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Padrão Nº: PROT-012

PROTOCOLO INSTITUCIONAL Estabelecido em: 10/2016


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ATIVIDADE: Protocolo multiprofissional para atendimento ao paciente alérgico a látex

I – CONTROLE HISTÓRICO
HISTÓRICO
REVISÃO DATA Nº PÁGINAS ELABORAÇÃO VERIFICAÇÃO APROVAÇÃO
ALTERAÇÃO
Enf. Xênia Dr. Ana Maria
00 01/11/2016 06 NA Jacqueline Portella
Minelli Vilela

PROCESSO

1 – INTRODUÇÃO

A sensibilização pelo látex ocorre quando há contato repetitivo, estimando-se ser necessária uma exposição
de seis meses a quinze anos para o seu desenvolvimento. É causa importante de alergia ocupacional e reações
alérgicas em indivíduos sensibilizados.
Pode manifestar-se como eczema, urticária, simples rinite ou conjuntivite, angioedema, asma e até choque
anafilático.

1.1. GRUPOS DE RISCO:

- História de anafilaxia ao látex ou teste de reação ao látex positivo;


- História de alergia/sensibilidade ao látex, com referência aos seguintes sinais e sintomas: prurido, edema ou
vermelhidão após contato e edema de lábios ou língua após tratamento odontológico ou por assoprar balões
de borracha;
- Pacientes sem história de alergia ou sensibilidade, mas pertencentes ao grupo de risco como: com espinha
bífida / anormalidades urogenitais congênitas ou adquiridas, que necessitem cateterizações vesicais
freqüentes;
- Profissionais de saúde ou trabalhadores de indústria que manuseiam látex;
- Pacientes submetidos a múltiplos procedimentos cirúrgicos;
- Pacientes atópicos, com alergias múltiplas (abacate, abacaxi, banana, castanha, kiwi, nozes, morango, uva,
maracujá, pêssego, damasco, manga, banana, tomate, batata);
- Outros indivíduos com exposição ocupacional: os trabalhadores da indústria da borracha e outros
profissionais com manipulação dos produtos (cabeleireiros, jardineiros) devem apresentar níveis de
sensibilização semelhantes aos do meio médico.

OBJETIVO

1.0 - OBJETIVO GERAL:

Capacitar todos os profissionais de saúde da sua instituição para o reconhecimento dos pacientes do
grupo de risco, bem como criar sistemática de identificação do paciente alérgico ao látex, visando
proteger o paciente de exposição a materiais que contenham látex. A identificação deve ser feita tanto no
paciente (por exemplo, uso de pulseira de alerta: “Alergia ao Látex”), quanto em todos os documentos do
prontuário (prescrições, evoluções, etc).
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2.0 - JUSTIFICATIVA:

Alergia ao látex é qualquer reação imunomediada à proteína do látex, associada a sintomas clínicos.
Profissionais de saúde devem estar aptos a identificar os grupos de risco e proporcionar condições
adequadas para a prevenção e o tratamento seguro, frente às reações graves que podem trazer risco de
vida.
A equipe assistencial deve estar preparada para manejar uma reação alérgica aguda.

3.0 – ABRANGÊNCIA:

O protocolo deve ser aplicado em todos os setores da assistência prestada ao paciente, em que sejam
realizados procedimentos, ou seja, consultórios, salas de exames e centro cirúrgico.

4.0 – PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL:

4.1 - Manifestações clínicas

4.1.1- Dermatite de Contato Irritativa:

É a manifestação mais comum e freqüente, correspondendo a 80% das queixas daqueles trabalhadores
que utilizam luvas. É resultado da ação direta do látex ou substâncias químicas irritantes sobre a pele,
podendo ser potencializada pelo degermante e procedimentos de lavagem das mãos para cirurgia. Esta
reação não é mediada pelo sistema imunológico, não se constituindo uma reação alérgica verdadeira, mas
as lesões produzem perda da integridade sensibilização posterior.

4.1.2. Hipersensibilidade Tardia, Tipo IV:

Também chamada de dermatite mediada por células T ou dermatite alérgica. Envolve diretamente o
sistema imune. Entre todas as reações imunológicas às luvas, 84% são do Tipo IV. A pele desenvolve um
eritema urticariforme, geralmente 72 horas após o contato inicial e pode evoluir para dermatite bolhosa.
Não existem repercussões sistêmicas.

4.1.3. Hipersensibilidade Imediata, Tipo I:

Também chamada de reação anafilática ou reação mediada por células IgE. O antígeno induz a produção
de imunoglobulinas classe E (IgE) específicas. As reações ocorrem geralmente alguns minutos após o
estímulo, mas em pacientes anestesiados são relatadas reações até 30 minutos após a indução.
Os sintomas desenvolvem com intensidade e gravidade variadas, manifestando desde eritemas, coceira,
tosse, rouquidão, dispnéia, sibilância, conjuntivite, edema de via aérea, broncoespasmo até choque com
colapso circulatório e parada cardíaca.
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4.2 - Diagnóstico

O diagnóstico de sensibilidade ao látex é determinado por anamnese detalhada com dados positivos em
um questionário específico e/ou exame físico minucioso buscando reações dérmicas ou alérgicas.

4.3 – Cuidados e prevenção

A melhor conduta para se evitar complicações no período pré-operatório seria identificar previamente os
pacientes dos grupos de risco, com história sugestiva ou achados laboratoriais positivos, evitando
totalmente o contato com o látex. Para tanto é necessário um esforço conjunto multidisciplinar e apoio
das instituições para estabelecer rotinas padronizações que vão além das salas de cirurgia.

OBSERVAÇÃO: Todo paciente que antes, durante e após o atendimento for identificado como alérgico
ao látex, comunicar as equipes envolvidas no tratamento e seguir todos os cuidados propostos neste
protocolo.

Os cuidados aos pacientes devem ser planejados e coordenados pelas várias equipes: farmácia,
setor de higienização, equipe de anestesia e cirúrgica, equipe de enfermagem.
- As cirurgias eletivas devem ser agendadas, sempre que possível, para o primeiro horário do dia:
prevenindo assim níveis muito altos de antígenos de látex na forma de aerossóis na sala cirúrgica, se não
for no primeiro horário a sala cirúrgica deve permanecer parada por 2 horas e 30 minutos;
- Os prontuários e leitos devem conter avisos de “Alergia ao Látex”, para os pacientes com diagnóstico
estabelecido e “Alerta ao Látex” para aqueles com suspeita;
- Montagem antecipada de KIT LATEX FREE, no Bloco Cirúrgico e Internação.

OBSERVAÇÃO: Antes de levar a paciente para sala de cirurgia, refazer a verificação pré-operatória
(verificação deve ser feita em dois momentos: no dia anterior a cirurgia – preparo da sala e no dia da
cirurgia).

4.3.1 – Ítens que fazem parte da verificaçao pré-operatória:

- Pacientes alérgicos a látex ou em alerta devem permanecer em isolamento (não internar outro paciente
no leito ao lado – para os casos de enfermaria);
- Partes internas e externas do equipamento de anestesia;
- Luvas, tubos traqueais e conexões livres de látex;
- Máscaras, balões de ventilação, circuitos respiratórios: usar de silicone ou polivinilcloridato;
- Remover as tampas de borracha dos medicamentos, não furar a borracha com agulhas;
- Retirar da sala cirúrgica seringas com êmbolos de borracha. Usar seringas descartáveis com silicone ou
seringas de vidro;
- Retirar da sala cirúrgica os garrotes ou torniquetes de borracha;
- Cuidado com manguitos para medida de pressão arterial. As borrachas devem ser encapadas ou
protegidas com algodão;
- Ambú: verificar se as válvulas e o balão não são de látex;
- Verificar os introdutores de medicação nos soros e equipos, evitar punções repetidas e trocar soluções a
cada 6 horas.
- Verificar os equipamentos da cirurgia, não utilizar produtos cirúrgicos com látex.
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4.3.2 - Especificamente para o Bloco Cirúrgico, deixar preparada duas soluções de adrenalina:

- Adrenalina 50mcg/ml: diluir 1 ampola de adrenalina em 20 ml de SF0,9%(usar em caso de parada


cardiorrespiratória).
- Adrenalina 5 mcg/ml: aspirar 2 ml da solução acima e diluir para 20 ml ( usar durante reação alérgica).
- Fazer a profilaxia pré-operatória com anti-histamínico, bloqueadores H2 e corticóide.

4.3.3 - Demais cuidados dentro do Bloco Cirúrgico:

- Restrinjir o fluxo de pessoas: a mesma equipe deve ser mantida durante toda a duração do procedimento
cirúrgico;
- Manter pessoal disponível para coletar e entregar qualquer equipamento adicional para o procedimento;
- Disponibilizar caixas de luvas sem látex em todas as áreas: devem ser verificadas na admissão,
colocadas ao lado da cama do paciente e utilizadas durante a internação;
- Qualquer item ou equipamento a ser utilizado sobre ou perto do paciente precisa ser verificado sobre o
conteúdo de látex antes do uso;
- Colchonetes e braçadeiras, não identificados como “isentos de latex”, devem ser cobertos com lençol de
algodão;
- Equipamentos de ressuscitação: isentos de látex;
- Carrinhos de reanimação devem ter luvas, circuitos, máscaras e catéteres sem látex;
- Tegaderm®, Micropore® e gesso Sleek ® são livres de látex e podem ser usados;
- O estetoscópio deve ser livre de látex (ex: Littman ® contém látex);
- Se possível: não aspirar ou diluir medicamentos através das tampas dos frascos, não aspirar ou injetar
pelos injetores das bolsas, não puncionar nos injetores laterais dos equipos.

OBSERVAÇÃO: A profilaxia medicamentosa é de utilidade duvidosa. Alguns autores recomendam


uso de difenidramina e metilpredinisolona no pré-operatório, mas outros não incentivam o seu uso
rotineiro, argumentando que a medicação pré-anestésica atenuaria apenas a resposta imune inicial e não a
anafilaxia.

4.4 – Tratamento das reações alérgicas ao látex

As manifestações alérgicas sistêmicas, tipo I, apresentam uma grande variedade de sinais e sintomas,
dependendo o tratamento da gravidade do quadro clínico.
É extremamente importante identificar e remover o agente desencadeante. As reações mais
brandas, como a rinite e eritemas, respondem ao uso de anti-histamínicos e corticoesteróides nasais ou
sistêmicos. As reações mais graves com comprometimento das vias aéreas, podem necessitar de
tratamento agressivo com anti-histamínicos, esteróides, bloqueadores H2, oxigênio, broncodilatadores,
intubação traqueal e, principalmente, a adrenalina.
No caso de anafilaxia, deve ser padronizada uma seqüência de tratamento específico que visa a rapidez e
eficiência no atendimento. Com o seguinte protocolo:
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4.4.1 - Terapia Inicial:

1. Parar imediatamente a administração ou reduzir a absorção do agente agressor, verificando vias de


contato, inclusive mucosas e via inalatória;
2. Remover todo látex do campo cirúrgico ou da sala de atendimento;
3. Trocar as luvas;
4. Descontinuar a administração de antibióticos e/ou sangue e derivados;
5. Desligar todos os agentes anestésicos;
6. Manter a ventilação com oxigênio e FiO2 de 100%;
7. Intubação traqueal (quando necessária);
8. Administrar 25-50 ml.kg -1 de cristalóide;
9. Administrar adrenalina sendo:
a) Venosa: 0,1 µg.kg -1 ou aproximadamente 10 µg no adulto, no caso de hipotensão arterial, 0,01
mg.kg-1 no colapso circulatório com parada cardíaca.
b) Subcutânea: 300 mcg, na falta de acesso venoso.
c) Traqueal: de 5 a 10 vezes a dose venosa ou 50 a 100 mcg no adulto (10 ml de solução 1:10.000).
10. Colocar avisos de “Alerta Látex” na entrada da sala de cirurgia e limitar a entrada de materiais e
pessoas.

4.4.2 - Terapia Secundária:

1. Administrar anti-histamínicos: difeniframina 1 mg.kg – 1 por via venosa ou muscular (dose máxima de
50 mg) e ranitidina 1 mg.kg-1 venosa (dose máxima de 50 mg);
2. Administrar corticóide: hidrocortisona 5 mg.kg-1 de ataque, seguidos de 2,5 mg.kg-1 a cada 4 ou
6 horas ou metilpredisolona 1 mg.kg-1 de ataque e 0,8 mg.kg-1 a cada 4 ou 6 horas;
3. Administrar drogas vasoativas contínuas para manter níveis pressóricos;
4. Administrar bicarbonato de sódio 0,5 a 1 mg.kg-1 se necessário;
5. Encaminhar os casos graves ao CTI, comunicando a necessidade de preparo para recebimento do
paciente alérgico a látex.

5.0 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - Centers for disease Control. Recommendations for prevention HIV transmission in


health care settings. MMWR, 1987;36: (Suppl25):15
2 - Slater JE - Rubber anaphylaxis. N Engl J Med, 1989;320: 1126
3 - Brown RH, Shauble JE, Hamilton RG - Prevalence of latex aergy among anesthesiologists.
Anesthesiology, 1998;89: 292
4 - Paolhories G - Reducing proteins in latex gloves. The industrial approach. Clin Rev Allergy,
1993;11:391-402.
5 - Baur X, Chen Z, Allmers H - Can a threshold limit for natural rub – ber airbone allergens be defined?
J Allergy Clin Immunol, 1998;101:24
6 - Kurup VP, Kelly T, Elms N et al - - Cross-reactivity of food aller- gens in latex allergy. Allergy Proc,
1994;15:211-216.
7 - Holz RS - Clinical management of latex allergic children. Anesth Analg, 1997;85:529-533.
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8 - Weiss ME, Hirshman CH – Latex allergy Can. J Anesth, 1992;39:528-532.


9 - Ronald JF - Anaphylactoid and anaphylactic reactions; Anesthe-siology, 1994;86:191-193.

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