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LINGUÍSTICA APLICADA

À TRADUÇÃO

PÓS-GRADUAÇÃO EM TRADUÇÃO INGLÊS / ESPANHOL


PROF. MERITXELL ALMARZA
QUAL FOI A ORIGEM DA
TRADUÇÃO?
QUANDO SE INICIOU?
COMO TERIA NASCIDO A ATIVIDADE DE TRADUÇÃO
(INTERPRETAÇÃO)?

The prehistory of translation is of course interpreting.


History is by definition the period for which we have
written records. When we go before there was any
writing—or when we talk to people who don't know
how to write—we are totally relying on interpreting.
And on interpreters for that matter.

GROSS, Alexander. Hermes — God of Translators and Interpreters. Disponível


em: http://language.home.sprynet.com/trandex/hermes.htm#totop
 A origem da interpretação se remonta quase à
origem da própria palavra. Não temos como dizer
quem foi o primeiro intérprete, mas já no Antigo
Testamento mencionava-se o papel dos
intérpretes. A interpretação foi necessária para
os diferentes povos e para todo tipo de troca que
surgiu entre eles: cultural, comercial, etc.
A ESCRITA: A PRIMEIRA GRANDE
REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA
 A pedra Rosetta é a
evidência mais antiga
da existência da
tradução. Esta pedra,
encontrada no delta
do Nilo, contém um
texto em egípcio
hieróglifo, em egípcio
demótico e em grego.
ESTUDOS DA LINGUAGEM
NA GRÉCIA CLÁSSICA

 Platão (428–347 a.C.) é considerado o primeiro


pensador europeu a refletir sobre problemas
fundamentais da linguagem.
CONTEXTO
 Época clássica (s. VI-V a.C.): tirania derrubada por
aristocratas que instauraram a democracia como
sistema de governo.
 Todas as decisões eram tomadas na Assembleia, um
comício ao ar livre aberto a qualquer cidadão – do sexo
masculino, com idade superior a 18 anos, livre e não
estrangeiro –, que tinha direito a fazer uso da palavra.
 A religião vai tendo seu papel reduzido: O pensamento
mítico, que não se fundamenta nem se questiona
porque constitui uma visão de mundo, com apelo ao
sobrenatural e ao mistério, vai deixando de satisfazer
às necessidades da nova organização social, mas focada
na realidade política e comercial da cidade-Estado, e
surge o pensamento filosófico-científico.
CONTEXTO

 A principal contribuição dos primeiros


pensadores foi a busca por explicações naturais
(não sobrenaturais) da realidade que os cerca.
 Essas razões não são fruto de uma revelação, mas
do pensamento humano aplicado ao
entendimento da natureza. Portanto, o logos, o
discurso, é racional e argumentativo.
NATURALISTAS VS. CONVENCIONALISTAS
 A história registrada da linguística ocidental
começa com um confronto entre duas visões da
linguagem fundamentalmente opostas: a
linguagem como fonte de conhecimento e a
linguagem como simples meio de
comunicação.
 Se a língua reflete a realidade, o estudo da língua
é um caminho para o conhecimento da realidade.
Mas se é arbitrária, nada poderia se obter do seu
estudo.
CRÁTILO
 Crátilo: diálogo escrito por Platão que tem como
personagens os filósofos Sócrates, Hermógenes e
Crátilo.
 Debate-se se o conhecimento verdadeiro pode ser
alcançado mediante a linguagem
 Hermógenes = convencionalista
 "a justeza dos nomes [não] se baseia em outra coisa que
não seja convenção e acordo. [...] Nenhum nome é dado por
natureza a qualquer coisa, mas pela lei e o costume dos que
se habituaram a chamá-la dessa maneira".
Sua consequência mais imediata seria a total
impossibilidade de conhecimento através da
linguagem, devido ao seu caráter completamente
arbitrário.
CRÁTILO
 Crátilo = naturalista
 Teses da teoria naturalista:

1 ) "a correta aplicação dos nomes consiste em


mostrar como é constituída a coisa" = as palavras
têm sentido certo e sempre o mesmo
 "[...] convirá nomear as coisas pelo modo natural de
nomeá-las e serem nomeadas, e pelo meio adequado,
não como imaginamos que devemos fazê-lo"
 "cada coisa tem por natureza um nome apropriado, e
que não se trata da denominação que alguns homens
convencionaram dar-lhes"
CRÁTILO
2) "a enunciação dos nomes tem por finalidade a
instrução sendo seu único método verdadeiro“

 A posição de Platão nessa controvérsia contrapõe-


se a uma oscilação entre dois extremos que as
teorias gregas da linguagem manifestam: ou
uma extrema confiança em que o nome diz a
verdade, ou uma extrema desconfiança em
que os nomes são nada mais do que nomes
(sofistas), identificando linguagem, opinião e
verdade.
IMPORTÂNCIA DA ORATÓRIA:
OPINIÃO VS. VERDADE
 Sofistas: mestres destas artes que oferecem seus
ensinamentos aos políticos, preparando-os para
participarem da assembleia.
 Protágoras de Abdera (490–421 a.C.): “O homem é
a medida de todas as coisas, das que são como são e
das que não são como não são”. Deste fragmento pode
se desprender que as coisas são o que nos parece que
são, como nós as percebemos. Portanto, nosso
conhecimento dependerá sempre das circunstâncias
em que nos encontramos. Segundo ele, não há uma
verdade única.
 Sofistas como Protágoras não eram meros
manipuladores ao serviço de quem pagasse mais, mas
acreditavam que, ao não haver uma verdade única, a
opinião era o que valia nas decisões da vida prática,
que tinham que ser tomadas com base na persuasão.
IMPORTÂNCIA DA ORATÓRIA:
OPINIÃO VS. VERDADE

 Sofistas: mestres destas artes que oferecem seus


ensinamentos aos políticos, preparando-os para
participarem da assembleia.
 Górgias de Leontinos (487–380 a.C.): não
podemos ter acesso à natureza das coisas, ao
conhecimento, o único que temos é o logos, o
discurso, e mediante a linguagem não
transmitimos as coisas em si, mas somente
palavras. Com esta teoria, Górgias coloca em
evidência a diferença entre signo e referente e
destaca a impossibilidade de transmitir a
realidade mediante a palavra.
CONSEQUÊNCIAS DA VISÃO PLATÓNICA-
ARISTOTÉLICA PARA A TRADUÇÃO?
UM POUCO DE HISTÓRIA…
DA TRADUÇÃO
IMPÉRIO ALEXANDRINO
 Entre os séculos VI e V a.C., houve uma série de
guerras que acabaram esgotando as cidades-Estado
gregas: atenienses e espartanos contra o Império Persa
(500–480 a.C.), posteriormente a guerra do
Peloponeso, entre atenienses e espartanos (431–404
a.C.).
 Aproveitando-se da decadência e desunião dos
helênicos, o rei da Macedônia, Filipe II (382–336 a.C.)
conquistou o território. A política expansionista teve
continuidade em seu filho e sucessor, Alexandre, o
Grande (356–323 a.C.), que consolidou a dominação
da antiga Grécia e conquistou os territórios persas. O
Império Macedônio foi o maior até então formado e
só seria superado pelo Império Romano séculos depois.
IMPÉRIO ALEXANDRINO
 Alexandre se intitulou "libertador" dos territórios
conquistados, procurando evitar rebeliões que
desgastaram seu processo de expansão.
 A fusão dos valores gregos com as tradições das
várias regiões conquistadas deu origem a uma
nova manifestação cultural: o helenismo.
 A administração e o pensamento grego se
difundiram pela área oriental do Mediterrâneo e
pela Ásia Menor; uma variedade do dialeto ático
conhecido como koinē, ou dialeto comum,
converteu-se em língua oficial do governo, do
comércio e do ensino em toda a região.
IMPÉRIO ALEXANDRINO
 Até então, os estudos da linguagem tinham se
desenvolvido dentro de um contexto de
indagações filosóficas. A partir dessa época,
houve uma preocupação com a gramática e a
pronúncia corretas, as do grego clássico, e que
variavam do dialeto koinē.
 Também foram criados dicionários ou glossários
com palavras áticas, de outros dialetos gregos e
de outras línguas, como o egípcio ou o persa.
IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS
GRAMATICAIS

 Os gregos também desenvolveram a gramática.


 Em Platão já aparece uma divisão fundamental
da frase em ónoma (nome, sujeito) e rhêma
(verbo, predicado). Aristóteles a manteve, e ainda
acrescentou os sýndesmoi, que compreendia o que
mais tarde se chamou de conjunção, artigo e
pronome.
 Os estoicos mantiveram o sistema aristotélico e o
ampliaram: aumentaram o número de classes de
palavras e introduziram definições mais precisas.
 A doutrina gramatical grega se incorporou
à tradição ocidental somente através dos
gramáticos romanos.
IMPÉRIO ROMANO
 O contato entre gregos e romanos provém do
século VIII a.C., com as primeiras colônias gregas
no sul da península Itálica. Mas foi durante os
séculos III-II a.C. que o contato se intensificou,
quando a Grécia caiu sob o controle da
República romana expansionista. Roma
continuou crescendo, chegando ao auge da sua
expansão no século I d.C., com o domínio da
Britânia, a Gália, todo o sul da Europa – desde a
Hispânia até a Macedônia –, Ásia Menor, Síria,
Judéia, o Egito e todo o norte da África.
IMPÉRIO ROMANO
 A influência da cultura grega em Roma
atingiu várias áreas: na religião, os romanos
importaram todo o Panteão grego; no meio
artístico – arquitetura, escultura – também
houve adoção de modelos da estética grega. No
campo da linguística, os romanos aplicaram o
pensamento grego ao latim, suas controvérsias e
categorias.
ROMA: GRANDE ATIVIDADE DE
TRADUÇÃO POR MOTIVOS CULTURAIS

 A primeira época na história da tradução


literária ocidental consiste em traduções do
grego ao latim.
 Suas traduções revelam seu interesse pelas criações
literárias, pelos conhecimentos científicos de outros
povos, e o desejo de erigir sua própria literatura.
 Tradução artística, uma invenção latina: a tradução
entre os romanos estava vinculada à teoria e prática
da imitação de modelos literários.
 A literatura romana nasce da tradução: houve uma
atividade tradutora e literária que, misturadas,
produziram o que hoje se conhece como a literatura
romana.
CÍCERO (106-43 A.C.)
 Filósofo e tradutor romano.

 Oferece a primeira reflexão sobre a arte e a


tarefa do traduzir em De optimo genere oratorum,
levantando o grande problema teórico que
dominará a tradução por dois mil anos: deve-se
ser fiel às palavras do texto ou ao pensamento
contido nele?
CÍCERO
 Cícero assinala duas maneiras de traduzir: a do
‘orador’ e a do ‘intérprete’:
 Não traduzi como intérprete, mas como orador, com
os mesmos pensamentos e suas formas bem como com
suas figuras, com palavras adequadas ao nosso
costume. Para tanto não tive necessidade de traduzir
palavra por palavra, mas mantive o gênero das
palavras e sua força. Não considerei, pois, ser mister
enumerá-las ao leitor, mas como que pesá-las. […] Se,
como espero, eu tiver assim reproduzido os discursos
dos dois servindo-me de todos seus valores, isto é,
com os pensamentos e suas figuras e na ordem das
coisas, buscando as palavras até o ponto em que elas
não se distanciem de nosso uso.
CÍCERO
 O intérprete traduzia palavra por palavra (uerbum
pro uerbo), reproduzindo-as inclusive no mesmo
número (adnumerare) em que se encontravam no
original. A tradução do intérprete ou ad uerbum é
estritamente técnica, e objetiva explicar ou esclarecer;
a do orador ou imitatio é a literária.
 A reflexão de Cícero não foi elaborada num tratado
específico de tradução mas num tratado de
eloquência, sobre um gênero, a imitação, no qual o
próprio autor assinala não ter praticado um trabalho
de tradutor mas um tipo de imitação.
 Cícero defende é a tradução definida como imitatio ou
aemulatio, a que, no fim das contas, apresenta
dignidade literária. Tradução é reelaboração. Para
isso é necessário o uso da oratória e da eloquência,
transplantando e naturalizando o modelo original.
DIVISÃO DO IMPÉRIO ROMANO
 Com a morte de Júlio César (44 a.C.) e o
estabelecimento do segundo Triunvirato, já houve
uma primeira divisão dos territórios entre os
triúnviros: Marco Antônio (83–30 a.C.) ficou no
comando do Oriente e Otávio (63 a.C.–14 d.C.), do
Ocidente.
 No início do século IV, o imperador Constantino
reunificou o Império. Mas como o risco de invasão
era maior na parte ocidental, ele transferiu a capital
para Bizâncio, mais protegida e, na época, mais rica.
 O imperador Teodósio estabeleceu, em 395, a divisão
definitiva: Império Romano do Ocidente, com capital
em Roma, e Império Romano do Oriente, também
chamado de Império Bizantino, com capital em
Constantinopla.
DIVISÃO DO IMPÉRIO ROMANO

 “Na metade ocidental do Império, onde não havia


nenhum contato com qualquer civilização
conhecida, o latim se tornou a língua de
administração, dos negócios, do direito, da
erudição e da promoção social". Não obstante, na
metade oriental, "em que a administração grega
já predominava desde o período helenístico, o
grego manteve a posição que então havia
alcançado; os funcionários romanos
frequentemente aprendiam grego [...], e havia
grande respeito pela literatura e filosofia da
Grécia" (ROBINS, 1979, P. 35-36).
IDADE MÉDIA
 Queda do Império Romano – Reinos Germânicos
+ Império Bizantino

 O período conhecido como Idade Média designa a


fase da história europeia compreendida entre a
derrocada do Império Romano do Ocidente (476
d.C.) – com a deposição do último imperador
romano do Ocidente, Rômulo Augústulo, por um
mercenário germânico – e a derrocada do Império
Romano do Oriente, em 1453, com a conquista
pelos turcos da cidade de Constantinopla.
IDADE MÉDIA
 Alta Idade Média ou de "Idade das Trevas" (s. V–
XI), até o enfraquecimento do feudalismo e
estabilização da situação política e econômica.
 Avanço do cristianismo:
 com a desordem reinante e colapso da autoridade e
costumes pagãos, a Igreja adquiriu maior prestígio
como ligar em que se protegiam e se estimulavam o
saber e a educação, existindo no papado e nos
bispados centros de poder temporal. [...] A
preservação ininterrupta do saber e da educação
deve-se em grande parte aos mosteiros, abadias e
igrejas (mais tarde, às universidades) que se
fundaram durante a Alta Idade Média. (ROBINS,
1979, p. 53).
IDADE MÉDIA
 As tribos germânicas que invadiram o Império
Romano se instalaram em várias regiões
europeias, adotaram o cristianismo e desejaram
se integrar.
 A difusão do cristianismo gera a necessidade de
tradução dos livros sagrados. Há uma
exigência de ‘reprodução fiel’ dos originais.
Desenvolve-se um grande literalismo nas
traduções (principalmente as relativas a questões
religiosas) e desaparece a conotação negativa da
tradução ad uerbum presente em Cícero.
 A prática tradutória do Medievo se caracteriza
também por servir-se de versões intermediárias,
seja como ajuda no trabalho de tradução, seja
como fontes de tradução em lugar dos originais.
IDADE MÉDIA – SÃO JERÔNIMO
 Traduziu a Vulgata (382 e 420 d.C.) por encomenda
do Papa Dâmaso I. Foi produzida para ser mais exata
e mais fácil de compreender do que suas
predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única,
versão da Bíblia que verteu o Velho Testamento
diretamente do hebraico e não da tradução grega
conhecida como Septuaginta.
 Ad Pammachium de optimo genere interpretandi (ca.
395) é o primeiro documento no mundo ocidental
sobre como deve proceder um tradutor. É uma carta-
tratado fruto das críticas que São Jerônimo vinha
recebendo de uma carta que traduziu do grego para o
latim. Em sua ‘justificação’, Jerônimo advoga em
favor da tradução do sentido, das ideias, exceto
quando se trata dos textos sagrados, embora não
deixando de reconhecer a importância do sentido
também para a interpretação destes:
IDADE MÉDIA – SÃO JERÔNIMO

 Eu não somente confesso, mas proclamo em voz alta que, à


parte as Sagradas Escrituras, em que mesmo a ordem das
palavras encerra mistério, na tradução dos gregos não busco
expressar uma palavra a partir de outra palavra, mas o
sentido a partir do sentido.
 … nas Escrituras não são as palavras que devem ser
consideradas, mas o sentido.
 … desde minha juventude traduzi sempre as ideias e não as
palavras. Nisto tenho por mestre a Cícero.
 São Jerônimo põe a atenção no texto de partida, no
original, insistindo no respeito à veritas. Veritas, ou
fidelidade ao texto, não significa exclusivamente
literalismo, ou tradução ad uerbum.
 Jerônimo altera o significado do ciceroniano fidus
interpres, que indicaria o tradutor literal e sem arte,
pelo do tradutor que busca preservar o sentido textual,
a veritas, e que usa da retórica somente para a
manutenção do sentido no texto de chegada.
IDADE MÉDIA
 Durante toda a Idade Média continuam as
discussões sobre a forma de traduzir dentro
do posicionamento binário de tradução literal ou
de sentido. A preocupação principal dos
tradutores medievais pela transmissão de
conhecimentos desembocará grosso modo em dois
tipos de tradução:
 o intento de transmitir os conteúdos,
despreocupando-se da forma, faz com que as
traduções sejam verdadeiras reelaborações dos
originais,
 o cuidado com respeito à fidelidade ao texto
original, sobretudo em obras de tipo religioso e
filosófico, provoca um literalismo que obscurece a
tradução.
IDADE MÉDIA
 Baixa Idade Média (s. XI–XV): houve a
desagregação do sistema feudal, os mundos
romano e germânico se integraram com a
formação de novos reinos europeus, e a cultura
medieval atingiu seu apogeu, com a criação de
universidades e o desenvolvimento da escolástica.
 (Escolástica: pensadores cristãos perceberam a
necessidade de aprofundar uma fé que estava
amadurecendo, em uma tentativa de harmonizá-
la com as exigências do pensamento filosófico. A
questão-chave que vai atravessar todo o
pensamento escolástico é a harmonização de duas
esferas: a fé e a razão.)
IDADE MÉDIA – ESCOLA DE TOLEDO
Ponte entre o Império Bizantino e Europa
Toledo era famosa por sua tolerância religiosa e
possuía grandes comunidades de judeus e
muçulmanos. No século XIII Toledo era um
importante centro cultural sob o domínio de
Afonso X, cuja alcunha era "O Sábio" por seu
amor ao conhecimento. A escola de tradutores de
Toledo tornou disponíveis grandes trabalhos
acadêmicos e filosóficos originalmente produzidos
em árabe e hebraico ao traduzi-los para o latim,
disponibilizando pela primeira vez uma grande
quantidade de conhecimentos para a Europa.
IDADE MÉDIA – LÍNGUAS VERNÁCULAS
 O desenvolvimento progressivo das línguas
vernáculas e o incremento da evangelização
durante a Idade Média propiciam um movimento
de tradução para as línguas vulgares.
 Até o século XIV, a maioria das traduções eram
realizadas ao latim. Contudo, desde o século XIII
as traduções ao vernáculo já competiam
fortemente com a língua romana.
 Tradução vertical: do latim a uma língua vernácula -
Um dos lugares comuns nos comentários dos
vulgarizadores era a deficiência das línguas
vernáculas frente à latina, a pobreza léxica daquelas
diante da abundância desta.
 Tradução horizontal: entre línguas vernáculas.
IDADE MÉDIA – LÍNGUAS VERNÁCULAS
 Nas primeiras vulgarizações medievais (séc.
XIII), predominava fortemente a finalidade
divulgativo-didática, o interesse no conteúdo e
na utilidade frente à estilístico-literária. Na
medida em que avança o s. XIV, sobretudo com
as vulgarizações dos clássicos, aumenta o respeito
ante o original e o esforço pela manutenção de
sua integridade estilística, além da aspiração a
uma elevação do vernáculo.
RENASCIMENTO – HUMANISMO
 Caracteriza o renascimento ou ressurgimento do
saber, concretamente do saber greco-romano.
 Com a derrocada do Império Bizantino, o fluxo de
sábios bizantinos que viajavam para Ocidente
levando consigo manuscritos de textos clássicos
aumentou significativamente.
 Há uma revalorização da Antiguidade, "já não
mais vista sob a jaça do paganismo, mas como um
período de exaltado humanismo, ao qual o
pensador renascentista, por sua preocupação com
o valor e dignidade do homem em si mesmo, se
sentia moral e intelectualmente ligado"
(ROBINS, 1979, p. 86).
RENASCIMENTO
 Renascimento é o início de uma nova era:
 época das navegações, das expedições, das
descobertas: Cristóvão Colombo (1451–1506)
descobriu o Novo Mundo em 1492; Fernão de
Magalhães (1480–1521) circum-navegou o globo; as
rotas de comércio atravessavam o mundo todo e
enriqueciam a burguesia, que fomentava as artes;
 Johannes Gutenberg (1398–1468) inventou a
imprensa, que facilitou a difusão da cultura;
 Copérnico (1473–1543) descobriu que a Terra girava
em torno do Sol, o que impulsionou a posterior
revolução científica (séculos XVI–XVIII);
 Martinho Lutero (1483–1546) promoveu a Reforma
protestante.
RENASCIMENTO
A tradução se torna uma questão política e
religiosa:

 Tem um papel decisivo na formação das


línguas nacionais. A defesa das línguas
nacionais e a popularização da cultura antiga se
manifestam em uma rejeição da latinização.

 Tradução da Bíblia para línguas vernáculas.


RENASCIMENTO
Tradução da Bíblia para as línguas vernáculas:

 Inglês: William Tyndale (1525) traduziu a Bíblia


para o inglês, que estava proibido ainda. Tyndale foi
executado. Com a separação entre a Igreja Anglicana
e a Igreja de Roma, ordenada pelo rei Henrique VIII,
a situação começou a mudar. Surgiram então novas
traduções da Bíblia ao inglês. No início do século
XVII, Jaime I encarregou uma nova tradução da
Bíblia a uma comissão de 50 estudiosos. 80% do texto
do Novo Testamento foi reaproveitado da versão de
Tyndale. A Bíblia do rei Jaime adquiriu fama
rapidamente e tornou-se a obra mais publicada da
língua inglesa.
RENASCIMENTO
Tradução da Bíblia para as línguas vernáculas:

 Alemão: Martinho Lutero foi o autor de uma das primeiras


traduções da Bíblia para alemão (1522), algo que não era
permitido até então sem especial autorização eclesiástica. Não
foi o primeiro tradutor da Bíblia para alemão, já havia várias
traduções mais antigas. A tradução de Lutero, no entanto,
suplantou as anteriores porque foi uma forma unificada do
Hochdeutsch (dialetos alemães da região central e sul) e foi
amplamente divulgada. A tradução de Lutero para o alemão
foi simultaneamente um ato de desobediência e um pilar da
sistematização do que viria a ser a língua alemã, até aí vista
como uma língua inferior, dos servos e ignorantes.
 Com a publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517 na
porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra
diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo
uma reforma no catolicismo romano. O resultado da Reforma
Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os
católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o
Protestantismo.
RENASCIMENTO
Tradução da Bíblia para as línguas vernáculas:

 Castelhano: a Bíblia chamada como Reina-


Valera (1602) representa a primeira tradução
castelhana completa, direta e literal dos bíblicos
textos em grego, hebraico e aramaico. Deve seu
nome à suma de esforços de Casiodoro de Reina,
seu autor principal, e de Cipriano de Valera, seu
primeiro revisor. Anteriormente, em 1572, Fray
Luis de León foi preso por traduzir a Bíblia para
a língua vernácula sem permissão,
concretamente, por sua célebre versão do Cântico
dos cânticos.
RENASCIMENTO
Tradução da Bíblia para as línguas vernáculas:

 Português: A tradução feita por João Ferreira


de Almeida (1748) é considerada um marco na
história da Bíblia em português porque foi a
primeira tradução do Novo Testamento a partir
das línguas originais. O trabalho de João
Ferreira de Almeida é para a língua portuguesa o
que a Bíblia de Lutero é para alemã, a Bíblia do
Rei Jaime para a inglesa e Reina-Valera é para a
espanhola.
RENASCIMENTO

 Mantém-se a dicotomia entre tradução


religiosa e tradução profana, mas o
humanismo consagra o costume de introduzir um
prólogo, um prefácio, uma carta aos leitores onde
o tradutor explica e justifica suas opções
tradutoras.
SÉCULO XVII
 Gosto pelo francês: as belles infidèles.
 As traduções, se forem belas são infiéis; se forem
fiéis são feias.
 Representa uma maneira de traduzir os clássicos
fazendo adaptações linguísticas e
extralinguísticas. Reivindica-se o direito à
modificação em prol do bom gosto, da diferença
linguística, da distância cultural, do
envelhecimento dos textos.
SÉCULO XVIII
 Há um aumento do intercâmbio intelectual,
crescente interesse pelas línguas estrangeiras,
proliferação de dicionários gerais e técnicos e, um
auge do papel da tradução.
 Racionalismo – preferência pela literalidade.

 Das Bild eines geschickten Übersetzers (Venzky,


1732):
 "Uma tradução adequada reproduz como réplica
aquilo que foi escrito no outro idioma, seguindo os
rastros do original, se não for palavra por palavra,
sim frase por frase."
SÉCULO XVIII
 Breitinger (1740):
 “Os diversos idiomas devem considerar-se como
diferentes inventários de palavras e idiomatismos
totalmente equivalentes que podem ser
intercambiados e, já que somente se diferenciam uns
dos outros no que se refere à natureza externa do tom
e à figura, no significado coincidem plenamente."
SÉCULO XVIII
 Inicia-se uma época que se caracteriza por uma
reflexão teórica e hermenêutica sobre a
tradução, que dá passo ao desenvolvimento de
importantes teorias poético-filosóficas.
 Alexander Fraser Tytler: Essay on the Principles
of Translation (1791) – Considera-se o início
da teorização sobre a tradução. Foge do
debate literal/livre e introduz a figura do
destinatário, propondo três princípios básicos
que definem uma boa tradução:
SÉCULO XVIII
"Dado que ambas as opiniões são contrárias, é provável que a
perfeição encontre-se a meio caminho entre as duas. Por
conseguinte, eu descreveria uma boa tradução como aquela
que transmite o mérito da obra original para outra língua,
de forma que seus habitantes nativos o percebam com a
mesma clareza e o sintam com idêntica força que os que
falam a língua da obra original.
A continuação, e supondo que essa descrição seja acertada,
estudaremos quais são as leis da tradução que dela podem
deduzir-se, a saber:
 A tradução deve reproduzir completamente as ideias da
obra original.
 O estilo e a forma de escrever devem ser da mesma
natureza que os do original.
 A tradução deve ter a naturalidade própria das composições
originais."
SÉCULO XIX - ROMANTISMO
 A estética romântica produz um paradoxo entre
1) a volta ao literalismo e 2) a reivindicação da
individualidade do tradutor como criador.
 Característica da época: colocar ênfase nos
aspectos formais do original, fonte da
intraduzibilidade na estética romântica, da qual
surgem duas tendências:
 Respeito aos elementos formais do original, que
provoca artificialidade na língua de chegada.
 Respeito à língua de chegada.
 A preocupação da hermenêutica girava em torno da
ideia do autor como criador e da obra de arte como
uma expressão de seu “eu” criativo. Em consonância
com os poetas e filósofos da época, os hermeneutas
desenvolveram a concepção da unidade orgânica de
uma obra, apoiados numa noção de estilo em que a
forma é inerente à obra. Além disso, aderiram ao
conceito de natureza simbólica da arte, o qual criou a
possibilidade de infinitas interpretações. A antiga
tarefa de interpretar e explicar os textos, subitamente
apareceu sob uma nova luz. Ainda mais importante
que as ideias em torno da nova estética foi a virada
transcendental que os teóricos românticos operaram
no pensamento hermenêutico – especialmente F.
Schlegel, Schleiermacher e Wilhelm von Humboldt.
(VOLMMER, 1988, p. 9)
SÉCULO XIX - ROMANTISMO
 Humbold (Introdução de Agamemnon, 1816):
 "Con esta intención va necesariamente unido el que
la traducción porte en sí misma un cierto colorido de
extrañeza, y los límites donde esto se convierte en
una falta innegable son muy fáciles de sentar.
Mientras no se sienta la extrañeza, sino lo extraño, la
traducción habrá alcanzado su máxima finalidad;
pero allí donde la extrañeza aparece en sí misma y
quizá oscurece lo extraño, allí el traductor está
demostrando que no está a la altura de su texto".
SÉCULO XIX - ROMANTISMO
 Schleiermaher: Über die verschiedenen Methoden des
Ubersetzens (1813) – Assinala o duplo movimento que
pode se produzir na hora de traduzir: em direção ao
leitor ou em direção ao autor. Qualquer mistura
produziria um resultado insatisfatório:
 “Mas, agora, por que caminhos deve enveredar o verdadeiro
tradutor que queira efetivamente aproximar estas duas
pessoas tão separadas, seu escritor e seu leitor, e propiciar a
este último, sem obrigá-lo a sair do círculo de sua língua
materna, uma compreensão correta e completa e o gozo do
primeiro? No meu juízo, há apenas dois. Ou bem o tradutor
deixa o escritor o mais tranquilo possível e faz com que o leitor
vá a seu encontro, ou bem deixa o mais tranquilo possível o
leitor e faz com que o escritor vá a seu encontro. Ambos os
caminhos são tão completamente diferentes que um deles tem
que ser seguido com o maior rigor, pois, qualquer mistura
produz necessariamente um resultado muito insatisfatório, e é
de temer-se que o encontro do escritor e do leitor falhe
inteiramente.”
SÉCULO XX – LINGUÍSTICA COMO CIÊNCIA
 Ferdinand Saussure (1857-1913) –
Estruturalismo

 Linguística como ciência:


 objeto de estudo da linguística devia ser a língua,
considerada em si mesma e por si mesma, e que "deve
ser sincronicamente considerada e descrita como um
sistema de elementos lexicais, gramaticais e
fonológicos inter-relacionados [...]. Cada elemento
linguístico define-se em função dos outros e não de
modo absoluto" (ROBINS, 1979, p. 163).
SÉCULO XX - ESTRUTURALISMO
Dicotomias de Saussure:
 Língua vs. Fala:
 Língua:
 sistema de valores que se opõem uns aos outros.
 produto social na mente de cada falante de uma
comunidade (estático)
 homogêneo

 Fala:
 ato individual
 sujeito a fatores externos, muitos desses não linguísticos e,

portanto, não passíveis de análise


 heterogêneo
SÉCULO XX - ESTRUTURALISMO
Dicotomias de Saussure:

 Sincronia vs. Diacronia: o estudo científico de


uma língua não pode ser somente histórico. Há
duas dimensões fundamentais e indispensáveis
no estudo da linguagem:
 a dimensão diacrônica, focada nas mudanças por
que passa a língua ao longo do tempo
 a dimensão sincrônica, que foca na análise da
língua como um sistema de unidades e relações
coexistentes.
SÉCULO XX - ESTRUTURALISMO
Dicotomias de Saussure:
 Sincronia vs. Diacronia:

 As unidades linguísticas não atravessam


sistemas, fazem parte somente de um
determinado sistema em determinado momento:
ou seja, não se pode considerar que a palavra
causa em latim seja a mesma palavra que chose
em francês.
 Os diferentes idiomas dividem o mundo de
formas diferentes. Cada sistema linguístico é
diferente, porque é um sistema social e cada
sociedade é diferente.
SÉCULO XX - ESTRUTURALISMO
 Signo linguístico:

Significado (imagem
mental)
+
Significante (imagem
acústica)

 O vínculo entre
significado e
significante é
arbitrário.
SÉCULO XX - ESTRUTURALISMO
Signo linguístico:
 não há uma união de uma coisa e uma palavra,
mas de um conceito e uma imagem acústica
 Saussure consegue desvincular a realidade da
descrição da língua, se colocando exclusivamente
no terreno da língua e usando-a como norma de
todas as suas manifestações
SÉCULO XX - ESTRUTURALISMO
 Saussure:
 é contra uma teoria referencial da linguagem (como
representação, nomenclatura);
 linguagem é social, está no centro dos assuntos
humanos;
 não há pensamento antes da linguagem; caráter não
substantivo do signo
 MAS: estabilidade dos signos e sistemas gramaticais
= são os mesmos para todos os indivíduos de uma
mesma sociedade.
ESTRUTURALISMO –
CONSEQUÊNCIAS PARA A TRADUÇÃO

 Os diferentes idiomas dividem o mundo de


formas diferentes. Cada sistema linguístico é
diferente, porque cada sociedade é diferente.

Nenhuma palavra poderia ser


completamente traduzível fora do sistema da sua
língua. A tradução entre línguas seria,
portanto, impossível.
ESTRUTURALISMO –
CONSEQUÊNCIAS PARA A TRADUÇÃO
 Se as palavras estivessem encarregadas de
representar os conceitos dados de antemão
[NATURALISMO], cada uma delas teria, de uma
língua para outra, correspondentes exatos para o
sentido; mas não ocorre assim. O francês diz
indiferentemente louer (une maison) e o português,
alugar, para significar dar ou tomar em aluguel,
enquanto o alemão emprega dois termos, mieten e
vermieten; não há, pois, correspondência exata de
valores. […] A flexão oferece exemplos
particularmente notáveis. A distinção dos tempos,
que nos é tão familiar, é estranha a certas línguas; o
hebraico não conhece sequer a distinção, tão
fundamental, entre o passado, o presente e o futuro
(SAUSSURE, 1975, p. 135).
ESTRUTURALISMO –
CONSEQUÊNCIAS PARA A TRADUÇÃO
Georges Mounin. Les problèmes théoriques de la
traduction (1963):
Primeira tentativa de desenvolver um arcabouço teórico para
a tradução com base na linguística + reivindicação do
direito da linguística de circunscrever a tradução em seus
domínios .

“A atividade de tradução suscita um problema teórico para a linguística


contemporânea: se aceitarmos as teses correntes a respeito da
estrutura dos léxicos, das morfologias e das sintaxes, seremos levados
a afirmar que a tradução deveria ser impossível. Entretanto, os
tradutores existem, eles produzem, recorremos com proveito às suas
produções. Seria quase possível dizer que a existência da tradução
constitui o escândalo da linguística contemporânea. [...] Talvez só se
imaginasse uma alternativa: condenar a possibilidade teórica da
atividade de tradução em nome da linguística (relegando assim essa
atividade para a zona das operações aproximativas não científicas em
questão de linguagem); ou então questionar a validade das teorias
linguísticas em nome da atividade de tradução.”
SÉCULO XX –
IMPLICAÇÕES DA GUERRA FRIA
 A partir de 1946: grande interesse pela tradução por
causa da Guerra Fria, com o objetivo de obter
informações científicas soviéticas à distância e da
maneira mais rápida possível.
 Grandes investimentos na automatização da
tradução.
 Anos 60: desânimo. “As aplicações práticas não
correspondiam às previsões teóricas e a linguística
formal não conseguia explicar os problemas ligados a
estruturas, processos, funções, formas, etc., que se
multiplicavam. A tradução automática foi
desacreditada”
ALFARO, Carolina. Descobrindo, compreendendo e
analisando a tradução automática. Disponível
em: http://webserver2.tecgraf.puc-
rio.br/~carolina/monografia/anos_40_60.html
SÉCULO XX – ANOS 50-60:
SISTEMATIZAÇÃO DA TRADUÇÃO
 Surgem os primeiros estudos teóricos que reivindicam
uma análise mais sistemática da tradução –
PRIMEIRA GERAÇÃO DE TRADUTÓLOGOS
 Sendo a tradução vista como uma atividade humana, uma
operação linguística, aqueles que se ocupam dela têm
procurado fornecer uma resposta à pregunta “como
traduzir”. No pensamento tradicional sobre a tradução,
esta resposta era simples: literalmente, fielmente. […]
Desde os primórdios das reflexões sobre a tradução, no
entanto, houve aqueles que advogavam um modo de
traduzir que privilegiasse o conteúdo e se afastasse da
literalidade pura e simples. Não sendo literal, como deveria
ser a tradução? É como resposta a esta pregunta […] que
surgem, no estudo da tradução, descrições de
procedimentos técnicos. (BARBOSA, 1990, p. 21)

 Surgem as primeiras publicações periódicas sobre a


tradução: Traduire (1954), Babel (1955), Meta (1956)
SÉCULO XX – ANOS 50-60:
SISTEMATIZAÇÃO DA TRADUÇÃO

 Roman Jakobson. On Linguistic Aspects of


Translation (1959):
Distinguimos três maneiras de interpretar um signo
verbal: ele pode ser traduzido em outros signos da
mesma língua, em outra língua ou em outro sistema
de símbolos não verbais. Essas três espécies de
tradução devem ser diferentemente classificadas:
1) A tradução intralingual ou reformulação consiste
na interpretação dos signos verbais por meio de
outros signos da mesma língua.
2) A tradução interlingual ou tradução propriamente
dita consiste na interpretação dos signos verbais por
meio de outra língua.
3) A tradução intersemiótica ou transmutação
consiste na interpretação dos signos verbais por meio
de sistemas de signos não verbais.
SÉCULO XX – ANOS 50-60:
SISTEMATIZAÇÃO DA TRADUÇÃO

 Jean Paul Vinay e Jean Darbelnet. Stilistique


comparée du français et de l’anglais: méthode de
traduction (1958):

TRADUÇÃO DIRETA EMPRÉSTIMO


DECALQUE
TRADUÇÃO LITERAL
TRADUÇÃO OBLÍQUA TRANSPOSIÇÃO
MODULAÇÃO
EQUIVALÊNCIA
ADAPTAÇÃO
 Empréstimo: Utilizar a própria palavra da LO no
texto da LT.
 Decalque: Caso particular de empréstimo de
sintagmas (science-fiction / ciencia ficción).
 Tradução literal: Tradução palavra por palavra.
 Transposição: afastamento no plano sintático da
forma do TLO.
 Modulação: mudança de ponto de vista ou de foco.
 Equivalência: as duas línguas em confronto dão
conta da mesma situação através de meios estilísticos
e estruturais totalmente diversos (fraseologia,
provérbios, etc.).
 Adaptação: aplica-se onde a situação
extralinguística a que se refere o TLO não existe no
universo cultural dos falantes da LT.
SÉCULO XX – ANOS 50-60:
SISTEMATIZAÇÃO DA TRADUÇÃO
 Eugene Nida. Toward a science of translating: with special
reference to principle and procedures involved in Bible
translating (1964):
 “Translating consists of reproducing in the receptor language the
closest natural equivalent of the source language message, first in
terms of meaning, secondly in terms of style”.
 Nida se baseia na teoria da comunicação, na qual o tradutor e o
leitor da tradução podem ser considerados como elementos
atuantes em um ato comunicativo.

Fonte Mensagem1 Receptor1 Mensagem2 Receptor2


(autor TLO) (TLO) (tradutor) (TLT) (leitor TLT)
Há três fatores básicos a serem avaliados antes de
efetuar uma tradução:
 a natureza da mensagem
 o objetivo do autor e do tradutor
 o tipo de público visado pelo original e pela tradução
Buscar a maior equivalência possível entre mensagem1
e mensagem2, considerando que há 2 tipos de
equivalências:
 Equivalência formal: centrada no conteúdo e na
forma da mensagem1, o texto original. Preocupação
em manter a correspondência estilística.
 Equivalência dinâmica: centrada em reproduzir
com os recursos próprios da LT o efeito pragmático
que o TLO produz no leitor. Adaptação do texto ao
novo leitor para que veja a tradução como um texto
natural dentro de sua comunidade linguística. Para
tal, o tradutor deverá superar distâncias linguísticas
e culturais.
SÉCULO XX – ANOS 70: ESTUDOS DA
TRADUÇÃO COMO DISCIPLINA INDEPENDENTE

 James Holmes. “The Name and Nature of


Translation Studies" (1972)
 discussão sobre o nome da área de pesquisa:
 Termos como "tradutologia" e "ciência" foram descartados,
o primeiro por ser demasiado abstrato e não incluir estudos
descritivos e o segundo pertencer à área de exatas. Holmes
sugere a expressão "estudos da tradução", que foi aceita
pela comunidade acadêmica e é usada desde então.
 falta de consenso na estrutura e no escopo da
disciplina:
 Os estudos da tradução estão dispersos em outras áreas,
como o ensino de línguas, a linguística e a literatura. Para
resolver essa questão, ele apresenta um diagrama onde
descreve o que a disciplina abrange.
ESTUDOS DA TRADUÇÃO
SÉCULO XX – ANOS 70: ESTUDOS DA
TRADUÇÃO COMO DISCIPLINA INDEPENDENTE

 O papel de Holmes foi principalmente


incentivador e encorajador: após colocar os
fundamentos para uma nova disciplina e juntar
acadêmicos de várias áreas, ideologias e locais,
quis chamar a atenção para as lacunas e as
melhoras que tinham que ser implementadas na
área, deixando claro que havia um longo caminho
pela frente: “The state of the art of
translation studies is better than ever
before. It is not good. There is still too much
to be done”.
SÉCULO XX – ANOS 80: CONSOLIDAÇÃO
DA DISCIPLINA – ESTUDOS DESCRITIVOS

 Anos 70: O teórico israelense Itamar Even-Zohar


formulou a teoria dos polissistemas, onde uma
cultura é vista como um sistema múltiplo
composto de várias redes simultâneas,
interdependentes e hierárquicas de relações. Dentro
do polissistema da cultura se encontra outro, o da
literatura. Por sua vez, dentro do polissistema
literário se encontra a literatura traduzida.
 Se tratarmos as traduções de forma individual,
sem incorporá-las a um contexto histórico e social,
dificilmente será possível ter uma ideia de qual é a
função da literatura traduzida em relação ao
conjunto de uma literatura ou qual é sua posição
dentro dela.
SÉCULO XX – ANOS 80: CONSOLIDAÇÃO
DA DISCIPLINA – ESTUDOS DESCRITIVOS

 Para Even-Zohar, as obras traduzidas se


relacionam entre si de duas formas: (i) pela
maneira como os textos fonte são selecionados
pela literatura receptora e (ii) pela maneira em
que adoptam normas e critérios específicos dessa
cultura.
 Os critérios de seleção das obras que são
traduzidas vêm determinados pelo polissistema
local. Os elementos desse polissistema que fazem
essa escolha são o que André Lefevere (1985)
chama de agentes da patronagem, que têm poder
para influir ideologicamente no sistema literário.
SÉCULO XX – ANOS 80: CONSOLIDAÇÃO
DA DISCIPLINA – ESTUDOS DESCRITIVOS

 Anos 80: The Manipulation School:


 “do ponto de vista do sistema receptor, toda tradução
implica certo grau de manipulação do texto-fonte, com um
determinado objetivo” (HERMANS, 1985 apud MARTINS,
2010)
 Uma visão da literatura como um sistema dinâmico e
complexo; a convicção de que deve haver uma interação
permanente entre modelos teóricos e estudos de caso; uma
abordagem da tradução literária de caráter descritivo e
voltada para o texto-meta, além de funcional e sistêmica; e
um interesse nas normas e coerções que governam a
produção e a recepção de traduções, na relação entre a
tradução e outros tipos de reescritura e no lugar e função da
literatura traduzida tanto num determinado sistema
literário quanto na interação entre literaturas (HERMANS,
1985 apud MARTINS, 2010).
SÉCULO XX – ANOS 80: CONSOLIDAÇÃO
DA DISCIPLINA – ESTUDOS DESCRITIVOS

 Rejeição da abordagem linguística na tradução:


 A linguística sem dúvida aumentou nossa
compreensão da tradução no que diz respeito ao
tratamento de textos não marcados e não literários.
Mas na medida em que a disciplina mostrou-se
restrita demais para ser útil aos estudos literários em
geral – haja vista as tentativas frenéticas observadas
nos últimos anos de se construir uma linguística
textual – e incapaz de lidar com as inúmeras
complexidades das obras literárias, ficou evidente que
ela também não poderia fornecer uma base adequada
para o estudo das traduções literárias. (HERMANS,
1985 apud MARTINS, 2010).
SÉCULO XX – ANOS 80: CONSOLIDAÇÃO
DA DISCIPLINA – VIRADA CULTURAL

 Tradução concebida como atividade orientada por


normas culturais e históricas
 Influência recíproca entre as traduções e as
culturas receptoras
 André Lefevere – Tradução como reescrita
 A tradução é uma das muitas formas sob as quais as
obras de literatura são reescritas (também resenhas,
críticas, antologias, adaptações)
 As reescritas produzem novos textos a partir de
outros já existentes, garantindo a sobrevivência das
obras.
SÉCULO XX – ANOS 80: CONSOLIDAÇÃO
DA DISCIPLINA – VIRADA CULTURAL

André Lefevere – Tradução como reescrita


 Os sistemas literário e social influenciam-se
reciprocamente e operam sob um mecanismo de
controle constituído por dois fatores:
 Fator interno: rescritores (tradutores, críticos, prof.)
 Reprimir certas obras contrárias as concepções literárias ou
ideológicas predominantes
 Adaptar obras para fazê-las corresponder às concepções
literárias ou ideológicas predominantes
 Fator externo: patronagem, poderes (pessoas,
instituições) – diferenciada / não diferenciada
 Componente ideológico (censura)
 Componente econômico (mecenato, agências
governamentais)
 Componente de prestígio
SÉCULO XX – ANOS 90: VIRADA DO PODER
 Lawrence Venuti – Invisibilidade do tradutor

 Transparência no texto traduzido, levando o leitor a


encará-lo como escrito originariamente na língua-meta
 Critério que rege as traduções: boa quando a leitura é
fluente, quando parece um original.

 A estratégia de fluência busca apagar a intervenção


do tradutor no texto traduzido e anular a diferença
linguística e cultural do texto estrangeiro. O texto é
reescrito revestido de valores, crenças e
representações sociais da cultura receptora.
SÉCULO XX – ANOS 90: VIRADA DO PODER
 Lawrence Venuti – Invisibilidade do tradutor

 Proposta: estratégia de resistência, que impede o


efeito ilusionista de transparência no texto
traduzido e torna visível o trabalho do tradutor, que
tem função política e cultural, e ajuda a preservar a
diferença linguística e cultural do texto estrangeiro
ao produzir traduções estranhas, pouco familiares,
que demarcam os limites dos valores dominantes na
cultura da língua-meta e que evitam que esses
valores promovam uma domesticação
imperialista do outro.
SÉCULO XX – ANOS 90: VIRADA DO PODER
Estratégias tradutórias (Schleiermacher) +
componente ideológico

 Estrangeirização: método de distanciamento, que leva


o leitor da tradução até o autor do original. Impõe
pressão etnodesviante sobre os valores da cultura
receptora para registrar as diferenças linguísticas e
culturais do texto estrangeiro.
 Domesticação: aproxima o autor do original do leitor
da tradução por meio da estratégia de fluência. Envolve
uma redução etnocêntrica do texto estrangeiro aos
valores da cultura receptora.

 Venuti preconiza o método de distanciamento por


motivos políticos.
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO
PRECURSORES
 Nietzsche:
 Um dos movimentos mais caros à reflexão de Nietzsche é
denunciar a ilusão primordial da autonomia do intelecto
como determinante, inclusive, da ilusão de verdade da
coisa-em-si e de todas as outras ilusões dela decorrentes. O
intelecto, domínio da racionalidade — que na tradição
cartesiana é a marca do humano enquanto ser superior que
"existe" na medida em que pensa — não passaria de um
"meio de preservação", de uma arma através da qual o
homem, "mais fraco e menos robusto", se defende "já que a
[ele] está vedado travar a luta pela sobrevivência com
chifres ou presas aguçadas“ (ARROJO, 2003).
 VER RESENHA
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO
PRECURSORES
 Wittgenstein (ver resenha).

 Freud:
“Essa visão nietzschiana do sujeito dividido entre a
consciência, a inconsciência e a moral antecipa Freud e a
divisão psicanalítica do sujeito. A metáfora do cavaleiro e do
cavalo proposta por Freud para explicar as vicissitudes desse
sujeito dividido — entre o ego, o id e o superego — vale a pena
ser lembrada:
Em sua relação com o id, o ego é como um cavaleiro que tem
de manter controlada a força superior do cavalo, com a
diferença de que o cavaleiro tenta fazê-lo com a sua própria
força, enquanto que o ego utiliza forças tomadas de
empréstimo. Com frequência, um cavaleiro, se não deseja ver-
se separado do cavalo, é obrigado a conduzi-lo onde este quer
ir; da mesma maneira, o ego tem o hábito de transformar em
ação a vontade do id, como se fosse sua própria (Freud, vol.
XIX, p. 39).
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO
PRECURSORES
“Além da libido do id, o ego tem que enfrentar também
as pressões do superego. Além de tentar controlar um
‘cavalo’ indomável, esse ‘cavaleiro’ é forçado também a
lutar contra uma ‘nuvem de abelhas bravas’ — o
superego — enxameando sobre ele (Idem).
Apesar de dividido entre o senso moral imposto pela
sociedade e a força do inconsciente, o homem ocidental,
forjado no culto ao racionalismo, ilude-se com sua
suposta autonomia ‘consciente’ — que não passa de uma
instância derivada de processos inconscientes — e crê
poder separar-se do ‘real’, ou seja, crê poder olhar o
‘real’ e o outro com olhos neutros; crê, em suma, poder
‘descobrir’ ‘verdades’ que não sejam construídas por ele
mesmo, nem ‘contaminadas’ pelo seu desejo” (ARROJO,
2003).
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO:
 Pós-estruturalismo = radicalização do estruturalismo, o leva até
suas últimas consequências.

Contra:

 Logocentrismo: tendências no pensamento "ocidental":


1. localizar o centro de qualquer texto no Logos = centro racional é o
sentido da letra, a periferia (metáfora) é derivativa.
2. privilegiar o significado sobre o significante
3. maneira de compreender a linguagem de maneira binária:
ausência/presença, fala/escrita, significante/significado, autor/texto
Estas oposições:
- não são iguais, são hierárquicas; e essa hierarquia pode ser
subvertida.
- são menos rígidas do que podem parecer.

 Logocentrismo = desejo de um significado transcendental,


transcende as circunstâncias variáveis.
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO:

 Pós-estruturalismo = radicalização do
estruturalismo, o leva até suas últimas
consequências.

A favor:

 do jogo livre dos significantes


 a linguagem se cria e cria mundos (a linguagem
não é uma criação racional, não é artefato; a
linguagem se cria a si mesma e está sempre se
deslocando)
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO:
DESCONSTRUÇÃO NA TRADUÇÃO
 Desconstrução (Derrida):
 Se o signo é arbitrário, fruto de uma convenção, a
origem do significado também parte de um acordo tácito
comunitário. A leitura e a compreensão fazem parte da
construção de significados.
 O leitor deixa de ser um simples “receptor”, se
conscientiza da sua interferência autoral nos textos
que lê.
 Não é a morte do autor nem a liberação do leitor: a
leitura também depende das convenções que se
estabelecem subliminarmente no tecido sociocultural
em que vivemos. O significado não se encontra no
texto, nem no autor, nem no leitor; se encontra
na trama das convenções.
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO:
DESCONSTRUÇÃO NA TRADUÇÃO
 Implicações na tradução:

 Fidelidade ao original?
 Interferência autoral do leitor/tradutor? Tradutor-
autor? Visibilidade do tradutor?
 O significado não está no texto nem no autor –
reinterpretação dos textos a cada certo tempo.
 Traduções trazem consigo as marcas da sua
realização (tempo, história, circunstâncias, objetivos,
perspectiva do tradutor). Nenhuma tradução é
neutra.
TENDÊNCIA ATUAL:
MULTIDISCIPLINARIDADE

 Tradução e linguística:
 Pragmática
 Sociolinguística
 Linguística de corpus

 Tradução e estudos culturais


 Tradução e história

 Tradução e psicanálise

 Tradução e sociologia

 Tradução e computação

 Tradução e literatura

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