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2 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

O QUE
VOCÊ VAI ENCONTRAR
POR AQUI?
É bem possível que você já tenha ouvido falar sobre a ciência
dos quatro temperamentos. Eles constituem uma ferramenta
de autoconhecimento muito poderosa, apta a resolver a
grande maioria dos problemas de relacionamento que as
pessoas enfrentam com os amigos, no trabalho e, na maior
parte das vezes, até com a própria família.

Seja este seu primeiro contato com o assunto, seja o milésimo,


aprender sobre os quatro temperamentos humanos nunca é
demais.

O e-book que você está prestes a ler foi pensado com esmero
para te fazer compreender o sanguíneo, o fleumático, o
melancólico e o colérico de maneira decisiva, mas também
sucinta e reconhecível no seu dia-a-dia. Não apenas isso:
você entenderá melhor a relação entre esses temperamentos
e os vícios que você, eu, e o resto do mundo carregamos.

E, é claro, ao final do e-book, você vai ver também o antídoto


para cada um desses venenos que existem dentro de nós.

Vamos lá?

Coloque o celular no silencioso por 15 minutos, e...

Boa leitura!
POR QUE CONHECER OS TEMPERAMENTOS? 3

CONHECER OS
POR QUE
TEMPERAMENTOS?
Os temperamentos constituem um assunto que merece
tratamento especial, por se tratar de uma ferramenta
simples e poderosíssima para quem realmente a
compreende e a aplica no dia-a-dia. Muita gente
já compreendeu e está vendo os resultados que isso
gera nos seus relacionamentos interpessoais e no seu
próprio conhecimento individual. A coisa é realmente
muito poderosa.

Quando você conhece a ferramenta


dos quatro temperamentos e a
coloca em prática, a sua vida fica
muito mais fácil.
Uma série de problemas de relacionamento entre
marido e mulher, pais e filhos, líderes e liderados,
entre outros, simplesmente evapora. Eu sei que isso
é uma afirmação forte.

Você pode estar pensando assim: “Mas se a pessoa


não quiser resolver o problema ela não resolve, se ela
não quiser melhorar ela não melhora” . E eu concordo
plenamente com você: ninguém pode melhorar
contra a própria vontade. Mas mesmo a vontade sem
os meios de realizá-la gera problemas — o caminho
vai ser mais difícil, e o risco de desânimo é bem maior.
4 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

Eu posso ter a maior vontade do mundo de pregar um


prego na tábua, porém ter um martelo vai tornar tudo
mais fácil. Então não basta ter a maior boa vontade
do mundo para com minha esposa ou com meu chefe,
por exemplo, se a qualquer momento eu posso me
indignar quando eles agirem deste ou daquele jeito,
como se vivessem em um mundo diferente do meu.
Isso acontece porque falta a ferramenta.
POR QUE CONHECER OS TEMPERAMENTOS? 5

Ora, se você tiver uma ferramenta que o ajuda


a compreender os tipos humanos de uma
forma simples e eficaz, a sua vida será muito
mais fácil e feliz. Você vai aprender aqui
essa ferramenta.

Aqui, você vai começar


a caminhar no assunto.
Você vai descobrir quais
são os temperamentos,
quais as suas
características e
algumas orientações
valiosas sobre como
se relacionar com
cada um deles.

Você vai sair daqui


com uma parte
da ferramenta
dos quatro
temperamentos.
6 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

Claro, você também terá a oportunidade de dar passos


mais largos no caminho do seu amadurecimento. Porém,
esse avanço só seria possível dentro de uma plataforma
especializada nesse assunto.

E é justamente isso que o Guerrilha Way faz.

Ele traz um Caderno de ativação a cada semana,


com uma leitura simples e exercícios práticos e de fácil
execução. Sem contar nas aulas mensais sobre os mais
diversos temas relacionados à construção de uma
personalidade forte e madura.

Se você quiser saber mais sobre o GW é só clicar neste


botão.
POR QUE CONHECER OS TEMPERAMENTOS? 7

“Continuando...“

Apesar de ser quase tão antigo quanto a filosofia,


os temperamentos são um assunto com escassas
referências bibliográficas. Há poucos livros, poucos
tratados que falam especificamente sobre o tema. Por
isso, vou começar fazendo uma pequena introdução,
já bastante prática. São quatro os temperamentos.

Por que quatro? Por que não são oito ou doze?

Na verdade, os temperamentos podem ser quantos


você quiser, assim como as direções do espaço. De
onde você está, você pode se mover um pouquinho
mais para a esquerda, um pouquinho mais para a
direita, um pouquinho para frente ou para trás.

Existem referenciais muito claros: norte, sul, leste e


oeste. Uma vez que eu tenha conhecimento desses
referenciais, eu posso pegar 20° ao sul e ao leste e
seguir meu caminho. A ciência dos temperamentos
funciona mais ou menos assim também. Os quatro
temperamentos são como que quatro balizas por
meio das quais conseguimos nos orientar muito melhor
tanto no caminho do autoconhecimento quanto no
aperfeiçoamento do trato com as pessoas do nosso
convívio.

Mesmo se você já tiver lido os livros ou tiver assistido


aos cursos, ainda podem ter restado dúvidas quanto
à constatação do próprio temperamento ou do
temperamento de alguém que você conhece. Talvez
você já saiba qual é o seu temperamento, mas
gostaria de saber qual o do seu filho ou do seu colega
de trabalho.
8 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

Vamos clarear as coisas.

Poderíamos aprofundar o assunto tanto quanto


quiséssemos, explorando o conteúdo simbólico dos
quatro temperamentos, mas o nosso objetivo aqui é
tornar isso tudo muito prático, fazendo dessa ciência
tradicional uma ferramenta concreta, para ser usada
hoje mesmo.

Portanto, esta não é um daqueles conteúdos


profundos, pesados. Vamos fazer uma coisa um
pouco mais prática e divertida.
ENTENDENDO A FERRAMENTA 9

ENTENDENDO a
FERRAMENTA
10 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

Vamos começar imaginando duas dimensões.

Uma é o domínio da velocidade de reação — se


somos rápidos, explosivos ou lentos. A outra é o
domínio do tempo de permanência das coisas que
os outros nos falam ou fazem conosco, do impacto
que sofremos — se ficamos remoendo, às vezes por
semanas ou por anos, tentando achar motivos,
conceitos e explicações, ou pelo contrário, se somos
afetados por uma alegria, tristeza ou desesperança
sem que essas coisas se prolonguem.

Quem tem filho ou convive com criança


sabe muito bem que é assim. Existe
criança que leva uma bronca e fica
amuada, enquanto outras até ficam
tristonhas e choram, mas em pouco
tempo agem como se nada tivesse
acontecido. Não conseguimos
perceber que é mais ou menos assim
que funciona, que todo mundo é mais
ou menos assim? Já começamos a
fazer a nossa categorização dos
temperamentos. De um lado,
reações rápidas ou reações
lentas; do outro, impressões
do mundo que me afetam
duradouramente ou
reações e impressões
mais fugazes e mais
superficiais.
ENTENDENDO A FERRAMENTA 11

Se você reage mais prontamente, se você explode de


modo mais fácil, se você costuma tomar a dianteira
ou ser o primeiro a falar, temos alguns indicativos de
que você está no pólo superior, sendo provavelmente
sangü.neo ou colérico. Se você é uma pessoa que
percebe o que está acontecendo em volta sem que
isso o afete instantaneamente, temos um indicativo
agora de que você está no pólo inferior, sendo
provavelmente melancólico ou fleumático. Muita
gente acha que eu sou colérico, porque me viu
xingando um ou outro na internet. Mas eu garanto
para vocês que esses xingamentos são calculados.
Depois que as coisas chegam até mim, ainda demora
um tempo até que eu reaja a elas. Por isso, eu tenho
um temperamento que está para baixo nesse vetor.
O meu temperamento é fleumático.

Além disso, você pode ter uma reação interior mais


superficial, com menos duração, ou você pode ter
uma reação interior com mais duração. No primeiro
caso, você é sangüíneo ou fleumático; no segundo,
você é colérico ou melancólico. É assim que fazemos a
distribuição. Quem reage rapidamente, mas de modo
superficial, é sangüíneo. Quem reage rapidamente,
e de modo duradouro, é colérico. Quem é lento e
superficial nas reações, fleumático. Quem é lento e
profundo, melancólico.
12 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

Essas categorias já nos são muito úteis, esclarecendo


grande parte dos problemas em relação ao
temperamento. Há muita serventia em saber qual é
o seu temperamento ou o da pessoa com quem você
convive. Desde logo, porque o temperamento não
passa pela nossa vontade. Muitas características
que de algum modo nos constituem não passam
pela nossa vontade, como a nossa altura ou a nossa
língua nativa.
ENTENDENDO A FERRAMENTA 13

À minha altura eu não consigo


acrescentar um centímetro, mas
eu posso, pela minha vontade,
me tornar mais ágil,
14 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

eu posso criar mecanismos, por assim dizer,


compensatórios. Da mesma forma, eu posso aprender
outros idiomas além da minha língua nativa. Portanto,
nascemos com algumas características, todavia
a elas podemos acrescentar mais qualidade. O
temperamento é muito semelhante a isso tudo.

Eu nasço com um temperamento, mas ele não pode


ser justificativa para nossa falta de educação, nossa
falta de compromisso ou nossos desvios morais. Se
há alguma predominância natural de certos vícios em
relação aos temperamentos, isso não pode ser usado
como desculpa. É importante saber que certas coisas
não vão mudar. E não é que seja bom nem mau — há
um monte de coisa na vida que é indiferente. A nossa
consciência reta aprova o bom, rejeita o mau e permite
o indiferente. Se você conhece o temperamento do
outro, você percebe que muita coisa que ele faz não
é por maldade, não é para implicar com você.

Por exemplo, pode ser que eu conviva com alguém


do trabalho que seja um pouco mais lento que
eu na proposição de temas e na proposição de
soluções. Isso não significa que a pessoa não está
se importando com a empresa. Você tem de reparar
em outros domínios da vida dela: se ela age assim
no trabalho e também na família, você começa a
perceber que aquilo não é nada pessoal, é apenas
um modo de funcionar dessa pessoa. Por outro lado,
você pode notar que, quando ela toma uma coisa
para si, quando ela pega uma coisa mesmo para
fazer, ninguém a segura, ela vai mais fundo que você.
Estamos aqui vendo a relação de um sangüíneo
com um melancólico, ou seja, a relação de alguém
ENTENDENDO A FERRAMENTA 15

que reage rapidamente, mas sem persistência na


proposição daquela tarefa, com alguém que, apesar
de reagir de modo mais lento, quando assume a
tarefa como sua, vai até o fim.

Esse olhar melhora a


nossa relação com as
outras pessoas.
Com ele, passamos a julgar menos e nos tornamos
imediatamente mais pacientes. A paciência é fruto
do amor, e para amar precisamos conhecer. Por
isso, costumo chamar a ciência dos temperamentos
de ciência do Amor, porque ela trata da base do
amor, não um amor elevado, alto, mas um amor de
início: você começa a amar mesmo os defeitos do
outro, porque várias coisas que denominamos como
defeitos são apenas características. Assim, é natural
que a paciência comece a aparecer dentro de você,
pois você passa a conhecer melhor o seu filho, o seu
marido, a sua esposa. Então, se um deles é sangü.
neo não é que ele não persista nas coisas por má
vontade ou por falta de compromisso, essa é uma
coisa contra a qual ele terá de lutar sempre. Assim
como o fleumático vai lutar sempre para reagir de
modo mais rápido às decisões da vida que exigem
mais agilidade e mais presteza.
16 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

Não entenda isso como o assentimento de uma


fatalidade, de algo impossível de mudar.

Entender o temperamento
de alguém é entender o seu
ponto de partida, e não
o seu destino.
Conhecendo os temperamentos, aprendemos a
respeitar melhor a liberdade do outro. E a liberdade
é a capacidade de escolher o melhor, a capacidade
de escolher o bem, de modo que respeitar a liberdade
do outro é se colocar como um guia gentil e dócil a
fim de acompanhá-lo pelo melhor caminho. Esse é
o mecanismo do Amor. Então, quando eu falo que
alguém é colérico, eu não estou simplesmente o
deixando solto à sua ira ou ao seu gênio explosivo,
eu estou me colocando à disposição para ajudá-
lo a se desenvolver, a controlar os impulsos. Essa é
a essência do amor. Os temperamentos são a mais
simples ferramenta de compreensão do outro, sem a
qual fica muito difícil sabermos o que é ser gente.
CAPÍTULO 17

Antes de te mostrar concretamente como


cada temperamento deve lidar com esses
vícios, quero te dizer mais uma coisa…

Quando te falei sobre o Guerrilha Way você pode ter


pesado:

— “Eu mal consigo terminar de ler esse e-book que eu


estou lendo. Eu jamais vou conseguir acompanhar um
desse toda semana.”

Calma! Com minha experiência de anos no consultório


psiquiátrico, eu levei em consideração a condição atual
de vida de todo mundo — e, tendo atendido de mães de
família a CEO’s de grandes empresas, sei que ninguém
tem tempo a perder.

Então, você não receberá uma ferramenta que vai


demandar 40 minutos do seu dia para executar. E sim
uma na qual você vai passar o olho e, como uma semente,
aquilo vai começar a brotar dentro de você.

E você vai começar a notar que haverá uma transmutação


benéfica na sua alma.

Mas, claro, também não é mágica. Você receberá esse


material toda segunda-feira, mas precisa olhar para ele.
Se não, não adianta. O seu esforço será necessário, mas
é o mínimo.

Toque aqui em baixo e aproveite o GW por uma condição


especial para você que está neste e-book
OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO
18

VÍCIOS VS.
TEMPERAMENTOS
VÍCIOS VS. TEMPERAMENTOS 19

A partir de agora vamos aprofundar


um pouco mais o tema.

Ninguém é ruim
de um modo
totalmente inovador.
20 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

Desde Adão, ninguém


inventa uma maldade
completamente original,

todos cometemos
os mesmos erros.
VÍCIOS VS. TEMPERAMENTOS 21

E, além da diferença de escala de uma pessoa para


outra, alguns tendem a manifestar mais um vício do
que outro. Talvez vocês já tenham ouvido falar dos
sete pecados capitais. Na simbólica, sempre que
deparamos com uma ordem de sete elementos, o
que se encontra no centro e o que se encontra no
fim são os pontos mais importantes, como se fossem
combustíveis que alimentam todos os outros. Dito
de outro modo, o quarto e o sétimo vício têm uma
prevalência em todos nós. Todos temos o quarto e
o sétimo vício, de modo que, se um deles está muito
alto, os outros vícios também estarão. Mas ainda
sobraram cinco vícios. E aqui entra a ferramenta dos
temperamentos. O sangüíneo tem mais facilidade ou
mais tendência a ter os dois primeiros vícios, que estão
agrupados aqui por serem muito parecidos entre si. O
fleumático tem uma tendência a ter mais o terceiro
vício; o colérico a ter mais o quinto; o melancólico a
ter mais o sexto. Agora vamos dar nome às coisas.

Quais são os 7 vícios?


22 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

O primeiro vício chama-se

luxúria
e consiste em ceder muito
rapidamente à sensibilidade
do mundo, ao brilho, ao gosto,
ao cheiro das coisas.
VÍCIOS VS. TEMPERAMENTOS 23

O segundo, que de certo modo é muito semelhante


ao primeiro, é a gula, que é colocar para dentro mais
do que cabe — como eu estou achando o
mundo muito legal, eu estou colocando
o mundo para dentro, eu já estou
me confundindo com ele. Luxúria
e gula são, portanto, vícios com os
quais o sangüíneo precisa tomar muito
cuidado. Em geral, o sangüíneo tem
dificuldade de progredir na vida, seja profissional,
familiar ou espiritualmente, porque ele é muito
disperso com as coisas do mundo.

Se o seu filho é sangüíneo e não está progredindo


na escola, por exemplo, você pode perceber que a
sua capacidade de concentração, de se manter
em uma atividade, varia muito em função da fome
que está sentindo, da roupa que está usando, do
barulho do ambiente etc. Ele distrai-se mais com
essas coisas porque ele se confunde mais com o
mundo exterior. Sabendo disso, podemos aplicar
alguns remédios comportamentais para ordenar esse
temperamento e tentar diminuir as dificuldades e os
vícios provenientes dele, ao mesmo tempo em que
aprimoramos aquilo que lhe é forte. O sangüíneo é
alegre, divertido porque ele é amigo do mundo — o
mundo para ele não é estranho. Estar no mundo para o
sangüíneo não é uma dificuldade. Assim, o sangüíneo
vai ter facilidade de resolver problemas materiais: se
quebrou, conserta; se perdeu, acha. Essa afinidade
do mundo enquanto dados do sensível, no entanto,
pode torná-los muito sensuais e gulosos.
24 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

O terceiro vício é a avareza, e o temperamento


fleumático é o mais sensível a ele. Por reagir de
modo mais lento e não ter a capacidade
natural de fazer com que as
impressões permaneçam nele,
é como se o mundo para o
fleumático entrasse e logo
saísse. Ele é como a água.
Se você joga um objeto na
água e tira em seguida, esse
objeto não vai deixar nenhuma
marca de que esteve ali. A água
não tem a capacidade de reter
o que o mundo deu para ela. O
fleumático tem uma tendência
maior à avareza porque, como o
mundo não o impacta e lhe deixa marcas, as
coisas para ele evaporam e somem. Por isso,
quando ganha algo ele não vai querer largar
aquilo nunca mais. Ele vai se apegar àquilo que
não sumiu de uma vez. E é propriamente a isto
que o vício da avareza se refere: o sujeito adquire
o medo de perder as coisas. Ao contrário do que
muitos imaginam, não é a preguiça o maior vício
do fleumático. A preguiça está presente para todos,
ela é como um sol maligno que aquece os outros
vícios. Quanto mais preguiçoso um sujeito é,
mais longe ele está da perfeição da conduta,
da perfeição do amor. Amar pede esforço. Amar
é servir aos outros. O amor exige prontidão e
presteza. The readiness is all, diria Shakespeare.
VÍCIOS VS. TEMPERAMENTOS 25

O quinto vício é a ira, cuja suscetibilidade é mais


comum ao temperamento colérico. A ira vem da
tentação de querer atacar primeiro antes de ser
atacado, porque, se eu não reagir de imediato ao
mundo, ele me marca antes. O símbolo do colérico é
o fogo. E o fogo tende a se espalhar, a consumir tudo
o que está em volta. Da mesma forma, um colérico
que não estiver atento às suas tendências pode
se tornar uma pessoa descontrolada. Não é que o
colérico seja uma pessoa ruim. Ninguém é bom ou
mau por conta do temperamento, e sim por conta das
escolhas que faz na vida, por conta das decisões que
toma diante das circunstâncias. O que pretendemos
aqui é dar algumas pistas. Muita gente me pergunta
sobre defeito dominante. Se você conhece o seu
temperamento, então provavelmente você já tem
uma pista de qual seria o seu defeito dominante. Você
já sabe que em todos nós predominam a preguiça e
a soberba, o quarto e o sétimo vício. Disse o místico
que a soberba só vai embora 48 horas depois que
morremos. Ou seja, até no último segundo da nossa
vida, na cama do hospital, estamos sujeitos a agir
com soberba, talvez simulando alguma nobreza ou
piedade diante das testemunhas.
26 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

O sexto vício, que é mais


natural ao melancólico, é a

inveja.
Para que uma inveja seja verdadeira, é necessária
a observação. Você precisa ter uma capacidade
de observar uma diferença específica entre a sua
conduta e a conduta do outro, entre os seus bens e
os bens do outro. Uma pessoa distraída não vai ter
uma tendência tão grande à inveja porque ela não
repara muito nessas coisas. Podemos notar que nos
sangü.neos, por exemplo, a inveja aparece de um
modo muito superficial. Isso acontece porque ter
inveja requer uma certa atenção da diferença entre
a sua virtude moral e a virtude moral do outro. Se
você notou que não é uma pessoa tão engraçada
quanto aquele outro sujeito, que é a alma da festa, e
se essa impressão ficou guardada dentro de si, então
aí temos um cenário propício para o surgimento da
inveja. O movimento interior foi o seguinte: a pessoa
captou uma impressão sobre si que ela tirou do
mundo lá fora, guardou-a e começou a conversar
interiormente com outras impressões já acumuladas.
Nesse sentido, a inveja pode ter como objeto tanto
os bens intrínsecos, como a inteligência ou a alegria
alheias, quanto os bens extrínsecos, como o dinheiro.
O melancólico tende a prestar mais atenção aos
bens intrínsecos.
VÍCIOS VS. TEMPERAMENTOS 27

COMBATENDO o
BOM
COMBATE
28 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

Lembrando que, independentemente do


temperamento, todos nós estamos sujeitos aos
sete vícios. E o que estamos mostrando aqui é uma
tendência maior de um temperamento com este ou
aquele vício.

Dito isso, vamos apresentar a partir de agora


alguns passos concretos para melhorar as nossas
tendências. Então, se eu sou sangüíneo, eu tenho de
vencer a sensualidade, ou seja, eu tenho de vencer o
apelo ao chamado do mundo e à inconstância.

Por que o sangüíneo é inconstante?

Porque ele está a todo momento suscetível às


impressões do mundo, que mudam a cada instante.

O que é o mundo? A sua casa? Mas a sua casa é


diferente da casa da sua mãe, que por sua vez é
diferente da faculdade, do escritório e da igreja.

Se você for uma pessoa inconstante,


você não vai muito longe,
não só no sentido profissional, de juntar dinheiro,
mas também não vai muito longe no propósito de
melhorar interiormente, de amar mais, de servir mais,
de ser uma pessoa digna, correndo o risco de não
saber, na hora da morte, se foi você quem viveu a
sua vida ou se foi o mundo.

O remédio para isso é uma técnica chamada plano


de vida e outra chamada exame de consciência.
Quer dizer que só o sangüíneo precisa fazer isso? Não.
Todos precisamos, mas o sangüíneo, particularmente,
COMBATENDO O BOM COMBATE 29

precisa abraçar isso como se fosse a última tábua de


salvação e sua vida dependesse desse negócio.

O plano de vida são normas que vão colocar ordem


no seu dia. Se o colérico e o melancólico intuem
melhor o andamento de uma rotina, o sangüíneo vai
precisar se esforçar mais para adquirir esse senso. O
sangüíneo vai precisar ter a grade de horários colada
em cima da escrivaninha, na tela do computador, no
porta-luvas do carro e no armário do banheiro para
ele visualizar repetidas vezes como que vai ser o seu
dia. Se fizer isso por cinco anos, ele vai notar a sua
progressão. E é importante fazer isso sem perder a
alegria. Não adianta desfazer-se de um defeito se
você perder uma qualidade. A alegria, o sorriso no
rosto, a boa disposição, o olhar para o outro são
sinais de que você está no caminho certo.

E esse plano de vida deve contemplar sobretudo


as suas práticas espirituais. Isso não é conversa de
religioso. Ter práticas espirituais é manter contato
com a beleza, com a justiça, manter uma relação com
Deus. O sangüíneo precisa ter atividades espirituais
bem marcadas no seu dia, porque ele é um sujeito
afeito naturalmente às coisas do mundo, e não às
coisas do espírito. E uma questão que o sangüíneo
tem de se colocar é se as atividades que ele toma
por espirituais, como ir ao culto ou à missa, são feitas
visando a sua relação de intimidade com o próprio
Deus ou se são feitas apenas para se sentir bem. Se o
objetivo delas é você se sentir bem, se sentir mais em
paz, isso ainda não é exatamente vida espiritual, isso
é a vida do bem-estar, que são coisas bem distintas.
30 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

Portanto, a primeira
preocupação do
plano de vida é
estipular meios de
você manter o contato
constante com a beleza,
com as boas leituras,
com a oração, com a
esmola e com o jejum.
COMBATENDO O BOM COMBATE 31

Você pode estabelecer metas como “uma vez por


semana eu vou jejuar”, “duas vezes por dia eu vou
rezar”, “duas vezes por dia vou fazer a leitura de
algum livro cujo tema trata de coisas superiores,
transcendentais”, e assim por diante.

É muito importante, para o sangüíneo, que essas


coisas estejam muito bem definidas. Depois disso,
vêm outros afazeres, como ligar para a avó que mora
sozinha de tanto em tanto tempo, o horário de usar o
computador etc. É importantíssimo que o sangüíneo
organize uma agenda clara para adquirir firmeza e
vencer a inconstância.

Já o fleumático tem uma tendência


à passividade.
Também não é difícil notar que uma pessoa passiva
não tende a ir muito longe. É fácil para o fleumático
ser empurrado pela vontade dos outros, e é isso que
ele tem de vencer. Lembram que falamos da água? Se
você colocar um limão em um copo d’água e retirá-lo
em seguida, como já dissemos, a água não vai ficar
marcada pelo limão, porém, se o deixarmos ali por
um bom tempo, a água do copo vai ficar flavorizada.

Então, o fleumático é um sujeito que tem de estar


em contato com grandes ideais por muito tempo. As
grandes convicções transformam a sua naturalidade
e transformam não só a natureza mas a reação dessa
natureza. Perceba que a água pode ser líquida, gasosa
ou um bloco de gelo. Ela pode ser uma pequena poça
na calçada, mas também pode ser um tsunami, que
destrói cidades.
32 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

O fleumático é um sujeito que precisa de fato


estar colado a grandes convicções, um sujeito que
precisa rever as suas motivações com freqüência, e
aprofundar nelas, estudando e conhecendo gente
que faz a mesma coisa que ele pretende fazer. Isso
vai deixar um sabor dentro dele. E não adianta o
fleumático ter pressa, porque o mundo não lhe deixa
uma marca permanente e porque ele demora para
reagir. Ele vai precisar de calma para fundamentar
os motivos das suas esperanças e convicções.
Sendo assim, o fleumático, mais do que os de outros
temperamentos, precisa ter contato com os livros e
com as grandes personalidades. Esse é o remédio
para a sua passividade.
COMBATENDO O BOM COMBATE 33

O melancólico, por sua


vez, tem certa inclinação
para a desesperança, que
o impede de prosseguir.
34 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

As pessoas com tal temperamento são mais dadas


à introspecção, as coisas dentro delas ressoam por
mais tempo. Diferentemente como acontece com
o fleumático, o mundo deixa muitas impressões no
melancólico. E o mundo muda muito e nos contraria
muitas vezes. Com isso, nós podemos começar
a achar que ele é mau. A desesperança faz com
que desistamos das coisas. Para combater essa
tendência, o melancólico precisa ter um contraponto,
uma oposição a essa inclinação natural, que aparece
dentro dele, por meio da observação da bondade
no mundo. O melancólico tem de querer se informar
das coisas boas que existem no mundo, porque são
muitas.

A primeira coisa boa


é a própria criação.
Deus criou o mundo porque quis e viu que o mundo
era bom. Depois, as personalidades boas que passam
por este mundo, e deixam a sua marca, deixam o
seu rastro de amor, que apaga aquelas marcas de
ódio e de desesperança. O melancólico precisa olhar
para isso querendo amar. Um bom exercício para um
melancólico fazer é listar as coisas boas com as quais
ele depara no dia-a-dia, e assim vai vencendo essa
desesperança.

Ainda falta o temperamento colérico. A sua má


inclinação é a auto-suficiência.

Seu erro é acreditar que só ele basta, que ele não


precisa de mais ninguém.
COMBATENDO O BOM COMBATE 35

Para derrubar essa idéia, vou dar o seguinte exemplo


trivial e prosaico. Eu não conseguiria dar esta aula se
não fosse toda a equipe, se não fosse a pessoa que
fez roupa que estou usando, se não fosse a tecnologia
ao meu dispor, e só para citar alguns exemplos.

Ninguém é
auto-suficiente.
Você não é a última bolacha do pacote, meu filho,
nem a primeira. O colérico tem de duvidar muito dos
seus primeiros impulsos. Esse é o grande alarme que
precisa estar na sua cabeça. Ele precisa duvidar das
suas primeiras idéias e dos seus primeiros impulsos
porque, em geral, o colérico vai ter uma tendência
a crer que a primeira idéia que passar pela sua
cabeça já é boa o suficiente, à qual todos os outros
devem se curvar. Outra coisa que o colérico precisa
aprender a fazer é não atropelar os outros nas
conversas. Atropelar alguém na conversa é não deixar
o outro concluir a sua fala, o seu raciocínio. Isso é um
termômetro de que você acha que é a origem e o fim
de tudo, de que você é auto-suficiente. Essa auto-
suficiência não deixa você enxergar as falhas que
impedem o seu progresso pessoal. O exercício para
o colérico controlar essa tentação de achar que é
auto-suficiente é falar menos e prestar mais atenção
nos outros.
36 OS 4 TEMPERAMENTOS: A BÚSSOLA DO AUTOCONHECIMENTO

CHEGAMOS
AO FINAL
A idéia foi demonstrar a relação entre
os vícios e os temperamentos e também
apresentar alguns remédios muito práticos
para controlarmos as más inclinações
do nosso temperamento. Espero que o
conteúdo tenha sido útil e que tenha um
grande efeito no relacionamento com sua
família, na sua vida profissional e na sua
relação de intimidade com Deus.

MAS AINDA TEM UMA


ÚLTIMA COISA.
Lembra quando eu te falei sobre
dar passos longos no caminho do
seu amadurecimento lá no início?

Você já sabe que o Guerrilha Way


é a melhor forma de te ajudar nisso.
Mas para você que chegou até
aqui, tenho um presente especial…
A MARAVILHA DO COTIDIANO 37

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