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Psicologia da

EDUCAÇÃO I

CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA


CEAD/UDESC/UAB
Centro de Educação a Distância
Universidade do Estado de Santa Catarina
Universidade Aberta do Brasil

Psicologia da
EDUCAÇÃO I

FLORIANÓPOLIS
CEAD/UDESC/UAB
Copyright © CEAD/UDESC/UAB 2011
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Edição - Caderno Pedagógico

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CAPÍTULO

Escolas Psicológicas: Psicanálise e Humanismo


3
Objetivo geral de aprendizagem

Estudar a teoria psicanalítica, a partir do desenvolvimento


psicossexual e a teoria de Rogers e o desenvolvimento da
personalidade de acordo com o Humanismo.

Seções de estudo
Seção 1 – Princípios da Psicanálise
Seção 2 – Desenvolvimento psicossexual de acordo com a
Psicanálise

Seção 3 – Princípios da Teoria Humanista


Seção 4 – Educar de acordo com a Teoria Humanista
Iniciando o estudo do capítulo

Nesse capítulo, você terá a oportunidade de conhecer os principais


conceitos das teorias de Sigmund Freud e Carl Rogers. Para tanto você
acompanhará uma explicação sobre essas duas teorias psicológicas,
as quais consideram os processos afetivos como determinantes para o
desenvolvimento psicológico do indivíduo.

Você estudará que os trabalhos de Freud e Rogers são fundamentais para a


compreensão do papel da educação no desenvolvimento da personalidade
do sujeito; é a partir da psicanálise que a escola passa a considerar os
processos afetivos do aluno em desenvolvimento. É nesse sentido que
o papel da escola foi revisto e o professor passa a ser considerado como
figura social fundamental para a organização da afetividade do aluno.

Seção 1 - Princípios da Psicanálise


Objetivos de aprendizagem

»» Conhecer o processo de formação da psicanálise.

»» Expor os aspectos topográficos e dinâmicos do aparelho


psíquico.

Agora, você estudará as seguintes escolas psicológicas: a Psicanálise, de


Freud, e a escola conhecida como Humanismo, de Carl Rogers. A Psicanálise
e o Humanismo são de fundamental importância para a Psicologia e para
a Educação. Há algumas décadas o objetivo da escolarização era ensinar
o conteúdo científico, independente da análise das condições em que
se processa a aprendizagem e do estado emocional do aluno. Caso o
aluno fracassasse no projeto de escolarização, o fracasso era atribuído ao
estudante; a escola e o professor não eram responsabilizados. É nesse
contexto que as escolas psicanalítica e humanista contribuíram para a
mudança no olhar sobre a relação de ensino e aprendizagem.
Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
Antes de estudar a teoria de Carl Rogers é importante você entender o que
é a Psicanálise de Sigmund Freud.

Sigmund Freud (1856-1939) foi o fundador


da Psicanálise. Durante seu trabalho clínico
como neurologista ele observou que em
algumas desordens mentais não tinha uma
causa biológica e por isso o tratamento
com remédios e outras técnicas médicas
não resolviam o problema. É o interesse
de Freud por esse tipo de distúrbio que
o faz sair de Viena e trabalhar com Jean
Martin Charcot (1825-1893), em Paris.
Na sugestão hipnótica, o
médico induz o paciente
Charcot era um psiquiatra reconhecido ao sono, nesse estado o
e usava a hipnose como método de cura paciente é induzido à cura
dos problemas mentais. Freud, durante através da fala do médico.
Há muitos anos, a hipnose
Figura 3.1 – Sigmund Freud o tempo em que trabalhou com Charcot, foi abandonada como mé-
em Paris, pôde observar os benefícios e todo de tratamento, hoje
os limites da hipnose como tratamento. A técnica de Charcot consistia em ela é utilizada em shows e
espetáculos populares.
submeter o paciente à hipnose e durante o estado hipnótico, o sintoma
era removido por sugestão. Os sintomas desapareciam temporariamente
e logo voltavam.

Após trabalhar com Charcot, Freud retorna a Viena e passa a trabalhar com
outro médico: Dr. Josef Breuer (1842-1925). Breuer, assim como Charcot,
também realizava pesquisas com a hipnose. Em seu trabalho com pacientes
histéricos, Breuer avançou em direção ao que viria ser a Psicanálise.

O caso mais famoso de Breuer foi o de uma paciente que padecia fisicamente
em virtude de uma neurose histérica. A paciente foi chamada de “Ana O”,
para preservar sua identidade. Em uma das consultas de rotina, Breuer,
O nome da paciente
por meio da hipnose, colocou Ana em um estado de sonambulismo como era Ana O, é assim que
se tivesse usado tranquilizante. Nesse estado, a paciente passou a narrar aparece na literatura
fatos passados que lhe foram dolorosos e a marcaram profundamente. psicanalítica.
Os episódios narrados por Ana, no estado de sonambulismo hipnótico,
não lhe eram conscientes. Por isso, quando Ana voltava da hipnose não
se lembrava de nada que havia acontecido durante a sessão, por isso a
hipnose foi abandonada.

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CAPÍTULO 3

Breuer, durante o tratamento de Ana, pouco a pouco passou a intervir e


auxiliar Ana a recordar dos fatos passados que eram dolorosos para ela. A
cada lembrança, Ana revivia as emoções, dessa forma os sintomas histéricos
desapareciam.

Essa forma de tratamento, em que a paciente ao lembrar revivia as


emoções do passado ficou conhecida como Método Catártico.

A partir dos resultados do tratamento de Ana, Breuer e Freud passam a


trabalhar e tratar seus pacientes com o Método Catártico, ao mesmo tempo
em que realizavam o tratamento eles faziam novas descobertas sobre a
vida psicológica humana.

Freud, durante o seu trabalho com o método catártico, observou que os


conteúdos explicitados por seus pacientes tinham uma origem arcaica, e
faziam parte da história de vida do paciente ou eram fantasias relacionadas
a conteúdos infantis. Ele observou ainda, que os pacientes quando lhe
contavam algum acontecimento doloroso sofriam como se o fato estivesse
acontecendo naquele momento, esses fatos o levaram a formular uma
hipótese sobre o aparelho psíquico.

Para Freud, o aparelho psíquico é constituído de três instâncias:

1. Inconsciente – lugar onde estão os conteúdos psicológicos


instintivos e os elementos reprimidos inacessíveis à consciência.

2. Pré-consciente – lugar onde estão as memórias, as lembranças


que podem vir à consciência a qualquer momento.

3. Consciente – lugar onde estão os conteúdos que estamos


cientes em um determinado momento e os acessamos de forma
voluntária.

Para Freud, o objetivo da Psicanálise é fazer com que o conteúdo do


inconsciente venha para o consciente do paciente. Esse método de trabalho
é chamado de associação livre. Por meio da análise, o conteúdo reprimido

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CAPÍTULO 3
no inconsciente movimenta-se em direção à consciência e apresenta-se de
forma simbólica nos sonhos e aparecem nos “atos falhos” do paciente. O
ato falho nada mais é que o conteúdo inconsciente que aparece na fala da
pessoa sem que ela tenha a intenção de comunicar o que foi dito.

Exemplo

Maria teve um relacionamento amoroso durante muito tempo com


João. Maria insatisfeita com os rumos da relação decide romper o
namoro, mas continua gostando de João. Maria tem que seguir em
frente, por isso seu sentimento é reprimido (fica no inconsciente).
Algum tempo depois Maria começa um novo relacionamento com
Marcos. Algumas vezes ao chamar Marcos , o chama de João, nome do
antigo namorado. Esse equivoco é chamado de ato falho. Maria teve a
intenção de chamar o novo namorado de Marcos e nome que lhe veio
à consciência foi o de João.

Freud, também formulou a hipótese dinâmica do aparelho psíquico. Ele


afirma que nosso psiquismo possui três grandes sistemas: o Id, Ego e o
Superego.

O id é a única estrutura psicológica que já vem conosco ao nascer. É a parte


original do aparelho psíquico e é a partir do id que se desenvolve o ego e
o superego.

Acompanhe, a seguir, a explicação de cada um deles.

Id

O Id é a fonte primária de energia psíquica (libido), nele estão também os


nossos instintos. De acordo com Freud, nosso psiquismo opera por meio
de dois instintos básicos:

»» O instinto de vida - o objetivo desse instinto é a manutenção


da vida do sujeito e da espécie, ele se apresenta sob a forma de
fome, sede e desejo sexual.

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CAPÍTULO 3

»» O instinto de morte - se apresenta na forma de agressão. Em


casos patológicos o instinto de morte se apresenta na forma de
depressão, psicose e autodestruição.

Os instintos de vida e morte não são excludentes, porque para preservarmos


a vida precisamos da agressividade para mastigar a carne de um animal
que nos serve de alimento.

Instinto de vida e morte buscam um equilíbrio para alcançarem o


objetivo de manter a vida de uma pessoa. O problema é quando o
instinto de vida enfraquece e o instinto de morte predomina, dando
origem a psicopatologias e outras doenças que colocam em risco a vida
do sujeito.

O Id tem características particulares, seu conteúdo é totalmente inconsciente


e não tolera tensão. Se o grau de tensão em seu interior se eleva, ele tende a
descarregar essa tensão, o objetivo é eliminar o desconforto, a dor e buscar
o prazer. A busca do id em reduzir a tensão é chamada de princípio do
prazer. Sua busca pelo prazer é irracional, pois o Id desconhece os limites
da realidade objetiva.

No psiquismo do bebê ao nascer, por


exemplo, só existe o id inicialmente.
A fome gera no bebê um estado de
desprazer que eleva a tensão e coloca
o recém nascido em desespero. O
Id, para se livrar do desprazer cria
mecanismos para descarregar a
tensão e voltar ao estado de conforto.
É nesse momento que o Id vai em
busca do prazer: a tensão diminui
quando o bebê é amamentado. Na
medida em que o bebê ingere o leite
materno, juntamente com a força
Figura 3.2 – O ID e o Bebê
que ele faz para sugar o seio da mãe

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CAPÍTULO 3
ou a mamadeira, diminui a tensão gradativamente, aumenta o estado de
conforto gerando prazer que o acalma.

Quando o id não consegue obter prazer o bebê vive a frustração, agora é


preciso lidar com a insatisfação por meio da adaptação, daí surge o ego.

Ego

Diferentemente do id, o ego opera pelo princípio da realidade. A criança,


ao se deparar com as exigências do meio, precisa se reorganizar frente
à realidade, por isso redireciona os impulsos do id e passa a operar pelo
princípio da realidade. Agora, a criança terá que suportar a frustração de ver
seus desejos não se realizarem imediatamente, ela precisa adiar o prazer,
tolerar a frustração. Nesse contexto, o ego canaliza a energia psicológica
para outros objetos de maneira a fazer com que o sujeito se adapte a
realidade.

No processo de adaptação à realidade, a criança se depara com as normas,


regras e os valores que modulam sua conduta afetiva por meio da
repressão dos seus desejos. Nesse momento, se desenvolve outra estância
psicológica, o superego.

Superego
CONSCIÊNCIA

O superego é a incorporação das normas EGO PRÉ-CONSCIENTE

sociais, sua função é decidir o que é certo


INCONSCIENTE
ou errado. Ele é punitivo o responsável pelo ID
sentimento de culpa, pelo remorso que
SUPEREGO
tortura o sujeito.

O id, o ego e o superego configuram ao


aparelho psíquico, como você pode ver na Figura 3.3 - Estrutura psíquica segundo Freud
figura ao lado.

A dinâmica do aparelho psíquico pode ser explicada da seguinte forma:

1. O id lança um impulso na forma de desejo proibido e imoral


culturalmente.

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CAPÍTULO 3

2. O superego se relaciona com esse desejo de maneira a reprimi-lo,


porque é considerado errado socialmente.

3. O ego, por sua vez, medeia a relação entre o id e o superego;

4. O ego pega o impulso do id e a repressão do superego e encontra


uma saída socialmente aceita para atender as essas duas estâncias
psicológicas.

Pense na seguinte situação: uma mulher, ao sair do trabalho sente muita


fome, ao passar em frente a uma panificadora, vê uma deliciosa torta na
vitrine o seu primeiro impulso é quebrar a vitrine e comer a torta (id); logo
o seu superego entra em ação a sinaliza a ela que se quebrar a vitrine e
pegar a torta ela irá presa; reprime o impulso, gerando um conflito. É neste
momento que seu ego entra em ação e sinaliza para ela entrar e ver quanto
custa a torta; se a torta for muito cara, seu ego cria outra alternativa sinaliza
para ela comprar um pedaço da torta, assim o conflito é resolvido e as
demandas do id e do superego são atendidas sem danos ao sujeito.

Observe que as três instâncias psicológicas (id, ego e superego) se articulam


para manter o equilíbrio psicológico do sujeito. Se uma dessas instâncias
predominar sobre a outro, tem-se como resultado a formação de doenças
psíquicas.

Seção 2 - Desenvolvimento psicossexual de acordo com a


Psicanálise
Objetivos de aprendizagem

»» Estudar as fases do desenvolvimento sexual do homem.

»» Conhecer o papel da Psicanálise na educação.

Freud causou polêmica e foi severamente criticado ao dizer que o homem


não é senhor de suas ações, porque é conduzido pelo inconsciente. Outro

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CAPÍTULO 3
fator que estremeceu os pilares da sociedade médica e da população em
geral foi a afirmação de Freud sobre a sexualidade da criança, para ele a
criança é sexuada. De acordo com Freud, o prazer erótico está presente
desde o nascimento do sujeito e que sua manifestação ocorre a partir dos
primeiros dias de vida.

Para Freud, a sexualidade infantil não está pronta ao nascer, ela se


desenvolve ao longo da vida do sujeito do nascimento até a puberdade.

Para entendermos como se desenvolve a sexualidade da criança durante


a infância, precisamos, antes, conhecer o conceito de libido segundo a
Psicanálise.

Você estudou que o aparelho psíquico é dinâmico e suas partes (id, ego
e superego) estão em interação constante. A energia que mobiliza o
conteúdo psicológico é chamada de libido e sua fonte é o id.

A organização da sexualidade humana está relacionada à expansão da


libido, essa expansão Freud denominou de fases do desenvolvimento
psicossexual. As fases são: oral, anal, fálica, de latência e genital.

Para a Psicanálise, o desenvolvimento psicológico acontece juntamente


com os processos de maturação neurobiológico da criança. Para explicar
a relação entre o desenvolvimento libidinal e a maturação biológica do
sujeito, foram identificadas zonas erógenas no corpo da criança. As
zonas erógenas são partes do corpo em que a libido está mais concentrada.
Quando essas regiões são estimuladas o sujeito sente prazer.

As fases do desenvolvimento descritas na Psicanálise são caracterizadas de


acordo com a maior concentração de libido em uma dada região do corpo.

Veja a seguir a explicação de cada uma das fases do desenvolvimento


psicossexual.

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CAPÍTULO 3

Fase oral

A fase oral do desenvolvimento psicossexual vai de zero a um ano. Nessa


fase, a libido está concentrada na boca e no trato gastrointestinal, por
isso a boca é uma zona erógena. O prazer, nessa fase, ocorre por meio da
alimentação. A criança sente prazer ao ser alimentada.

Imagine um bebê faminto, a sensação


de desconforto é imensa enquanto
espera o alimento. A espera pelo
alimento aumenta a tensão no bebê
por isso ela chora desesperadamente.
Nesse momento, a criança opera pelo
id, quer que seus impulsos e desejos
sejam satisfeitos imediatamente. A
criança luta em busca do prazer. No
memento seguinte, a mãe lhe oferece o
seio ou seu substituto. O bebê ao sugar
o seio descarrega a tensão; na medida
em que o alimento é ingerido a criança
sente alivio, o prazer é imenso. Quando
Figura 3.4 – Fase oral o bebê está satisfeito a tensão é zerada
e ele volta a ficar calmo e tranquilo.

A mãe, ao alimentar o bebê o aconchega lhe dá afeto, o seu carinho o


tranquiliza, por isso a criança incorpora além do alimento o afeto materno.
O cuidado com o bebê é fundamental, porque as experiências vividas no
primeiro ano de vida podem determinar os padrões de reações futuras
do sujeito. É a mãe que faz a ligação entre o mundo interno da criança
e a realidade externa; o bebê atribui à mãe os seus estados afetivos. As
experiências de gratificação e frustração vão ser fundamentais na formação
da personalidade da criança e na forma que ela lidará com a realidade.

Fase anal

A fase anal inicia-se a partir do segundo ano e vai até aproximadamente


o quarto ano de vida. Nesse período, há uma expansão da libido para a
região anal, o ânus passa a ser a zona erógena na criança. Cabe lembrar,

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CAPÍTULO 3
que nessa fase, ocorre a maturação biológica dos músculos anais (esfíncter)
e das musculaturas de base que favorecem a mobilidade da criança, ela
coordena suas ações e torna-se mais independente.

A criança sente prazer ao evacuar. É dada uma atenção especial para o “fazer
cocô”. Nesse período, a criança passa pelo treino de toalete e os adultos
dão atenção especial ao momento em que a criança irá evacuar. Por outro
lado, a criança se depara com um produto que é seu, nesse sentido as
fezes tornam-se muito importantes para criança. A valorização do produto
criado pela criança e a valorização social são elementos que estruturam
as fantasias do infante. Ela “imagina” que seu produto é importante para
todos, e durante o treino de toalete ela o oferece como recompensa a um
ambiente agradável. Se o ambiente for desagradável, a criança se recusa a
oferecer o seu produto às pessoas, podendo então reter as fezes.

A fase anal apresenta duas subfases: a expulsiva e a retentiva. A atividade


de excreção e retenção são ações biológicas naturais, quando o intestino
ou a bexiga está cheio, a criança expulsa seu conteúdo para obter alívio e
prazer.

Na sociedade em que vivemos, não é permitido o movimento biológico


natural. O ato de evacuar está sujeito a normas e regras: como local
apropriado e horários, por exemplo. Essas normas levam a criança a reter
os excrementos quando o desejo é eliminá-los. Nesse processo educativo,
a criança descobre que ao reter as fezes adiando a evacuação, o prazer é
maior durante a expulsão.

Em termos psicológicos, a fixação na fase expulsiva pode levar o sujeito


a ter dificuldades de administrar suas emoções, tornando-se por vezes
agressivo e hostil. A fase retentiva fornece a base para que o sujeito
tenha controle de suas emoções e dos demais seguimentos da sua vida.

De acordo com a Psicanálise, o indivíduo fica fixado em uma das fases do


desenvolvimento psicossexual, quando é despendida grandes quantidades
de libido em uma determinada fase, que pode ocorrer por gratificação,
insatisfação ou trauma. Tal fixação fará parte da personalidade do sujeito e

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CAPÍTULO 3

quando ele estiver em estados de tensão e ansiedade tenderá a expressar


características da fase na qual está fixado. Pense na seguinte situação: ao
ficar ansioso, tenso, o sujeito passa a comer mais , uma forma encontrada
para descarregar a tensão. O prazer em comer é uma característica
proveniente da fase oral.

3.5 – As fases do desenvolvimento

Fase fálica

A fase fálica do desenvolvimento psicossexual inicia-se por volta dos


quatros e termina por volta do seis anos de idade. Nessa fase, a libido
está concentrada nos genitais da criança, que é sua zona erógena. Esse é o
Em termos simbólicos, o momento em que as crianças manipulam essas áreas erógenas em busca
falo significa poder. Tudo de prazer. O menino e a menina descobrem o pênis e esse passa ser o alvo
que se relaciona ao falo
adquire o significado de de interesse da criança. Ela passa a atribuir valor ao órgão sexual e procura
poder gerador de força. o pênis em objetos inanimados, como por exemplo, a criança ao ver um
O pênis masculino é uma
representação fálica de
vazamento de água em um carro ela pensa que o carro tem pênis e está
poder. Por isso a psicanáli- fazendo “xixi”.
se deu o nome a esta fase
de fálica porque as rela-
ções afetivas vividas nesse
De acordo com os psicanalistas, nessa fase, as meninas acreditam que
período estão relacionadas o clitóris é um pênis que irá se desenvolver. Por outro lado, os meninos
ao poder masculino durante muito tempo ignoram a existência da vagina. O valor atribuído ao
pênis é simbólico, pois durante muito tempo os homens dominavam os
espaços sociais.

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Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
Nessa fase, a tensão e o conflito estão relacionados às relações afetivas que
a criança estabelece com seus pais. É nesse momento que a criança vive o
que Freud chamou de “complexo de Édipo”.

O complexo de Édipo se caracteriza pela rivalidade do filho para com o


pai. Em busca do amor da mãe, há desejos incestuosos do menino em
relação à mãe. O menino tem sentimentos ambivalentes em relação ao
pai, ao mesmo tempo em o que ama, também o odeia. Esses sentimentos
se relacionam à disputa pelo amor da mãe e pela identificação do
menino com o pai.

Tabu significa uma proibição


imposta por tradição ou
O objeto de amor do menino é a mãe. Ele percebe que existe uma relação costume. O incesto é a relação
sexual entre parentes de
entre o pai e a mãe e fantasia que o pai quer lhe tirar a mãe, por isso o primeiro grau. O tabu do
odeia. Por outro lado, o menino admira o pai e o percebe como poderoso incesto refere-se à proibição
esse fato leva a criança a se identificar e imitar o pai. Na disputa com o pai, da relação sexual entre pais
e filhos. Do ponto de vista da
o menino vive angustia da castração, ele tem medo de ser castrado pelo Psicanálise, o tabu do incesto
pai por causa do amor pela mãe. Esse sentimento de castração juntamente é a maior lei cultural internali-
com o tabu do incesto faz com que o menino reprima seu desejo pela zada pela humanindade.
mãe.

Após a vivência do medo da


castração, o menino reprime
os desejos experimentados no
Complexo Édipo, em virtude
dessa repressão o menino sai do
Complexo de Édipo.

Nesse momento, o superego está


totalmente pronto, o que favorece
a internalização e operação
mental das normas sociais.
Figura 3.6 – Complexo de Édipo

79
CAPÍTULO 3

Na mulher, a fase fálica inicia-se com o complexo de castração. Em virtude


do valor atribuído ao pênis, a menina ao perceber que não tem o orgão, se
sente impotente e vive o complexo de castração.

A menina atribui a sua falta de pênis e


todas as suas impossibilidades à mãe. Ela
se sente herdeira da castração materna,
dessa forma, a menina tem sentimentos
ambivalentes (amor e ódio) em relação à
mãe, ela percebe a mãe como rival. O pai
é o objeto de amor da filha dessa forma
configura-se o complexo de Édipo na
mulher. Ao vivenciar o tabu do incesto, a
menina reprime os desejos eróticos pelo
pai, o superego está totalmente formado
e a menina passa a operar com as normas
do meio cultural e social.

Para a psicanálise, quando a criança


Figura 3.7 – Complexo de Édipo na mulher elege como objeto de amor, durante o
complexo de Édipo, o progenitor do sexo
oposto, essa criança faz uma escolha inconsciente pela heterossexualidade.
Da mesma forma, se durante o complexo de Édipo a criança escolher como
objeto de amor o progenitor do mesmo sexo, essa criança faz uma escolha
inconsciente pela homossexualidade.

Com a instauração do superego os desejos sexuais são reprimidos, a libido


será dirigida para outras coisas do cotidiano e a criança entra na fase de
latência por volta dos seis anos.

Fase de latência

Nesta fase, diferentemente das anteriores, a libido não predomina em uma


região específica do corpo. Agora a libido é direcionada para o mundo
externo. A criança torna-se mais independente em relação aos pais e seus
interesses estão voltados para os relacionamentos sociais e intelectuais.

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Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
Cabe observar, que na fase de latência a criança tem curiosidade sobre
o corpo do adulto, busca outros recursos afetivos para solucionar os
seus problemas e por isso fica vulnerável à sedução do adulto. Embora
a criança seja independente e circule sozinha pela vizinhança é um
período que exige atenção e cuidado.

As crianças começam a se organizar


em grupos. Na escola menina só
anda com menina e menino só se
relaciona com menino. Esses grupos
circunscrevem os papéis sociais
que a criança irá desempenhar.
É nesse período que as crianças
fazem os jogos sexuais como meio
de descoberta do próprio corpo,
do corpo do outro e das funções
sexuais.
Figura 3.8 – Grupos de Crianças: Meninos e Meninas

Fase genital

Para a psicanálise, a fase genital é o último estágio do desenvolvimento


psicológico. Neste momento do desenvolvimento, o objeto erotizado não
está no próprio corpo do indivíduo, mas em um objeto externo – no outro.
A libido é investida no meio, com vistas ao relacionamento afetivo. Alcançar
a fase genital significa tornar-se um adulto capaz de amar, trabalhar e lidar
com a realidade sem prejuízo ao seu psiquismo.

Observe que ao voltar-se para o desenvolvimento psicossexual do ser


humano, a psicanálise trouxe novos elementos para as questões que envolvem
o desenvolvimento da criança como um todo, e consequentemente pode
trazer muitas contribuições para a área da educação. Essas contribuições
se deram principalmente no campo da afetividade.

81
CAPÍTULO 3

É a psicanálise, no contexto escolar, que resgata o papel da afetividade


no processo de ensino e aprendizagem.

Durante muitas décadas, o papel da educação escolar resumia-se ao


desenvolvimento cognitivo do aluno. A escola era o lugar da disciplina
e da formação moral. Os processos afetivos eram negados, no contexto
escolar, em favor da autoridade dos educadores. É nesse contexto, que a
Psicanálise adentra ao espaço escolar e auxilia os educares a constituir uma
nova visão sobre as relações no contexto da sala de aula.

Existem problemas, os quais interferem no processo de ensino e


aprendizagem, que estão além da Didática e dos métodos de ensino.
É natural que o aluno deposite no professor afetos e é natural também
que o professor reaja a esses afetos. Nessa troca afetiva, cria-se um clima
interpessoal, sem que os envolvidos, professor e aluno, se dêem conta
do quanto estão sendo afetados por conteúdos inconscientes de sua
constituição psicológica.

Do ponto de vista psicanalítico, as dificuldades de aprendizagem perpassam


o campo da relação professor e aluno, onde a capacidade de aprendizagem
do estudante pode ser reprimida pela autoridade excessiva do professor ou
apresenta-se reprimida em virtude de problemas emocionais da criança.

Por exemplo, um o aluno pode apresentar dificuldades em lidar


com as relações de autoridade na família e projeta esse conteúdo
psicológico no professor, assim o aluno pode desenvolver uma
timidez excessiva, por medo. O aluno pode ainda passar a desafiar
o docente, como forma de diminuir o seu desconforto psicológico
durante a aula.

A maior contribuição da Psicanálise para a educação foi à compreensão


da sexualidade infantil. A sexualidade infantil deixou de ser vista pela

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Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
ótica da moral e passou a ser encarada como um processo natural, com
manifestações em correspondência à fase do desenvolvimento psicossexual
da criança. Isso levou os educadores a encarar a sexualidade da criança
como objeto da educação, a sexualidade passou a pertencer ao campo de
estudo da educação.

Figura 3.9 – Educação e Sexualidade

Seção 3 - Princípios da Teoria Humanista


Objetivos de aprendizagem

»» Apresentar os principais conceitos da teoria Humanista.

»» Demonstrar a teoria humanista por meio de exemplos


cotidianos.

Você estudará agora a teoria de Carl Rogers (1902 - 1987). Esta teoria
apresenta diferenças marcantes em relação às outras teorias psicológicas.
Rogers não usou o método introspectivo e não entende o homem como um
produto dos estímulos do meio. Ele tem uma compreensão de consciência
diferente da compreensão de Freud.

83
CAPÍTULO 3

O trabalho de Rogers é conhecido como Teoria Humanista. Segundo esta


teoria o homem não é conduzido por forças inconscientes, e sim guiado
pela razão e consciência. Para Roger é a partir da experiência consciente
que o sujeito irá se definir e evoluir.

Rogers afirma que há um campo da experiência para cada indivíduo. O


campo da experiência é compreendido como o mundo privativo, pessoal
que pode não corresponder à realidade. Isto quer dizer que as experiências
vivenciadas por uma pessoa apresentam-se como única e particular. Um
mesmo evento no espaço e no tempo pode ser vivido por duas ou mais
pessoas simultaneamente. No entanto, essa experiência será compreendida
de forma diferente por pessoas diferentes porque existem particularidades
em cada sujeito que lhe permite uma consciência única do evento vivido.

O campo da experiência é organizado de acordo com as sensações,


percepções e significados atribuídos à experiência vivida. Nesse
processo, a pessoa não tem consciência imediata de suas apreensões. É
esse conjunto de elementos que conferem valor particular à experiência.

De certa forma, podemos dizer que o evento atual se liga aos eventos
anteriores experimentados pelo sujeito e essa ligação reconfigura o evento
externo tornando-o particular. Por isso, o psiquismo de cada sujeito é único
e confere características peculiares a cada pessoa.

Para explicar as características particulares do ser humano, Rogers


desenvolveu o conceito de Self. Ao contrário do que se pensa, o self não
é uma instância psicológica hermeticamente fechada, ele está situado
no campo da experiência, é mutável e instável. Na teoria de Rogers, o
self é o auto-conceito e a visão que uma pessoa tem de si própria. Essa
visão repousa sobre as experiências passadas, estimulações presentes e
expectativas de como ela será no futuro.

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Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
Para Rogers, o ser humano apresenta uma tendência natural à evolução,
como os outros animais. O homem evolui em direção a autonomia, com a
finalidade de usar todas as suas potencialidades. Para a Psicologia Humanista
o homem é um ser inacabado, um eterno vir-a-ser e seu objetivo maior, a
finalidade da vida é a auto-realização. De acordo com Rogers, o conflito
psicológico pode ser explicado nas contradições entre o que o sujeito é de
fato e seu self ideal. A teoria humanista entende o self ideal como outra
instância psicológica.

O self ideal também é mutável, pode ser descrito como um conjunto de


características que o indivíduo entende ou gostaria que fossem suas. O
sujeito se percebe de uma forma que não corresponde ou encontra pouca
correspondência com o self. A falta de correspondência, de sincronicidade
entre o self e o self ideal tem como produto o conflito o desconforto
psicológico. Esse conflito é um obstáculo ao crescimento pessoal e impede
o sujeito de vir-a-ser, de tornar-se pessoa.

Para a teoria humanista, o tornar-se pessoa significa que o objetivo


do homem é aprimorar-se a cada dia. O aprimoramento vem com a
assimilação da experiência. Essa assimilação permite a maturidade da
pessoa de maneira que ela possa se colocar no lugar de outra pessoa e
assim entender o sujeito sem fazer juízos de valores. O tornar-se pessoa é
chegar a um grau de humanidade que permite a compreensão do sujeito
com vistas a eliminar os conflitos internos e externos ao sujeito em suas
relações interpessoais e tem como produto o funcionamento pleno do
seu psiquismo.

Para entender melhor essa colocação, pense na seguinte situação: em uma


grande metrópole havia um engenheiro que era muito bem sucedido.
Suas obras eram consideradas criativas e originais. O traço marcante do
seu trabalho era a inovação por isso, seus clientes eram pessoas arrojadas
e com gostos peculiares. Ao terminar uma construção, seu cliente não
gostou do trabalho realizado e ele foi duramente criticado por colegas
de trabalho. Após algum tempo, o engenheiro abandonou a profissão,
alegando que queria ter outras experiências. A dificuldade do engenheiro
em aceitar seus erros, em aceitar sua limitação era imensa, de maneira que

85
CAPÍTULO 3

o self ideal o levou a abandonar a profissão de engenheiro para “proteger”


sua autoimagem.

Observe, que a experiência atual do engenheiro (o fracasso) não fazia parte


do seu campo de experiência, não correspondia ao seu self, o conflito estava
instalado. Entretanto, ele precisava integrar àquela experiência negativa à
sua personalidade para poder continuar se desenvolvendo. Após alguns
meses de psicoterapia, o engenheiro assumiu que podia cometer erros,
que poderia aprender com seus próprios erros e que precisava se atualizar
em seu campo de trabalho. Ao tomar consciência do seu conflito o
engenheiro integrou a experiência em sua personalidade, isso lhe permitiu
continuar evoluindo em direção ao vir-a-ser e tornar-se pessoa.

A tomada de consciência ocupa lugar de destaque na teoria rogeriana.


Para Rogers, existem dois princípios no funcionamento psicológico que
determina o conforto e o desconforto psicológico, são eles: a congruência
e a incongruência.

Acompanhe a seguir a explicação de cada um delas:

Congruência

A congruência é a correspondência e a sincronicidade entre a experiência


atual, a comunicação dessa experiência e a consciência dessa experiência.
Existe uma correspondência entre a
imagem (pensamento) percebida, as
sensações e os sentimentos vivenciados,
associados às experiências anteriores da
pessoa. No processo de congruência, o
que é percebido pelo sujeito é possível
de ser observado pelas pessoas que o
cercam.

A congruência e a sincronicidade podem


ser observadas na criança. Se a criança
está feliz, ela expressa essa felicidade,
se ela tem vontade de chorar ela chora,
Figura 3.10 – Congruência e Sexualidade se fica surpresa com algo expressa suas
emoções. Quando há congruência entre

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Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
o que a pessoa sente, o que ela faz e o seu self ideal a probabilidade para
ela desenvolver uma doença psicológica diminui.

Para a Teoria Humanista, na medida em que crescemos e entramos em


contato com o meio social e no meio social, encontramos elementos
que nos impedem de realizar nossos objetivos pessoais, porque o meio
social normatiza o processo de realização das nossas necessidades. A
normatização pode fazer oposição ao nosso objetivo, essa oposição gera
a incongruência.

Incongruência

A incongruência é o elemento que pode bloquear e impedir o nosso


processo de tornar-se pessoa. Ser incongruente significa que o que é sentido
pelo sujeito não corresponde ao que ele expressa verbal e corporalmente.

A incongruência se caracteriza pelas diferenças entre a experiência, a


comunicação dessa experiência e a tomada de consciência. A incongruência
leva a pessoa ao sofrimento psíquico e pode ser sentida como tensão,
ansiedade ou confusão interna. A incongruência é possível de ser observada
naquelas situações em que as pessoas expressam, comunicam os seus
sentimentos de forma oposta ao que realmente sentem.

Podemos pensar em uma pessoa totalmente insatisfeita com o trabalho.


Essa pessoa levanta-se pela manhã já em sofrimento por ter que ir trabalhar,
fica ansiosa e infeliz. Ao chegar ao seu trabalho, ela não pode expressar
seus verdadeiros sentimentos de insatisfação. Sua função exige que ela seja
simpática e amável. A simpatia e a amabilidade são reações em oposição
ao que ela sente. Ela se mantém no trabalho por pura necessidade de
sobrevivência. Nesse caso, há incongruência entre o que a pessoa sente
e o que expressa, se ela continuar nessa situação, logo ela desenvolverá
doenças mais sérias. A incongruência é um obstáculo ao crescimento, ao
desenvolvimento, ao torna-se pessoa.

87
CAPÍTULO 3

A intervenção profissional, do psicólogo em psicoterapia ou do


educador em sala de aula tem como objetivo facilitar o processo de
desenvolvimento da pessoa. O educador é um facilitador do vir-a ser. A
eficiência do trabalho educacional ou do educador e do aluno no processo
é garantida pela capacidade de empatia.

A empatia é supervalorizada, na teoria de Rogers. O relacionamento


interpessoal e a capacidade empática do sujeito são fundamentais para
o seu desenvolvimento psicológico. Ter empatia ou ser empático significa
colocar-se no lugar do outro, é o modo mais humano de compreender
uma pessoa. Ao colocar-se no lugar do outro, o sujeito vivencia os
sentimentos e emoções da outra pessoa, é uma forma de penetrar no
mundo subjetivo da pessoa para ver se nossa compreensão está correta.

Para a Teoria Humanista, o tornar-


se pessoa significa que o objetivo do
homem é aprimorar-se a cada dia. O
aprimoramento vem com a assimilação
da experiência, essa assimilação permite
a maturidade da pessoa de maneira que
ela possa se colocar no lugar da outra
pessoa e assim entender o sujeito sem
fazer juízos de valores. O tornar-se pessoa
é chegar a um grau de humanidade que
permite a compreensão do sujeito com
vistas a eliminar os conflitos internos
e externos ao sujeito em suas relações
interpessoais e tem como produto o
Figura 3.11 – No lugar do outro
funcionamento pleno do psiquismo.

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Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
Seção 4 - Educar de acordo com a Teoria Humanista
Objetivos de aprendizagem

»» Entender a Teoria Humanista relacionada ao processo


educativo.

»» Compreender o papel do professor e da escola de acordo


com a Teoria Humanista.

Para Teoria Humanista, o conhecimento é uma experiência subjetiva no


processo de vir-a-ser. A percepção que o sujeito tem do mundo é a realidade,
essas percepções estão presente em todas as relações interpessoais que
o sujeito estabelece em seu meio social. Para Rogers, a tendência ao
crescimento pode ser facilitada por qualquer relação interpessoal em que
um dos membros esteja livre da incongruência.

Durante a infância, a criança enfrenta obstáculos normais do


desenvolvimento, em uma determinada fase ela lança mão de um
repertório de ações e sentimentos que favorecem ao seu desenvolvimento.
Entretanto, esse repertório é reavaliado em cada etapa do desenvolvimento
porque os motivos de um estágio podem não ser utilizados para solucionar
problemas em outra etapa da vida. É na infância que a criança tem o
primeiro contato com seu self, ela toma consciência das suas necessidades
universais de amor e de relações positivas com outros seres humanos.

A criança se percebe como uma totalidade, ao receber um elogio ela se


sente aprovada. Ao ser reprovada por uma ação, ela reage à desaprovação
como se tivesse sendo desaprovada em tudo faz, se sentem desaprovadas
em sua totalidade. A criança se opõe ao meio quando o seu desejo não
encontra correspondência na realidade. Nessa situação, ela passa a viver a
incongruência que a impede de continuar se desenvolvendo em direção
ao tornar-se pessoa.

A aprendizagem faz parte do campo de experiências subjetivas da criança


e constituem a percepção que a criança tem de si mesma, nesse caso, a
educação escolar vai para além do ensinar conteúdos acadêmicos. A
educação então assume o papel de educar para que a criança continue
se desenvolvendo em direção ao tonar-se pessoa, a partir de um processo
contínuo de avaliação e reavaliação de si e de suas ações.

89
CAPÍTULO 3

De acordo com a Teoria Humanista, o processo educativo é centrado no


aluno, o educando é visto como um ser em transformação constante de
si e do mundo. Em cada aluno, há uma consciência que lhe permite fazer
escolhas autônomas e a escola tem como princípio fundamental criar e
preservar essa consciência por meio de posicionamentos pedagógicos
democráticos.

Por este ponto de vista, o papel do educador é o de facilitador da


aprendizagem, seu trabalho pedagógico deve ser congruente, ou seja,
o que o professor comunica deve corresponder as suas ações e ao seu
posicionamento no mundo. O método de ensino é não-diretivo. O
professor não dirige o processo de ensino, ele cria condições para que o
aluno possa se desenvolver de forma autônoma. O professor observa e
sua intervenção tem como objetivo de criar um espaço de liberdade para
facilitar a aprendizagem. Nesse sentido, a aprendizagem é uma resposta
ao vínculo interpessoal que potencializa o processo de desenvolvimento
em direção ao vir-a-ser.

Síntese do capítulo

»» O papel da Psicanálise e do Humanismo no processo educativo.

»» O desenvolvimento da personalidade e sua importância no


processo educativo.

»» A teoria de Rogers apresenta uma proposta que define o papel


do professor no processo educativo.

»» O valor da autonomia e da democratização do espaço escolar


como elemento formador e constituinte da personalidade do
educando.

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Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
Você pode anotar síntese do seu processo de estudo nas linhas a
seguir:

Atividades de aprendizagem

1. Nesse capitulo, você estudou a Psicanálise e o Humanismo. Essas teorias


apresentam diferenças marcantes. Assinale a alternativa correta que
corresponde aos princípios da Psicanálise.

a. ( ) A autonomia é essencial no desenvolvimento do sujeito.

b. ( ) O homem não dirige suas ações de maneira autônoma e


consciente.

c. ( ) A empatia é fundamental para maturidade psíquica.

d. ( ) O homem é determinado por seus processos conscientes.

2. Assinale a alternativa correta. De acordo com a Teoria Humanista é


correto afirmar que:

a. ( ) A incongruência é o movimento harmônico entre o desejo do


sujeito e sua ação.

b. ( ) A autoridade do professor é necessária para inibir os elementos


indesejáveis da personalidade do aluno.

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CAPÍTULO 3

c. ( ) O self ideal em harmonia com o self resulta em congruência


psíquica.

d. ( ) O objetivo do homem, ao longo de sua vida, é tomar consciência


dos elementos traumáticos durante o seu desenvolvimento
psicossexual.

Aprenda mais...

Se você se interessar em saber mais sobre a Psicanálise recomendamos que


você leia os textos de Freud no original. Você poderá começar lendo o seguinte
livro:

FADIMAN, James e FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. São Paulo:


Harbra, 1979.

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