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O que acontece com o cérebro de

uma pessoa que aprende a ler?


Lucas Santos Silva
Universidade Federal de Sergipe
78% de água, 10% de gordura, 8% de proteína, 1% de carboidrato, 1% de sal e 2% de outros componentes
Neurospin
• Localizado na França e liderado por Stanislas Dehaene
• Laboratório especializado em visualização do cérebro e
• Várias estratégias são usadas no laboratório para rastrear a atividade
cerebral descritas nos livros e artigos

Ressonância magnética funcional
Eletroencefalograma
Magnetoencefalografia
O que é ler?

Uma conversa com Platão.

Você pode escutar Machado de Assis com os seus olhos.


Comunicar pensamentos
do olho para a mente
Reconhecimento das letras pela retina e
extração dos componentes de base das palavras
•A leitura começa no olho, especificamente
no centro da retina chamado fóvea.
• Na retina, as palavras são fragmentadas em
milhares de partes reconhecidas por
diferentes fotorreceptores.
•A dificuldade consiste em reunir esses
fragmentos para decodificar as letras e
palavras.
•O texto precisa ser extraído e convertido
em um formato que reflita a sonoridade e
sentido das palavras.
•A organização da retina impõe uma
filtragem aos textos, onde apenas as letras
próximas ao centro são legíveis e, por isso,
precisamos mover nossos olhos
constantemente durante a leitura.
Do olho ao cérebro
A estrutura do nosso captor visual nos obriga a percorrer as frases em sacada,
deslocando o olhar a cada dois ou três décimos de segundo.
Movimentos sacádicos
Movimentos sacádicos
A casa qux xx xx xxxx xxxxxxx xx xxxxx xxxxx

xxxxxx xxe os Maias xxxx xxxxxxx xx xxxxx xxxxx

xxxxxx xxx xx xxxxx vieram xxxxxxx xx xxxxx xxxxx

xxxxxx xxx xx xxxxx xxxxxxx habitar xx xxxxx xxxxx

xxxxxx xxx xx xxxxx xxxxxxx xxxxxxx xx em Lisboa


A leitura ativa regiões neurais
Uma visão moderna das redes corticais da leitura
Aprender a ler consiste em acessar, através da visão as áreas da linguagem falada
Regiões temporais superiores Regiões supramarginal
Região pré-
Ínsula anterior central
Atenção descendente e
a leitura serial

Acesso à pronúncia e à Região parietal posterior


articulação

Girus angular

Região temporal média

Regiões occipitais

Região
frontal
inferior Região occípito- Entrada visual
Região temporal ventral
fusiforme anterior
Acesso ao significado
Região Forma visual das palavras
temporal anterior
Cérebro em ação
Cérebro do letrado
Reciclagem neuronal:
comum a todas as culturas
Reciclagem neuronal
• O cérebro não foi pré-programado especificamente
para a leitura.
• O cérebro recicla áreas cerebrais que originalmente
evoluíram para outras funções, como o
reconhecimento de objetos e processamento da fala,
para processar letras e palavras durante a leitura
• A leitura ativa uma área occípito-temporal
reproduzível, sempre situada entre as respostas aos
rostos e as respostas aos objetos.
• Essa reciclagem neuronal é a base da nossa
capacidade de aprender a ler.
• No entanto, algumas pessoas podem ter dificuldades
em integrar essas funções cerebrais recicladas, o que
pode dificultar a leitura para elas.
Reciclagem neuronal
• Partes em competição:
• As palavras competem com as faces
• À medida que a leitura se desenvolve
o reconhecimento de face passa para
o lado direito do cérebro.
O mil e um formato dos caracteres
• INVARIÂNCIA PERCEPTIVA
• Identificar todas as palavras, sejam elas escritas em letra de imprensam,
sejam manuscritas, em maiúsculas ou minúsculas e em todos os tamanhos de
fontes.
• Trata-se de localizar o que não varia - a sequência das letras – a despeito das
mil e uma formas que possam assumir os caracteres;
• atingir um reconhecimento invariante, apesar da grande variedade de formas
de superfície que as palavras podem assumir.
A voz muda / Vozes da minha cabeça
• A leitura mental transforma as letras em
imagens acústicas e depois em
significado;
• Modelo de leitura dupla rota:
• Rota lexical: é uma via direta, baseada no
reconhecimento visual das palavras
• Rota fonológica: é uma via indireta, que
envolve a conversão de letras em sons e
depois em palavras.
• Variação linguística na leitura
Uma assembleia de demônios
• Cada demônio é representado por uma
palavra. Quando uma palavra aparece na
retina, todos os demônios a examinam
simultaneamente. Em seguida, eles se
manifestam se estimam que sua palavra tenha
boas chances de estar presente. (DEHAENE,
2012, p. 58)
Qual a palavra?

_____________________________________
Qual a palavra?

D_____________________________
Qual a palavra?

DE____________________________
Qual a palavra?

DESVES___________
Qual a palavra?

DESVESTI_____
Qual a palavra?

DESVESTID_
Qual a palavra?

DESVESTIDO
A fonética é superior ao treinamento de
palavras inteiras
• Devemos ensinar usando palavras inteiras ou fonéticas/sons?
Forma global da palavra vs correspondências letras-som?
• Nos adultos, a leitura é automatizada. Não percebemos mais como é
difícil. Temos uma ilusão de leitura de palavras inteiras
• Na realidade:
• O cérebro adulto não usa a forma global das palavras: ele ainda processa as
letras, mas de uma vez (em paralelo)
• Em crianças, a leitura requer decodificação lenta, serial, letra por letra.
O conhecimento do cérebro pode ajudar na educação

• A leitura, em todas as culturas, depende dos mesmos


mecanismos cerebrais;
• A leitura requer a especialização do sistema visual para as
formas das letras e sua conexão com os sons da fala;
• Ensinar correspondências entre sons e letras é essencial
• A pesquisa do cérebro converge com a pesquisa educacional:
ensinar correspondências entre letras e sons é a maneira mais
rápida de adquirir leitura e compreensão
• Uma vez aprendidas essas correspondências, pode ocorrer o
autodidatismo: as crianças decifram palavras, reconhecem-nas
auditivamente e acessam seu significado. Isso desenvolve uma
segunda rota direta da visão ao significado.
Vamos montar o nosso cérebro?

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