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Bases neurológicas das Rotas do

Processamento da Leitura

Profa. Dra. Simone Ap. Capellini


Habilidades Área Cerebral Função
Leitura Lobo Frontal Discriminação visual complexa (fechamento visual da palavra
escrita). Decodificação fonológica. Execução da palavra falada.
Lobo Occipital Visualização da palavra escrita.

Áreas de Associação do Hemisfério Leitura e compreensão do material lido. Compreensão do


Esquerdo vocabulário.

Lobo Temporal Análise fonológica da palavra (segmentação das unidades que a


compõem)
Junção do Lobo Temporal e Lobo Análise visual da palavra – interpretação direta da palavra, ou seja,
Occipital transferência direta da análise ortográfica para o significado.

Escrita Lobo Frontal Decodificação fonológica. Programação motora


Lobo Occipital Discriminação visual dos símbolos gráficos
Lobo Parietal Habilidade de sequencialização dos símbolos gráficos.

Cálculo- Áreas de Associação do Hemisfério Leitura e compreensão de problemas verbais. Compreensão de


Matemático Esquerdo conceitos e procedimentos matemáticos.
Lobo Frontal Cálculos mentais rápidos, conceitualização abstrata, habilidades de
solução de problemas, execução oral e escrita de cálculos.

Lobo Parietal Habilidade de sequencialização numérica.

Lobo Occipital Discriminação visual dos símbolos matemáticos escritos.

Lobo Temporal Percepção auditiva, memória verbal de longo prazo. Memória de


séries, realizações matemáticas básicas. Subvocalização durante a
solução de problemas.
Geschwind (1970)

A a#vação cor#cal se inicia nos lobos occipitais, responsáveis pelas áreas


visuais passa para a área parieto-temporal esquerda, onde o
reconhecimento da palavra e a associação ao significado são realizados;
por fim, a região frontal esquerda (área de Broca e área motora) para o
acesso à pronúncia e à ar#culação.
Modelo de Dupla Rota (Coltheart, 1980)

- Explica o reconhecimento da palavra escrita,


- Auxilia na compreensão sobre os transtornos de leitura,
sejam de desenvolvimento sejam os adquiridos,
(Coltheart, 2013; Coltheart et al., 2001; Cuetos, 2010)

- Neste modelo em uma rota é explicado o acesso à palavra


pela aplicação das regras de correspondência grafema-
fonema (rota fonológica ou subléxica) e por outra rota o
reconhecimento da palavra realizado pela sua
representação ortográfica (rota lexical ou direta)
(Coltheart, 1980, 2013; Coltheart et al., 2001)
Rota Fonológica

- Aprender e automatizar as regras de conversão grafema-


fonema,
- A pronúncia da palavra será construída ao relacionar os
segmentos da ortografia com os da fonologia,
- Automatizar tais regras significa atingir velocidade,
precisão e eficiência na conversão desses segmentos.

(Buchweitz, 2016; Clemens et al., 2020; Clemens et al., 2018; Coltheart et


al., 2001; Cuetos, 2010; Cunningham, Perry, Stanovich & Share, 2002;
Oliveira, 2017; Ritchey & Speece, 2006; Share, 1995).
Rota Fonológica

- Ao atingir eficiência na automatização, fluência sublexical, as palavras


poderão ser segmentadas com pouco esforço consciente por parte do
escolar, reduzindo, assim, a carga cognitiva da tarefa, o que
beneficiará o desenvolvimento das representações ortográficas e
fonológicas das palavras (desenvolvimento rota lexical),
- Cada vez que o escolar lê corretamente uma palavra desconhecida,
seguindo as regras de conversão grafema-fonema, forma-se a
representação ortográfica da palavra.
- No entanto, se tal processamento for lento e trabalhoso, será
ineficiente e propenso a erros, e tal tarefa exigirá dos escolares
considerável energia cognitiva.
(Buchweitz, 2016; Clemens et al., 2020; Clemens et al., 2018; Coltheart et al., 2001; Cuetos,
2010; Cunningham, Perry, Stanovich & Share, 2002; Oliveira, 2017;
Ritchey & Speece, 2006; Share, 1995).
Rota Fonológica

- Aplicação das regras de correspondência grafema-fonema,


possibilita a leitura de palavras regulares e das
pseudopalavras; no entanto, tal aplicação impossibilita a
leitura das palavras irregulares devido à relação arbitrária
entre a ortografia e fonologia.

(Capellini, Oliveira & Cuetos, 2014; Coltheart, 2013; Cuetos, 20100


Rota Lexical
- A rota lexical realiza o acesso à palavra pela sua
representação ortográfica que leva à ativação das
representações semântica e fonológica.
- Ao visualizar a palavra, ela será recuperada no léxico
mental que contém o conhecimento visual da ortografia
das palavras: os padrões de ortografia que caracterizam a
palavra ou parte delas, bem como a pronúncia desses
padrões ou partes das palavras e seu significado.
(Boros et al., 2016; Capellini et al., 2014; Coltheart, 2013; Cuetos, 2010;
Oliveira, 2017; Raklin et al., 2019)
Rota Lexical
- A leitura pela rota lexical permite o reconhecimento de
palavras familiares e irregulares,
- Aprendizado ortográfico: unifica as letras isoladas em
unidades de palavras inteiras, reconhecidas de maneira
rápida e sem esforço por leitores proficientes, diminuindo
principalmente o efeito do comprimento da palavra na
leitura de palavras familiares.

(Harn et al., 2008; Raklin et al., 2019)


Rota Lexical

- Ao formar a representação ortográfica da palavra, será


possível reconhecê-la, sem necessidade de avançar a
leitura de forma serial, da esquerda para direita, ganhando
assim, velocidade de leitura.
- O desenvolvimento da rota lexical não é importante apenas
em idiomas de ortografias mais opacas, mas também em
idiomas com ortografia transparentes.

(Harn et al., 2008; Raklin et al., 2019)


Diferentes ortografias

- Ortografias profundas (Francês e Inglês): ativam a


região occipito-temporal, mas especificamente áreas do
giro temporal posterior inferior e anterior (área de
representação ortográfica das palavras, também
conhecida como área visual da forma da palavra).
- Ortografia transparente (Italiano): ativam mais a área
parieto-temporal correspondente ao mecanismo de
conversão grafema-fonema.

Paulesu et al. (2001)


Rotas Lexical e Fonológica

- Ortografias profundas (Francês e Inglês):


maior uso da rota lexical (área occipito-temporal)
- números de palavras irregulares
- Ortografia transparente (Italiano): o uso da rota
fonológica é mais frequente (área parieto-
temporal).

Cuetos (2010)
Dehaene, 2013
Importante Consideração

- Escolares do 1o ano do EF, ativam principalmente a área


temporal superior do hemisfério esquerdo (parieto-
temporal – responsável pela conversão grafema-fonema e
o desenvolvimento da rota fonológica) durante a leitura.
- À medida que esses escolares se tornam leitores mais
experientes, aumenta a ativação da área occipito-temporal
(área visual da forma da palavra, responsável pela
percepção, visão, leitura e palavra)

Goswani (2006), Cuetos (2010)


Buchweitz (2016)
Importante Consideração

- Á medida em que for avançando de escolaridade e


aumentando a sua experiência em leitura e a sua
rede neuronal se desenvolvendo, as sacadas
aumentam, e as fixações se tornam mais curtas.

(Blythe & Joseph, 2012; Loberg, Hautala, Hamalainen, &


Leppanen, 2019; Tiffin-Richards & Schoroeder, 2015)
Os quadrantes em azul são exclusivos da rota lexical,
enquanto os em preto, seguindo as setas indica8vas
laterais, indicam o percurso da rota fonológica.
Figura adaptada de Cuetos (2010) em Oliveira, Capellini (2020)
Leitura: mudanças específicas no cérebro

- Os mesmos neurônios (no circuito do córtex visual) que


reconhecem objetos, a forma do rosto ou das mãos, com a
alfabetização aprimoram o processamento visual.

(Anderson, 2016; Dehaene & Cohen, 2007; Dehaene et al., 2015)

- O sistema visual ventral passou do reconhecimento de


objetos para o reconhecimento altamente especializado, que
é o reconhecimento das letras e também dos números.

(Hernandez et al., 2019)


Sistema Visual Ventral
Leitura: mudanças específicas no cérebro

- Apesar de todos os estímulos utilizarem a mesma entrada de


informação – a região occipital primária –, rapidamente é feito
o direcionamento de cada estímulo.

- As palavras são identificadas no hemisfério esquerdo; os


rostos, as formas e as cores dos objetos no hemisfério direito.
A rapidez nessa lateralidade entre os hemisférios dos
estímulos visuais, especialmente, em direção ao esquerdo é
uma característica importante da leitura.

(Hernandez et al., 2019)


Leitura: mudanças específicas no cérebro

- O principal marcador do desenvolvimento da leitura é a


ativação da região occipito-temporal.

- Essa é a região que se adapta ao reconhecimento das letras


e palavras e é chamada de área visual da forma da palavra.

- Diferentemente da região occipital primária, a área visual da


forma da palavra passa a ser ativada unicamente para a
leitura de palavras. Nela ocorre o reconhecimento da palavra
como um todo (acessando sua representação ortográfica).

(Buchweitz, 2016; Cohen et al., 2002; Dehaene, 2012)


Leitura: mudanças específicas no cérebro
- Após o reconhecimento, são ativadas as regiões
responsáveis pela fonologia (lobo temporal) e a produção oral
(lobo frontal).

- Quanto mais se avança no aprendizado da leitura, maior é a


ativação desta região em resposta ao processamento visual
das palavras.

- Já a identificação das formas dos demais objetos, com essas


adaptações, passam a ativar mais a região occipital do
hemisfério direito

(Buchweitz, 2016; Cohen et al., 2002; Dehaene, 2012)


Especificidades das áreas: Lobo Parietal

- O lobo parietal é uma região associativa complexa e está


relacionada com a via magnocelular.

- É responsável pelas questões visoespaciais, profundidade,


localização, noção de espaço, movimentos sacádicos e na
conversão da ortografia em fonologia e semântica, além do
controle da atenção visual
(Bouhali et al., 2019)
Especificidades das áreas: Lobo Parietal

- A região parietal é importante para a rede de leitura, em


especial nos seus estágios iniciais, quando os escolares
dependem mais da decodificação serial grafema-fonema
(Bouhali et al., 2019)

- A leitura serial do tipo letra a letra tem duração suficiente até


os leitores acumularem conhecimento ortográfico para utilizar
as representações ortográficas e acessar diretamente as
palavras, realizando o processamento paralelo das letras.

(Cohen, Dehaene, Vinckier, Jober, & Montavont, 2008; Dehaene et al., 2010;
Grainger & Ziegler, 2011; Moulton et al., 2019).
Especificidades das áreas: Lobo Parieto-Temporal

- Durante a leitura: a região parieto-temporal foca o seu


controle atencional em apresentações de novas palavras ou
não frequentes.

- Essa atividade é refletida predominantemente na leitura que


exige o uso da rota fonológica, e o tempo de leitura aumenta
de acordo com o comprimento das palavras.

- Esse efeito desaparece progressivamente à medida que a


leitura se torna mais automatizada.
(Cohen et al., 2008; Moulton et al., 2019)
Especificidades das áreas: Lobo Parieto-Temporal

- Leitor Experiente: a região parieto-temporal exibe maior


atividade quando a leitura é mais difícil e requer um
encadeamento serial do processamento letra por letra
(palavras desconhecidas ou não frequentes, que não fazem
parte do vocabulário do leitor).

- Essa região também é ativada quando é necessário


identificar diferenças entre duas sequências de letras.

(Carreiras, Quiñones, Hernández-Cabrera, & Duñabeitia, 2015; Dehaene et


al., 2015).
Especificidades das áreas: Lobo Temporal
- Córtex de associação acústica.
- Situa-se na região superior do lobo temporal, dentro da
fissura silviana,, em que ocorre a associação entre o grafema
e seu correspondente fonema, o que a configura como uma
das áreas mais importantes para o tratamento da linguagem
oral e sua ativação reflete a eficiência do acesso a fonologia:
reflete a consciência da estrutura fonológica na linguagem.
- Seu desenvolvimento ocorre à medida que o grafema é
apresentado simultaneamente ao seu fonema
correspondente e se aperfeiçoa com a experiência em leitura.
- É responsável pela discriminação e compreensão auditiva e
percepção auditiva da fala.
(Anderson, 2016; Dehaene & Cohen, 2007;
Dehaene et al., 2015)
Especificidades das áreas: Lobo Temporal
- O principal objetivo da leitura é transformar a linguagem
escrita em linguagem oral – recuperar a fala no material
escrito
Morais (2013)

- Com isso, o aprendizado da leitura estabelece um elo


funcional entre as representações fonológicas e ortográficas,
levando – assim – a mudanças estruturais nas conexões que
ligam as áreas corticais correspondentes, fortalecendo o
vínculo funcional e anatômico entre as representações
fonêmicas e grafêmicas.

(Anderson, 2016; Dehaene et al., 2015)


Especificidades das áreas: Lobo Temporal
- A partir do reconhecimento da palavra, a informação será
direcionada para o córtex temporal esquerdo, responsável
pela análise da representação do fonema, o planum
temporale; independentemente de a ativação ter sido feita via
decodificação grafema-fonema na região parieto-temporal ou
acesso direto às representações ortográficas na região
occipito-temporal.

- Em seguida, serão ativadas, no córtex frontal, as seguintes


regiões: frontal inferior esquerdo (área de Broca) e o pré-
central esquerdo (sensório motor) para o acesso à pronúncia
e à articulação.
Processo Semântico
- O processo semântico ativa diferentes áreas do cérebro,
como frontal inferior, temporal médio, occipito-parietal,
parieto-temporal, entre outras.
(Cuetos, 2010; Mumnery et al., 1999; Noppeney & Price, 2003; Price &
McCrory, 2013).

- No entanto, cabe ressaltar que essas regiões estão


envolvidas em diferentes estratégias de recuperação da
informação semântica e não são ativadas todas ao mesmo
tempo, visto que dependem da tarefa a ser executada
(Price & McCrory, 2013).

- Exemplo: ao codificar o significado de uma palavra, a região temporal


média é ativada, mas se for necessário selecionar um significado entre
outros, a região frontal inferior será acionada.
MUITO OBRIGADA
PELA ATENÇÃO!!
sacap@uol.com.br

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