Você está na página 1de 24

A decifração no ensino-

aprendizagem da
Leitura

Didática do Português: Língua e Texto


Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º CEB

2023-2024
A decifração no ensino-aprendizagem da Leitura

O que é a decifração?

Identificação de palavras escritas

Conversão de

Padrões visuais Padrões


(letras/ conjunto em fonológicos
de letras) (sons da língua)

Reconhecimento automático, rápido e


eficiente do significado das palavras
A decifração no ensino-aprendizagem da Leitura

Leitura: uma atividade cognitiva e linguística


Integra o
LEITURA Actividade cognitiva sistema complexo de
tratamento de informação

Atividade linguística
Extração e apropriação
do significado
Precisão
[correção]
Velocidade Eficácia
Fluência [rapidez] [Profundidade de compreensão]
Expressividade
[entoação]

Decifração: Compreensão:
etapa primordial Descodificação automatizada Objetivo
da aprendizagem permite canalizar a atenção para a Fundamental
da Leitura compreensão do texto
da Leitura
A decifração no ensino-aprendizagem da Leitura

Ler: da decifração à compreensão

Processo de automatização
decifração

compreensão

aprendizagem automatismo
inicial da leitura
A decifração no ensino-aprendizagem da Leitura

Fases de aprendizagem da leitura

cognitiva domínio Automatização


Não é necessário um controlo consciente
para realizar a tarefa com destreza

Treino das operações necessárias à tarefa Aprendizagem das técnicas


ou mecanismos de decifração
Objetivos da realização da tarefa

Meios utilizados na tarefa

Funções e natureza da linguagem escrita

Relação entre a linguagem oral e escrita

Repete-se constantemente à medida que o aprendiz vai adquirindo competências sobre a leitura
A decifração no ensino-aprendizagem da Leitura

Determinantes do sucesso da decifração


A) Conhecimento da língua de escolarização (vocabulário e estruturas sintáticas)

«Atirei o pau ao gato, «As substâncias activas são


to… to, paracetamol a 500 mg e
mas o gato, to… to cloridrato de pseudoefedrina a
não morreu, eu… eu. 30 mg. Os outros
Dona Chica, ca… ca, componentes são: amido de
admirou-se, se… se,
do berro, do berro
milho pré-gelificado,
que o gato deu: Miau!» povidona, crospovidona, ácido
esteárico, celulose
Canção Infantil microcristalina, amido de
sódio glicolato e estearato de
magnésio.»

in Folheto Informativo: informação para


o utilizador de SINUTAB II
A decifração no ensino-aprendizagem da Leitura

Determinantes do sucesso da decifração


B)Conhecimento prévio dos princípios gráficos que regulam
a linguagem escrita (função, organização): escrita
alfabética vs. escrita não alfabética

C)Consciência dos sons da língua (consciência fonológica) -


descoberta do princípio alfabético enquanto
correspondência entre o conjunto dos sons da língua e o
das letras do alfabeto:
(i) para produzir e detectar rimas;
(ii) para segmentar frases em palavras
(ii) para segmentar palavras em sílabas;
(iii) para aglutinar sílabas em palavras;
(iv) para manipular e substituir sílabas em palavras;
(v) para suprimir e adicionar sílabas em palavras;
(vi) Para identificar sílabas iguais;
(vii) para identificar sons finais iguais;
(viii) para identificar sons iniciais iguais; e
(ix) para associar sons a letras.
A decifração no ensino-aprendizagem da Leitura

Determinantes do sucesso da decifração

D) PREVISÃO NO CONTEXTO
pqsieusa lrtea gnderas cosiruo

aorcdo rseto isladoa ttaol

“De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, nao ipomtra
a odrem plea qaul as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa
iprotmatne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O
rseto pdoe ser uma ttaol csãofnuo que vcoe pdoe anida ler sem gnderas
pobrlmaes. Itso é poqrue nós nao lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa
cmoo um tdoo. Cosiruo não?”

“35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO 4 NO554


C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35!
R3P4R4 N155O!
NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 4 TU4
M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3,
S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO?”
A decifração no ensino-aprendizagem da Leitura

Determinantes do sucesso da decifração

E) REGULARIDADE NA CORRESPONDÊNCIA FONEMA/GRAFEMA

sequeçu
Estratégias de decifração
 Via lexical
casa

 Via sub-lexical
clanhifrolim
Estratégias de decifração: produtos e processos
Produtos

Via Lexical Via Sub-lexical


Reconhecimento Correspondência
Global de Palavras Som/Letra
 Global Indireta
 Rápida Percetiva
Processos

Via Lexical Via Sub-lexical


 Adivinhar pelo contexto  Analisar segmentos
silábicos e fonémicos
Reconhecer
características visuais no Reconstruir cadeias
material gráfico (identificar sonoras
a forma das letras)

Procurar no “depósito” do Procurar no “armazém”


vocabulário visual de palavras orais
Via Dupla de Identificação de Palavras Escritas

Palavra Escrita

Sistema de análise visual

Busca no vocabulário visual Conversão grafema/fonema

Formatação ortográfica Formatação fonológica

Ativação semântica
Via Via
Lexical Sub-lexical
Produção oral de palavras
Princípios a ter em conta no ensino da decifração
 1- O ensino da decifração deve ocorrer em contexto real de leitura.

 2- O ensino da decifração deve ter como sustentáculos as experiências e os


conhecimentos da criança sobre a linguagem escrita.

 3- O ensino da correspondência som/grafema deve ter sempre como


alicerces a consciência fonológica, particularmente a fonémica.

 4- O ensino da correspondência som/grafema deve ser explícito, direto e


transparente, permitindo ao aluno a prática autónoma e o consequente treino.

 5- O ensino da decifração deve contemplar, regular e sistematicamente, o


reconhecimento de padrões ortográficos frequentes - prefixos, sufixos,
sequência consoante/vogal, dígrafos, ditongos, combinação de letras.

 6- O ensino da decifração deve fomentar a leitura de palavras frequentes


para que a criança as reconheça rápida e automaticamente.

 7- O ensino da decifração deve estar intimamente associado a práticas


de expressão escrita.

(Adaptado de Sim-Sim, 2009:26-27)


Ensino-Aprendizagem da Leitura: ilações pedagógicas
Ao longo dos últimos 25 anos A discussão sobre
a investigação demonstrou “Métodos de
Nas escritas alfabéticas Leitura”
perdeu o sentido.

Domínio do
Automatismo da Leitura
Princípio Alfabético

Os leitores utilizam duas vias de


identificação de palavras escritas

Via Via
Lexical Sub-lexical

Actividades
Promotoras Abandonar a preocupação
da Aprendizagem da Canalizar a atenção do “Método de Leitura”
Leitura como receita milagrosa
Atividades promotoras da aprendizagem da Leitura

Antes e Durante o
durante o ensino formal
ensino formal da leitura
da leitura

•Desenvolver a linguagem oral (ênfase Desenvolver estratégias de:


no conhecimento lexical) •Reconhecimento global das palavras
•Promover o prazer da leitura pela voz •Correspondência som/letra
dos outros
•Automatização da correspondência
•Favorecer a descoberta dos princípios som/letra
que regem a língua escrita:
•Antecipação/chaves contextuais
a escrita contém significado (leitura de palavras em contexto)
a escrita é permanente
•Explicitação da relação entre a
a escrita é regulada por consciência fonémica e a capacidade
princípios gráficos (direcionalidade Devem ocorrer para ler palavras
e flexibilidade) em contexto de
•Desenvolver a consciência fonológica leitura •Leitura de unidades ortográficas,
significativa indutoras de regras
para a criança
A fluência de leitura e o sucesso escolar

 “O desempenho em leitura no final do


1º ano de escolaridade é preditor do
desempenho nos anos subsequentes […]
os perfis de dificuldades se mantêm
estáveis ao longo da escolaridade se
nada for feito.”
 Os resultados obtidos em programas de
fluência em leitura têm sido
encorajadores.
Um programa de promoção da fluência em Leitura
(PPFL) de Borges (2018)

 Dirigido a estudantes do 2.º ano

 Constituído por 22 sequências didáticas,


elaboradas a partir de 22 textos (9 narrativos,
4 informativos e 9 poemas)

 Operacionalizado, durante 22 semanas, em


sessões de 10 a 15 minutos, em ciclos de cinco
dias.
Um programa de promoção da fluência em Leitura
(PPFL) de Borges (2018)

 Estratégias de leitura ativadas:


 i) 1.º dia - Modelagem de leitura
 O professor lê o texto em voz alta, enquanto os alunos
acompanham silenciosamente a leitura nos seus textos. O
professor oferece-se como modelo, não apenas como
“corretor”.

 ii) 2.º dia – Leituras em eco


 O professor lê o mesmo texto dividindo-o em frases e orações
com o tamanho adequado para permitir a repetição pelos
alunos. Após esta leitura modelo, os alunos são encorajados a
reler o texto ou a fazer leitura eco de frases e orações, com
apoio do professor.
Um programa de promoção da fluência em Leitura
(PPFL) de Borges (2018)

 Estratégias de leitura ativadas:


 i) 1.º dia - Modelagem de leitura
 O professor lê o texto em voz alta, enquanto os alunos
acompanham silenciosamente a leitura nos seus textos. O
professor oferece-se como modelo, não apenas como
“corretor”.

 ii) 2.º dia – Leituras em eco


 O professor lê o mesmo texto dividindo-o em frases e orações
com o tamanho adequado para permitir a repetição pelos
alunos. Após esta leitura modelo, os alunos são encorajados a
reler o texto ou a fazer leitura eco de frases e orações, com
apoio do professor.
Um programa de promoção da fluência em Leitura
(PPFL) de Borges (2018)

 Estratégias de leitura ativadas:


 iii) Atividade em casa – “Ouvintes Sortudos” ou
“Guião de Gravação”
 Para envolver as famílias nas atividades e proporcionar aos
alunos repetições de leituras, durante o fim-de-semana os
alunos escolhem “Ouvintes Sortudos”. O aluno lê oralmente
para esse ouvinte, que irá ouvir a leitura do texto e emitir uma
opinião sobre a mesma, de acordo com um guião pré-
fornecido, que também inclui o registo do tempo de leitura.
 Em alternativa, no “Guião de Gravação”, os alunos registam o
número de leituras treino que fizeram, para posteriormente
gravar, (só poderão gravar se tiverem efetuado no mínimo 5
leituras). Essa leitura será gravada (usando telemóvel, tablet
ou outro aparelho).
Um programa de promoção da fluência em Leitura
(PPFL) de Borges (2018)
 Estratégias de leitura ativadas:
 iv) 3.º dia/segunda-feira – Leitura em coro
e/ou Leitura Dialogada
 Os alunos leem o texto em coro, conjuntamente com o
professor. Esta estratégia proporciona a colaboração entre
alunos e proporciona-lhes o sentimento de serem leitores de
sucesso. Variantes de leitura em coro: a) Um aluno ou o
professor lê o texto e todos leem o refrão; b) Grupos de alunos
leem diferentes excertos, parágrafos ou estrofes e, no final,
todo o grupo lê o parágrafo ou a estrofe final; c) Nos textos
narrativos com diálogos, grupos de alunos leem como se
fossem as personagens; d) Com a turma dividida em dois
grupos, um grupo lê um parágrafo e o outro lê outro ou
responde a uma pergunta sobre o mesmo. De seguida, trocam
de posições.
Um programa de promoção da fluência em Leitura
(PPFL) de Borges (2018)
 Estratégias de leitura ativadas:
 v) 4.º dia/terça-feira – Leitura aos Pares
 A estratégia de leitura a pares foi originalmente desenvolvida
para os pais lerem com os filhos; é, no entanto, uma estratégia
útil na aula de leitura para desenvolver a fluência de
leitura dos alunos. Os alunos leem o texto em pares (ou em
pequenos grupos). Um aluno lê e o seu par, um aluno mais
fluente na leitura oral, tem como funções monitorizar a leitura
e funcionar como apoio se o leitor sentir dificuldades.
Um programa de promoção da fluência em Leitura
(PPFL) de Borges (2018)
 Estratégias de leitura ativadas:
 vi) 5.º dia/quarta-feira – Leitura Pública (ou
Leitura Apresentação)
 Os alunos fazem uma leitura, em voz alta, para turma, para
outros públicos da escola (outras turmas, incluindo turmas de
jardim de infância, outros professores, funcionários, pais, avós,
ou outros familiares, visitas, entre outros que se mostrem
disponíveis para serem, também, uma espécie de “Ouvintes
Sortudos”) ou faz-se a uma gravação áudio (ou vídeo) para um
hipotético documentário final a realizar sobre o texto.
Esta atuação dos leitores pode ser individual, em pares ou em
grupo, dependendo das caraterísticas do texto.
A decifração no ensino-aprendizagem da Leitura

Referências bibliográficas

 SILVA, A.M.B. (2018). Fluência de Leitura: construção,


aplicação e avaliação de sequências didáticas e materiais
de intervenção pedagógica. Tese de doutoramento
apresentada à Universidade do Minho.

SIM-SIM, I. (2009). O Ensino da Leitura: a decifração.


Lisboa: Ministério da Educação – DGIDC.

VIANA, F. L. & Teixeira, M. (2002). Aprender a Ler: Da


aprendizagem informal à aprendizagem formal. Porto:
Edições ASA.

Você também pode gostar