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IMUNIDADE PARLAMENTAR NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Inicialmente, cabe informar que a Imunidade Parlamentar se trata da


proteção havida pelos membros do Congresso Nacional nos atos que estes
realizarem quando exercem sua função, conforme disciplina o artigo 53 da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988): “Art.
53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.”.
Este instituto visa proteger as instituições legislativas, de modo a
assegurar ao povo que os representantes que estes elegeram, isto é, ao
determinar que aqueles investidos nos cargos de senadores e deputados
podem exprimir suas opiniões, expressões, ideias e pensamento enquanto
exercem sua função sem serem limitados pela repressão advinda da lei este
mecanismo garante que aqueles escolhidos por quem detém e emana todo
poder possam, factualmente, expressar aquilo que demonstraram em suas
campanhas e promessas.
Contudo, o conceito de imunidade parlamentar trata-se de feito muito
mais complexo, Pedro Lenza (2022) define-o como a junção de direitos
aplicáveis e destinados aos indivíduos que exercem a função oriunda do Poder
Legislativo, a fim de garanti-los a liberdade de expressão natural da pessoa
que necessita expressar opinião e o consequente pleno desempenho do cargo
a ele conferido.
Por outro lado, Naiara Regina Hermógenes de Oliveira, em sua obra
“Imunidade Parlamentar: Garantia ou Privilégio” (2017, p. 2 e 5), prefere definir
que:

Imunidade parlamentar tem como pressuposto a proteção das


instituições para o exercício da função representativa do povo, bem
como o fortalecimento do Poder Legislativo ante os Poderes
Executivo e Judiciário.
(...)
Desta feita, são as imunidades garantias ao exercício do mandato
legislativo que assegura o livre direito a pronunciamentos, palavras,
votos e opiniões no âmbito das atribuições parlamentares, como o
objetivo de resguardar o Legislativo, bem como assegurar a
autonomia e independência ante aos outros poderes. Sendo este um
dos principais fundamentos à separação dos poderes, difundida por
Montesquieu, harmônicos e independentes entre si, garantindo que
não haja excessos ou abusos de um poder sobre o outro.
Aduz-se, deste modo, que há, apesar de um determinado debate, um
objetivo mais ofuscante, qual seja a necessidade de garantir ao legislador a
possibilidade de legislar plenamente, não apenas ao produzir normas como
resultado final, mas sim no que se relaciona com o processo de criação
completo, entre a proposição, a definitiva análise, seja ela de ordem
orçamentária ou de ordem material, concebendo um ambiente propício para
que o faço, evitando interrupções de cunho repressivo neste processo.
Por outro lado, tal instituto oferecido, quando na prática, torna-se
indevidamente utilizado, sendo que aqueles que gozam desta imunidade
passam a compreender que, por obterem-na, não são passíveis de responder
legalmente.
Tal imunidade, contudo, trata-se de uma proteção material ao proferido
pelos membros do Congresso, não sendo de característica unicamente formal,
mas sim afetando também à matéria, conforme disciplina por Alexandre de
Moraes (2019, p. 524), in verbis:

[...] na independência harmoniosa que rege o princípio da Separação


de Poderes, as imunidades parlamentares são institutos de vital
importância, visto buscarem, prioritariamente, a proteção dos
parlamentares, no exercício de suas nobres funções, contra os
abusos e pressões dos demais poderes; constituindo-se, pois, um
direito instrumental de garantia de liberdade de opiniões, palavras e
votos dos membros do Poder Legislativo, bem como de sua proteção
contra prisões arbitrárias e processos temerários.

Destarte, o gozo deste direito não é absoluto e uno, vez que é passível
de perda nos casos previstos nos artigos 54 e 55 da Constituição Federal
(BRASIL, 1988), bem como seus incisos, vejamos:

Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão:


I - desde a expedição do diploma:
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público,
autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou
empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato
obedecer a cláusulas uniformes;
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive
os de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes
da alínea anterior;
II - desde a posse:
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze
de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito
público, ou nela exercer função remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas
entidades referidas no inciso I, "a";
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a
que se refere o inciso I, "a";
d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:


I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo
anterior;
II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro
parlamentar;
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça
parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença
ou missão por esta autorizada;
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta
Constituição;
VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em
julgado.

Deste modo, há um rol taxativo das hipóteses que levam à perda de tal
prerrogativa de função por parte de um parlamentar, todavia, conforme
disciplina o professor Amaral Junior (2015, p. 13), há uma complicação
considerável nos julgamentos acerca deste tema, vez que se confundem, na
esfera prática, o cumprimento de decisão judicial e punição ao legislador que
houver cometido um crime com o cerceamento da liberdade de expressão e
com os ideais que tal membro do Congresso manifesta, in verbis:

[...] não facilita a interpretação das normas envolvidas no assunto


examinado. A abordagem mais simples resulta confiar à decisão da
Casa parlamentar respectiva a perda do mandato do parlamentar
condenado criminalmente com trânsito em julgado. Claro, daí resulta
a possibilidade – sim, inusitada – de cidadão (ainda) detentor de
mandato parlamentar ser recolhido à prisão para cumprimento de
condenação criminal transitada em julgado. Essa é uma possibilidade
– já havida na vida prática – que constrange o ideal de higidez das
instituições políticas (que evidentemente passa pela firme retidão dos
seus membros). Porém, ao mesmo tempo, afirma de modo claro uma
característica elementar da república democrática: todos são iguais
perante a lei, inclusive os detentores de poder (inclusive de poder
eletivo).

Considerando as dificuldades levantadas acerca deste instituto, bem


como tendo sua definição e breve explicação, analisar-se-á a prisão efetuada
em face do Deputado Daniel Silveira.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional-Esquematizado. Saraiva Educação


SA, 2022.

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. São Paulo: Atlas, 2019.

OLIVEIRA, Naiara Regina Hermógenes de. Imunidade Parlamentar: Garantia


Ou Privilégio. Caderno Virtual, v. 1, n. 38, 2017.

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