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CAMPUS ARAPIRACA
PEDAGOGIA - LICENCIATURA
ARAPIRACA
2018
Leonardo Henrique dos Santos
Arapiraca
2018
Arapiraca
2018
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
uma análise da experiência do estágio supervisionado
RESUMO
A presente pesquisa busca refletir acerca da importância das práticas lúdicas para o desenvolvimento
integral das crianças em espaço de educação infantil, a partir de uma revisita à experiência do estágio
supervisionado na educação infantil do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas. O
projeto de intervenção aplicado durante o estágio: A criança e o lúdico: aprender brincando,
descobrindo e interpretando objetivou proporcionar às crianças experiências que contribuíssem para a
construção da autonomia e desenvolvimento integral de forma lúdica e criativa. Em seu
desenvolvimento se propôs a: estimular a criatividade das crianças; encorajar o trabalho em equipe e
desenvolver práticas para impulsionar o desenvolvimento da criança nos seus mais variados campos a
partir da ludicidade. O estágio ocorreu em uma instituição de Educação Infantil pública do município
de Arapiraca-AL, no ano de 2016. Inicialmente, foram realizadas sessões de observação em uma turma
de pré-escola da instituição através das quais foi possível constatar que o lúdico estava presente na
rotina da turma observada, porém aparecia em segundo plano, em curtos momentos, sendo a rotina
preenchida, em sua maior parte, por atividades regradas e pouco estimulantes para as crianças. A partir
das sessões de observação o projeto de intervenção foi desenvolvido em cinco sessões pensadas a
partir das análises dos dados coletados nas observações. As ações desenvolvidas na intervenção
tiveram o intuito de realizar práticas lúdicas que estimulassem a criatividade e a interação entre as
crianças. A referida pesquisa se apoiou em pressupostos teóricos que confirmam a importância do
lúdico no desenvolvimento integral das crianças, dentre os quais podemos citar: Vigotsky (1994;
1998), Wallon (2008), bem como autores contemporâneos que se debruçam sobre o lúdico e sobre o
brincar, a exemplo de Kishimoto (1997; 2003); Velasco (1996); Oliveira (1992); Fontana e Cruz
(1997), entre outros. Desse modo, a revisita a esta experiência permitiu rediscutir através de dados
de campo sobre a necessidade do lúdico ser o ponto de partida de todas as ações desenvolvidas
com/para as crianças nas creches e pré-escolas, a partir de suas próprias escolhas, respeitando o
princípio da autonomia, da criatividade e da liberdade para fazer escolhas.
ABSTRACT
1
Aluno concluinte do curso de Pedagogia Licenciatura da Universidade Federal de
Alagoas - e-mail: leonardo-lh@hotmail.com.
2
Professora Adjunta da Universidade Federal de Alagoas - Campus Arapiraca - e-
mail:renatamaynart1986@gmail.com.
The present research seeks to reflect on the importance of playful practices for the integral
development of children in a children 's education space, based on a review of the experience
of supervised training in children' s education at the Pedagogy Course of the Federal
University of Alagoas. The project of intervention applied during the stage: The child and the
ludic: learning by playing, discovering and interpreting aimed to provide children with
experiences that contribute to the construction of autonomy and integral development in a
playful and creative way. In its development it was proposed to: stimulate children's
creativity; encourage teamwork and develop practices to boost the development of children in
their most varied fields based on playfulness. The internship took place in a public elementary
school in the municipality of Arapiraca-AL, in the year 2016. Initially, observation sessions
were held in a pre-school class of the institution through which it was possible to verify that
the play was present in the routine of the observed group, but it appeared in the background,
in brief moments, being the routine filled, for the most part, by regaled activities and little
stimulating for the children. From the observation sessions, the intervention project was
developed in five sessions based on the analysis of the data collected in the observations. The
actions developed in the intervention had the intention of performing playful practices that
stimulated creativity and interaction among children. This research was supported by
theoretical assumptions that confirm the importance of playfulness in the integral
development of children, among which we can mention: Vigotsky (1994, 1998), Wallon
(2008), as well as contemporary authors that focus on the playful and on the play, like
Kishimoto (1997, 2003); Velasco (1996); Oliveira (1992); Fontana and Cruz (1997), among
others. Thus, revisiting this experience allowed us to rediscuit through field data on the need
for play to be the starting point of all actions developed with / for children in kindergartens
and pre-schools, based on their own choices, respecting the principle of autonomy, creativity
and freedom to make choices.
1 INTRODUÇÃO
É quase sempre impossível falar de criança e não remeter a rápida lembrança que
associa o termo criança3 à brinquedos, brincadeiras e jogos. Especialmente porque desde seu
nascimento, o ser humano é propício a vivenciar suas primeiras experiências através de
práticas lúdicas como uma simples canção de ninar, por exemplo, jogos de esconder e
aparecer com a mãe ou o parceiro mais próximo. À medida que o bebê4 vai crescendo, durante
a infância, diversos outros instrumentos lúdicos e brincadeiras começam a fazer parte da vida
da criança, como por exemplo: a boneca, a bola, cantigas de roda, carrinhos, brincadeiras de
faz de conta como brincar de comidinha, dentre outros. A criança cria e recria seu
conhecimento a cada prática lúdica que se faz presente em sua vida; ela vivencia inúmeras
sensações e experiências, constrói normas para si e para o outro, as quais negociam no grupo;
organiza brincadeiras, objetos, papéis, regula a ação do outro ao mesmo tempo em que é
regulada por este outro e interage com pessoas e objetos.
A Conforme ressalta Borba (2007) a ludicidade cruza diferentes tempos e lugares,
passados, presentes e futuros, sendo marcada ao mesmo tempo pela continuidade ou pela
mudança na forma do brincar. Essa experiência não é simplesmente reproduzida anos após
anos, mas também pode ser recriada a partir do que a criança traz de novo, com seu poder de
imaginar, criar, reinventar e produzir cultura.
3
A criança é um ser humano na fase da infância, que vai do nascimento à puberdade; sem experiência; quem é
ingênuo, inocente.
4
Bebê é uma criança recém-nascida ou de poucos meses.
Acerca do lúdico na educação infantil, Buitoni (2006), traz para reflexão a rotina de
uma instituição de educação infantil de São Paulo que tem as experiências lúdicas,
especialmente o brincar e o contato com a natureza, como principais meios de
desenvolvimento da criança. A autora ressalta que o brincar é utilizado como um instrumento
natural, tal como estar em contato com a natureza, com as brincadeiras, as artes e a
convivência. A fundadora da instituição Te-Arte, a educadora Thereza Pagani, afirma que é
brincando que a criança passa a entender melhor o seu corpo, desenvolve relações com as
outras crianças, domina o espaço e aprende a ser cidadã (PAGANI, apud BUITONI, 2006).
Na Te-Arte, pode-se observar no decorrer do livro que predomina um trabalho
recreativo, educativo e criativo, colocando sempre o lúdico como fundamental e denominando
o brincar como o "trabalho" da criança por excelência. Neste caso, a Te-Arte desenvolve a
sensibilidade das crianças colocando-as em contato com os materiais mais diversos,
predominantemente os naturais, como está descrito no trecho a seguir:
Vale lembrar que essa liberdade que se dá para a criança não é simplesmente “deixá-la
solta”, não intervir ou mediar situações, muito pelo contrário. Na Te-Arte todos os
profissionais que nela atuam possuem embasamento teórico e objetivos bem definidos quando
estão em contato com as crianças e o mais importante é que tudo acontece sem esquecer do
afeto e cuidado, essenciais nessa fase.
A Te-Arte trouxe várias contribuições positivas para o ensino e podemos notar a
ausência de algumas dessas contribuições levando em conta a experiência e o observado do
estágio; onde a educadora deixava de lado diversas possibilidades de elaborar boas estratégias
e novas formas de deixar as crianças aprenderem, pela pouca utilização do espaço como
instrumento principal de criação de novas ideias, e pela falta da liberdade das crianças para
utilizarem da forma como deseja o seu tempo, o seu jeito e seus limites.
Vale lembrar que o "Quintal mágico" é um lugar onde a criança pode brincar e se
desenvolver ao mesmo tempo, mas não é um local para tornar a criança uma intelectual. Ele
não cumpre essa função. Assim a sala de aula também não pode se tornar um local apenas
com o objetivo de tornar as crianças intelectuais, é preciso promover situações de liberdade
para elas se desenvolverem.
Corrobora com a perspectiva da Te-Arte o que está posto no Parecer CNE/CEB Nº:
20/2009 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil,
Sem distinção de idade, raça, religião ou classe social, o lúdico deve sempre se fazer
presente no contexto do Projeto Político Pedagógico 5 das instituições de educação infantil não
somente na teoria, mas, sobretudo, na prática por parte dos educadores por sua grande
contribuição para o desenvolvimento da criança. Estas práticas lúdicas que devem ser
desenvolvidas pelos educadores na educação infantil são compreendidas a partir dos jogos,
brinquedos e brincadeiras, todos estes termos abrangidos das práticas mais simples as mais
difíceis, das mais antigas as mais modernas, de um simples gesto de "bom dia" ao entrar na
escola até as brincadeiras de faz-de-conta onde a criança pode ser o "super-homem" ou
qualquer coisa que venha à sua imaginação. Para Velasco (1996) é durante essas atividades
que a ludicidade se faz presente, que a criança desperta prazer por executá-las, pois permite a
ela todo o aprendizado e desenvolvimento sem esforço de sua parte.
Antes de entendermos os conceitos de brincadeira e brinquedo, é possível notar que estes dois
termos têm muito em comum com um terceiro termo,jogo, que são atividades como: os jogos
de mímica, de tabuleiro, faz-de-conta, amarelinha, etc., os quais se misturam entrelaçando
assim, os conceitos para cada um, mas diferenciando-se mediante exigências particulares de
habilidades.
5
O Projeto político Pedagógico de uma instituição é peça fundamental no planejamento das instituições de
ensino em seus vários níveis e modalidades. Ele irá demonstrar o que a escola idealiza, quais suas metas e
objetivos e quais os possíveis caminhos para atingi-los.
Conceituando o jogo, em sua obra Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação,
Kishimoto (1997, p. 13), parte da seguinte definição:
Tentar definir o jogo não é tarefa fácil. Quando se pronuncia a palavra jogo cada um
pode entendê-la de modo diferente. Pode-se estar falando de jogos políticos, de
adultos, crianças, animais ou amarelinhas, xadrez, adivinhas, dominó... Tais jogos,
embora recebam a mesma denominação, têm suas especificidades. Por exemplo, no
faz-de-conta, há forte presença da situação imaginária; no jogo de xadrez, regras
padronizadas, permitem a movimentação das peças.
A autora quanto à utilização do jogo afirma que, na educação infantil, só pode ser jogo
quando ele é escolhido de forma livre e espontânea pela criança, caso contrário, ele é ensino
ou uma forma de trabalho educativo, ressaltando que o objetivo do jogo deve ser sempre para
brincar.
Através da teoria da autora nota-se que o jogo da criança não pode e não deve ter a
mesma intenção do jogo de um adulto. Como exemplo, é necessário refletir acerca do que
representa esta atividade para a criança, tratando-se de apenas um momento onde a
aprendizagem e o desenvolvimento ocorrem, diferenciando-se do sentido que ele pode
representar para um adulto, onde ele ganha, geralmente, um aspecto de recreação.
Nesse sentido os jogos são atividades que desenvolvem o raciocínio na criança. A
respeito dos jogos, Kishimoto (idem, p. 18) afirma que "[...] jogos, como xadrez, e jogos de
construção exigem, de modo explícito ou implícito, o desempenho de certas habilidades
definidas por uma estrutura preexistente no próprio objeto e suas regras", envolvendo regras
como ocupação e noções de lugar, estimulando o raciocínio lógico, o desenvolvimento de
habilidades motoras e sensoriais.
Sem perceber, profissionais da educação podem acabar confundido a relação dos jogos
com os brinquedos, já que para muitos, são termos que parecem sinônimos, mas ambos
possuem definições diferentes embora, ao mesmo tempo, se relacionem. O brinquedo pode ser
entendido como um objeto em que a criança utiliza da forma como sua imaginação quiser; já
o jogo não permite essa liberdade tão ampla na sua forma de utilização através da imaginação
da criança, pois quase sempre é regido por regras e situações sistematizadas.
[...] o brinquedo contém sempre uma referência ao tempo de infância do adulto com
representações veiculadas pela memória e imaginação. O vocábulo "brinquedo" não
pode ser reduzido á pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem uma
dimensão material, cultural e técnica. Enquanto objeto é sempre suporte de
brincadeira. É o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil
(KISHIMOTO, 1997, p 21).
O brinquedo pode ser entendido como qualquer tipo de objeto que desperte na criança
a sensação do brincar. Sendo assim já iniciamos os conceitos e contribuições do brinquedo
ressaltando a importância do educador em inserir na rotina diária práticas lúdicas que levem a
criança a construir seu próprio brinquedo, por exemplo, através de materiais recicláveis ou
oriundos da natureza, que são os chamados por Kishimoto (2003), como os brinquedos não
estruturados: paus, pedras, entre outros. Este tipo de brinquedo, confeccionado manualmente,
já nos permite fazer uma comparação com os brinquedos educativos, ou como cita a autora, os
brinquedos estruturados (adquiridos prontos), que são brinquedos que se auto definem como
instrumentos lúdicos para transmissão de conhecimentos. É como se ele assumisse um papel
particular de ter como sua principal função, oferecer conteúdo pedagógico ao entretenimento
da criança e não apenas ludicidade, entrando em contradição e pondo o brinquedo não
estruturado numa função que pouco conhecimento irá oferecer à criança.
Independente de qual papel os brinquedos estruturados e os não estruturados assumem,
a estudiosa ressalta a importância do brinquedo em si, sem a discriminação das formas. Para
tal, afirma que
É fácil notar que, através da utilização do brinquedo, uma criança pode construir o seu
próprio universo, trazendo para sua realidade, situações do seu mundo imaginário. Nessa
perspectiva, Kishimoto (2003) ressalta que a palavra brinquedo está ligada com o objeto, que
é o apoio da brincadeira independente de qual seja essa brincadeira. E é através das
brincadeiras, utilizando o brinquedo ou não, como objeto, que a inteligência e as emoções da
criança estarão em processo de desenvolvimento.
Sobre a brincadeira, a autora expressa seu ponto de vista:
Sobre este tema, Oliveira (1992), enfatiza que o brincar de faz-de-conta, por exemplo,
é importante de ser vivenciado pela criança, pois permite (re) viver situações que lhe
causaram enorme excitação e alegria ou alguma ansiedade, medo ou raiva, e é neste momento
em que ela poderá ao mesmo tempo em que se envolve nesta situação mágica e descontraída,
expressar e trabalhar essas emoções muito fortes ou suportar desconhecidas até então.
Brincar é algo que dá sentido à vida das crianças. Por isso, o educador deve sempre
abrir espaço para utilizar dessa atividade, entendendo-a como eixo que norteia toda e qualquer
prática na educação infantil, como muito bem colocam as DCNEI (BRASIL, 2009). Alguns
profissionais da educação implicam na execução desse brincar como, por exemplo, limitando
o tempo da utilização de um brinquedo, a maneira como a criança deverá utilizá-lo, a forma
como deverá brincar, o barulho executado ou até mesmo o silêncio da criança enquanto
executa sua atividade. Simples situações como dar um brinquedo para uma criança e segundos
depois ela jogá-lo, muitas vezes é interpretado pelo educador como desinteresse da criança
pelo objeto, quando na verdade, pode ser que aquele ato de jogar o brinquedo seja a forma de
brincar da criança, pegando-o e jogando-o ou até um convite a quem esteja próximo para
brincar com ela.
A este respeito, Oliveira (1992, p. 53) se posiciona considerando que:
[...] alguns educadores que costumam dizer: "as crianças estão só brincando", como
se ali nada acontecesse! Alguns educadores de creche dizem que a criança bem
pequena não gosta de brincar, que ela "vive mudando de brincadeira, pegando e
largando logo os objetos". O que eles não consideram é que a criança pequena pode
ter essa forma de brincar, envolvendo-se em sucessivas brincadeiras por curtos
períodos de tempo. Apenas com o desenvolvimento é que a criança é capaz de criar
e participar de enredos mais planejados e duradouros.
Desse modo, o educador deve ter um olhar sensível às ações das crianças, refletir
sobre elas, para então pensar numa prática pedagógica que respeite o seu tempo, a sua
imaginação, a sua forma de entender o mundo através das atividades, ou seja, práticas que
construam o brincar como atividade principal na vida desta criança e, inclusive, no espaço
educativo. Considera-se assim que o brincar é um instrumento essencial para o
desenvolvimento integral da criança, não sendo ele, somente, este instrumento didático
facilitador para o aprendizado, mas também, uma atividade que tem um fim em si mesmo e
que não existe como um meio para atingir um fim.
Tendo sido apresentado o lugar de onde se parte para a discussão acerca do lúdico na
educação infantil, especialmente no que diz respeito à brincadeira, parte-se para os resultados
e as análise a que se chegou com esse estudo.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
6
O pen drive ou memória USB Flash Drive é um dispositivo capaz de fazer a gravação de
dados e muito utilizado pelas pessoas para armazenar fotos, músicas, documentos entre
outros.
Reflexões da observação
3.1.2 2ª observação
Reflexões da observação
Percebeu-se que a atividade deste segundo dia de observação foi uma atividade que
deixou a criança por muito tempo à espera, pois enquanto a professora estava na metade da
turma distribuindo a cola, os demais já haviam terminado esta etapa da atividade a um certo
tempo e enquanto isso, aproveitavam para conversar com os colegas. Algumas crianças
demonstraram não entender como deveria ser feita a colagem das linhas pois a professora
apenas falou que era pra colar no lugar dos cordões dos balões sem estar próxima para mediar
a ação da criança.
Em relação à proposta de atividade da professora, percebe-se o uso da arte com um
fim de aprendizagem de noções matemáticas, sendo direcionado o que fazer, o material que
utilizar.
Com essas duas observações, é possível situar o lugar que a brincadeira ocupa na
rotina pedagógica, que é um lugar secundário, não reconhecido como atividade principal da
criança na idade de educação infantil. Diante disso, propomos um projeto de intervenção em
que a brincadeira e a ludicidade têm uma finalidade em si mesmo e a liberdade para brincar é
contemplada por entender que é indispensável ao desenvolvimento da criança.
Materiais: Pincéis, tintas guache, caixas de papelão para pizza, paleta com tampas de garrafa,
copos descartáveis, papel higiênico e água.
Quantidade de crianças: 18
Faltando alguns minutos para o primeiro toque que liberava as crianças para o lanche.
Aproveitamos então para organizar e preparar os materiais que utilizamos no projeto e
aguardamos o fim do primeiro intervalo para então darmos início a primeira sessão de
intervenção. Iniciamos explicando as crianças o que iríamos fazer após elas voltarem do
lanche. Primeiro pegamos as caixas de pizza vazias e explicamos que todos poderiam
desenhar na caixa o que eles quisessem. Perguntamos o que eles gostariam de desenhar e
surgiram diferentes respostas.
Iniciamos uma conversa com as crianças sobre as cores, quantidade das cores, afim de
deixá-las à vontade. A maioria mostrou quatro dedos da mão sinalizando a quantidade que
estavam falando, outros apontaram a mão com apenas dois dedos, três ou até com os cinco
dedos.
Após isto, mostramos a eles os pincéis e avisamos que cada um iria receber um para
pintar. Por fim, organizamos as carteiras da sala viradas em direção a parede da sala para
apoiar melhor a tela e para dar a sensação às crianças de que elas estavam pintando assim
como pintores profissionais pintam em cima de cavaletes.
Após colocarmos as carteiras em seus lugares e as telas apoiadas sobre elas a sirene
tocou e deu início então ao primeiro intervalo. Aproveitamos para organizar o restante dos
materiais para que depois que retornassem à sala pudéssemos retomar a atividade. Enchemos
os copos com um pouco de água, pois iria servir para as crianças limparem os pincéis durante
as trocas de cores das tintas. Colocamos um copo em cada carteira e colocamos um pouco de
cada cor em uma paleta que confeccionamos com papelão e tampas de garrafa pet
especialmente para a ocasião.
Com a atividade já iniciada, algumas crianças afirmaram que não sabiam como iniciar
um desenho. Conversamos com elas, fizemos desenhos para elas verem, mas as deixamos
livres para que desenhassem de forma livre.
Ao finalizarem os desenhos em suas telas, distribuímos então, as paletas com as tintas
e explicamos que eles poderiam utilizar as cores da forma que quisessem, mas os lembrando
que a água servia para que eles pudessem lavar os pincéis quando achassem necessário. Tintas
entregues, as pinturas logo começaram a surgir. O silêncio foi grande na sala e com os olhos
"grudados" nos desenhos, as crianças misturavam as tintas e pintavam as telas. Durante a
atividade foi perceptível o uso do pincel, onde algumas crianças colocavam o pincel no copo
com água e continuavam pintando a tela sem utilizar outra tinta como se a água fosse uma
outra cor de tinta e com isso as tintas que já estavam na tela iam se misturando e formando
outras cores por causa da água. Em alguns casos, por conta da água, a sujeira começou a ser
grande e as tintas escorriam pela tela e ficavam sobre as carteiras. A criatividade de algumas
crianças na utilização das cores foi surpreendente, faziam contornos e procuravam pintar as
imagens da forma mais delicada possível. Mas, vale lembrar que muitos também não
seguiram a risca dos desenhos e foram pintando as cores uma por cima da outra criando as
imagens com as tintas da forma como imaginavam e experimentavam.
Aos poucos cada criança finalizava sua pintura e colocamos suas telas sobre as
prateleiras da sala. Atividades finalizadas e então os questionamos se eles gostaram de pintar
as telas e todos responderam com tons e expressões de alegria que "sim!". Uma criança
perguntou se poderia levar pra casa a sua tela e respondemos a ela que poderia sim,
finalizando ela com um grito de: "Êba!". Não demorou muito para que logo a sirene da
instituição tocasse e todos fossem liberados para o intervalo. Organizamos a sala, limpando e
colocando as carteiras de volta aos lugares e recolhemos os materiais utilizados.
Análise da sessão:
Nesta primeira sessão optamos por utilizar a pintura por ser uma das atividades
plásticas largamente usadas em “aulas” de artes, entretanto, como reprodução de algo já
existente. No caso escolhemos utilizar tintas, mas também poderíamos utilizar outros
materiais como papel crepom, alimentos coloridos como beterraba, pó de café usado, entre
outros. Em todo o processo percebe-se o quanto foi importante deixar as crianças livres para
pintarem o que quisessem, conforme sua criatividade, sem exigir delas a produção e
reprodução de algo específico, como era feito diariamente na rotina das crianças com base em
nossas observações. Através disso, podemos ressaltar a importância do educador como
elemento essencial para promover atividades como essa que favorecem o desenvolvimento e
aprendizagem da criança a partir da ludicidade e da experimentação. Educar as crianças não
pode se limitar apenas em repassar informações diariamente ou mostrar apenas um caminho,
mas oferecer várias ferramentas como, por exemplo, as lúdicas, onde ao mesmo tempo em
que as crianças se divirtam, tomam consciência de si mesmo, de suas vontades, atitudes e do
mundo que vive. Nessa perspectiva, segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação
Infantil (BRASIL, 1998, p. 30):
Quando uma atividade assume uma função lúdica e educativa como a oficina de
pintura, por exemplo, essa atividade propicia diversão, prazer, potencializa a exploração, a
criação, a imaginação e a construção do conhecimento. Através disso pudemos constatar na
oficina que a imaginação foi ganhando forma e representações diferentes para cada criança, o
que pode ser atestado na ação de misturar tintas, água com tinta, formar novas cores.
Conforme ressalta Lima (2003, p.26)
Foi possível ver a interação entre as crianças ao observarem as telas uns dos outros, ao
pintarem e ajudarem ao colega com a tela quando já havia terminado de pintar a sua, de modo
que o trabalho em grupo surgiu de forma espontânea, que é o mais importante. O papel do
professor é de extrema importância como propulsor ou não do desenvolvimento da criança.
Quando este cria situações para que as crianças possam interagir, possibilita as ricas trocas
entre pares. Para Prestes (2012) o educador tem sim a grande responsabilidade em organizar o
ambiente de aprendizagem, onde as crianças irão se desenvolver.
Essa importância da ludicidade como forma de integrar e promover a interação entre
as crianças está posto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Parecer
CNE/CEB Nº: 20/2009), onde afirmam que:
Na história cotidiana das interações com diferentes parceiros, vão sendo construídas
significações compartilhadas, a partir das quais a criança aprende como agir ou
resistir aos valores e normas da cultura de seu ambiente. Nesse processo é preciso
considerar que as crianças aprendem coisas que lhes são muito significativas quando
interagem com companheiros da infância, e que são diversas das coisas que elas se
apropriam no contato com os adultos ou com crianças já mais velhas. Além disso, à
medida que o grupo de crianças interage, são construídas as culturas infantis.
(BRASIL, 2009, p.7).
Desse modo, assim como coloca as DCNEI (BRASIL, 2009) que trazem em seu artigo
5º que os eixos norteadores da educação infantil são as interações e as brincadeiras,
compreende-se que é brincando e vivenciando diferentes experiências lúdicas que a criança
aprende a se relacionar com o mundo e a se constituir nele. Compreendendo-se que as práticas
lúdicas e a brincadeira fazem parte de diferentes sociedades desde tempos remotos (ARIÈS,
1981) ao se tratar da brincadeira da criança, afirma-se que é através dela que a criança passa a
descobrir o mundo que está ao seu redor e do qual faz parte. É como um alimento essencial
para seu crescimento e o desenvolvimento de todo o seu potencial.
7
Entenda-se brincadeira por atividade livre das crianças, em que estas tomam iniciativa, escolhem parceiros,
negociam, decidem quanto inicia e quanto termina, dentre outros aspectos.
meninas foram logo entrado no túnel, enquanto os meninos foram pegando os carrinhos. Cada
um queria brincar com alguma coisa, mas ficavam indecisos pois havia muitas opções na sala
e pareciam querer tudo ao mesmo tempo. Uma criança, por exemplo, pegou duas bonecas e
ainda foi brincar no cavalinho com o colega, mas não largou as bonecas das mãos.
Foram muitos os detalhes que pudemos observar enquanto eles brincavam livremente.
Quando uma criança brincava com a boneca em cima do carro a outra criança também queria
e passava a “imitar” a ação do outro. Quase todo o tempo passavam a impressão de que
raramente tinham contato com objetos como aqueles na instituição. Se mostraram muito
eufóricos e não paravam de brincar nenhum segundo. Um dos brinquedos foi muito disputado,
todos queriam passar por ele e assim que chegavam ao final, já voltavam correndo para o
início. Em alguns momentos, alguns deles viravam para voltar ao início estando ainda no
meio do túnel.
Todas as crianças demonstraram ter se divertido. Como deixamos que brincassem
livremente, esperamos até a última criança querer sair da sala para que então pudéssemos
reorganizar as carteiras e então guardar os brinquedos.
Análise da sessão:
Brincar é coisa séria, também, por que na brincadeira não há trapaça, há sinceridade
e engajamento voluntário e doação. Brincando nos reequilibramos, reciclamos
nossas emoções e nossa necessidade de conhecer e reinventar. E tudo isso
desenvolvendo atenção, concentração e muitas habilidades. É brincando que
acriança mergulha na vida, sentindo-a na dimensão de possibilidades. No espaço
criado pelo brincar nessa aparente fantasia, acontece a expressão de uma realidade
interior que pode estar bloqueada pela necessidade de ajustamento às expectativas
sociais e familiares (VIGOTSKY, 1994, p. 67).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A criança é um ser social que expressa o seu entendimento acerca do meio em que está
inserida, através do que sente, faz e comunica a partir das suas diferentes formas de
expressão. Ela deve encontrar em seu dia a dia a oportunidade de vivenciar sua infância de
forma prazerosa e afetiva, sendo a creche e a pré-escola esta oportunidade. Para tanto, deve
reconhecer a criança como um sujeito singular, com especificidades e diferenças que precisam
ser reconhecidas e respeitadas.
Muitos são os desafios que a educação precisa enfrentar e um deles é fazer com que a
criança seja reconhecida como sujeito de direitos, cidadã. A educação é um direito da criança
e não pode ser negado, assim como viver a infância, a ludicidade e as brincadeiras. Educar é
mais que “ensino aprendizagem”; é mais que meramente “aprender apenas o programado”. É,
acima de tudo, uma inter-relação entre os sentimentos da criança, os afetos, as experiências
que proporcionam o seu desenvolvimento integral.
Ao longo de todo este trabalho foi possível confrontar teoria e prática na realidade da
educação infantil de Arapiraca, que não se distancia muito da realidade do Brasil. Através da
experiência vivida no estágio supervisionado na educação infantil constatou-se o quanto é
difícil abrir caminhos para a “mudança”, já que ainda predominam práticas “tradicionais”. E o
quanto encontramos diferenças no que diz respeito a teoria e a prática. Com base nos dados do
estágio supervisionado e nos pressupostos teóricos, notamos que quando o educador tem a
prática de que tudo se aprende através da repetição, da rotina diária presa à atividades em sala,
a educação para a criança de 0 a 6 anos, em espaço institucional, passa a ser algo cansativo,
monótono e desestimulante. Quando essa repetição diária vai se distanciando da criatividade,
da autonomia, da ludicidade e das experiências que são necessárias para o desenvolvimento
integral da criança, a educação infantil e seus princípios perdem sentido em função do ensino.
Todos estes aspectos se fizeram presentes em nossas observações através da rotina das
crianças; cheia de atividades pré-estabelecidas que possuem um fim em si mesma.
Esta oportunidade de observar a rotina de uma turma de crianças de uma pré-escola,
refletir a partir do observado e elabora um plano de ação que buscasse ir na contramão do
observado, permitiu o olhar para as crianças, para suas interações, para uma educação infantil
possível e significativa para elas. Permitiu ainda transpor para a prática o que fora estudado
durante o curso de pedagogia, especialmente nas disciplinas da área da educação infantil que
sem dúvidas foi essencial para que pudéssemos desenvolver os planos de ações com
embasamento teórico para a prática. Vale ressaltar que nessa transição entre nossas
observações e intervenções as crianças apresentaram comportamentos diferentes no que diz
respeito as suas emoções e particularidades. Elas demonstravam mais prazer em realizar
atividades fora daquilo que era sempre proposto com finalidades. Pode-se através disso pensar
em possibilidades dadas aos educadores dentre tantas instituições que podem desenvolver o
lúdico da mesma forma que a professora da turma observada; analisando e ressaltando através
disso a necessidade de projetos de formação continuadas para os profissionais da educação.
Fica aqui a extrema necessidade em assegurar à criança condições para o seu
desenvolvimento, não só na letra da lei, mas na execução concreta e real onde o direito de
brincar seja legitimamente reconhecido assim como o seu tempo e o seu espaço sejam
respeitados e ganhem também sua devida importância. Afinal, educar a criança através de
práticas lúdicas também é prepará-la para a vida no decorrer da vida, independente dos
desafios que possam ser encontrados na execução dessas práticas que são direitos.
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APÊNDICE G - Brinquedos.