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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE MEDICINA

TRATAMENTO DO EDEMA E ASCITE

Alda Mariano
Maputo, Outubro 2022
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Objectivos
No fim deste tema os estudantes deverão ser capazes
de:

▪ Descrever o processo de selecção de fármacos para


tratar os doentes com edemas e o síndrome ascítico
de acordo com eficácia, segurança, comodidade de
administração e custo.
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Objectivos
◼ Seleccionar as principais linhas de tratamento dos
edemas e do síndrome ascítico incluindo: dose,
posologia, duração do tratamento, efeitos adversos e
interacções medicamentosas.
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Objectivos
◼ Descrever e manejar as principais complicações
resultantes da terapia com diuréticos
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▪ Diuréticos - fármacos que reduzem a reabsorção


de Na+ e Cl- nos túbulos renais, aumentando o
volume de urina.

▪ Diuréticos de ansa

Furosemida, bumetamida, torsemida e ácido


etacrínico
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Diuréticos de ansa

▪ São os diuréticos mais potentes

▪ Actuam na ansa de Henle inibindo o transporte de


sódio e cloro

▪ Reduzem a reabsorção de cálcio e magnésio

▪ Possuem um efeito vasodilatador


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Diuréticos tiazídicos

Clorotiazida e hidroclorotiazida

▪ Clortalidona, indapamida e metolazona têm


efeito diurético semelhante ao das tiazidas

▪ Actuam no tubulo distal, inibindo a reabsorção


de sódio bloqueando o co-transporte de Na+
e Cl-
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Diuréticos tiazídicos

▪ Aumentam a reabsorção de cálcio, sendo úteis


para reduzir a calciúria em doentes com litíase
renal.

▪ Aumentam a excreção de magnésio resultando


em hipomagnesemia.
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Diuréticos poupadores de potássio


▪ Espironolactona, triamtereno e amilorido

▪ Inibem a reabsorção de sódio nos colectores por


diferentes mecanismos

▪ A espironolactona é um antagonista dos receptores


da aldosterona
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A espironolactona

▪ Inibe a reabsorção de sódio e diminui a excreção


de potássio e hidrogeniões

▪ Útil em doentes com cirrose hepática e ascite que


possuem elevados níveis de aldosterona
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Triamtereno e amilorido

▪ Reduzem a passagem de sódio através da


membrana luminal

▪ Usados com os tiazídicos e diuréticos de ansa


para reduzir a perda de potássio
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Diuréticos osmóticos

Ureia e manitol

▪ São solutos não reabsorvíveis nos túbulos renais

▪ Actuam no túbulo proximal onde geram uma


pressão osmótica que impede a reabsorção de
água e solutos
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Ureia e manitol

▪ A quantidade de água perdida excede a


concomitante perda de sódio e potássio

▪ Manitol usado no tto precoce da oligúria na


insuficiência renal aguda pós-isquémia

▪ Ureia e manitol usados para reduzir a pressão


intracraneana através da desidratação celular
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Diuréticos Inibidores da anidrase carbónica

Acetazolamida

▪ Inibe a anidrase carbónicano tubulo proximal

▪ Fraco efeito natriurético e diurético


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Tratamento do edema

▪ O edema pode ter diversas origens – Tto da


doença de base.

Edema cardíaco

▪ Indicados na IC para reduzir a congestão


circulatória que se manifesta pelo edema
periférico e pulmonar.
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Edema cardíaco

▪ Diminuem o volume vascular e aliviam a


congestão pulmonar e ventricular e diminuem
o edema periférico

▪ Os diuréticos de ansa são mais potentes e mais


utilizados (possuem também efeito vasodilatador)
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Edema cardíaco

▪ Combinar 2 classes de diuréticos nos


doentes refractários aos diuréticos de ansa

▪ Se a diurese é vigorosa: depleção do volume


intravascular, hipotensão e diminuição
paradoxal do débito cardíaco
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Edema cardíaco

▪ Perdas de peso diárias superiores a 1 Kg devem


ser evitadas, excepto nos extremos de edema
pulmonar
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Edema renal
▪ Doentes com IRC retêm sódio e água o que leva
ao aumento do peso
▪ Nas fases avançadas: sinais de retenção de sódio
e líquidos resultando em hipertensão
▪ Se não controlada, a expansão do volume
sanguíneo pode causar ICC, edema pulmonar e
periférico
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Edema renal
▪ Restrição se sódio e fluídos (100 mEq de sódio e
2.000 mL de líquidos/dia).

▪ Os diuréticos de ansa - pedra basilar da terapia e


manejo do edema por síndrome nefrótico.

▪ Iniciar com 60 mg de furosemida IV em duas tomas


diárias, seguida de 120 mg x2/dia.
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Tratamento da Ascite
◼ O objectivo do tratamento da ascite - mobilizar o
líquido ascítico, diminuir o desconforto abdominal, a
dor lombar e a dificuldade ao caminhar e prevenir as
complicações.

◼ Feito de forma paulatina - risco de desiquilíbrio ácido-


base, hipokaliemia ou depleção de volume
intravascular.
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◼ O manejo inicial envolve restricção da ingestão de


sódio (10 a 20 mEq/dia), água e o uso de diuréticos.

◼ Em alguns doentes com cirrose e ascite, a restricção


de sódio e o repouso podem ser suficientes.

◼ A restricção de água é eficaz em doentes com cirrose


e hiponatremia dilucional.
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◼ A maioria dos doentes com baixa concentração


urinária de sódio (<10 mEq/L) e função renal normal
beneficiam da terapia com diuréticos.

◼ Os doentes com doença hepática avançada possuem


níveis elevados de aldosterona livre circulante.

◼ O diurético de eleição é um agente com efeitos anti-


aldosterona e poupador de potássio (espironolactona).
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◼ Inicia-se com doses elevadas de 100 a 200 mg/dia


que são necessárias para antagonizar os níveis
elevados de aldosterona circulante.

◼ Posteriormente redução paulatina das doses.


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COMPLICAÇÕES DA TERAPIA COM DIURÉTICOS

◼ As complicações mais frequentes são distúrbios hidro-


electrolíticos e do equilíbrio ácido-base.

◼ Os doentes idosos são mais susceptíveis as


complicações induzidas por diuréticos.
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COMPLICAÇÕES DA TERAPIA COM DIURÉTICOS

HIPONATREMIA

◼ As tiazidas induzem diurese pela inibição da


reabsorção de sódio e água pelos tubulos renais.

◼ Não é a hiperdiurese que causa a hiponatremia


porque se perde sódio e água em simultâneo
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COMPLICAÇÕES DA TERAPIA COM DIURÉTICOS
HIPONATREMIA

◼ A hiponatremia representa a diluição do sódio no


plasma pelo excesso da água livre causada hormona
anti-diurética.

◼ Doses elevadas de diuréticos, ingestão excessiva de


água e restricção severa no aporte de sódio acentuam
a hiponatremia.
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COMPLICAÇÕES DA TERAPIA COM DIURÉTICOS

HIPOKALIEMIA

◼ As tiazidas e os diuréticos de ansa reduzem


frequentemente as concentrações séricas do potássio.

◼ A hipokaliemia induzida pelos diuréticos é em geral


ligeira, dose–dependente e mais comum na primeira
semana de tratamento.
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HIPOKALIEMIA

◼ As concentrações séricas de potássio atingem o


equilíbrio dentro do primeiro mês de Tto e depois
permanecem estáveis.

◼ A significância clínica das reduções ligeiras de


potássio são desconhecidas.
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COMPLICAÇÕES DA TERAPIA COM DIURÉTICOS
HIPOKALIEMIA
◼ Se o doente não toma outros medicamentos que
aumentam o risco de cardiotoxicidade e não tem
história de cardiopatia não há motivo para alarme.

◼ Aconselhar a modificar a dieta ou adicionar doses


baixas de suplementos de potássio ou diuréticos
poupadores de potássio.

◼ Iniciar com doses baixas para evitar hipokaliemia.


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COMPLICAÇÕES DA TERAPIA COM DIURÉTICOS

HIPERGLICEMIA

◼ A alteração do metabolismo da glicose é uma


complicação do tto com diuréticos mas a resposta
do doente é variável.

◼ Doentes com diabetes ou reduzida tolerância a


glicose são propensos a aumentos da glicemia.
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HIPERGLICEMIA

◼ É dose-dependente. Recomenda-se iniciar com doses


baixas.

◼ Parece estar associada a perda de potássio.

◼ Doentes com níveis baixos de potássio são mais


susceptíveis a ter tolerância reduzida a glicose.
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HIPERGLICEMIA

◼ A suplementação de potássio pode prevenir as


alterações na tolerância a glicose observada com as
tiazidas.

◼ Manter os níveis séricos de potássio dentro dos


valores normais em doentes diabéticos tratados com
diuréticos é essencial.
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HIPERGLICEMIA

◼ A Diabetes não é uma contra-indicação absoluta para


o uso de diuréticos.

◼ Se surgir hiperglicemia - aconselhar o doente a


modificar a dieta ou aumentar a dose de insulina ou
de antidiabéticos orais.
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HIPERURICEMIA

◼ A tiazidas e os diuréticos de ansa levam ao aumento


da concentração sanguínea do ácido úrico.

◼ A hiperuricemia induzida pelos diuréticos é dose


dependente, mínima e assintomática na maioria dos
doentes e não requer tratamento.
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HIPERURICEMIA

◼ A hiperuricemia recurrente pode precipitar ataques


agudos de gota. Considerar a retirada do
medicamento.

◼ História anterior de gota não é uma contra-indicação


absoluta de terapaia com diuréticos.
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HIPOMAGNESÉMIA

◼ As tiazidas e diuréticos de ansa causam aumento da


excreção urinária do magnésio, efeito dose-
dependente.

◼ O amilorido ou os suplementos de potássio podem


prevenir estas alterações.
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HIPOMAGNESÉMIA
◼ A suplementação de magnésio pode ser necessária se
a suplementação de potássio não for bem sucedida.

◼ Sintomas: fraqueza, tremor, alterações no estado


mental e arritmias cardíacas.

◼ Hipomagnesemia: nos alcólicos, idosos ou doentes


malnutridos.
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HIPERCALCÉMIA

◼ Os tiazídicos reduzem a excreção urinária de cálcio e


sâo usados para prevenir a formação de cálculos
renais.

◼ As concentrações elevadas são geralmente


assintomáticas mas podem ser benéficas em doentes
pós-menopausicas ou com osteoporose.
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HIPERCALCÉMIA

◼ Os diuréticos de ansa aumentam o clearance do cálcio


e têm sido usados para tratar a hipercalcemia grave.

◼ Os níveis séricos de cálcio devem ser medidos antes


de iniciar a terapia com diuréticos e durante o seu
curso.
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ALTERAÇÕES NOS LÍPIDOS SÉRICOS

◼ Aumento do colesterol total, LDL, VLDL e triglicéridos.


Não é dose-dependente.

◼ A terapia com diuréticos não deve ser evitada em


doentes com níveis borderline de lípidos mas deve ser
feita uma avaliação clínica nos doentes com
dislipidemia.
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ALCALOSE METABÓLICA

◼ Ocorre com a depleção de potássio secundária ao uso


de diuréticos.

◼ A redução do volume extracelular estimula a secreção


da aldosterona, que promove a absorção de sódio e
retenção de hidrogeniões nos túbulos renais.
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COMPLICAÇÕES DA TERAPIA COM DIURÉTICOS

ALCALOSE METABÓLICA

◼ A perda de hidrogeniões na urina resulta em alcalose


metabólica.

◼ A redução da dose do diurético restabelece o


equilíbrio ácido-base.
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COMPLICAÇÕES DA TERAPIA COM DIURÉTICOS
ACIDOSE METABÓLICA
◼ A acetazolamida causa acidose metabólica porque ao
inibir a anidrase carbónica leva a excreção de
bicarbonato de sódio.

◼ A espironolactona, amilorido e triamtereno podem


causar acidose metabólica hipoclorémica pela sua
capacidade de reduzir a secreção tubular hidrogénio e
potássio.
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COMPLICAÇÕES DA TERAPIA COM DIURÉTICOS

ACIDOSE METABÓLICA

▪ Os doentes com disfunção renal, em Tto com


suplementos de K+ ou IECAS (o que reduz a
secreção de aldosterona) são os mais susceptíveis.
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Bibliografia básica

◼ Koda-Kimble MA, Young LY, Kradjan WA, Guglielmo BJ,


Alldredge BK, Corelli RL. Applied therapeutics. The clinical
use of drugs. 8th edition. Baltimor: Lippincott Williams &
Wilkins, 2005.

◼ Katzung BG. Farmacologia básica & clínica. Sexta edição.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan SA, 1998.
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Bibliografia básica

◼ Dipiro JT, Talbert RL, Yee GC, Matzke GR, Barbara GW, Posey LM.
Pharmacotherapy: A pathophysiologic approach. 3th edition. Stamford-
Connecticut: Appleton & Lange, 1997.

◼ Hardman JG, Limberd LE, Molinoff PB, Ruddon RW, Gilman AG. The
pharmacogical basis of therapeutics. Ninth edition. New York: Mcgraw-
Hill, 1996.

◼ Grahame-Smith DG, Aronson JK. Oxford textbook of clinical


pharmacology and drug therapy. Second edition. Oxford: Butler &
Tanner Ltd, 1995.
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OBRIGADA

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