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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

FACULDADE DE DIREITO – ESCOLA DO PORTO


DIREITO DA FAMÍLIA
(Rita Lobo Xavier/Ana Raquel Madureira Pessoa/André Almeida Martins/Nuno Alonso Paixão)
Época ordinária 2017.06.21
Tempo disponível: 2.30 horas
As respostas aos Grupos I e II devem constar de folhas separadas
Os alunos estão autorizados a consultar qualquer legislação avulsa

I (9 valores)
Francisco Marcolino casou-se com uma mulher que tem metade da sua idade e com quem vive há 30 anos, tendo
inicialmente sido contratada como empregada. O casamento foi celebrado em 04 de maio de 2017, no Registo Civil de
Ribeira de Pena, a mais de 150 quilómetros de Bragança, pois, naquela cidade todos os conservadores se recusaram a
celebrá-lo.
Os filhos de Francisco entendem que o casamento não é válido, afirmando que o pai foi independente até há cinco
anos, mas que, desde aí, o seu estado de saúde agravou-se, com vários episódios de urgência no Hospital de Bragança,
sendo referido, nos respetivos relatórios médicos, que apresenta "síndrome demencial", que é "totalmente dependente" e
que é acompanhado "por uma empregada que fornece a história" do doente. (Caso adaptado de notícia recolhida em
http://www.cmjornal.pt/portugal).
a) Proceda ao enquadramento desta situação à luz do que estudou sobre o conceito jurídico de casamento ( 1,5
valores).
b) Diga se haverá fundamento na lei portuguesa para, tal como referido no texto, ter havido dificuldade em
conseguir a celebração do casamento e se os filhos de Francisco terão razão em considerar «que o casamento não é
válido» (3 valores).
c) Suponha agora a situação em que Francisco falece e a mulher se pretende habilitar à sua herança como viúva.
Diga em que termos e com que fundamentos legais defenderia os interesses da mulher em causa, no caso de os filhos
virem a propor uma ação para invalidar o casamento do pai (1) e no caso de esta vir a ser procedente (2) (2 valores)
d) As suas respostas em b) e c) teriam sido diferentes no caso de o casamento celebrado ter sido católico? Justifique.
(2,5 valores)

II (11 valores)
José e Maria viveram juntos durante cinco anos num andar arrendado por esta. Em setembro de 2002, Maria deu
à luz um filho, Manuel, pelo que decidiram casar-se, civilmente, sem convenção antenupcial, no final desse mesmo mês.
Em janeiro de 2004, o senhorio decidiu vender o andar e Maria exerceu o respetivo direito legal de preferência, tendo o
contrato de compra e venda sido celebrado no final desse mês. Em setembro de 2006, José pediu emprestado ao Banco X
a quantia de 50.000,00 €, para custear as despesas com as obras de ampliação e remodelação do referido andar, tendo-lhe
sido concedido um crédito que foi transferido para uma conta contitulada por ambos os cônjuges.
a) Como se terá estabelecido a filiação relativamente a Manuel? (licenciatura em Direito 2 valores)
b) Como José não pagou a dívida na data prevista, o Banco X considera que ambos os cônjuges são responsáveis pelo
pagamento da quantia mutuada, acrescida dos respetivos juros, uma vez que visava a realização de um interesse comum
ao casal e que o cheque foi depositado numa conta conjunta do casal, tal indiciando a comunicabilidade da dívida,
incumbindo a Maria demonstrar contrário; contudo, Maria alega que nunca teve conhecimento de tal assunto, nem deu
consentimento para semelhante dívida. Proceda ao enquadramento da questão e diga qual a solução à luz das normas
legais aplicáveis (3 valores).
c) Como as relações entre ambos se começaram a deteriorar, Maria e José pensam requerer o divórcio, pelo que José foi
viver para casa dos pais; no entanto, estão em desacordo quanto à titularidade do direito de propriedade relativamente ao
andar, uma vez que Maria entende que este lhe pertence de forma exclusiva. Diga se Maria tem razão quanto a esta
questão e se tal discordância tem impacto quanto à modalidade de divórcio a eleger pelos cônjuges (6 valores).
d) Suponha agora que Maria propõe a José a celebração de um contrato, ainda antes de requererem o divórcio, em que
este reconheça que o andar é um bem próprio dela. Pronuncie-se sobre as questões que este contrato pode levantar à luz
do que estudou sobre o estatuto patrimonial dos cônjuges (licenciatura Direito e Gestão 2 valores).

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