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1. INTRODUÇÃO
1.1. Historial
Em África, a batata-doce foi trazida no século XVI pelos mercadores de escravos. É considerada
importante fonte de alimento, porque constitui uma cultura base para a população. Além de ter
excelente aceitação pelo seu sabor, pode-se aproveitar a planta na sua totalidade consumindo-se as
cascas, tubérculos cozidos e utilizando as folhas para preparação tradicional do ‘caril’. A batata-doce
é apropriada para fazer face à insegurança alimentar e nutricional que os países têm enfrentado
devido às secas e cheias (INIA, 1990).
Por norma, para a produção de um hectare são necessários 33.000 ramas de 20 a 30 centímetros. Os
tubérculos podem ser colhidos entre 3 e 8 meses depois do plantio; algumas das variedades mais
precoces atingem a maturidade 3 meses depois do plantio, outras variedades, normalmente atingem
a maturidade a partir de 4,5 a 5 meses após o plantio.
Os tubérculos da batata-doce podem ser colhidos por um período de muitos meses, quer em partes
(i.e. tirando alguns tubérculos de cada planta e deixando outros que se continuarão a desenvolver)
ou, colhendo em diferentes parcelas do campo ou colhendo diferentes variedades em diferentes
momenttos (Stathers et al; 2012).
Desde o ano 2000 que se tem verificado rendimentos que variam de 12 a 15 toneladas por hectare,
por ano, devido à introdução de novas variedades que são estáveis e mais produtivas. Aliado a este
Após as cheias de 2000 que provocaram muitos danos em Moçambique, a população foi incentivada
pelo Ministério da Agricultura a cultivar certas culturas alimentares para subsistência, incluindo a
batata-doce. Foi neste âmbito, que propagou-se a produção da batata-doce no país, sobretudo na
zona sul.
Nos últimos cinco anos, a produção da batata-doce progrediu e regrediu (como ilustra a tabela 1)
devido à falta do material vegetal, perda do vigor produtivo das variedades, introdução de novas
variedades antes de se ter conhecimento sobre as condições climáticas óptimas para cada
variedade. Outro factor que levou à variação da produção, foi a escassez de chuvas.
1. Frescas, sem tratamento, e cobertas num lugar escuro dentro de casa. Dependendo da sua
condição inicial e temperatura, as raízes podem aguentar entre 2 a 6 semanas, mas o nível
de infestação pelo gorgulho e ratos é frequentemente muito alto.
2. Frescas, com as raízes colocadas nos buracos, e alternando as raízes com camadas de
cinza (prática do Malawi). As raízes são postas nos buracos imediatamente após a
colheita ou, alternativamente, 1 dia após a cura ao sol directo.
3. Em pedaços, secos: depois de serem cortados em pedaços finos e secos directamente ao
sol durante alguns dias. Para consumir é necessário reidratar os pedaços secos.
Com esta pesquisa, pretende-se saber como é que a interação entre os intervenientes da cadeia de
valor da batata-doce pode melhorar o seu funcionamento e aumentar os níveis de renda, bem como
intensificar a produção da batata-doce de polpa alaranjada.
1.6. Objectivos
Geral
• Estudar o funcionamento da cadeia de valor da batata-doce no sul de Moçambique,
particularmente nas províncias de Gaza e Maputo.
2. METODOLOGIA
Para a realização do trabalho referente à cadeia de valor da batata-doce, privilegiou-se a seguinte
metodologia:
• A natureza da pesquisa é classificada como uma pesquisa aplicada, pois visa compreender a
situação actual e, com base nos conhecimentos adquiridos, propor soluções de problemas
específicos existentes na cadeia de valor.
• Os objectivos do trabalho classificam-se em pesquisa descritiva pois visa descrever as
características de cada interveniente da cadeia de valor da batata-doce. A pesquisa
bibliográfica (livros e manuais publicados) auxiliou o trabalho.
• A abordagem do problema classifica-se parcialmente em qualitativa, pois visa descrever o
funcionamento da cadeia de valor na zona sul do país. Parcialmente é quantitativa, pois
foram feitas análises estatísticas das informações colhidas no campo por meio de
questionários dirigidos a 47 intervenientes (nove produtores, quatro grossistas, catorze
retalhistas e vinte consumidores) e entrevistas dirigidas a instituições governamentais
(SDAE1, CIP2, DPA3) em Gaza e Maputo. O inquérito aos consumidores foi conduzido nos
distritos de Chibuto, Bilene, e Maputo (mercado do Zimpeto). A interação com os
intervenientes da cadeia de valor ajudou a perceber a situação real, bem como as
dificuldades enfrentadas pela cadeia.
A figura 1 mostra de forma detalhada as principais funções e as funções de suporte que interagem
na cadeia de valor, conforme demonstrado pela pesquisa feita nas províncias de Gaza e Maputo.
1
Serviços Distritais de Actividades Económicas.
2
Centro Internacional de La Papa.
3
Direcção Provincial de Agricultura
Fornecedor CIP
de ramas vizinhos
Bancos Pequenos
Financiadores de
FDD
Produtor
crédito
IIAM Agentes de
CIP pesquisa Grossista
Transportadores
Retalhista
Motobombas, Equipamento
Consumidor
final
De acordo com a figura 1, o produtor adquire as ramas do fornecedor (CIP, IIAM4 e produtores
vizinhos). Após a produção vende ao grossista, retalhista e ao consumidor final. O grossista por sua
vez, adquire a batata-doce do produtor, e revende-a ao retalhista e consumidor final. O retalhista
adquire a batata do produtor e do grossista, e revende-a ao consumidor final. Por fim, o consumidor
final adquire a batata-doce do produtor, grossista e do retalhista.
Esta ligação dos intervenientes é importante visto facilitar o escoamento do produto e a influencia
na produtividade. Desta forma, nota-se que a cadeia de valor apresenta distorções desde o
produtor, até ao consumidor final, pois o consumidor adquire a batata do retalhista, grossista e do
produtor, o retalhista e o grossista adquirem do produtor, e isto pode interferir na comercialização.
4
Instituto de Investigação Agrária de Moçambique
Fornecedores de ramas
Nas províncias de Gaza e Maputo, os agricultores adquirem as ramas dos produtores vizinhos e do
CIP a custo zero. O CIP fornece ramas a nível nacional através dos DVM5, que por sua vez distribuem-
nas aos pequenos agricultores.
Esta instituição enfrenta algumas dificuldades na multiplicação das ramas, como é o caso de algumas
pragas e doenças que atacam as folhas da batata-doce, e a existência de roedores que atacam o
tubérculo.
Produtor
Das diversas variedades disponíveis, as cultivadas são: Irene, Bela, Cecília, Tio Joe, Melina, Sumaia,
Lurdes e Délvia, sendo esta última a mais produtiva nas províncias de Gaza e Maputo.
Para a produção, os agricultores das duas províncias afirmam não usarem fertilizantes a não ser
alguns fitofármacos para o combate de pragas. A batata-doce, é atacada muitas vezes por pragas
como: Anticarsia gemmatalis (lagartas, como a lagarta enroladora Coccinella septempunctata
(joaninha), Milipede (maria-café), roedores (como toupeira ou rato do campo), Tropidacris grandis
(gafanhoto gigante, localmente chamado por banzala) e Plutella xylostella (a traça-da-couve). Outras
pragas incluem o gorgulho, o pulgão da batata-doce, a traça/borboleta da batata-doce (Acraea
acerata), o nemátodo-da-galha, os afídeos, a mosca-branca e os ácaros.
5
Multiplicador descentralizado (representates do CIP a nivel distrital).
Grossista
No mercado da batata-doce a nível da zona sul do país, regista-se um número reduzido de grossistas
devido à escassez do produto. Estes, para além de venderem a batata-doce vendem outros
produtos. Dos entrevistados, os que sempre desempenham papel de grossista são quatro sendo
todas elas mulheres, com uma idade que varia entre os 31 e os 62 anos de idade. Estes grossistas
afirmam adquirir o produto no distrito de Manhiça e na localidade de Bobole (distrito de
Marracuene).
Das províncias escaladas, apenas Maputo é que possui grossistas. Estes adquirirem a batata-doce a
um preço que varia entre 300,00 MT a 400,00 MT por saco incorrendo num custo de 50,00 Mt para
transporte e 5,00 MT de taxas diárias do mercado. O saco de 50 kg é comercializado pelo grossista a
um preço que varia de 450,00 MT a 600,00 MT dependendo do tamanho, variedade da batata-doce
e também da procura.
Retalhista
A batata-doce é vendida em pequenos montes a um preço que varia de 10,00 MT a 50,00 MT, com
um peso entre de 2 a 3 kg. Este preço depende da variedade, tamanho, qualidade e época de
produção. Num saco de 50 kg, a receita prevista varia de 650 a 700,00 MT dependendo da época.
As condições de comercialização não são apropriadas pois é dada pouca importância a este produto
nos mercados, uma vez que as pessoas que o vendem por vezes encontram-se em locais sujos. Estas
situações foram verificadas no mercado grossista do Zimpeto em Maputo onde o lixo é depositado
em locais impróprios.
Consumidor final
Os consumidores afirmam que a batata-doce é nutritiva e contém vitaminas essências para o
organismo. Eles consomem todas as variedades, mas a que mais procuram é a batata-doce de polpa
alaranjada por possuir maiores teores de vitamina “A”.
A batata-doce é comprada por indivíduos de ambos os sexos, e que consideram como acessível o
preço praticado pelos retalhistas; a qualidade é considerada boa. A batata-doce é consumida cozida,
por todas as faixas etárias e ambos os sexos.
Agentes de pesquisa
O Centro Internacional da Batata, em parceria com o Instituto de Investigação Agrária de
Moçambique (IIAM), faz pesquisas de novas variedades de batata-doce com ensaios em Chimoio,
Lichinga e Angónia. Um estudo feito em 2008, visava melhorar as variedades. Após o término do
processo de melhoramento, foi feita a disseminação ou propagação. O CIP investiga o teor
nutricional da batata-doce quando sujeita a diferentes fertilizantes e a diferentes técnicas de plantio.
Transportadores
Os grossistas, têm transportado batata-doce em grandes quantidades do produtor para o mercado,
onde é cobrado um preço mínimo de 50,00 MT por saco; o mesmo preço é praticado pelos
vendedores a retalho.
Receitas
Custos Retorno Margem Valor Percentagem
Actor da Cadeia (preço de
Variáveis bruto Bruta acrescentado do valor
venda)
V. Acrescido/
(C/B) x P.Venda–P.
A B C=B-A preço a retalho
100 Compra
X 100
4. OPORTUNIDADES
No estudo referente à cadeia de valor da batata-doce foram identificadas as seguintes
oportunidades para alguns intervenientes ou áreas da cadeia:
Processamento: a batata-doce é um tubérculo que pode ser usado para confeccionar diversos
produtos, como é o caso de biscoitos, bolos, sumos, apas e outros. Verifica-se assim uma boa
oportunidade na área de processamento da batata-doce para a produção de diversos produtos.
Grossista: Após uma análise profunda da cadeia de valor da batata-doce, constatou-se que existem
poucos grossistas a actuarem no mercado. Assim, surge a possibilidade de entrada de novos
grossistas no mesmo.
5. CONCLUSÕES
A batata-doce, principalmente da polpa alaranjada, tem uma extrema importância no que se refere
à nutrição humana, uma vez que é rica em vitamina "A". Este aspecto é pouco conhecido pela maior
parte da população rural devido à falta de informação sobre o valor nutritivo do produto.
Durante a pesquisa, foram identificados como actores principais da cadeia de valor da batata-doce,
os produtores, os grossistas, os retalhistas e os consumidores.
Para além de existirem agentes de distribuição gratuita principalmente das variedades de batata-
doce de polpa alaranjada, a transferência da rama é feita de agricultor para agricultor, sendo este o
principal meio de propagação ou de aquisição do material. Os produtores entrevistados ocupam
áreas que variam de 0,15 a 2 hectares e a produção é destinada ao consumo e à venda.
Como limitações encaradas podem destacar-se a insuficiência de dados referentes aos custos de
cada interveniente, facto que dificultou o cálculo da margem financeira do produtor durante a
pesquisa. Não foi possível obter todos os dados referentes aos custos incorridos pelo produtor, facto
que dificultou o cálculo das suas margens financeiras.
6. RECOMENDAÇÕES
Aos produtores: devem evitar a mistura de variedades durante a produção de modo a que tenham
maior controle das suas culturas.
Ao Ministério das Obras Públicas e Habitação: devem melhorar as vias de acesso para o
escoamento da batata-doce e circulação dos diferentes intervenientes.
Aos Serviços Distritais de Actividades Económicas: devem fazer o acompanhamento aos produtores
de batata-doce através dos serviços de extensão.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Andrade, A., low, J., Naico, A., Ricardo, J., Sandramo, A e Zano, f. (2012). Manual sobre o Cultivo
da Batata-doce: Aspectos sobre produção da batata-doce em Moçambique. Maputo-
Moçambique.
2. GIL, A. C. (2006), Técnicas de Investigação m ciências Sociais.. 5ª ed. Editora Atlas S.A
5. STATHERS, T. LOW, J. MWANGA, R., CAREY, T., DAVID, S., GIBSON, R. NAMANDA, S. MCEWAN,
M., BECHOFF, A., MALINGA, J., KATCHER, H., BLANKENSHIP, J. ANDRADE, M., AGILY, S e ABIDIN,
E (2012). Everything you Ever wanted to know about sweetpotato: Reaching Agents of ToT
Manual. International Pototoe Cester. Nairobi, Kenya. Pp293+vii.