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Guilherme de Ockham

n. 1280 (ou 1288), Ockham (povoado de Surrey, na Grã-Bretanha)


m. 1347 (ou 1349), Munique (Alemanha)

Guilherme de Ockham (ou Occam), frade franciscano e filósofo escolástico inglês,


nasceu em 1280 (ou 1288), em Ockham, um pequeno povoado de Surrey, perto de East
Horsley, na Grã-Bretanha, e faleceu em 9 de abril de 1347 (ou 1349), em Munique, na
Alemanha, atacado pela peste negra.

Ockham entrou para a Ordem Franciscana ainda muito jovem e foi educado em
Londres, passando, mais tarde, para Oxford. Não completou seus estudos em Oxford,
mas foi durante esse período e nos anos seguintes que escreveu a maioria de suas obras
filosóficas e teológicas.

Suas idéias se converteram rapidamente em objeto de controvérsia. Costuma-se afirmar


que o filósofo teria sido convocado a Avignon (sede temporária do papado), no ano de
1324, pelo papa João 22. Acusado de heresia, Ockham teria passado quatro anos ali,
submetido a uma prisão domiciliar, enquanto seus escritos eram analisados.

Nos últimos anos, contudo, alguns pesquisadores questionam essas informações.


Segundo eles, Ockham deve ter sido enviado a Avignon em 1324, mas para ensinar
filosofia na famosa escola franciscana que havia nessa cidade. Ali, ganhou inimigos
entre os rivais de vida acadêmica, especialmente os seguidores de são Tomás de Aquino
(que havia sido canonizado por João 22 um ano antes da chegada de Ockham), alguns
dos quais acusaram o filósofo inglês de ensinar heresias. Ockham teria sido convocado
pelo papa não antes de 1327, mas o processo parece não ter prosseguido.

Algum tempo depois, possivelmente no ano seguinte, depois de estudar a controvérsia


entre o papado e os franciscanos sobre a doutrina da pobreza apostólica, um tema caro
aos adeptos de são Francisco de Assis, Ockham concluiu que o papa João 22 era um
herético, posição que defendeu em sua obra.

Ockham e outros frades franciscanos fugiram de Avignon em 26 de maio de 1328,


dirigindo-se a Pisa, na Itália, e conseguiram a proteção do imperador Luís 4º, da
Baviera. Depois de sua fuga, Ockham foi excomungado, mas sua filosofia nunca foi
oficialmente condenada. Ele passou o resto de sua vida escrevendo e se converteu no
líder de um pequeno grupo de franciscanos dissidentes.

Separação entre fé e razão

Guilherme de Ockham é o último grande nome da filosofia medieval e o primeiro


filósofo que encarna o que se poderia chamar de "espírito do século 14".

Levando o pensamento de Duns Scotus às últimas conseqüências, Ockham acentua a


separação entre a filosofia e a teologia, entre a razão e a fé, no momento em que se
anunciam as primeiras descobertas da ciência moderna.

Para Ockham, demonstrar uma proposição é mostrar sua evidência ou deduzi-la


rigorosamente de outra evidente. A essa exigente concepção de prova, acrescenta-se o
senso muito vivo do concreto, que faz do ockhamismo um empirismo radical.

Na opinião de Ockham, o conhecimento abstrato refere-se às relações entre as idéias,


sem nada garantir sobre sua conformidade com o real. Quanto ao conhecimento
intuitivo, este dá a evidência imediata, assegurando a verdade e a realidade das
proposições. Só a intuição prova a existência das coisas, ponto de partida do
conhecimento experimental, que, generalizando o particular, chega ao universal, à lei. É
a experiência que permite conhecer as causas das coisas.

Não se trata, portanto, de conhecer o universal, mas a evidência do particular. O


universal não tem realidade e a inteligência deve ser capaz de apreender o particular.
Para Ockham não existem conceitos abstratos ou universais, mas apenas os termos ou
nomes cujo sentido seria o de designar indivíduos revelados exclusivamente pela
experiência.

Assim, o Deus de Ockham é Javé, que a nada obedece, nem mesmo às idéias, pois,
eliminada a realidade dos universais, tudo se torna contingente, e poderia ser de outra
maneira, se Deus o quisesse. Provada a impossibilidade de racionalizar a fé, a teologia
passa a proceder exclusivamente da crença, e a filosofia, da razão.

A navalha de Ockham

Segunda a professora Sara Bizarro, a "navalha de Ockham", também conhecida como o


princípio da parcimônia, é uma máxima que valoriza a simplicidade na construção das
teorias. A formulação mais comum desta máxima é "Entia non sunt multiplicanda
praeter necessitatem" ("As entidades não devem ser multiplicadas sem necessidade").
Esta formulação é freqüentemente atribuída a Guilherme de Ockham, embora ela não se
encontre em nenhum dos seus escritos conhecidos. A frase de Ockham mais próxima
desta máxima é "Frustra fit per plura quod potest fieri per pauciora" ("É vão fazer com
mais o que se pode fazer com menos").

No entanto, ainda segundo a professora, é defensável que Ockham se referia a uma


máxima bastante conhecida, visto que o princípio da parcimônia pode até ser
encontrado em Aristóteles. Pensa-se, assim, que esta máxima foi associada a Ockham
não por ter sido ele o primeiro a utilizá-la, mas por causa do espírito geral das suas
conclusões filosóficas.

O princípio da parcimônia pode ser considerado como um princípio ontológico ou como


um princípio metodológico - e os parâmetros de simplicidade requeridos podem variar
entre o tipo e o número de entidades a serem admitidas. Como princípio metafísico ou
ontológico a "navalha de Ockham" diz que devemos acreditar no menor número
possível de tipos de objetos. Como princípio metodológico a "navalha de Ockham" diz
que qualquer explicação deve apelar ao menor número possível de fatores para explicar
o fato em análise.

Guilherme de Ockham foi reabilitado pela Igreja Católica em 1359.

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