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RESUMO
No cenário educativo atual exige-se um profissional capaz de reconstruir suas práticas de ensino
com vistas na melhoria da aprendizagem dos alunos. A ação de re-construir não mais ocorre no
agir solitário, é uma prática pedagógica colaborativa entre profissionais de educação que se
estende a instituição de ensino. É uma transformação global. O texto tem natureza teórica e
aborda a supervisão pedagógica centrada na reflexão docente como uma prática diária e
transformadora do ensino aprendizagem. Trata-se da importância da mudança e inovação na
forma de ensinar. Para isto, iniciou-se por abordar conceitos da supervisão pedagógica e, por
conseguinte, são abordados os principais modelos que norteiam esta prática pedagógica, ou seja,
o modelo clínico original e seus derivados. A importância da reflexão docente e colaborativa no
trabalho constante, ou como prefere Alarcão & Canha (2013) “interação colaborativa” para a
melhoria das práticas de ensino.
Abstract
In the current educative scenario is required a professional capable of reconstructing his teaching
practices with a view to improving student learning. The action of rebuilding no longer occurs in
acting alone, it is a collaborative pedagogical practice among education professionals that
extends to the educational institution. It is a global transformation. This text is theoretical in
nature and addresses pedagogical supervision centered on teaching reflection as a daily and
transformative practice of teaching and learning. It is about the importance of change and
innovation in the way of teaching. For this, it started by addressing concepts of pedagogical
supervision and, therefore, the main models that guide this pedagogical practice are addressed,
that is, the original clinical model and its derivatives. The importance of teaching and
collaborative reflection in constant work, or as Alarcão & Canha (2013) prefers “collaborative
interaction” to improve teaching practices.
Key words: Pedagogical supervision, teaching reflection, teaching and learning collaboration.
Introdução
Supervisão significa, literalmente, “um olhar sobre”, ou seja, uma visão global, é um
processo que envolve o trabalho a realizar por outra pessoa, entidade ou organização. “A
supervisão da prática educativa pode ocorrer de diferentes modos, podendo entender-se como
sendo de natureza vertical, horizontal e intrapessoal.” (Alarcão & Roldão, 2008). Os objetos da
supervisão são distintos e envolve pessoas, processos e instituições, cada uma segue objetivos e
modelos diferentes (Gaspar, Seabra e Neves, 2012).
Pode assim ser exercido em dois sentidos: No sentido geral - quando é sinónimo de
inspeção, em que a orientação, a ajuda vem de fora da escola, por intermédio de um inspetor ou
grupo de inspetores, ou de supervisor ou supervisores. No sentido particular - quando é sinónimo
de orientação pedagógica exercida pela própria escola, através do diretor ou supervisor como
elemento integrante da equipa administrativa da escola, isto é, exercida por pessoal da própria
escola (Alves, 2013). Nota-se que o papel da supervisão é perceber e melhorar o que não está
bom. Já a inspeção é fiscalizar se está sendo feito o que é necessário e punir caso não esteja.
Assim, a supervisão moderna se distingue da inspeção por ter uma abordagem positiva (Gaspar,
2019; Matos, 2016, Garcia, 2017).
Conforme a história da supervisão o conceito surge em Portugal após a revolução de 25
de abril d 1974. Em documentos legais sobre as escolas, é mencionado pela primeira vez, através
da Portaria n.º 679/77, de 8 de novembro, associado à supervisão da planificação das visitas de
estudo. A supervisão corresponde à intervenção providenciada por um membro sénior de uma
profissão a um membro júnior da mesma profissão, enquanto para outros a supervisão é uma
função desempenhada por alguém para ela profissionalmente preparado. No geral, a supervisão
pode ser definida como um modo de controlar, superintender ou guiar e estimular atividades de
outros promovendo o seu desenvolvimento. O termo supervisão foi, pela primeira vez,
contemplado na legislação nacional, no nº 1 do artigo 56º, do Decreto-Lei nº 139-A/90, ao
salientar que “a capacitação para o exercício de outras funções educativas adquire-se, nos termos
do disposto no artigo 33º da LBSE, pela frequência com aproveitamento de cursos especializados
realizados em instituições de formação para o efeito competentes” (Mesquita, Sanches e Ribeiro,
2020, p. 306).
São vários os conceitos atribuídos à supervisão pedagógica, sofre mudanças ao longo do
tempo e à medida que a reflexão das Ciências da Educação se foi desenvolvendo e o ensino
superior criou cursos nesta área, esta conceção começou a fazer sentido e a ter alguma
importância (Mosqueira, 2017). No início, a supervisão pedagógica estava limitada a formação
inicial de professores. A primeira utilização do termo em 1974 referia-se “...à actividade dos
professores metodólogos e dos assistentes pedagógicos em equipas de orientação de estágio para
candidatos a professores” (Matos, 2016, p. 24). Neste contexto é entendida como “um processo
em que um profissional, em princípio mais experiente, mais informado e conhecedor dos
segredos da profissão, orienta outro profissional, no seu desenvolvimento profissional e humano”
(Alarcão & Tavares, 2010, cit. por Gaspar et. al, 2012 p. 32).
Assim, entender a supervisão é uma tarefa importante por parte de todos que necessitam
aplicá-la, com relação a isto Stones (1984) é citado por Vieira (2006, p. 13) na tentativa de
demonstrar a importância e complexidade da supervisão:
Estava um dia sentado em frente à máquina de escrever a tomar notas sobre Supervisão,
quando a máquina soluçou e produziu super-visão. De repente percebi do que se tratava. A
qualificação necessária para se ser supervisor era a supervisão. O meu pensamento
prosseguiu uma análise da super-visão. Quais as capacidades que a constituíam?
Naturalmente pareciam estar todas relacionadas com a visão. Em primeiro lugar, alguém
com super-visão teria de possuir uma visão apurada para ver o que acontece na sala de aula.
Depois necessitaria de introvisão para compreender o significado do que lá acontece,
antevisão para ver o que poderia estar a acontecer, rectrovisão para ver o que deveria ter
acontecido mas não aconteceu e segunda-visão para saber como fazer acontecer o que
deveria ter acontecido mas não aconteceu. Como se pode concluir, considero a supervisão
uma actividade bastante complexa.
Portanto, a ação de supervisionar envolve diferentes visões críticas e bem definidas. Estes
diferentes olhares, cada um com propostas traçadas, permitem ao supervisor a capacidade de,
realmente, dectetar as raízes dos problemas e ajudar na solução por meios de ações mediadoras
entre os profissionais. É importante que todos estes profissionais acompanhem as mudanças da
supervisão no cenário atual educativo, bem como conhecer as novas leis, processos e ideias que
visam melhorar o ensino aprendizagem devem ser constantes para os profissionais de educação
(Stones 1984 cit. por Gaspar, Seabra, Neves, 2012).
Alarcão e Canha (2013) nos convida a pensar na supervisão pedagógica como um
processo no qual participam as dimensões cognitiva e relacional. Estas duas dimensões
trabalham para o sucesso do desenvolvimento institucional e profissional. Para além disso, a
supervisão pedagógica fornece suporte e orientação aos professores através de uma educadora
mais experiente e especializada para fazer a sua aprendizagem profissional. A relação
interpessoal entre o supervisor e o professor principiante deve ser estabelecida com base na
confiança, na cooperação, na empatia, no diálogo e na comunicação. Outra definição da
supervisão pedagógica “como apoio à formação, tendo da formação uma conceção integradora
de várias dimensões: o currículo, o processo de ensino aprendizagem, a sala de atividades e a
escola, a sociedade e a cultura (Correia & Seabra, 2017)”. São dimensões pertencentes a
comunidade aprendente, apresenta uma visão macro e que estão interligadas no processo de
formação e desenvolvimento profissional, institucional e social.
Na visão de Moreira (2015), a supervisão pedagógica é a “teoria e prática de regulação
crítica e colaborativa dos processos de ensino-aprendizagem e de desenvolvimento profissional
em contexto educativo formal, assente numa visão da educação como espaço de transformação
dos sujeitos e contextos” (p. 54). Nesta vertente, supervisão deve assumir-se como um
acompanhamento contextualizado de atividades realizadas por pessoas e instituições em
desenvolvimento, com uma intencionalidade orientadora, formativa e transformadora.
Uma das principais funções da ação da supervisão é indagar e melhorar a qualidade
educativa aliando a vertente supervisiva e a pedagógica, é uma preocupação constante em
diferentes tempos e contextos, “mas a sua evolução revela facetas variadas” (Correia, 2017, p. 1).
Cada área a supervisão terá objetivos e funções diferenciadas adequadas ao contexto ao qual está
inserida. Vale ressaltar algumas finalidades associadas a supervisão pedagógica, como o
desenvolvimento profissional de todos professores; a análise e solução, colaborativamente, de
possíveis dificuldades encontradas; a prática de resolução de problemas mais específica e menos
hierarquizada; a eleição de as práticas reflexivas, que promovem a autonomia dos docentes; a
promoção de uma liderança com visão; e o desenvolvimento de programas de supervisão que
visam a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. Todas estas vantagens fazem parte do
processo supervisivo (Matos, 2016).
O estilo não diretivo é o considerado mais adequado por Alarcão & Roldão (2008). Neste,
o supervisor terá como principais funções: prestar atenção, clarificar, encorajar, preparar para a
atuação em situações complexas, a exigir adaptabilidade; a observação crítica; a problematização
e a pesquisa; o diálogo; a experiência de diferentes papéis; o relacionamento plural e
multifacetado; o autoconhecimento relativo a saberes e a práticas. Por isso, a educação, no
pensar de Pedras e Seabra (2016), “ ...exige uma supervisão focalizada em apoiar, organizar e
ajustar metodologias e estratégias de ensino, cabendo ao supervisor o papel de orientar e ao
professor, o papel de instruir-se e ajustar as suas práticas letivas às necessidades educativas com
que se depara diariamente” (p.1).
3 Cenário reflexivo
“A supervisão pedagógica insere-se atualmente, sem dúvida, num novo paradigma da ação
profissional docente, assente na premissa de que os professores necessitam de refletir sobre
as suas conceções relativamente ao trabalho que desenvolvem, bem como sobre os efeitos da
sua ação na aprendizagem dos alunos e o funcionamento da organização escolar em que
operam” (Silva, 2015, p. 10).
Conclusão
Este estudo teve como finalidade refletir o tema da supervisão com abordagem reflexiva e
colaborativa como mudança positiva na melhora do ensino e aprendizagem. Assim, foi
fundamental destacar, numa primeira instância, a importância da supervisão no contexto escolar.
Notou-se nas palavras de Alarcão e Roldão (2010), a supervisão com o olhar focado na ação
humana, e com o passar do tempo diversificou seus campos de estudo e as áreas de
implementação e investigação. Está evidente que o objetivo primordial da supervisão pedagógica
é a melhoria do ensino e aprendizagem. Assim, a qualidade do ensino ocorre quando o professor
sofre mudanças na ação intelectual e social. São mudanças constantes e transformadoras do ser
humano e do meio social.
Tal visão permite afirmar que a supervisão é um choque de realidade, é o despertar de si
mesmo, dos seus atos, práticas e resultados, por isso a supervisão reflexiva é vista de forma
positiva pelos estudiosos da área, trata-se de uma mudança diária das estratégias de ensino, e,
neste processo envolve não apenas alunos, mas a escola e o que dela faz parte. Deste modo, o
professor não deve mais pensar apenas na sala de aula, o contexto é macro, todos devem integrar
esse novo cenário, escola e sociedade (Pedras e Seabra, 2016).
Na verdade, no cenário atual, instigar e promover a supervisão reflexiva docente dentro
das escolas deve fazer parte do cotidiano das escolas. Em suma, considera-se a prática reflexiva
necessária para a compreensão das práticas pedagógicas e as pesquisam apontam para a real
necessidade de trabalho em grupo e partilha entre professores, tem um impacto positivo muito
forte no desenvolvimento destes profissionais e, principalmente, ensino aprendizagem dos
alunos. Finalmente, o resultado final almejado pelo ato supervisivo é desenvolver em cada
docente bem como a instituição o verdadeiro espírito de profissionais reflexivos, colaborativos e
comprometidos com a qualidade ensino e da educação, a bem dos alunos e da sociedade.
Referências bibliográficas