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Luiza Mahin: As mulheres negras nunca param de lutar!

A luta nunca acaba para as mulheres negras! A conjuntura atual só reforça o quanto, no
passado, mulheres negras, que sofreram inúmeras tentativas de silenciamento por uma história
eurocêntrica, serão sempre um marco de resistência contra o genocídio que reverbera e sangra nas
periferias, contra a exploração do latifúndio e na demarcação de terras indígenas e quilombolas.

São as lideranças negras em ocupações e assentamentos espalhados pelo país, os arrimos de


famílias, as trabalhadoras que lutam por seus direitos e os braços erguidos em coletivos na busca
pela valorização da identidade e ancestralidade africana. São as vozes que ecoam na invisibilidade
das ruas e tornam ainda mais vivas as lideranças negras e históricas como Luiza Mahin.

Luiza Mahin foi uma força combatente contra a escravidão no Brasil. Nasceu na Costa da
Mina, África, de origem do povo Mahi, que lhe deu o sobrenome Mahin. Seu povo era de uma
nação do Golfo do Benin, noroeste africano e que, no final do século XVIII, foi dominada pelos
muçulmanos, vindos do Oriente Médio. Veio escravizada para o solo brasileiro, mas comprou sua
alforria em 1812, passando a viver na Bahia.

Em Salvador, trabalhou de quituteira, mas jamais calou a mulher questionadora e dona de


um olhar crítico aos escravocratas. Teve um filho, o abolicionista e poeta, Luís Gama, que a
descreveu sendo uma mulher de estatura baixa, magra, bonita, de dentes “alvíssimos como a neve”,
altiva, generosa, mas sofrida e vingativa aos horrores da escravidão.

Há várias versões históricas de que Mahin teve um papel fundamental na Revolta dos Malês,
em 1835 e na Sabinada, em 1837, com a sua voz de insubmissão às senzalas. Além disso, nossa
guerreira negra esteve na articulação de todas as revoltas e levantes de escravos que movimentaram
a Província da Bahia, logo nas primeiras décadas do século XIX. Vale ressaltar que de seu tabuleiro
de quitutes, inúmeras mensagens em árabe eram distribuídas pelos meninos que compravam e
entregavam seus doces, construindo, assim, a resistência.

Sofreu inúmeras perseguições, mas jamais se curvou, foi para o Rio de Janeiro, sendo
obrigada a se separar de seu filho, com apenas 5 anos, e deixá-lo com o pai. Alguns relatos afirmam
que Luiza Mahin foi presa e deportada para Angola porém, há uma versão heroica em que traz sua
fuga das mãos do opressor e indo parar no Maranhão, onde teria desenvolvido o chamado “Tambor
de Crioula”.

Mahin é um somatório de guerreira, um verdadeiro mito histórico, mulher a frente de seu


tempo. Foi uma negra livre, da nação nagô, pagã, tendo seu corpo uma verdadeira fortaleza e que
sempre recusou o batismo cristão que escravizava e obrigava os negros a abandonarem sua
ancestralidade. O destino de Luiza Mahin é apenas sugerido, quase um mistério, mas sua voz pode
ser ouvida na luta de toda mulher negra que se ergue em insurreição pelo direito à vida, à cidade e
ao futuro. É memória viva e a certeza de que as mulheres negras nunca param de lutar!

Luiza Mahin, presente!

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