Você está na página 1de 13

GESTÃO E CLASSIFICAÇÃO DE ESTUDOS DE ENGENHARIA

DE MANUTENÇÃO UTILIZANDO O ANALYTIC HIERARCHY


PROCESS (AHP)

Celso Luiz Santiago Figueirôa Filho1


Sérgio Ricardo Canuto Teixeira2

RESUMO

O processo de priorização dos estudos e projetos de engenharia sob a


responsabilidade da equipe de manutenção tem impacto no aumento da
produtividade da empresa e na ocupação dos recursos de engenharia de
manutenção. As escolhas devem estar alinhadas com as estratégias e políticas
da empresa assim como devem levam a resultados mais significativos em
menor tempo. Em virtude do número de fatores envolvidos o processo de
tomada de decisão torna-se complexo e requer que ferramentas analíticas
multi-critério mais robustas sejam utilizadas. Este trabalho apresenta o método
AHP – Analytiic Hierarchical Process para a tomada de decisão sobre o
sequenciamento dos estudos e da implantação de melhorias aos sistemas, pois
o mesmo tem referência na área de gerenciamento de projetos e é uma
ferramenta direta da representação das demandas da empresa. A aplicação do
método no ambiente da manutenção existe, mas não foram encontrados na
literatura aplicado aos estudos e projetos de melhorias que usam os recursos
das equipes de manutenção. A aplicação realizada foi feita em um ambiente da
indústria petroquímica, e a sua apresentação foi reduzida para demonstrar
como a ferramenta funcionou para os projetos mais significativos. Os
resultados demonstram que a ferramenta pode ser facilmente transformada em
uma ferramenta computacional e que é capaz de orientar a tomada de decisão
dos gestores de manutenção.

1. INTRODUÇÃO

Diversos são os fatores que levam a equipe de Engenharia de confiabilidade/


manutenção a levantar os problemas existentes e potenciais e a propor
soluções de melhoria para os diversos tipos de equipamentos e sistemas de
uma instalação industrial. Aumento da Disponibilidade, confiabilidade,
produtividade, preocupações com o retorno financeiro, segurança, saúde e
meio ambiente, entre outros, geram periodicamente dezenas de problemas que
devem ser solucionados. E é na equipe de engenharia de confiabilidade/
manutenção, com as suas restrições de recursos, que são desenvolvidas todas
as soluções que serão implantadas, muitas vezes por esta mesma equipe ou
por outras equipes de engenharia.
                                                                                                                       
1
 M.Sc.  Engenharia  de  Produção  –  SENAI/CIMATEC  –  Consultor    
2
Engenheiro Mecânico, estudante MBA em Gestão da Manutenção – SENAI-CIMATEC-Ba  
 
   
Podemos considerar que cada Estudo de Engenharia de Manutenção é um
pequeno projeto, pois é um esforço temporário, com inicio e termino definidos,
com resultados exclusivos e bem definidos. Com este conjunto de projetos,
definido como portfolio, busca-se atingir objetivos específicos dentro da
organização, e a gestão coordenada e eficaz desses projetos é que garantirá o
atingimento desses objetivos.
A priorização é sempre um processo multi-critério [LINS et al, 2010; ZAIM et al,
2012; VARGAS, 2010], e muitas vezes é simplificado para dar celeridade as
ações. O feeling pessoal nem sempre é um critério adequado para a
classificação dos estudos de engenharia de manutenção, ou a classificação
baseada em um único critério como, por exemplo, Retorno Sobre o
Investimento (ROI) ou Valor Presente Liquido (VPL). É necessária uma análise
multicritério que permita classificar os diversos estudos de engenharia de
manutenção através da avaliação de diferentes dimensões e necessidades
organizacionais em conjunto. Percebe-se ainda que existe um desejo de
construção de critérios claros, objetivos e matemáticos.
O Analytic Hierarchy Process (AHP) [SAATY, 1980; TRIANTAPHYLLOU e
MANN, 1995; VARGAS, 2010, ZAIM, 2010] é um dos principais modelos
matemáticos para apoio à teoria de decisão disponíveis no mercado, e aliado à
Gestão de Portfólio, conforme proposto na norma de orientação PMBOK do
PMI – Project Management Institute [in VARGAS, 2010], podemos garantir que
os estudos de Engenharia de Manutenção mais relevantes e alinhados com os
objetivos da organização sejam implementados em primeiro lugar.
Neste artigo é apresentado um cenário de como pode ser implantado o método
nos processos decisórios no ambiente da engenharia de manutenção,
considerando os critérios de uma empresa do setor de petroquímica.

2. JUSTIFICATIVA

Sempre haverá a restrição de recursos, tanto financeiros como humanos ou


tempo, em qualquer equipe de engenharia. Em particular, as equipes de
engenharia de manutenção tem constantemente a urgência em posicionar a
planta no seu ponto ótimo de produção, e estas ações muitas vezes ocorrem
em paralelo as ações de melhoria. Considerando os objetivos específicos da
organização, o desafio é o de classificar os Estudos de Engenharia de
Manutenção mais relevantes e qual deverá ser o sequenciamento da análise e
execução de cada estudo/ projeto, estabelecendo uma ordem de prioridade da
implementação.
A metodologia AHP é reconhecida como uma solução no desenvolvimento da
gestão de portfólio de projetos, porém a indústria ainda não absorveu os seus
conceitos e a capacidade de gerar bons resultados. A proposta desse artigo é
apresentar uma ferramenta com embasamento matemático robusto que seja
capaz de analisar diversos critérios ao mesmo tempo com foco no objetivo
esperado pela organização.

   
3. ABORDAGENS TOMADA DE DECISÃO MULTI-CRITÉRIO

Na literatura internacional existem vários métodos diferentes para a tomada de


decisão multi-critério. Considerando os ambientes em que a atual civilização se
encontra grande parte das situações levam a problemas complexos com muitas
variáveis envolvidas, seja no mundo industrial ou não. O contexto deste
trabalho são os trabalhos de projeto e manutenção e foram levantadas
referencias em aplicações neste contexto.
O apoio multicritério à decisão tem como princípio buscar o estabelecimento de
uma relação de preferências (subjetivas) entre as alternativas que estão sendo
avaliadas sob a influência de vários critérios no processo de decisão. Ele é
fundamentado na análise de problemas de decisão em que existem critérios
conflitantes para os atores do processo decisório. Em resumo, o apoio
multicritério à decisão consiste em um conjunto de métodos e técnicas para
auxiliar ou apoiar pessoas e organizações a tomarem decisões, sob a
influência de uma multiplicidade de critérios [ALMEIDA, 2011].
Para solucionar problemas que lidam com muitos fatores foram propostas
redes (bayseanas, neurais, algoritmos genéticos) [ZAIM, 2010; LINS et al,
2010] considerando a interação entre os fatores. As redes demandam relações
conhecidas ou tornam o problemas mais complexo devido a demanda no uso
de ferramentas de software mais sofisticadas. Uma simplificação deste modelo
é a proposta do método AHP que será detalhada nestes trabalho.

4. METODOLOGIA

Segundo Triantaphyllou and Mann (1995), o Analytic Hierarchy Process (AHP)


é uma abordagem de tomada de decisão multi-critério e foi introduzida por
SAATY em 1977. A metodologia AHP tem atraído o interesse de muitos
pesquisadores e profissionais principalmente devido às interessantes
propriedades matemáticas do método e do fato de que os dados de entrada
são muito fáceis de se obter. A AHP é uma ferramenta de apoio à decisão que
pode ser usada para resolver problemas de decisão complexos. Ela utiliza uma
estrutura hierárquica multi-nível de objetivos, critérios, sub-critérios e
alternativas. Os dados necessários são obtidos através de comparações dos
critérios dois a dois. Essas comparações são utilizadas para obter os pesos de
importância dos critérios de decisão e os pesos relativos das alternativas
dentro de cada um dos critérios individuais.
A tomada de decisão multi-criterios desempenha um papel fundamental em
muitos problemas da vida real. Não é um exagero afirmar que quase todas as
esferas governamentais, indústrias ou empresas envolvem, de um jeito ou de
outro, a avaliação de um conjunto de alternativas baseadas em um conjunto de
critérios de decisão. Muitas vezes esses critérios são conflitantes entre si.
De acordo com Vargas (2010), a utilização do AHP se inicia pela
decomposição do problema em uma hierarquia de critérios mais facilmente
analisáveis e comparáveis de modo independente. A partir do momento em
que essa hierarquia lógica esta construída, os responsáveis pelas informações,
ou decisões, avaliam sistematicamente as alternativas por meio de
   
comparação, duas a duas, dentro de cada um dos critérios. Esta comparação
pode utilizar dados concretos das alternativas ou julgamentos humanos como
forma de informação.
Ainda segunda Vargas (2010), a AHP transforma as comparações, muitas
vezes empíricas, em valores numéricos que são processados e comparados. O
peso de cada um dos fatores permite a avaliação de cada um dos elementos
dentro da hierarquia definida. Essa capacidade de conversão de dados
empíricos em modelo matemáticos é o principal diferencial do AHP com
relação a outras técnicas comparativas.
A partir do momento em que todas as comparações foram efetuadas e os
pesos relativos entre os critérios a serem avaliados foi estabelecida, o peso
relativo de cada uma das alternativas é calculada. Esse peso relativo determina
a importância global que a alternativa tem dentro da organização. Quanto maior
esse peso relativo, mais aquela alternativa é prioritária para os objetivos da
organização.

5. ESTUDOS DE CASO

Visando exemplificar a utilização da metodologia de AHP na priorização e


classificação de estudos de engenharia de manutenção, optou-se por
desenvolver um modelo para uma organização fictícia. Os conceitos e
abordagens de AHP serão apresentados e discutidos no decorrer da
apresentação do modelo.
Primeiramente devem-se identificar os critérios que serão utilizados para a
priorização e classificação dos estudos de engenharia. Esses critérios são
definidos de acordo com os valores de cada empresa e devem estar alinhados
com os objetivos da Gerencia de Manutenção no momento econômico atual.
Os seguintes critérios foram identificados pela empresa fictícia deste artigo:
• Payback
• Disponibilidade
• Confiabilidade
• Mantenabilidade
• Redução de geração de resíduos
• Eliminação de risco

A partir da identificação dos critérios, eles devem ser avaliados dois a dois com
o objetivo de determinar a importância relativa entre eles e seu peso relativo na
meta global da empresa fictícia.

Deve-se iniciar a avaliação pela determinação do peso relativo dos critérios.

O peso relativo entre os critérios pode ser determinado através da utilização da


escala de relativa importância proposta por Saaty [SAATY, 2005], atribuindo
valores entre 1 e 9, que determina a importância relativa de um critério em
relação a outro, de acordo com a tabela 1.

   
Tabela 1: Escala de importância
Escala Avaliação numérica Recíproco
Extremamente preferido 9 1/9
Muito Forte a extremo 8 1/8
Muito fortemente preferido 7 1/7
Forte a muito forte 6 1/6
Fortemente preferido 5 1/5
Moderado a forte 4 ¼
Moderadamente preferido 3 1/3
Igual a moderado 2 ½
Igualmente preferido 1 1

Normalmente utilizam-se os números impares da tabela para assegurar a


distinção entre os valores avaliados.

Neste momento iremos efetuar a avaliação dois a dois:

Exemplo: Payback x Disponibilidade


O comitê avaliador entende que o Payback é preferido quanto a Disponibilidade
com o peso relativo 5, ou seja:

Payback = 5 Disponibilidade = 1/5

Da mesma forma que o comparativo anterior teremos:

Payback = 5 Confiabilidade = 1/5


Payback = 7 Mantenabilidade = 1/7
Payback = 1/3 Redução de geração de resíduos = 3
Payback = 1/5 Eliminação de risco = 5

A partir da avaliação dois a dois efetuada acima para entre todos os critérios, e
baseada na escala de Saaty, é construída uma matriz de comparação, de
acordo com o modelo abaixo:
Tabela 2: Matriz de comparação modelo Saaty (ref. SAATY, 2005)
Critério 1 Critério 2
Critério 1 1 Avaliação numérica
Critério 2 Recíproco 1

Baseado nas informações acima, a matriz de comparação no exemplo deste


trabalho fica conforme a Tabela 3 a seguir.

   
Tabela 3 : Matriz de Comparação definida pelo comitê da empresa
Payback Disponib. Confiab. Mantenab. Redução Eliminação
geração de riscos
resíduos
Paybac 1 5 5 5 1/3 1/5
Disponibilidade 1/5 1 1 1 1/5 1/7
Confiabilidade 1/5 1 1 3 1/5 1/7
Mantenabilidade 1/5 1 1/3 1 1/7 1/9
Redução de
geração residuos
3 5 5 7 1 1/3
Eliminação riscos 5 7 7 9 3 1
Total 9,60 20,00 19,33 26,00 4,88 1,93

Para dar continuidade nas análises e dar pesos relativos a cada critério,
devemos normalizar a matriz comparativa obtida através da divisão entre cada
valor da planilha com o total de cada coluna, conforme as Tabelas 4 e 5.
Tabela 4 : Normalização Matriz de Comparação da empresa
Payback Disponib. Confiab. Manten. Redução Eliminação
geração de riscos
resíduos
(1/3)/
Paybac 1/(9,60) 5/(20) 5/(19,33) 7/(26) (1/5)/(1,93)
(4,88)
(1/5)/ (1/5)/
Disponibilidade 1/(20) 1/(19,33) 3/(26) (1/7)/(1,93)
(9, 60) (4,88)
(1/5)/ (1/5)/
Confiabilidade 1/(20) 1/(19,33) 3/(26) (1/7)/(1,93)
(9, 60) (4,88)
(1/7)/
Mantenabilidade (1/7)/(9,60) (1/3)/( 20) (1/3)/(19,33) 1/(26) (1/9)/(1,93)
(4,88)
Redução de
3/(9,60) 5/(20) 5/(19,33) 7/(26) 1/(4,88) (1/3)/(1,93)
geração resíduos
Eliminação riscos 5/(9,60) 7/(20) 7/(19,33) 9/(26) 3/(4,88) 1/(1,93)

Tabela 5 : Resultados da normalização Matriz de Comparação da empresa


Payback Disponib. Confiab. Manten. Redução de Eliminação
geração de de riscos
resíduos
Paybac 0,1042 0,2500 0,2586 0,1923 0,0684 0,1036
Disponibilidade 0,0208 0,0500 0,0517 0,0385 0,0410 0,0740
Confiabilidade 0,0208 0,0500 0,0517 0,1154 0,0410 0,0740
Mantenabilidade 0,0150 0,0500 0,0172 0,0385 0,0293 0,0576
Redução de
geração resíduos
0,3125 0,2500 0,2586 0,2692 0,2051 0,1727
Eliminação riscos 0,5208 0,3500 0,3621 0,3462 0,6152 0,5181

   
A contribuição de cada critério para o atingimento da meta é obtido através do
cálculo do Vetor de prioridade ou Vetor de Eingen, que representa os pesos
relativos entre os critérios. O Vetor de Eingen é obtido, de modo aproximado,
através da média aritmética dos valores obtidos em cada um dos critérios,
conforme tabela abaixo:
Tabela 6 : Cálculo do Vetor Prioridade de Eigen (Ref. SAATY, 2008)
Vetor de Eingen ( cálculo) Vetor de Eigen
0,1042 + 0,2500 + 0,2586 + 0,1923 + 0,1628
Paybac
0,0684 + 0,1036 (16,28%)
0,0208 + 0,0500 + 0,0517 + 0,0385 +
Disponibilidade 0,0460 (4,60%)
0,0410 + 0,0740
0,0208 + 0,0500 + 0,0517 + 0,1154 +
Confiabilidade 0,0588 (5,88%)
0,0410 + 0,0740
0,0208 + 0,0500 + 0,0172 + 0,0385 +
Mantenabilidade 0,0356 (3,56%)
0,0293 + 0,0576
Redução de geração 0,3125 + 0,2500 + 0,2586 + 0,2692 + 0,2447
de residuos 0,2051 + 0,1727 (24,47%)
0,5208 + 0,3500 + 0,3621 + 0,3462 + 0,4521
Eliminação de riscos
0,6152 + 0,5181 (45,21%)

Observa-se que o somatório dos valores do vetor sempre totaliza 1 (um). Os


valores obtidos no Vetor de Eingen determinam a participação ou peso do
critério em importância para a empresa fictícia.
No caso do exemplo do artigo, a eliminação dos riscos representa 45,21% de
peso na importância para a empresa fictícia.
A partir deste ponto, é necessário verificar a consistência dos dados com o
objetivo de verificar se os responsáveis pelas informações foram coerentes em
suas informações. A necessidade da verificação da consistência dos dados
visa identificar se os responsáveis afirmam que o critério A é mais importante
que o critério B e que é mais importante que o critério C, porém seria
totalmente inconsistente se os responsáveis afirmassem que o critério C é mais
importante que o critério A, em resumo:
Se A > B e B > C seria totalmente inconsistente afirmar que C > A.
O número principal de Eingen é a base para o índice de Inconsistência.
O número principal de Eingen (λmax )é calculado através do somatório do
produto de cada elemento do Vetor de Eingen pelo total da respectiva coluna
da matriz comparativa original.
Tabela 7: Cálculo do Vetor Prioridade de Eigen
Payback Disponib. Confiab Mantenab. Redução Eliminação
. resíduos de riscos
Vetor Eingen 0,1628 0,0460 0,0588 0,0356 0,2447 0,4521
Total Matriz 9,60 20,00 19,33 26,00 4,88 1,93
λmax (0,1628 x 9,60) + (0,0460 x 20,00) + (0,0588 x 19,33) + (0,0356 x
26,00) + (0,2447 x 4,88) + (0,4521 x 1,93)
λmax 6,6113

   
De acordo com SAATY (2005), o Índice de Consistência (CI) é calculado a
partir da seguinte equação:

λmax – n
CI =
n-1
(Eq. I)
Onde CI é o Índice de Consistência e n é o número de critérios avaliados.

No caso do nosso artigo,

λmax - n 6,6113 – 6
CI = = = 0,1223
n-1 6–1

Saaty (SAATY, 2005) propôs a Taxa de Consistência (CR) com a finalidade de


verificar se o valor encontrado é adequado. A Taxa de Consistência (CR) é
determinada através da divisão do Índice de Consistência (CI) pelo Índice de
Consistência Aleatória (RI). A Matriz sera consistente se o valor obtido for
menor que 10%.

CI
CR = < 0,1 ~ 10%
RI
(Eq.II)
O valor de RI tem como base o número de critérios avaliados e é fixo, conforme
tabela abaixo:

n 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
RI 0 0 0,58 0,9 1,12 1,24 1,32 1,41 1,45 1,49

A Taxa de Consistência para a Matriz Comparativa apresentada neste artigo é


o seguinte:

0,1223
CR = = 0,0986 = 9,86%
1,24

Como esse valor é menor que 10%, a matriz pode ser considerada consistente
Em resumo, temos abaixo as prioridades de cada um dos critérios
selecionados:
o Eliminação de risco – 45,21%
o Redução de geração de resíduos – 24,47%
o Payback – 16,28%
o Confiabilidade – 5,88%
o Disponibilidade – 4,60%
o Mantenabilidade – 3,56%

A partir deste momento, com os critérios identificados e priorizados, devemos


determinar como cada um dos estudos de engenharia de manutenção vão se
comportar em relação a cada um dos critérios identificados.
   
Da mesma maneira que os critérios foram priorizados em relação aos objetivos
da empresa fictícia, os estudos de engenharia de manutenção devem ser
confrontados dois a dois levando-se em consideração cada um dos critérios
identificados.

No caso do nosso artigo, foram identificados 4 (quatro) estudos de engenharia


de manutenção efetuados e que precisar ser priorizados a sua implantação. Os
estudos de engenharia fictícios são:

• Substituição de selo mecânico da bomba de carga por um selo tipo cartucho


com maior eficiência e manutenção mais fácil (selo mecânico);
• Substituição de motores elétricos por motores mais eficientes (Motores
elétricos);
• Substituição de linha de aço carbono por linha de material mais nobre para
eliminar problema de corrosão (linha aço carbono);
• Estudo de sobressalentes com objetivo de minimizar estoques e melhorar a
disponibilidade de sobressalentes importantes.

É importante salientar dois pontos:


1 – Estamos analisando o método em si e não se um critério é mais importante
que outro ou não. Essa análise, deixaremos por conta de cada equipe que
analisará os critérios dentro da realidade de sua organização.
2 – Não levaremos em conta a influencia de um critério em relação a outro
critério no momento de elaborar a matriz de compatibilidade par cada estudo
de engenharia de manutenção com os critérios identificados.

Para aplicar a metodologia AHP, os responsáveis pelas informações deverão


comparar os 4 (quatro) projetos relacionados a cada um dos 6 (seis) critérios
identificados. As 6 (seis) matrizes abaixo evidenciam os resultados obtidos:

Tabela 8.1: Matriz comparativa dos projetos pelo critério Payback:


Selo Motores Linha aço
Sobressalentes
Mecânico Elétricos Carbono
Selo Mecânico 1 1 3 7

Motores Elétricos 1 1 3 5

Linha aço carbono 0,3333 0,3333 1 5

Sobressalentes 0,1428 0,2 0,2 1

Tabela 8.2: Matriz comparativa dos projetos pelo critério Disponibilidade


Selo Motores Linha aço
Sobressalentes
Mecânico Elétricos Carbono
Selo Mecânico 1 5 1 7

Motores Elétricos 0,2 1 0,2 3

Linha aço carbono 1 5 1 7

Sobressalentes 0,1428 0,3333 0,1428 1

   
Tabela 8.3: Matriz comparativa dos projetos pelo critério Confiabilidade
Selo Motores Linha aço
Sobressalentes
Mecânico Elétricos Carbono
Selo Mecânico 1 3 1 7

Motores Elétricos 0,3333 1 0,2 5

Linha aço carbono 1 5 1 7

Sobressalentes 0,1428 0,2 0,1428 1

Tabela 8.4: Matriz comparativa dos projetos pelo critério Mantenabilidade


Selo Motores Linha aço
Sobressalentes
Mecânico Elétricos Carbono
Selo Mecânico 1 3 5 3

Motores Elétricos 0,3333 1 3 3

Linha aço carbono 0,2 0,3333 1 0,3333

Sobressalentes 0,3333 0,3333 3 1

Tabela 8.5: Matriz comparativa dos projetos pelo critério Redução de Geração
de resíduos
Selo Motores Linha aço
Sobressalentes
Mecânico Elétricos Carbono
Selo Mecânico 1 7 1 7

Motores Elétricos 0,1428 1 0,1428 1

Linha aço carbono 1 7 1 9

Sobressalentes 0,1428 1 0,1111 1

Tabela 8.6: Matriz comparativa dos projetos pelo critério Eliminação de Riscos
Selo Motores Linha aço
Sobressalentes
Mecânico Elétricos Carbono
Selo Mecânico 1 7 1 7

Motores Elétricos 0,1428 1 0,1428 3

Linha aço carbono 1 7 1 7

Sobressalentes 0,1428 0,3333 0,1428 1

Calculando todas as prioridades e o índice de inconsistência em cada uma das


matrizes cima, podemos determinar o peso relativo de cada um dos estudos de
engenharia de manutenção dentro de cada um dos critérios. Esses valores são
apresentados na Tabela 9.

   
Tabela 9: Peso relativo de cada critério para cada projeto

Peso Relativo
Estudo de Redução Eliminaç.
Payback Dispon Conf Manut
Engenharia Resid Riscos
Selo Mecânico 40,10% 42,09% 37,67% 50,11% 40,43% 43,01%
Motores Elétricos 37,33% 10,64% 14,47% 23,30% 7,48% 8,92%
Linha aço carbono 17,07% 42,09% 43,10% 7,68% 44,00% 43,01%
Sobressalentes 5,50% 5,17% 4,76% 15,91% 8,09% 5,06%
Taxa de
0,0584 0,0405 0,0836 9,31% 0,0068 0,0906
Inconsistência (CR)

A prioridade final dos estudos de engenharia o qual perseguimos é


determinado pelo cruzamento das prioridades de cada um dos projetos em
cada um dos critérios identificados e as prioridades de cada um dos critérios
em relação às prioridades da nossa empresa fictícia.
O cálculo das prioridades finais pode ser alcançado através do somatório dos
produtos entre o peso de cada um dos estudos dentro de cada critério pelo
peso de cada critério

No caso deste artigo, a tabela 10, abaixo, detalha o processo de cálculo para a
alternativa de estudo de engenharia “Substituição de selo mecânico”:
Tabela 10: Cálculo dos pesos do projeto Substituição de selo mecânico
Critério Peso do critério Peso da alternativa Produto
Payback 0,1628 0,4010 0,065306676
Disponibilidade 0,0460 0,4209 0,019366178
Confiabilidade 0,0588 0,3767 0,022160134
Mantenabilidade 0,0356 0,5011 0,017821735
Redução resíduos 0,2447 0,4043 0,098933739
Eliminação de riscos 0,4521 0,4301 0,194433829
Somatório do Produto 0,4180

Elaborando os mesmos cálculos para os outros 3 (três), os resultados obtidos


estão demonstrados abaixo:
o Selos Mecânicos – 41,80%
o Linha de aço carbono – 37,74%
o Motores elétricos – 14,22%
o Sobressalentes – 6,24%

Ou seja, levando-se em consideração os 6 (seis) critérios identificados como


importantes para a nossa empresa fictícia, o estudo de engenharia que trata da
substituição de selos mecânicos por selo do tipo cartucho é o estudo prioritário
para ser implementado, sendo seguido pela substituição da linha de aço
carbono por linha de material mais nobre, pela substituição de motores
elétricos por motores mais eficientes e, finalmente, o estudo de sobressalentes.

   
6 CONCLUSÃO

A metodologia AHP (Analytic Hierarchy Process) é uma ferramenta para


tomada de decisão usada com resultados satisfatórios em muitos ambientes e
neste trabalho demonstrou ser um suporte ao gestor de projetos da engenharia
de manutenção de grande uso. é um método de priorização de critérios que
tem atraído o interesse de muitos profissionais em diversas áreas do
conhecimento principalmente devido às suas propriedades matemáticas e
porque as entradas são muito simples de serem obtidas. A AHP permite aos
responsáveis pelas informações o respaldo matemático apoiando as tomadas
de decisão além de permitir a justificativa concreta de suas escolhas.
Com este trabalho buscou-se chamar a atenção da importância do processo de
priorização para melhor gerenciamento dos recursos, assim como da existência
de várias vertentes com suas metodologias aplicadas a este processo. Esta
etapa de priorização é importante para que as metas sejam alcançadas com
melhor aproveitamento da equipe, e a mesma pode ser facilitada se os
critérios, fundamentados nas estratégias e políticas da empresa, e os conceitos
da metodologia estiverem bem consolidados pelos analistas. Ressaltamos que
os tomadores de decisão devem possuir um entendimento profundo do assunto
em questão e que o AHP é somente uma ferramenta de auxilio e orientação da
realização dos trabalhos e não devem ser utilizados como única fonte de
decisão.
O artigo apresentado limitou-se a demonstrar os cálculos necessários para a
aplicação do método com o objetivo de propiciar o entendimento adequado
bem como o volume e complexidade dos cálculos. Para grandes volumes de
critérios e estudos de engenharia serão necessário utilizar plataforma
computacionais específicas.
Ressalta-se que a proposta descrita neste trabalho é genérica do ponto de
vista de ambientes de aplicação, ou seja, será útil em qualquer setor
econômico, pois esta fundamentada em princípios analíticos de projeto e
critérios genéricos de performance da manutenção. A aplicação feita foi
sugerida a empresa e precisa ganhar experiência entre as equipes de
manutenção para que possam estabelecer critérios mais específicos a cada
novo momento estratégico da empresa.

7 BIBLIOGRAFIA

• LINS, P.H.C., GARCEZ, T.V., ALMEIDA, A.T., Análise Multicritério da


Criticidade de Métodos de Falha Definidos com o Auxílio da
Abordagem MCC, XLIII Simpósio Brasileiro de pesquisa Operacional,
Ubatuba/SP, 2011.
• TRIANTAPHYLLOU, E., MANN, S.H., Using the Analytic Hierarchy
Process for Decision Making in Engineering Application: somo
Chalenges, International Journal of Industrial Engineering: Applications and
Practice, Vol. 2, No. 1, pp. 35-44, 1995.

   
• VARGAS, R.V., Utilizando a Programação Multi-critério (Analytic
Hierarchy Process – AHP) para selcionar e priorizar projetos na
Gestão de Portifólio. PORTFÓLIO. Anais do PMI Global Congress 2010
- North America Washington DC, EUA, 2010.
• SAATY, T.L., The Analytic Hierarchy Process. New York:
McGraw-Hill International, 1980.

• SAATY, T. L., Theory and Applications of the Analytic Network Proces:


Decision Making with Benefits, Opportunities, Costs, and Risks.
Pittsburgh: RWS Publications, 2005.

• R.M.C. RATNAYAKE, T. MAKESET, Technical integrity management:


measuring HSE awareness using AHP in selecting a maintenance
strategy, Journal of Quality in Maintenance Engineering, Vol. 16 Iss: 1,
pp.44 – 63, ISSN: 1355-2511 DOI 10.1108/13552511011030327, 2010.

• ZAIM, S., TURKYILMAZ, A., ACAR, M.F., AL-TURKI, U., DEMIREL, O. F.,
Maintenance strategy selection using AHP and ANP algorithms: a
case study, Journal of Quality in Maintenance Engineering, Vol. 18 Iss: 1,
pp.16 – 29, 2012. ISSN: 1355-2511, DOI 10.1108/13552511211226166.

• R. KODALI, R. P. MISHRA, G. ANAND, Justification of world-class


maintenance systems using analytic hierarchy constant sum method,
Journal of Quality in Maintenance Engineering, Vol. 15 Iss: 1, pp.47 – 77,
2009,ISSN: 1355-2511, DOI 10.1108/13552510910943886.

   

Você também pode gostar