Você está na página 1de 2

TEXTO I

Efeitos da hipersexualização: meninas transformadas em ‘Lolitas’

Em 2007, a Associação Norte-americana de Psicologia (APA na sigla em


inglês) publicou um documento em que denunciava a tendência
sexualizadora das crianças nas sociedades modernas. O documento apontava que o fenômeno
abrange desde roupa, brinquedos e videogames até séries de TV, inoculando de forma sutil o
erotismo prematuro no universo das meninas. O estudo mostrou que meninas a partir de quatro
anos são bombardeadas com modelos de sucesso que triunfam graças a seus atributos físicos,
às medidas que o mercado impõe, mas não por suas qualidades pessoais e profissionais. Dez
anos mais tarde essa tendência, longe de ser corrigida, cresceu.

É um fenômeno tão crônico, tão incorporado que às vezes os adultos nem se dão
conta: sutiãs com ou sem recheio para meninas de oito anos, saltos, tops e minissaias,
heroínas de séries com corpos esculturais, bufês infantis que propõem concursos de beleza e
desfile na passarela em festinhas de aniversário… Fala-se, inclusive, de uma chegada precoce
à adolescência, uma etapa desconhecida há poucas gerações chamada de pré-adolescência
que vai encolhendo tristemente a infância, reduzindo-a a anos cada vez mais escassos.

As razões fundamentais são, como quase sempre, de consumo: a moda, principal


artífice da utilização de meninas em anúncios publicitários como Lolitas cada vez mais jovens,
impulsiona esta imagem como um potente gancho comercial para vender seus produtos. Tudo
está à venda numa sociedade ultramaterialista, tudo pode ser usado para gerar dinheiro, até
mesmo a infância. Por outro lado, vivemos em uma sociedade com profundas contradições e
com grandes doses de moral ambígua. O sexo vende sempre, e a atitude da sociedade sobre a
sexualidade feminina é no mínimo confusa e ancorada em padrões machistas. Por um lado se
critica uma mulher que se veste de forma provocante, mas, por outro, se aceitam tanto uma
menina vestida de mulher, maquiada, de saltos e minissaia, como uma mulher vestida de
menina, beirando os limites da pedofilia. É o sintoma de uma cultura que flerta desde a infância
com o mercado do sexual e que continua ancorada em padrões que enquadram o gênero
feminino no acessório’.

O verdadeiro veneno de tudo isso é que a maioria das meninas vai crescer sem o
espírito crítico necessário para sair desse roteiro e passará grande parte de sua vida tentando
se encaixar em medidas físicas, num roteiro unilateral que não foi decidido nem negociado por
elas porque vem do mercado e do gênero masculino. Depois passarão outra parte de sua vida
tentando preservar o que puderem dessas medidas e submetendo-se a cirurgiões plásticos,
a dietas e à ansiedade de uma corrida contra o tempo que invariavelmente perderemos.

Os efeitos no desenvolvimento normal de uma menina são os que derivam de quebrar


o equilíbrio e pular etapas. Por exemplo, temos dados de que, na França, 37% das meninas
afirmam estar fazendo dieta, as conversas sobre moda e peso ideal aparecem cedo, as
meninas são constantemente estimuladas pela televisão e pelas revistas juvenis, e vão
assumindo com uma naturalidade perversa sua condição de objetos sexuais, vão adquirindo a
crença de que a sociedade vai valorizá-las em função de sua aparência mais ou menos
atraente para os homens. Um exemplo muito claro é que um presente cada vez mais frequente
dos pais antes dos 18 anos é um aumento de seios. Outro sintoma alarmante e derivado desse
desajuste é o arrepiante aumento nas percentagens de meninas afetadas por transtornos
alimentares, principalmente anorexia e bulimia, que já estão sendo detectados entre os 5 e os
9 anos.

Além disso, ou sobretudo, essa hipersexualização do universo infantil acarreta uma


aproximação muito violenta e distorcida do mundo da sexualidade adulta, perdendo-se
experiências imprescindíveis que vão introduzindo de forma saudável e gradativa uma parte
essencial do que depois será sua vida conjugal e sua forma de entender as relações sociais,
não só sexuais. O erotismo, a sensualidade, a sexualidade são capacidades que se
desenvolverão paulatinamente, assumindo uma forma específica em cada etapa do
desenvolvimento e aproximando-se dos padrões adultos na adolescência. Há sexualidade nas
crianças, é óbvio, porque é condição humana, mas muito diferente da que a mídia mostra a
elas e a nós. Expressa-se na consciência de identidade de gênero, em saber que é homem ou
mulher, nos jogos de papéis (quando brincam de casinha), na curiosidade saudável de
conhecer as diferenças no corpo do outro, mas não há erotização alguma nisso. Trata-se de
um processo que, se não for adulterado por interesses comerciais e tóxicos, levará a uma
sexualidade adulta livre.

Nós, os pais, temos a responsabilidade neutralizar, o quanto possível, toda essa


influência externa, para isso precisamos estar muito atentos e muito presentes, acompanhar
com interesse o que leem e assistem, filtrar e canalizar o que chega a eles de todos os lados,
dosar as mídias. Não permitir que frequentem lugares nem façam atividades que não sejam
condizentes com sua idade, unicamente pelo fato de que as outras crianças fazem. Ser parte
da solução, não do problema. Educar em valores que priorizem o esforço, o ganho, o espírito
cooperativo e a igualdade. E, sobretudo, oferecer um referencial sólido através do exemplo.

Assim, quando chegarem os anos difíceis, a adolescência, precoce ou não, terão


raízes. Terão critério. Não serão invulneráveis, obviamente estarão sujeitas às pressões
sociais, mas teremos deixado uma base sólida em sua personalidade que lhes ajudará a saber
diferenciar e sair ilesas dessa etapa tão difícil como imprescindível.

Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/05/30/cultura/1496151116_106223.html

TEXTO II

PROPOSTA: Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos


conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto
dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o
tema A Hipersexualização da mulher, apresentando proposta de
conscientização social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e
relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu
ponto de vista.

Você também pode gostar