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DOI:10.34117/bjdv6n7-225
Jadson Justi
Mestre em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco
Professor da Universidade Federal do Amazonas
Estrada Parintins Macurany, n. 1.805, Jacareacanga, Parintins, AM, Brasil
E-mail: jadsonjusti@hotmail.com
RESUMO
O objetivo deste estudo é apontar possíveis influências da série clássica do anime Saint Seiya na
geração de jovens da década de 1990. Justifica-se a realização desta pesquisa pela presente temática
ser um marco na história do entretenimento de uma geração de cidadãos brasileiros. Leva-se em
consideração o fator retrospectivo e cronológico de Saint Seiya como suporte para a lógica de
acontecimentos e possibilidade de correlação existente entre o anime e seu público.
Metodologicamente, esta pesquisa enquadra-se como um ensaio teórico realizada por meio da coleta
de informações com base na literatura, depoimentos de fãs, fóruns de discussões e plataformas
midiáticas. Conclui-se que Saint Seiya, mais que um fenômeno social, pode ser considerado um marco
ainda atual após décadas de sua vinda para o Brasil. A grande influência positiva na geração de jovens
da década de 1990 foi no comportamento e no emocional dos telespectadores de Saint Seiya de forma
a contribuir na formação da personalidade infantojuvenil da época, principalmente no que tange aos
aspectos de liderança, superação, honestidade e sabedoria.
ABSTRACT
The aim of this study is to point out possible influences of Saint Seiya on young people in the 1990s.
This research is justified because it is a landmark in the history of entertainment for Brazilian citizens.
The retrospective and chronological factor of Saint Seiya is taken into account with regard to events
and the possibility of correlation between anime and its audience. Methodologically, this research fits
as a theoretical essay accomplished through the collection of information based on the literature,
testimonials from fans, discussion forums and media platforms. It is concluded that Saint Seiya, more
than a social phenomenon, can be considered a landmark still present after decades of his coming to
Brazil. The great positive influence on the generation of young people in the 1990s was in the
behavior of viewers in order to contribute to the formation of the personality of both children and
youth at the time, especially with regard to aspects of leadership, overcoming, honesty and wisdom.
Figura 1 - Saint Seiya: (a) os cinco cavaleiros de bronze; (b) os cavaleiros reunidos com Athena, no Santuário
(a) (b)
Fonte: Arboés (2019) e Cavzodíaco (2011).
[...] apesar de muita gente criticar o Seiya, aprendi com ele uma lição importante, de que mesmo
que a vida te derrube várias vezes você nunca deve desistir. Eu sei que é uma frase bem clichê, mas,
graças a sua persistência sempre me motivou a seguir em frente. Por isso, Seiya é meu personagem
favorito [...] (BARROS, S., 2019).
Assim, pode-se inferir, por meio de raciocínio indutivo, que Seiya influenciou uma legião de
pessoas em decorrência de sua personalidade indestrutível, tanto pessoas que fizeram parte da geração
de 1990, como também a geração contemporânea, principalmente por ser um cavaleiro perseverante
que zela pela amizade.
Os valores vinculados à personalidade do cavaleiro de Pégaso, como a perseverança e a
valoração da amizade, tornaram-no muito querido e admirado pelos fãs, de forma a influenciar o
comportamento destes, já que Seiya costuma “soar a camisa”, chorar e crescer pelo seu próprio
esforço, como acontece no dia a dia de muitos brasileiros.
[...] o Shun de Andrômeda (armadura rosa), era meu preferido. Uma escolha pouco óbvia, já
que o personagem talvez seja o que mais desagrada os fãs da série por ele conter características
mais ‘femininas’. Nunca me importei com isso, lembro até de ganhar uma camiseta estampada
com ele [quando criança] [...].
Mesmo sendo zombado, desacreditado e ser considerado o mais fraco de todos os cavaleiros,
Shun continua o mesmo. Passam todas as batalhas e ele não muda; segue acreditando no melhor
do ser humano e sendo fiel a si mesmo e a seus amigos, mesmo que isso custe sua vida.
(FRANCISCHI, 2014).
Com base no depoimento anterior, percebe-se que Shun é o humano mais bondoso a nascer
no século atual de Saint Seiya. Logo, ele não consegue lutar contra os oponentes com objetividade e
frieza. Shun é um cavaleiro muito misericordioso e seus delicados traços faciais e sua personalidade
pacífica o fazem parecer muitas vezes covarde pelos adversários, mas, na realidade, é uma forma que
encontrou para esconder sua natureza forte (KURUMADA, 2004). Por esses motivos, a personalidade
de Shun inspira bondade em um mundo no qual as pessoas podem viver em harmonia sem ferir umas
às outras.
Tem-se também, Shiryu de Dragão, que possui uma personalidade de seriedade e não teme
oferecer a sua vida aos adversários por uma causa justa (KURUMADA, 2004). Tanto é que, nos
combates, não é raro vê-lo com ferimentos graves e sérias hemorragias. Por duas vezes, perdeu a
visão em acontecimentos contra Algol de Perseu (cavaleiro de prata), na Batalha do Santuário e
Krishna de Crysaor (cavaleiro marina), na batalha de Poseidon. Todavia, nem a cegueira foi capaz de
apagar seu espírito de luta. Na realidade, ele se tornou ainda mais poderoso após esses
acontecimentos. Nesse sentido, muitos admiradores acabaram tendo um apreço por Shiryu por causa
de sua honestidade, honra e sacrifício.
[...] Quando eu tinha 7 anos, meu irmão me perguntou por que eu estava deixando o cabelo
crescer, eu disse que queria ter um cabelo grande como o Shiryu.
Pode-se observar na escrita anterior uma grande admiração pelo personagem Shiryu. O
cavaleiro de bronze, durante muitas batalhas no anime, acabou retirando sua própria armadura,
ficando com o corpo desprotegido, só para desenvolver um cosmo mais poderoso a ponto de superar
adversários poderosos, mesmo sofrendo ataques corporais diretamente. Quando Shiryu está em
combate, a simples vontade de testar os ensinamentos do seu mestre vai se transformando em um
objetivo maior de proteção à justiça em nome da amizade (KURUMADA, 2004). Portanto, acaba se
tornando uma personalidade dotada de força e sabedoria, inspirando muitas pessoas a encontrarem
suas verdadeiras forças na coragem e na astúcia.
Outro cavaleiro de bronze de grande protagonismo é chamado de Hyoga de Cisne, o mais
racional do grupo, no entanto, possui um lado emotivo que não consegue abandonar (KURUMADA,
2004). Hyoga é muito apegado às memórias afetivas da sua falecida mãe, a Russa Natássia, que
morreu durante um naufrágio no mar congelado da Sibéria Oriental. Por isso, Hyoga carrega em sua
armadura um terço que representa a cruz do Norte, em um gesto de fé pela memória da sua mãe.
Diante disso, infere-se que a frieza de Hyoga encoberta sua maior tristeza.
Todos os cavaleiros eram órfãos, mas só Hyoga tinha a mãe sendo sempre mostrada [...].
Hyoga tinha perdido alguém, como eu. Eu me imaginava sendo um cavaleiro que sempre
batalharia pensando em alguém que eu havia perdido muito cedo, como ele.
Depois de um tempo, notei que havia outro traço que me marcava bastante. O fato de Hyoga
ter superado os seus mestres. Sempre admirei isso de alguma forma e guardei para o meu
futuro. Tudo que aprendo, tento desenvolver o suficiente para alcançar aquele que me ensinou.
(ARBOÉS, 2019).
Segundo o depoimento anterior, Hyoga de Cisne simboliza todas as pessoas que perderam
alguém importante e precisaram superar a dor de perdê-las. Por isso, Hyoga é outro cavaleiro de
bronze que pode ter contribuído para mudar a atitude de muitas pessoas, encorajando-as a superar
suas maiores fraquezas emocionais e perdas precoces de familiares.
Com o coração gélido, Hyoga leva o frio do zero absoluto (-273,15 °C) sob as asas do cisne
(KURUMADA, 2004). Ao longo do anime, ele vai superando suas principais emoções e se torna
emocionalmente mais forte. Principalmente quando enfrenta seu próprio mestre, Camus de Aquário,
na batalha do Santuário. Camus ensina Hyoga a seguir com seus ideais sem se abalar com as emoções,
porque, segundo ele, os sentimentos tornam as pessoas fracas. Hyoga, portanto, torna-se o cavaleiro
mais prodigioso no controle da temperatura e emoções.
Quando eu era criança, não tive a oportunidade de comprar um boneco dos cavaleiros, pois
eram caros, para os padrões econômicos da época. No lugar onde eu morava, o melhor ‘rolê’
depois do desenho era brincar com a palha de aço que colocávamos na antena da televisão para
o sinal melhorar. Eu colocava fogo na palha de aço, segurava nas mãos, dava golpes no ar e
saia gritando “Ave Fênix”. (METEORO BRASIL, 2017).
Um fator de atração para fãs terem se identificado com Ikki reside no fato de ele, desde
criança, precisar desenvolver um cosmo poderoso para proteger seu irmão recém-nascido (Shun),
com uma força que demonstrava ser maior que a de um homem adulto comum. Ikki representa os
brasileiros que precisaram cuidar de irmãos recém-nascidos sem o acompanhamento dos pais. E, por
ser considerado o cavaleiro de bronze mais forte, acabou se tornando o preferido de muitas crianças
da década de 1990, pois é comum crianças se espelharem em personagens poderosos e com
protagonismo de heróis.
Diante das menções anteriores que versam sobre os cinco cavaleiros de bronze e a
apresentação de depoimentos que sugerem forte influência em uma geração, têm-se alguns
acontecimentos ao longo do anime que possivelmente tiveram notável alcance ao público brasileiro,
por exemplo, o treinamento intenso dos cavaleiros que os fez se afastarem de pessoas que amam para
adquirirem força o suficiente para sobreviverem às adversidades. Isso lembra todos os brasileiros que
precisam, muitas vezes, mudar de cidade e abandonar suas próprias famílias com o intuito de trabalhar
e estudar, na esperança de um dia poderem retornar as suas origens e propiciarem melhores condições
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A condição histórica e mitológica dos cavaleiros do zodíaco, que se reúnem em média a cada
250 anos, resiste às barreiras do tempo e eterniza a iconicidade de um anime que está presente de
forma ímpar na memória de uma geração de telespectadores brasileiros. O anime Saint Seiya, mais
que um fenômeno social, pode ser considerado um marco ainda atual após décadas de sua vinda para
o Brasil. O protagonismo dos cinco cavaleiros de bronze trouxe, de fato, contribuições ao universo
de milhares de pessoas não somente em território latino-americano, mas de outras grandes regiões ao
longo do mundo. A grande influência positiva na geração de jovens da década de 1990 foi no
comportamento e no emocional por meio da personalidade única de Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun e
Ikki de forma concomitante apresentada em um único anime. Menciona-se que, também, por meio
de acontecimentos e tramas na história de Saint Seiya, pode-se aferir certa contribuição na formação
da personalidade infantojuvenil da época, principalmente no que tange aos aspectos de liderança,
superação, honestidade e sabedoria dos personagens.
Nesse sentindo, o objetivo deste trabalho foi atingido de forma satisfatória, pois a série
clássica do anime em questão influenciou consideravelmente uma geração de pessoas por meio de
um fenômeno social que foi capaz de transformar comportamentos e emoções. Tal consideração é
confirmada nos vários depoimentos apresentados ao longo deste manuscrito e também pela vivência
empírica com fãs do respectivo anime. Menciona-se, ainda, que os novos telespectadores estão
lidando com o respectivo anime como algo extremamente válido no que diz respeito aos valores
humanos e imensa diversão proporcionada pela obra de Masami Kurumada. Confirma-se, também, a
assertividade da hipótese deste estudo ao se descreverem as características de cada personagem e
acontecimentos da série que influenciaram uma geração.
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