESPECTRAIS E EXPERIMENTOS DE FRANCK-HERTZ

prisma se decompõe em luz de diferentes cores, formando um espectro como o arco-ı́ris. A


partir do espectro solar, também foi observado que a intensidade é suprimida em alguns
comprimentos de onda. Além das linhas intensas, notou-se a existência ou inexistência de
outras linhas correspondendo a ausência de alguns comprimentos de onda.
Em 1856, o quı́mico alemão Robert Wilhelm Bunsen (1811-1899) inventou o bico de
gás (bico de Bunsen), cuja vantagem era a de ter chama incolor. Quando um elemento
quı́mico era colocado sobre a chama, as cores emitidas eram as da substância, e não da
chama. Bunsen tinha um colaborador mais jovem, o fı́sico Gustav Robert Kirchho↵ (1824-
1887), de Heidelberg. Em 1856, Kirchho↵ sugeriu que as cores seriam melhor distinguidas
se passadas através de um prisma. Eles colocaram um prisma na frente de um conjunto
de lentes e passaram a identificar as linhas com os elementos quı́micos. Os gases quentes
observados por Kirchho↵ e Bunsen não emitiam um espectro contı́nuo. Eles descobriram
que cada elemento gerava uma série de linhas diferentes. Por exemplo, o neônio tinha linhas
no vermelho (por isto um cartaz de neon é vermelho), o sódio tinhas linhas no amarelo e o
mercúrio tinha linhas no amarelo e no verde.
Assim, podemos dizer que o espectro de um elemento quı́mico é o conjunto de raias que
ele pode emitir. A classificação dos espectros dos elementos foi de grande importância da
fı́sica atômica. Do ponto de vista quı́mico, o conhecimento desses espectros permite revelar,
com uma grande precisão, a presença de determinadas substâncias quı́micas presentes na
substância a analisar. Em particular, na astrofı́sica, ela permitiu, através da análise da
radiação emitida pelas estrelas, conhecer os elementos que as compõem e sua proporção
relativa.
No inı́cio do século XX, já havia sido coletado uma grande quantidade de dados sobre
a emissão de luz pelos átomos de um gás, quando estimulados por uma descarga elétrica.
Observada através de um espectroscópio com uma abertura na forma de fenda, essa luz
aparece com uma série distinta de linhas de diferentes cores ou comprimento de onda; como
já foi dito em outras palavras, o espaçamento e as intensidades das linhas são caracterı́sticas
de cada elemento. A figura 1.2 apresenta os espectros de emissão do hidrogênio, hélio, neônio
e mercúrio com comprimentos de onda na região do visı́vel.
O fato de que cada elemento possui um conjunto especı́fico de raias espectrais é de grande
importância prática porque faz com que a espectroscopia seja mais uma técnica muito útil
a ser somada às técnicas usuais de análise quı́mica. Basicamente, por este motivo, muito
esforço foi empregado no sentido de obtenção de medidas precisas dos espectros atômicos,
e, de fato, esse esforço foi necessário, pois os espectros são constituı́dos de muitas centenas
de linhas e são em geral muito complicados.
No entanto, o espectro do hidrogênio é relativamente simples. Isto talvez não seja
surpreendente, pois o hidrogênio, contendo apenas um elétron, é o átomo mais simples. A
maior parte do universo consiste de átomos de hidrogênio isolados, de forma que seu espectro
é de considerável interesse prático. Também há razões teóricas e históricas para estudá-lo. A
figura 1.3 representa a parte do espectro do hidrogênio atômico que está aproximadamente
dentro da região de comprimentos de onda da luz visı́vel. Vemos que o espaçamento, em
comprimento de onda, entre linhas adjacentes do espectro diminui continuamente à medida
que o comprimento de onda das linhas diminui, de forma que a série de linhas converge
para o chamado limite da série em 3645,6Å.
A regularidade óbvia do espectro do hidrogênio fez com que muita gente tentasse obter
uma fórmula empı́rica que representasse o comprimento de onda das linhas. Tal equação
foi descoberta em 1885 por Balmer. Esta equação é dada por:
1.2. PARTE TEÓRICA 9

Figura 1.2: Espectro de emissão do Hidrogênio, Hélio, Neônio e Mercúrio

n2
= 3646(Å) (1.1)
n2 4
onde n = 3, 4, 5, ...

Esta descoberta iniciou uma busca de fórmulas empı́ricas similares que se aplicariam
a série de linhas eu pudessem ser identificadas na distribuição complicada de linhas que
constituem os espectros de outros elementos. A maior parte desse trabalho foi feita em
1890 por Rydberg. Assim a equação 1.1 pode ser escrita como:

1 1 1
= RH ( ) (1.2)
22 n2
onde n = 3, 4, 5, ...

RH é a chamada constante de Rydberg para o hidrogênio e seu valor, a partir de dados


espectroscópicos recentes, é RH = 10967757,6 m 1 .
10 EXP 1. RAIAS ESPECTRAIS E EXPERIMENTOS DE FRANCK-HERTZ

Figura 1.3: Esquema do espectro de hidrogênio mostrando as seis primeiras linhas da série
de Balmer, estando indicado na parte superior o número de onda (cm 1 ) e na parte inferior
o comprimento de onda (nm)

Fórmulas desse tipo foram obtidas para muitas séries. Por exemplo, sabemos agora da
existência de cinco séries de linhas no espectro de hidrogênio, como é apresentado na tabela
1.1

Tabela 1.1: As séries do Hidrogênio

Nome Faixa de comprimento de onda Fórmulas

1
Balmer Ultravioleta próximo e visı́vel = RH ( 212 1
n2 ) n = 3, 4, 5, ...

1
Paschen Infravermelho = RH ( 312 1
n2 ) n = 4, 5, 6, ...

1
Bracket Infravermelho = RH ( 412 1
n2 ) n = 5, 6, 7, ...

1
Pfund Infravermelho = RH ( 512 1
n2 ) n = 6, 7, 8, ...

Podemos generalizar a fórmula 1.2 da seguinte forma:

1 1 1
= RH ( ) (1.3)
p2 q2
onde p < q

A fórmula 1.3 não pode ser explicada pelo modelo atômico de Rutheford porque o
movimento dos elétrons em redor do núcleo está sujeito, nesse modelo, às leis da mecânica
e do eletromagnetismo clássico. De fato, conforme esta teoria, o elétron deveria emitir
radiação contı́nua. E essa emissão contı́nua de radiação seria, por outro lado, uma fonte de
instabilidade dos átomos.
O problema foi resolvido por Bohr utilizando a teoria quântica de Planck. Para obter a
fórmula 1.3, Bohr foi obrigado a admitir dois novos postulados:
1.2. PARTE TEÓRICA 11

• As trajetórias dos elétrons no átomo de hidrogênio são aquelas cujo momento angular
é um múltiplo inteiro de ~. Estas órbitas são chamadas de órbitas estacionárias.

• Quando o elétron descreve uma órbita estacionária, o átomo não emite nem absorve
qualquer radiação. A emissão (ou absorção) de radiação é determinada pela passagem
de uma órbita de energia Ei a uma outra de energia menor (ou maior) Ef , a frequência
da radiação emitida ou absorvida é dada por:

1
⌫if = (Ef Ei ) (1.4)
h
A energia do fóton emitido ou absorvido é igual a diferença entre a energia final e a
energia inicial do átomo:

~!if = Ef Ei (1.5)

As consequências destes postulados são as seguintes: quando o elétron descreve uma tra-
jetória de número quântico n, há equilı́brio entre a força centrı́fuga e a atração coulombiana
exercida pelo núcleo:

mvn2 e2
= (1.6)
rn 4⇡✏0 rn2
onde o ı́ndice n é relativo à trajetória considerada, determinada pelo número n.
Manipulando as equações anteriores, podemos encontrar a energia do elétron, no estado
quântico caracterizado pelo número n.

e2 q2
En = = (1.7)
4⇡✏0 (2rn ) 2rn
Ou ainda

mq 4
En = (1.8)
2n2 ~2
Sendo n =1, 2, 3, ... e rn o raio da órbita n que é dado por:

~2
rn = n 2 (1.9)
mq 2
A fórmula 1.3 pode ser obtida das equações 1.4, 1.5 e 1.9.

Estudo experimental dos estados quânticos:


A existência de estados quânticos discretos e de transição foi demonstrada, de uma maneira
direta, por Franck-Hertz em 1914. O princı́pio de sua experiência é o seguinte: uma gás
monoatômico é submetido ao bombardeio de um feixe de partı́culas (elétrons, fótons ou
neutrons). Estas partı́culas de energia determinada E, atingem os átomos do gás. Se a
energia E das partı́culas for menor do que aquela necessária para que um átomo do gás
passe do estado fundamental (E1 ) ao primeiro estado excitado (E2 ), E< E2 E1 , nenhum
átomo será excitado, e as colisões dos átomos do gás com as partı́culas incidentes serão todas
12 EXP 1. RAIAS ESPECTRAIS E EXPERIMENTOS DE FRANCK-HERTZ

elásticas. Assim, nenhuma radiação será emitida pelo gás. Nas experiências de Franck e
Hertz as partı́culas são elétrons que saem de um fonte F (cátodo), após suas colisões com os
átomos elas são recolhidas em P (ânodo) e medimos a corrente num Amperı́metro conectado
ao ânodo. Um diagrama esquemático da válvula utilizada nos experimentos de Franck-Hertz
é apresentada na figura 1.4.
Na válvula de Franck-Hertz, o cátodo é aquecido ao submetê-lo a uma tensão (em nosso
experimento ela é de 6,3 V) e nesse processo forma-se uma nuvem eletrônica em seu redor.
Se a grade for colocada em um potencial positivo (denominado de potencial de excitação), os
elétrons irão ser acelerados em sua direção e alguns deles passam por ela, sendo recolhidos no
ânodo. Contudo, se o ânodo for colocado em um potencial negativo (chamado de potencial
de retardo), apenas os elétrons que tiverem energia maior que este potencial irão atingir a
placa.
Quando a diferença do potencial V entre o cátodo e o ânodo aumenta, a corrente cresce.
Para um valor V = 1/e(E2 E1 ), chamado potencial de ressonância, a corrente diminui
subitamente, um gráfico tı́pico obtido pelo experimento de Franck-Hertz pode ser visto na
figura 1.5. Os elétrons que tem uma energia ligeiramente superior a E2 E1 a cedem, por
colisão com os átomos, que efetuam a transição do estado fundamental ao primeiro estado
quântico excitado. Os elétrons após tais colisões tem velocidade quase nula e são atraı́dos
pela grade. O mesmo fenômeno se reproduz para os outros estados excitados.
No caso do vapor de mercúrio, a radiação só é emitida quando a energia cinética dos
elétrons alcança 4,9eV e o comprimento de onda é igual a 2537Å. Os dois outros estados
excitados mais próximos são atingidos quando a energia cinética dos elétrons incidentes é
igual a 8,7eV e 9,7eV, respectivamente.
A experiência de Franck-Hertz forneceu evidências marcantes da quantização da energia
dos átomos. Também forneceu um método para a medida direta das diferenças de energia
entre os estados quânticos de um átomo. Quando a curva I em função de V é estendida
para voltagens maiores, são encontradas quedas adicionais. Algumas se devem a elétrons
que excitam átomos até seu primeiro estado excitado em várias ocasiões diferentes no seu
percurso de entre o cátodo e o ânodo; mas outras se devem à excitação até nı́veis mais altos
e, a partir da posição das quedas, as diferenças de energia entre os estados mais excitados
e o estado fundamental podem ser medidas diretamente.
1.3. PARTE EXPERIMENTAL I: RAIAS ESPECTRAIS 13

Figura 1.4: Tı́pica válvula utilizada nos experimentos de Franck-Hertz

Figura 1.5: Intensidade da corrente de elétrons em função da diferença de potencial entre


o cátodo e ânodo.

1.3 PARTE EXPERIMENTAL I: Raias Espectrais


1.3.1 Espectroscopia Ótica
O equipamento utilizado para as medidas das raias espectrais é similar ao utilizado no expe-
rimento MEDIDA DO ÍNDICE DE REFRAÇÃO DO VIDRO DE UM PRISMA do curso
de Fı́sica Geral e Experimental IV. Portanto, leia com cuidado no roteiro desse experimento
toda a parte referente ao espectrômetro e ao seu modo de utilização. De qualquer forma,
no que segue daremos uma breve descrição do equipamento e como utilizá-lo.
O goniômetro óptico, um instrumento de grande aplicação em medidas ópticas, tem por
finalidade medir a posição angular das linhas espectrais ou cores da luz que são desviadas
de sua trajetória original por algum artefato óptico (prisma, rede de difração, espelho etc.).
Quando convenientemente calibrado, permite determinar o comprimento de onda dos com-
ponentes (cores) do espectro da radiação desviada e passa a ser chamado de espectrômetro.
14 EXP 1. RAIAS ESPECTRAIS E EXPERIMENTOS DE FRANCK-HERTZ

Esse instrumento possui dois braços, um fixo e um móvel, e um suporte central ou mesa.
No braço fixo encontra-se o colimador cuja função é colimar, ou tornar paralelo, um feixe
de raios de luz.
O colimador é constituı́do por um tubo que possui uma fenda vertical ajustável em uma
extremidade e uma lente convergente na outra extremidade. A lente é ajustada de tal modo
que a fenda esteja posicionada em seu plano focal. Desse modo, os raios de luz contidos
num plano transversal à fenda e que a atravessam tornam-se paralelos devido à lente.
O braço móvel, que pode girar ao redor do eixo vertical da mesa, possui um telescópio
focalizado no infinito que permite observar os raios de luz provenientes do colimador e
que foram eventualmente desviados por um objeto colocado sobre a mesa do aparelho.
O telescópio permite observar, ampliada, a imagem da fenda do colimador. Um retı́culo
em forma de cruz de fios de cabelo esta localizado no plano focal da lente do telescópio
e serve como referência para a medida da posição. O ocular móvel permite a focalização
simultânea da imagem da fenda e do retı́culo e deve ser ajustado ao olho do observador com
pequenos deslocamentos para frente e para trás. A posição angular do braço móvel pode
ser determinada numa escala graduada de meio em meio grau (30 minutos) e um vernier
com divisões de 1 minuto em uma faixa de 30 minutos.
A mesa é um disco horizontal que pode ser submetida a movimentos de rotação e
translação, para cima ou para baixo, para regular a sua altura. Um conjunto de três
parafusos a 120o permite regular a horizontabilidade.
A figura 1.6 mostra o diagrama do instrumento e suas partes. Já na figura 1.7 temos
uma foto do espectrômetro que será utilizado com indicações dos principais componentes.

Colimador Mesa Telescópio

Fenda L1: lente L2: lente Plano focal


ajustável convergente convergente
Observador

Fonte Ocular
de luz
f1 f2
Região de raios
paralelos

Figura 1.6: Diagrama do goniômetro óptico

1.3.2 Rede de difração


Para separamos os diferentes comprimentos de onda das raias espectrais vamos utilizar uma
rede de difração. Uma rede de difração em transmissão é um dispositivo óptico constituı́do
por uma lâmina de vidro espessa, de faces planas e paralelas. Numa face é gravada uma
grande quantidade de sulcos finos, paralelos e igualmente espaçados, com uma ponta de
diamante em um processo mecânico de alta precisão. As redes podem ter até três mil
1.3. PARTE EXPERIMENTAL I: RAIAS ESPECTRAIS 15

Figura 1.7: Fotografia do espectrômetro com seus principais componentes

sulcos por milı́metro. Na figura (Fig. 1.8) mostramos um corte bastante ampliado de uma
rede de difração.

Figura 1.8: Rede de difração vista de corte.

Em primeira aproximação, os sulcos na rede comportam-se como fendas. A distância


d entre dois sulcos (ou duas fendas) adjacentes chama-se constante de rede e é usualmente
expressa em Angstrons (A), nanômetros (nm), microns (µ), micrômetros (µm) ou milı́metros
(mm).
Essa rede de difração descrita chama-se rede em transmissão. Existem também as redes
em reflexão, neste caso, os sulcos são realizados na superfı́cie de um espelho metálico. O
efeito dessa rede é facilmente observado pelo reflexo colorido quando da incidência de luz
branca. É o que se verifica no reflexo da luz em um CD (compact disk) ou mesmo o que se
16 EXP 1. RAIAS ESPECTRAIS E EXPERIMENTOS DE FRANCK-HERTZ

pode observar na natureza, na carapaça de besouros “furta cor”(rutelı́neos, buprestı́deos)


ou nas escamas das asas de borboletas (brassolı́deos, morphos, liceı́deos). Os morphos, de
um reflexo azul intenso, na verdade são inteiramente cobertos por escamas amareladas.
Uma rede de difração, com constante de rede conhecida, permite determinar compri-
mentos de onda, , desconhecidos. Com efeito, da equação

dsen✓ = n n = 0, 1, 2, 3 ... (1.10)

para a interferência construtiva, podemos calcular a partir da medida de ✓. A medida de


✓ pode ser feita com um goniômetro óptico.
Para observar e medir a posição de uma linha espectral correspondente a uma inter-
ferência construtiva com uma rede de difração, a rede deve ser colocada no centro da mesa
de um goniômetro óptico ou espectrômetro (Fig. 1.9).

Colimador Mesa Telescópio

Fenda L1: lente L2: lente Plano focal


ajustável convergente convergente
Observador

Fonte Ocular
de luz
f1 f2
Região de raios
paralelos

Figura 1.9: Goniômetro óptico.

O telescópio pode girar ao redor da rede a fim de determinar a posição angular ✓ das
franjas de interferência (Fig. 1.10). Para isso, ele dispõe de um retı́culo em forma de uma
cruz de “fio de cabelo”localizado no plano focal da lente L2 que pode ser posicionado sobre
a imagem da fenda movimentando-se o telescópio.
1.3. PARTE EXPERIMENTAL I: RAIAS ESPECTRAIS 17

T1’

Colimador

!"

Fonte !"’ T0
de luz

T1

Figura 1.10: Medida do ângulo ✓ com o telescópio do goniômetro óptico.

1.3.3 Lista de materiais


Identifique os seguintes equipamentos e materiais que se encontram sobre a mesa:

• Espectrômetro (ou goniômetro óptico),

• rede de difração,

• lâmpadas diversas, preenchidos com diferentes gases, por exemplo: hidrogênio, mercúrio,
neônio, argônio, entre outras possibilidades.

• fonte de alimentação de alta tensão para as lâmpadas. CUIDADO ao manusear este


equipamento!

• lanterna para iluminação.


18 EXP 1. RAIAS ESPECTRAIS E EXPERIMENTOS DE FRANCK-HERTZ

1.3.4 Medidas
Cuidados com os aparelhos
• O espectrômetro é um aparelho de alta precisão e deve ser manuseado com cuidado e
delicadeza. Nunca force qualquer um dos seus elementos. Em caso de dúvida chame
seu professor.

• Não gire o telescópio segurando-o pelo tubo (isso desfocalizará permanentemente o


equipamento), use o braço móvel vertical do telescópio.

• A precisão das medidas depende da largura da fenda do colimador. Por isso, trabalhe
com a fenda mais fina possı́vel, mas que ainda possa ser visualizada com facilidade.

• A precisão das medidas também depende do correto ajuste do bloco ocular. A posição
do ocular deve ser ajustada para o olho do observador deslocando-o ligeiramente
para frente ou para trás de modo a focalizar a imagem do retı́culo (“fio de cabelo”)
superposto à imagem da fenda. A imagem da fenda é focalizada com o botão de ajuste
do foco.

• O telescópio só pode ser movimentado livremente se o parafuso de bloqueio do braço


(parafuso central no lado direito e abaixo do disco) estiver folgado. Caso contrário,
só pode se movimentar com o uso do parafuso micrométrico, girando-o em ambos os
sentidos (movimento fino).

• Segure a rede de difração pelo suporte ou pelas bordas. Não toque na superfı́cie
da rede.

• Evite olhar diretamente para a lâmpada por um perı́odo muito longo. Se luz estiver
muito intensa, coloque uma folha de papel entre a saı́da da fonte de luz e a fenda do
colimador.

Ajuste da posição da rede


Para que a relação (1.10) possa ser usada, a rede de difração deve estar exatamente ortogonal
ao feixe de luz paralelo incidente e posicionada no centro de rotação do telescópio.
Coloque a rede sobre o centro da mesa circular do espectrômetro com a face gravada
virada para o telescópio, tentando colocá-la perpendicular ao eixo do colimador. Esse ajuste
grosseiro não é suficiente para garantir a perpendicularidade. Vejamos como proceder para
obter a condição de ortogonalidade com erro inferior a meio grau.
Acenda a lâmpada de Hg, espere aquecer por um minuto e ilumine a fenda de entrada
do colimador. Os raios de luz paralelos que emergem do colimador e incidem na rede são
por ela difratados formando um espectro de linhas brilhantes em ambos os lados da linha
central (imagem da fenda de cor branca azulada).
Posicione o telescópio em frente ao colimador e observe, através do ocular, a linha
central na posição T0 . Faça o ajuste necessário para a melhor focalização da linha central
e do retı́culo, aperte o parafuso central do telescópio e utilize o parafuso micrométrico
para posicionar o retı́culo no meio da linha brilhante (imagem da fenda). Faça a medida
dessa posição em graus e minutos utilizando o vernier e posicionando a lente para melhor
visualização.
1.3. PARTE EXPERIMENTAL I: RAIAS ESPECTRAIS 19

Folgue o parafuso central e gire o telescópio lentamente no sentido horário (visto de cima)
enquanto observa através do ocular. Deverá aparecer um conjunto de linhas coloridas que
formam o espectro de primeira ordem, algumas fracas e outras mais intensas. Observe se
você consegue ver duas linhas amarelas alaranjadas, intensas, bastante próximas no extremo
do espectro. Estreite a fenda do colimador para que essas linhas sejam vistas como duas
linhas separadas e finas.
Concentre-se agora na linha verde amarelada, uma das mais intensas. Posicione manu-
almente o retı́culo no centro dessa linha, aperte o parafuso central, retoque a posição com
0
o parafuso micrométrico e faça a leitura do ângulo T1 .
Folgue o parafuso central e gire o telescópio lentamente no sentido anti-horário (visto
de cima) e repita o procedimento para medir agora o ângulo T1 (preste atenção para medir
a linha de mesma cor).
0
Calcule os ângulos ✓1 e ✓1
0 0
✓ 1 = T1 T0 , ✓1 = |T1 T0 | .

Esses ângulos não podem diferir entre si mais que 100 . Se isso ocorrer, a rede deve ser
reposicionada de modo diminuir essa diferença. Para isso, tome um pouco menos da metade
dessa diferença, acrescente esse valor ao menor ✓ e calcule qual deveria ser o ângulo T dessa
linha. Ajuste no vernier esse ângulo girando o parafuso micrométrico do telescópio. Olhe
através do ocular, folgue o parafuso lateral da mesa do telescópio onde está a rede e gire
um pouco essa mesa de modo que a linha verde amarelada volte a ficar centralizada com
relação ao retı́culo. Aperte levemente o parafuso para a rede não sair da posição.
0
Refaça as medidas de ✓1 , ✓1 e verifique se atingiu o objetivo. Caso contrário repita o
procedimento.
De agora em diante, não se deve mais tocar na rede. Se, acidentalmente, a rede sair de
posição por qualquer que seja o motivo, recoloque o telescópio na posição onde observou a
minimização da diferença entre os ângulos e reposicione a linha sobre o retı́culo girando a
mesa da rede.
A seguir, a posição angular ✓ das linhas será sempre calculada por
1 0
✓= T1 T1
2
0
isto é, basta ler a posição da linha, T1 , e a posição de sua simétrica, T1 .

Determinação da constante da rede


Para esse item você utilizará a linha verde amarelada intensa cujo comprimento de onda
vale 5461Å. Utilize as medidas já realizadas em primeira ordem e meça ainda as posições
dessa linha em ambos os lados, nos espectros de segunda e terceira ordem se forem visı́veis.

Determinação dos comprimentos de onda


O objetivo agora é determinar os comprimentos de onda das outras linhas do espectro em
primeira, segunda e terceira ordens se forem visı́veis. A medida que a ordem aumenta as
linhas ficam mais fracas e você só deverá enxergar as linhas mais intensas do espectro. Em
primeira ordem, você deverá enxergar duas linhas roxas (forte e fraca, bastante próximas),
20 EXP 1. RAIAS ESPECTRAIS E EXPERIMENTOS DE FRANCK-HERTZ

uma linha azul-roxo intensa, uma linha verde azulada (intensidade média), a linha verde
amarelada já medida e duas linhas amarelas alaranjadas. Possivelmente, a depender da
intensidade da lâmpada, você poderá ver uma linha verde azulada fraca, não é necessário
medi-la.
Faça uma tabela onde constem as cores e os ângulos medidos, em ambos os lados, para
as três ordens observadas (se forem visı́veis).

UMA VEZ FINALIZADAS AS MEDIDAS E CÁLCULOS PARA O MERCÚRIO, OB-


TENHAM OS COMPRIMENTOS DE ONDA, DOS OUTROS GASES. Atenção: Faça a
troca das lâmpadas com o maior cuidado possı́vel, evitando tocá-las com os dedos. Em caso
de dúvida chame o professor.

Determinação da abertura angular da linha


No cálculo do erro, intervém a metade da abertura angular da linha em radianos. Essa
abertura angular é a abertura angular da imagem da fenda do colimador. Para determiná-
la, observe a linha central e posicione o retı́culo, primeiro na borda esquerda e meça a
posição. Depois, na borda direita e meça a posição. A diferença entre essas duas posições
é a abertura angular da linha em graus sexagesimais.

1.3.5 Questões Complementares


A partir das medidas realizadas, respondam as questões abaixo:

• A partir das medidas realizadas com a linha verde amarelada do Hg determine os


valores para a constante de rede para as três ordens observadas (se foram visı́veis).
• Avalie o erro absoluto cometido na determinação da constante de rede para as ordens
observadas. O cálculo do erro deve levar em conta o erro da medida do ângulo (em
radianos) considerando que este erro é metade da abertura angular da linha somada
ao erro do vernier (um minuto de grau).
• Escreva corretamente o valor da constante da rede com o seu respectivo erro (com
apenas um algarismo significativo) para as três ordens. Qual valor da constante de
rede é mais exato?
• A partir das medidas efetuadas para as outras linhas espectrais e do melhor valor (o
que tiver menor erro) para a constante da rede, determine todos os comprimentos de
onda de todas as linhas para as diversas ordens visı́veis.
• Determine o erro em cada comprimento de onda. O cálculo do erro deve levar em
conta o erro na determinação da constante da rede e o erro na medida do ângulo.
• Escreva corretamente os valores dos comprimentos de onda para as diversas cores nas
ordens visı́veis. Expresse esses resultados em uma tabela. Analisando os erros, em
quais ordens os comprimentos de onda são determinados com maior exatidão?
• Compare a separação angular medida do espectro visı́vel de primeira ordem do Hg
com a separação angular esperada ( calculada a partir dos comprimentos de onda e a
equação
1.4. PARTE EXPERIMENTAL II: EXPERIMENTO DE FRANCK-HERTZ 21

• Utilizando as medidas do hidrogênio, calcule a constante de Rydberg

• Com as medidas do Hélio, faça um gráfico de sen ? em função de ? e obtenha o


valor da constante de rede d. Esta curva corresponde à curva de calibração deste
espectrômetro. Calcule o número de linhas por milı́metro e compare o resultado com
o valor nominal dado pelo fabricante. Discuta o erro.

1.4 PARTE EXPERIMENTAL II: Experimento de Franck-


Hertz
1.4.1 Lista de Materiais

Tabela 1.2: lista de materiais

- 1 módulo de controle (110V) - 1 chave de curto circuito


- 1 amplificador de corrente (110 V) - Termômetro digital equipado com fio termopar
- 1 forno com o tubo de Franck Hertz (110 V) de Ni-Cr
- 1 Fonte de tensão (110 V) - 1 voltı́metro
- 1 Interface com conversor AD (110 V) - 1 multiteste
- 1 cabo RS232 - 2 cabos tipo BNC
- 1 computador com o programa Measure instalado - cabos de ligação

1.4.2 Montagem
Monte o experimento de acordo com o diagrama da figura 1.11, mantendo a chave de curto
circuito fechada (posição |). Durante essa operação todos os equipamentos devem estar
desligados. O forno não deve estar próximo aos equipamentos.

- Ligue a Interface à entrada serial do computador usando o cabo RS232.

- Conecte um voltı́metro para ler a tensão de retardo Us. Conecte também outro
voltı́metro para ler a tensão da saı́da 0...50V da fonte.

- Insira o fio do termopar na entrada apropriada do forno, certificando-se que sua ponta
esteja bem no centro do dispositivo e não tocando nas paredes ou no tubo Franck Hertz.

- Ligue todos os equipamentos, verificando se todos os botões de controle da fonte tensão


se encontram na posição mı́nima.

- Abra o programa Measure e clique no ı́cone New Measurement. Um quadro semelhante


à figura abaixo aparecerá na tela. Configure os parâmetros de acordo com a figura.
22 EXP 1. RAIAS ESPECTRAIS E EXPERIMENTOS DE FRANCK-HERTZ

Figura 1.11: Diagrama esquemático das conexões do experimento de Franck-Hertz.

Nota: Para se evitar depósito de mercúrio na superfı́cie do catodo, é reco-


mendado que seu aquecimento (6,3 V) seja ligado 1 minuto antes de se ligar o
forno. Ao completar o experimento espere o forno esfriar para desligar a fonte
de tensão

1.4.3 Medidas
IMPORTANTE

Durante o processo de medidas, principalmente a temperaturas mais baixas,


fique observando o tubo de Franck Hertz. Se um brilho azulado aparecer entre
o cátodo e a grade, significa que um processo de ignição no tubo pode estar
iniciando. Isso pode provocar um curto circuito em seu interior, danificando-o
permanentemente. Feche imediatamente a chave de curto-circuito e diminua a
tensão de aceleração. Refaça a medida ajustando a tensão de aceleração para
um valor menor daquele no qual houve o inı́cio de ignição do tubo.
Se porventura aparecer camadas horizontais de uma fraca luz esverdeada,
não se preocupe, pois mostram apenas as frentes de choque dos elétrons com
os átomos de mercúrio.

- Mantendo a chave de curto circuito fechada, fixe a tensão de retardo em Us = 1,0V


e ajuste a tensão de aceleração em 50V. Ligue o forno e espere sua temperatura atingir
170 C. Tente mantê-la constante, girando o botão de controle de modo que a variação não
1.4. PARTE EXPERIMENTAL II: EXPERIMENTO DE FRANCK-HERTZ 23

seja maior que 5 C.


- A corrente coletada é da ordem de dezenas de nano Ampères, de forma que o amplificador
de corrente deve estar em fundo de escala dessa ordem de grandeza. Tente inicialmente a
escala de 0.1µA.
- Clique no botão Continue do programa de aquisição de dados. Uma nova tela surgirá.
Para iniciar o processo de aquisição de dados clique no botão Start measurement e abra
a chave de curto circuito, colocando-a na posição 0. Observe a leitura do canal Analog
1 e certifique-se que não ultrapassa 10V (os números ficam vermelhos). Caso isto ocorra,
significa que o fundo de escala foi ultrapassado. Interrompa a medida e a reinicie com um
fundo de escala maior.
- O processo de medida deve terminar quando a leitura do canal Analog 2 atingir a metade
da tensão de aceleração, isto é 25V. Este valor é atingido em cerca de 2 minutos. Clique no
botão Stop measurement e feche a chave de curto circuito, retornando-a para a posição |.
- Antes de prosseguir com outras medidas, crie uma pasta com seu nome (ou outro de sua
escolha!) na raiz e salve seu arquivo escolhendo na barra de menu a opção File ) Save
measurements as...
- Mantendo a temperatura em 170 C, repita a medida para outros valores de tensão de
retardo Us iguais a 0.1V, 2V e 3V. Salve os resultados.
- Faça um estudo da dependência do padrão com a temperatura, começando com 150 C
e em seguida baixando-a de 10 em 10 C, até um mı́nimo de 130 C. Para este estudo fixe
a tensão de retardo em Us = 2,0V. Fique atento ao possı́vel brilho no tubo. Salve seus
resultados.

Obs: Se a curva obtida no experimento não sair lisa e sim quebradiça, significa que o
fundo de escala usado no amplificador de corrente não foi adequado. Diminua o fundo de
escala e refaça a medida.

1.4.4 Questões Complementares


• 1. Determine a diferença de energia entre o estado fundamental e o primeiro estado
excitado do átomo de Hg usando os gráficos obtidos.

• 2. Observe as curvas obtidas com a variação da tensão de retardo. Aponte as dife-


renças e explique os resultados.

• 3. Faça o mesmo com as curvas obtidas com a variação de temperatura.

• 4. Estude o circuito utilizado (que vem desenhado na caixa de controle) para a


aceleração dos elétrons e trace o gráfico da tensão de aceleração X tempo. Qual é a
constante de tempo do circuito?

• 5. O gás de mercúrio é mantido à baixa pressão? O que ocorreria se fosse mantido à


alta pressão?

• 6. Como seria a curva I X V se não houvesse o mercúrio?

• 7. Porque os picos obtidos não são abruptos, se a energia de transição é bem definida?

• 8. Discuta a questão do brilho azulado e da ignição do tubo.


24 EXP 1. RAIAS ESPECTRAIS E EXPERIMENTOS DE FRANCK-HERTZ

1.4.5 Apêndice: Tratamento de dados


Exportando o arquivo
• Para a elaboração do relatório será necessário manipular os dados para a confecção
dos gráficos, inseri-los no documento, etc. Contudo, os arquivos salvos (cuja extensão
é .msr) só podem ser manipulados pelo software Measure, sendo necessário salvá-los
em outro formato. Para tanto, proceda de acordo com as instruções descritas abaixo.

• Os arquivos assim exportados constarão de 3 colunas: a primeira se refere ao tempo, a


segunda é a corrente e a terceira é a tensão de aceleração. No entanto será necessário
corrigir esses valores pelas seguintes razões.

• A leitura da tensão de aceleração (canal 2) é justamente a metade da tensão efeti-


vamente aplicada, pois a interface só pode ler um máximo de 30,0V. Um divisor de
tensão é usado na caixa de controle para essa tarefa.

• Por outro lado, o amplificador de corrente converte a corrente coletada em tensão, de


0,0 a 10,0V. Se, por exemplo, o medidor de corrente indicar 5,5V e o fundo de escala
for 1µA, o valor correto da corrente é 0,55µA = 550 nA . Você terá, portanto, que
corrigir o valor lido dividindo ou multiplicando por um fator que dependerá da escala
(µA ou nA) que você queira expressar seu resultado.

• Você pode corrigir esses valores usando um software apropriado, ou procedendo de


acordo com as próximas instruções.

Corrigindo valores
• Abra o programa Measure e em seguida abra um arquivo previamente salvo (de ex-
tensão .msr)

• Para corrigir o valor da tensão de aceleração, clique na barra de menus em Analysis


) Channel modification. No quadro Operations escreva a expressão x * 2; no quadro
Modify, marque a opção Right axis e no quadro Channel clique em overwrite. Clique
no botão Calculate para efetuar a modificação.

• Repita a operação para corrigir os valores da corrente. No quadro Operation o fator


multiplicativo dependerá do fundo de escala utilizado no amplificador de corrente,
bem como da unidade (ou melhor, do submúltiplo) de corrente escolhida. Assim,
se você usou um fundo de escala de 0,1µA e for escrever o resultado em nA, você
deve escrever a operação: x*10. Caso queira escrever este resultado em µA , escreva:
x/100. Clique também em Left axis e overwrite nos respectivos quadros.

• Você pode também colocar as unidades e os tı́tulos nos eixos. Para a corrente, por
exemplo, clique em Measurements ) Information. Selecione a pasta Channels e
escolha o canal Analog 1 e escreva nos quadros correspondentes: Title: Corrente,
Symbol: I e Unit: nA (ou µA, dependendo da escolha feita no item precedente).
Ainda nesta mesma pasta, escolha no quadro Channels o canal Analog 2 e escreva nos
quadros Title: Tensão, Symbol: U e Unit:V.

• Salvar mais uma vez o seu gráfico de maneira habitual.


1.5. EXERCÍCIOS 25

• Contudo, como acima dissemos o arquivo assim salvo só poderá ser manipulado pelo
Measure. Para salvar os dados de modo que você possa trabalhar com outros progra-
mas, clique em Measurement ) Export data. Selecione então as opções Destination:
save to file e Format: Export as numbers. Clique OK e salve seus dados no diretório
e nome adequados.
• Você notará que este ultimo arquivo constará de 3 colunas, ou seja, o tempo decorrido
(em ms), a corrente (em µA ou nA) e a tensão de aceleração (em V).

1.5 EXERCÍCIOS
• Exercı́cio 1: No modelo de Bohr para o átomo de hidrogênio, o elétron está em
constante movimento. Como pode tal elétron ter uma quantidade de energia negativa?
• Exercı́cio 2: Explique porque o espectro do hidrogênio tem tantas linhas, embora o
átomo de hidrogênio possua apenas um elétron.
• Exercı́cio 3: Relacione as diferentes séries do espectro do hidrogênio com as possı́veis
transições do elétron dentro do átomo (faça um desenho esquematizando estas transições).
Explique então porque devemos ter a condição n > m na equação de Balmer-Rydberg-
Ritz.
• Exercı́cio 4: Um próton e um elétron, ambos inicialmente em repouso, se combinam
para formar um átomo de hidrogênio no estado funda- mental. Um único fóton é
emitido neste processo. Qual é o seu comprimento de onda?
• Exercı́cio 5: Encontre o comprimento de onda da linha espectral que corresponde a
uma transição no hidrogênio do estado n = 6 para n = 3. Em que parte do espectro
se encontra esta linha?
• Exercı́cio 6: Quanta energia é necessária para ionizar um átomo de hidrogênio quando
ele está no estado n = 4?
• Exercı́cio 7: No modelo de Bohr para o átomo de hidrogênio, qual é a maior velocidade
que um elétron pode ter? E qual a menor velocidade?
• Exercı́cio 8: Compare a frequência orbital de um elétron no estado n = 3 com as
frequências possı́veis para ele irradiar.
• Exercı́cio 9: Use o modelo de Bohr para calcular o tamanho do átomo se a força
gravitacional fosse responsável por manter o elétron em órbita em torno do próton.
Determine também a energia do estado fundamental e a velocidade do elétron neste
estado.
• Exercı́cio 10: Um átomo de hidrogênio, inicialmente no seu estado fundamental, é
ionizado pela absorção de um fóton com energia de 15 eV. Calcule a energia cinética
do elétron que pertencia a esse átomo num referencial fixo no núcleo.
• Exercı́cio 11: Um estudante de Fı́sica diz que uma amostra de hidrogênio a alta
temperatura emite fótons com as seguintes energias: E1 = 16,93 eV, E2 = 10,15 eV,
E3 = 3,39 eV e E4 = 0,65 eV. Discuta essa afirmativa.
26 EXP 1. RAIAS ESPECTRAIS E EXPERIMENTOS DE FRANCK-HERTZ

• Exercı́cio 12: Considere um átomo de hidrogênio e um átomo de hélio uma vez ioni-
zado, isto é, que perdeu um elétron. (a) Calcule o raio da órbita mais próxima do
núcleo para esses dois átomos. (b) Calcule as correspondentes energias.
• Exercı́cio 13: (a) Mostre que no estado fundamental do átomo de hidrogênio a velo-
cidade do elétron pode ser escrita como v = ?c, onde ? é a constante de estrutura
fina. (b) A partir do valor de ?, o que se pode concluir sobre o fato de se desprezar
os efeitos relativı́sticos nos cálculos de Bohr?
• Exercı́cio 14: Mostre que a frequência de revolução de um elétron para o átomo de
hidrogênio no modelo atômico de Bohr é ? = 2—E—, onde E é a energia total do
elétron.
• Exercı́cio 15: Calcule a energia necessária para remover um elétron de um átomo de
hélio ionizado (Z=2) utilizando o modelo atômico de Bohr. Resp.: 54, 4 eV .

1.6 BIBLIOGRAFIA
[1] R. Eisberg, R. Resnick: Fı́sica Quântica. Editora Campus, Rio de Janeiro, Brasil, 1988.
[2] A.C. Melissinos: Experiments in Modern Physics. Academic Press, Boston, USA, 1966.
[3] Laboratory Experiments in Physics, 5.1.10, Phywe Systeme GmbH, Göttingen, 1999.
[4] J. Leite Lopes, A Estrutura Quântica da Matéria: do átomo pré-socrático às partı́culas
elementares. Editora UFRJ; Academia Brasileira de Ciências; Editora Erca, 1992.

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