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Adultos: Fundamentos
e Práticas
Políticas e Questões Atuais da Educação de Jovens e Adultos (EJA):
Juventude, Gênero, Diversidade Étnico-Cultural, Educação
Inclusiva e Prisional
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Políticas e Questões Atuais da Educação de Jovens
e Adultos (EJA): Juventude, Gênero, Diversidade
Étnico-Cultural, Educação Inclusiva e Prisional
• Introdução;
• A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n.º 9.394/96;
• Juventude, Diversidade e Educação Inclusiva: Conceitos e Legislação.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Conhecer e discutir as políticas atuais da Educação de Jovens e Adultos (EJA);
• Refletir sobre questões contemporâneas da EJA.
UNIDADE Políticas e Questões Atuais da Educação de Jovens e Adultos (EJA):
Juventude, Gênero, Diversidade Étnico-Cultural, Educação Inclusiva e Prisional
Introdução
Nesta Unidade estudaremos a política e as questões que estão presentes no con-
texto das décadas de 1990 e 2000 até a atualidade, que tratam de juventude,
gênero, diversidade étnico-cultural, educação inclusiva e prisional. Para tanto, con-
textualizaremos a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n.º 9.394/96, o seu conteúdo e a
sua abordagem sobre os seguintes temas: juventude, gênero, diversidade e inclusão.
Veremos os conceitos e, posteriormente, relacionaremos os temas e conceitos com a
política educacional voltada para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), problemas,
limites e desafios.
Abordar todos esses temas em um único material é um grande desafio, mas temos
que fazê-lo, afinal, nos últimos trinta anos a EJA está envolvida em uma série de
questões que devem ser conhecidas, discutidas, problematizadas e enfrentadas na
sua gestão e formação de educadores.
Figura 1
Fonte: Getty Images
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É no âmbito das políticas públicas que o reordenamento educacional ocorre e a EJA
ganha status de segunda classe (HADDAD, 1997).
Para entender melhor a Lei de diretrizes e bases, assista à entrevista com Roberto Jamil
Cury, autor de “Lei de diretrizes e bases e perspectivas da educação nacional”.
Disponível em: https://youtu.be/425zPBPp-UA
[...]
O que se observa, assim, é que a Lei não foi suficiente para garantir que o Estado
crie as condições de acesso e permanência para esse público que é constituído por
trabalhadores, donas de casa e que realiza um grande esforço para acessar e fre-
quentar as salas de EJA. A omissão, no sentido de criar as condições necessárias de
acesso e frequência às aulas, sobressai-se na legislação que adota uma perspectiva
liberal, responsabilizando os próprios alunos por matricular-se pelo simples fato de
haver a oferta de EJA. Como bem lembra Haddad (1997, p. 123):
Como sabemos, em grupos pobres, excluídos de condições sociais básicas,
com frustradas experiências escolares anteriores, não basta oferecer
escola; é necessário criar as condições de frequência, utilizando uma
política de discriminação positiva, sob o risco de mais uma vez culpar os
próprios alunos pelos seus fracassos.
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Juventude, Gênero, Diversidade Étnico-Cultural, Educação Inclusiva e Prisional
bolsas de estudo ou outros benefícios que sejam garantidos por empregadores. Essas
propostas constavam do Projeto de Lei da Câmara, cuja inserção no texto final da
LDB foi desconsiderada.
A Educação de Jovens e Adultos é tema de uma entrevista com Maria Emília de Castro Rodri-
gues, professora na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), Márcia
Melo, gerente da EJA de Goiânia e integrante do Fórum de EJA, e Esmeralda Santos, profes-
sora de EJA em Goiânia, disponível em: https://youtu.be/tnQ5poV3eNU
Para finalizar, consideramos que a legislação por si não garantiu nem as condições
de acesso e permanência de jovens e adultos à escolarização, nem exerceu um papel
significativo na política de Estado em um contexto de reforma educativa. O que assisti-
mos foi o seu esvaziamento e a sua perda de importância como uma política universal.
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Juventude, Diversidade e Educação
Inclusiva: Conceitos e Legislação
A Lei de Diretrizes e Bases n.º 9.394/96 apresenta, em seu texto, preocupa-
ções acerca da necessidade de garantir um debate amplo sobre juventude, diversi-
dade e educação inclusiva para qualquer que seja o nível de educação escolarizada.
Art. 4º. O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado
mediante a garantia de:
[...]
VII – oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com carac-
terísticas e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilida-
des, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e
permanência na escola.
Juventude
No contexto de uma política neoliberal e globalizada, a partir da segunda meta-
de da década de 1980, deparamo-nos com o processo de redemocratização das
relações sociais e das instituições políticas brasileiras – alargamento do campo dos
direitos sociais.
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Juventude, Gênero, Diversidade Étnico-Cultural, Educação Inclusiva e Prisional
O que isso tem a ver com as práticas educacionais? Cabe à gestão da educa-
ção o fortalecimento local em contraposição ao global, à formação do sujeito social,
a socialização do saber reproduzido no contexto da acelerada mutação tecnológica e
requerido dos sujeitos sociais como condição de sua inserção. Inclui, ainda, o papel
da escola em atender às demandas advindas das diferenças socioculturais no contexto
da lógica da homogeneidade implementada pelo capitalismo global. Assim, abordar
juventude, diversidade e educação inclusiva ganhou sentido nos últimos trinta anos
(BONETTI, 2001).
Mesmo diante da regulação social dos direitos ainda temos uma série de desafios,
pois os problemas são muitos e reais enfrentados pela ausência de políticas públicas
universalistas dirigidas a esse público. A educação coloca-se como um desses desa-
fios quando tratamos mais especificamente da juventude.
Quem é o público que frequenta iniciativas de Educação de Jovens e Adultos? Entender esse
perfil é fundamental para compreender as políticas e práticas que se fazem necessárias
nessa questão.
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O direito à Educação para todos não é uma realidade vivenciada por parcela sig-
nificativa de jovens brasileiros, entendendo que a juventude abrange a faixa etária de
15 a 29 anos.
Figura 2
Fonte: Getty Images
Um bom panorama desse perfil pode ser percebido nos dados de pesquisas rea-
lizadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicados em 2009.
O estudo realizado pelo Ipea, publicado em 2009, mostra que, entre jovens na
faixa etária entre 15 e 29 anos, em 2007, tivemos 1,6% de jovens analfabetos na
faixa etária de 15 a 17 anos, 2,4 de analfabetos entre 18 e 24 anos e 4,4 na faixa
etária de 25 a 29 anos. Nesse mesmo período frequentaram o Ensino Fundamental
32,5% na faixa etária de 15 a 17 anos; 4,3 entre 18 e 24 anos e 1,8% na faixa etária
de 25 a 29 anos. O Ensino Médio foi frequentado por 0,6% na faixa etária de 15 a
17 anos; 13,2% entre 18 e 24 anos e, por fim, 7,5% na faixa etária de 25 a 29 anos.
Frequentaram a alfabetização de jovens e adultos apenas 0,1% na faixa etária entre
15 e 17 anos e 18 e 24 anos, enquanto 0,2 na faixa etária de 25 a 29 anos. Estavam
fora da escola 16,6% dos jovens entre 15 e 17 anos; 65,7% na faixa etária entre 18
a 24 anos e 82,5% na faixa etária entre 25 a 29 anos – índices que demonstram
ainda a necessidade de esforços que devem existir para a universalização educacional
dessa população.
No entanto, esse perfil mudou ao longo da última década: o número de jovens cresceu em
turmas da EJA. Por que isso aconteceu?
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O que se nota nesta citação é que a Educação para Jovens e Adultos acabou se
tornando uma opção para indivíduos que não tiveram acesso à Educação no mo-
mento ideal por processos decorrentes de outras mazelas sociais.
Além disso, muitos desses jovens foram alijados à EJA, independente se
possuíssem maturidade para vivenciar uma experiência típica de pessoas
mais velhas, em função da inadequação de suas ações e posturas, frente
ao formalismo rígido do Ensino Fundamental para crianças e adolescentes.
(ANJOS; PAULA; MARINHO, 2014, p. 142)
Outro ponto importante é o fato de que a formação pela EJA tem um tempo
de duração menor do que o do ensino regular. O que se percebe, assim, é que a
EJA é vista por alguns jovens como uma oportunidade de acelerar os seus estudos
(PAULA, 2012), obtendo o certificado de conclusão na metade do tempo que
gastaria no tempo regular. Em contrapartida, escolas regulares têm encorajado essa
tendência como uma oportunidade de separar alunos tidos como indisciplinados e
reduzir aspectos da defasagem do ensino (PAULA, 2012).
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Diversidade
As questões ligadas ao afastamento da educação formal não podem ser analisadas
se descoladas do contexto de diversidade e minorias do País.
O trajeto dos estudantes brasileiros pelo sistema público de ensino está
marcado por uma trágica repetição de histórias de insucesso. Mas o fra-
casso da escola atinge, sobretudo, os estudantes negros. É sobre eles que
recai o peso dos grandes números da exclusão. (QUEIROZ, 2012)
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Educação Inclusiva
Nos últimos trinta anos, diante de tanta complexidade que cerca as questões
sociais, outro tema importante e que envolve a Educação de Jovens e Adultos é
a chamada exclusão social, aqui entendida como o não atendimento aos direitos
sociais básicos. A desqualificação que consiste em um processo de precarização, de
vulneração e de marginalização antecede a exclusão. Neste sentido, inclusão é um
processo que envolve o atendimento dos direitos sociais básicos: o trabalho, saber
escolarizado, a saúde e educação (BONETI, 2001).
Figura 3
Fonte: Getty Images
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Em relação à Educação Especial e às pessoas com deficiências, o que constata-
mos é o fato de que:
[...] há mais de um século no Brasil, as organizações não governamen-
tais, filantrópicas de caráter assistencialista, foram pioneiras na tarefa de
oferecer serviços educacionais às pessoas com deficiência. À fundação
da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, primeira organização
em 1954 no Rio de Janeiro, seguiu-se à fundação de inúmeras outras
instituições no território brasileiro, exatamente porque não havia políti-
cas públicas que assumissem a responsabilidade social e educacional por
esta população. O resultado é que o Brasil possui um amplo contingente
de adultos analfabetos, com tipos variados de deficiência, que estão ins-
titucionalizados por anos. Nestas instituições, denominadas especializa-
das, as atividades tendem a ser assistenciais-educativas nas quais a ênfase
educativa recai sobre atividades lúdicas, esportivas e artísticas altamente
infantilizadas. (FERREIRA, 2009, p. 113)
Uma das consequências desse tratamento tem sido a exclusão educacional por
séculos dessas pessoas, pois as consideram incapazes cognitiva e intelectualmente
para a aprendizagem. Neste sentido, foram excluídos de oportunidades de convivên-
cia e escolarização desde a infância.
Busca-se e espera-se, por meio dos estudos sobre inclusão educacional na EJA de
alunos especiais, a ruptura com a abordagem médico-psicológica e a consolidação
de um modelo social e curricular de deficiência que tome como base a crença na
diversidade humana, nos direitos humanos e no desenvolvimento humano.
Educação Prisional
Os desafios da Educação nas prisões são diversos, principalmente quando trata-
mos da sua constituição enquanto uma política pública educacional para jovens e
adultos presos.
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Juventude, Gênero, Diversidade Étnico-Cultural, Educação Inclusiva e Prisional
Em Síntese
Esta Unidade propôs-se a apresentar um conteúdo vasto, complexo e desafiador para as
políticas públicas de corte social, em especial a educacional. Foram apresentados con-
ceitos e dados de relatórios resultantes de estudos sobre juventude e Educação.
Podemos constatar um quadro educacional de exclusão dos afrodescendentes, das pes-
soas com deficiências, da juventude, entre outros. Neste sentido, consideramos a ne-
cessidade de priorizar, nas políticas públicas e, em especial, na política educacional as
questões étnico-raciais, de gênero, de geração, de sexualidade a fim de conseguirmos
ampliar as análises no campo da Educação de Jovens e Adultos para além dos aspectos
socioeconômicos que a cercam, atribuindo novos significados no debate que une diver-
sidade, inclusão, cidadania e democratização da sociedade.
Por fim, concluímos que a formação de educadores para atuar na Educação de Jovens e
Adultos requer iniciar e se aprofundar em questões atuais, pertinentes, urgentes e desa-
fiadoras como essas, apontando para uma educação contemporânea e diversa.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Trabalho Infantil: Conheça as consequências
https://youtu.be/8jx8OuHFwMQ
Leitura
Aprovação aumenta Após Prova do Encceja substituir a do Enem
para quem busca ‘diploma’ do Ensino Médio
https://glo.bo/2Xy7aAo
UNESCO: Analfabetismo cai, mas mulheres ainda têm menos acesso à educação
https://bit.ly/2XuAaJx
Públicos da Desigualdade Social na EJA: Ações Educativas,
para o Reconhecimento e a Valorização dos Sujeitos
https://bit.ly/2Mvg4Zs
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Juventude, Gênero, Diversidade Étnico-Cultural, Educação Inclusiva e Prisional
Referências
ABRAMOWICZ. A. Trabalhando a diferença na educação infantil. São Paulo:
Moderna, 2006.
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