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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELO

SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNICAMP


DtRtTOR.tA Df TRATAMENTO DA INFOR\4AçÀO
Bibliotecária: Maria Lúcia Nery Dutra de Castro - cRB-8x I 1724

K12,1I- Nrlantzis,\1art
Lctramentcis/\,1ari, Kalanlzis. Bill (iopc e petrilson pinheiro.
'l racluçiio:
Petriison Pinheiro. - (ianrprrtrs, SP; Lrlitora cla Unicamp, 2020.

1. Alfabetizaçáo. 2. Educação - Brasil. 3. Internet. 4. Tecnologias educacionais.


L Cope, Bill. I l. Pinheiro. Perrilson. III. Titulo.

cDD - 372..1145
- 370.981
371.3078
rsBN 978 65 86253 17 7
- 371.3078

T'itulo original: Lirdrd.id-§


Esta traduç.i. clu llreracie.s e public.da p,r acorclo c.n a (ianrbrlclge LTnilersit\ press

(ioplright LO 2012 br.Canbridg!. L ni\.crsi1\ prcss


(rrpp ight Cr Nlarv Killiutzis, Bill Cope e Pctriison pinhc.irrt
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I
Visão geral

Construir signiÍicado é um processo de representação (fazer sentido) e de comunicaçã o (fazer


com que Llma mensagem possa ser interpretada por outra pessoa). Este capítulo anaiisa o processo
de design* através do qual as pessoas se apropriam de recursos disponíveis para "significar" e os
usam como blocos de construção par'a projetar novos significados. Embora sejam frequentemente
semelhantes, os significados então criados nunca são os mesmos que os anteriores, pois se tornam
significados retrabalhados (redesigned) ao entrarem no mundo. Nesse sentido, podemos dizer que,
como o mundo sempre é, em maior ou menor grau, transformado, então, o ciclo de construção de
signiÍicado pode começar de novo. Embora seja ainda comum nas escolas separar as práticas de
letramentos que lidam com a mecânica da leitura e da escrita, nossos processos cle construcão de
significados são sempre, ao menos em certa medida, multimodais, posto que reúnem modali,,la,les
escritas, visuais, espaciais, táteis, gestuais, sonoras e orais. Isso é ainda mais er-idente na
contemporaneidade, uma vez que os norros meios digitais são intrinsecamente multimodars. Este
capítulo sugere uma abordagem para "análise dos designs", constituindo-se em um prelúdio para
os seis capítulos desta seção do livro, qLre procurarão esboçar uma gramática multimodal que nos
ajudará a descrever e entender a construção de significado em diferentes modos.

Construção de significado na representação e na comunicação

Construindo significado na atualidade

Morgan: O Gyaraclo, ele é um Pokérnon de água. Urn grancle. \'ocê consegue no Shootport Citl: E r.ro
tundo do mar. Você precisa mergr.rlhar para chegar lá. \'ocê precisir nrergulhar e há uma abertura clebaixo
d'água. Então você passa por 1á.

O termo design pode englobar tanto um sentido mais restrito, isto é. uma instanciação de convenções e recursos
construídos reificados socioculturalmente, como um sentido mais amplo. o de um processo de retrabalho que leva
e
à sua
própria ressignificação, transformação. Dadas a ambivalência do termo r. a possibilidarle de a tradução para
o português
não contemplar ou mesmo distorcer ta1 ambivalência, a opção aqui foi delrar o termo em inglês. (N.
da T.)
Pesquisador: Essa é un-ra c,a.:. - -. ..
Morgan: Nào. nào € deh" r * -- -. .'. ' .,. .Lhaixo d'água. Você aperta a velocidade. \,-océ
sobe, entào uoce [...] de... - . . - - :. i..;,,:r.ü \ll1e está ne1e.
.

Pesquisador: Então, e L1nr,l :, rii - -: -: :::r:;. en;!)ntrado OU Saiba if atélá?


Morgan: Eu sei ir para la. \i ::-: : '- .,--, ;: rassei por isso. Eu passei por tudo e passei e nào consegnr

o Pokemon gran\1e,..
PeSqUiSadOr: Quando YLrií ..:,- , .-'-a .--i ,rg(,. \,,Cc se Sente CumO Se eStiVeSSe jogando Ou Se Sente
fora do jogo?
Nlorgan: Fora clo jogo. Sinr. n.r: r) '.cre: eu gostaria rllie este fosse o mllndo Pokémon, mtrs isso nào se

torna realidade.'

Morgan tem 10 anos e e rim avidoiogador de Pcikemon. No trecho llrritrla, ele conversacom os
pesqllisadores qlre lidarn com novos letrarnentos rniclititicos Sue Clancy e Tom Lolr,rie sobre uÍr
dos jogos mais r.endidos de toclos os ternpos: Pokernon, disponível em diversos tipos cle rnídias.
Ao jogar, lVIorgan na\rega por difêrentes p.risagrrls eul rrmil jornada que lhe permite encontrar
muitas das centenas de espécies de Pokemon, er-rvoh'endo-se em uma ampla r.ariedade de letrarnentos:
visual, espacial, auditivo, escrito e gestual. Nesse serrticlo, vale destacar, por exernplo, as maneiras
pelas quais palavras e imagens represent.rm o espirço c1o jogo e como Nlorgan tangivelmente sente
uma espécie cle presença física no espaço Pokérnon.
Clancv e Lor,r,rie mostram que, ao jogar Pokem(1lr. o pensiunento de Nlorgan e organizado por
n'reio cle duas r.rarrativas: as narrati.",as internalizaclâs. a[re são "aqu.elas que os jogadorcs constroem
enqlralrto se nlovem atrar,és cios processos reais do iogo'l e irs narrativas exteruaiizadas, "aquelas
qrle os jogadores constroem quando estão coll\'ersanilo sobre aspectos dos jogos'l'
Às narrrativas internalizadas são as que chamarnos cle representações; trata- Representação: [0n5rf ,
-se dos processos de raciocínio que Morgan Lrsa para construir sentidos sobre I para si mesmo, Llsand0 un-
o jogo, isto é, sobre sua rratlJreza, seu propósito e seus personagens, o que lhe I sinais para "fazer sentido
mun00'
permite fazer escolhas significativas sobre aonde ir e o que fazer para seguir I
nele. As narrativas externalizadas ocorrem quando ele explica a história para (omunicação: Sinais con
outra pessoa, nesse caso, os pesquisadores, o que chamamos de comunicação. oLttra pessoa pode em algu
rece he r

Narrativas internalizadas ou representação Processos de pensamento que usamos para construir


sentidos sobre coisas e açóes.

Narrativas externalizadas ou comunicação Expressóes de significado que construímos para


outra pessoa.
Quadro 8.r: Representação e comunicação.

Sistema de significados e semiose

Os letramentos são processos de construc.rrr .ic signiâcado, às vezes chamados de "semiose", ou


o processo de usar signos. O campo aaadci'rrr". .r. estudo de sistemas de signos é o da semiótica,
çll1e se constitui de forma multidisciplir-rirr. tr ..i ,,-r.i as conexões entre um significante (uma palavra,

1 Ciancv & Lor.r,rie,2005, pp. 143-1,1-1.

2 ldem,2003, p. 129.

166 | LETRAMENT0S
por exemplo) e aquilo que signiÍrca (aquilo a que se refere),
e entre os significantes em sistemas de
signos (por exemplo, entre línguas).
Na frase "Nós leyamos o cachorro paÍa passear na rua,l ..Nós,l .,levamos,,, .tachorro,,, ,.passear,,
e "rua'são todos significantes: palavras que usamos para representar
coisas que existem (isto é, as
coisas que elas significam). No entanto, esses significantes
não fazem muito sentido separadamente
um do outro' pois se encaixam em uma frase significativa
baseada na relação sistemática entre as
palavras' Por exemplo, a estrutura da oração nos
diz que o cachorro não está nos levando para
passear; nós é que o estamos levando para passear.
Alem disso, há um conjunto maior de significados
não implícitos, isto é, não ditos na mesma frase: "nós"
signiÍica "não eu,, ou ..não apenas um de
nós"; "levamos" significa ..não levaremos,, (no futuro); .passear,, ..não
signiÍica correr,,, para mencionar
apenas algumas alternativas contrastantes. Desse
modo, a frase faz sentido não como uma colagem
de significantes separados, mas como um conjunto
estreitamente interconectado de significados
que se encaixam em um sistema de significado extremamente
complexo da língua como um todo.
Nesse sentido, a realidade em que vivemos não é
um conjunto de coisas arbitrariamente lançadas
juntas para significar algo, mas sim significados
experienciados, que se juntam em padrões que
fazem sentido em nossa realidade cotidiana. por
isso, quando esses significados, de alguma forma,
contradizem nossas intuições, como, no exemplo inverso, 'b
em que cachorro nos levou para passear
na rua", achamos estranho e chegamos até a rir dessa
situaçào.
Assim' em um sistema de signos, os significados que
criamos entre os signiflcantes são projetados
para corÍesponder às conexôes entre as coisas que
estamos vivenciando. Nessa perspectiva, tanto
ot
tos significados simbólicos (significantes) quanto nossos
sistema de signos: uma série o, I 'of significados
signifrcantes rnterconectados experienciados (significados) formam um sistema coerente.
-: 1 euanclo as coisas
'ios), que representam uma serre estào indo bem, quando as coisas estão fazendo sentido,
I as cone,roes entre nossos
':rificados lntert,nettad.s (aoullo
I significantes nos parecem corresponder muito bem às coneroes que estamos
- le ser experienciado no mundo)
I .rp..irr"rrtando no mundo.
As ccnexões entre significantes e significado Significados simbólicos
são questões de convenção e variam <Ie língua S;gnif icante',levamos'

para língua. Assim, todos nós podemos saber Significante "Nós,,

sobre cachorros, mas é uma convenção da nossa


cultura conectar a palavra 'taci-rorro,,ao animai.
Em grego, palavra para representar esse mesflro
a
animal é skili, mas os sons ou a aparência dessa Sígnificadô

palavra não têm sentido se não se conhecem


\--_--__ Significado

as -
convenções do grego como um sistema de
Figura 8.r: Um sistema de sÍgno.
signos.
Neste livro, em Yez de usar as palavras "semiose"
ou "semiótica" para descrever o estudo dos
sistemas de signos, Yamos lidar com o conceito
mais simple s: construção de significado. A construção
de significado ocorre quando inserimos os significantes
juntos em um sistema coerente, que
corresponde mais ou menos aos sentidos do mundo
de nossos significados experienciados, ou ao
significado.

H#H*E
veja: 'Arbitrariedade (do sigrro)"
Hffi

LETRAMENTOS IOMO iIIIIi[1ODAi5 DE SIGNIFiTADO ú7


'ÉJi6I,i-ç
I

-i--
Representação
flo e :L'i :
Tomanclo como exemplo a.\'JcIictl;la.le \ltlrgarl, ilt,c constrói signiÍicados
espaço Pokémon, podemos chzer.qu.'este liIrtl e, c1e alquma
fortna, sobre como a escole ''- ---
pelos letramentos, pocle ajuclar:e u: alun.rs .1 seconstruir signilicadc" í::' - '
tornarell capazes de

época cle grandes mudanças cle tlLr-ers;is ordens e em toclas as áreas


do conhecimento' 11"' '-- -
temos proctlracl" il- : -'
naquelas áreas tradicionalmente relacionatlas à linguagenl' Nesse sentido'
são tão sisnit-' --
aqui que as mu<lanças erl nossas cotllutlicaçÔes e ambiet-rtes cle aprendizagem
com isso, da iir - -'
qr.re precisamos expandir noss«t qr.radro c1e reterência, deslocandcl-nos,
'lletra-errto" para "letramentos'l Isso porque, mais do que ler e escrever, atividades trarll' . -
na criação c1e :igrlli'' - -
relacionadas ao letramelto da "letra-l tirmbém precisamos nos concentrar
multimoclais como urrra estrutllra ampliacla para os letrirtlentos no
piural, a qual está ira b"" --
de vários anos e qtlc 1' ':::-
teoria dos nultiletralnentos, que desenvolvemos com colegas ao longo
agora delinear na Parte C deste lir''ro.r
a reprcse;l -'-
Como apontamos anteriormente, construímos seutidos para nós mesmos -
e111 1l '::
(narrativa internalizada de Morgan) - assim conlo construímos significados que usamos
Naturalmentc' essc'
interaçÕes com os outros - a comllnicação (narrativa externa de Morgan)' '
pois' por exemplt" rllLtit'l! \ -'
tipos cle construção de signiÍrcado estão intiman-rente conectaclos, '
clizer (representação) antes oll conforme dizemos (corntlrlic't;-
pe,sanlos sobre o que YamOS
que comunit1111|' '
\esse sentii-1o, a representação não e apenas um asPecto fundamental do
llós tttc':-
r:.LcrLr tLa ou da escrita, por exemplo, mas também do que representanlos para
falir
Isso é chamado
isignihcados comunicados que ouvimos e lemos dos outros). I ntetpretaçã o:
nos
de interpretaçáo. Ensinar e aprender em todas as áreas do conhecimento
^
constrói de un-,
na outia:.
obrigam a conhecer e compreender os processos distintos envolvidos
por uma

representação e na comunicação e suas naturezas sobrepostas'


nossa aten'-'
A rcpresentaçáo se inicia com o nosso interesse, algo que no momento capturou
em algo' olhando pa::
ou para o qual direcionamos nosso foco mental. Podemos estar pensando
silenciosamente sobre algo' '' -
algÀ, dando sentido a algo que estamos vivenciando, conversando
É claro que as condici';'
enlaiando em nossas proprias mentes o que podemos dizer a outra pessoa'
nossa capacidade de enxelgar ú'
preexistentes suportam esse processo de representação, como a
for*u significativa (entender as coisas que podemos ver e saber o que essas coisas signihcair
'

(ouvir uma conversa ou uma música, por exemplo); ou usar a linguaee:::


ouvir de forma significativa
(fa1a e escrita)' Isso é o qu'
como uma ferramenta para pensar e também para se comunicar
palavras, é o que nos possibtlit=
aprendemos; aquilo que nos permite entender o mundo; em outras
se constituem em ferramentas
fazer sentido para nós mesmos. Por essa perspectiva, os letramentos
para construir esse significado para nós mesmos por meio do trabalho
cognitivo de representacà'
que fazemos com nossas mentes, a matéria-prima do pensamento'

I Representação Dizer a si mesmo


I

Comunicacáo Dizer ao(s) outro(s)

lnterpretaçáo Dizer a si mesmo o que acha que o(s) outro(s) significa(m) _l


Quadro 8 z: Representaçâo, comunlcação e interpretaÇão

3 Cope & Kalantzis, 2009; Ner'v London


(iroup, I996

168 I tETRAI\i ENT0S


A representação tarnbém e r-nuito fluida,
pois
não é simplesmente uma questão cle Comunicação
aplicar as
regras da língua olr as convençoes
cimento da intagem. Os construtores
de reconhe_ rãã-'
\*
de signi_
ficados não apenas veern as coisas
como são;
eles tambérn, até certo ponto,
veem as coisas
por
meio dos olhos de sua mente, isto é, das manei_
ras que lhes convêm, que se encaixam
em sells
preconceitos (ideias preestabelecidas).
Nesse
sentido, estão sempre (re)construindo
seus
mundos, r.endo-os <ie novas maneiras,
pensan_
do novos pensamentos, visualizando
coisas por
novas perspectivas e imaginando
novas possi_
bilidades. Essa é a fbnte da criatividade
e da
inovação humanas. Figura 8.2: Representaçã0, tomlnit::à: . ::..:.. ,-.

Comunicação
Construir sentido para nós mesmô

A comunicação ocorre quando urna pessoa


cria uma mensagem _ texto oral,
escrito ou uma
imagem, por exemplo _ qlre, de
algurna forma,
afeta o universo cle significado cie intenÇão de comunlcar uma
outra(s) lnterprêtação mensagem para outros (s)
pessoa(s). Toda mensagem sugere Representar para sj a mensagem
uma respos_ de uma outra pessoal
ta, mesmo que assuma a forma de I
uma respos-
ta silenciosa ou anônima, cotlto
ouyir, ler ou ver, I
que pode ser dada até mesmo por /
alguem que
não se conhece ou de quem não se .umà.helsàgem ComunicaÇáo -\
esperaya -.
de Jma pe\soa qJe ati\d J_o
nterore.a. ão por Jmd oulra. constrL.nclo 5rg , r.
receber, mas qLre, por assim dizer, ,ooS
reagiu à na interação com o(s) outros(s)

sagem.
-.rl_ =---
Figura 8'3: 0 ciclo de construção
Nessa perspectiva, a comunicação
é algo re- de significados.

cíproco; a ação de significado de uma


p"Jrou
incita a representação de outra(s) pessoa(s)
velmente' também uma açào comunicativa e, possi-
dela(s). É uma troca de significados
entre o falante e o
ouvinte'oescritoreoleitor'ouocriadordeimagenseoespectador.Arepresentaçãoéindividual
e cognitiva; a comunicação é social
e interativa. A ,"pr"r.rtação está no pensamento
soa; a comunicação está nas pessoas de uma pes_
relacionadas ao pensamento de
cada um.
Assim' a comunicação requer a criação
de algo qr. pod. ser considerado
uma pessoa (como uma expressão uma mensagem de
falada, um gesto ou uma imagem
apresentada), que somente se
constitui quando uma outra pessoa
se conecta com essa mensagem.
apenas uma questão de recebimento
contudo, a conexão não é
da mensagem, como um simples
comunicação poderia sugerir (o construtor modelo de transmissão de
de significado cria a mÉnsagem )
> o público recebe a mensagem), mas também enr-ia a mensagem
de interpretaçào. por isso. our-intes,
telespectadores têm que realizar leitores e
um trabalho próprio d" ..pr.r.nta.ào
ou .1e pensamento, a fim

TEIRAMENTOS COMO
169
'T5
de que a mensagem "con\-er':. - : :' '.::.r-. : ,..'--t'r .omo precisam interpretar a ntensagem
para que isso faça sentidtr f ii., ;.;.
Corn efeito, é precisrl itrlti--:r-:r ---: -. '--:.-'ii:1..., i'\ scntpre podem \rariar, dependendo do
qlle as pessoas €stão cli5prp51.i; ., :r ,- -- .: :rL:1ict1:.1Sc'r11. Portanto, não há duas interpretaçÕes
de uma mensagenl cL)T.ttL1rtl!.rr.: --.-- --- ::-rrr-. :-r-aonsicleradas iguais, porqLle duas pessoas nunca
terão a mesma perspectl\-i1 dr'rr-.-.:rI r.l.-,.:rJi-,. p()r exemplo, a pessoa A pergunta: "Posso ajudar
você?", a pessoa B pocle pens.rr '.'t.-i:r,,. ;\':r,Lriirem(ls a tarefa mais rapidamente"; porém, ao ouvir
a mesma mensagem, a pesso.t C ..',.1c irinsâr: "Será qrLe ela acha qlle eu não consigo fazer isso
sozinha?'1
Assim, o interprt'te nào trbscil'r'e .i llelrsagerr como se esta plldesse falar por si sci, mas, em vez
disso, ele a interpreta em seus prrrprrLrs termos. Ern outras palavras, o intérprete só recebe uma
mensagem, Íiltrada pelo prisma dirs nraneiras pelas qu.ais aprendeu a representar o mundo para si
mesmo, por meio de suas próprias erperiências, interesses e iclentidades, posto que só ouve ou vê
aquilo que pode ou quer onvir c ver. Nesse sentido, não há como evitar a tarefa de interpretação
ou dar sentido a uma mensagellr para si mesmo. Contuclo, isso não quer dizer que os ouvintes
estejam sempre tão preocupados com seus próprios interesses e presos ern suas próprias perspectivas,
que se tornem refratários (indiferentes) a ouvir algo novo, rnesmo que muitos comunicadores, de
forma frustrada, às r.ezes achern isso. Ouvintes, leitores e espectadores são, em maior ou mellor
grar-i, movidos e modificados pelas solicitaçoes de significaclo com as quais deparam.
-{ comu.nicação pode, às vezes, envolver cicios de esclarecimento nos quais se repeteln coisas
oL1 se reparammal-entendidos. Nesse sentido, por exemplo, a Íiase "agora, eu entendo quando você
diz qLre...?" pode levar a urn -rlinhamento mais próximo da mensagem e a uma rerrepresentação
do signlficado na interpretação do ouvinte. No entanto, outras vezes, esses ciclos podem demonstrar
r-rm desalinhamento mais amplo de significados do que se pensava originalmente, como na frase
"eu não posso acreditar que você está realmente dizenclo isso'l que talyez só possa ser dita para si
mesmo, nois, proferida em voz alta, poderia ofender a outra pessoa. Seja qual fbr o resultado
sociointerativt-r, o ponto é que a comunicação é uma questão cle dar e receber, unt processo recíproco
que envolve interpretaçóes bem como solicitações.
Efrii+áE
il.tItÊ"+ti'
Veja: "Kruss sobre representação e comunicação".
ffi.#fl.r,,ffi
EiI,#JEE

(onstrução de significado como um processo dinâmico

Ao entendermos a construção de signiÍicado como um processo dinâmico, estairos nos


distanciando das premissas herdadas da pedagogia do ietramento na abordagem didática, cuja
ênfase está nos significados estáveis e consistentes e na sua transmissão direta, isto é, nos significados
corretos das palavras, na oração gramaticaimente corret.r, ou naquilo que "o autor quer dizer'l por
exempio. Nessa perspectiva, o processo de representaçào e u.rla mera questão de 'bbter" signiÍicados
como se estes fossem estáticos e intrínsecos; como se estit'essem em uma espécie de código esperando
para ser decodificados por ouvintes, leitores e espectadores. Se a língua fosse, de fato, um código
objetivo, tudo o que teríamos que fazer seria decodificar seus significados e deixá-los falar por si
mesmos. Na abordagem dos multiletran-rentos, por outro lado, enfocam-se a inevitável fluidez de

170 | LEiRAMENT0S
significados' suas diferentes interpretações e a necessidade
de negociá-los socialmente. Em outras
palavras' reformulamos significados contínua
e ativamente, pois estamos sempre atribuindo
sentidos
ao mundo de novas maneiras; nossas próprias
maneiras. Estamos sempre envolvidos em um trabalho
com signiÍicados comunicados, rerrepresentando-os,
a fim de que façam sentido para nós. Esse
processo de interpretação pode ser silencioso,
quando ocorre em nossas próprias mentes, mas
também pode ocorrer em voz alta, ou visível, solicitando,
assim, uma resposta do comunicador do
significado ou de outra pessoa que esteja por perto.
Por essas razões, o processo de comunicação não
se reduz apenas a uma questão de .,entendimento,,
ou 'tompreensão"; o que o leitor, o ouvinte ou o
espectador representa para si mesmo ao interpretar
uma mensagem não é o que a mensagem diz de forma
transparente, mas o que faz da mensagem,
a maneira particular de ouvir ou ver a mensagem,
o que depende de seus póprios interesses e da
maneira de rerrepresentar a mensagem para si próprio.
Por exemplo, a pessoa A pode dizer ,gosto
do seu trabalho'i A pessoa B pode entender isso,
de fato, como um reconhecimento de alguém
que
aprecia seu trabalho; para c, isso pode signiÍrcar
que, além do reconhecimento, A poderia querer
copiar seu trabalho a partir de então; enquanto D pode
pensar que A está apenas dizendo isso para
fazê-La se sentir melhor, mas realmente não
gosta de seu trabalho.
Destaca-se ainda que essa fluidez na construção
de significado é contrária aos principais
pressupostos dos testes de leitura que tentam
mensurar a'tompreensão" leitora, buscando respostas
certas e erradas para questões de múltipla escolha.
Isso po.qre ler não é apenas uma questão do
que o autor realmente quis dizer, mas é, sobretudo,
uma questão de interpretação, por isso, na
leitura' as questões mais importantes são, de fato,
aquelas mais abertas à interpretação. saber
o dia
exato em que uma ação específica aconteceu
em uma determinada história é algo que possivelmente
não estaria aberto a muita interpretação, mas,
muito provavelmente também, não seria algo muito
interessante de saber- Por outro lado, aquilo que
envolve intepretação, como os tipos de personagens
envolvidos' seria muito mais significativo para a compreensão
do aluno. Nesse sentido, por exemplo,
poderíamos fazer umapergunta muito mais
interessante qlle nenhum teste-padrão de compreensão
leitora faria: "com qual personagem você se identifica
na história e por quê?,,i nesse ca_so. caca
leitor teria uma resposta diferente. Isso, é claro,
não quer dizer que vale tudo, ou que tu6o e ;;:::
questão de interpretação subjetiYa, mas sim
que a interpretação é sempre uma parte rla equacãc,:
e quanto mais profundas forem as questões
em jogo, mais espaço haverá prr, à.nr.-entar
sobre
interpretações alternativas.

veja: "o rumor da língua: A morte do ar-rtor,l


HffiE
construção de significado como um processo de
design
Usando recursos para "signi f1car,,

Jason Ranker Llsa tr ideia de tlesigrt dos rnultiletramelltos


para analisar os processos de escrita
clelohn' seu er-aluno de 8 attos cle i<lacIe, que inclui a maneira como
o menincl se c.munica e as
representaÇÕes ou os processos cle pensamento
que .nolclam sua cornunicação.
uma história em quadrinhos baseada na história lohn está criando
c1o Grim Reaper.

LETRAMENTOS COMO
DE SIGNIFIIADO I V''
'E'l6,ry5MULTIMODAI5
iason: I)e oncle você tirou a icleia cle ter urr personagem chatniiclo
(irirl Reaper? Isscl foi cle ..::
cie teier.istio ou ullt livro ott algo assir-tl? C)r'r você itlvetltou?
l,'l'n: Eu irl\cntei ele. Ltr ttiio sei.
\ar-ier [c1ue estava sentâclo perto e oLrvinclo a conlersa]:do (,rim, você sabe, efi1 Grim c L ..

T'rhn: Àh, sim. É algo que yenl disso. Nir verdade, eu acho clue e disso...
i.',.,rr: Que partes de seus quadrinhos vêm de Grirn Ú Evil?
- -'-r.,: (lrint ó Eui I diÍrcilrrente tem outros monstros neie. Não é beut sohre o Glin.r Re.rpel L - .

-.:l- \.lLrS perSonagens.


.::,,n: QLle outros tipos de prograrras tênl outros monstros ncles?
- :1r: (-orr o Grirn Reaper? Nenhum. E rnais como Lrma história en.r quaclrinhos de acào. Con.
lrl:is ou nrenos como Llr-na história eln qlladrinhos da NIarvel
.Ilson:
O qlle acontece neles?
.Jr,l'Lu:
Bem... e como uma históÍ1tl em quadrinhos de sup,er heró1s. Os super-heróis lutam.
i;rs,rr.i: \'ocê lê n.rr-rito quadrinhos cle super heróis?
I, ::t S::n. Er.r tenho alguns em casa, o Homem-Aranha e o Hltlk.;

,. r- .: :..: .le |ohn sobre Grim Reaper e o meio de comunicação da história em qlladriI.Ih, , - -.
,r i. r;r.,r.,.rlllrnicar sLla história são baseados em Llma ampla gama de recursos e\tt'atd, : -:
: : ...'.,- *-; .rgr-rrhcados: personagens dahistória, imagens, temas e tipos de diálogo. Ilas:--'- :
. . :' .. ,.
. .- r.n lllllJ 9 r .- - - :
a Lima cópia desses recursos, pois, na verdacle, ioh n está fazendo uso de
: - .:. : rJ :..LLrsos para construir significado, incluinclo histórias em qlladrinhos, itlrtr:'. -

:: . - .,jio{ilrre... EIe acaba criando seis rascunhos de sLla história em quadrinhos, c.r.l., -.-.'
: .rt;r-,rl(r ainda lnais esses significados, à medida qlte apresenta sua reformr.llação parttcr-'-'::
--- - -:-.1.-

Dois signifi cados para design

Como, então, se constrói significado? Quais são os processos pelos quais pessoas como ]ohn
Dassam? A teoria dos multiletramentos de construção de significado se expande para aiém de
.s:rutLlras mais estáticas, como "gramática tradicional" e "cânone literário", para entender
::::-s-1ttacào comunicação, sugerinclo uma concepção mais dinâmica de criação de significado
e

- :r- .-:.n processo de design. Escolhemos a palavra design pelo seu duplo I Design: Um pa6rão cle
sienificado fortuito. Por um lado, está presente em todas as coisas do mundo tlmbém tm i.r'Iar::i -t:
. , :) : :):l.Lltlrras que existem em coisas naturais e feitas pelo ser humano, ] I qn f carlo
, .r -.,, i,,lr.r.r.r tlo desenho de um relógio de cordtr ou nir folha cle uma planta. Assim, toclas as
- ..,, ,inr ,/c-.igrrs", incluindo as intangíveis, abstratas, colrlo conhecimento. Mensagens, por
:,.::i--.itt. possuerl desigtts; suas partes podem ser identificadas, irsslm como o moclo colrlo se
.:-r ..rl\clpt. Desigrt, neste sentido, é o estudo da Íormir e da estrutllra nos significaclos qr-re

. nitrLlir-nos, o que chamamos de "morfblogia'] e, nessa concepção, o design é usado colno um


s .ib stirntivo.

4 (ir.rrrrúEi.,i1 éumasériededesenhoanintadoantericanaprocluzidaeeribidapelocanirldetelevisãoCartoonNett'ork.
5 Ratrkcr, 20f r, pp.'1 I 8-'119.

172 L LEiRAN4ENI0S
__-ô.. vvrruLrLqr
também
Larlruçlrl u,,a
ultla sequêncra
sequencla dc a,.o.s, i,lori\.ada por nossos
:::,,""i':,,,i1::^".1r::::^--^
pÍopósitos, que torna a :,lirr q,r
* ^vrrLuvrrLayow
representaçãoum prurcsso
processo ae pensalnento, e a construção de mensagem
de pensamet
um pÍocesso de comunicação'
rrrrçêvau. 1\ssse
Nesse senltoo,
sentid o, o destgn
clesign ei algo
ulgo que se ià2, um ato de representação
rà2, unr re,resentacão
ou comunicação' que produz um alerta
'i.;
em forma da ro,, oa, ir-rrunarr.,:].rrê ôrrrâ nac<-na
--ry*" e! BUJ'õ" rrvd d pdravra T"i:iT
em português' pode ser traduzida
il ;;::
^^r^
iffi #T,riT"[:]::,":
Qe'orta a slla raiz ratina design Tre, que,
cofi)o "designar" (url r.erbo) e, neste
sentido,, se refere aâ Lrm .êrr^
rrm certo
:
tipo de agência ('designar algum sentido,,),
a algo que se faz.

Design como substantivo


A forma e a estrutura de algo, como
os.o.pon"nta, do
slgnificado e como eles estão conectados (um
texto escrito,
um texto falado ou uma imagem, por
exemplo).
Uma sequência de açóes, como representação _)
comunica_
Ção + interpretação.
Quadro 8.3 : signifi.u;;;;;Ar,.Err.

Queremos trabaihar com essa duali_


dade de significados para o termo
design
afim de destacar dois aspectos intima_
Desrgns (disponíveis)
mente relacionados a esse vocábulo: Re< para consLr_.áo de s;g1,i.ado:
"rsos
arlêÍaro5 êr.ontrddos dê ^omu-.caçào.
design como estrutura de significado (as ferramentas para representaÇão e
materiais expressivos que podem ser
partes que compôem urta oração,
uma retrabalhaCos para novas mensagens.

música, um livro ou um vídeo, bem


como as conexões específicas que
man_
têm essas partes juntas) e rlesign como
agência socialmente influenciada e
di_
rigida (nossa intenção de comunicar, Redesigned
a
Deslgns dispôníveis novos; iracos
mensagem que criamos e sua interpre_ de significado que transformam
tação paralpor outra(s) pessoa(s)). o dêslgnere o mundo
A
Figura 8.4 mostra como o clesign fun_
ciona de acordo com um processo de
construção de significado em ação.
Figura 8.4: 0 processo de significado pela
design

Designs (disponíveis)

vivemos em um mundo de clesigns: padrões


de significado disponíveis para nós
nossa herança cultural e ambiental, na forma de
qn. ,. traduzem em convenções de li,guagem,
gestos, toques e espaço. Ouvimos, imagens, sons,
vemos e sentimos esses designs, pois
qlle nascemos' Aprendemos a usá-los vivemos com eles desde
para criar significado para nós
mesmos e para interagir com
os outros' os designs estão disponíveis
para nós como recursos de construção
constituindo-se' ao mesmo tempo, em de significado,
signiÍicados no mundo (o "sentido,,ou
a ordem no universo
que torna as experiências coerentes)
e em significados para o mundo (os
do mundo em nossa .tonstruçáo de significados que fazemos
sentido,,ou interpietação).

iEiRAr\4ENr05 i0N40 MULTIM0DAIS DE St6NlFliAD0


'Êtl6/v5 | vt

-/
0 designing

No processcl cle r/e,çigiii::. -. -.:.:t.r. - t.:-.: )l\ Li: , on5frgçào de significado ern/con-r desrylt,.
disponíveis, engajarno-rr(,).;.. ,.. : -: .r.-..-a;..;riar.i.lt'r. irssim, novo(s) design(s). No entanto, ao
colocar os deslgns dispourr ci- '- -:.- . - ; :r:rr.L1tor tie significado nunca simpiesnlente replica ou
copia os designs encontr.rrl!,i -:lrr.i,r --,.rc .:.) i.n.iterias-primas de que faz Llso pareÇaln ter sido
amplamente reproduzrdas cr--i:it1:..ir pr.1r.oes bem estabelecidos de construção de significaclo.
Nesse sentido, o constrlltrrr rlc :iir.h;ado: :enrpre criir Lrnl no]/o design, pois esse design e
inevit;rvelmente unra erpress.il de :'I.ia \oz. que se birse'ia n;i combinação única de recursos para a
construção de signiÍrcado, cc,r.i.r brr.e en.r ccicligos e convençôes disponíveis eln serls contextos e
culturas.
Esse rnomento de deslgr e unr llonrento de transforrração, c1ue, de alguma formar, reÍàz o mundo
projetando-o novamente. Nesse sentldo, desigtting é o irto de Ínzer algo com desigtts disponiveis cle
significado, seja representanclo o signihcaclo para si nresmcl, por meio clos processos ativos,
interpretativos, de ler, escutar, r'er; sejtr comunicanclo-o aos ciutros, por meio da criação de enunciados
que podg11 ser respondidos atrar,és cla escritir, da fala, cle fotos e/ou vídeos. Essa é a razão peitr
c1ual, quarrdo estalnos envolr.iclos no processo designing' rlunca nos lirnitamos a reproduzir
c7e

deslgru-s disponír.eis, posto clue sempre retrabalhamos e re\remos o mundo como o encontramos.
Por isso, textos, imagens e sons nlrnca são iguais, mesnro quando esses significados são aparentemente
c1o ti1.ro mais previsíve1 ou até r-nesr.r-ro clichês.
-\qui, há algo interessante a observar: as Írltin,as porrcas centenas de palar,ras do texto qr-re você,
leitor, ircirbou cle 1er nllnca foram escritas dessa tbrmir antes, assim como as úitimas porlcas centenas
de palar-ras que você prof-eriu nuncil forarr ditas dessa mesma maneira antes. Todos aprendemos
muitas palavras junto com um nírmero imenso cle estrr.rturas grarnaticais, o que nos permite juntar
essas palavras, em padroes inteligíveis, nunca antes reunidas dessa maneira. Com certeza, baseamo-
-r1oS €rrr blocos de construção parir o significado qr.re herdamos de nossa cultura, por meio cle
recursos que nos são disponibilizados, o que torna, em certa medicla, nossos significaclos derivados.
No entanto, toda vez que traball-ramos conl esses biocos de construção, nós os relrnimos de uma
tnaneira ítnice, qlle nlrnca f'oi feita antes. Usamos os recllrsos de significado qr"re nos estão disponíveis,
nlas setnpre adicionamos algo de ncis mesmos, na medida em que expressamos esses signiÍicados
coltlo ltossos. Nesse senticlo, sempre recriamos o munclo de uma forma que diz algo sobre quenr
somos: utna maneira de falar, urn estilo de pensamerrt(), um timbre em nossa voz, uma nltance enl
nossa postura, Lrnl tom de argumentação; tudo isso constitni o tipo írnico de pessoa que somos, as
sutilezas dar nossa personaliclacle, o clue torna nossos sisniÍicirclos tão distintivos uns dos outrcls.
Assim, quando a língua, a imagem e a cri:rçiio cle espaço são entendidirs como processos cle
de sign, cada trto de significaclo nunca meramente repete on r-sp.rve{117 recursos de design clisponíveis.
Designing sempre envolve uma injeção de interesses olrcntadores clo rlesrgn er e de suas experiêncitis
culturais, de sua subjetividacle e cle suas identidarlc. \: crperrênciirs cle todos são ciiferentes,
refletindo uma mistura sempre rjrnica de atributr.rr f..\(,rJ.1i. nr.rtr'riais (cltisse social, localidade.
família), corporais (idade, raça. sexo e seruali.l.r.ic r -.:r'-r,,.icLr. Lu-tor-rir, etnia, gênero; r'eja nrar.
sobre isso no capítulo r 5).
Ter-rdo concebiclo a construçáo de signifi;ari,, .:-..: .r'.,:,'.;:.,.. 'egrLe se que a clifercr.rciaçàU, .r
criatividade e a inovação são partes nonl.Ir) ria r' --.- '.,: ,.r'; ;: .(rnlL) ari;ltLrrils peltsantes e

r74 | LEIRAMENT0S
comunicantes. Poderíamos apenas olhar para trás a partir do ponto de vista da comunic açáo para
descobrir os significados nas palavras ou imagens, a estrutura de sua composição e a sintaxe de
suas conexões. Poderíamos apenas conduzir uma arqueologia do significado, como se os nossos
recursos para significação nos fossem "dados" para serem usados, ou seja, como algo fixo e imutável.
Todavia, queremos sugerir uma visão prospectiva do signiflcado, que se interessa não apenas pelos
significados que encontramos, mas também pelo (re)trabalho que fazemos com esses significados,
que sempre muda os recursos de sentido que herdamos, pelo menos em alguma medida. Essa é
uma visão que coloca a imaginação e a reapropriação criativa do mundo no centro da representação
e da comunicação e, portanto, da aprendizagem.

0 (re)designed

O processo de designing, de fazer sentido no mundo, frequentemente deixa um traço tangível e


comunicado, como uma imagem, um objeto, um enunciado oral ou um texto escrito. A medida
que o processo de design chega a um encerramento momentâneo, o mundo vai sendo transformado,
não importa quão pequena seja essa transformação, porque o traço deixado para trás é único e
pode afetar outra(s) pessoa(s) se e quando esta(s) receber(em) o significado redesignedcomo algum
tipo de resposta.

Desrgns (disponíveis)

I
Transfo rmação I \
I
Apren dizagem

I
\
I
O (re)designed
1

Figura 8.5: Aprendizagem e transformaçã0.

Contudo, mesmo que ninguém seja tocado pelo significado de uma pessoa - ninguém a ouviu
ou viu sua mensagem -, ainda assim ela terá causado algum tipo de transformação, pois o resultado
de seu designing pode contribuir para que outra(s) pessoa(s) (re)pense(m) as coisas e as veja(m)
de uma nova maneira, o que pode ocorrer imediatamente ou em algum momento posterior, se e
quando alguém tiver acesso ao resultado do design. Isso ocorre porque o reelesigned passa a se
juntar, de alguma forma, ao repertóri o de designs disponíveis, proporcionando aberturas para novos
designs. Nesse sentido, o redesigned, d.go ouvido, fotografado, filmado ou escrito, é devolvido ao
mundo, e esse retorno deixa um legado de transformação que, por sua vez, também transforma o
próprio designer.

LETRAI\,1ENTO5 tOMO ,F5/6/V5 NiULTIMtlDAIS DI SirjI. F iÀDr,1 v5


O redesigned é, portanto. r.r: i;:.-,. --:r ir.l.o tle traristorrnarção que e deixado no mundo social
clo signiÍicado. Os tertcts .i' --r. 'ir:: ;.i .;.- rgirrr;{ ie Iornam, desse modo, recursos novos
ressignificados (rerle-slgilr,j :.;r.., ... -!r:ri:rLrciio.iri:,grrificado no jogo aberto e dinâmico de
sr.rbjetividades e significaclo:. i:t,, i. .,
',-i..iiril/tg de ulta peSSo.l se torna um recLlrso no unir.erso c1e
desigrts disponír.eis de outra f u:\L).1. E .rssin.r que o rllrnclo muc1a.
Nesse sentido, o processo de ,ii-ir!nirr.1 e r,rm tr:rbalho transtormircionai que, na vida c1o constrlrtor
de signiÍicado, representa a c55en.1a da aprendizagem, pois cl ato de representar o mundo e as
representações de outros no u'iunrlo trrrnstormam o ap1sndi7. Do mesmo modo, courulicar essas
representações de volta para o mlrnclo tau.nbem transforrna o aprencliz, pois, na meclida em que este
constrói signiÍicados, exerce sua sr-rbjetii.idade nos processos de representação e de comunicação.
Como esses signiÍrcados resultantes são sempre no\ros, o Llesigner se refaz em seu trabalho de design.
Essa é uma das principais proposicoes da teoria dos r-nr-rltiletramentos: que uma teoria do signilicado
como transformação ou redesigrt e também a base para uma teoria da aprendizagem."
É possível, er-rtão, estabelecer um paralelo entre os três elementos do de-slgn (desigr.ts dlsponír,eis,
designing e (re)designed) e as três ctrtegorias de conhecimento propostas por Cochran-Srnith e Lytle:;
o "conhecimento para a prática'l que se constitui r-ro conirecirnento Íbrmai ou teórico (os deslgns
clisponíveis) para atuar erl unla detenninada prática; o "conhecirnento na prática'] que foca o
Lrrocesso vivenciado na própria prática (designing); e o "conhecimento da prática'; que já não faz
rriris clistincão entre teoriar e priitica ((re)clesigned), pois atlbas já estão, de alguma forma, transfbrrnadas.

Design na prática

Ilanker conclui seu esttido da história em quaclrinhos de John, analisando seu signihcado
re designed, ao clestacar que a "História de Grim Reaper" (a de iohn) e o "resultado de designing de

ufl1 no\/o signihcado, reuninclo partes de significados anteriores [...]. Em vez de produzir umn
replicacão cii;:eta de fontes culturais populares que 11're interessar.am, ]ohn projetou (designed) e
redesenhou (redesigned) o significado através de cacla história em quadrinhos sr.rcessiva']8
Podemos dizer que |ohn transformolr os desigtts disponíveis p.1rir coustmir significado, criando,
clesse modo, Lrm significado unico no mundo, assirn como se transformou, tendo moldaclo a narratir.a
cle uma ntaneira qLle nunca fizera arntes. Parir reiterar essas generalizações com olltro exemplo
coitcreto, consicleramos uma cri.rnça pequena que estc'jir arprendendo a escrever e a ler. Tambem
cttt-tsiclerirmos que a escrita e a leitura são processos de r/esrgn, representando e comunicando um
siqrtihcarlo por meio cle modos visuais e linguísticos peculiares. O exernplo a seguir é de algo que
Potle ser consideraclo tuxa protoescrita: nrna cri;.rnça \L'nt.1 no colo de seu pai e diz: "Você qlter me
ver? Eu r.ott fàzer uln carro... tenho cllas roclas... e duas roclas na piirte de trás... e duas roclas aqui...
Este é um carro".'Kress 1ê esse sinal cluplo de círculos como signiÍicando "roda'e "rocias", como
"carro'l O autor, então, poridera que "os círculos são fbnnas arptas para significar as roclas [...] e as
rocli'rs aqui são utna rnetáfora para o carro". Essas correlaçÕes cle signos são o que e1e chama de

6 Copc & Kalantzis, 2000; K;rlantzis & Cope. 201-3; Krr-ss, 2000a,
7 Clochran-Sn-rith & Lr.tlc-, 1999.
8 Ranlier, 2007 , p. 122.
9 Kre"s,2003, p.:13.

176 LETRAN4EN i05


"signos motivados'l o "interesse
do construtor de srgnificado, no momento de construir
o signo,
que leva à seleção dos critérios para representar
a ideia de roda fwheel-ness]e de carro
[car-ness),,.,"
Ao reconhecermos esse exemplo como um process o
de design, concedemos a agência a um
jovem criador de signos. No entanto, esse
trabalho não pode ser tachado de escrita precoce oLl
pré-leitura em um contexto de alfabetização no
qual um professor ou um pai está ansioso para
ensinar à criança convenções formais de alfabetizuçao
q,re elu ainda não conhece. Na perspectiva
do design' ao contrário, os recursos disponíveis para
a construção de significado se constituem a
partir do que a criança conhece e pode
fazer como designer, baseando-se, no caso
do exernplo anterioq em suas experiências
de vida em relação a carros, rodas, círculos
e desenhos. Nesse sentido, a criança se
engaja em um processo de design cujo
resultado é um signific ado (re)designed, que
ela produz no papel como urxa protoescrita
e decodifica como pré-le itura. Designing
e,
portanto, essa coisa comum e essa coisa
extraordinária. Figura 8.6: "lsso é um carro'l

Veja: "Kress sobre design".

Pedagogia do design

Na pedagogia dos multiletramentos, todas as


formas de significação, incluindo a língua, são
consideradas como processos dinâmicos de
transformação e, não processos de reprodução,
ou seja,
os construtores de significado não reproduzem
simplesmente as convençõ es de design Tomemos,
como exemplo' as convençôes da poesia. lJm aluno
não apenas aplica as regras ou convenções da
poesia quando escreve um poema, pois, mesmo
que as palavras que usa e as regras de poesia
para
conectá-las sejam bastante comuns, ele as reformula
para compor seu poema de uma maneira
sempre única' Em outras palavras, os construtores
de significado não usam apenas o que lhes foi
dado, mas também criam e recriam signos, transformando
significados.
As implicações pedagógicas dessa mudança
na concepção que subjaz o significado são
enormes,
pois uma pedagogia dos multiletramentos requer
que reconheçamos o papel central da agência
processo de construção de significado. Por no
meio desse reconhecimento, busca-se, assim,
criar uma
pedagogia mais produtiva, relevante, inovadora,
criativa e até emancipadora. Nesse sentido, o
trabalho com letramentos na escola não se reduz
ahabilidades e competências, mas visa contribuir
para formar alunos que sejam designersativos
de significado, com sensibilidade aberta às
diferenças,
à solução de problemas, à mudança e à inovação.
A lógica da pedagogia dos muitiletramentos
reconhece, portanto, que a construção de
significado é um processo atir.o e transformador,
o que
pârece ser mais apropriado para o mundo atual
de muclanças e diversidades,

10 ldem. ibidem.

LETRAMENT05 [0M0 ,..,i . 114


Vale também destacar que a pedaeogia dos muitiletramentos lida diretamente com a questào
das convenções ou dos padroes de ,Je,.lgrt relacic',nardos à construção de significado, nào para que
os estudantes possam aprender sua mortologia ou sltas estruturas de uma maneira normativa, mas
sim para que possam conectar as convençoes com seus propósitos sociais. Nesse sentido, as
convenções sempre têm propósitos que, por sua vez, sempre se constituem a partir de uma base
cultural e situacional. Para entender tais propósitos, estudamos regularidades e padrões, inclusive
quando deparamos com noyas situações oLl espaços sociais.
Também podemos dizer que não se trata de ensinar estruturas, formas, modalidades, gêneros ou
discursos de cada espaço social concebivelmente relevantes, porque, dadas sua complexidade e sua
diversidade, sobretudo no mundo atual, isso não faria muito sentido. Contudo, podemos criar
experiências de aprendizagem através das quais os alunos possam desenvolver conhecimento e
estratégias para ler o novo e o desconhecido quando o encontram. Por essa visão, não é possível prever
as regras de signiflcado no próximo espaço social que se encontram, mas pode-se aprender a procurar
padrôes, a negociar o imprevisível, a começar a interpretar designs de significado que, em princípio,
talvez não façam sentido. A pedagogia dos multiletramentos tem como objetivo desenvolver essas
habilidades e sensibilidades, primeiro formulando a pergunta sobre a forma e a função do design, ott
como os significados são construídos diferentemente para propósitos distintos, e, então, como sào
transformados pelos interesses particulares do comunicador e peios interpretes de seus enunciados.

Yeia: "Bakhtin sobre gêneros discursivos'l

0 designing e as identidades do aprendiz

Chancller-Olcott e Mahar nos apresentam Rhiar"rrron, de 13 anos, que publictr su,t fonJtc" erl sllLl

pá3ina na internet "Fann-rar-rial AsfanJtcs lidam cotr recursos de design clisponíveis, rer-Ltilizando per-
sonagens tirados de desenhos animados ctv videogtinte-s e escrevendo novas histórras com esses per-
sonagens. No exemplo em questão, Rhiannon fàz uso de um recllrso traciicional de animaçào japolle-
sa: o anime. E assim que a garota se apresenta à colnunidacle mais ampla de Jàn-fics erl slla páginar:

Data de nascimento: o6lztl


Comidas fav": Orange chicken, bife e o"'os, ARROZ e... PIZZAI
Cor.nldas rnenos Íàv.: Espinafre, Abóbora e grlrr-s Covier. (Eu odeio tanto que netrl sei se e assim que se

-srrletra...) Ah, e sarclinha tatlbéirl


\lusicas fa','.: Eu gosto Lle Rock, Techr-ro / I)ance.
Ilúsicas menos lar,..: ÀCKi POPI! Como Spenr Britner.... E os Bacl<.street Bunls e NSI'YNC... BLAHI
Hobbies: desenhar, crial páginas na internet, escrever ntítsictrs e JonJics e histórlas. Sair com os meus
amigos e nteLI...
Namorado: Claroll N{eu inelhor an-rigo...l Scottll''

tt Fan.fic (ent português, literalnrente, "Êcçào cle 1ri"), tanrbenr graÍacla.lirrrltctlon ort, irbreviadanreute,.Íirrfic, é unta nar-
ratlr.a hccional, escrita e divulgada por Íàs err-r Llog-s,.sltu'.s e c-rn outras plataformas Pertencelltes iro ciberespaço, que
parte cla apropriação de personagens e t-nreclos pror.e-nientes de plodutos n-ridiátictls colno Írlmes. series, quadrinhos,
títleogttmes etc. sen'l que haja à uttenção de fcrir ctreito: ,u,rLLlruis ou obtet"lucros. Portanto, tet1l conlo linalidacle a
constrgção cle urtr unir.erso parirleio ao original e tanrbtlr.r a atrtpliaçiio do contato drls lãs con-r as ol.ras (lur'rllleciJnl
para linrites mais extensos. Fonte: <https:ii pt.rr'iliipetlra.t)1'qr\\'iliirF'lnfi->.
12 CI.randler-Olcott & N{ahar, 2003b.

1iB I TETRA[4ENT0S

L-
l
As fanJics de Rhiannon têm temas românticos
e também mesclam características de vários
gêneros' incluindo ficção científica, fantasia e fihles
de "amigos adolescentes,l ser uma fã ávida e
imersa no gênero proporciona a ela não apenas
designspara construção de significados em termos
de personagens e narrativa com os quais pode
retrabalhar, mas também designsvisuais, linguísticos,
espaciais e gestuais.
Rhiannon fez o download de imagens bishonen, uma
palavra japonesa que os tãs usam para
descrever personagens que acham atraentes. sua
galeria bishoneninclui duas fotos de Scott, com
o comentário de que ela o acha parecido com squall,
herói do jogo Final Fantasy. Reconhecer as
fontes de imagens por atribuição e nomear as fontes
e seus criadores originais é algo importante
nesses ambientes on-line, como uma forma de
marcar explicitamente que uma imagem ou um
personagem é extraído de designs de significado
disponíveis. Todavia, R-hiannon não faz uso desse
espaço apenas para reproduzir os designs disponíveis
que encontrou, mas se torna, sobretudo. uma
designer de significados, contando suas próprias
histórias de uma forma altamente irio., ador:.
que torna' de alguma forma, o mundo um redesignerl
para os leitores que sua paqina r.
internet.'3 'isitam

Multimodalidade
Novas mídias e multimodalidade

segundo os pesquisaciores Hull e Nelson, west


oakland, califórnia, EUA, é uma comunidade
"isolada que tem tido tempos difíceis,
com altas taxas de desemprego e criminalidade,
uma
infraestrutura em deterioração, escolas em dificuldade
e pouc.rs recursos comuns que a maioria
das comunidades considera naturais, como supermercados,
livrarias, restaurantes e bancos,,. As
pessoas que moram lá atualmente são' em
sua maioria, "residentes afro-americanos de longa
data' bem como imigrantes recentes do sudeste
da Ásia, do México e da América do sul,l,r Diante
desse cenário' os moradores de 1á têm tentado
encontrar maneiras de recuperar o senso de
comunidade' e uma delas foi a criação de um centro
comunitário chamado de "Digital underground
StoryTelling for You(th)" (Dusty), que trabalha
contação e produção de histórias digitais para
a
juventude, combinando imagens fixas
e em movimento, incluindo música e texto
escrito e oral.
Pelo fato de oakland ser conhecida como
o berço de muitos rappers famosos, a produção
de
música digital parece ter evoluído naturalmente
como uma parceira para a contação de histórias
digitais.
A esse respeito, Hull e Nelson destacam que, no
Dusty, as crianças de 9 e ro anos, ..aspirantes a
artesãos das palavras, podem ser vistas escrevendo
suas letras, praticando seus diferentes estilos
e
profundamente engajadas no uso de um sofÍware
sofisticado que permite a criação de batidas
digitais'1';
Como exemplo, encontramos Randy Young,
que estaya criando uma peça de narrativa digital
intitulada Lyfc-l'l -Rhyme. Com pouco mais de
dois minutos, sua história, que combina

Idem,2003a.
Hull & Nelson ,2005, p. 230.
Idem, ibidem.

LETRAMENT0S c0M0 ,EÍ6,ryiMULTlM0DArs DE srGNrFrtAD0 | tts

Á
multimodalmente letras de rap originais com imagens fixas, texto escrito e música, tÍaz süa
autobiografia a partir da experiência de vida em sua comunidade: "Randy aborda os aspectos mais
íntimos e perturbadores de sua vida e de seu mundo, convidando o público afazer o difícil trabalho
de refletir sobre as preocupaçoes pessoais que eles têm consigo mesmos> com aqueles de quem
cuidam e com a comunidade mais ampla".,u

Hull e Nelson concluem que:

Lyfe-N-Rhyme nào é apenas uma história poderosa, mas também uma síntese transcendente de forma e
significado por meio de uma variedade de modos semióticos. Sim, somos imediatamente tocados e
perturbados pelas palavras que Randy profere. Sim, a montagem de imagens que ele expõe é organizada
com um efeito impressionante: agora reconfortante, agora chocante e assim por diante. E, sim, nós sentimos
o pulso da música e do verso em nossos peitos e mentes. Crucialmente, porém, enfatizamos que o poder
sentido a partir dessa peça náo é equivalente à experiência simultânea, que se adiciona aos efeitos acima
mencionados, como se poderia supor. Mais uma vez, a importância total da tapeçaria semiótica que Randy
fabrica não está apenas na, mas também entre a textura e a trama.,7

No Brasil, um projeto bastante interessante voltado ao estudo de letramentos não escolares foi
desenvolvido por Ana Lúcia Silva Souza,'8 descrito por Kleiman,'e sobre jovens atiüstas do movimento
hip -hop. Segundo Kleiman:

a apropriação da escrita permitiu aos participantes da pesquisa, jovens ativistas no movimento do hip-
-hop, redimensionar suas identidades como negros, moradores de periferia e ativistas, ressignificando
seus papéis sociais. Os jovens participantes da pesquisa foram aos potlcos ampliando seu raio de ações,
passando da contestação por meio de música e fala engajada, ao trabalho de educação e de formação
em contextos educativos. Nesse processo, eles resistiam a modelos que os tinham excluído do espaço
escolar e usaram a fluidez da expressividade culturaldo hip-hop para se tornarem agentes de letramento
que falam a língua de aiunos vindos das margens da cidade * sem empregos, sem espaços de lazer, sem
cuidados por parte do Estado - e continuam nas margens do sistema escolar. Foi no seio das práticas
culturais do movimento hip-hop e no decorrer dos densos debates, que a pesquisa de Souza propiciou
o espaço em que os jovens do grupo hip-hop Educando encontraram os modos de faiar e escrever e os
acervos de leitura que usaram nas suas atividades com fins educativos, de relevância para membros de
suas comunidades de origem. Fizeram parte desse acervo de materiais com fins educativos, capa de
CD, fanzine, rap, grafite, assim como produções coletivas de organização de eventos. Ao mesmo tempo,
eles iniciavam, cautelosamente a princípio e com plena autoridade mais tarde, a participaçâo em
seminários e palestras sobre relações raciais e discriminação, baseados na leitura de textos sobre a
história da população negra no Brasil, em contextos escolares e universitários. A composíção d.e rap,
a elaboraçáo dos fanzines, os eventos coletivos não apenas "causavam" - davam-lhes notoriedade e
protagonismo - como também tornavam o manejo da língua oral e escrita um poderoso instrumento
formador nas escolas e faculdades que os jovens visitavam (ainda às margens dos esforços educacionais
do centro, é claro), pois eles imprimiam a resistência do movimento a práticas letradas escolares que,
por um lado, valorizavam e, por outro, refutavam, reformulando-as nesse processo. Souza caracteriza

16 ldem,p.238.
17 ldem, ibidem.
1B Souza,2009.
19 Kleiman,2010.

r8o I LETRAMENT0S
as práticas dos jovens ativistas como práticas de ..reexistência,]
pois eles nào apenas resistiam ao modelo
cultural legitimado, como também permitiam integrar
e ressignificar as práticas relacionadas
a outras
esferas de atividades do cotidiano, de duração
provisória, nos espaços moventes da rua, em que
geralmente atuavam..o

Esses exemplos de projetos uç letramentos nao


rrvJLrl,r de rç,drrrerl.os não escorares
escolares se constituem
consti em trabalhos de design
de significados altamente
-rrLv rlrvy.uwrçr
inovadores rlus
que d5
as csc,ras podem
escolas pooem e devem incentivar. São, frrn traba-
rle fàto,
São. de t.,h"-
thos inovadores e motivaclores porque poderosamente
possibilitam a expressão das identidades

m
altamente relevantes e transÍeríveis para os am_
bientes atuais de trabalho, comunitário e educa_
cional. Além disso, esses trabalhos tambem en-
volvem um domínio sofisticado cle algr_rns dos
processos e meios de expressão mais poderosos
dos nossos tempos contemporâneos para a
cons_
trução de significado: a multimodalidade. Conr Significados
gestuais Sffic
Multimodalidade: Uso rJe ma I ot efeito, embora não seja algct cfsiloc
,r ilodo em utx texto 0u llm etlef,to I nouo, p()sto que sempre
I foi
^-'
de construção de significaclo.
L,_, -".*^ essencial
uma parte _-'^'
^"":.-^,^; da cons_ Significados
trução de significado na história humana, nào táteis
importa o quanto as escolas tradicionais tenta_
Sígnificados
ram separar as formalidad;s do letramento al_ espaciqis,t ,,
fabético, a multimodalidade é, indubitavelmen_
te, muito mais significativa na era das novas
mídias digitais. Figura 8.2: Modos de significação em uma
teoÍia
multimodal de representação e comunicaçá0.

A natureza da multimodalidade

Na teoria dos multiletramentos, identificamos


sete modos de significação: escrito, visual,
espacial,
tátil' gestual' auditivo e oral. A multimodalidade
é a teoria de como esses modos de signiÍicado
estão interconectados em nossas práticas
de representação e comunicação. usamos
um estratagema
que chamamos de análise do designpara
descrever essas interconexões, assim como
usamos o termo
design para contornar as limitações do
termo 'gramática'] frequentemente associado de forma muito
restrita ao letramento da "letra" e a uma estruturação
tradicional de estudar línguas (fonologia,
morfologia e sintaxe).
Por mais que tentemos separar o modo escrito
para lidar com o letramento na abordagem
didática - aprender a ler e escrever na perspectiva
tradicional -, toda representação e toda
comunicação são intrinsecamente multimodais.
Por exempio, o uso da escrita pressupõe um
estágio
de visualização e de conversa sobre o que
se está escrevendo, seguido por um estágio
de toque e
movimento da caneta no papel ou de digitação
do texto em um computador, o que é tan-rbém
processo visual' tátil e linguístico. Durante um
a leitura, o mesmo acontece: a pessoa rerrepresenta

20 ldem, op.391-392.

LETRAMENTO
181

7
significados em um discurso interno silencioso, imagina visualmente como as coisas são na escrita
e conversa consigo mesma sobre pensamentos tangenciais causados por sua interpretação do que
está lendo' Em cada caso, o que se representa para si mesmo nunca é exatamente o mesmo que
aquilo que está escrito, passando por uma troca de um modo para outro, que é parte integrante
dos processos de rerrepresentação e transformação de nossos designs de significado.
Essa alternância de um modo para outro é justamente o que nos ajuda a representar significados,
a comunicar e a aprender - ainda que consideremos apenas os domínios da leitura e da escrita
alfabéticas -, uma vez que nos auxilia, entre outras coisas, a visualizar algo em uma imagem, bem
como a descrever a imagem em palavras. É por isso que, em vez de lidar apenas com letramento
da "letra" (no singular), nosso foco na abordagem dos multiletramentos é o dos "letramentos" (no
plural), que pressupõem a criação de signiflcados como processos multimodais de representação
e comunicação, que são multimodais.
É preciso também levarmos em consideração nossos ambientes de comunicação contemporâneos
em constante mudança, como dispositivos de fala, que são, ao mesmo tempo, dispositivos de
construção de textos escritos e imagens (como os smartphorzes). Nesse sentido, de todas as mudanças
no ambiente do design de significado, desde o século XX, um dos desafios para o processo de ensino
e aprendizagem de leitura e escrita que ainda se limita às formas escritas da linguagem é lidar com
a crescente multimodalidade das mídias pata a representação e a comunicação de significados, em
muitos aspectos, mais poderosas do que a mídia impressa tradicional.

Modos de significação

O Quadro 8.4 mostra os modos de significação que trabalham de forma cadavezmais conjunta,
literalmente, em nossos dispositivos para escrever, ler, falar, ouvir e ver imagens. Organizamos
os modos pelas semelhanças ou conexões práticas que apresentam em relação a seus vizinhos: a
escrita e a imagem são expressas visualmente, isto é, sua experiência se dá no espaço, que é visual;
por isso, imagem e texto escrito podem ser facilmente reunidos em um mesmo local (mais
facilmente, na mídia digital, do que nunca); o tátil, por sua vez, é um encontro corporal com
objetos no espaço; já o gesto é uma relação corporal com o espaço e uma representação com uma
afinidade muito próxima ao toque. O gesto também frequentemente se sobrepoe à fala, colocando
em ação dois modos simultâneos e estreitamente interconectados. Os modos escrito, visual,
espacial e gestual usam nosso sentido de visão; o modo oral, o sentido da audição; o modo tátil,
os sentidos corporais de toque, olfato e paladar; e os modos gestual e tátil, os sentidos de cinestesia
ou presença corporal.
Contudo, para todos os cruzamentos e conexões, classificamos os diferentes modos em categorias
distintas, pois cada um representa um lugar especíÍico onde sistemas discretos de construção de
significado humano ocorrem - como, por exemplo, na distinção entre mandarim como língua
falada e escrita chinesa, posto que essa língua não se constitui com base em um sistema fônico
(relação entre fonema e grafema); ou nas diferenças nos modos de significação entre
fotograÊa,
música, língua de sinais ou arquitetura.
Nesse sentido, cada modo possui seus próprios sistemas de interconexão das partes componentes
do significado. Além disso, modos diferentes de significado e diferentes combinações de modos

182 I LETRAMENT0S
fazem uso de mídias distintas, que definimos aqui como materiais,
ferramentas e práticas que nós,
seres humanos, usamos para representaÍ e comunicar significados:
por exemplo, caneta e papel,
teclado, tela de toque, óleo e tela, câmera e telefone, dispositivos
de gravação d-e voze som, vídeos
e videogames que capturam gestos e ferramentas para dar às
coisas que fazemos textura, gosto e
cheiro.

Significado escrito (mais sobre isso nos Leitura (representando o significado para si mesmo conforme
interpreta â mensagem
capítulos 9 e ro). escrita de outra(s) pessoa(s) - capíturo 9) e escrita (comunicando
significados escritos
por meio de traços que podem ser encontrados por outro(s)
como um gatirho de men-
sagem - capítulo ro).

Significado visual (mais sobre isso no construçáo de imagêns


estáticas ou em movimento (comunicando significados por
capítulo rr). m:.c
detraçosquepodemservistosporoutro(s) comoumsinalvisuai dernensêoen.!a.al
imagens, cenas (rerrepresentando signifcados visuais para
sr mes.nc oÊc..3=-:: ::
perspectiva e dos pontos focais de atençáo e interesse).

Significado espacial (mais sobre isso no Posicionamentoemrelaçáoao(s) outro(s),criaçâodeespla:j.-,,^::::j:__ _:_


capítulo rz). taremespaços(queoutro(s)pode(m)experinrentarnj..,-r_- -::- :.,::____::-::
de sÍgnificados espaciais (rerrepresentando significadcs :::,:: : r :... : _ .:_ _ . _
por exemplo: proximidade, layout, dislan.'ia tnierpê:sc. -.... __ . .. : _ .. : _ ._- -. :
-.

construção, paisagem urbana).

Significado tátil (maÍs sobre isso no Construçãodeexperiênciasecolsascu.losefeicspcc:n-:a,i:-:t,:


capítulo rz).
:-_-:::l_: l-
fato e paladar (comunicaçâo tátili e rerrepres:.tjcãa la j:-::;:.- .rr:: clrà sr
mesmo, na forma de significados que se atr buem as sens:cÕEs
:f rpor..: aomo sentt_
mentos de tocar e ser tocado. Formas de comunicacão e íepresentêçao
tateis incruem
sensaçoes da pele (temperatura, textura e pressào), apreensâo,
objetos manipuláveis,
artefatos, aromas e açóes como cozinhar e comer. para
aqueres sem a capacidade cor-
poral de ver, a ringuagem escrita pode ser traduzida
em sua totaridade em significado
tátil, por exemplo, na forma de Braille.
Significado gestual (mais sobre isso no comunicação através de movimentos do corpo: mãos e braços,
expressóes da face,
capítulo rz). movimentos ocurares e visuais, comportamentos do corpo,
vestuário e moda, estiro de
penteado, dança, sequêncÍas de ação, manifestando-se
de muitas formas, incluindo
cerimônias e rituais.

Significado sonoro (mais sobre isso no Lomunrcaçao que usa música, sons ambientes, ruídos,
arertas (significando interação
capítulo r3). social); e audição (um indivÍcruo rerrepresentando significados
sonoros que encontra
para si mesmo, ou imaginando sons).

Significado oral (mais sobre isso no comunicação na forma de fara ao vivo ou gravada (representando
significado para
capítulo r3). outro(s)); e audição (rerrepresentando significados orais que
arguém encontra para si
mesmo, falando consigo mesmo ou ensaiando a fala pretendida).
Quadro 8.4: Modos de signiflcaçao.

0 processo de sinestesia

Mesmo lidando com impressos em preto e branco, Mirabelle


experimenta cores quando vê
números' lá Esmeralda, guando ouve a nota c# (dó sustenido),
tocada em um piano, vê azul.
Mirabelle e Esmeralda são duas participantes de pesquisa
do neurocientista v. s. Ramachandran
-:stesia:Alternância entre
modos e amlas tem uma condição chamada sinestesia, um fenômeno
1 que não é
de siqnificar I considerado um distúrbio
neurológico como tal, mas sim uma ..mistura surreal
de sensação, percepção e emoção", que, no sentido
bastante restrito e diagnóstico, e algo que apenas
algumas pessoas experimentam. No entanto, o nerirocientista
argumenta que a sinestesia não lanca

LETRAN4ENTO5 tOMO ,TJ/6,ry5 N4ULT]i, - - - r(r


--)

-
luz apenas "sobre o processamento sensorial normal'l mas também sobre "alguns dos aspectos mais
intrigantes de nossas mentes, como o pensamento abstrato e a metáfora'..,
Ramachandran descreve o processo neurológico subjacente da sinestesia como "ativa
çáo crtzadd',
algo que todos experimentamos quando associamos um tipo de sensação a outro. Isso contribui
para o que o autor chama de "síntese transensorial'l "um entroncamento onde as informações sobre
toque, audição e visão fluem juntas para permitir a construção de preceitos de alto nível. por
exemplo, um gato ronrona e é fofo (toque), Íonrona e mia (audição), tem uma certa aparência
(visão) e respiração de peixe (cheiro)'1..
Assim, o conceito abstrato de'gato" une uma série de sensações através de um processo de
"síntese transensorial'l qne é algo que todos nós experimentamos. Ainda segundo Ramachandran,
a metáfora é um processo similar, pois, assim como a "sinestesia envolve a criação de ligações
arbitrárias entre entidades perceptivas aparentemente não relacionadas, como cores e números, a
metáfora envolve a criação de ligaçoes não arbitrárias entre domínios conceituais aparentemente
não relacionados'l',
Vale, contudo, destacar que, neste livro, Lrsamos a palavra "sinestesia'em um sentido mais
amplo do comumente encontrado na psicologia e na neurociência. Fazemos isso com base em
mecanismos cognitivos fundamentais que
todos cornpartilhamos, subjacentes à sines-
tesia. Mais especificamente, entendemos a
§§§§§§§§§§ sinestesia como utrr processo de alternância
§f§§s§§§
e de mistura de diÍêrentes moclos de signi-
Íicação, cor-rstituindo, assim, uma fbrma de
SigniÍicado§
gestuâis,: :.::,. expressar i-rm significado em um modo, de-
pois em outro. Por exemplo, é possível des-
creyer Llma cena em palarrras ou retratar a
mesma celta por rneio de uma pintura; a
pessoa que interpreta o signiÍicaclo visualiza
a cena de maneira diferente se ouve as pala-
yras oll se vê uma pintura da cena, irinda que
sejam teutativas de representirr e cornunicar
Fiqura 8.8: Sinestesia ou alternância de modos. a mesma coisa.

Sinestesia e aprendizagem

A sinestesia e uma maneira poderosa de apoiar e aprotiindar o processo de ensino e aprendizagem,


na medida em que se pode escolher expressar algo ern palavras ou construir mais sentido usando
uma figura ou unl diagrama. Saber como representar e comunicirr coisas de r,árias rnaneiras não e
apenas uma questão de habiliclade em lidar com ditereltes modos, mas, sobretudo, urna questão
de obter uma compreensão mais complexa e, nesse senticlo, mais proÍuncla dessas coisas. Uma

21 Rarnachandran, 201I, ppr. 75-76.


22 ldenr.p.97.
23 lder, p.104.

iB+ | LETRAI\4ENT05

t-
abordagem sinestésica pode ser usada como suporte pedagógico para aprender a ler e escrever, por
meio da justaposição e da transposição de modos de significado paralelos ou complementares,
como as imagens em um livro infantil, os diagramas em um livro de ciências, ou uma discussão
oral sobre um texto escrito.
Uma professora de ciências está trabalhando com seus alunos do 9n ano do ensino fundamental
circuitos elétricos por meio de um projeto de pesquisa na perspectiva do Learning by Design. Ela
pede aos alunos que criem uma simulação de apagáo após forte temporal ("experimentando o
novo"). O que aconteceria se não houvesse eletricidade por um certo tempo? Ela apresenta aos
alunos o material textual sobre eletricidade e circuitos elétricos em imagens e diagramas, assim
como textos teóricos explicativos ('tonceituando por nomeação e por teorid').Fazos alunos criarem
um alarme antifurto, usando todos os modos tátil e gestual de construção de protótipos ("aplicando
apropriadamente"). Em seguida, também pede que eles criem instruções de instalaçào para um
eletricista e instruções de uso para leigos ("analisando funcionalmente"). Finalmente, a professora
faz os alunos refletirem oralmente sobre a diferença entre vender a seus pais a ideia de instalar um
alarme antifurto e fornecer a um técnico instruçóes de instalação claras e precisas ("analisando
criticamente").
Por que focalizar a multimodalidade dos letramentos e o poder da sinestesia? Em parte porque a
multimodalidade sempre existiu, mas tem sido negligenciada em algumas pedagogias, inviabilizando,
assim, a possibilidade de criação de ambientes de aprendi zagemenvolyentese eficazes para as crianças.
Os estudiosos e teóricos educacionais mais perspicazes há muito tempo já sabiam disso, como Friedrich
Froebel, o iniciador, no século XIX, da ideia de "jardim da infância'l e Maria Montessori, que projetou
suas "engenhocas" de aprendizagem altamente táteis na virada do século XX.
No contexto das culturas indígenas brasileiras, por exemplo, um trabalho interessante que
pesquisa o texto multimodal de autoria indígena é a tese de doutorado de Elisa Thiago, que, enrre
outras questóes, destaca que a sinestesia ajuda a entender os processos comunicatirros que ocorrem
no texro multimodal de autoria indígena de duas formas:

através de dispositivos de oralidade inseridos na textualidade da escrita alfabética e atrar-és ,lo desenho
no texto visual, como parte do esforço de preencher a lacuna que o autoÍ indígena percebe eristir na
escrita. Enquanto performatividade, o uso de dispositivos de oralidade e de desenho tem o sentldo de
aproximar o narrador de sua audiência, agora transformada em leitores, e neutralizar, até certo ponto, o
domínio exercido por uma única perspectiva - a do narrador imposta pela gramaticalidade do texto
alfabético, ao introduzir a presença da audiência na tessitura do texto escrito, devolvendo-lhe uma dose
de espontaneidade, própria da performance oral.,a

Para explicar essa relação multimodal entre a oralidade e o desenho, a autora destaca o livro
Mitologia sagrada dos Tukano Hausirõ Porõ.," em que as figuras (os desenhos) cumprem o seu papel
de 'tomplementar aquilo que não foi dito em toda a sua extensão no texto alfabético. Nesse sentid.o,
o'emprego simultâneo' lco-deploymentl de recurso verbal e pictórico assegura uma complementação
da informação, numa relação entre o texto visual e o texto alfabético"..6

24 Thiago,2007,p.177.
25 lÍahuri & Kumarõ, 2003.
26 Thiago, 2007, pp. 2ll-2t2.

LETRAN/IENTOS TOMO DFs I rBS


Essa complementação da infbrn-raçào e o que, segundo a autora, possibilita ao leitor do texto
multimodal de autoria indígena "pu1ar do terto visual e de voita ao texto alfabético a qualquer
momento, ou até mesmo ignorar o texto altàbético de vez'. Thiago, então, exemplifica essa relação,
mostrando, a partir do livro Mítologia sagrada dos Tukano Hausirõ Pora, qrue o nível de detalhamento
de um dos desenhos revela a "importância da relação entre a cosmogonia Tukano e os peixes'l'z

i
Figura 8.9: Mitologio sogrodo dos Tukano Housiro Pora;8

Veja:'Astronomia Tukano".

Em direção aos letramentos multimodais

Cadavez ntais, torna-se premente expandir a ideia de ietramento para letramentos multimodais.
Uma das razões está relacionada aos conteúdos disciplinares para além das próprias aulas ou
mesmo do currículo de leitura e escrita. Por exemplo, um projeto de história local pode incluir
não apenas a escrita, mas fotografias, uma linha do tempo e Lrmâ entrevista oral em vídeo. Do
mesmo modo, o relatório científico de um experimento pode incluir não apenas a descrição de
hipóteses, métodos e resultados, mas ainda diagramas, tabelas e,Í.alvez também, uma gravaçào
de r.ídeo mostrando (gestualmente) o experimento em si. Nesse sentido, o melhor tipo de projeto
de história e o experimento científico mais bem documentado podem ser aqueles cujos processos
são comunicados multimodalmente, como, por exemplo, através de dispositivo de gravação digital
- hoje mais possível do que nllnca -, uma vez que temos atualmente cada vez mais maneiras
diferentes e acessíveis de registrar e compartilhar as realidades sinestésicas da representação e
da comunicação do conhecimento.
Com efeito, considerando as comunicações em geral, os meios de representação se expandiram
enormemente nas últimas décadas, mais signiÍicativamente com o surgimento da mídia digital.
Essa é a consequência, em parte, de uma série de tralsformaçÕes ao longo do século XX nos meios
de produção e reprodução de significado, começando pela fotograÍia e seus derivados, e passando

27 ldem, ibidem.
28 ldem, p.212.

186 | LETRAMENI0S
também pela telefonia e pelas possibilidades de gravação de som.
No entanto, tem havido uma
aceleração substancial do ritmo de mudança desde a aplicação
generalizada das tecnologias digitais
a partir do início do último quarto do século XX.
Nesse contexto' novos letramentos emergem, centrados nas
possibilidades dessas novas tecnologias
para a expressão híbrida e multimodal. Até meados do século
passado, havia uma separação mais
marcada entre o modo escrito, materializado peia impressão tipográfica (tipografia),
e o modo
visual, impressão de imagens (litografia). No entanto, a partir de
então, a composição de fotos e a
fotolitografia começaram a aproximar texto e imagem na página impressa.
com as tecnologias
digitais, imagem e texto se tornam ainda mais interligados e uma
mídia multimodal verdadeiramente
integrada emerge. A partir de meados da década de r99o, a world
Wide Web leva isso ainda mais
longe com a sobreposição de textos, ícones e imagens, e o uso
extensivo de metáforas espaciais e
arquitetônicas associadas à navegação pela rede. Essas tecnologias
também incluem a capacidade
de sobrepor o áudio porqlre, em última análise, o som tambénpode
ser transformado no mesmo
material gravável digitalmente por meio de codificações binárias.
o efeito de todas essas mudanças
ao longo do Úlltimo meio século tem sido, entre outras
coisas, o de reduzir o lugar privilegiado da
língua escrita na cultura ocidental e, progressivamente, tornar
outros modos mais relevantes para
a construção de significado. Projetos de aprendizagem,
ensino e avaliação de letramentos precisam
levar em conta essas mudanças, se quiserem manter uma conexão
vital com a vida cotidiana das
pessoas em nosso mundo contemporâneo.

Letramentos multimodais Expande a ide ja de letramento para alem de leitura e escrjta.

lncluí os letramentos da nova midia cligital.

Reconhece as oportunidades poclerosas de aprendizagenr


como consequência da sinestesja ou de a ternãnc ; o.
modo(s).

Recon hece os a lu ncs como deslEiners cle s ig n ifi c: o cs ,.


.r.: : _ :
de forma única.

Focaliza a construção de signifi cado como tra nsfor{lra c: : -j _ :


muda ô construtor de significado e seu munc1c.
Quadro 8.5: Letramentos multimodais.

Elementos do design

Descrevendo significado a fim de pensar sobre significado

No letramento da "letrd'tradicional, baseamo-nos no que tem


sido chamado de metalinguagem,
ou linguagem para falar sobre a linguagem, que assume a forma
de um conjunto de convenções
tradicionalmente encapsuladas na forma de regras sobre ortografia
ou gramática,por exemplo.
Esse é, portanto, um processo de descrever significado
para pensar sobre o próprio significado que
queremos manter, mas sem a sua forma tradicional estática
de descrever a língua.
Nesse sentido, é preciso uma metalinguagem para descrever
significados multimodais, uma
maneira de falar explicitamente, com o intuito de aprender sobre
a forma, a estrutura e o propósito
social da construção de signiflcado. Assim, emyezde "gramática",
chamamos isso de,.descricão de

Liiiiii\,lt' .
iB7

-t
que, uar ahorclagem dos multiletramentos' br'rsca
Llma metalinguagem cle elementos do rle-slgrl',,
\cssa perspectiYa' usamos' portanto' a
r.aiorizar uma série de modos de construir significado'
expressão "análise do tlesign",porque esta
engloba uma itiei;r rnais ampla que as metalingutrgens
veremos a seguir'
tradicionais, como a gramática, conforme

Elementos de uma análise do design

de significado?
básicos d'o design, os blocos de construção
Qtrais são, então, os elementos
não importa com que modo
poclemos, da mesma fort-na, fazer essas pergllntas sobre o signiÍicaclo'
os aspectos cle signifrcaclo tnais
estejamos lidando. De todos os modos de significado, quais são
do design?
relevantes que poderíamos abranger na análise
cadarnodosignihcaumamaneiradistinta,envolvesenticloshumanosdiversoseusaclitercntes
dessa
conrbinaçoes de meios cle comuuicação.
Examinar os elementos do design d() significaclo
clo t.nodo'
sobre o significado' independentemente
Ir.ritneiri-i nOs perntite fazer as IrIeSmas perguntas
a respeito de qualquer significirdo' en-t
.\ :r.gr.riL. .lest.tcattros cinco questoes qLle poclemos ievantar
jeslgrl' fcrrnecendo uma metalit.tgllagem
Ser aPresentadas na análise clo
-,,."1c,.:..:.r.r.rrrt'lç. tlne 1-roçlsÍn
de signihcado:
e características de cacla ut-n dos modos
-. ,t- ,.:. r.a:.t tr...ibaihar com as senrelhanças

. lj.. ::.-l-se: o cl.lrl os signiÍicados descrevem?


o :-]t:1rr{àr: como os signiÍiCaclos conectam as pessoas que estão interagindo?
o E:tLuturar: como os significaclos em geral se mantêm juntos?
. Sitllar: como os significados são moldados pelo ser'r contexto?
a servir?
o pretencler: a que propósitos e interesses esses signihcados são destinados

Referência
quê?
Os significados se referem a " quem? E o

Estrutura
Os significados se maniêm juntos Como?

lntenção
Os significados são , Para quem? Por quê?

Figura 8'io: Elementos do design'

significi,rdo, em todos os modos, opera em


cinco níveis para os quais essas
Todar construção c1e
e abstrações; dialogamos
questÕes se dirigem. Nós nos referimos a cc)isas, evetttos' processos

188 I LEiRAI EfiT0s

l
com nós mesmos e com os outros; estruturamos nossos
significados de maneiras que podem ser
tanto convencionais quanto, de alguma forma, sempre inovadoras,
na medida em que cada novo
design recombina exclusivam ente designs disponíveis
e constrói um signifi cado redesigned;
situamos nossos significados em contextos, ou, pelo
menos, descobrimos que eles estão situados
em um determinado contexto; e pretendemos fazer
algo quando posicionamos ou encontramos
significados em redes de propósito ou agência que expressam
nosso interesse. Essas são algumas
das maneiras pelas quais essas cinco perguntas sobre
o significado se desenrolam nos diferentes
modos.
A que os significados se referem? A referência pode delinear coisas especíÍicas,
por meio da
escrita ou da fala, na forma de substantivos para representar
coisas, ou verbos para representar
processos; nas imagens, determinadas coisas podem
ser delineadas com linha, forma e cor; no
espaço' com volumes e limites; em representações
táteis, com texturas em superfície; com gestos,
em atos de apontar ou sinalizar. A referência também
pode ocorrer em relação a um conceito geral
para o qual existem muitos exemplos: uma palavra que
se refere a um conceito abstrato; uma
imagem que é um símbolo; um espaço que é caract erizadopor
sua semelhança com outros; ou um
som que representa uma ideia geral. A referência pode,
outrossim, estabelecer: relações (preposições
ou pronomes possessivos, na língua escrita ou oral; posicionamento
ou contraste, na imagem);
qualidades (adjetivos ou advérbios, na língua escrita
ou oral; ou atributos visuais, em imagens); e
comparações (incluindo justaposições ou metáforas
de todos os tipos, em palavras, imagem, som
ou espaço).
É possível, por exemplo, ter a frase 'As montanhas
são grandes'l seguida por uma imagem que
fornece uma expressão inteiramente semelhante,
ou bem diferente, da mesma coisa, que pode ter
um caráter complementar, suplementar ou taTvez disruptivo. por
mais que desejemos apontar os
paralelos entre os modos, também queremos destacar
as diferenças irredutír,eis que erplicam as
variações e rupturas, e oferecer evidências do valor
complementar da multimodalidade. \esse
sentido' é factível dizer que a escrita consiste em elementos
de significado sequenciais que. na ln*;a
portuguesa' se constituem por meio de uma palavra
implacavelmente de catla r-ez. ,la esquerJ.a
para a direita' linha por linha, o que nos exige
um caminho de escrita e de ]eitura que prioriza r-,
tempo, porque a progressão do texto nos conduz atrayés
do tempo. A imagem, ao conirário,
apresenta-nos vários elementos de signiÍicado simultaneamente,
posto que seu caminho de
visualização prioriza o espaço. No entanto, quando fazemos
as duas coisas, isto é, quando irdamos
com a escrita e com a imagem, podemos alcançar um
significado mais completo, mais nuançado,
ou, nesse sentido, um significado menos estabelecido.
como os significados conectam os participantes na
construção de significado? Aqui estabelecemos
papéis: orador/ouvinte, escritor/leitor, designerlusuário,
produtor/consumidor, gestor/observador,
criador de sons/ouvinte' Direcionamos ou encontramos
orientações: na língua, primeira/segunda/
terceira pessoa e discurso direto/indireto; em imagem,
posicionamento e linhas dos olhos; em gesto,
apontando para si mesmo, para os outros e para
o mundo. Também encontramos agência: na língua,
por meio davoz' do humor e da transitividade; na
imagem, por meio de planos focais de fixação
e engajamento; no espaço, por meio de
aberturas e barreiras. E descobrimos uma gama
de elementos
potenciais interpretativos: textos abertos e fechados;
imagens realistas e abstratas; gestos diretivos
ou de tomada de turnos; espaços que indicam fluxos
deterministicamente e outros que permitem
uma gama de alternativas.

LETRAÀ4ENI0s t0M0 ,É5/6/^/5 rvt']tTlN,r0DAis DE 5iGNiFltAD0


| r8e

/
Como os significados em geral se mantem iut-rtos? Em resposta a essa questão, analisamos os
dispositivos usados para criar coesàer interna, coerência e limites nos significados. Cada modo
compõe unidades atômicas de signihcado (mortêmas, eler:rentos de imagem, componentes físicos,
materiais estruturais no ambiente constrllido, traços gestuais) em um certo tipo de ordem, que
pode ser convencional (usando o que chamamos de "designs disponíveis" para o significado) e
inventiva (o processo de" designing"), o que faz com que não haja dois designs de signiÍicado iguais.
Existem indicadores internos: pronomes ou conectivos, na língua; chaves e flechas, em imagens;
marcadores de orientação, no espaço; cadência e ritmo, no som. Existe arranjo de ideias: sequência,
no texto; posicionamento de elementos pictóricos, em imagens; a mecânica funcional dos objetos
tangíveis. E existem as formas tangíveis de meios diversos: escrever, falar, desenhar, fotografar,fazer
objetos materiais, fazer música ou gesticular.
Onde o significado está situado? O significado é tanto uma questão de onde está localizado,
quanto do que ele é. Na medida em que o contexto constrói sentido, torna-se uma parte do
significado. Um rótulo em um pacote aponta para o conteúdo desse pacote, que, por sua vez,
"fala' com o supermercado onde ele se encontra à venda. Uma mensagem de texto "descreve" a
localização dos interactantes e das imagens que são postadas junto a ela. Uma cozinha se relaciona
com áreas de estar em uma casa que, por sua vez, se encaixa em padrões mais amplos da vida
cotidiana suburbana. Sinos e campainhas eletrônicas podem significar todos os tipos de coisas,
dependendo do contexto em que se encontram. Em todos os modos, os significados são
enquadrados, uma yez que se referem a outros significados por semelhança ou contraste (motivo,
estilo, gênero), assumindo registros de acordo com os graus de formalidade, profissão, disciplina
ou comunidade de prática.
Finalmente, a que propósitos e interesses esses significados estão destinados a servir? Aqui,
interrogamos os significados que encontramos ou produzimos como evidência de motivação. Como
a retórica funciona em textos, imagens ei ou gestos? Como a subjetividade e a objetividade funcionam

em textos escritos e visuais? Nessas e em outras expioraçoes de interesses, poderíamos interrogar


significados por seus objetivos e interesses entrecruzados, ocultos, dissonantes, ou por uma variedade
de falhas de comunicação. Podemos explorar a dinâmica clas ideologias, explícitas e/ou implícitas,
propagandísticas e/ou "informacionais". Para isso, precisamos de perspectivas críticas para analisar
interesses que podem ter sido deixados sem descrição ou deliberadamente escondidos em textos,
imagens, gestos, sons ou espaços.
Mas como essas perguntas podem se traduzir em práticas pedagógicas? Anne Cloonan levantou
essas cinco questões a respeito dos "elementos do design", com base em uma unidade didática de
ietramento inicial de Robyn, centrada no livro de histórias Rosle's Walk, disponível também como
r'ídeo animado: "Rosie, a galinha, deixa o galinheiro'l começa a sinopse do livro, "e sai para uma
pequena caminhada. Logo atrás dela está a raposa, maliciosamente tentando alcançá-Ia". A
professora mostrou o vídeo sem som e fez as crianças representarem aquilo a que assistiram por
meio de gestos; depois, elas reviram o vídeo com som, identificaram os personagens na yersão
do livro ilustrado, criaram um "mapa da história" e, por fim, fizeramum vídeo no qual recriaram
a história.'s Ao longo de várias aulas, Robyn fez os alunos abordarem cada um dos elementos do
design.

29 Cloonan; Kalantzis & Cope,2010.

190 I LETRAI\4ENIO5
Referência: quem e L) q.rL. .:ie na história? (Rosie,
a galinha, e a raposa.) Como elas são
representadas ern pallr r..i. lntr:ún.. sons,
espaçc e gestos? eue ação é retratada? (A jornada
de
Rosie.)
Diálogo: como o produtor do significado está conectado
ao destinatário? (o autor como contador
de histórias' o ilustrador do livro, o videomaker
- não fazemos parte da história da mesma
maneira se estamos jogando, por exemplo.)
Estrutura: como a história se mantém? (A maneira
como o texto é apresentado nas páginas do
livro' cada parte da história em uma nova página.)
como as imagens no livro estão relacionadas
ao texto? o que cada exemplo de escrita
e de imagem lhe diz q"ue o out.o não? como
o vídeo
é usado como um storyboard?
situação: onde esse texto pofls ser encontraclo?
onde vamos ler o livro ou assistir ao vícleo?
Por quê?
Intenção: quais são os interesses e motivações dos personagens? (por exemplo,
Rosie e a raposa.)
como estamos posicionados? (o que sabemos que
Rosie e a raposa não sabem?
da história?) eual e a moral

Por meio dessas perguntas, os alunos começaram,


então, a desenvolver uma inetalinguagem
para descrever os elementos d,o design desses
textos murtimodais.

Referência: a que os significados se referem?


Qualé o ponto de referência? O que isso denota?
eual(is) é(são)
o(s) seu(s) assunto(s)? - lembrando, é claro,
que âs respostas a
essas perguntas podem ser fluidas, ambíguas
e uma questão de
i nte rp reta ção.
Diálogo: como os srgnificados conectam as pessoas que
estão Como o: acontecjmentos surgem?
interagindo? euem o q"a ,u, ã qu"
eles se deem e quais os seus efeitos? Como
as pÊssoas estão
interagindo conectadas? eue relacoes inteíoes::.
s pÊsso;s
em relação a objetos e objetos em relacãc p:s;:.:
e :: ; :r- -
cados tentam estabeiecer? Lembrartclo, e
a :,: :i-.: : r ::-. : _

maneira.
Estrutura: comô os significados em geral se
mantêm juntos? OqueÍazum sentidosetornarcoe,eltel . .. ., j :

sicão? Quais são suas partes e como estas


sa Ên.. ,. r. :__- :
e sua organização e como e SUa estrutural _
rràa LtuÉ toocs
sintam necessariamente que seus proprros <rgnrficados
ou os
significados que encontram sào sempre totalmente
coerentes
ou que se pode chegar a fundo sobre qualquer
assunto que e
com un icado.
Situaçâo: em que contexto(s) os significados
estão IocaÍizados? Como o sÍgnificado está relacionado ao
seu entorno? Como o
significado se encaixa no contexto mais amplo
de significaçáo?
lntenção: a que propósitos e interesses esses significados estão
Por que as pessoas estão engajadas
destinados a servir? em atividades de constru_
ção de significado? O que as motiva? Como o significado,
seu
contexto e sua recepção revelam os interesses
dos envolvidos?
Como o comunicador considera seu público?
euem é mais e
menos poderoso? Os interesses dos diferentes
criadores de
mensagens sernpre variam, dependendo
de quem são, e os
interpretantes dessas mensagens sempre
trazem seus interes_
ses e identidades para sustentar o que
fazem com os signifi-
cad os.
do significado multjmôdaí

t
I ,s,

7
Sumário

. Representaçáo: construindo significados para nós mesmos, inclurndr interpretâçôes dos significados de outras pessoas.

. Comunicação: constÍuindo significados para outras pessoas, recebidos por elas como mensagens e interpretados de acordo
com seus inteÍesses e perspectivas.

. Designs (disponíveis): recursos para significação que nos levam ao engajamento em atividades de designíng:criando novos
significados por meio do retrabalho com os recursos disponíveis para gerar o (re)designed: novos significados criados por meio
do desígning.

. Multimodalidade: construindo significados em mais de um modo.

. Sinestesia: construindo siqnificados por meio da alternância de modos.

. Modos de significado:
- significados escritos: escrita e leitura;
- significados visuais: percepçáo e imagem:
- significados espaciais: localização e posicionamento;
- significados táteis: toque e sensaçáo corporal;
- significados gestuais: linguagem corporal;
signifrcados sonoros: som e musica;
- siqnificados orais: fala e escutâ.

o Elementos do design:
- Referência:o que os siqnificados descievem?
- Diálogo: como os significados conectam as pessoas que estão interagindo?
- Estrutura: como os significados em geral se mantêm juntos?
Situação: como os significados sáo moldados pelo seu contexto?
ntençáo: a que propósitos e interesses esses significados estão destinados a servir?

Processos de conhecimento

l.Conceitualizando por nomeação


Assista a tlm ou mais vídeos dos que ilustram os illultiletralxentos na prática em <http://
ne$'learningonline.com/multiliteracies/r,ideos/>. IdentiÍrque semelhanças e diferenças entre essa
pedagogia e a que se enquadraria na pedagogia do letr:inrento na abordagem didática.

l. Conceitualizando com teoria


-\lonte tlma espécie de mapa qLle ilustre sua compreensão dos conceitos de representação e
comLlnicação.

3. Analisando funcionalmente
Realize uma análise do design cle um texto corr.rum clo cotidial-Io, como um artigo de jornal ou unl
vídeo. IdentiÍrque no texto os elelnentos do r/e,sigr Lisando as cinco questões sobre o signilicado
apresetltadas neste capítulo.

,1. Aplicando criativamente


Desenvoiva uin plano de aultr que faça uso tlc rlitercutcs moclos cle significado e que envolva a
sinestesia.

1e2 I LETRAI\4EN r05

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