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Versão para Profissionais de Saúde
Hiponatremia
Por James L. Lewis III , MD, Brookwood Baptist Health and Saint Vincent’s Ascension Health,
Birmingham
Avaliado clinicamente set 2021 | modificado out 2021
A hiponatremia é a redução da concentração plasmática de sódio para < 136 mEq/L (< 136 mmol/L)
por excesso de água em relação ao soluto. As causas comuns incluem uso de diuréticos, diarreia,
insuficiência cardíaca, doença hepática, doença renal e síndrome de secreção inapropriada de ADH
(antidiuretic hormone) (SIADH). As manifestações clínicas são primariamente neurológicas (em razão
do desvio osmótico de água para dentro das células cerebrais, causando edema), em especial na
hiponatremia aguda, e incluem cefaleia, confusão e estupor; podem ocorrer convulsões e coma. O
diagnóstico é por medição do sódio sérico. Eletrólitos e osmolalidade plasmáticos e urinários e
avaliação do estado do volume ajudam a determinar a causa. O tratamento inclui restrição de
ingestão de água e promoção de sua perda, reposição de qualquer deficiência de sódio e tratamento
da doença subjacente.
Etiologia da hiponatremia
A hiponatremia reflete um excesso de água corporal total (ACT) em relação ao conteúdo de sódio
corporal total. Como o conteúdo corporal total de sódio é refletido pelo estado do volume de
líquido extracelular, a hiponatremia deve ser considerada juntamente com o estado de líquido:
hipovolemia, euvolemia e hipervolemia (ver tabela Principais causas de hiponatremia). Vale
observar que o volume de líquido extracelular não é o mesmo que o volume plasmático efetivo.
Por exemplo, a diminuição do volume plasmático efetivo pode ocorrer com a redução do volume
de líquido extracelular, (como com o uso de diuréticos ou choque hemorrágico) mas também pode
ocorrer com o aumento do volume de líquido extracelular (p. ex., na insuficiência cardíaca,
hipoalbuminemia ou síndrome de vazamento capilar).
Às vezes, uma medição baixa do sódio sérico é causada por excesso de certas substâncias (p. ex.,
glicose, lípidos) no sangue (hiponatremia translocacional, pseudo-hiponatremia) em vez de por
desequilíbrio de água-sódio.
Hiponatremia hipovolêmica
(Ver também Depleção do volume.)
(Ver também Depleção do volume.)
As deficiências, tanto de água como de sódio corporal total, existem, embora proporcionalmente
haja maior perda de sódio do que de água; o deficit de sódio causa hipovolemia. Na hiponatremia
hipovolêmica, tanto a osmolalidade como o volume de sangue diminuem. A secreção de
vassopressina (hormônio antidiurético — ADH) aumenta, apesar da redução da osmolalidade a fim
de manter o volume sanguíneo. A retenção hídrica resultante aumenta a diluição do plasma e a
hiponatremia.
Perda de líquidos extrarrenais, como as que ocorrem em perdas de líquido contendo sódio,
como em vômitos prolongados, diarreia grave ou sequestro de líquido para o 3º espaço (ver tabela
Composição dos líquidos corporais), podem causar hiponatremia tipicamente quando as perdas
são repostas pela ingestão de água livre, líquidos com baixo sódio ou hipotônicos intravenosos (ver
tabela Conteúdo de sódio aproximado das bebidas comuns). Perdas significativas de líquidos do
líquido extracelular também causam liberação da vassopressina, provocando a retenção de água
pelos rins, o que pode manter ou agravar a hiponatremia. Em causas extrarrenais de hipovolemia,
como a resposta renal normal à perda de volume é a conservação de sódio, a concentração
urinária de sódio é tipicamente < 10 mEq/L (< 10 mmol/L).
Hiponatremia euvolêmica
O sódio corporal total e, portanto, o volume de líquido extracelular são normais; entretanto, ocorre
aumento da ACT.
A polidipsia primária pode causar hiponatremia apenas quando a ingestão de água ultrapassar a
capacidade renal de excretar água. Como rins normais excretam até 25 L/dia, a hiponatremia
decorrente apenas de polidipsia resulta somente de ingestão de grandes quantidades de água ou
de defeitos na capacidade renal de diluição. Os afetados incluem pacientes com psicoses ou graus
mais modestos de polidipsia associada à insuficiência renal.
A hiponatremia euvolêmica também pode resultar da ingestão excessiva de água sem retenção de
sódio, na presença de doença de Addison, hipotireoidismo ou secreção de vasopressina não
osmótica (p. ex., estresse, estados pós-operatórios, utilização de fármacos como clorpropamida ou
tolbutamida, opiáceos, barbitúricos, vincristina, clofibrato, carbamazepina). A hiponatremia pós-
operatória decorre da combinação de liberação não osmótica de vasopressina e administração
excessiva de líquidos hipotônicos após a cirurgia. Certos fármacos (p. ex., ciclofosfamida, AINEs,
clorpropamida) potencializam os efeitos renais da vasopressina endógena, enquanto outras (p. ex.,
ocitocina) apresentam efeito direto semelhante à vasopressina sobre os rins. Intoxicação por 3,4-
metilenodioximetanfetamina (MDMA [êxtase]) causa hiponatremia, induzindo o excesso de água
potável e melhorando a secreçaõ de vasopressina. A deficiência de excreção de água é comum em
todas essas condições. Os diuréticos podem causar ou contribuir para hiponatremia hipovolêmica
se outro fator causar a retenção ou ingestão excessiva de água.
Hiponatremia hipervolêmica
A hiponatremia hipervolêmica caracteriza-se por aumento tanto do total de conteúdo de sódio
corporal (e, portanto, do LEC), como do volume total de água corporal, com um aumento
discretamento maior desse último. Várias doenças com edema, incluindo insuficiência cardíaca e
cirrose, causam hiponatremia hipervolêmica. Raramente, a hiponatremia ocorre na síndrome
nefrótica, apesar de poder ocorrer pseudo-hiponatremia por interferência das concentrações
elevadas de lipídios sobre a medida do sódio. Em cada uma dessas doenças, a diminuição do
volume circulante efetivo resulta em liberação de vasopressina e angiotensina II. Os seguintes
fatores contribuem para hiponatremia:
Hiponatremia na aids
Foi descrito quadro de hiponatremia em > 50% dos pacientes hospitalizados com aids. Entre os
vários fatores que podem contribuir, citam-se
Edema cerebral grave pode ocorrer em mulheres na pré-menopausa com hiponatremia aguda,
talvez porque estrógenos e progesterona inibem a Na+, K+-ATPase cerebral e diminuem a extrusão
de solutos das células cerebrais. As sequelas incluem infarto hipotalâmico e da hipófise posterior e,
ocasionalmente, síndrome de desmielinação osmótica ou herniação do tronco cerebral.
Diagnóstico da hiponatremia
CALCULADORA CLÍNICA
Alteração do sódio na
hiperproteinemia
Identificação da causa
A identificação da causa da hiponatremia pode ser complexa. A história algumas vezes sugere a
causa (p. ex., perda significativa de líquido decorrente de vômito e diarreia, doenças renais,
ingestão compulsiva de líquidos, ingestão de fármacos que estimulam a liberação de vasopressina
ou aumentam a ação da vasopressina).
Em pacientes com hipovolemia e função renal normal, a reabsorção de sódio resulta em < 20
mEq/L (< 20 mmol/L) de sódio urinário. Sódio urinário > 20 mEq/L (> 20 mmol/L) em pacientes
hipovolêmicos sugere deficiência de mineralocorticoide ou nefropatia perdedora de sal.
Hiperpotassemia sugere insuficiência adrenal.
Em pacientes com hiponatremia e sódio urinário > 40 mEq/L (> 40 mmol/L) com traumatismo
cranioencefálico ou cirurgia do SNC recente, deve-se considerar a síndrome cerebral perdedora de
sal.
Tratamento da hiponatremia
Hiponatremia pode ser uma ameaça à vida e requer pronto reconhecimento e tratamento
adequado. Uma correção excessivamente rápida da hiponatremia tem o risco de complicações
neurológicas, como síndrome desmielinizante osmótica. Mesmo na hiponatremia grave, a
concentração plasmática de sódio não deve exceder 8 mEq/L (8 mmol/L) nas primeiras 24 horas. E,
exceto nas primeiras poucas horas do tratamento da hiponatremia grave, o sódio não deve ser
corrigido mais que 0,5 mEq/L/h (0,5 mmol/L/h). O grau de hiponatremia, duração, velocidade do
início e os sintomas do paciente são utilizados para determinar qual tratamento é mais adequado.
Em pacientes hipervolêmicos, nos quais a hiponatremia decorre da retenção renal de sódio (p.
ex., insuficiência cardíaca, cirrose, síndrome nefrótica) e diluição, a restrição de água associada ao
tratamento da doença subjacente é necessária. Um inibidor da enzima conversora de angiotensina
(ECA) associado a um diurético de alça pode corrigir a hiponatremia refratária em pacientes com
insuficiência cardíaca. Se a hiponatremia não responder à simples restrição de líquidos, pode-se
utilizar um diurético de alça em doses crescentes, às vezes associado a solução fisiológica a 0,9%
IV. O potássio e outros eletrólitos perdidos na urina devem ser repostos. Se a hiponatremia for
mais grave e não responder a diuréticos, pode ser necessária hemofiltração intermitente ou
mais grave e não responder a diuréticos, pode ser necessária hemofiltração intermitente ou
contínua para controle do volume de líquido extracelular, embora a hiponatremia seja corrigida
com solução fisiológica a 0,9%. Hiponatremia grave ou resistente geralmente só ocorre quando
doença cardíaca ou hepática está quase no estágio final.
Na euvolemia, o tratamento é dirigido à causa (p. ex., hipotireoidismo, insuficiência adrenal, uso
de diuréticos). Se houver síndrome de secreção inapropriada de ADH, é necessária restrição
intensa de água (p. ex., 250 a 500 mL/24 h). Além disso, um diurético de alça pode ser associado à
solução fisiológica a 0,9%, IV como na hiponatremia hipervolêmica. A correção duradoura depende
do êxito do tratamento da causa subjacente. Quando a doença subjacente não é corrigível, como
no câncer de pulmão metastático, e a restrição intensa de água é inaceitável para o paciente,
demeclociclina, 300 a 600 mg por via oral a cada 12 h pode ser útil. Mas a demeclociclina não é
amplamente utilizada devido à possibilidade de lesão renal aguda induzida por fármacos.
Conivaptan IV antagonista seletivo do receptor de vasopressina, causa diurese de água, sem perda
significativa de eletrólitos na urina, e pode ser utilizado para pacientes hospitalizados para
tratamento de hiponatremia resistente. Tolvaptano oral, é outro antagonista do receptor de
vasopressina com ação semelhante ao conivaptan. O uso de tolvaptano é limitado a menos de 30
dias, devido ao potencial de toxicidade hepática e não devem ser utilizado em pacientes com
doença renal ou hepática.
Hiponatremia grave
Nos pacientes assintomáticos, a hiponatremia grave (sódio plasmático < 121 mEq/L [< 121
mmol/L]; osmolalidade efetiva < 240 mOsm/kg [< 240 mmol/kg]) pode ser tratada com segurança
pela restrição rigorosa da ingestão de água.
Nos pacientes com sintomas neurológicos (p. ex., confusão, letargia, convulsão e/ou coma), o
tratamento é mais controverso. O debate primariamente diz respeito à velocidade e ao grau de
correção da hiponatremia. Muitos especialistas recomendam que, geralmente, o sódio sérico não
deve ser elevado mais rapidamente do que 1 mEq/L/h (1 mmol/L/h). Mas foi sugerido fazer
reposição de até 2 mEq/L/h (2 mmol/L/h) nas primeiras 2 ou 3 horas para os pacientes os com
quadro convulsivo ou alterações sensoriais importantes. Seja como for, o aumento deve ser ≤ 8
mEq/L (≤ 8 mmol/L) nas primeiras 24 horas. Uma correção mais vigorosa pode precipitar a
síndrome desmielinizante osmótica.
Para paciente com hiponatremia de início rápido e sintomas neurológicos, alcança-se correção
rápida administrando 100 mL de soro fisiológico hipertônico IV por 15 minutos. Essa dose pode ser
repetida uma vez se ainda houver sintomas neurológicos.
Para os pacientes com quadro convulsivo ou coma, porém hiponatremia de início lento,
administrar ≤ 100 mL/h de soro fisiológico hipertônico em 4 a 6 horas em quantidade suficiente
para elevar o sódio sérico de 4 a 6 mEq/L (4 a6 mmol/L). Essa quantidade (em mEq ou mmol) pode
ser calculada pela fórmula para deficit de sódio como
onde PCT é 0,6 × o peso corporal (kg) em homens e 0,5 × o peso corporal (kg) em mulheres.
Por exemplo, a quantidade de sódio necessária para elevar o nível de sódio de 106 para 112 mEq/L
em um homem de 70 kg pode ser calculada da seguinte maneira:
Como há 513 mEq (mmol) de sódio por litro de solução fisiológica hipertônica, é necessário
aproximadamente 0,5 L de soro fisiológico hipertônico para elevar o sódio de 106 para 112 mEq/L
(mmol). Para obter uma correção de 1 mEq/L/h, esse volume de 0,5 L seria perfundido durante
aproximadamente 6 horas.
Podem ser necessários ajustes com base na concentração plasmática de sódio, que deve ser
monitorada rigorosamente durante as primeiras horas após o início do tratamento. Pacientes com
convulsões, coma ou alteração do estado mental necessitam de tratamento de suporte, o qual
pode envolver entubação endotraqueal e benzodiazepínicos (p. ex., lorazepam, 1 a 2 mg, IV a cada
5 a 10 minutos, conforme necessário) para convulsões.
Não se deve restringir a ingestão de líquidos nos pacientes que atendem aos critérios para
síndrome cerebral perdedora de sal porque a restrição hídrica pode causar vasoespasmo dos
vasos cerebrais. Embora a soro fisiológico isotônica deva corrigir a causa da hiponatremia,
recomenda-se o uso de soro fisiológico hipertônico para prevenir a hiponatremia mais grave se, de
fato, houver SIADH.
Ambos os fármacos são fortes inibidores do CYP3A (citocromo P450, família 3, subfamília A) e,
assim, têm múltiplas interações medicamentosas. Outros inibidores fortes da CYP3A (p. ex.,
cetoconazol, itraconazol, claritromicina, inibidores da protease retrovirais) devem ser evitados. Os
médicos devem rever os outros fármacos que o paciente está tomando em termos de interações
potencialmente perigosas com os antagonistas do receptor de V2 antes de iniciar o teste
terapêutico.
Hiponatremia crônica
Os pacientes com SIADH precisam tratar a hiponatremia. A restrição de líquidos por si só não
costuma ser suficiente para prevenir a recorrência da hiponatremia. Pode-se usar comprimidos de
sal oral (cloreto de sódio) com ajuste da dose para tratar a hiponatremia crônica leve moderada
desses pacientes.
A ureia oral é um tratamento muito eficaz para a hiponatremia, mas é mal tolerada pelos pacientes
por causas do seu sabor. Uma nova apresentação oral de ureia foi criada para melhorar sua
palatabilidade.
Pontos-chave
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