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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL

CAMPUS ARAPIRACA
PEDAGOGIA - LICENCIATURA

LEONARDO HENRIQUE DOS SANTOS

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


UMA ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO.

ARAPIRACA
2018
Leonardo Henrique dos Santos

A importância do lúdico na educação infantil: uma análise da experiência do


estágio supervisionado.

Artigo Científico apresentado ao Colegiado


do Curso de Pedagogia do Centro de
Educação da Universidade Federal de
Alagoas como requisito parcial para
obtenção da nota final do Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC).

Orientador: Prof.ª Dr.ª Renata da Costa Maynart

Arapiraca
2018
Arapiraca
2018
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
uma análise da experiência do estágio supervisionado

LEONARDO HENRIQUE DOS SANTOS1


email: leonardo-lh@hotmail.com

RENATA DA COSTA MAYNART2


email: renatamaynart1986@gmail.com

RESUMO

A presente pesquisa busca refletir acerca da importância das práticas lúdicas para o desenvolvimento
integral das crianças em espaço de educação infantil, a partir de uma revisita à experiência do estágio
supervisionado na educação infantil do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas. O
projeto de intervenção aplicado durante o estágio: A criança e o lúdico: aprender brincando,
descobrindo e interpretando objetivou proporcionar às crianças experiências que contribuíssem para a
construção da autonomia e desenvolvimento integral de forma lúdica e criativa. Em seu
desenvolvimento se propôs a: estimular a criatividade das crianças; encorajar o trabalho em equipe e
desenvolver práticas para impulsionar o desenvolvimento da criança nos seus mais variados campos a
partir da ludicidade. O estágio ocorreu em uma instituição de Educação Infantil pública do município
de Arapiraca-AL, no ano de 2016. Inicialmente, foram realizadas sessões de observação em uma turma
de pré-escola da instituição através das quais foi possível constatar que o lúdico estava presente na
rotina da turma observada, porém aparecia em segundo plano, em curtos momentos, sendo a rotina
preenchida, em sua maior parte, por atividades regradas e pouco estimulantes para as crianças. A partir
das sessões de observação o projeto de intervenção foi desenvolvido em cinco sessões pensadas a
partir das análises dos dados coletados nas observações. As ações desenvolvidas na intervenção
tiveram o intuito de realizar práticas lúdicas que estimulassem a criatividade e a interação entre as
crianças. A referida pesquisa se apoiou em pressupostos teóricos que confirmam a importância do
lúdico no desenvolvimento integral das crianças, dentre os quais podemos citar: Vigotsky (1994;
1998), Wallon (2008), bem como autores contemporâneos que se debruçam sobre o lúdico e sobre o
brincar, a exemplo de Kishimoto (1997; 2003); Velasco (1996); Oliveira (1992); Fontana e Cruz
(1997), entre outros. Desse modo, a revisita a esta experiência permitiu rediscutir através de dados
de campo sobre a necessidade do lúdico ser o ponto de partida de todas as ações desenvolvidas
com/para as crianças nas creches e pré-escolas, a partir de suas próprias escolhas, respeitando o
princípio da autonomia, da criatividade e da liberdade para fazer escolhas.

Palavras-chave: Educação infantil. Estágio supervisionado. Lúdico.

ABSTRACT

1
Aluno concluinte do curso de Pedagogia Licenciatura da Universidade Federal de
Alagoas - e-mail: leonardo-lh@hotmail.com.
2
Professora Adjunta da Universidade Federal de Alagoas - Campus Arapiraca - e-
mail:renatamaynart1986@gmail.com.
The present research seeks to reflect on the importance of playful practices for the integral
development of children in a children 's education space, based on a review of the experience
of supervised training in children' s education at the Pedagogy Course of the Federal
University of Alagoas. The project of intervention applied during the stage: The child and the
ludic: learning by playing, discovering and interpreting aimed to provide children with
experiences that contribute to the construction of autonomy and integral development in a
playful and creative way. In its development it was proposed to: stimulate children's
creativity; encourage teamwork and develop practices to boost the development of children in
their most varied fields based on playfulness. The internship took place in a public elementary
school in the municipality of Arapiraca-AL, in the year 2016. Initially, observation sessions
were held in a pre-school class of the institution through which it was possible to verify that
the play was present in the routine of the observed group, but it appeared in the background,
in brief moments, being the routine filled, for the most part, by regaled activities and little
stimulating for the children. From the observation sessions, the intervention project was
developed in five sessions based on the analysis of the data collected in the observations. The
actions developed in the intervention had the intention of performing playful practices that
stimulated creativity and interaction among children. This research was supported by
theoretical assumptions that confirm the importance of playfulness in the integral
development of children, among which we can mention: Vigotsky (1994, 1998), Wallon
(2008), as well as contemporary authors that focus on the playful and on the play, like
Kishimoto (1997, 2003); Velasco (1996); Oliveira (1992); Fontana and Cruz (1997), among
others. Thus, revisiting this experience allowed us to rediscuit through field data on the need
for play to be the starting point of all actions developed with / for children in kindergartens
and pre-schools, based on their own choices, respecting the principle of autonomy, creativity
and freedom to make choices.

Keywords: Infant education. Supervised internship. Ludic.

1 INTRODUÇÃO

É evidente que nós seres humanos já nascemos e crescemos dentro de uma


determinada sociedade e que nela já existem normas e valores, que tem sua história e suas
culturas. Desse modo, a criança já encontra à sua volta uma rede de relações, padrões e
comportamentos que ela tentará compreender e se inserir. Normalmente o primeiro contato e
relações que a criança estabelece é com a família e em seguida, nas creches que passa a
frequentar. É na idade da educação infantil que as crianças experimentam momentos que irão
contribuir para a construção de suas identidades e para o seu desenvolvimento.
Nesta etapa, segundo Wallon (2008), a criança se desenvolve na relação eu-outro e por
isso a creche e a pré-escola se fazem lócus privilegiado para oportunizar as relações com esses
outros e, consequentemente, o desenvolvimento. Sendo a educação infantil um lugar que pode
ser permeado por práticas lúdicas, que pode despertar na criança a descoberta e experiências
sobre o mundo que a cerca concebe-se que só será possível à ela tais experiências e
descobertas dentro de um ambiente/clima aconchegante, desafiador e, acima de tudo, lúdico,
tanto no que diz respeito ao ambiente físico quando as práticas.
À medida que o ser humano se desenvolve, o lúdico carrega em si um papel
socializador e promotor desse desenvolvimento e de outras capacidades, pois permite que as
crianças compartilhem espaços, atividades, criem cultura e realizem descobertas que lhes
possibilitem aprender, vivenciar e lidar com os sentimentos e desenvolver sua autonomia.
É diante de aspectos de preterição das práticas lúdicas, que surgiu o interesse de fazer
uma revisita ao trabalho realizado no estágio em educação infantil do Curso de Pedagogia em
que o lúdico foi objeto de investigação ressaltando-se a importância desta atividade humana
essencial ao desenvolvimento integral da criança. A princípio, o interesse em investigar sobre
o referido tema já havia surgido através do contato com disciplinas do Curso de Pedagogia
que eram específicas da área da infância, como Jogos, Recreação e Brincadeiras; Saberes e
Metodologias da Educação Infantil I e II, dentre outras, bem como ao cursar a disciplina de
Estágio Supervisionado II e ao realizar a etapa de observação, a qual foi fundamental, pois a
partir desta foi possível perceber a importância de realizar intervenções voltadas a
importância das práticas lúdicas para o desenvolvimento integral da criança e problematizar
este tema das práticas lúdicas como questão pertinente à educação infantil, à criança e suas
infâncias.
O estágio aconteceu no ano de 2016 em uma instituição de Educação Infantil pública
do município de Arapiraca-AL e foi desenvolvido em dupla. O plano para este estágio previu
duas etapas: sessões de observação, um total de duas sessões em uma turma de pré-escola
para então ser desenvolvido um projeto de intervenção, que culminou em cinco sessões de
intervenção.
No decorrer das duas sessões de observação foi possível perceber que as crianças, de
modo geral, realizavam poucas atividades que ultrapassassem os limites das tarefas em folhas.
Verificou-se que era necessário dar espaço ao lúdico, especialmente às brincadeiras, de modo
a alimentar a imaginação infantil, a cooperação, as interações, com o intuito de que as
crianças se deslocassem das cadeiras, onde permaneciam na maior parte do tempo.
Percebeu-se que o lúdico estava presente na rotina diária das crianças da turma
observada apenas no momento do recreio e descrito na rotina para apenas um dia da semana,
dia este em que, mesmo assim, as ações da educadora davam indícios de que esta reconhecia
o momento apenas como recreação e passatempo, excluindo o seu real propósito de atividade
livre, espontânea, que contribui para construção da autonomia da criança e para a criação de
cultura.
Segundo consta nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
(BRASIL, 2009), o espaço institucional deve proporcionar para a criança atividades que
possam auxiliar no desenvolvimento de sua autonomia e responsabilidade, bem como
“Construir novas formas de sociabilidade e de subjetividade comprometidas com a
ludicidade” (BRASIL, 2009, p.17). Dessa forma, compreende-se que a criança deve participar
de forma ativa e produtiva das atividades e não deve ser condicionada a sentar em cadeiras e
desenvolver atividades que exigem o controle de seus movimentos e da expressão de suas
mais diversas linguagens.
Dessa forma foi pensado para as intervenções, um reolhar para essa rotina e o
desenvolvimento de atividades para/com as crianças de forma lúdica e criativa, através de
jogos, uso de brinquedos e brincadeiras em forma de oficinas de atividades livres e dirigidas
que possibilitassem a participação das crianças na construção do seu espaço de aprendizagem
e de vivência. As intervenções foram divididas em cinco sessões e estes cinco momentos de
atividades foram: oficina de massa de modelar; oficina de pintura livre em tela; oficina de
construção de instrumentos musicais com materiais recicláveis e momentos como a Contação
de história com fantoches; brinquedos e brincadeiras livres; tendo em vista que uma é tão
importante quanto a outra, pois a criança pode exercitar tanto a liberdade, como o saber ouvir,
entender e executar.
Nesse sentido, buscou-se desenvolver no projeto do estágio práticas que além de
estimular a criança para seu desenvolvimento integral fossem opostas a rotinas
escolarizantes, que, pelo que foi observado, são condicionadas à atividades de escrita ou
pinturas em suas carteiras.
O projeto do estágio supervisionado II intitulado como: A criança e o lúdico: aprender
brincando, descobrindo e interpretando se fez necessário durante o período de estágio para
contribuir com o desenvolvimento das crianças utilizando formas pedagógicas que as
estimulassem a aprender com as experiências nas oficinas desenvolvidas e para que pudessem
expressar suas emoções e ideias de forma livre garantindo o espaço da brincadeira e da
ludicidade na rotina da turma observada.
A revisita a esta experiência de estágio vem para ressaltar esta importância que os
jogos, brinquedos e brincadeiras e demais práticas lúdicas possuem na rotina das crianças e
dos educadores e o quanto é essencial compreender o lúdico como parte natural e fundamental
do desenvolvimento integral da criança. Por isso, alguns questionamentos continuam a ser
feitos mesmo após o estágio, dentre eles: será que essa utilização do lúdico como passatempo
e como atividade regrada em tempo e espaço foi algo específico da experiência do estágio?
Será que tal tendência se expande para diversas outras instituições de educação infantil? De
que maneira as atividades lúdicas estão presentes na rotina diária das instituições de educação
infantil? Para este Trabalho de Conclusão de Curso reitera-se a ideia de possibilitar reflexões
acerca da relação teoria e prática na prática pedagógica que tenha como centro a ludicidade.
A discussão desta revisita está em problematizar o lugar que o lúdico tem encontrado
na educação infantil ressaltando sua importância e sua essencialidade, bem como o papel do
professor enquanto propulsor de atividades prazerosas e estimuladoras que possibilitam o
entendimento da criança com o mundo que a cerca.

2 A BRINCADEIRA E O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

É quase sempre impossível falar de criança e não remeter a rápida lembrança que
associa o termo criança3 à brinquedos, brincadeiras e jogos. Especialmente porque desde seu
nascimento, o ser humano é propício a vivenciar suas primeiras experiências através de
práticas lúdicas como uma simples canção de ninar, por exemplo, jogos de esconder e
aparecer com a mãe ou o parceiro mais próximo. À medida que o bebê4 vai crescendo, durante
a infância, diversos outros instrumentos lúdicos e brincadeiras começam a fazer parte da vida
da criança, como por exemplo: a boneca, a bola, cantigas de roda, carrinhos, brincadeiras de
faz de conta como brincar de comidinha, dentre outros. A criança cria e recria seu
conhecimento a cada prática lúdica que se faz presente em sua vida; ela vivencia inúmeras
sensações e experiências, constrói normas para si e para o outro, as quais negociam no grupo;
organiza brincadeiras, objetos, papéis, regula a ação do outro ao mesmo tempo em que é
regulada por este outro e interage com pessoas e objetos.
A Conforme ressalta Borba (2007) a ludicidade cruza diferentes tempos e lugares,
passados, presentes e futuros, sendo marcada ao mesmo tempo pela continuidade ou pela
mudança na forma do brincar. Essa experiência não é simplesmente reproduzida anos após
anos, mas também pode ser recriada a partir do que a criança traz de novo, com seu poder de
imaginar, criar, reinventar e produzir cultura.

3
A criança é um ser humano na fase da infância, que vai do nascimento à puberdade; sem experiência; quem é
ingênuo, inocente.
4
Bebê é uma criança recém-nascida ou de poucos meses.
Acerca do lúdico na educação infantil, Buitoni (2006), traz para reflexão a rotina de
uma instituição de educação infantil de São Paulo que tem as experiências lúdicas,
especialmente o brincar e o contato com a natureza, como principais meios de
desenvolvimento da criança. A autora ressalta que o brincar é utilizado como um instrumento
natural, tal como estar em contato com a natureza, com as brincadeiras, as artes e a
convivência. A fundadora da instituição Te-Arte, a educadora Thereza Pagani, afirma que é
brincando que a criança passa a entender melhor o seu corpo, desenvolve relações com as
outras crianças, domina o espaço e aprende a ser cidadã (PAGANI, apud BUITONI, 2006).
Na Te-Arte, pode-se observar no decorrer do livro que predomina um trabalho
recreativo, educativo e criativo, colocando sempre o lúdico como fundamental e denominando
o brincar como o "trabalho" da criança por excelência. Neste caso, a Te-Arte desenvolve a
sensibilidade das crianças colocando-as em contato com os materiais mais diversos,
predominantemente os naturais, como está descrito no trecho a seguir:

A partir da terra, da água, do fogo - o exercício de brincar em todas as formas


possíveis e imagináveis-, a criança estará pronta para as fases posteriores do
aprendizado, como a alfabetização, muito mais do que se ficar dentro de uma sala,
lápis na mão, traçando bolinhas em folhas de papel pautado. Em algumas atividades,
a formação específica pode até ser necessárias, no entanto, até uma pessoa simples
transmitir muito, principalmente nessa faixa etária (BUITONI, 2006, p. 264).

Vale lembrar que essa liberdade que se dá para a criança não é simplesmente “deixá-la
solta”, não intervir ou mediar situações, muito pelo contrário. Na Te-Arte todos os
profissionais que nela atuam possuem embasamento teórico e objetivos bem definidos quando
estão em contato com as crianças e o mais importante é que tudo acontece sem esquecer do
afeto e cuidado, essenciais nessa fase.
A Te-Arte trouxe várias contribuições positivas para o ensino e podemos notar a
ausência de algumas dessas contribuições levando em conta a experiência e o observado do
estágio; onde a educadora deixava de lado diversas possibilidades de elaborar boas estratégias
e novas formas de deixar as crianças aprenderem, pela pouca utilização do espaço como
instrumento principal de criação de novas ideias, e pela falta da liberdade das crianças para
utilizarem da forma como deseja o seu tempo, o seu jeito e seus limites.
Vale lembrar que o "Quintal mágico" é um lugar onde a criança pode brincar e se
desenvolver ao mesmo tempo, mas não é um local para tornar a criança uma intelectual. Ele
não cumpre essa função. Assim a sala de aula também não pode se tornar um local apenas
com o objetivo de tornar as crianças intelectuais, é preciso promover situações de liberdade
para elas se desenvolverem.
Corrobora com a perspectiva da Te-Arte o que está posto no Parecer CNE/CEB Nº:
20/2009 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil,

A criança deve ter possibilidade de envolver-se em explorações e brincadeiras com


objetos e materiais diversificados que contemplem as particularidades das diferentes
idades, as condições específicas das crianças com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, e as diversidades sociais,
culturais, étnico-raciais e linguísticas das crianças, famílias e comunidade regional.
(BRASIL, 2009, p.14).

Sem distinção de idade, raça, religião ou classe social, o lúdico deve sempre se fazer
presente no contexto do Projeto Político Pedagógico 5 das instituições de educação infantil não
somente na teoria, mas, sobretudo, na prática por parte dos educadores por sua grande
contribuição para o desenvolvimento da criança. Estas práticas lúdicas que devem ser
desenvolvidas pelos educadores na educação infantil são compreendidas a partir dos jogos,
brinquedos e brincadeiras, todos estes termos abrangidos das práticas mais simples as mais
difíceis, das mais antigas as mais modernas, de um simples gesto de "bom dia" ao entrar na
escola até as brincadeiras de faz-de-conta onde a criança pode ser o "super-homem" ou
qualquer coisa que venha à sua imaginação. Para Velasco (1996) é durante essas atividades
que a ludicidade se faz presente, que a criança desperta prazer por executá-las, pois permite a
ela todo o aprendizado e desenvolvimento sem esforço de sua parte.

2.1 JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA: CONCEITO E SUAS CONTRIBUIÇÕES

Antes de entendermos os conceitos de brincadeira e brinquedo, é possível notar que estes dois
termos têm muito em comum com um terceiro termo,jogo, que são atividades como: os jogos
de mímica, de tabuleiro, faz-de-conta, amarelinha, etc., os quais se misturam entrelaçando
assim, os conceitos para cada um, mas diferenciando-se mediante exigências particulares de
habilidades.
5
O Projeto político Pedagógico de uma instituição é peça fundamental no planejamento das instituições de
ensino em seus vários níveis e modalidades. Ele irá demonstrar o que a escola idealiza, quais suas metas e
objetivos e quais os possíveis caminhos para atingi-los.
Conceituando o jogo, em sua obra Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação,
Kishimoto (1997, p. 13), parte da seguinte definição:

Tentar definir o jogo não é tarefa fácil. Quando se pronuncia a palavra jogo cada um
pode entendê-la de modo diferente. Pode-se estar falando de jogos políticos, de
adultos, crianças, animais ou amarelinhas, xadrez, adivinhas, dominó... Tais jogos,
embora recebam a mesma denominação, têm suas especificidades. Por exemplo, no
faz-de-conta, há forte presença da situação imaginária; no jogo de xadrez, regras
padronizadas, permitem a movimentação das peças.

A autora quanto à utilização do jogo afirma que, na educação infantil, só pode ser jogo
quando ele é escolhido de forma livre e espontânea pela criança, caso contrário, ele é ensino
ou uma forma de trabalho educativo, ressaltando que o objetivo do jogo deve ser sempre para
brincar.
Através da teoria da autora nota-se que o jogo da criança não pode e não deve ter a
mesma intenção do jogo de um adulto. Como exemplo, é necessário refletir acerca do que
representa esta atividade para a criança, tratando-se de apenas um momento onde a
aprendizagem e o desenvolvimento ocorrem, diferenciando-se do sentido que ele pode
representar para um adulto, onde ele ganha, geralmente, um aspecto de recreação.
Nesse sentido os jogos são atividades que desenvolvem o raciocínio na criança. A
respeito dos jogos, Kishimoto (idem, p. 18) afirma que "[...] jogos, como xadrez, e jogos de
construção exigem, de modo explícito ou implícito, o desempenho de certas habilidades
definidas por uma estrutura preexistente no próprio objeto e suas regras", envolvendo regras
como ocupação e noções de lugar, estimulando o raciocínio lógico, o desenvolvimento de
habilidades motoras e sensoriais.
Sem perceber, profissionais da educação podem acabar confundido a relação dos jogos
com os brinquedos, já que para muitos, são termos que parecem sinônimos, mas ambos
possuem definições diferentes embora, ao mesmo tempo, se relacionem. O brinquedo pode ser
entendido como um objeto em que a criança utiliza da forma como sua imaginação quiser; já
o jogo não permite essa liberdade tão ampla na sua forma de utilização através da imaginação
da criança, pois quase sempre é regido por regras e situações sistematizadas.

[...] o brinquedo contém sempre uma referência ao tempo de infância do adulto com
representações veiculadas pela memória e imaginação. O vocábulo "brinquedo" não
pode ser reduzido á pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem uma
dimensão material, cultural e técnica. Enquanto objeto é sempre suporte de
brincadeira. É o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil
(KISHIMOTO, 1997, p 21).
O brinquedo pode ser entendido como qualquer tipo de objeto que desperte na criança
a sensação do brincar. Sendo assim já iniciamos os conceitos e contribuições do brinquedo
ressaltando a importância do educador em inserir na rotina diária práticas lúdicas que levem a
criança a construir seu próprio brinquedo, por exemplo, através de materiais recicláveis ou
oriundos da natureza, que são os chamados por Kishimoto (2003), como os brinquedos não
estruturados: paus, pedras, entre outros. Este tipo de brinquedo, confeccionado manualmente,
já nos permite fazer uma comparação com os brinquedos educativos, ou como cita a autora, os
brinquedos estruturados (adquiridos prontos), que são brinquedos que se auto definem como
instrumentos lúdicos para transmissão de conhecimentos. É como se ele assumisse um papel
particular de ter como sua principal função, oferecer conteúdo pedagógico ao entretenimento
da criança e não apenas ludicidade, entrando em contradição e pondo o brinquedo não
estruturado numa função que pouco conhecimento irá oferecer à criança.
Independente de qual papel os brinquedos estruturados e os não estruturados assumem,
a estudiosa ressalta a importância do brinquedo em si, sem a discriminação das formas. Para
tal, afirma que

O uso do brinquedo/jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para a


relevância desse instrumento para situações de ensino-aprendizagem e de
desenvolvimento infantil. Se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de
modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o
ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o
brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-la
(KISHIMOTO, 1997, p.36).

É fácil notar que, através da utilização do brinquedo, uma criança pode construir o seu
próprio universo, trazendo para sua realidade, situações do seu mundo imaginário. Nessa
perspectiva, Kishimoto (2003) ressalta que a palavra brinquedo está ligada com o objeto, que
é o apoio da brincadeira independente de qual seja essa brincadeira. E é através das
brincadeiras, utilizando o brinquedo ou não, como objeto, que a inteligência e as emoções da
criança estarão em processo de desenvolvimento.
Sobre a brincadeira, a autora expressa seu ponto de vista:

E a brincadeira? É a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do


jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação. Desta
forma, brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se
confundem com o jogo. (KISHIMOTO, 1997, p 21).

As brincadeiras são, sobretudo, formas de comunicação e interação da criança. Lima


(2001) em seus estudos sobre a neurociência e educação constata que as brincadeiras de roda
e o faz de conta, por exemplo, são atividades universais da infância, que, seja na rua, em casa,
na floresta, na cidade ou no campo, esta atividade terá sempre esse caráter formador do
indivíduo como ser cultural. É através destas experiências que as crianças buscam coordenar
ativamente o seu comportamento com o da própria mãe, pai ou do próprio educador (a).
Acerca da brincadeira de faz de conta citada anteriormente, a autora restabelece a relação
destes termos lúdicos com o desenvolvimento integral da criança, afirmando que:

O faz de conta não é somente uma linguagem da criança, é, ainda, a apropriação do


que faz uma ação "virar" linguagem, ou seja, dá a ação humana uma estrutura, uma
organização, um sistema. É um "exercício" de representação. Por esta razão o faz de
conta é condição para o desenvolvimento infantil (LIMA, 2003, p.20).

Sobre este tema, Oliveira (1992), enfatiza que o brincar de faz-de-conta, por exemplo,
é importante de ser vivenciado pela criança, pois permite (re) viver situações que lhe
causaram enorme excitação e alegria ou alguma ansiedade, medo ou raiva, e é neste momento
em que ela poderá ao mesmo tempo em que se envolve nesta situação mágica e descontraída,
expressar e trabalhar essas emoções muito fortes ou suportar desconhecidas até então.
Brincar é algo que dá sentido à vida das crianças. Por isso, o educador deve sempre
abrir espaço para utilizar dessa atividade, entendendo-a como eixo que norteia toda e qualquer
prática na educação infantil, como muito bem colocam as DCNEI (BRASIL, 2009). Alguns
profissionais da educação implicam na execução desse brincar como, por exemplo, limitando
o tempo da utilização de um brinquedo, a maneira como a criança deverá utilizá-lo, a forma
como deverá brincar, o barulho executado ou até mesmo o silêncio da criança enquanto
executa sua atividade. Simples situações como dar um brinquedo para uma criança e segundos
depois ela jogá-lo, muitas vezes é interpretado pelo educador como desinteresse da criança
pelo objeto, quando na verdade, pode ser que aquele ato de jogar o brinquedo seja a forma de
brincar da criança, pegando-o e jogando-o ou até um convite a quem esteja próximo para
brincar com ela.
A este respeito, Oliveira (1992, p. 53) se posiciona considerando que:

[...] alguns educadores que costumam dizer: "as crianças estão só brincando", como
se ali nada acontecesse! Alguns educadores de creche dizem que a criança bem
pequena não gosta de brincar, que ela "vive mudando de brincadeira, pegando e
largando logo os objetos". O que eles não consideram é que a criança pequena pode
ter essa forma de brincar, envolvendo-se em sucessivas brincadeiras por curtos
períodos de tempo. Apenas com o desenvolvimento é que a criança é capaz de criar
e participar de enredos mais planejados e duradouros.
Desse modo, o educador deve ter um olhar sensível às ações das crianças, refletir
sobre elas, para então pensar numa prática pedagógica que respeite o seu tempo, a sua
imaginação, a sua forma de entender o mundo através das atividades, ou seja, práticas que
construam o brincar como atividade principal na vida desta criança e, inclusive, no espaço
educativo. Considera-se assim que o brincar é um instrumento essencial para o
desenvolvimento integral da criança, não sendo ele, somente, este instrumento didático
facilitador para o aprendizado, mas também, uma atividade que tem um fim em si mesmo e
que não existe como um meio para atingir um fim.
Tendo sido apresentado o lugar de onde se parte para a discussão acerca do lúdico na
educação infantil, especialmente no que diz respeito à brincadeira, parte-se para os resultados
e as análise a que se chegou com esse estudo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O estágio supervisionado em educação infantil foi desenvolvido em um Centro


Municipal de Educação Infantil na cidade de Arapiraca - Alagoas. A instituição atendia, no
ano de 2016, a 268 crianças distribuídas nas etapas de Educação Infantil, Creche e pré-escola.
A instituição possui cerca de doze salas das quais quatro são muito pequenas e estavam sem
funcionamento e outras 08 salas que estavam funcionando. Sua estrutura física possui quatro
banheiros infantis distinguidos por banheiro feminino e masculino, dois banheiros para
funcionários, auditório, dois parques infantis ao ar livre, um pátio coberto, áreas descobertas
usadas pelas crianças no momento da recreação, refeitório, cozinha, lavanderia, brinquedoteca
e diretoria. Na ocasião da pesquisa, a instituição possuía o seu Projeto Político Pedagógico,
datado do ano de 2015, no qual descreve um pouco da história do patrono da instituição: seu
ano de fundação, sua principal função social e seus principais objetivos.
Na sala onde foi desenvolvido o estágio com as crianças, denominada por Jardim II , o
espaço é fisicamente retangular. Encontrava-se em bom estado de conservação, com paredes
limpas com ventilação adequada. A rotina diária segue a seguinte ordem:
Chegada/Acolhimento às 13horas; roda de conversa às 13h30min; lanche e intervalo das 14h
às 14h30min; atividades das 14h30min às 16horas; jantar às 16horas; brincadeiras e músicas
das 16h30min às 17horas que é o horário de saída da instituição.
O projeto do estágio supervisionado II intitulado como: A criança e o lúdico: aprender
brincando, descobrindo e interpretando teve o objetivo de colaborar com o desenvolvimento
da criança em uma das mais fundamentais fases de sua vida que é a infância e garantir o
espaço da brincadeira e da ludicidade na rotina da turma observada.
Com base nessas informações foi elaborado um cronograma para o estágio dividindo-o
em observações iniciais e sessões de intervenção. Inicialmente foram realizadas duas sessões
de observação na turma de pré-escola, a partir das quais foi possível perceber que as crianças
de modo geral não desenvolviam atividades para além das tarefas em folhas que pudessem
despertar a atenção, curiosidade e interação entre elas. Dessa forma pensou-se em “fugir”
dessa rotina e desenvolver uma proposta lúdica e criativa, de modo a possibilitar a
participação das crianças na construção do seu espaço de aprendizagem.
A partir dessas observações foi planejado um cronograma com cinco intervenções, em
forma de oficinas com as crianças. Na primeira realizou-se uma oficina de pintura livre em
tela; na segunda uma oficina de construção de instrumentos musicais com materiais
recicláveis; na terceira uma oficina de massa de modelar; na quarta oficina foi realizada uma
sessão de brinquedos e brincadeiras livre e na quinta intervenção houve um momento de
contação de histórias com fantoches. Como recursos de apoio às oficinas realizadas, utilizou-
se materiais recicláveis, brinquedos, objetos de arte e teatro de fantoches. Buscou-se
privilegiar atividades livres e dirigidas, tendo em vista que uma é tão importante quanto a
outra, pois permite tanto o exercício da liberdade de criação, como o saber ouvir, entender e
executar o que se pede. Para este trabalho, foram selecionadas duas sessões de intervenção as
quais possuem relação mais direta com o objetivo proposto.

3.1 OBSERVANDO E REFLETINDO Á CERCA DO LÚDICO NA TURMA DE


CRIANÇAS

Nesta etapa do trabalho veremos os registros das observações e reflexões do estágio


que ocorreram nos dias 31 de março e 07 de abril do ano de 2016. Tais observações
aconteceram das 13 horas às 17 horas. Ao entrarmos em sala de aula foram registrados
diversos acontecimentos e detalhes da rotina diária das crianças, como também da professora
da turma, o que possibilitou a recolha de dados importantes que serviram como alicerce para o
projeto de intervenção que foi desenvolvido para o Estágio Supervisionado II em Educação
Infantil, sobre o qual se reflete neste trabalho.
Em nosso primeiro encontro de observações com as crianças, a professora nos
apresentou e explicou que estaríamos lá para observá-las do “cantinho da sala”.
3.1.1 1ª observação

Na rotina diária entre as 13h e 14 horas a professora realiza o


momento de acolhida das crianças. Iniciando a atividade de sala a
profissional distribuiu uma folha de papel em branco para cada
criança. A primeira reação deles foi logo querer rabiscar a folha com o
lápis, mas assim que entregava, a professora chamava a atenção de um
por um de que não podia “escrever” nada. Antes de dar início, a
professora olhou para nós e disse: "Hoje eu irei trabalhar com eles a
letrinha A". Para começar, escreveu de forma bem grande no quadro a
vogal "a". Na sequência pediu para que todos olhassem para o quadro
e desenhassem na folha a mesma letra que ela havia acabado de
escrever.
Ao perceber a dificuldade de algumas crianças, a profissional
da educação passou a explicar para cada um que não conseguia
executar a atividade da forma que foi proposta. Lentamente explicava
a quem não conseguia escrever a vogal sozinho. Em seguida foi
proposta outra atividade para colar papeis picados na cor azul em cima
da vogal "a".
Recolhidas as últimas atividades, a professora pega uma
caixinha de som e coloca um pen drive6 com algumas músicas para
tocar. Sem distribuir brinquedos ou folhas ou qualquer outro objeto,
avisa as crianças que elas podem brincar, dançar e cantar.
Algumas crianças começam a brigar, outras rolam pelo chão.
Enquanto a professora arruma a bolsa,. Uma criança puxa a saia da
outra sem a professora perceber e os dois começam a brigar. Quando a
primeira música acaba, começa a tocar a segunda música que é de uma
banda chamada: Vingadora. A música tem uma letra e conteúdo
adulto. As crianças dançam, descem até o chão, e rapidamente a
música é trocada, porém, a música seguinte também é da mesma
banda e trata-se mais especificamente da música sucesso no carnaval
de 2016 que é a música: metralhadora. Nem todas as crianças
dançaram. Algumas olhavam quietas sentadas no chão, outras em
carteiras.
Ás 16horas, aconteceu o momento do segundo lanche. Vale
lembrar que a instituição desenvolvia alguns momentos de lanche
durante a rotina porém ela é uma instituição integral apenas para
crianças de 3 anos, no caso da turma em que desenvolvemos o estágio,
as crianças iam a instituição apenas no período vespertino, pois
possuíam entre 4 e 5 anos de idade. Ao final das atividades do dia nos
despedimos da professora, agradecendo a oportunidade concedida e
avisando que retornaríamos para mais um dia de observação na
semana seguinte.
(Diário de Campo, 31 mar.. 2016.)

6
O pen drive ou memória USB Flash Drive é um dispositivo capaz de fazer a gravação de
dados e muito utilizado pelas pessoas para armazenar fotos, músicas, documentos entre
outros.
Reflexões da observação

Neste primeiro dia de observação, notou-se que a professora ficou um pouco


desconfortável com a nossa presença e a todo momento ou em qualquer atividade que
realizávamos ela nos olhava e explicava o que estava fazendo e o porquê de estar fazendo
daquela forma.
A Atividade em que deu a folha de papel a cada criança foi uma tarefa difícil, pois,
quando ela avisou que as crianças não podiam colar os papeis picados na folha até que ela
orientasse, as crianças praticamente não deram atenção e já haviam começado a colar. Uma
hipótese para isso é que o tempo de espera da criança é diferente do adulto e por isso deve-se
pensar em rotinas que deem liberdade de escolha às crianças e que as deixe pouco tempo
ociosas ou esperando por algo.
A atividade se tornou lenta e cada vez mais longe de ser finalizada. Observamos que
algumas crianças já haviam terminado a atividade e enquanto isso outras esperavam a
professora chegar até a carteira para explicar como escrever a letra "a" de forma “correta”. Os
que concluíram esta etapa da tarefa não faziam outra coisa se não conversarem entre si. Este é
mais um forte indício de que uma rotina não pensada para as crianças a partir do que lhe é
interessante causa desinteresse por parte destas, que buscam realizar outras coisas que gostam,
como brincar, conversar, rolar no chão. Muitos professores apontam como se as crianças não
quisessem “aprender”, fossem levadas, quando na verdade não há nada interessante para
prendê-las. Durante o momento em que a professora colocou as músicas para que as crianças
ouvissem e dançassem nos mantivemos em postura apenas de observação. Percebeu-se que as
músicas e a própria brincadeira foram sujeitas como passatempo, não como uma atividade em
si mesmas, mas vale lembrar que as músicas infantis são muito importantes para o
desenvolvimento da criança principalmente quando vem acompanhada de muita dança que as
incentiva a trabalhar bastante os seus movimentos corporais, suas expressões e sentimentos.

3.1.2 2ª observação

Às 14horas e 30minutos após as crianças retornarem do


primeiro lanche para sala a professora pediu para que todos sentassem
em suas carteiras e permanecessem em silêncio enquanto ela colocava
o nome de todas as crianças na atividade que ela iria distribuir. No
momento da distribuição ela pediu as crianças para que cada uma
assinassem a sua atividade escrevendo com um lápis os seus nomes.
Nas folhas que foram entregues às crianças pudemos notar a
figura de um palhaço desenhado segurando alguns balões. Para dar
início à atividade, a professora fez algumas perguntas sobre quem
seria o personagem que estava desenhado na folha e se conheciam ou
já viram alguma vez. Abaixo do desenho havia uma pergunta que
pedia para que eles escrevessem dentro de um quadrado ao lado da
questão o número que correspondia a quantidade de balões que o
palhaço segurava na sua mão esquerda uma outra pergunta também
pedia para que colocassem o número que equivalia a quantidade de
balões que o palhaço segurava dessa vez na mão direita.
Finalizada essa primeira parte da atividade a professora foi
até o armário no fundo da sala e pegou diversas cartolinas de cores
diferentes para recortar balões iguais aos do desenho que estava na
atividade. Esta cortou os balões da cor azul e distribuiu um para cada
criança colar em cima de um dos balões da mão do palhaço. Após, ela
entregou cinco pedaços de linha a cada uma das crianças e explicou
que elas deveriam colar cada linha no mesmo lugar do desenho do
cordão de cada balão que o palhaço estava segurando na figura. Por
fim, ela foi até o armário no fundo da sala e pegou vários recipientes
contendo muitos lápis de diversas cores e distribuiu pelas carteiras
para que as crianças pintassem o palhaço das cores que eles
quisessem. Ao final da atividade a professora pediu para que todos se
sentassem no chão. Pegou uma caixa de papelão contendo diversas
peças de montar e distribui para as crianças.. Enquanto a maioria
brincava, uma criança que ainda não havia terminado a atividade
anterior permaneceu sentada na carteira para então concluir a tarefa de
colagem dos balões. A brincadeira se estende até o momento em que
se encerram as atividades diárias da turma.
(Diário de Campo, 07 abr. 2016.)

Reflexões da observação

Percebeu-se que a atividade deste segundo dia de observação foi uma atividade que
deixou a criança por muito tempo à espera, pois enquanto a professora estava na metade da
turma distribuindo a cola, os demais já haviam terminado esta etapa da atividade a um certo
tempo e enquanto isso, aproveitavam para conversar com os colegas. Algumas crianças
demonstraram não entender como deveria ser feita a colagem das linhas pois a professora
apenas falou que era pra colar no lugar dos cordões dos balões sem estar próxima para mediar
a ação da criança.
Em relação à proposta de atividade da professora, percebe-se o uso da arte com um
fim de aprendizagem de noções matemáticas, sendo direcionado o que fazer, o material que
utilizar.
Com essas duas observações, é possível situar o lugar que a brincadeira ocupa na
rotina pedagógica, que é um lugar secundário, não reconhecido como atividade principal da
criança na idade de educação infantil. Diante disso, propomos um projeto de intervenção em
que a brincadeira e a ludicidade têm uma finalidade em si mesmo e a liberdade para brincar é
contemplada por entender que é indispensável ao desenvolvimento da criança.

SESSÃO DE INTERVENÇÃO - 26/05/2016

DESCRIÇÃO DAS AÇÕES

Atividade: Pintura livre em telas


Local: Sala do jardim II A
Tempo de duração: 2 horas

Materiais: Pincéis, tintas guache, caixas de papelão para pizza, paleta com tampas de garrafa,
copos descartáveis, papel higiênico e água.
Quantidade de crianças: 18

Faltando alguns minutos para o primeiro toque que liberava as crianças para o lanche.
Aproveitamos então para organizar e preparar os materiais que utilizamos no projeto e
aguardamos o fim do primeiro intervalo para então darmos início a primeira sessão de
intervenção. Iniciamos explicando as crianças o que iríamos fazer após elas voltarem do
lanche. Primeiro pegamos as caixas de pizza vazias e explicamos que todos poderiam
desenhar na caixa o que eles quisessem. Perguntamos o que eles gostariam de desenhar e
surgiram diferentes respostas.
Iniciamos uma conversa com as crianças sobre as cores, quantidade das cores, afim de
deixá-las à vontade. A maioria mostrou quatro dedos da mão sinalizando a quantidade que
estavam falando, outros apontaram a mão com apenas dois dedos, três ou até com os cinco
dedos.
Após isto, mostramos a eles os pincéis e avisamos que cada um iria receber um para
pintar. Por fim, organizamos as carteiras da sala viradas em direção a parede da sala para
apoiar melhor a tela e para dar a sensação às crianças de que elas estavam pintando assim
como pintores profissionais pintam em cima de cavaletes.
Após colocarmos as carteiras em seus lugares e as telas apoiadas sobre elas a sirene
tocou e deu início então ao primeiro intervalo. Aproveitamos para organizar o restante dos
materiais para que depois que retornassem à sala pudéssemos retomar a atividade. Enchemos
os copos com um pouco de água, pois iria servir para as crianças limparem os pincéis durante
as trocas de cores das tintas. Colocamos um copo em cada carteira e colocamos um pouco de
cada cor em uma paleta que confeccionamos com papelão e tampas de garrafa pet
especialmente para a ocasião.
Com a atividade já iniciada, algumas crianças afirmaram que não sabiam como iniciar
um desenho. Conversamos com elas, fizemos desenhos para elas verem, mas as deixamos
livres para que desenhassem de forma livre.
Ao finalizarem os desenhos em suas telas, distribuímos então, as paletas com as tintas
e explicamos que eles poderiam utilizar as cores da forma que quisessem, mas os lembrando
que a água servia para que eles pudessem lavar os pincéis quando achassem necessário. Tintas
entregues, as pinturas logo começaram a surgir. O silêncio foi grande na sala e com os olhos
"grudados" nos desenhos, as crianças misturavam as tintas e pintavam as telas. Durante a
atividade foi perceptível o uso do pincel, onde algumas crianças colocavam o pincel no copo
com água e continuavam pintando a tela sem utilizar outra tinta como se a água fosse uma
outra cor de tinta e com isso as tintas que já estavam na tela iam se misturando e formando
outras cores por causa da água. Em alguns casos, por conta da água, a sujeira começou a ser
grande e as tintas escorriam pela tela e ficavam sobre as carteiras. A criatividade de algumas
crianças na utilização das cores foi surpreendente, faziam contornos e procuravam pintar as
imagens da forma mais delicada possível. Mas, vale lembrar que muitos também não
seguiram a risca dos desenhos e foram pintando as cores uma por cima da outra criando as
imagens com as tintas da forma como imaginavam e experimentavam.
Aos poucos cada criança finalizava sua pintura e colocamos suas telas sobre as
prateleiras da sala. Atividades finalizadas e então os questionamos se eles gostaram de pintar
as telas e todos responderam com tons e expressões de alegria que "sim!". Uma criança
perguntou se poderia levar pra casa a sua tela e respondemos a ela que poderia sim,
finalizando ela com um grito de: "Êba!". Não demorou muito para que logo a sirene da
instituição tocasse e todos fossem liberados para o intervalo. Organizamos a sala, limpando e
colocando as carteiras de volta aos lugares e recolhemos os materiais utilizados.

Análise da sessão:

Nesta primeira sessão optamos por utilizar a pintura por ser uma das atividades
plásticas largamente usadas em “aulas” de artes, entretanto, como reprodução de algo já
existente. No caso escolhemos utilizar tintas, mas também poderíamos utilizar outros
materiais como papel crepom, alimentos coloridos como beterraba, pó de café usado, entre
outros. Em todo o processo percebe-se o quanto foi importante deixar as crianças livres para
pintarem o que quisessem, conforme sua criatividade, sem exigir delas a produção e
reprodução de algo específico, como era feito diariamente na rotina das crianças com base em
nossas observações. Através disso, podemos ressaltar a importância do educador como
elemento essencial para promover atividades como essa que favorecem o desenvolvimento e
aprendizagem da criança a partir da ludicidade e da experimentação. Educar as crianças não
pode se limitar apenas em repassar informações diariamente ou mostrar apenas um caminho,
mas oferecer várias ferramentas como, por exemplo, as lúdicas, onde ao mesmo tempo em
que as crianças se divirtam, tomam consciência de si mesmo, de suas vontades, atitudes e do
mundo que vive. Nessa perspectiva, segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação
Infantil (BRASIL, 1998, p. 30):

O professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento, organizando


e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos e
capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus
conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de
conhecimento humano.

Quando uma atividade assume uma função lúdica e educativa como a oficina de
pintura, por exemplo, essa atividade propicia diversão, prazer, potencializa a exploração, a
criação, a imaginação e a construção do conhecimento. Através disso pudemos constatar na
oficina que a imaginação foi ganhando forma e representações diferentes para cada criança, o
que pode ser atestado na ação de misturar tintas, água com tinta, formar novas cores.
Conforme ressalta Lima (2003, p.26)

O desenvolvimento da criança está diretamente relacionado com a diversidade e


qualidade de experiências que ela tem a oportunidade de vivenciar. Estas
experiências dependem da constituição do contexto em que a criança vive e,
principalmente, do que lhe é tornado acessível pela ação mediadora dos adultos que
se ocupam dela.
A autora reforça a concepção de que a criança se desenvolve imersa a um meio
cultural e motivada por um ambiente rico em proporcionar experiências. Para tanto, é
necessário considerar os jogos, brinquedos e brincadeiras como atividades privilegiadas para
o desenvolvimento da criança na educação infantil e o espaço estruturado e organizado para a
ludicidade como potente no que se refere ao desenvolvimento.

Foi possível ver a interação entre as crianças ao observarem as telas uns dos outros, ao
pintarem e ajudarem ao colega com a tela quando já havia terminado de pintar a sua, de modo
que o trabalho em grupo surgiu de forma espontânea, que é o mais importante. O papel do
professor é de extrema importância como propulsor ou não do desenvolvimento da criança.
Quando este cria situações para que as crianças possam interagir, possibilita as ricas trocas
entre pares. Para Prestes (2012) o educador tem sim a grande responsabilidade em organizar o
ambiente de aprendizagem, onde as crianças irão se desenvolver.
Essa importância da ludicidade como forma de integrar e promover a interação entre
as crianças está posto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Parecer
CNE/CEB Nº: 20/2009), onde afirmam que:

As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil


devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira e garantir
experiências que promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da
ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem
movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos
da criança.

Ainda conforme as DCNEI (BRASIL, 2009):

Na história cotidiana das interações com diferentes parceiros, vão sendo construídas
significações compartilhadas, a partir das quais a criança aprende como agir ou
resistir aos valores e normas da cultura de seu ambiente. Nesse processo é preciso
considerar que as crianças aprendem coisas que lhes são muito significativas quando
interagem com companheiros da infância, e que são diversas das coisas que elas se
apropriam no contato com os adultos ou com crianças já mais velhas. Além disso, à
medida que o grupo de crianças interage, são construídas as culturas infantis.
(BRASIL, 2009, p.7).

Desse modo, assim como coloca as DCNEI (BRASIL, 2009) que trazem em seu artigo
5º que os eixos norteadores da educação infantil são as interações e as brincadeiras,
compreende-se que é brincando e vivenciando diferentes experiências lúdicas que a criança
aprende a se relacionar com o mundo e a se constituir nele. Compreendendo-se que as práticas
lúdicas e a brincadeira fazem parte de diferentes sociedades desde tempos remotos (ARIÈS,
1981) ao se tratar da brincadeira da criança, afirma-se que é através dela que a criança passa a
descobrir o mundo que está ao seu redor e do qual faz parte. É como um alimento essencial
para seu crescimento e o desenvolvimento de todo o seu potencial.

Voltando as discussões a cerca da oficina de pintura, em um determinado momento,


percebemos a dificuldade de uma criança ao tocar no pincel e pintar a tela com ele concluindo
também que a pintura é uma ótima forma, por exemplo, de fazer ela conhecer e aprimorar a
sua coordenação motora, conhecer novas cores, desenvolver novas formas através da sua
imaginação. São inúmeras as possibilidades de aprendizado utilizando as artes plásticas, pois
estas abrem espaço para as crianças conhecerem a si próprias e suas potencialidades. Para
Fontana e Cruz (1997) quando a escola incentiva a criança a desenhar livremente, estimula o
desenvolvimento da expressão e da criatividade.
E é com base nos pressupostos das DCNEI (BRASIL, 2009) que legitima a presença
do lúdico na educação infantil que o referido trabalho visa refletir acerca dessa importância
das práticas lúdicas para o desenvolvimento integral das crianças em espaço de educação
infantil, a partir dessa revisita à experiência do estágio supervisionado. Ressaltando ser este
um caminho essencial para a aprendizagem e desenvolvimento da criança nos espaços
institucionais, para a construção do conhecimento e da autonomia destas. Tal aspecto deve ser
privilegiado na educação infantil a partir da brincadeira7, dos jogos com o uso de brinquedos e
materiais pedagógicos que possibilitem o enriquecimento da imaginação e o exercício da
autonomia, das experiências e vivências artísticas e culturais e de diferentes ações que
estimulem o trabalho com as mais variadas linguagens, em contraposição à práticas
pedagógicas de antecipação ao ensino.

SESSÃO DE INTERVENÇÃO - 17/05/2016

DESCRIÇÃO DAS AÇÕES

Atividade: Brinquedos e Brincadeira livre.


Local: Sala do Pré 1
Tempo de duração: 1hora e 30min.
Materiais: bonecas, carrinhos de brinquedo, túnel, cavalos de balanço, tambores e peças de
montagem.
Quantidade de crianças: 16
Chegou o dia de iniciarmos a nossa quarta intervenção com a turma de crianças e
dessa vez quando chegamos ao local, notamos uma maior empolgação das crianças, fato que
atribuímos por estarmos com muitos brinquedos nas mãos. Antes de iniciarmos as atividades
esperamos a sirene da instituição tocar para que enquanto eles fossem para o primeiro
intervalo pudéssemos organizar as carteiras e os locais dos brinquedos na sala. Empilhamos as
carteiras ao fundo da sala e colocamos os brinquedos em lugares separados. Bonecas juntas
em um lugar, carrinhos ao meio da sala, peças de montagem em outro e então aguardamos que
o intervalo encerrasse para que as crianças voltassem para a sala.
De volta à sala, as crianças foram entrando e não demos explicações do que eles
poderiam fazer ali, todos se dirigiram a grupos e brinquedos conforme seus interesses. As

7
Entenda-se brincadeira por atividade livre das crianças, em que estas tomam iniciativa, escolhem parceiros,
negociam, decidem quanto inicia e quanto termina, dentre outros aspectos.
meninas foram logo entrado no túnel, enquanto os meninos foram pegando os carrinhos. Cada
um queria brincar com alguma coisa, mas ficavam indecisos pois havia muitas opções na sala
e pareciam querer tudo ao mesmo tempo. Uma criança, por exemplo, pegou duas bonecas e
ainda foi brincar no cavalinho com o colega, mas não largou as bonecas das mãos.
Foram muitos os detalhes que pudemos observar enquanto eles brincavam livremente.
Quando uma criança brincava com a boneca em cima do carro a outra criança também queria
e passava a “imitar” a ação do outro. Quase todo o tempo passavam a impressão de que
raramente tinham contato com objetos como aqueles na instituição. Se mostraram muito
eufóricos e não paravam de brincar nenhum segundo. Um dos brinquedos foi muito disputado,
todos queriam passar por ele e assim que chegavam ao final, já voltavam correndo para o
início. Em alguns momentos, alguns deles viravam para voltar ao início estando ainda no
meio do túnel.
Todas as crianças demonstraram ter se divertido. Como deixamos que brincassem
livremente, esperamos até a última criança querer sair da sala para que então pudéssemos
reorganizar as carteiras e então guardar os brinquedos.

Análise da sessão:

Se quisermos saber porque os brinquedos e brincadeiras são tão importantes na


construção do conhecimento basta apenas observar uma criança brincando. Se formos bem
atenciosos neste momento podemos ver que a criança está criando sua personalidade e
mostrando sua forma de entender o mundo, pois cada uma agia de uma maneira diferente com
os brinquedos.
Foi muito importante para nós deixarmos que elas brincassem livremente, pois não
devemos nunca atrapalhar a criança no que ela está simbolizando com algum determinado
objeto ou sobre qualquer brincadeira de faz-de-conta que ela esteja executando, não podemos
interrompê-la somente porque a forma que ela esteja usando aquele objeto possa não ser da
forma que esperávamos.

Brincar é coisa séria, também, por que na brincadeira não há trapaça, há sinceridade
e engajamento voluntário e doação. Brincando nos reequilibramos, reciclamos
nossas emoções e nossa necessidade de conhecer e reinventar. E tudo isso
desenvolvendo atenção, concentração e muitas habilidades. É brincando que
acriança mergulha na vida, sentindo-a na dimensão de possibilidades. No espaço
criado pelo brincar nessa aparente fantasia, acontece a expressão de uma realidade
interior que pode estar bloqueada pela necessidade de ajustamento às expectativas
sociais e familiares (VIGOTSKY, 1994, p. 67).

Durante nossa intervenção pudemos observar complexamente em suas emoções a


essencial necessidade de possibilitar os jogos, brinquedos e brincadeiras como a possibilidade
da criança se desenvolver, construir seus conhecimentos, de expressar todas as suas emoções
e de como ela está entendendo o mundo que chega até ela. É preciso sempre dinamizar as
ferramentas lúdicas no cotidiano escolar, transformar o brincar em trabalho pedagógico, saber
entrar no mundo imaginário da criança, no seu sonho, no seu jogo e aprender a jogar com ela.
Um dos momentos mais ricos de nossas observações nesta sessão foi em relação a
forma da utilização dos brinquedos por parte das crianças e mais especificamente por parte de
algumas delas que segundo a professora possuem muita dificuldade de aprendizagem,
podemos entender que o brinquedo a ser utilizado por uma criança com mais dificuldade de
aprendizagem, não é diferente de um brinquedo utilizado por qualquer outra criança.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998) a partir
da importância da ludicidade que o professor deverá contemplar jogos, brinquedos e
brincadeiras, como princípio norteador das atividades didático-pedagógicas, possibilitando à
criança uma aprendizagem prazerosa.
Mesmo que os brinquedos sejam carregados de histórias que os colocam no
entendimento de uma única utilização e função, não devemos esperar que por isso a criança
utilize apenas uma forma de brincar com aquele brinquedo, elas fazem deles suportes que
sempre estarão sujeitos a novos significados. Justamente por essa liberdade e forma particular
de utilizá-los que é importante ter muitos brinquedos na escola e, sobretudo, ao alcance da
turma. Por pouco que tenham sido o tempo da sessão podemos perceber que são capazes de
construir vínculos com esses objetos estabelecendo relações de posse, de abandono e de
perda, o que nos dá um amplo entendimento de que estão refletindo sobre si mesmas e
descobrindo como reagir a situações que vão reproduzir ao longo da vida.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criança é um ser social que expressa o seu entendimento acerca do meio em que está
inserida, através do que sente, faz e comunica a partir das suas diferentes formas de
expressão. Ela deve encontrar em seu dia a dia a oportunidade de vivenciar sua infância de
forma prazerosa e afetiva, sendo a creche e a pré-escola esta oportunidade. Para tanto, deve
reconhecer a criança como um sujeito singular, com especificidades e diferenças que precisam
ser reconhecidas e respeitadas.
Muitos são os desafios que a educação precisa enfrentar e um deles é fazer com que a
criança seja reconhecida como sujeito de direitos, cidadã. A educação é um direito da criança
e não pode ser negado, assim como viver a infância, a ludicidade e as brincadeiras. Educar é
mais que “ensino aprendizagem”; é mais que meramente “aprender apenas o programado”. É,
acima de tudo, uma inter-relação entre os sentimentos da criança, os afetos, as experiências
que proporcionam o seu desenvolvimento integral.
Ao longo de todo este trabalho foi possível confrontar teoria e prática na realidade da
educação infantil de Arapiraca, que não se distancia muito da realidade do Brasil. Através da
experiência vivida no estágio supervisionado na educação infantil constatou-se o quanto é
difícil abrir caminhos para a “mudança”, já que ainda predominam práticas “tradicionais”. E o
quanto encontramos diferenças no que diz respeito a teoria e a prática. Com base nos dados do
estágio supervisionado e nos pressupostos teóricos, notamos que quando o educador tem a
prática de que tudo se aprende através da repetição, da rotina diária presa à atividades em sala,
a educação para a criança de 0 a 6 anos, em espaço institucional, passa a ser algo cansativo,
monótono e desestimulante. Quando essa repetição diária vai se distanciando da criatividade,
da autonomia, da ludicidade e das experiências que são necessárias para o desenvolvimento
integral da criança, a educação infantil e seus princípios perdem sentido em função do ensino.
Todos estes aspectos se fizeram presentes em nossas observações através da rotina das
crianças; cheia de atividades pré-estabelecidas que possuem um fim em si mesma.
Esta oportunidade de observar a rotina de uma turma de crianças de uma pré-escola,
refletir a partir do observado e elabora um plano de ação que buscasse ir na contramão do
observado, permitiu o olhar para as crianças, para suas interações, para uma educação infantil
possível e significativa para elas. Permitiu ainda transpor para a prática o que fora estudado
durante o curso de pedagogia, especialmente nas disciplinas da área da educação infantil que
sem dúvidas foi essencial para que pudéssemos desenvolver os planos de ações com
embasamento teórico para a prática. Vale ressaltar que nessa transição entre nossas
observações e intervenções as crianças apresentaram comportamentos diferentes no que diz
respeito as suas emoções e particularidades. Elas demonstravam mais prazer em realizar
atividades fora daquilo que era sempre proposto com finalidades. Pode-se através disso pensar
em possibilidades dadas aos educadores dentre tantas instituições que podem desenvolver o
lúdico da mesma forma que a professora da turma observada; analisando e ressaltando através
disso a necessidade de projetos de formação continuadas para os profissionais da educação.
Fica aqui a extrema necessidade em assegurar à criança condições para o seu
desenvolvimento, não só na letra da lei, mas na execução concreta e real onde o direito de
brincar seja legitimamente reconhecido assim como o seu tempo e o seu espaço sejam
respeitados e ganhem também sua devida importância. Afinal, educar a criança através de
práticas lúdicas também é prepará-la para a vida no decorrer da vida, independente dos
desafios que possam ser encontrados na execução dessas práticas que são direitos.

REFERÊNCIAS

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de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
BORBA, Ângela M. A brincadeira como experiência de cultura na educação infantil. In:
BRASIL/MEC – Revista Criança do professor de educação infantil. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.
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Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998, volume: 1 e 2.
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OLIVEIRA, Zilma de Moraes et al. Creches: crianças, faz de conta & cia. Petrópolis: Vozes,
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WALLON, Henry. Do ato ao pensamento: ensaio de psicologia comparada. Petrópolis:
Vozes, 2008.

APÊNDICE A - Crianças expressando algarismos numéricos com as mãos.

Fonte: Arquivo do autor (2016)

APÊNDICE B - Oficina de pintura livre em tela.

Fonte: Arquivo do autor (2016)

APÊNDICE C - Paleta com várias cores de tintas.


Fonte: Arquivo do autor (2016)

APÊNDICE D - Crianças apresentando seus desenhos desenvolvidos nas telas.

Fonte: Arquivo do autor (2016)

APÊNDICE E - Início da oficina de pintura livre em tela.

Fonte: Arquivo do autor (2016)

APÊNDICE F - Crianças desenvolvendo as pinturas nas telas artesanais.


Fonte: Arquivo do autor (2016)

APÊNDICE G - Brinquedos.

Fonte: Arquivos do autor (2016)

APÊNDICE H - Crianças brincando.

Fonte: Arquivos do autor (2016)

APÊNDICE I - O desenvolvimento e interação das crianças através do lúdico.


Fonte: Arquivos do autor (2016)

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