Você está na página 1de 3

19/04/2023, 13:03 Vitamina D: o que se sabe e o que falta saber sobre suplementos, benefícios e riscos - BBC News Brasil

No ano passado, a descoberta da vitamina D fez 100 anos. No início do século 20, vários médicos e
cientistas de instituições diferentes estavam buscando a causa do raquitismo e passaram a observar que
a ingestão de óleo de fígado de bacalhau prevenia e tratava essa doença óssea. Mas, além disso, a
exposição ao sol também parecia ter um papel.

Uma equipe liderada pelo bioquímico americano Elmer McCollum foi quem deu o nome "vitamina D", em
1922.

Era uma época em que muitas vitaminas estavam sendo descobertas — as letras A, B e C já estavam em
uso —, e o novo composto foi assim identificado. Décadas depois, com mais pesquisas e o detalhamento
da estrutura molecular, chegou-se ao consenso de que a vitamina D é, na verdade, um hormônio.

Atualmente, há cientistas tentando emplacar o nome "hormônio vitamina D", mas a "vitamina D" segue
muito popular — e nessa reportagem, vamos continuar usando o termo à moda antiga.

Hoje, é mais do que comprovado que a vitamina D regula a quantidade de cálcio e fósforo no nosso corpo
— e esses, por sua vez, são essenciais para o crescimento e a manutenção de ossos, dentes e músculos.
Ou seja, a vitamina D é importantíssima para a saúde óssea e muscular.

Já sabemos também que podemos obter a vitamina D de três formas: com a produção do nosso corpo, a
partir da exposição ao sol; pela alimentação e pela suplementação.

A médica endocrinologista Marise Lazaretti-Castro, professora livre-docente da Universidade Federal de


São Paulo (Unifesp), afirma que é um equívoco comum entre os pacientes pensar que os efeitos da
alimentação e da suplementação só vão ser ativados se houver exposição ao sol.

"É uma ideia errada a de que você precisa tomar sol mesmo ingerindo a vitamina. O que o sol faz é
produzir na nossa pele a vitamina D. Se você está ingerindo pelo alimento ou pelo suplemento, não
precisa tomar sol", explica Lazaretti-Castro.

Outro alerta feito por Castro e pela nutricionista Marcela Mendes, também entrevistada pela BBC News
Brasil, é que, na prática, não podemos contar muito com a alimentação para obter a vitamina D.
Sociedades médicas brasileiras consultadas pela reportagem endossaram essa afirmação.

O salmão, por exemplo, que costuma ser apontado como uma rica fonte, só nos dá o hormônio se for
selvagem — e não de criação, como é mais comum encontrar no Brasil.

"Ainda falta educação nutricional pra entender que a alimentação dificilmente vai ser suficiente para suprir
a necessidade. Os principais alimentos com vitamina D são o salmão selvagem, cogumelos e peixes
gordurosos. Qual é a real aplicação disso na nossa população? A ingestão [desses alimentos] precisaria
ser diária para a gente ter realmente uma fonte", aponta Mendes, doutora em ciências nutricionais pela
Universidade de Surrey (Inglaterra) e membro do grupo de pesquisa em Vitamina D da Universities Global
Partnership Network (UGPN).

Em alguns países que têm invernos severos e menor exposição ao sol, é obrigatória a fortificação de
alimentos com vitamina D. Não é o caso do Brasil. Mas, nas prateleiras, também temos alguns produtos
com dizeres como "fortificado" e "enriquecido com vitamina D" na embalagem.

"Quando você olha no rótulo, é uma quantidade que não está fazendo diferença. Não é enganoso, mas
pode gerar uma confusão de se achar que está sendo suficiente ingerir aquele alimento. A pessoa acha

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4nzzzz407xo 1/3
19/04/2023, 13:03 Vitamina D: o que se sabe e o que falta saber sobre suplementos, benefícios e riscos - BBC News Brasil

que está tendo uma fonte garantida de vitamina D", alerta a nutricionista, sugerindo uma regulamentação
mais rigorosa para o uso dessas chamadas.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ordena que alimentos enriquecidos devem trazer
alegações como "fortificado com vitamina D" quando trouxerem no mínimo 30 UI (unidades internacionais)
em líquidos e 60 UI em sólidos. Segundo a agência, os limites mínimos garantem que os produtos
"forneçam uma quantidade significativa das substâncias adicionadas e sejam eficazes para os efeitos
alegados".

Mendes é cautelosa ao falar de uma recomendação diária de ingestão da vitamina D, pois há variáveis
individuais e locais, mas aponta como referência a orientação da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia (SBEM) de 600 a 800 UI diárias para adultos saudáveis (via alimentação e/ou
suplementação). Para grupos de risco, a necessidade costuma ser ainda maior.

Ou seja, o mínimo exigido para que um produto se diga fortificado com vitamina D fica abaixo desta
referência.

Suplementar ou não suplementar?

GETTY IMAGES

Podemos obter a vitamina D via exposição ao sol, suplementação e alimentação

Além da alimentação, temos ainda a exposição ao sol e a suplementação como formas de obter a
vitamina D.

Por muito tempo, pensou-se que o clima brasileiro fosse suficiente para garantir à população vitamina D
— inclusive por isso, o raquitismo nunca foi uma preocupação grande por aqui.

Mas estudos recentes têm mostrado que o país tem um percentual relevante de pessoas com deficiência
desse hormônio.

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4nzzzz407xo 2/3
19/04/2023, 13:03 Vitamina D: o que se sabe e o que falta saber sobre suplementos, benefícios e riscos - BBC News Brasil

Um estudo publicado em novembro de 2022 no periódico Journal of the Endocrine Society por Lazaretti-
Castro e colegas se debruçou sobre os níveis de vitamina D em doadores de sangue de três cidades
brasileiras.

Os resultados mostraram deficiência de vitamina D em 12,1% das pessoas em Salvador; 20,5% em São
Paulo e 12,7% em Curitiba.

Dados mundiais reunidos em um artigo da Nature mostram que o percentual de deficiência em outras


populações é maior, como nos Estados Unidos (24%), Canadá (37%) e Europa (40%).

No doutorado, Marcela Mendes fez um ensaio clínico com mulheres brasileiras no seu país natal e com
brasileiras vivendo na Inglaterra.

"Realmente tinha uma média de níveis de vitamina D bem maiores no Brasil do que na Inglaterra. Mas
nem por isso a gente deixou de ter mulheres deficientes morando no Brasil ou mulheres suficientes
morando na Inglaterra. Então, outros fatores influenciam além do sol", diz a nutricionista, citando fatores
como a pigmentação da pele — quanto mais melanina, que protege contra a luz solar, menos vitamina D
produzida — e a genética.

"Já foram identificados diversos genes que têm uma influência da vitamina D na expressão gênica. Há
também o polimorfismo genético: as pessoas podem ter alguma mutação que favorece ou atrapalha os
níveis de vitamina D."

O estilo de vida atual também pode diminuir nossa exposição ao sol, conforme ficamos mais em
ambientes fechados e usamos protetores solares. E aí entra outro dilema: para evitar o envelhecimento e
o câncer de pele, usamos filtros que bloqueiam a luz ultravioleta B (UVB) — crucial para nosso corpo
sintetizar a vitamina D.

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4nzzzz407xo 3/3

Você também pode gostar