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Revista Brasileira de Orientação Profissional, 2008, 9(1), pp. 75-86 75
RESUMO
O presente estudo investigou como os clientes atendidos em um serviço-escola de orientação profissional
(OP) ressignificam essa experiência. Ressignificação consiste na capacidade do ser humano de, a partir da
reflexão acerca de um acontecimento vivenciado, atribuir-lhe significados, ora distintos ora semelhantes
à significação atribuída na época. Participaram do estudo 10 clientes, atendidos entre 2001 e 2005, que
responderam individualmente a uma entrevista semi-estruturada. Dentre os resultados, destaca-se que
o fato de que a própria entrevista mostrou-se disparadora de um processo de ressignificação, no qual o
indivíduo pôde reconstruir o percurso vivenciado na OP e novamente atribuir-lhe sentido. Constatou-se
que a oportunidade de ressignificar a experiência vivida e a forma como ela se insere no projeto de carreira
possibilita a obtenção de resultados mais duradouros e de aprendizagens transferíveis. Assim, sugere-se
que no processo de OP o orientador esteja atento à entrevista final, para que esta provoque estruturada e
intencionalmente a emergência do significado das experiências de OP.
Palavras-chave: ressignificação; orientação profissional; entrevistas.
1
Endereço para correspondência: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Psicologia. Rua Ramiro Barcelos, 2600, sala
117, 90035-003, Porto Alegre, RS. E-mail: maria.lassance@ufrgs.br
76 Cláudia Sampaio Corrêa da Silva, Luciana Rubensan Ourique, Manoela Ziebell de Oliveira, Marcia Giovana Pedruzzi Reis, Maria Célia Lassance
cimento (identificação de significados pessoais), cumprir essas tarefas e as condições que facilitam
às representações sociais, aos estereótipos, às ou dificultam o seu cumprimento.
ansiedades predominantes, dentre outros. Estes A partir de um “enfoque operatório” – ope-
são momentos que possibilitam ao orientando rações e habilidades necessárias a um dado com-
acessar e refletir sobre suas crenças, afetos e sobre portamento – Pelletier e cols. (1982) progridem
as informações acerca de seu projeto de vida e, no plano metodológico da conceitualização do
dentro deste, de um projeto profissional. Ao final desenvolvimento vocacional e dos objetivos de
do processo é realizada uma entrevista individual, intervenção em orientação profissional. Os auto-
para que se possa retomar aquilo que foi traba- res consideram o comportamento vocacional em
lhado ao longo dos encontros e para auxiliar o seu plano dinâmico, procurando compreender
cliente na contextualização da decisão a partir da e predizer tal comportamento observando-se a
experiência que acaba de vivenciar. organização da personalidade do indivíduo e a in-
O trabalho com a informação mostra-se de teração dos fatores de ordem pessoal e situacional
extrema importância e é feito a todo o momento que determinam esse comportamento. Vale referir
com os orientandos, mas é enfatizado ao final que o enfoque operatório permite estudar o fun-
do processo, através de técnicas que procuram cionamento do indivíduo interrogando sobre os
apresentar o mercado de trabalho como uma rede processos internos de ordem cognitiva e atitudinal
de atividades profissionais, na qual as profissões implicados nesse funcionamento, concebendo a
apresentam muitas interfaces. Evita-se, assim, orientação profissional sob nova metodologia.
o pareamento estereotipado de autoconceitos Esta última se daria através da proposta de ativi-
às atividades profissionais. A ênfase é dada à dades, experiências e situações de aprendizagens
flexibilização da percepção desta rede complexa aptas não apenas a guiar o desenvolvimento voca-
constituída pelos diversos fazeres profissionais e cional do indivíduo, mas de igual forma capazes
do trabalho como forma de resolver determina- de mobilizar os recursos afetivos e cognitivos
dos problemas que se apresentam na sociedade necessários ao desempenho das tarefas desen-
(Pelletier, Bujold & Noiseaux, 1982). volvimentais, instrumentando vocacionalmente
Super (1963), ao analisar o aspecto do desen- os indivíduos (Pelletier e cols., 1982).
volvimento de uma escolha profissional, procurou Diante disto, surge o questionamento: de que
identificar quais são os fatores que marcam este forma o orientador poderia instrumentar vocacio-
processo, assim como as atitudes e os compor- nalmente os indivíduos? A partir do proposto por
tamentos capazes de facilitar a realização destas Pelletier e cols. (1982, p.15), “toda situação de
tarefas. Apontou, desta forma, a importância de aprendizagem comporta uma dimensão experien-
que o orientador possa levar em consideração tais cial, cognitiva e evolutiva”. O desenvolvimento
aspectos desenvolvimentais da escolha profissio- vocacional situar-se-ia, assim, na perspectiva do
nal, ocupando um papel de auxiliar o indivíduo desenvolvimento geral e do crescimento pessoal.
não somente no desenvolvimento de uma imagem O orientador, tendo isso em vista, deve dispor de
verdadeira do mundo de trabalho e de si mesmo, um repertório considerável de estratégias, nascido
mas a confrontar tal imagem com a realidade, em boa parte do campo da psicoterapia e somado
atualizando-a satisfatoriamente. Sendo assim, o aos acréscimos da psicologia cognitiva, aliando,
orientador tem por objetivo auxiliar o indivíduo dessa forma, os modos experenciais do indivíduo
a compreender as etapas pelas quais deve passar, e seus processos cognitivos. A ativação do desen-
os fatores capazes de influenciar suas decisões volvimento vocacional guia-se por situações de
quanto à carreira, a natureza das tarefas que deve aprendizagem concebidas em função das tarefas
desempenhar para conseguir uma adaptação de desenvolvimento: atividades individuais e de
vocacional satisfatória, a maneira como guiar e grupo cujo escopo é fornecer ferramentas aos
orientandos para que eles possam tomar esta
Este estudo buscou identificar a existência participantes, oito do sexo feminino e dois do sexo
de possíveis desdobramentos do trabalho de masculino, com média de idade de 20 anos. Os
orientação profissional com o passar do tempo participantes foram entrevistados entre os meses
e como esses se apresentaram na vida de jovens de agosto e outubro de 2006, e no momento da
que participaram de grupos de OP. Através desta entrevista eram estudantes universitários ou pré-
avaliação a longo prazo, as pesquisadoras não universitários (haviam concluído o ensino médio
procuraram, contudo, estabelecer relações cau- e se preparavam para o exame vestibular).
sais entre a intervenção e o desenvolvimento
apresentado pelo indivíduo em um momento pos- Instrumento e Procedimentos
terior, uma vez que muitas variáveis permeariam Uma vez selecionados, os participantes foram
estas relações, como as mudanças inerentes ao contatados por telefone e convidados a participar
desenvolvimento humano, a aquisição de novas da pesquisa. Mediante a assinatura do Termo de
experiências e habilidades. Realizou-se, assim, Consentimento Livre e Esclarecido, responderam
uma investigação de caráter exploratório com o a uma entrevista de roteiro flexível (Anexo 1)
objetivo de contemplar as percepções dos indiví- que visou investigar aspectos relativos: (1) ao seu
duos que já participaram de grupos de orientação momento de vida quando participaram do proces-
profissional, em um processo de retomada dessa so de Orientação Profissional; (2) às lembranças
experiência. Desta forma tinha-se como objetivo que tinham sobre o processo; (3) ao seu envolvi-
observar se: (1) os elementos que foram traba- mento no processo; (4) à tomada de decisão; (5)
lhados nos grupos poderiam ter adquirido sentido à utilização do aprendizado adquirido através da
para os participantes, a longo prazo, tendo em Orientação Profissional; (6) à indicação do serviço
vista que muitas questões relacionadas ao pro- de orientação profissional para outras pessoas.
cesso de escolha profissional parecem depender As entrevistas foram transcritas e submetidas
de um amadurecimento do indivíduo para serem a uma análise qualitativa constituída de três pas-
assimiladas e (2) se os participantes puderam sos reflexivos, em que cada etapa subentende a
transferir a aprendizagem adquirida na época da totalidade das três reflexões (cada passo contém
intervenção a outras situações de vida. os demais), conforme os critérios da análise feno-
Em outras palavras, investigou-se como clien- menológico-semiótica (Gomes, 1998): na primei-
tes de orientação profissional que foram atendidos ra etapa, chamada de descrição, as pesquisadoras
em grupos entre os anos de 2001 e 2005 em um descreveram o contexto temático expresso nas
serviço-escola, ressignificaram esta experiência. transcrições, ou seja, a experiência dos partici-
pantes a respeito de seu processo de orientação
Método profissional; na segunda etapa, de redução, as
pesquisadoras definiram o foco problemático do
Participantes texto e suas variações através de análises, sínteses
Os participantes deste estudo foram selecio- e da suspensão de suas pressuposições enquanto
nados a partir dos registros de atendimentos rea- investigadoras; na terceira e última etapa, as
lizados pelo serviço de OP entre os anos de 2001 pesquisadoras promoveram um diálogo entre as
e 2005, de acordo com os seguintes critérios: que hipóteses, referências teóricas e o mundo como
os clientes tivessem de 17 a 25 anos completos experienciado pelos participantes, gerando os
no ano de realização dos grupos; que houvesse dados que serão apresentados a seguir.
concluído o grupo de Orientação Profissional e
comparecido na entrevista final; que houvesse na Resultados
ficha de inscrição pelo menos um telefone para
contato e, preferencialmente, um endereço de A partir das entrevistas realizadas, foram
e-mail e que os clientes não pertencessem a um levantados temas recorrentes, posteriormente
mesmo grupo. A amostra foi composta por dez organizados nas seguintes categorias:
(1) Lembranças em relação às técnicas resposta, ou seja, de uma definição de sua escolha
Ao serem solicitados a verbalizarem suas lem- profissional vinda do orientador. Em geral ele
branças acerca do processo, os participantes men- foi percebido como uma pessoa que não fornece
cionaram, dentre outros aspectos, algumas técnicas esse tipo de resposta, o que foi considerado tanto
utilizadas nos encontros de OP. As situações lúdicas positiva como negativamente pelos orientandos,
foram, em geral, as primeiras a serem recordadas. sendo que a percepção da importância dessa
Essas se referiram a momentos de descontração, postura se deu ao longo dos encontros ou após os
a atividades que envolviam materiais e métodos mesmos: “Será que eles vão me dizer...ué, mas
expressivos, utilizados como ferramentas para pro- não me disseram! Depois eu me dei conta que não
porcionar um ambiente favorável ao processo de era isso o que eu queria, que me dissessem o que
orientação. Uma participante afirmou: “Lembro de fazer, imagina se alguém chegasse e dissesse ‘Vai
uma atividade de recortes, com revistas, e falar de fazer engenharia’, não, eu não vou fazer!”. Além
coisas que te remetessem a este momento de decisão, disso, o orientador também foi considerado uma
tipo, o que as figuras te despertavam.” pessoa acolhedora e que estimulava os adoles-
As técnicas que envolviam autoconhecimen- centes a refletirem e a se engajarem ativamente
to, as discussões em grupo e o trabalho de busca no processo, sendo referido da seguinte forma
de informação sobre as profissões também foram pelos participantes: “Ele fazia a gente pensar” e
mencionados nas entrevistas e considerados “Lembro que eu esperava encontrar uma espécie
aspectos importantes do processo. Em relação a de resposta dela (orientadora) no grupo, sobre a
isso, uma participante afirmou: “Lembro de um minha escolha futura, como se ela fosse dizer o
questionário relacionado com coisas que tu gostas que eu deveria fazer, mas ela nunca dizia. Mas
e não gosta de fazer.” Segundo outro entrevistado:
achava ela super querida, e muito aberta. Não:
“Das atividades eu me lembro de ler informações
Esse ‘muito aberta’ ficou ruim. Na verdade, acha-
sobre diversos cursos, uns guias do estudante e
va ela muito disposta, essa palavra é melhor... Ela
tal. Tem mais. Lembro de umas atividades com
sempre abria possibilidades dentro das nossas
frases de atividades tipo: ‘estar com pessoas’,
questões, dava idéias e tal”.
‘organizar’, ‘viajar’ e daí tínhamos que escolher
nessas listas atividades que nos agradassem.”
(3) Colegas
Ainda em relação a esse tema, foi referido em
uma das entrevistas: “Me recordo que ela pediu Os colegas foram percebidos como impor-
uma linha do tempo com aspectos mais marcantes tantes para a troca de experiências e também
da vida, pediu uma autobiografia, pediu também como fontes de identificação, visto que os jovens
que o pai e a mãe escrevessem uma carta com o encontravam-se em etapas semelhantes da vida,
que desejavam para seu filho no futuro, assim, passando pelas mesmas dúvidas, ansiedades
em termos profissionais.”, a mesma participante frente à indecisão e à necessidade de firmar uma
afirmou: “Eles (os encontros) permitiram que escolha. O processo de escolha dos colegas não
eu conseguisse pensar, me dar conta de coisas foi o aspecto mais marcante para os participantes.
que estavam obscuras, no momento de escrever Um participante referiu-se aos colegas da seguinte
sobre mim... Eu acho principalmente que foi um forma: “Lembro de uma menina que pensava em
trabalho de tu tentar te conhecer um pouco mais, Administração (...) Não gostava dela, e quando fui
do que tu gostas ou não, tuas habilidades. Não de procurar mais a respeito de Administração (por
descoberta, mas de despertar de algumas coisas causa dela) vi que era muito mais do que ela con-
que estavam mais ou menos apagadas.” tava. Tinha uma outra de família bem humilde que
não tinha grandes perspectivas de fazer alguma
(2) Figura do orientador faculdade por não ter muito tempo para estudar
Os participantes referiram o posicionamento para o vestibular; gostei dela e da vontade dela
do orientador frente a sua necessidade de uma de vencer na vida”.
(4) Participação no processo de Orientação perguntar, se questionar”, “Foi a primeira vez que
Profissional eu fiz este exercício” e “ No curso que estudo há
A forma como os ex-orientandos percebe- diferentes áreas de atuação. A escolha da área
ram a sua participação nos grupos foi positiva, levou em consideração toda a reflexão que eu
pois consideraram que houve envolvimento e fiz a respeito de como eu cresci (linha de vida)”.
dedicação: “Eu me implicava com as atividades, Os participantes perceberam, ainda, o quanto o
gostava, porque eu acreditava nelas, na capacida- trabalho com o autoconhecimento torna-se im-
de destas atividades de ajudar, diferentemente do portante no processo de escolha: “Uma (situação)
meu colega...”. Para alguns, o grupo de orientação específica eu não saberia dizer, mas acho que a
permitiu a desconstrução de resistências baseadas orientação profissional me ajudou a pensar que
em estereótipos e a superação da timidez. quando temos uma escolha a fazer, é preciso que
reflitamos sobre ela nos mais variados âmbitos e
(5) O processo de escolha encontremos subsídios – os mais variados – para
Os jovens mencionaram que a sua tomada de pensá-las. (Subsídios?) Tipo idéias que se refiram
decisão foi influenciada tanto por aspectos ante- àquilo que está em questão, diferentes pontos de
riores ao grupo de orientação profissional quanto vista sobre o mesmo tema, para assim fazermos
por questões trabalhadas ao longo do processo. uma escolha mais acertada”.
Como aspectos que surgiram anteriormente ao
grupo, foram referidas as preferências escola- (7) Indicação do local em que foi realizada a
res, a identificação de características pessoais, a orientação profissional
identificação de interesses, a influência dos pais Os participantes indicariam ou já indicaram o
e a busca por informações, através da internet e Serviço a outros jovens. Entre os motivos para a
de visitas com a escola. Em relação aos aspectos indicação, destacaram os seguintes: o fato de não
trabalhados nos grupos, os participantes mencio- serem fornecidas respostas, fazendo com que o
naram o autoconhecimento, o amadurecimento, orientando tenha que pensar; a não utilização de
as informações obtidas, a influência do orientador testes; o amadurecimento e o desenvolvimento
e algumas técnicas que envolviam pensar sobre do autoconhecimento; a autonomia na tomada de
o futuro profissional: “Era um lugar que eu tinha decisões e as atividades que consideraram interes-
que pensar em mim”. santes. Frente ao questionamento sobre indicar o
local ou não, um participante afirmou: “Eu indi-
(6) Utilização do aprendizado adquirido no caria o Serviço sim, mas logo avisaria que o que
processo ele encontraria lá não seria uma bola de cristal que
O autoconhecimento foi um dos aspectos lhe daria a resposta do que fazer, e sim um espaço
considerados como um ganho do processo de para refletir acerca dessa escolha. Diria ainda que
orientação profissional, levado adiante em situa- mesmo que o trabalho não servisse pra ele tomar
ções posteriores. Outra questão mencionada foi a uma decisão final, seria interessantíssimo pra
superação da timidez, proporcionada pelos encon- ‘abrir janelas’ pra essa escolha. Por aí...”.
tros em grupo, que estimulavam a participação e
o envolvimento do orientando. Os participantes (8) Ressignificação do processo ao longo da
reconheceram o processo como uma primeira entrevista
experiência de reflexão acerca do autoconhe- Percebeu-se que os participantes atribuíram
cimento. Alguns exemplos disso são: “Foi um diferentes significados ao processo ao longo da
dos primeiros momentos de pensar a respeito do entrevista, partindo de uma lembrança inicial
que eu gosto e do que eu não gosto. Acho que mais simplificada a recordações mais ricas. Um
em outros momentos eu repeti isso, acho que o exemplo dessa ressignificação ocorrida ao longo
Serviço me fez ativar este processo de poder se da própria entrevista pode ser observado em
vivência passada para cada pessoa. Observou- experiência enquanto experiência não garante que
se que a entrevista serviu como um dispositivo haja aprendizagem e desenvolvimento”: “é mister
da ressignificação dos entrevistados acerca do que ela seja simbolizada, avaliada, generalizada,
processo, oferecendo um espaço que permitiu que suas generalizações sejam aplicadas a outras
mais do que a evocação de memórias, mas a situações e que os resultados de tais aplicações se-
construção ativa de sentidos em relação ao que jam, por sua vez, avaliados” (Super, 1974, p.10).
foi vivenciado. Este achado levou o Serviço à Pensando através dessa proposição de Super,
discussão do papel da entrevista final no processo fica evidente que o processo de orientação pro-
de orientação, reconhecendo-a como um espaço fissional tem o potencial de gerar aprendizado
individualizado que tem por objetivo permitir e crescimento a longo prazo, à medida que a
ao adolescente compreender e dar significado à experiência proporcionada se fizer capaz de pro-
experiência que passou. mover uma atribuição de sentido e for submetida
Constata-se, então, a necessidade de consi- a uma constante avaliação, além de estabelecer
derar a entrevista final não apenas como um mo- pontes entre os processos que são realizados pelo
mento de avaliação de como foi feita a escolha, indivíduo no grupo de orientação profissional
do processo de orientação, ou mesmo a avaliação (como a adoção de um método para pensar nas
da decisão tomada em relação ao contexto con- possibilidades de escolha ou o comportamento
creto de possibilidades do cliente, mas que essa exploratório) com outras situações futuras em
seja tomada como um espaço de elaboração e que será válido utilizá-los. É fundamental que
de possíveis significações novas em relação às este aspecto seja colocado explicitamente aos
aprendizagens adquiridas no processo de OP. orientandos no momento em que se coordena um
Os achados em relação à ressignificação grupo, visto que a explicitação da aplicabilidade
acarretam implicações importantes para a prática do que se desenvolve no grupo em outros mo-
da intervenção, por evidenciar a necessidade de mentos parece facilitar a compreensão do jovem
se provocar intencionalmente a emergência dos sobre a importância das atividades realizadas e
significados que vão sendo atribuídos à vivência propiciar a ele um maior amadurecimento.
ao longo de todo o processo. Assim, para que Considera-se um aspecto significante deste
haja um maior aproveitamento da OP por parte do estudo que o mesmo tenha se mostrado disparador
orientando, torna-se importante que o orientador de questões, fazendo com que se repense a prática
deixe claros os objetivos das atividades propostas e a pesquisa na área de orientação profissional. Os
e propicie um espaço de construção de sentidos efeitos das intervenções neste campo constituem
acerca da experiência obtida nos encontros, bem um tema de extrema importância para a pesquisa,
como retome, junto ao grupo, o que foi trabalhado a partir da qual será possível desenvolver inter-
no encontro anterior, para que o sentido de cada venções mais eficientes e capazes de auxiliar os
atividade dentro do contexto maior da intervenção clientes que buscam a OP no seu desenvolvimento
esteja presente e o cliente desenvolva uma com- profissional e pessoal. Sugere-se para próximos
preensão clara do processo na sua totalidade. estudos dar continuidade às questões da avaliação
As questões abordadas anteriormente em re- de intervenções a longo prazo e da ressignifica-
lação à ressignificação e à atribuição de sentido ao ção, sendo possível desenvolver outras formas de
que é vivenciado no processo de OP relacionam-se avaliação, tendo em vista que esse é um campo
ao proposto por Super (1963, p. 114) de que “a de escassa literatura.
Referências
Amundson, N. E., Harris-Bowlbey, J., & Niles, S. G. (2005). Essential elements of career counseling process
and techniques. ������������������������������������������
New Jersey: Pearson Merrill Prentice Hall.
Recebido: 10/11/2007
1ª Revisão: 11/03/2008
Aceite final: 09/04/2008
Sobre as autoras
Cláudia Sampaio Corrêa da Silva é psicóloga pela UFRGS e mestranda do Programa de Pós-
graduação em Psicologia da UFRGS, colaboradora nas equipes do CAP-SOP (Centro de Avaliação Psi-
cológica, Seleção e Orientação Profissional) e do NAE (Núcleo de Apoio ao Estudante / UFRGS).
Luciana Rubensan Ourique é psicóloga pela UFRGS e mestranda do Programa de Pós-graduação
em Psicologia da UFRGS, colaboradora nas equipes do CAP-SOP (Centro de Avaliação Psicológica,
Seleção e Orientação Profissional) e do NAE (Núcleo de Apoio ao Estudante / UFRGS).
Manoela Ziebell de Oliveira é psicóloga pela UFRGS, mestranda do Programa de Pós-graduação
em Psicologia da UFRGS, colaboradora nas equipes do CAP-SOP (Centro de Avaliação Psicológica,
Seleção e Orientação Profissional) e do NAE (Núcleo de Apoio ao Estudante / UFRGS).
Marcia Giovana Pedruzzi-Reis é psicóloga pela UFRGS, mestranda no Programa de Pós-graduação em
Psicologia Social e Institucional da UFRGS, terapeuta na Clínica de Atendimento Psicológico da UFRGS.
Maria Célia Lassance é psicóloga, mestre em Aconselhamento Psicopedagógico, doutoranda no
Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFRGS, professora adjunta do Instituto de Psicologia
da UFRGS, membro da equipe técnica do CAP-SOP (Centro de Avaliação Psicológica, Seleção e
Orientação Profissional / UFRGS) e NAE (Núcleo de Apoio ao Estudante / UFRGS), fundadora e ex-
presidente da ABOP (Associação Brasileira de Orientadores Profissionais), fundadora e conselheira
da AGDC (Associação Gaúcha de Gestão de Carreira).
Anexo 1
1) Como é que estava a tua vida quando participaste dos grupos de OP? (quem fez a inscrição; que
série estava; fazia cursinho ou não; trabalhava ou não; algum evento importante; já pensava em
algum curso ou não, etc.)
2) O que tu lembras do teus grupos de OP? (alguma atividade feita da qual lembra e porque; o que
lembra dos colegas de grupo e como eles fizeram sua escolha; o que lembra sobre o orientador)
3) Como tu descreverias, depois deste tempo x, a maneira como fizeste (te envolveste) o teu processo
de OP?
4) Como tu descreverias a forma como escolheste o curso (que passos realizou para escolher)?
5) Achas que usaste o que aprendeste na OP para realizar alguma outra escolha importante no teu
curso ou na tua vida? Qual situação o que ajudou?
6) Se hoje tivesses que falar com um jovem em processo de escolha profissional, indicarias o Centro
de Orientação Profissional em questão? Como farias essa indicação (o que diria a esse jovem)?